sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

OS ALANOS, NA ROTA DO NOME DOS INDOEUROPEUS por Artur Felisberto


clip_image002[1]

Figura 1: Migrações dos Alanos entre os séculos IV-V depois de Cristo:

      Migrações.       Expedições.       Assentamentos.



Os alanos constituíam um povo com origem iraniana no nordeste do Cáucaso, entre o rio Don e o mar Cáspio.

O Alanos ou Alani (ocasional mas mais raramente Alauni ou Halani) era um grupo nómada Iraniano entre o povo Sarmácio, pastores nómadas bélicosos de variadas proveniências que falavam uma língua Iraniano e que compartilharam uma cultura comum numa grande extensão. [1]

Pontuaram entre os povos que penetraram o Império Romano tardio no período das migrações dos povos bárbaros, migrando em direcção ao ocidente nos séculos IV-V.

As várias formas do (nome) "Alano" (grego Αλανοι, Αλαννοι, chinês O-lan-na), bem como o "Iron" – auto-designação descendentes dos alanos, os ossetas modernos, (…) são uma forma dialectal iraniana para "ariano". Os antigos Alanos habitavam o que geralmente é concedido (embora não sem contestação) para ser o original ou um dos ramos originais dos arios, ou indo-iranianos, ancestrais comuns dos povos indo-arianos e iranianos. O uso de "ariano", "irron", "iraniano", etc. era uma auto-designação comum entre todos esses povos.

The Alans were also known over the course of their history by another group of related names including the variations "Asi", "As", and "Os" (Russian Jasy, Georgian Osi). It is this name which is the root of the modern "Ossetian".– From Wikipedia, the free encyclopedia.

Alan < Alani < Alauni / Halani < Karani / Karauni < K(a)ur-an

                         > Arani > Arain> Arian > Airan > Iran > Iron > «Irão».

Ashki > Ashwi > Ashi> Asi > As ó Aush > Osh > Os,

É pouco provável que estas tribos resultassem de etnias autóctones, mais precisamente do suposto ninho de arianos e indo-europeus que seria o Cáucaso, mas seria antes um local estratégico onde nómadas de toda a região da Euroásia Central se juntavam às portas das ricas e famosas civilizações do Crescente Fértil e mundo peri mediterrânico oriental. Nos alvores da história os supostos indo-europeus que invadiram a Europa seriam todos Alanos de vários subgrupos e muitos outros apenas ex-colonos mediterrânicos da periferia e outros povos longínquos euro-asiáticos. Flábio Josefo, que nessa altura conheceria melhor que nós os usos e costumes destas gentes, dizia que eles eram citas o que tanto pode ser um mero reducionismo como um facto mas o que por ora nos interessa é a origem do seu tão misterioso quanto mítico nome. Ora a primeira aproximação é que este seria de origem suméria porque na verdade identifica o nome do deus dos exércitos Kur-an, o senhor do Kur, queera também o senhor dos povos para além das montanhas que separavam o paraíso sumério dos tenebrosos reinos boreais. Kur era o filho de Ki, ou seja, Ashki o que fez com que uma das denominações destes povos alanos significasse literalmente os filhos…da grande tribo alana.

Em Hesíodo o nome comum do povo grego era Hellen;

Tácito, dá-nos uma visão das origens germânicas. O pai dos alemães, Mannus, era o filho do deus telúrico Tuisto.

No Ciclo Mitológico Irlandês Míle Espáine (em latim, Miles Hispaniae, "Soldado da Hispânia"; posteriormente pseudo-latinizado como Milesius; também Miled) foi o ancestral dos habitantes da Irlanda, os "Filhos de Mil" ou Milesianos, que representam os celtas Gaélicos. Os estudiosos modernos acreditam que a Lenda dos Milesianos é uma invenção dos escritores cristãos medievais inspirados nos sete livros da História contra os pagãos, escrito por volta do Século V pelo clérigo gaélico, Paulo Orósio.

Nos alvores da história os indo-europeus que invadiram a Europa eram todos Alanos de vários sub-grupos. Os Alanos propriamente ditos, de que os Helenos[2] antigos foram a primeira expressão, os *Mil-, os *Kar-, os *Sac- e os *Cit- . Mas, qual seria o significado deste étimos que correspondiam quiça a animais totémicos secundários?




*Elen-   à
*Sac- = totem, animal sagrado.

*Mil- => milites > milícia.

*Man- =  mana > munus = poder anímico.

*Kar- = animal totémico de transporte das almas = animal doméstico > caro > amigo.

*Mil- seria um epónimo dos Alanos em guerra e/ou em expansão militar. Obviamente que sendo duvidosa a antiguidade deste nome, que teria sido inventada por clérigos medievais, nos fica a dúvida sobre a sua veracidade gaélcia. No entanto perguntar-se-ia por que razão teriam inventado estes clérigos precisamente este nome pagão se pretendia lutar com ele contra o paganismo? Na verdade a latinização para Milesianus a partir do latinismo Miles Hispaniae no suposto que o gaélico Míle Espáine significaria em latim soldado espanhol é que aprece uma invenção porque mais não seria do que Mile, o espanhol, no pressuposto de que a primeira vaga de emigrantes egeus, que depois foram para a Irlanda, teriam feito assentamento antes em Espanha.

Mileto, na mitologia grega, era um cretense, fundador da cidade caria de Mileto e que era filho de Apolo e Aria, filha de Cleochus.

Os mirmidões ou mirmídones foram um dos lendários povos tessálicos que acompanharam Aquiles à Guerra de Troia. O seu nome deriva do grego myrmex que significa formiga.

Ora nem mais, o étimo Mil- em Mileto, cidade supostamente fundada na Anatólia por um emigrado cretense e em mirmidões que foram um povo tessálico presente na guerra de Tróia e que não terão derivado nome das formigas porque estas o terão derivado na forma do grego myrmex de *Mur-mesh, um deus virtual aparentado com Her-mes.

Mur- > Mir ó Mel > Mil seria a assíria Mili-tia que como Marta ou Maria seria uma variante marítima da deusa mãe *Kar-Tea, *Ker-tu ou Kurija, o que nos deixa a suspeita de que o nome de Mel-Kar-tu seria uma redundância dos dois nomes da mesma deusa das cobras cretenses onde foi Tea / Gea a grande Titânide que deu nome de Deus e aos dias latinos…e Mili-tia, a Quimeraque deu nome hê-méres aos dias em grego.

*Man- dos povos germânicos não é mais do que a manifestação a nível socio-político do mana encontrado pelos antropólogos na Polinésia, enquanto poder sagrado equivalente do munus latino herdado dos minóicos. Por mais estranho que pareça estes termos tão aparentados quanto remotos recebem a sua significância do poder fertilizador do deus Min no Egípcio, do teocrático Minos cretense rei e dos infernos do Kur e pai do Minotauro, e do estranho deus anatólico Men aparentados com os cultos minóicos do Minotauro.

*Sac- é étimo do nome que os citas davam a si mesmos e cit-, por ser elementar, deve ser significante e do mesmo teor. Este étimo é quase seguramente uma contracção de Sakur o deus saturnino de Creta.

*Kar- é étimo que os povos arcaicos dariam ao deus Karnos da carne animal e estaria obviamente relacionado com o deus dos infernos do Kur.

Ver: MANA (***) & Ver: CITAS (***)

Como se pode concluir, os diversos povos indo-europeus eram de facto todos aparentados em torno dum tronco comum com os Alanos e do qual divergiram muito pouco. Parece mesmo que Sacas, Citas e Ale(phi)anos seriam variantes intermotáveis do mesmo conceito mítico.

Se forem seguras estas inferências (e nem todas o serão seguramente) a cultura indo-europeia teve origem no centro da Europeia a partir da zona de influência das antigas tribos dos Alanos de que os Citas foram uma das emergências locais. Por terem sido os indo-arianos os primeiros a aparecerem na história é possível que o nome de Árias que a si mesmos se davam seja de respeitar. Se Árias e Alanos são parentes do mesmo nome é bem possível que correspondam a uma civilização comum centro-europeia com pré-história neolítica conhecida desde o V milénio antes de Cristo com características civilizacionais muito parecidas às dos antigos Citas. A localização geográfica junto ao mar negro permite entender a forte e precoce influência que a civilização Suméria teve neste centro de gestação indo-europeia. Dito deste modo, os Alanos / Árias foram o centro germinativo da Europa.

Será por mero acaso que o nome dos principais povos indo-europeus ande ligado ao do Alanos? Poderá então a origem etimológica do nome dos Alanos estar relacionado com uma realidade exterior à chamada cultura indo-europeia por intermédio da língua Suméria?

