domingo, 22 de junho de 2014

O MITO DA SANTÍSSIMA TRINDADE por Artur Felisberto.

La triade religiosa è presente nelle culture di molti popoli molto tempo prima della comparsa del cristianesimo.(…)
Cercando di portare ordine in una foresta di divinità si riunivano gli Dei in famiglie normalmente composti da una divinità, il coniuge e il figlio. (…)
Le trinità della mitologia egizia sono diverse, ecco le principali:
Osiride-Iside-Horus (nell'immagine sotto)
Ptah-Sekmet-Nefertem (triade di Menfi)
Amon-Khonsu-Mut (triade di Tebe)
Khnum-Satet-Anuket (triade di Elefantina).
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Obviamente que a verdade é bem mais profunda. O cristianismo foi apenas uma de entre as muitas religiões helenistas que permitiram ultrapassar o paganismo politeísta que, por força da profunda transformação que a filosofia grega ia produzindo nos espíritos, começava a ser inaceitável para as mentalidades que se iam formando no caldeirão do ecletismo e da diversidade social, cultural e civilizacional da paz romana. Poderia o ocidente ter feito algo muito diferente do que muito mais cedo o budismo fez no extremo oriente?
É difícil responder a esta questão até porque na história não há postulados hipotéticos precisamente porque a condição científica básica de que as mesmas causas tendem para os mesmos efeitos não são aplicáveis à diversidade das vicissitudes e contingências históricas. No entanto, em análises para grades períodos da história humanas é quase seguro que sejam quais forem os caminhos da humanidade esta acabará por se reencontrar lá onde a razão dos mesmos passos os levarem por caminhos semelhantes. Parece evidente que a ritualidade do budismo atual terá pouco a ver com o que pretendia Buda do mesmo modo que Jesus Cristo seria seguramente crucificado conciliarmente de novo se voltasse a pregar o sermão da montanha na praça do Vaticano.
Jesus Cristo apenas pretendeu reformar o judaísmo e acabou por reformar o império romano mas não foi seguramente nem o primeiro nem o único reformador que se viu ultrapassado pela própria história e cujos sonhos e projectos, por serem transcendentes desde a origem, acabaram por transcender tanto o seu criador quanto foram transformados e adulterados pela própria história. Nenhum movimento doutrinário nasce puro e permanece inalterável por mais sagrado que se pretenda na pureza das suas verdades reformadoras pois quanto, mais divino se transforma, mais se universaliza e mais se contamina pelo caminho com as verdades do passado tal como se revitaliza com as verdades que lhe nascem no seio enquanto não forem de tal monta que o antagonizem e acabem por se autonomizar. A história das doutrinas é a da evolução humana: nascem, crescem, amadurecem, tornam-se adultas, mais ou menos independentes, e então reproduzem-se para de seguida definharem e enfim morrerem.
O mais miraculoso no cristianismo foi precisamente esta capacidade de ter nascido em Jerusalém entre judeus e apenas para a reforma da lei mosaica e para a salvação messiânica do “povo eleito” e, por isso mesmo, em confronto radical e fanático com o helenismo desde pelo menos o tempo do macabeus e onde permaneceu até a destruição do segundo templo na mais terrível de todas as guerras da geopolítica romana no oriente que foram as "Guerras da Judeia" e ainda assim ter sobrevivido e vencido doutrinariamente os romanos. O maior de todas a lições que se pode extrair da história do cristianismo (e que os judeus só modernamente começam a entender) é a de que o crime só compensa desde que seja maquiavelicamente bem fundamentado e universalmente aceite segundo dogmas conciliares, doutrinariamente inatacáveis. Se fosse hoje, o arianismo teria ganho por ser mais lógico, como o pensou Isaac Newton, secretamente anti-trinitário, apesar de membro do Trinity College de Cambridge.
Les ariens adoptent le point de vue d'Origène, le subordinatianisme, selon lequel le Fils n'est pas de la même substance que Dieu, lequel est incréé et intemporel. Si le Fils témoigne de Dieu, il n'est pas Dieu, si le Fils a une position divine, elle est de moindre importance que celle du Père. Pour Arius, le Père seul est éternel, le Fils et l'Esprit ont été créés.
Criar coisas não é o mesmo que criar filhos mas ainda assim se os filhos são da mesma natureza dos pais na espécie humana só participam em metade do património do pai realidade biológica que era desconhecida no tempo de Aristóteles que acreditava que as mulheres eram meros vasos ou receptáculos do esperma masculino ou seja, “úteros de aluguer” dos filhos do patriarcado. Só assim se compreende que o Espírito Santo, que em grego era Sofia e feminino, tenha passado no ocidente por masculino...ou no mínimo assexuado. Na verdade, se não fora este estrondoso erro de Aristóteles que mais não era do que uma submissão da razão filosófica ao senso comum do patriarcado tal como foi o caso da defesa da escravatura, o Pleroma dos gnósticos teria ficado como a Deusa Mãe Primordial da Plenitude que gerou o filho primogénito o “deus menino” e sua irmã gémea Cora.
Jesus já era um novo deus de salvação entre os gentios bem antes desta querela porque os helenistas fabricavam deuses como quem gera quimeras e até os imperadores tiveram direito à divindade, mesmo em vida! Para os cristãos, o problema era serem ou não politeístas como os pagãos ao admitirem que Jesus Cristo era mais um deus, além do mais numa tradicional trindade típica do politeísmo oriental, particularmente o egípcio. Este paganismo endémico era sobretudo prevalente a ocidente onde o mistério da Santíssima Trindade levou mais longe a loucura divina do dogma com o Filioque que é uma expressão latina que significa “e do Filho” acrescentada pela Igreja Católica Romana ao credo para explicitar que o Espírito Santo procede do Amor que há entre o Pai e do Filho. Maior delírio homossexual não seria possível...e o patriarcado teve muitos!
A Igreja Ortodoxa considera tal aberração como herética e acredita que o Espírito Santo procedeu apenas do Pai, ou seja, indirectamente acaba por voltar a dar razão a Ario.
