segunda-feira, 2 de setembro de 2013

TAMIMASADAS OU POSÉIDON MAMALHUDO, por artur felisberto

Apêndice a: OS DEUSES MARÍTIMOS II – DAGON, O REI DOS MARES MINÓICOS, REFORMADOS PELA CULTURA CONTINENTAL DOS MICÉNIOS COMO POSEIDON.

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Figura 16: Herakles lutando com Nereu, o velho deus do mar quase sempre representado como mamalhudo nestas contendas com Hécules.

LIX — (...) Todos os Citas reconhecem e veneram essas divindades; mas os Citas reais sacrificam também a Netuno. Na língua dos Citas, Vênus chama-se Tabítis; Júpiter, Papéus, nome que, a meu ver, lhe é bem adequado; a Terra, Ápis; Apolo, Etósiros; Vênus-Urânia, Artimpasa, e Netuno, Tamimasadas. Erguem estátuas, altares e templos a Marte, e somente a este.

LXXX — Quando Cílis voltou para o palácio, seus súditos revoltaram-se e proclamaram em seu lugar Octamasada, seu irmão e filho da filha de Teres. Sabendo da revolta e do motivo que a determinara, o soberano procurou refúgio na Trácia; mas Octamasada, à frente de um exército, foi em sua perseguição. Ao chegar às margens do Íster, os Trácios vieram-lhe ao encontro; e quando estava prestes a travar-se a batalha, Sitalces enviou um arauto a Octamasada, para dizer-lhe: “Por que precisaremos nós ambos expor-nos à sorte das armas? És filho de minha irmã e tens meu irmão em teu poder. Se mo entregares, eu te entregarei Cílis, sem que te exponhas aos riscos de uma batalha”. O irmão de Sitalces estava, realmente, refugiado junto a Octamasada.

-- LIVRO IV, MELPÔMENE, de História Heródoto (484 A.C. - 425 A.C.)  Traduzido do grego por Pierre Henri Larcher (1726–1812).

De la forme Qagimasadas, généralement préférée par les éditeurs d'Hérodote, nous n'avons rien dire: peut-être n'est-elle due qu'a une erreur de copiste? En revanche, Qamimasadas nous a paru susceptible de se décomposer en deux éléments analysables.

Dans le premier, Qami, nous reconnaîtrions un radical Qam-, suffisamment atteste par un groupe de dérivés dont le caractère généralement archaïque ou l'emploi poétique en grec ne sauraient, en l'occurrence, nous arrêter. Sans doute Qam- exprime-t-il, tout d'abord, la répétition, la fréquence, comme on le volt nettement dans le verbe Qamatrocew, de même que dans les adverbes Qamacis, Qamew, Qaminacis, Qaminws, Qamina. (...). Enfin Qamuris design une "multitude, une assemblée nombreuse", Qamuros traduit "populeux, fréquenté", et le sens de Qamurizo est "rassembler en fouler".

 

TAMI + MASADAS

 

Quant au second terme du compose, nous croyons y retrouver un équivalent local du grec mastos, masQos, mazos, le dorien masdos fournissant une transition entre les autres formes grecques et la scythique. (...) Pour en  terminer avec l'aspect linguistique de la question, ajoutons seulement que le fait qu'Hérodote ait pu donner ce compose comme un mot scythique tendrait, selon nous, a prouver deux choses : d'une part, qu'aux oreilles d'un grec une certaine consonance mixhellène n'avait rien de surprenant en ce qui concernait des parlers scythes; d'autre part que le caractère ancien et local de l'épithète sortirait confirme de cette analyse, puisque le premier de ses termes, le plus hellénique, semble bien, en fait, ne s'être jamais véritablement acclimaté en Grèce. Ainsi Qagimasadas nous parait devoir signifier "pourvu de mamelles en grand nombre" et serait un équivalent sémantique de l'épithète bien connue polumastos, portée par l'Artémis d'Ephèse. -- Bazin-Foucher E. II. Le nom scythique de Poséidôn (tel qu'il est rapporté au chap. 59 du L. IV d'Hérodote). In: Bulletin de l'Ecole française d'Extrême-Orient. Tome 44 N°1, 1951. pp. 13-20.