Uma análise sobre a terminologia dos animais domésticos entre os indo-europeus, que se desenvolve noutra parte deste estudo, permite verificar que *Elen- significava «veado» entre os povos indo-europeus conforme o referido por Pierre Lévêque[3]

(…) regularidade do vocabulário, oposta à sua diversidade desde que se trate de animais selvagens, domínio em que os tabus linguísticos foram poderosos: por exemplo, o nome do «veado» era, pelo menos numa parte do indo-europeu, *elen- (gr. élaphos); foi substituído muitas vezes por epítetos que significam em geral «o cornudo», saídos de raízes varias, ou numa mesma raiz, de formações diferentes: lat. cervus, al. Hirsch; fenómenos idênticos afectam os nomes do urso, do lobo, da águia…

Em indo-europeu *Elen- = «Veado»

<= El-An = «Altíssimo Deus»em linguagem caldeia.

Alanos <*Elen- > Alen + (Dis (Pater), deus da morte e da dispersão e antepassado dos celtas gauleses) = landes (planície) = Veados dispersos (pelas tundras planas).

«Manada de veados» = *Elen-ya > Alenya > Ar(en)ya > Arya > «ária» de pastoreio e de liberdade.

Por outro lado quem tinha gado tinha pecúlio para comprar e manter a liberdade por isso, «Aire» era um homem livre no Eire, a Irlanda gaélica.

“Aire” = homem livre do Eire/Irlanda gaélica.

Serão coincidências a mais para serem verdadeiras pelo que a reserva será inevitável!

The Phoenicians renamed the letter aleph (“ox”), from a fancied resemblance to the head and horns of that animal. In the earliest Greek alphabet, aleph became the letter alpha[4]

Claro que poderá ser considerado ofensivo para os nazi-fachistas chamar aos arianos nórdicos uma manada de veados (que foi o que eles foram sob a batuta tresloucada de Hitler) mas, estas ironias da história são possíveis em virtude da ambivalência semântica inerente a termos carregado de afectos ambivalente como são os que se referem à família e ao povo! De facto, se *elen- (gr. élaphos) é étimo de veado no hipotético falar indo-europeu, então os prolíficos Alanos foram outrora «veados» também e assim cai por terra a mascara do mito dos super machos homofóbicos arianos e veados foram também os gregos da Hélade, ou seja, todos povos de origem boreal.

clip_image004[1]

Figura 2: Os citas no centro genésico dos povos indo-europeus!

Mas obviamente que a história dos indo europeus não começou com as invasões bárbaras do sec. IV depois de Cristo nem com os micénicos pós minóicos porque, ambos os povos, serão meras variantes desta dinâmica que se gerava em torno das fronteiras caucasianas entre os povos que se movimentavam a norte, desde que o homem sapiens saiu do corno de Africa, e os povos que continuavam a emergir do velho continente. De facto a história tem-nos demonstrado que a civilização não depende de raças nem de etnias mas apenas de oportunidades históricas e geo-estratégicas particulares. Ora nos alvores da história escrita as oportunidades civilizacionais estavam todas na zona do crescente fértil e do mar Egeu que porque eram férteis quer porque estavam relativamente protegidas por condições geográficas. Assim é pouco provável que as línguas indo europeias sejam uma singularidade e originalidade ariana mas que sejam sobretudo o produto de uma elaboração crioula elaborada nas proximidades dos grandes impérios semitas asiáticos se é que grande parte desta originalidade não resultaria de refugiados e colonos da catástrofe e destruição da civilização cretense sabendo-se também que a similitudes linguística entre as línguas egeias e caldeias seria grande porque o cretense teria sido a língua franca da civilização neolítica até a confusão das línguas com a destruição mítica da Atlântica que mais não terá sido do que uma metáfora da destruição da civilização minóica durante a explosão do vulcão de Santarini na ilha de Tera.

«Alce» < Lat. Alces, i < Baixo alemão Elk, Elch

> Norueg. Elg > sueco älg.

O «alce» é um animal típico das regiões circumpolares. Na Europa, ocorre essencialmente na Finlândia, na Suécia e na Noruega. Isso não significa que os veados dos alanos fossem apenas os alces porque nos tempos primitivos possivelmente todos os cervídeos teriam esta mesma designação que em gregos era ἔλαφος mas também δορκάς / dorkas ou seja, supostamente o cervo ou veado seria assim chamado pelos seus “grandes olhos brilhantes” mas suspeita-se que tal como o “alfa” derivava do “alef” fenício que era o nome do touro que a confusão do veado com o touro também tenha acontecido com dorkas porque esta é literalmente uma traurica.


clip_image006[1]
clip_image008[1]
Figura 3:Ornamento «terminal» de bronze dos túmulos reais de Alaka Hüyük, possível elemento cimeiro de um «estandarte» fálico ou de um dossel.
Figura 4:Ornamento também dos túmulos reais de Alaka Hüyük com funções presumivelmente idênticas ao anterior. Notar que na trindade totémica divina o veado aparece como deus supremo entre dois bovídeos que serão os futuros animais totémicos.

Grego moderno ελάφι < Greg. Antig. ἐλάφιον (???) ἐλαφίνης (eláphinis) ou ἐλλός / ellós (jovem veado) < diminutivo de ἔλαφος < Proto-Hellenic *éləpʰos< < Proto-Indo-European *hélḱis, * hólḱis (alce)> Elk < inglês médio *alk < inglês antigo elch, eol, eolh < Proto-Germanico *elhaz, * algiz ó Baixo alemão Elk, Elch

ó łoś, Russian лось (los’), sânscrito ऋष्य ṛśya (antílope) variante de Proto-Indo-European * helhün ó Alemão Elen, Tocharo yäl / ylem (gazelle), lituano elenis (veado), Armenian եղնիկ ełnik (corço).

Aleph, Álef ou Álefe א, é a primeira letra de vários alfabetos semíticos, assim como o ʾalif do alfabeto árabe e o ʾaleph Phoenician aleph.png do alfabeto fenício.


A origem do nome aleph é o desenho de um touro chamado aluf em hebraico antigo. Porém, o mais estranho ainda é constatar que o nome que os gregos davam ao «veado» significava «boi» em fenício o que nos coloca a questão de saber se foram os gregos que receberam o termo dos indo-europeus e estes dos fenícios ou a inversa. O mais provável seria pensar queElen- foi um dos nomes do deus supremo ou pelo menos o epíteto do seu animal totémico como seguramente o touro foi para os povos semitas e cretenses.

Esta última hipótese parece ser a mais plausível embora com a reserva de que o uso de chamarElen- como animal totémico tenha sido mais comum na Anatólia onde o «veado» foi maioritariamente representado, pelo menos nos Túmulos Reais de Alaca Huyuk do período do Bronze Antigo II do império hitita. Dito de outro modo, a referência ao veado como animal totémico parece ser um rasto de suposta ascendência indo-europeia que tem como explicação mais prosaica a ligação dos antigos povos centro europeus com o xamanismo lapónico ligado à economia animal do pastoreio ou caça acompanhada das manadas de renas.

A presença deste rasto não se fica pela homenagem do alfabeto ao «veado»enquanto deus supremo dos indo-europeus, alias incompleta e indirecta visto ser na figura dum bezerro fenício que o fonema *aleph significa o que nos reporta para um deus muito mais arcaico, o ofídio *El-phi-anu ou deus pássaro Alcião.

Alcíone (do grego Ἁλκυόνη) era filha de Éolo e neta de Heleno. Era casada com Ceixo, filho de Eósforo.

Segundo um mito de quase segura origem órfica, por nele se referir Morfeu, Ceixo foi para a cidade de Claros na Jónia para consultar um oráculo, mas seu barco naufragou e ele afogou-se. Conhecendo a morte de seu marido por Morfeu, Alcíone praticou catapuntismo lançando-se ao mar Egeu. Por compaixão Zeus transformou o casal em alciões.

Por isso é que, de acordo com outras lendas, o pássaro alcíão faz seu ninho sobre a água e encanta os ventos e as ondas de maneira que os mares ficam anormalmente calmos durante sua nidificação, nos 14 dias que precedem o solstício de Inverno, de 14 a 27 de Dezembro. Zeus, por piedade, acalma o mar para que os pássaros possam chocar seus ovos. Esses dias de calmaria excepcional são chamados de “dias de Alcíone” (Ἁλκυονίδες ἡμέρες, halkyonídes hêméres em grego, “dias das halciónides”), expressão usada metaforicamente para períodos de tranquilidade, prosperidade e alegria.

Alcíone < Greg. Halky-one (Ἁλκυόνη) < Halkis < Karkish ó Kurija.

Como se pode suspeitar pela análise etimológica a deusa Alcione poderia ser nem mais nem menos do que a arcaica deusa mãe das cobras cretenses, *Kertu / Kurija casado com o titão Ceixo que noutros mitos se diz ser ele o próprio Zeus e que Alcíone era Hera, que como sabemos era de facto a variante olímpica de Kurija; Seria por causa dessa blasfémia que Zeus os puniu transformando-os em aves: Alcíone no pássaro guarda-rios e Ceixo num Alcatroz (Ganso-patola) ou num albatroz.