João 14:28: Ouvistes que eu vos disse: vou e volto para junto de vós. Se me amásseis, alegrar-vos-íeis de que eu vá para o Pai, pois o Pai é maior do que eu.
Mas as rebeldias de bizâncio nem sempre eram querelas sobre o sexo dos anjos pois eram muitas vezes radicalmente conservadoras em termos de proximidade às filosofias monoteístas em crescimento por todo o mundo oriental.
Theodotus of Byzantium (also known as Theodotus the Tanner and Theodotus the Shoemaker; flourished late 2nd century) was an early Christian writer from Byzantium, one of several named Theodotus whose writings were condemned as heresy in the early church. Theodotus claimed that Jesus was born of the Virgin Mary and the Holy Spirit as a mortal man, and though later adopted by God upon baptism, was not himself God until after his resurrection. This doctrine, sometimes called "Dynamic Monarchianism" or "Adoptionism", was declared heretical by Pope Victor I, and Theodotus was excommunicated.
Este papa romano de origem Africana é de duvidosa historicidade pode ter sido um dos muitos relapsos ou mesmo uma arquigalo da prestigiada família Fulvia banido de Roma pelo imperador anterior a Heliogabalo, Antonius Pius.Quer isto dizer que o credo de Niceia foi mais papista do que o papa e torna Jesus Cristo num mentiroso só para dar crédito ao poderoso papa de Alexandria enlouquecido de amores serôdios pelo seu secretário e filho adoptivo e futuro papa alexandrino, Anastásio.
Do mesmo modo, a lógica dos trinitaristas esquece que a unidade do pai com o filho era metaforicamente estendida por Jesus Cristo a todos os crentes e não era exclusividade sua. De certo modo, mesmo nos cultos de morte e ressurreição, o deus salvador sacrifica a sua divindade para que esta passe a ser partilhada por todos os que participam nos mistérios iniciáticos.
«Não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão-de crer em mim, por meio da sua palavra, para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste. Eu dei-lhes a glória que Tu me deste, de modo que sejam um, como Nós somos Um. Eu neles e Tu em mim, para que eles cheguem à perfeição da unidade e assim o mundo reconheça que Tu me enviaste e que os amaste a eles como a mim. Pai, quero que onde Eu estiver estejam também comigo aqueles que Tu me confiaste, para que contemplem a minha glória, a glória que me deste, por me teres amado antes da criação do mundo. Pai justo, o mundo não te conheceu, mas Eu conheci-te e estes reconheceram que Tu me enviaste. Eu dei-lhes a conhecer quem Tu és e continuarei a dar-te a conhecer, a fim de que o amor que me tiveste esteja neles e Eu esteja neles também.»
Claro que o grave foi esta questão ter estalado entre dois rivais hierarquicamente distantes na mais importante cidade do helenismo e onde ficava a biblioteca de Alexandria.
Entre 318 et 325, une polémique locale entre le pape Alexandre d'Alexandrie et Arius, s'envenime au point que l'empereur Constantin Ier, après avoir constaté l'impuissance des conciles locaux, prend le parti de réunir un concile œcuménique à Nicée, qui établira la première version d'une confession de foi.
A questão semântica iria envolver sobretudo uma questão de “razão de estado” e lógica de autoridade e poder.
A questão ariana resultava duma querela semântica entre conceitos metafísicos ou seja, de uma das muitas bizantinices sem solução que irão fazer as delícias da decadência lenta do império romano do ocidente. Esta beatice resultou em latim no termo “consubstancialidade” que é suposto ser o correspondente ao termo grego homoousios, termo original que designa essa hipostasia.
Este termo provém da junção de homos, que significa “o mesmo”, e ousios, proveniente de ousía, que significa substância ou essência. Assim, o termo tem o sentido de “da mesma substância, com a mesma essência”. O correspondente em latim é consubstantialis, do qual deriva o termo em português, consubstancial. No entanto, podemos entender que tal tradução não exprime perfeitamente o sentido do termo grego. O vocábulo latino é composto por cum e substantia. Ora, cum, com o sentido de “com”, simultaneidade, não exprime rigorosamente o mesmo que o grego homos. Do mesmo modo, substantia pode não corresponder perfeitamente a ousía, na medida em que cada um dos termos pressupõe determinado sistema ontológico, que varia conforme a cultura em que se insere.
(…) O termo significa, portanto, que o Filho é da mesma substância (ousía) do Pai. Além disso, esclarece de que modo se pode entender a relação mútua entre as duas Pessoas. O Filho é gerado pelo Pai, o que equivale a dizer que não se trata da produção de algo distinto de Deus, como sucede na criação, em que Deus é causa eficiente (gerado, não criado, afirma o Credo). Por outro lado, não se pode entender esta geração divina de modo material, como se o Filho fosse parte do Pai ou tivesse havido uma divisão da substância divina.
O termo homoousios foi adoptado para exprimir um conceito muito sujeito a distorções e compreensões defeituosas. Pretendeu-se apresentá-lo como linguagem rigorosa. No entanto, o vocábulo presta-se a ambiguidade.
O arianismo não fazia mais do que seguir a tradição judaica que negava a existência da consubstancialidade entre Jesus e Deus, que os igualasse, fazendo do Messias pré-existente ao nascimento uma criatura verbal da tradição egípcia, embora a primeira e mais excelsa de todas, que encarnara em Jesus de Nazaré. Então, Jesus seria subordinado a Deus, e não o próprio Deus. Segundo Ario só existe um Deus Absoluto e Eterno e Jesus é seu filho…como qualquer um dos filhos de Deus da tradição davídica.
Arius naît en Cyrénaïque dans la région des cinq cités[2]. Il étudie sous l'érudit théologien et martyr Licinius d'Antioche.
A l'âge de 55 ans, il est ordonné diacre en 311 par Pierre d'Alexandrie puis nommé prêtre par Achille, un éphémère successeur de Pierre. En 314, on lui confie la communauté chrétienne du nom de Baucalis près du port d'Alexandrie. On lui atteste un excellent comportement résistant pendant la grande persécution de Dioclétien et de ses successeurs. Cette persécution commence en 303 et ne se termine qu'à l'élection de Constantin 1er et l'édit de tolérance de Galère en 311. 
