domingo, 21 de junho de 2015

AS ÂNFORAS e do desafio da tradição ao equilíbrio natural, por Artur Felisberto.

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Em cima, figura 1 & figura 2: Ânforas romanas de uso comercial. Ao lado, figura 3: Bela ânfora grega representando Nikê, uma variante arcaica de Atena Potinija.
A ordem de exposição destas ânforas é premeditada e pretende marcar uma espécie de evolução formal das ânforas de trípode para as ânforas que vieram dar em «cântaros».
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Figura 4: Hércules e o trípode de Apolo.
A tradição romana parece ter respeitado muito mais a tradição das ânforas afuniladas e sem base o que, num povo cuja civilização veio a primar pela funcionalidade e pragmatismo, parece espantoso! Porém, se nos lembrarmos que este povo teve que compensar o seu matrialismo militarista com uma religiosidade tão conservadora que os levou a cometer o excesso da perseguição religiosa ao cristianismo nascente, em formas de intolerância cultural nunca antes relatados no paganismo, talvez compreendamos a razão de ser das formas tão arcaizante quanto pouco práticas das ânforas romanas. Por esta mesma razão se compreende agora a importância dos trípodes na ritualidade arcaica enquanto implícitos sinais de sacralidade de lugares e situações. É que sem eles seria impossível manter as ânforas em pé e estas foram reservadas às sublimes funções de depositárias do sagrado vinho das libações em louvor do deus Enki, o deus de todas as «águas da vida eterna» que seriam as bebidas espirituosas e os vinhos licorosos fabricados pelas potinijas.
Amphorae were large ceramic vessels that were used in the ancient world for transporting a range of agricultural goods, but primarily liquid commodities such as wine, olive-oil, and various fish sauces. They were essentially made for seabourne commerce and thus represent direct evidence of long-distance Roman trade.
Enki é muitas vezes referido como sendo um deus peixe ou cobra-d´água, animal mítico que era também o dragão de Marduque, filho de Enki.

Ver: DAGON (***)

Suspeita-se também que Enki, marido de Damkina, tenha tido Damuz por um dos seus heterónimos sendo, portanto, o mesmo que Giszida, a víbora cornuda e deus do vinho.
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Figura 5, Figura 6 e Figura 7: Ânforas de base progressivamente alargada. Notar que a ânfora do meio se supõe da época minóica o que reportaria a transição das ânforas reptilíneas para as cântaras de base alargada para uma época muito arcaica da história da cerâmica. Na cultura cretense as cobras eram animais sagrados de máxima importância bem como todos os animais com a morfologia das cobras. O povo parece a cobra de agua preferida dos artistas cretenses que o representaram em várias obras-primas que chegaram até nos.
«Polvo» < Phor-wo < Phur-ka ó *Ka-phura >
Phau-Wira > Pawibra > It. piovra.

Ver: GESTINANA (***)

De resto, seriam estas as razões pelas quais Hermes, Dionísio e Hefesto, faces do mesmo deus, aparecem juntos nas festas báquicas, que correspondiam na Grécia ás festas pascais a Damuz. Enki deus da água doce seria também o deus que transformava a água em vinho e portanto o deus de todos os líquidos razão pela qual seria peixe ou cobra-d´água. Então, a forma esguia e serpentina das ânforas procuraria respeitar, de maneira mágica e supersticiosa, a imagem mais arcaica e sagrada de Enki nos cultos de morte e ressurreição e da sua mística relação com as libações da consagração do vinho! Então:
«Ânfora» < Ankaura < *Enkur / Enki.
                                    > «âncura» dos navios dos adoradores de Enki!
No entanto, o trípode não teria aparecido tanto para segurar ânforas de formato em equilíbrio instável mas sobretudo para permitir que as ânforas, enquanto potes de barro, pudessem ire ao fogo como os caldeirões sagrados. Obviamente que nos deparamos com um dilema lógico do tipo do “ovo e da galinha”! Teria sido a ânfora a determinar a necessidade do tripé ou teria sido este a determinar a forma da ânfora? Evidentemente que seriam possíveis trempes que segurassem potes de base larga como tachos. Sendo assim, comprova-se pela lógica das probabilidades reais que o trípode não é condição sine qua non para o formato em equilíbrio instável das ânforas, pelo que, em conclusão, o formato destas teria precedido aqueles. No entanto, a origem dos trípodes seria quase tão arcaica quanto a da forma das ânforas porque as trípodes estariam também já presentes na cultura minóica uma vez que estas aparecem também na cultura maia, que cada vez é mais seguro ter tido origem a partir de colonização minóica. É claro que sem o tripé as ânforas não se teriam mantido em pé e teriam desaparecido rapidamente da história. Porém, mais do que para se manterem em pé os trípodes mantiveram-se debaixo das ânforas para permitiram que estas pudessem ir ao fogo!
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Figura 8: Trípode sacrificial de Medeia.
A prova disto reside no facto de que as trípodes sagradas dos gregos tinham a finalidade se suportarem caldeirões de cobre onde se cozinhavam as carnes sacrificiais! A culinária antiga era uma arte sagrada que tinha por pilares fundamentais a carne e o vinho. Sendo assim, os sagrados sacrifícios aos deuses seriam banquetes de qualidade alimentar tipicamente mediterrânica onde abundaria a carne cozida, o pão, queijo e azeitonas, vinho, bolos de leite e mel, figos secos e a bela fruta da época!