«Alcatroz» ó «albatroz» < Halwa-Tarus < Hal-Ka-Taur.

Na verdade, o nome de Ceixo aproxima-se na sua etimologia de Zeus.

Ceixo < Ceix < Ceyx < Κήϋξ = Kēüx > Zeus.

clip_image010[1]

Figura 5: Um belíssimo Alcião ou pássaro guarda-rios, uma espécie cada vez mais rara, dando um mergulho para capturar um peixe.

Por outro lado Ceixo foi transformado num pássaro aquático que etimologicamente é *Hal-Ka-Tauro, uma mistura estranha de «alce» e de «touro» já muito mais próximo da realidade subjacente ao «alfa» grego e ao «alef» fenício, como veremos adiante. Outro aspecto interessante é que Alcione era de Heleno que já demonstramos estar no trilho da etimologia do «alce».

Fosse como fosse, o pássaro alcião tornou-se num símbolo de bonança e felicidade que é preciso aproveitar depressa, pois é breve…como é o amor que segundo a tradição órfica era um deus da luz primordial como Fanes que bem poderia ter tido a variante *El-Fanes, o Senhor da luz precisamente por ser casado com Eosforo ou Éter, a luz eterna.

O primeiro Alcião é um gigante, filho do Céu e da Terra. Desempenhou papel importante na revolta dos gigantes contra os deuses do Monte Olimpo. Por ordem de Zeus (Júpiter para os romanos), Heracles (Hércules para os romanos) tentou matá-lo.

Sendo assim o autêntico Alcião era um deus titânico muito antigo já da época minóica que muito possivelmente estaria relacionado com o amor porque aparece em Delfos relacionado com uma prova de amor sem reservas.

O outro Alcião era um belo jovem de Delfos, escolhido para servir de alimento a Lâmia (foto), monstro que afligia a região. A caminho do sacrifício, encontrou o jovem Euríbato, que, tomado de amor por ele, se ofereceu para morrer em seu lugar. Em vez disso, conseguiu matar o monstro, quebrando a sua cabeça. No lugar de Lâmia, brotou uma fonte que tomou o nome de Síbaris, o outro nome do monstro.

«Alcião» < Alcion < El-ki-an < Ur + | Ki-An > Phian> Fanes |

                                                > *Elfian > ἐλαφίνης (eláphinis).

A fonte termal (lamas < Lâmia) dos prazeres sibaritas (Síbaris) seria o resultado desta paixão de Euribato por Alcião.

Hieroglifo
Proto-Sinaitico
Fenício
Paleo-Hebreu
clip_image002 >
clip_image004[3] >
clip_image006 >
clip_image008[3]

Alfa grego.
A Latino.
A Cirílico.

A, a >
A
A

Alif árabe < Alef hebraico (א)< Aramaic Ālap <Aleph fenício > Alfa grega Alfa (A, α) > A do alfabeto latino e cirílico.


Como sabemos de outros lados como a respeito de Dioníso e as Padorcas o «deus menino» Delfino do amor seria Alcião e também Fanes, o deus do amor primordial, tal como foi Dionísio na forma de touro em Creta e «alce» nas estepes caucasianas.


clip_image020[1]
De facto os hititas, possivelmente citas emigrados antes do 1º milénios para a Anatólia a. C. mantiveram a reminiscência do aspecto do seu animal totémico na forma da mitra dos seus deuses. Nesta, os cornos complexos dos veados usados em combates de acasalamento aparecem sugestivamente como as cobras entrelaçadas do caduceu. Os helenos tendo aprendido a ler com os fenícios e não tendo o boi para colocar no lugar do deus supremo colocaram o seu deus veado que seria o primitivo Alcião antes de ter passado a pássaro.

Figura 6: Teshup em Vazilikaiya.






[1] The Alans or Alani (occasionally but more rarely termed Alauni or Halani) were an Iranian nomadic group among the Sarmatian people, warlike nomadic pastoralists of varied backgrounds, who spoke an Iranian language and to a large extent shared a common culture.

[2] A Helena de Tróia aparece no mito mais para enfeite do que por motivos históricos. Na verdade, se não é para enfeite é pelos mesmos por motivos ideológicos da maçã de Eva ou seja atribuir de forma mítica a razão de todos os males dos homens às mulheres! A verdadeira Helena pode ter sido a gente alana pelo que a guerra de Tróia foi uma guerra civil e fratricida entre alanos!

[3] Pierre Lévêque, no seu livro AS PRIMEIRAS CIVLIZAÇÕES volume III–OS INDOEUROPEUS E OS SEMITAS, pag.33

[4] "A," Microsoft® Encarta® 97 Encyclopedia. © 1993-1996 Microsoft Corporation. All rights reserved.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

O DECESSO DE INANA AOS INFERNOS DO KUR, por Artur Felisberto.


O DECESSO DE INANA AOS INFERNOS DO KUR, o mais belo poema caldeu traduzido de várias fontes em língua inglesa devidamente adaptadas.


 clip_image002[6]

Figura 1: Erechkigal, a Rainha da Noite.

Do "Grande Superior" ela pôs-se à escuta do "Grande Inferior".
Do "Grande Superior" a deusa pôs-se à escuta do "Grande Inferior".
Do "Grande Superior" Inana pôs-se à escuta do Grande Inferior".
A minha senhora abandonou o vasto Céu, abandonou a vasta Terra,
E desceu ao mundo inferior,
Inana abandonou o vasto Céu, abandonou a vasta Terra,
E ao mundo dos infernos ela desceu,
Abandonou o poder de rei, abandonou o poder de rainha,
Ao reino dos mortos ela desceu.

Ela abandonou os aposentos de En,
Ela abandonou os aposentos de Lagar e desceu aos Infernos.
Ela abandonou o E-ana em Unug, e desceu aos Infernos.
Ela abandonou o E-muc-kalama em Bad-tibira e desceu aos Infernos.
Ela abandonou o Giguna em Zabalam e desceu aos Infernos.
Ela abandonou o E-cara em Adab e desceu aos Infernos.
Ela abandonou o Barag-dur-jara em Nibru e desceu aos Infernos.
Ela abandonou o Hursaj-kalama em Kic e desceu aos Infernos.
Ela abandonou o E- Ulmac em Agade, e desceu aos Infernos.
Ela abandonou o Ibgal em Umma e desceu aos Infernos.
Ela abandonou o E- Dilmuna em Urim e desceu aos Infernos.
Ela abandonou o Amac-e-kug em Kisiga e desceu aos Infernos.
Ela abandonou o E-ecdam-kug em Jirsu e desceu aos Infernos.
Ela abandonou o E-sig-mece-du em Isin e desceu aos Infernos.
Ela abandonou o Anzagar em Akcak e desceu aos Infernos.
Ela abandonou o Nijin-jar-kug em Curuppag e desceu aos Infernos.
Ela abandonou o E-cag-hula em Kazallu e desceu aos Infernos.

Ela reuniu os sete mês das leis divinas.
Ela tomou-os em suas mãos.
Com os mês das leis divinas a seus pés, ela se preparou.
Ela colocou a shugurra, a coroa da estepe, em sua cabeça.
Ela arranjou os anéis escuros do cabelo em sua testa.
Pequenas pedras de lápis-lazúli ela pôs ao pescoço,
Deixou o fio duplo de contas cair no peito,
Ela pintou os olhos com a pomada "Deixai-o vir, Deixai-o vir".
Atou ao peito o corpete "Vem, homem, vem cá!"
E envolveu o seu corpo no manto pala de rainha.
Duas pedras nunuz gémeas ela colocou ao peito,
Colocou uma pulseira de ouro no pulso,
E apanhou a vara métrica de lapis-lazuli
E o rolo de cordel de medição.

Inana caminhou para os Infernos do mundo inferior,
O seu vizir Ninshubur seguia a seu lado,
A pura Inana disse a Ninshubur:
"Tu és o meu apoio constante,

clip_image004[6]

Figura 2: Ninshubur & Inana.

Venha meu fiel vizir de E-Ana
Meu ministro de palavras justas
Minha escolta de palavras favoráveis,
Eu estou descendo ao mundo dos infernos.
Eu vou-te dar instruções muito claras:
Minhas instruções devem ser seguidas,
Vou-te dizer algo que deve ser cumprido:
Quando eu estiver a chegar ao mundo dos infernos,
Solta lamentações por mim, como nas ruínas,
Bate o tambor para mim nos santuários.
Faz a roda das casas dos deuses por mim.
"Macera os teus olhos para mim,
Lacera o nariz para mim.
Flagela as tuas orelhas para mim, em público
Em privado, fustiga as tuas nádegas para mim.
Como um pedinte, um traje pobre veste por mim.
Para o Ekur, a casa de Enlil, dirige sozinho, os teus passos.
Ao entrares no Ekur, a casa de Enlil,
Chora perante Enlil:
"Ó pai Enlil,
Que a tua filha não seja ferida de morte no mundo inferior,
Que o teu bom metal não se cubra da poeira do mundo inferior,
Que o teu bom lápis-lazúli não seja quebrado dentro da pedra do canteiro,
Que a caixa de madeira não seja entalhada dentro da madeira do lenhador,
Que a donzela Inana não seja condenada à morte no mundo inferior".

clip_image005[6]

Figura 3: Inana / Istar dando instruções a Ninshubur, junto da árvore da vida, antes de parir para os infernos do Kur.