Pour la majorité des chrétiens d'alors, Dieu est incorporel et ne peut faire partie de l'univers matériel. Arius commence, en 312, à professer la thèse suivante, issue de la théologie de son maître Licinius qui la tient d'Origène: * le Fils est inférieur au Père, * le Fils a été créé ex nihilo, * ses perfections morales et personnelles ont conduit Dieu à l'adopter. C'est ainsi que Arius comprend Fils de Dieu * qu'il est un intermédiaire entre Dieu et les hommes, * que si la perfection divine est hors de portée de l'homme, celle du Fils peut être atteinte.
Doutrina mais lúcida não poderia haver e se razão existisse na teologia cristã, Ário seria hoje santo. Pela mais elementar das lógicas um filho não pode ser contemporâneo do pai. Mesmo que na sucessão metafísica das paternidades hereditárias Deus seja o Primeiro Pai Eterno, nem gerado nem criado (aristotelismo patriarcal à revelia da tradição da Deusa Mãe Primordial), o seu filho primogénito teria tido sempre um começo e não poderia ser eterno. O paradoxo absurdo e ilógico do gerado não criado é uma dos muitos absurdos que os amores serôdios entre o papa Alexandre e o filho adoptivo Atanasio geraram logo no começo do triunfalismo cristão.
Pour la majorité des chrétiens d'alors, Dieu est incorporel et ne peut faire partie de l'univers matériel.
Um geómetra diria que Deus era uma recta e Jesus Cristo um segmento de recta projectado na mente presciente de Deus desde todos os tempos. Mas até Aristóteles saberia que ser simultaneamente em acto e em potência é de ordem superior que ser primeiro em potência e só depois em acto.
Mas o filho de Deus pode ser de natureza divina como o pai mas não é o próprio Deus Absoluto e Eterno, porque é da mais elementar das lógicas que o filho que nasceu homem teve um começo e logo não era eterno nem seria absoluto porque se fez homem e logo condenado ao relativismo termodinâmico da condição do pecado e da morte!
Ao mesmo tempo afirmava que Deus seria um grande eterno mistério, oculto em si mesmo, e que nenhuma criatura conseguiria revelá-lo, visto que Ele não pode se revelar senão a si mesmo.
Os judeus já diziam isto no mandamento que proibia pronunciar o nome de Deus, que os cristãos acabaram em vão por transformar numa trindade ao gosto politeísta corrente sendo por isso redundância irrelevante que o historiador H. M. Gwatkin afirme em seu livro A Disputa Ariana: “O Deus de Ário é um Deus desconhecido, cujo ser se acha oculto em eterno mistério”
A teologia de Ario, no contexto da religião professada pelo próprio Jesus evangélico é de longe a mais correcta mas como se atreveu a enfrentar o papa Alexandre de Alexandria iria acabar por perder a razão deixando o credo cristão, enredado no complexo mistério da Santíssima Trindade que nem Santo Agostinho iria entender.
En 314, Le nouvel évêque d'Alexandrie, Alexandre d'Alexandrie et son secrétaire et fils adoptif Athanase, professent d'autres théories en ce temps où le débat christologique est animé. La christologie d'Alexandre professe que «Le Fils est une incarnation du Dieu d'Israël». Sa théorie est assez proche de celles développées par ceux des gnostiques qu'on finira par nommer docètes.
Em 318 houve uma discussão entre o Bispo Alexandre de Alexandria e Arius, porque este último acusava Alexandre de Sabelianismo.
Sabelianismo (também conhecido como modalismo) é a crença estabelecida no século III de que a Trindade não se configura em três pessoas, mas em modos, ou atributos de Deus.
Ario viu nestas tolices entre papa e secretário uma heresia de Sabelianismo quando na verdade o senso comum teria visto e calado apenas uma beatice ou mais uma panasquice bizantina para esquecer.
Ce type de questionnement sur la relation du Père et du Fils ou sur la conception de la messianité est tout à fait éloignée du judaïsme hellénistique. Il montre combien les liens se sont distendus; ce phénomène est tout à fait normal dans la mesure où la dynamique communauté juive d'Alexandrie, celle à laquelle on doit la Septante, a été détruite par la persécution romaine en 260.
Apesar do carácter de Ario ter sido severamente assaltado pelos seus opositores, Ario parece ter sido um homem de um carácter ascético, de moral pura, e de convicções.
Num Concílio que Alexandre convocou de seguida, Arius foi condenado.
No entanto Ario tinha a seu favor o senso comum teológico dominante e numerosos apoiantes e a disputa espalhou-se desde Alexandria por todo o Oriente. Ao mesmo tempo, Ario encontrou refúgio no apoio de Eusébio de Cesareia.
Para restabelecer a união entre os cristãos, o Imperador Constantino I convocou o Primeiro Concílio de Niceia em 325, onde a doutrina de Arius acabou por ser condenada como herética.
Ario foi expulso mas a sua excomunhão foi anulada pela influência do Bispo Eusébio de Nicomédia em 328 no mesmo ano em que Atanásio se tornou Bispo de Alexandria. Em 335 Ario seria supostamente reabilitado. Ele declarou-se de acordo em subscrever a doutrina de Niceia, que ele tinha recusado anteriormente. Mas antes de poder receber a comunhão em Constantinopla, morreu subitamente supostamente envenenado, segundo uma herança imperial romana que iria ser a prática recorrente entre o papado como forma de apressar a eliminação dos indesejáveis.
Obviamente que Ario foi a primeira vítima da política triunfal do cristianismo imperial que de ora em diante iria pautar a prova da verdade cristã de acordo com as razões de estado, política religiosa esta que iria triunfar de forma extrema e violenta na Inquisição.
Alexandre est le métropolite de la seule région qui alors comprend plusieurs évêques et de nombreuses communautés. Alexandrie est également la ville la plus prospère de l'empire romain. Il convoque donc un premier concile régional qui réunit sa centaine d'épiscopes en 318. Arius y est immanquablement excommunié après avoir été enjoint de signer une profession de foi qui correspondait à une rétractation totale de sa théologie.