Se Tamimasadas seria ou não o equivalente de polumastos, de Artemisa de Éfeso também não o podemos afirmar como dogma mas é bem possível que esta arcaica deusa mãe de Éfeso tenha sido esposa do deus dos mares enquanto Kartemis, a deusa mãe *Kertu das terríveis leis de Creta minóica.

Pena é que Heródoto tenha sido parco na descrição que faz dos deuses estrangeiros em geral e neste caso de Tamimasadas cita em particular não tenha referido nomeadamente o seu aspecto. No entanto, seria bem possível que este deus fosse representado como Decreto ou Dagon e por isso seria barbudo e mamalhudo como eram os velhos deuses dos mares dos gregos.

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É certo que na tradição da cultura grega clássica o mar já não se encontrava relacionado com a fartura e fecundidade como tinha sido nos tempos arcaicos da cultura egeia mas na tradição latina tanto a deusa da abundância como da fortuna eram representadas tanto com a cornucópia como com o leme marítimo.

Quant aux divinités purement marines, leur corps se termine souvent par une queue de poisson, ou bien elles deviennent anguipèdes, ou encore voient leurs nageoires se transformer en pagne ou en ailes; mais aucun de leurs attributs n'évoque jamais l'abondance, tant était ancrée chez le Grec l'idée de la stérilité de la mer; ne disait-on pas en te thalatte sepeireis, pour marquer qu'une entreprise était d'avance vouée à l'échec! -- Bazin-Foucher E. II. Le nom scythique de Poséidôn (tel qu'il est rapporté au chap. 59 du L. IV d'Hérodote). In: Bulletin de l'Ecole française d'Extrême-Orient. Tome 44 N°1, 1951. pp. 13-20.

Assim, se a tradição clássica grega evitava as monstruosidades e não nos reporta muitas evidências de deuses mamalhudos do mar salvo algumas representações delfínicas de tritões a verdade é que no Egipto Nuno era mamalhudo e Atum tinha ambos os sexos e por isso teria mamas também.

Sobre esta explicação etimológica do epíteto de Poseidon cita Tamimasadas o «mamalhudo» de E. Bazin-Foucher só podemos assim dizer que “se non è vero, è ben trovato” porque de facto até poderia ser mas...Em mitologia há sempre um mas que é tanto a falta de provas concludentes como a sobreposição de múltiplas virtualidades nos significados divinos que torna a tradução dos seus nomes mais um jogo de adivinhas do que uma epifania.

De facto continuamos com o óbice de Qagimasadas ser o nome preferido dos editores de Heródoto o que nos desvia para a possibilidade muito mais ousada de o nome oculto do deus cita ser Dago, obviamente o mesmo que Dagon, deus do rio Tejo e das águas de Vidago e que seria literalmente e tão só o deus Gu de muitos dos cursos de água doce peninsulares. Então, a ressonância em grego de um Dagon com mamas como Nereu já começa a ser mais plausível. Mas se nos recordarmos que perto dos citas viviam os medos que tinham por deus supremo Ahura Mazda também conhecido por Ohrmazd, Hourmazd, Hormazd, Hurmuz, ou seja, Hermes, começamos a ficar cheios de dúvidas em relação à tese de E. Bazin-Foucher porque neste caso Qagimasadas seria Dago-maz-da que Heródoto reformulou como melhor lhe pareceu aos ouvidos helénicos. Como sabemos que Hermes era etimologicamente a variante masculina de Artemisa e ambos nome que tinham por raiz nuclear a deusa mãe de Creta, esposa de Dagon / Poseidon, podemos postular que Qagi-masad-as era a evolução fonética numa língua cita que ignoramos de arcaicos deuses cretenses senhores das leis (maz ó mês) terríveis dos mares.

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