Se Enlil se não puser do teu lado, segue para Ur.
Em Ur, ao entrares em casa, da terra,
O Ekishnugal, a casa de Nanna,
Chora perante Nanna:
"Ó pai Nanna,
Que a tua filha não seja ferida de morte no mundo inferior,
Que o tem bom metal não se cubra da poeira do mundo inferior,
Que o teu bom lápis-lazúli não seja quebrado dentro da pedra do canteiro,
Que a caixa de madeira não seja entalhada dentro da madeira do lenhador,
Que a donzela Inana não seja condenada à morte no mundo inferior".
Se Nanna não se puser do teu lado, segue para Eridu.
Em Eridu, ao entrares em casa de Enki,
Chora perante Enki:
"Ó pai Enki,
Que a tua filha não seja ferida de morte no mundo inferior,
Que o tem bom metal não se cubra da poeira do mundo inferior,
Que o teu bom lápis-lazúli não seja quebrado dentro da pedra do canteiro,
Que a caixa de madeira não seja entalhada dentro da madeira do lenhador,
Que a donzela Inana não seja condenada à morte no mundo inferior".
O pai Enki, senhor da sabedoria,
Que conhece o "alimento da vida",
Que conhece a "água da vida",
Certamente não me deixará morrer.
Inana desceu ao mundo inferior,
Ao seu mensageiro Ninshubur ela diz:
"Vai, Ninshubur,
Não esqueças as ordens que te dei".

Quando Inana chegou ao palácio, à montanha de lápis-lazúli,
À porta do mundo inferior, ela agiu temerariamente,
No palácio do mundo dos infernos falou temerariamente:
"Abre a casa, Neti, abre a casa, eu, sozinha, quero entrar".
Neti, o porteiro principal dos infernos,
Responde à santa Inana:
"Diz-me, por favor, quem és!"
"Eu sou a rainha do Céu, o sítio onde nasce o Sol".
"Se você é Inana que vai para o Leste,
Diz-me porque vieste à terra donde nunca se retorna,
À estrada cujo viajante não regressa,
Porque te conduziu aqui o teu coração?"

A santa Inana respondeu-lhe:
"Porque o Touro do Céu, o marido da minha irmã mais velha,
A santa Erech-kigala, O senhor Gud-gal-ana, foi assassinado,
Cheguei para participar no seu velório com ritos funerários;
Oferecer-lhe generosas libações em copos de cerveja.
Esta é a razão."

Neti falou: "Fique aqui, Inanna, vou falar com a minha rainha.
Vou-lhe dar a sua mensagem."
Neti, o porteiro principal do mundo inferior,
Entrou em casa da sua rainha Erech-kigala e diz-lhe:
"Minha querida rainha, uma donzela,
Tão alta como o céu, tão larga quanto a terra,
Tão forte quanto os alicerces das muralha da cidade,
Espera lá fora sozinha aos portões do palácio.
Inana, sua irmã, chegou ao palácio Ganzer.
Ela bateu agressivamente à porta do Inferno.
Ela gritou agressivamente aos portões dos infernos.
Ela abandonou E-Ana e desceu aos infernos do Kur.
Ela reuniu os sete mês das leis divinas.
Ela tomou-as em suas mãos.
Com os mês das leis divinas a seus pés, ela se preparou.
Ela colocou a shugurra, a coroa da estepe, em sua cabeça.
Ela arranjou os anéis escuros do cabelo em sua testa.
Pequenas pedras de lápis-lazúli ela pôs ao pescoço,
Deixou o fio duplo de contas cair no peito,
Ela pintou os olhos com a pomada "Deixai-o vir, Deixai-o vir".
Atou ao peito o corpete "Vem, homem, vem cá!"
E envolveu o seu corpo no manto pala de rainha.
Duas pedras nunuz gémeas ela colocou ao peito,
Colocou uma pulseira de ouro no pulso,
E apanhou a vara métrica de lapis-lazuli
E o rolo de cordel de medição.

Então Erech-kigala beliscou os bordos das coxas,
E mordeu os lábios pois estava cheia de raiva em seu coração.
E disse a Neti, o seu porteiro principal:
"Vem, Neti, porteiro principal dos infernos do Kur.
Não esqueças as ordens que eu te der.
Levanta os ferrolhos das sete portas dos infernos do Kur,
E deixe depois que cada porta do palácio Ganzer
seja aberta separadamente.
Quando ela entrar,
Subjuga-a e que seja trazida nua à minha presença".

Neti, o porteiro principal do mundo inferior,
Escutou as palavras da sua rainha.
Levantou os ferrolhos das sete portas do mundo inferior,
Do seu único palácio, Ganzer, o "rosto" do mundo inferior,
Ele abriu cada um das portas separadamente.
Ele disse à santa Inana: "Venha, Inana e entre".
E a shugurra, a "coroa da estepe", da sua cabeça foi retirada,
"Por favor, que é isto?"
"Cale-se, Inana, as leis do mundo inferior são perfeitas,
Ó Inana, não despreze os ritos do mundo inferior".

Quando ela entrou na segunda porta,
O rodízio e o fio de medir de lápis-lazúli foram-lhe retirados.
"Por favor, que é isto?"
"Cale-se, Inana, as leis do mundo inferior são perfeitas,
Ó Inana, não despreze os ritos do mundo inferior".

Quando ela entrou na terceira porta,
As pequenas pedras de lápis-lazúli foram retiradas do seu pescoço.
"Por favor, que é isto?"
"Cale-se, Inana, as leis do mundo inferior são perfeitas,
Ó Inana, não despreze os ritos do mundo inferior".

Quando ela entrou na quarta porta,
As pedras gémeas de nunuz foram retiradas do seu peito.
"Por favor, que é isto?"
"Cale-se, Inana, as leis do mundo inferior são perfeitas,
Ó Inana, não despreze os ritos do mundo inferior".

Quando ela entrou na quinta porta,
A pulseira de ouro foi-lhe retirada da mão.
"Por favor, que é isto?"
"Cale-se, Inana, as leis do mundo inferior são perfeitas,
Ó Inana, não despreze os ritos do mundo inferior".
Quando ela entrou na sexta porta,
O peitoral "Vem, homem, vem cá", foi-lhe retirado do peito.
"Por favor, que é isto?"
"Cale-se, Inana, as leis do mundo inferior são perfeitas,
Ó Inana, não despreze os ritos do mundo inferior".

Quando ela entrou na sétima porta,
O manto pala da realeza foi-lhe retirado do corpo.
"Por favor, que é isto?"
"Cale-se, Inana, as leis do mundo inferior são perfeitas,
Ó Inana, não despreze os ritos do mundo inferior".

clip_image007[6]

Figura 4: Inana sendo despida à ordem de Erechkigal no reino dos infernos.
  Nua e agachada, Inana entrou na sala do trono.
Ereshkigal ergueu-se do seu trono.
Inana avançou então em direcção ao trono,
Mas os Annuna, os juízes dos infernos, cercaram-na.
E Eles julgaram contra ela.
Ereshkigal pregou em Inanna os olhos da morte.
E então falou contra ela as palavras de ira.
Proferiu contra ela um grito de culpa,
E de mulher aflita logo passou a cadáver,
E como um pedaço de carne podre
Foi pendurada num gancho da parede.

Depois de terem passado três dias e três noites,
Ninshubur, o seu fiel vizir de E-Ana
Seu ministro de palavras justas
Sua escolta de palavras favoráveis,
Soltou uma lamentação por ela, como se faz nas ruínas,
Tocou por ela o tambor nos santuários,
Fez rondas por ela na casa dos deuses,
Macerou os olhos, lacerou o nariz.
Em particular, flagelou as nádegas por ela.
Como indigente vestiu-se com uma única peça de roupa
E, sozinho, pôs os pés a caminho do E-kur, a casa de Enlil.

Ao entrar no Ekur, a casa de Enlil,
Perante Enlil ele chora: "Ó pai Enlil,
Não deixe que alguém mate a sua filha nos infernos,
Não deixe que o seu bom metal se cubra com a poeira dos infernos,
Não deixe que o seu bom lápis-lazúli seja quebrado como a pedra do canteiro,
Não deixe que a caixa de madeira seja serrada como a madeira do lenhador,
Não deixe que a donzela Inana seja morta nos infernos".