A solução encontrada pelo concílio de Niceia para, ao mesmo tempo que dava razão ao orgulhoso papa Alexandrino, caucionar a legitimidade da razão de estado sobre a autoridade da razão que iriam ser a marca do absolutismo real do ocidente até a revolução francesa e degenerar em monstruosidades como foram a Inquisição e a futura infalibilidade papal, iria sair muito cara ao cristianismo porque terá sido aqui que começou a derrocada do império romano. O arianismo só teve adeptos entre os poderosos sem escrúpulos e entre os beatos. Espalhou-se livremente entre os godos que passaram a ter razões de peso para invadirem barbaramente o império do ocidente que acabaram por fazer cair e criar as condições de instabilidade política que iriam minar o império visigótico e os reinos vândalos do norte de África preparando o terreno para o triunfo do islamismo que iria fazer agonizar a Europa e o império bizantino até ao começo das descobertas ibéricas.
Os cristãos, por terem surgido do sonho impossível do “povo eleito” saíram de Niceia com o credo na boca a encobrir a falta de razão aprendendo a serem no ocidente, os maiores mestres da política moderna.
Os judeus, sobreviventes da diáspora, abdicaram do projecto messiânico, sem nunca terem tido a necessidade de o admitir em público nem de rejeitar o essencial da lei mosaica por não terem sido convidados a isso por nenhum imperador romano judaizante e por terem substituído na prática o sacerdócio pelo rabinato.
Mas, os cristãos, ao aceitarem o legado de Constantino aceitaram também a obrigação de salvarem o que tinha que ser salvo do império romano.
Desde logo a tríade capitolina na forma da Santíssima Trindade.
A troco da conversão massiva do império os cristãos aceitaram a obrigação tácita de manter a coesão do que restava da pax romana engolindo sapos e lagartos do paganismo e todos os velhos deuses que ainda tinha poder no subconsciente do império, particularmente os que mais se assemelhavam ao cristianismo com os quais já vinha a conviver desde que Paulo deus conta que Roma era uma das cidades onde o cristianismo tinha crescido mais rapidamente, apesar de mal ter começado a pregação aos gentios.
7 A todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados santos: Graça e paz de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. 8 Primeiramente dou graças ao meu Deus por Jesus Cristo, acerca de vós todos, porque em todo o mundo é famosa a vossa fé. -- EPÍSTOLA DE S. PAULO AOS ROMANOS.
Obviamente que os santos de Roma eram judeus essénicos e possivelmente prosélitos praticantes de muitas das variantes helenistas de cultos de salvação e mistérios pascais de morte e ressurreição particularmente os de origem egípcia iniciados nos cultos de Ísis e os de origem maniqueísta relacionados com Mitra e no fundo todos os diversos e variados cultos sobreviventes da Grande Deusa Mãe mediterrânica e de “deus menino” salvador do mundo! A primeira herança temporal foi o legado do Vaticano aos papas seguramente que por uma massiva conversão dos sacerdotes do templo da Magna Mater ao culto da Virgem Maria, a Mãe de Deus.
Sabemos que Paulina, esposa de Praetextato foi iniciada nos cultos de Cibele e Charles W. Hedrick suspeita que esta família esteve ligada aos cultos orientais e que por isso mesmo faria parte do colégio de augures pontifícios de que iminentes elementos da família teriam sido Arquigalos da Grande Deusa Mãe frígia.
Sabemos que a tradição do celibato sacerdotal foi sempre quase um dogma no catolicismo ocidental e que a passagem evangélica “Nem todos são capazes de entender esta doutrina: só entendem aqueles a quem Deus dá entendimento. Porque há pessoas que não se casam porque são eunucos de nascença, ou por outros foram feitos eunucos; e há também aquelas que se abstêm do casamento por amor do Reino dos Céus. Quem puder entender, que entenda!” (Mt 19, 10-12) deve ter sido uma interpolação tardia porque os judeus cristãos da primitiva igreja de Jerusalém, ebionitas e nazorenos, considerariam uma desgraça tal coisa! “Um homem que não tem sua mulher nem mesmo é homem” (Talmude Babilônico, Jabamot 63 a).
Na verdade as referências mais antigas a um evangelho de Mateus em hebraico reportam-se também a estes judeus cristãos ainda partidários do respeito da tora para os quais Jesus seria o messias prometido mas não um deus e que teria vindo para completar e melhorar a lei, abolindo os sacrifícios do templo, mas não para abolir a lei, ou seja, a tradição dos bons costumes judeus. Santo Irineu (> 202 d. C) refere: [Os ebionitas] utilizam unicamente o evangelho segundo São Mateus e recusam o apóstolo Paulo, chamando-o apóstata da Lei. (Adv. haeres. I 26,2). À época do concílio de Niceia, Eusebio de Cesareia (> 339) referia: “E há alguns que quiseram incluir entre estes escritos (cuja canocidade é discutida) o evangelho segundo os hebreus, que é o maior encanto dos judeus que receberam Cristo”. (Hist. Eccl. III 25).
Sempre que se fazem referências comparadas a esta versão do evangelho de Mateus é para referir o que aquela versão hebraica refere e nunca para dizer o que ela omite sendo assim impossível confirmar se estaria ou não na versão original hebraica a referência ao celibato e aos eunucos. Existe no entanto uma referência cátara quase textual aos versículos de Mt 19, 10-12.
[Evangelio cátaro del Pseudo-Yohanan] Y pregunté al Señor: ¿Cómo sucede que todos reciben el bautismo de Yohanan, pero que no todos reciben tu bautismo? Y el Señor me contestó: Porque sus obras son malas, y porque no llegan todos a la luz. Los discípulos de Yohanan se casan, pero los míos no se casan, y son como emisarios del cielo. Y yo dije: Si es pecado casarse, lo le conviene al hombre contraer matrimonio. Y el Señor replicó: Sólo pueden comprender esa palabra aquellos a quienes ha sido dado comprenderla. Porque hay eunucos que han salido tales del vientre de sus madres. Y hay eunucos a quienes han hecho tales los hombres. Y hay eunucos que se han castrado a sí mismos a causa del Reino del Señor.