Em sua ira, o pai Enlil respondeu a Nincubura:
"A Minha filha Inana ansiava o grande céu
e ela ambicionava também o grande em abaixo.
Os mês dos infernos são poderes que se desejem
Pois quem os recebe deve permanecer nos infernos.
Quem, chegando a esse lugar, poderia esperar voltar a aparecer?

Como o pai Enlil não se pôs a seu lado, dirigiu-se a Ur.
Em Ur, ao entrar na casa da Terra,
O Ekishnugal, a casa de Nanna,
Perante Nanna ele chora: “Pai Nana,
Não deixe que alguém mate a sua filha nos infernos,
Não deixe que o seu bom metal se cubra com a poeira dos infernos,
Não deixe que o seu bom lápis-lazúli seja quebrado como a pedra do canteiro,
Não deixe que a caixa de madeira seja serrada como a madeira do lenhador,
Não deixe que a donzela Inana seja morta nos infernos".

Em sua fúria, o pai Nanna respondeu a Nincubura:
"A Minha filha Inana ansiava o grande céu
E ela ambicionava também o grande em abaixo.
Os mês dos infernos não são poderes que se desejem
Pois quem os recebe deve permanecer nos infernos.
Quem, desaparecido nesse lugar poderia esperar voltar a aparecer?

Como o pai Nanna não se pôs a seu lado, partiu para Eridu.
Em Eridu, ao entrar na casa de Enki,
Perante Enki ele chora: "Ó pai Enki,
Não deixe que alguém mate a sua filha nos infernos,
Não deixe que o seu bom metal se cubra com a poeira dos infernos,
Não deixe que o seu bom lápis-lazúli seja quebrado como a pedra do canteiro,
Não deixe que a caixa de madeira seja serrada como a madeira do lenhador,
Não deixe que a donzela Inana seja morta nos infernos".

O pai Enki responde a Ninshubur:
"O que aconteceu então a minha filha? Estou inquieto.
O que aconteceu então a Inana? Estou inquieto.
O que aconteceu então à rainha de todas as terras? Estou inquieto.
O que aconteceu então à hieródula do Céu? Estou inquieto".
Ele tirou surro da uma unha e moldou o kurgarru.
Ele tirou surro de outra unha pintada de vermelho e moldou o kalaturru
Ao kurgarru deu o "alimento da vida",
Ao kalaturru deu a "água da vida",

Então o pai Enki falou para o gala-tura e o kur-jara:
"Um de vocês polvilhe a folha da árvore da vida sobre ela
E o outro a água da vida eterna.
Vão e dirijam vossos passos para o Sub-mundo.
Voem pelas portas como as moscas.
Deslizem pelos trincos das portas como fantasmas.
"Ereshkigal, a Rainha dos Infernos, estará lá gemendo
Com os gritos de uma mulher em trabalho de parto.
E nenhum linho lhe cobre o santo corpo.
Seus peitos não estão cheios como um navio de carga (cagan).
Suas unhas são duras e curvas como patas de ganso,
Seus cabelos, entrançados como braças de alho-porro.

"Quando ela gritar "Ai, ai, meu coração", vocês chorem também:
"Ai, ai, minha querida, muito dói o seu coração"!
Quando ela gemer "Ai, ai meu fígado", vocês devem gemer assim:
"Ai, ai minha querida, muito dói o seu fígado"!
Então a rainha ficará satisfeita e perguntará:
"Quem sois vós? Falando do meu coração ao vosso coração,
Do meu fígado ao vosso fígado
Se vós sois deuses, deixem-me falar convoco;
Se vós sois mortais, que um destino vos seja agora decretado.
"Então façam-na jurar isso mesmo pelo céu e pela Terra”.
Eles – os deuses dos infernos –
Oferecer-vos-ão a água do rio mas a aceitem,
Oferecer-vos-ão o grão do campo mas não o aceitem,
Digam antes a Ereshkigal:
"Dá-nos o corpo pendurado no gancho da parede".
Então logo um de vós que derrame sobre Inana o "alimento da vida",
O outro a "água da vida",
Então Inana erguer-se-á".

O gala-tura e o kur-jara prestaram atenção às instruções da Enki.
Eles voaram pelas portas dos infernos como moscas.
Eles deslizaram pelos trincos das portas como fantasmas.
Ereshkigal, a Rainha dos Infernos, estava gemendo
Com os gritos de uma mulher em trabalho de parto.
E nenhum linho lhe cobria o santo corpo.
Seus peitos não estavam cheios como um navio de carga (cagan).
Suas unhas eram duras e curvas como patas de ganso,
Seus cabelos, entrançados como braças de alho-porro.

Ereshkigal estava gemendo:
"Ai! Ai! A minha barriga!"
Eles gemem: "Oh! Oh, a sua barriga!"
Ela geme: "Ai! aiaiai! As minhas costas!"
Eles gemem: "Ai! aiaiai! As suas costas!"
"Quando ela gritou "Ai, ai, o meu coração", eles choram também:
"Ai, ai, minha querida, muito dói o seu coração"!
Quando ela gemeu"Ai, ai o meu fígado", eles gemeram assim:
"Ai, ai minha querida, muito dói o seu fígado"!
Então a rainha ficou satisfeita, parou e perguntou:
"Quem sois vós, falando do vosso coração ao meu coração,
Do vosso fígado ao nosso fígado?
Se vós sois deuses, deixai-me falar convoco;
Se vós sois mortais, que um destino vos seja agora decretado!
Eles a fizeram jurar isso mesmo pelo céu e pela terra.

O kurgarru e o kalaturru cumprem as ordens!
Oferecem-lhes a água do rio mas eles não a aceitam,
Oferecem-lhes o grão do campo mas eles não o aceitam,
"Dá-nos o corpo pendurado no gancho", dizem-lhe então.
E a santa Ereshkigal respondeu ao kalaturru e ao kurgarru:
"O corpo é o da vossa rainha".
Então, eles lhe disseram:
"Pertença à nossa rainha ou ao nosso rei,
É o que nós queremos por isso dai-nos esta corpo."
E deram-lhes o corpo pendurado no gancho,
Um derramou sobre ela o "alimento da vida",
O outro a "água da vida" e Inana ergueu-se.

Então Erec-ki-gala disse ao gala-tura e ao kur-jara:
"Tragam a vossa rainha (à minha presença),
O seu (corpo) foi apreendido".
Mas Inana, por causa das instruções de Enki,
Estava prestes a sair dos infernos.
Mas quando Inana estava prestes a subir dos infernos,
Os Anunnaki agarram-na dizendo:
"Todo aquele que tenha descido aos infernos
Jamais sairá impune do mundo inferior!
Se Inana sair dos infernos,
Tem que deixar alguém na vez dela".
Inana ascende do mundo inferior,
Os pequenos demónios como canas shukur,
Os grandes demónios como canas dubban,
Puseram-se ao lado dela.
O que estava na sua frente, apesar de não ser um vizir,
Segurava um ceptro na mão.
O que estava a seu lado, apesar de não ser escolta,
Tinha uma arma cingida à cintura.

Aqueles gala demónios que a acompanharam,
Aqueles gala demónios que acompanharam Inana,
Não conhecem comida, não conhecem nenhuma bebida,
Não comem oferendas de farinha, nem bebem nada de libação.
Eles não aceitam presentes agradáveis,
Eles nunca aproveitam os prazeres do abraço conjugal,
Nem têm filhos doces a quem beijar.
Eles arrancam a esposa do abraço de um homem.
Eles arrancam o filho do joelho de uma pessoa.
Eles fazem a noiva sair da casa de seu sogro
Roubavam a mulher do regaço do homem,
Roubavam a criança do seio da ama.
Eles não comem peixe, não comem alho-porro.
E eles foram acompanhados de Inana.

Depois que Inana subiu dos Infernos,
Nincubura se ajoelhou às portas do Ganzer.
Ele sentou-se no pó e vestiu-se com uma roupa imunda.
Os demónios disseram à santa Inana:
"Inana, vá para a sua cidade, que nós o levaremos de volta".

Santa Inana respondeu aos Galla demónios:
"Este é o meu ministro de palavras justas,
Minha escolta de palavras de confiança.
Ele não esqueceu as minhas instruções.
Ele não negligenciou as ordens que eu lhe dei.
Ele fez uma lamentação por mim nos montões de ruína.
Ele bateu o tambor para mim nos santuários.
Ele fez a rodada das casas dos deuses para mim.
Ele macerou seus olhos para mim, lacerou o nariz para mim.
Ele fustigou as orelhas em público por mim
E em particular vergastou as suas nádegas para mim.
Como um indigente, ele se vestiu com uma única peça de roupa.
Sempre sozinho dirigiu seus passos para o E-kur,
para a casa de Enlil, e para Urim, para a casa de Nanna
e para Eridug, para a casa de Enki.
Ele chorou diante de Enki.
Ele me trouxe de volta à vida.
Como poderia eu entregá-lo a você?
Vamos continuar.
Vamos para o Sig-kur-caga em Umma."