Assim, é quase seguro que estes versículos em Mateus não são originais e devem ser uma interpolação tardia de origem gnóstica, obviamente que posterior a Ireneu porque este caçador de heresias gnósticas a teria farejado facilmente. Quando é que elas terão entrado neste canónico não se sabe mas possivelmente na mesma altura em que o 4º evangelho começou a ser aceite sem reservas como canónico. A passagem de 1 Timóteo 4.1-3 adverte contra aqueles que, nos últimos dias, criticarão o casamento.
1 Timóteo 4: 1Mas o Espírito expressamente diz que em tempos posteriores alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios, 2pela hipocrisia de homens que falam mentiras e têm a sua própria consciência cauterizada, 3proibindo o casamento, e ordenando a abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos com ações de graças pelos que são fiéis e que conhecem bem a verdade; 4pois todas as coisas criadas por Deus são boas, e nada deve ser rejeitado se é recebido com ações de graças; 5porque pela palavra de Deus e pela oração são santificadas.
Alguns movimentos gnósticos posteriores realmente condenaram o casamento, mas movimentos tradicionais fizeram o mesmo, reflectindo uma preocupação de alguns com os interesses espirituais sobre a sexualidade. O próprio Paulo é a esse respeito contraditório:
1 Coríntios 7: 1Ora, quanto às coisas de que me escrevestes, bom seria que o homem não tocasse em mulher; 2mas, por causa da prostituição, tenha cada homem sua própria mulher e cada mulher seu próprio marido. 3O marido pague à mulher o que lhe é devido, e do mesmo modo a mulher ao marido. 4A mulher não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim o marido; e também da mesma sorte o marido não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim a mulher. 5Não vos negueis um ao outro, senão de comum acordo por algum tempo, a fim de vos aplicardes à oração e depois vos ajuntardes outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência. 6Digo isto, porém, como que por concessão e não por mandamento. 7Contudo queria que todos os homens fossem como eu mesmo; mas cada um tem de Deus o seu próprio dom, um deste modo, e outro daquele. 8Digo, porém, aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom se ficarem como eu. 9Mas, se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se.
Se Paulo aconselha o casamento por concessão é porque entendia que o princípio ideal seria a castidade que os solteiros deveriam praticar como obrigação, pelo menos enquanto não se casassem. Ou seja, S. Paulo já era tendencialmente gnóstico em assuntos de sexualidade e também aqui se aproximava do puritanismo que começava a emergir na sociedade romana enquanto se afastava cada vez mais da tradição judaica que recomendava aos homens ter uma mulher, o que pressupunha que poderia ser com casamento ou sem ele.
É duvidoso que o versículo Paulino a respeito dos que viriam 3proibindo o casamento, seja uma postura parcial contra pregadores concorrentes. Na verdade Paulo sempre sofreu de excesso de zelo e deverá ter sido um dos iniciadores da intolerância religiosa que os cristãos herdaram dos judeus. Os gnósticos não seriam a este respeito nem mais nem mesmo exigentes do que Paulo.
Grande é o mistério do casamento! Pois (sem) ele o mundo (não existiria). (…)O ser humano tem relação sexual com um ser humano. O cavalo com um cavalo, um jumento com um jumento. Membros de uma raça geralmente se associam (com) pessoas da mesma raça. Assim o Espírito se mistura com o Espírito, o pensamento se relaciona com o pensamento, e a (luz) compartilha (com a luz. Se) nasceres como um ser humano, será (um ser humano) que te amará. Se te tornares (um espírito), será o Espírito que se unirá a ti. Se te tornares pensamento, será o pensamento que se associará contigo. Se te tornares luz, é a luz que compartilhará contigo. Se te tornares um daqueles que pertencem ao alto, são aqueles que pertencem ao alto que repousarão em ti. Se te tornares em um cavalo, um jumento, um touro, um cão, uma ovelha ou qualquer outro animal que estão fora ou em baixo, então, nenhum ser humano, espírito, pensamento ou luz será capaz de amar-te. Nem os que pertencem ao alto nem os que pertencem ao interior serão capazes de repousar em ti, e não terás parte deles. -- Evangelho de Felipe.
Obviamente que o gnosticismo era um cristianismo de eleitos enquanto o Paulismo era um cristianismo de massas. É duvidoso que as diferenças fossem maiores do que as que costumam haver entre momentos fervilhantes de pensamento de diversidades de poder e saber como era a época pós helenista do império romano em decadência.
No entanto, se hoje em dia é difícil seguir Paulo na sua ética sexual é quase impossível levar a serio a lógica de Filipe. É que a lógica baseada em premissas retiradas do senso comum já eram falíveis no tempo de Aristóteles razão pela qual foi fácil rebater o gnosticismo. Se no tempo de Filipe seria ridículo amar animais nos tempos modernos o amor por animais de estimação começa a ser um privilégio não apenas de espíritos infantis como de almas solitárias e de pessoas mal amadas.
O gnosticismo acabou por entrar na Igreja católica sem os católicos se aperceberem disso precisamente quando os templos onde se praticavam outras formas de mistérios foram fechados e todos tiveram que se converter ao cristianismo vigente mais ou menos naturalmente introduzindo neste novas ideias e preconceitos que inevitavelmente vieram fazer parte da ganga estranha e confusa que é a tradição ritual tanto da ortodoxia como sobretudo do catolicismo. A trindade foi um dos preconceitos teológicos que o cristianismo teve que herdar do paganismo porque ele fazia parte do senso comum que um judeu fervoroso nunca seria capaz de entender mas que um gentio nunca seria capaz de explicar de outro modo. Na medida em que o judaísmo se recusou a tornar-se gentio e se limitou a aceitar prosélitos o cristianismo aceitou o desafio de conquistar o império romano pela fé mesmo ao preço de vir a ser rejeitado pela lei mosaica por ofensa ao primeiro mandamento aceitando a Santíssima Trindade através duma espécie de objecção de consciência baseado num credo paradoxal e rebuscado, arrancado a ferros a vários concílios mais ou menos ecuménicos e à custa de uma luta contra a emergência constante da heresia.