No Sig-kur-caga em Umma,
Kara, em sua própria cidade, jogou-se a seus pés.
Ele sentou-se na poeira e vestiu-se com uma roupa imunda.
Os Galla demónios disseram a Santa Inana:
"Inana, vá para a sua cidade, que nós vamos levá-lo de volta".
Santa Inana respondeu aos Galla demónios:
"Kara é minha cantora, minha manicura e minha cabeleireira.
Como eu poderia deixa-la ser levada para vós?
Adiante. Vamos para o E-muc-kalama em Bad-tibira".

No E-muc-kalama em Bad-tibira, Lulal,
Em sua própria cidade, jogou-se a seus pés.
Ele sentou-se na poeira e vestiu-se com uma roupa imunda.
Os galla demónios disseram a Santa Inana:
"Inana, vá para a sua cidade, que nós vamos levá-lo de volta".
Santo Inana respondeu aos galla demónios:
"Lulal é excepcional e segue-me sempre
À minha direita e à minha esquerda.
Como poderia eu entregá-lo a você?
Adiante. Vamos para a grande macieira na planície de Kulaba."

Eles a seguiram até a grande macieira na planície de Kulaba.
Ali estava Damuz vestido com roupas magníficas
E magnificamente sentado num trono.
Os demónios o pegaram pelos quadris.
Todos os sete derramaram o leite da batedeira de manteiga.
Os sete abanaram a cabeça como se ele estivesse doente
Eles não deixaram o pastor tocar flauta nem gaita diante deles.

Ela, a Santa Inana, fixou o olhar nele,
Era o olhar da morte,
E pronunciou contra ele a palavra fatal, a palavra da ira,
Soltou contra ele o grito, o clamor da culpa:
"Quanto a ele, levem-no"!

A Santa Inana entregou-lhes o pastor Damuz.
Os que o acompanhavam,
Os gala que acompanhavam Damuz,
Eles eram seres que não conheciam o alimento,
Que não conheciam a água,
Não comiam farinha espalhada,
Não bebiam água derramada,
Não se acolhiam com prazer no regaço da mulher,
Não beijavam crianças bem alimentadas,
Arrancavam o filho do homem de seus joelhos,
Levavam a enteada de casa do padrasto.

Os gala demónios agarraram Damuz.
Eles o fizeram levantar-se; Eles o fizeram sentar-se.
Eles venceram o marido de Inana.
Eles o ameaçaram com machados.
clip_image009[6]

Figura 5: Selo sumério que mostra o deus Dumuzid sendo torturado no submundo por demónios galla.

Damuz chorou, seu rosto tornou-se verde.
E oferecendo-lhe leite e queijo,
Para o Céu, para Utu, deus do Sol, ergueu as mãos:
"Ó Utu, tu és o irmão de minha mulher,
Eu sou o marido de tua irmã,
Eu sou aquele que traz a nata do leite a casa de tua mãe,
Eu sou aquele que traz o leite a casa de Ningal,
Transforma a minha mão numa serpente,
Transforma os meus pés nas patas dum dragão,
Que eu escape aos gala demónios,
Que eles não me apanhem".
Utu aceitou suas lágrimas.
Os galla demónios de Damuz não conseguiram segurá-lo.
Utu transformou as mãos de Damuz em serpentes.
Transformou-lhe os pés em patas de dragão.
Damuz escapou aos demónios.

E ele o transformou num bode do monte
Sua aparência transformou-se:
Ele circulou entre os cabritos,
Tratados como um deles e respeitados por eles!
Mas entrou em pânico
E deixou o seu vestido numa sarça;
E deixou cair em pânico o cinto no chão seco!
E em conjunto os demónios moveram as cabeças,
Enquanto os pequenos diziam aos grandes,
Cada um dizendo ao outro:

"Este rapazola nos escapou:
Ainda não foi desta que o apanhamos!
Este Dumuz nos escapou:
Ainda não foi desta que o apanhamos!
Palmilhemos as pastagens
Aqueles que as frequentam nos ajudarão
E havemos de o apanhar!
Palmilhemos os baldios
Aqueles que as frequentam nos ajudarão
E havemos de o apanhar!

Vamos atrás dum rebanho!
Eu (disse um) vou espantar
O cabrito chefe do seu amigo!
Vamos atrás dum rebanho!
Eu (disse um outro) vou afugentar
O touro de seu amigo!
Procuremos entre os carneiros de longa cauda!
Eu (disse um terceiro) vou afugentar
O pastor de seu amigo!
Vamos! Vamos correr para encontrá-lo.
Enquanto Dumuz, este touro auroque, criador de ovelhas,
Se deteve na casa de sua mãe
O fugitivo chegou
E caiu no regaço de sua mãe e progenitora, Sirtur.
Compassiva, lhe falou com ternura!
Chegado ao regaço de sua irmã,
Compassiva, lhe falou com ternura!
Mas, quando caiu no peito de Inana, sua esposa,
Ela desencadeou um terrível vendaval contra ele!
Este vendaval qual dilúvio de chuva
Caído do céu!
Quais rajadas de chuva que abalaram o chão!
As alvenarias de Uruk foram deslocadas:
Não ficando mais do que uma Uruk submersa!
Não muito longe da grande macieira
Da planície de Emush,
Foi lá que vendaval devastador
Arrojou sobre o jovem
Todas as águas do deserto!
Mesmo não sendo feito de creme de manteiga,
Foi derrubado como se fora creme de manteiga!
Mesmo que não fosse uma panela de barro,
Foi quebrado como uma panela de barro!
E mesmo que os gala demónios não fossem um poste de cerca,
Eles o cercaram por toda o lado.

“O SONHO DE DAMUZ”
Seu coração estava cheio de mágoas quando foi para a estepe.
O coração do pastor estava cheio de mágoas quando foi para a estepe.
O coração de Damuz estava cheio de mágoas quando foi para a estepe.
Damuz tropeçou nas estevas, chorando:
"Oh, estepe, prepara-te para mim!
Oh, caranguejos no rio, lamentem por mim!
Oh, rãs no rio, coaxem por mim!
Oh, minha mãe, Sirtur, chora por mim!
Se ela não encontrar os cinco pães,
Se ela não encontrar os dez pães,
Se ela não sabe o dia em que eu morrer,
Oh, estepe, diga a ela, diga a minha mãe.
Na estepe, minha mãe derramará lágrimas por mim.
Na estepe, minha irmãzinha vai-se enlutar por mim."

Ele se deitou para descansar.
O pastor se deitou para descansar.
Damuz deitou-se para descansar.
Enquanto ele se deitava entre os rebentos de junco,
Ele sonhou um sonho.
Ele acordou do seu sonho.
Ele tremia da sua visão.
Ele esfregou os olhos, aterrorizado.
Damuz gritou: "Tragam...
Tragam-na...tragam a minha irmã.
Tragam a minha Gesht-Inana, a minha irmãzinha
Minha secretária com conhecimento das tábuas das leis divinas,
Minha cantora que conhece muitas músicas,
Minha irmã que conhece o significado das palavras,
Minha mulher sábia que conhece o significado dos sonhos.
Devo falar com ela.
Devo contar-lhe o meu sonho."
Damuz falou com Gesht-Inana, dizendo:

"Um sonho! Minha irmã! Ouça o meu sonho:
Os Juncos levantam-se sobre mim; Os juncos crescem sobre mim.
Uma única cana em crescimento estremece para mim.
De uma cana de crescimento duplo, a primeira é removida e depois a outra.
Num bosque arborizado, um terror de árvores altas cresce sobe sobre mim.
É derramada água sobre o meu sagrado coração.
O fundo da minha batedeira de manteiga cai.
Meu copo de bebida caiu do seu suporte.
O criminoso de meu pastor desapareceu.
Uma águia de rapina leva um cordeiro do redil.
Um falcão agarra um pardal na cerca de junco.
Minha irmã, as suas cabras arrastam as barbas afiadas na poeira.
As suas ovelhas cortam a terra com os pés curvados.
A batedeira de manteiga fica em silêncio; nenhum leite é derramado.
A taça está quebrada; Damuz não está mais aqui.
O gado ficou ao deus dará".