Dois simples versículos da 1ª carta de S. Paulo aos Coríntios depois de traduzida por quatro autores podem resultar quatro variantes de interpretações teológicas quase opostas.
5 É verdade que alguns ídolos são considerados deuses, ou no céu ou na terra (e há muitos “deuses” e muitos “senhores”).
6 Mas, para nós há somente um Deus, o Pai. Todas as coisas vieram dele e nós vivemos para Ele. Há também somente um Senhor, Jesus Cristo. Por Ele todas as coisas foram criadas e por meio dele nós também existimos.
Portuguese New Testament: Easy-to-Read Version (VFL).
5 Segundo muita gente, existe uma quantidade de deuses, tanto nos céus como na terra.
6 Contudo sabemos bem que há um só Deus, o Pai, a quem pertencem todas as coisas, e que nos fez para sermos dele; e também um só Senhor, Jesus Cristo, que criou igualmente todas as coisas e nos dá a vida.
Coríntios 8 (O Livro).
5 Pois, mesmo que haja os chamados deuses, quer no céu, quer na terra (como de fato há muitos “deuses” e muitos “senhores”),
6 para nós, porém, há um único Deus, o Pai, de quem vêm todas as coisas e para quem vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, por meio de quem vieram todas as coisas e por meio de quem vivemos.
Nova Versão Internacional (NVI-PT).
5 Pois, ainda que haja também alguns que se chamem deuses, quer no céu quer na terra (como há muitos deuses e muitos senhores),
6 todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual existem todas as coisas, e por ele nós também.
João Ferreira de Almeida Atualizada (AA).
Para além de se ficar na dúvida sobre a genuinidade da inspiração divina de S. Paulo a respeito dos vários deuses e senhores do céu e da terra ficamos na dúvida a respeito dos poderes criativos do Pai em relação a Jesus Cristo.
Possivelmente para os gregos a diferença entre Deus e Senhor seria evidente mas para um judeu ortodoxo ambos os termos eram sinónimos. No entanto não quer dizer que sempre tenha sido assim.
O Senhor disse ao meu Senhor:
Senta-te à minha direita
até que eu faça dos teus inimigos
um estrado para os teus pés”. -- Salmo 110
Senhor era então o rei e senhor da lei! S. Paulo ao falar da carne sacrificada aos ídolos estava a tentar justificar uma nova lei trazida por Jesus Cristo que passara a ser o único senhor dos cristãos por mérito do seu auto-sacrifício redentor.
No entanto os textos traduzidos continuam a gerar confusões sobre o conceito de divindade e senhoria na relação destes com a posse das coisas. De certa forma a religião era uma espécie de jurisprudência do senso comum a respeito da lei de Deus.
S. Paulo é claro a respeito da existência de um só Deus, o Pai! No entanto, os seus tradutores já não são claros sobre de quem é a posse das coisas que afinal determina a senhoria. Os mais tradicionalistas atribuem o poder criador a Deus Pai de quem vêm todas as coisas e a Jesus Cristo a posse intermediária das coisas “por meio de quem vieram (existem) todas as coisas” e os mais ousados chegam ao ponto de afirmarem que “por Ele todas as coisas foram criadas” ou até mesmo “que criou igualmente todas as coisas”. Como se trata de variantes de tradução não coincidentes ficamos sem saber qual era a pureza original de S. Paulo que se por um lado se recusava a dar a Jesus Cristo a natureza divina e logo o poder criador de todas as coisas também não queria abrir mão do poder de senhoria de Jesus Cristo que para tal teria que ter a posse de todas as coisas bastando obviamente aceitar que teria sido para ele e por meio dele que as coisas vieram de Deus aos homens pela nova lei e pelo mérito do auto-sacrifício de Jesus Cristo! Mas há sempre tradutores híper corretos com tendências para o exagero!
Ce qui frappe dans l'étude de l'antiquité, c'est qu'une grande différence de figurations, de préceptes, de civilisation, ne s'opposait pas à une grande unité de pensée des prêtres ou des sages, contacts réciproques et traductions des mythes pour aboutir, à l'époque hellénistique, au syncrétisme des religions d'Orient et d'Occident (on pourrait dire la même chose pour l'époque actuelle dominée par des monothéismes à la fois très ressemblants et attachés à leurs divergences. Pour Lévi-Strauss le mythe est toujours "dérivé par rapport à d’autres mythes...Il est une perspective sur une langue autre" p576).
Por processos retóricos defensivos perfeitamente compreensíveis a Igreja Católica e, de um modo geral, todas as igrejas cristãs têm conseguido educar os seus fiéis na ignorância dos mistérios das suas origens assim como nas contradições dos seus dogmas constitucionais.
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Figura 1: Trindade marítima grega: Anfitrite, Nikê e Poseidon.