Gesht-Inana falou:
"Meu irmão, não me diga seu sonho.
Damuz, não me diga um sonho tal que não lhe é favorável.
Os juncos que se levantam sobre si,
Os juncos que se engrossam sobre si,
São os demónios que o irão perseguir e atacar.
A única cana em crescimento que treme por si
É a nossa mãe? Ela vai chorar por si.
A cana de crescimento duplo,
Da qual a primeira é removida e depois a outra
Damuz, somos vós e eu! Primeiro um, depois o outro.
Ambos seremos retirados à vida.
No bosque arborizado, o terror de altas árvores
Que se elevam acima de si
São o gala demónios;
Eles vão descer sobre o seu redil.
Quando o fogo é colocado no seu sagrado coração,
O rebanho tornar-se-á numa casa desolada.
Quando o fundo da sua batedeira de manteiga cair,
Vós sereis levados pelos gala demónios.
Quando seu copo de bebida cair de seu suporte,
Vós ireis cair na terra, nos joelhos da nossa mãe.
Quando o criminoso do seu pastor desaparecer,
Os gala demónios farão com que tudo murche.
A águia que apreende um cordeiro no redil
É o gala demónio que lhe vai arranhar as faces.
O falcão que pega um pardal na cerca de junco
É o gala demónio que saltará a cerca para o levar.
Damuz, se as minhas cabras arrastam as barbas afiadas no pó,
Isso quer dizer que por vós meu cabelo girará como polvorinho.
Se minhas ovelhas raspam a terra com os pés curvados,
Oh Damuz, eu vou arranhar as minhas faces com muita dor por si.
A batedeira de manteiga fica em silêncio; nenhum leite é derramado.
Se taça está quebrada é porque Damuz já não vive.
O gado é dado ao deus dará."

Mal tinha falado estas palavras
Quando Damuz gritou:

"Minha irmã! Rapidamente, suba a colina!
Não vá com passos lentos e nobres.
Irmã corra! Os gala demónios,
odiados e temidos pelos homens, vêm de barco.
Eles carregam madeira para me amarrar as mãos;
Eles carregam madeira para me amarrar o pescoço.
Irmã corre!"
Gesht-Inana subiu a colina.
O amigo de Damuz foi com ela.
Damuz gritou: "Vós os vedes?"
O amigo chorou: "Eles estão vindo;
O grande gala demónio carrega a madeira para lhe amarrar o pescoço,
Eles estão vindo para cá."
Gesht-Inana chorou:
"Rapidamente, irmão!
Esconda sua cabeça na relva.
Seus demónios estão vindo atrás de si!"
Damuz disse:
"Minha irmã, não conte a ninguém o meu esconderijo.
Meu amigo, não conte a ninguém o meu esconderijo.
Me esconderei na erva.
Me esconderei entre as pequenas plantas.
Me esconderei entre as grandes plantas.
Esconder-se-ei nas valas do Arali”.
Gesht-Inana e o amigo de Damuz responderam:
"Damuz, se contarmos o seu esconderijo,
Deixe que os seus cães nos devorem,
Seu cão negro de pastor,
Seus cães reais de realeza,
Deixe que seus cães nos devorem!"

O pequeno gala demónio
Falou com a grande gala demónio:
"Vós gala demónio, que não tendes mãe nem pai,
Nenhuma irmã, irmão, esposa ou criança,
Vós que voais sobre o céu e a terra como guardas,
Que se apegam ao lado de um homem,
Que não aceitam nenhum favor,
Que não diferenciam o bem do mal,
Nos digam,
Quem já viu a alma de um homem amedrontado
Vivendo em paz?
Não vamos procurar Damuz na casa de seu amigo.
Não vamos procurar Damuz na casa de seu cunhado.
Procuremos Damuz na casa de sua irmã, Gesht-Inana”.
Os gala esfregaram as mãos de contentes.
Eles foram à procura de Damuz.
Eles chegaram à casa de Gesht-Inana.
Eles gritaram: "Mostra-nos onde está o teu irmão!"
Gesht-Inana não falava.
Eles lhe ofereceram o presente de água.
Ela a recusou.
Eles lhe ofereceram o presente de grão.
Ela o recusou.
O céu foi abatido. A Terra foi elevada.
Foi apertada por cima e por baixo,
Mas Gesht-Inana não falou.
Eles lhe rasgaram as roupas.
Eles vazaram pez na sua vulva.
Mas Gesht-Inana não falaou.

O pequeno gala demónio disse ao grande gala demónio:
"Quem, desde o início dos tempos,
Já conheceu uma irmã que revelasse o esconderijo de um irmão?
Venha, vamos procurar Damuz na casa de seu amigo."
Os galas demónios foram para casa do amigo de Damuz.
Eles lhe ofereceram o presente de água e ele a aceitou.
Eles lhe ofereceram o presente de grão e ele o aceitou.
Ele disse: “Mas eu não conheço o lugar certo".
O gala demónio procurou por Damuz na erva.
Eles não o encontraram. O amigo disse:
"Damuz se escondeu entre os arbustos,
Mas eu não conheço o lugar certo".
O gala demónio procurou por Damuz entre os arbustos.
Eles não o encontraram. O amigo disse:
"Damuz se escondeu entre as grandes plantas,
Mas eu não conheço o lugar certo”.
O gala procurou por Damuz entre as árvores.
Eles não o encontraram. O amigo disse:
"Damuz se escondeu nas valas do Arali”.
Damuz caiu nas valas do Arali.
Nas valas do Arali, os galas demónio apanharam Damuz.
Damuz ficou pálido e chorou.
Ele gritou:
"Minha irmã salvou-me a vida.
Meu amigo causou a minha morte.
Se o filho da minha irmã vaguear na rua,
Deixem a criança ser protegida; deixem a criança ser abençoada.
Se o filho do meu amigo vaguear na rua,
Deixem a criança perder-se; deixem a criança ser amaldiçoada".

Os gala demónio cercaram Damuz.
Eles amarraram-lhe as mãos;
Eles amarraram-lhe o pescoço.
Eles venceram o marido de Inana.
Damuz ergueu os braços para o céu,
Para Utu, o Deus da Justiça, e gritou:
"O Utu, que sois meu cunhado,
Eu sou o marido da sua irmã.
Eu sou aquele que levou comida ao seu santuário sagrado,
Eu sou o único que trouxe presentes de casamento para Uruk.
Eu beijei os sagrados lábios,
Eu dançei nos joelhos sagrados, os joelhos de Inana.
Transforme as minhas mãos nas patas dianteiras de uma gazela.
Mudai-me os pés para as patas traseiras de uma gazela.
Deixai-me fugir dos meus demónios.
Deixai-me fugir para Kubiresh!"

O misericordioso Utu aceitou as lágrimas de Damuz.
Ele lhe transformou as mãos nas patas dianteiras de uma gazela.
Ele lhe mudou os pés nas patas traseiras de uma gazela.
Damuz escapou de seus demónios.
Ele fugiu para Kubiresh.
Os gala disseram:
Vamos para Kubiresh!”
Os gala chegaram a Kubiresh,
Mas Damuz escapou de seus demónios.
Ele fugiu para casa da velha Belili.
Os gala demónios disseram:
"Vamos para casa da velha Belili!"
Damuz entrou na casa da velha Belili.
Ele disse para ela:
"Velha. Não sou um mero mortal.
Eu sou o marido da deusa Inana.
Verta água para eu beber.
Polvilhe farinha para que eu a coma."
Depois que a mulher velha derramou água
E farinha polvilhada para Damuz,
Ele saiu da casa.
Quando os gala o viram partir, eles entraram na casa.
Deumuzi escapou de seus demónios.

Ele fugiu para o redil de sua irmã, Gesht-Inana.
Quando Gesht-Inana encontrou Damuz no rebanho, ela chorou.
Ela aproximou a boca do céu aos gritos.
Ela aproximou a boca da terra aos gritos.
Sua tristeza cobriu o horizonte como uma mortalha.
Ela lacerou os olhos, ela arranhou o rosto,
Ela latejou as orelhas em público;
Em particular, ela flagelou as suas nádegas.
"Meu irmão, eu irei pelas ruas (da cidade
Andrajosamente vestida)".
Os demónios disseram:)
"A menos que Ĝeštin-ana saiba onde está Dumuz,,
Ela está realmente assustada!
Realmente ela está a gritar duma forma assustada!

Então os gala demónios que perseguiram Dumuz
Eles o perseguiram até ao sagrado redil de Damuz
Eles o perseguiram até ao sagrado redil
Os gala demónios pequenos e grandes o perseguiram.
Sete gala demónios perseguiram o jovem
Sete gala demónios seguiram Dumuzi!
O primeiro gala demónio entraria no redil de Damuz,
O segundo derramaria o leite sagrado;
O terceiro despejaria a água sagrada;
O quarto espantaria o rebanho.
O quinto o cobriria com poeira;
O sexto saquearia o gado.