Um destes dogmas, o mistério da santíssima trindade é, no campo do monoteísmo, um paradoxo teológico tão magnificente quanto as pirâmides dos Egipto. Apenas os recursos duma retórica alexandrina conciliarmente impostos no credo de Niceia (revisto e ampliado por tantos outros sínodos e concílios posteriores) permitem manter o cristianismo na esfera das religiões monoteístas. Para quem estiver fora dos limites fidedignos do credo da religião cristã, a crença na santíssima trindade constituiu uma regressão em direcção ao politeísmo de todos os povos contra os quais o povo eleito teve que defender, orgulhosamente só, o seu pretenso direito à exclusividade dos favores divinos. Claro que a Trindade Cristã consegue ser, no conjunto de todas as trindades politeístas, muito sui generis pelo seu particular paroxismo patriarcal, machista e misógino. Formada por um deus Pai, deus Filho e por um divino Espírito Santo (de sexo masculino ou quanto muito neutro ou assexuado) a trindade cristã nunca foi uma Sagrada Família, como as restantes trindades politeístas, uma vez que lhe faltar a deusa Mãe.[1] É sabido que o divino Espírito Santo é o Senhor que dá a vida, que procede do Pai (e do Filho, segundo o credo de Constantinopla) o que, se não fora o pressuposto da assexualidade na teologia cristã, corresponderia a uma estranha e incestuosa sexualidade sagrada! De qualquer modo, um antropólogo extraterrestre veria no divino Espírito Santo ou a Suma Teológica do líquido espermático do Pai e do Filho ou então inferiria que estes dois machos divinos viveriam em solitário concubinato com um deus genitor hermafrodita. De qualquer modo, o Espírito Santo nunca seria confundido com uma verdadeira deusa Mãe. Apesar de todas as constantes e sucessivas cedências teológicas da Igreja ao culto mariano a virgem Maria e Nossa Senhora nunca alcançou no céu o estatuto que herdou na terra dos antigos cultos da fertilidade em honra da (Nossa) Senhora, a Grande Deusa Terra - Mãe. O cristianismo foi de facto o culminar paroxístico do machismo patriarcal (não falocrata porque, se misógino, é também assexuado). As relações incestuosas do papa Alexandre Borgia só não são uma imagem psicanalítica da santíssima trindade porque o filho era uma bela, mas pouco recatada, rapariga. Quantos filhos de papas e padres (pater(s) > padres > pais) não vieram ao mundo sem mãe conhecida ou com mães colocadas de forma secundária no plano da Divina Providência? Esta divina Providência, por exemplo, poderia ter ocupado o lugar do divino Espírito Santo e a trindade teria passado a família, ou seja a um politeísmo explícito. O próprio Espírito Santo é suficientemente abstracto e ambíguo para poder ser chamado de santa Sabedoria (Santa Sófia) ou melhor, divina Sabedoria (Teosofia). Ora bem, ver-se-á mais adiante que sempre que existe uma classe sacerdotal forte e organizada é possível a especulação teológica e esta tende sempre para a abstracção idealista que foi o que aconteceu muito cedo na história dos egípcios na escola de Mênfis. Porém, ali ainda em tempos de matriarcado a trindade das divinas abstracções tinha à cabeça a deusa da Verdade e da Sabedoria Maat que poderia ser muito bem traduzida para todos os efeitos de masculinização como divino Espírito Santo! Porém, os padres conciliares tinham a consciência dos riscos que correriam ao trilhar nos limites do politeísmo! Poderiam ceder às fortes pressões da tradição teosófica de que o esoterismo de inspiração egípcia era o mais poderoso componente no que respeita à Divina Trindade mas não poderiam nunca cair num politeísmo explícito que o judeu piedoso que era Jesus não aceitaria pensar sequer![2]
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Figura 2: Trindade Egípcia Horus, filho de Osíris ao centro, e Isis.
Tous les dieux sont trois : Amon, Rê, Ptah ;
ils n'ont pas d'égaux. son nom est caché en Amon,
il est perçu en Rê, et son corps est Ptah.
leurs cités sur terre demeurent à jamais :
Thèbes, Héliopolis et Memphis, pour l'éternité.
(hymne à amon de leyde -1300 avant j.-c.) e200 Khépri le matin, Rê le midi, Atoum le soir.
·    Sabe-se que o triângulo sagrado era um símbolo da perfeição divina inspirador das pirâmides desde o mais antigo Egipto.
·      A religião egípcia procedeu a grandes reformas organizativas do seu confuso panteão de que resultou a criação de tríades de sagradas famílias conforme o costume de cada uma das grandes cidades que eram centros religiosos.
·      Os Babilónios, segundo Pierre Amiet, acreditavam pelo menos em duas trindades: na urânica e criadora formada por Anu, deus do céu; no tormentoso e taurino Enlil, do estado atmosférico e em Enki/Ea, espirito da sabedoria que paira sobra as águas primordiais, e ainda na trindade astrológica formada pelo deus Sin, a lua; o deus Shamahs (Xa mash = centro sublime), o Sol e a deusa Innanna/Ishtar, em relação com o planeta Vénus.
Figura 3. Molde de cera de uma «sagrada família» anatólica.
·      De uma forma mais ou menos generalizada todos os politeísmos antigos colocavam à frente dos seus panteões tríades familiares, um pouco à imagem e semelhança da família real reinante, ideal de todas as famílias patriarcais, com o augusto casal real e o precioso primogénito e príncipe herdeiro!
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·      No volume II do seu livro AS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES Pierre Lévêque demonstra que o estudo comparado das religiões dos indo-europeus só não é decepcionante quando se segue as pisadas da investigação de Georges Dumezil em direcção à aceitação da universalidade do princípio da trifuncionalidade ainda hoje corrente no pensamento popular ocidental.[3]
Three (Worldwide)Pythagoras calls three the perfect number, because it has a "beginning, middle, and end", and made it a symbol of Deity. A Trinity (means: threeness) is by no means restricted to the Christian religion. The Brahmins represent their god with three heads. According to mythology:
1. The world was ruled by three gods [Jupiter/Zeus (heaven), Neptune/Poseidon (sea), and Pluto/Hades (the underworld)]. [Jupiter is represented with three-forked lightning (his thunderbolt), Neptune with a trident, and Pluto had a three-headed dog (Cerberus)].
2. The fountain from which Hylas drew water was presided over by three nymphs.
3. In Scandinavian mythology we have the "Mysterious Three"; that is, Har (High), Jafenhar (Equally High), and Thridi (the third), who all sat on three thrones in Asgard.
4. (Greek) The HORAE were three sisters; Thallo (Spring), Auxo (Summer), and Carpo (Autumn or Harvest). They were also known as Eunomia (law and order), Dike (justice), and Eirene (peace).
5. (Greek) The FATES (also called the Moerae or Moirai) were three sisters; Clotho (the spinner, who spins the thread of life), Lachesis (the measurer, who allots the lifespan), and Atropos (she who cuts the thread of life).
6. The three Roman "Fates" were called the Parcae.
7. The three Norse "Fates" were called the Norns.
8. (Greek) The GRACES (also known as the Charites) were three sisters; Aglaia (Splendor), Euphrosyne (Mirth), and Thalia (Good Cheer). They were the personifications of beauty and charm (daughters of Zeus and the oceanid nymph Eurynome).
9. The Roman "Graces" were called the Gratiae.
10. (Greek) The FURIES were three sisters; Tisiphone, Megaera, and Alecto. Furies (or Erinyes) were goddesses of vengeance. Born from the blood of Uranus, they punished wrongs committed against blood relatives regardless of the motivation. They were usually represented as crones with bats' wings, dogs' heads, and snakes for hair.
11. (Greek) Anius (a son of Apollo) had three daughters; Oeno (goddess of wine), Spermo (goddess of grain seed), and Elais (goddess of vegetable oil).
12. (Greek) The Harpies are three winged monsters. They are Aello (storm), Celeno (blackness), and Ocypete (rapid).
13. The Sybylline books are three times three (of which only three have survived).
14. (Greek) The Muses were three times three.
Como corolário destas afirmações, o politeísmo foi criado para edificação do povo à imagem e semelhança lógica com a numerosa família colateral dos reis e senhores deste mundo ou seja como necessidade de justificação dos privilégios sagrados da oligarquia. Como antinomia desta afirmação, o monoteísmo deveria ser a imagem idealizada duma sociedade sem classes ou pelo menos sem outra oligarquia que não fora a de uma poderosa e bem organizada casta sacerdotal, como tendia a ser a civilização dos faraós e o baixo império romano cristianizado. Dito de outro modo, o monoteísmo se por um lado reflecte uma visão massificante e igualitarista da sociedade está longe de corresponder a uma forma de libertação do individuo na medida em que corresponde no âmbito da organização do poder de estado a um totalitarismo centralista de tipo faraónico, cesaro-papista ou de qualquer outra forma de poder absoluto de chefe de estado.
De facto, a instituição faraónica tentou o monoteísmo puro com o culto erudito de Aton no breve reinado de Akeneton porque já tendia há muito para um monoteísmo mitigado com uma teologia das trindades e sobretudo com a progressiva generalização a todo o império faraónico do culto místico de Osíris. Foi, alias, este culto osiríaco unificador e centralizador do poder do estado faraónico que, com a sua corrente mística desenvolvida pela teologia menfítica, preparou as consciências piedosas para o conceito do Deus supremo de toda a humanidade porque íntimo e pessoal de todos os homens!
A tendência para por acima das vicissitudes terrenas um deus supremo de toda a humanidade terá começado pelo conceito do pai benévolo.
Para William Culican no seu Comércio Marítimo “a ideia inteiramente hebraica de Iavé (Jeová) como pai e criador de toda a Humanidade parece ter sido adaptada da ideia ugarítica de El, o bondoso pai do panteão da cidade de Ugarit.”
Como é de notar existe diferença entre o conceito genérica de Deus enquanto ente divino e a entidade particular do Deus dos deuses enquanto deus supremo, nos politeísmos ou Senhor Absoluto e único Deus, nos monoteísmos (e por isso mesmo género dos géneros e espécie divina exclusiva em si e de si mesmo)!
No caso dos povos ditos arianos pelo menos, antes de se ter tornado num nome próprio o nome do deus dos deuses não começou por ser um deus deorum mas, o de Pai dos deuses. De facto o conceito de deus deorum subjacente às teogonias clássicas pré-cristãs seria já uma aproximação ao modernismo da época helenística que a necessidade política do imperialismo romano iria facilitar, para sorte do cristianismo!
Fala-se muito no monoteísmo judeu enquanto singularidade teológica da história antiga esquecendo as origens e razões desta singularidade e olvidando também as tendências monoteístas implícitas na evolução de todas as teogonias clássicas. De resto, é bem possível que todos os deuses tenham derivado de um único deus criador original tanto etimologicamente como nas tendências teológicas das culturas reveladas pela análise comparada da mitologia antiga. O problema é que só o deus mais próximo do egoísmo ciumento do coração dos homens é que foi sempre o deus com mais hipóteses a vir a ser o deus exclusivo, único e universal da terra prometida, mito que sobreviveu tanto na cultura judaica como na Azeteca, reservando-se para o deus dos outros o papel de deus menor, quanto muito filho de deus, vá lá um anjo ou um semideus se não se der o caso de ser o falso deus e anti Cristo dos nossos inimigos!
Claro que o deus local era o único deus nacional e verdadeiro e só a necessidade da convivência tolerante com poderosos vizinhos debaixo do mesmo deus soberano de poderosos impérios foi possível criar panteões politeístas e com eles a riqueza léxica dos dicionários das grandes línguas imperiais. De facto os imperios eram governados por um deus supremos e prefeririam governar com um único deus mas eram fruto da usurpação de muitos deuses nacionais e eram por isso o orgulhoso trunfo do politeísmo sobre os deuses solitários e patronos dos pequenos lugares.



[1] No entanto, houve tríades antigas que não eram sagradas famílias o que pressupões que nem sempre a família foi a célula social de referência: Há frente do mais antigo panteão romano estavam Júpiter, Marte e Quirino o que faz da primitiva Roma um quartel sem bordel. Os Tarquínios, que eram mais galantes e respeitadores da mulher, eram descritos pela lenda como tendo substituído essa tríade por outra com um deus masculino entre mulheres: Júpiter, Juno e Minerva!
[2] Na verdade, o catolicismo acabou por ceder ao politeísmo em quase tudo. Muitos aspectos rituais são cópias dos cultos antigos dos mistérios de que o sacramento da comunhão é o mais flagrante! Alguma vez a piedade dum judeu zeloso imaginaria a teofagia e comeria a Deus? O culto dos santos (alguns com nomes directos ou disfarçados de deuses antigos) é uma forma mitigada de idolatria que no mínimo mantém o culto das imagens sagradas augusta e gloriosamente enfeitadas nas procissões de quase todas as festas católicas que são a cristianização de ritos pagãos anteriores algumas ainda com o mesmo nome como é o caso das maias, do dia da espiga e da festa das primícias na quinta feira da Ascensão!
[3] Diz o povo em abono dos três vinténs que não há duas sem três pois, foi a conta que deus fez!