Venham, vamos saltar a cerca do redil!”
Os gala demónios saltaram as cancelas de canas.
Quando o primeiro gala demónio entrou no curral do gado
Ele gritou na cara de Damuz com uma unha em pinça,
Quando o segundo gala demónio entrou no curral do gado
Deitou fogo ao cajado do pastor,
Quando o terceiro gala demónio entrou no curral do gado
Esmagou a tampa da batedeira de manteiga,
Quando o quarto gala demónio entrou no curral do gado
Derramou água no santo braseiro.
Quando o quinto gala demónio entrou no curral do gado
Derrubou a batedeira de manteiga.
Nenhum leite foi derramado.
Quando o sexto gala demónio entrou no curral do gado
Partiu o sagrado copo de beber no suporte onde pendia,
Quando o sétimo gala demónio entrou no curral do gado
Ele gritou e acordou a beleza que estava dormindo,
Despertou a beleza adormecida,
Ele acordou o marido de Inanna que estava dormindo
«Rei! Nós viemos prende-lo! De pé! Siga-me!
Nós viemos levá-lo, Dumuzi! De pé! Siga-me!
"Levanta-te, Damuz!
Marido de Inana, filho de Sirtur, irmão de Gesht-Inana!
Levante-se do teu falso sono!
Nós viemos prende-lo! De pé! Siga-me!
De pé! Siga-me! Pastor de ovelha! Irmão de Geshtinanna
As tuas ovelhas estão apreendidas! Teus cordeiros estão apreendidos!
De pé! Siga-me!
As tuas cabras estão apreendidas! Teus filhos estão apreendidos!
De pé! Siga-me!
Retira a tua coroa sagrada da cabeça!
Avance com a cabeça descoberta!
Tira a roupa do corpo!
Deixa o augusto ceptro cair no chão!
Avance com as mãos levantadas!
Retira as santas sandálias dos pés
E avance com os pés descalços
E venha connosco Nu!"

O Senhor retirou-se do redil
Para que não fosse destruído
E Dumuz deixando esses lugares,
Para que o redil não fosse demolida
Foi chorando e dizendo:
"Eu não quero sair [do meu redil], mas [deixar que seja destruído]!
Eu não quero deixar [o meu gado], mas [não quero que seja desbaratado]!
Eu quero [as sandálias o] meu [cinto] e meu vestido rasgado!
Eu quero [a minha coroa e o] meu ceptro [da soberania de] o Eanna!
Quero a minha esposa a Santa Inanna! "

Os gala demónios agarraram Damuz.
Eles o cercaram.
Eles amarraram-lhe as mãos.
Eles amarraram-lhe o pescoço.
A batedeira de manteiga ficou em silêncio.
Nenhum leite foi derramado.
A taça foi quebrada.
Damuz já não vive.
O rebanho ficou ao deus dará.
Um šir-kalkal para Dumuzid que jaz morto.

LAMENTAÇÕES POR DAMUZ

Um lamento foi criado na cidade:
Ai! Como a minha Senhora se queixa amargamente pelo jovem marido.
Como Inana chora amargamente pelo jovem amado.
Ai de seu marido! Ai de seu jovem amor!
Ai de sua casa! Ai de sua cidade!
Como a rainha de Eanna chora amargamente pelo jovem marido.
Como a soberana de Uruk chora amargamente pelo jovem amado.
Como a senhora de Zabalan chora amargamente por seu marido.
Por seu marido capturado!
Pelo seu marido assassinado!
Pelo seu marido capturado em Uruk!
Pelo seu marido assassinado em Uruk-Kul'ala!
Por seu jovem marido e amado.
Damuz foi levado cativo de Uruk.
Ele não se banhará mais em Eridu.
Por seu marido: Que ela não se afogue no Agarun!
Ele já não se vestirá de gala nos sagrados santuários.
Ele não vai mais tratar a mãe de Inana como sua mãe.
Por causa de seu jovem marido
Que não retornará ao regaço de sua mãe!
Por causa do seu jovem marido,
Por quem as donzelas da cidade arrancaram os cabelos!
Por quem os jovens da cidade flagelaram o peito!
Por causa do seu jovem marido,
Por quem os eunucos assinu da cidade
Teriam executado a "dança dos punhais"!

Por este jovem corajoso,
A quem se terão prestado as honras fúnebres!
Inana chora amargamente por seu jovem amante:
"Aqui está ele desaparecido, meu marido, meu querido marido
Desaparecido está o meu marido, meu amante bem-amado!
Meu marido está desvanecido desde os primeiros rebentos!
Ele está desvanecido desde os últimos rebentos!
Fui à procura de plantas,
Meu marido se transformou numa planta!
Fui à procura de água,
Meu marido foi atirado à água!
Meu amante deixou a cidade, como um lugar infestado de moscas.
Ele deixou a cidade, como [um monte de ruínas].
Ele não vai mais realizar a sua doce tarefa
Entre as donzelas da cidade.
Ele não competirá mais com os jovens da cidade.

clip_image011[6]

Figura 6: A dança dos punhais por lamassus com cabeça de cão.

Ele não elevará a sua espada mais alto do que os sacerdotes kurgarra.
Óptimo é o sofrimento daqueles que se lembram de Damuz".
Santa Inana chorou amargamente por Damuz:
"O meu marido foi-se, o meu doce marido.
Longe está o meu amor, o meu doce amor.
Meu amado foi tirado da cidade.
Ela arrancou os cabelos como escalrracho
Arrancou-o como ervas daninhas.
Vos que vos abraçais aos homens,
Dizei onde está o meu precioso menino?
Onde está o meu homem?
Onde está Damuz?
Onde está o meu homem?
Onde está o meu precioso menino?

Oh, Vós que voais na estepe,
Meu amado noivo me foi retirado
Antes que eu pudesse envolvê-lo com uma mortalha adequada.
O touro selvagem já não vive.
O pastor, o touro selvagem já não vive.
Damuz, o touro selvagem, não vive mais.
Peço às colinas e aos vales:
Onde está o meu marido?
Eu lhes digo:
"Não posso mais trazer-lhe comida.
Eu não posso mais servir-lhe bebida.
O chacal se deita no seu covil,
O corvo habita em seu redil,
Por uma palha de junco vós me perguntais?
Flauta o vento lhe deve tocar.
Por suas músicas suaves vós me perguntais?
O vento é que lhe deve cantar."

Sirtur, a mãe de Damuz, chorou por seu filho:
"Meu coração toca a flauta de cana do luto.
Assim que meu menino vagueou tão livremente sobre a estepe,
Logo ali ficou cativo.
Assim que Damuz vagueou tão livremente sobre a estepe,
Logo ali ficou como arguido preso.
A ovelha abandona o seu cordeiro.
A cabra abandona o seu cabrito.
Meu coração toca a flauta de cana do luto.
Oh estepe traiçoeira!
No lugar onde ele disse uma vez
"Minha mãe vai-me chamar"
Agora ele não pode mover as mãos.
Ele não pode mover os pés.
Meu coração toca a flauta de cana de luto.
Eu iria até ele,
E veria o meu filho."
A mãe caminhou até a um lugar desolado,
Sirtur caminhou até onde Damuz estava deitado.
Ela olhou para o touro selvagem morto.
Ela olhou para o rosto dele. Ela gritou:
"Oh meu filho, o rosto é seu.
Mas o espírito fugiu."

Há um luto na casa.
Há uma dor nos quartos do interior.
A irmã preambulou pela cidade, chorando por seu irmão.
Gesht-Inana vagueou pela cidade, chorando por Damuz:
"Ó meu irmão! Quem é a sua irmã?
Eu sou sua irmã.
Oh Damuz! Quem é sua mãe?
Eu sou sua mãe.
O dia que amanhece para vós também amanhecerá para mim.
O dia em que vós o vereis eu já o vejo também.
Eu encontraria o meu irmão! Eu o confortaria!
Eu compartilharia o seu destino!"

Quando viu o sofrimento da irmã,
Quando Inana viu o sofrimento de Gesht-Inana,
Ela falou com ela gentilmente:
"A casa do seu irmão já não existe.
Damuz foi levado pelos gala demónios.
Eu o levaria para ele,
Mas eu não conheço o lugar".
Então apareceu uma mosca.
A mosca sagrada circundou o ar acima da cabeça de Inana e falou:
"Se eu disser onde está Damuz,
O que me dareis vós?"
Inana disse: "Se me disser,
Vou deixá-la frequentar as cervejarias e as tabernas.
Vou deixá-la habitar entre as conversas dos sábios.
Eu a deixarei morar entre o canto dos jograis".
Inana decretou este destino e assim aconteceu.
E então a mosca falou:
"Levante os olhos para as extremidades da estepe,
Levante os seus olhos para o Arali.
Lá encontrarás o irmão de Gesht-Inana,
Lá encontrarás o pastor Damuz."

Inana e Gesht-Inana foram até aos extremos da estepe.
Eles encontraram Damuz chorando.
Inana levou Damuz pela mão e disse:
"Vós ides descer aos Infernos
Metade do ano.
Sua irmã, desde que ela perguntou,
Vai a outra metade.
No dia em que vos forem chamar,
Naquele dia sereis levados.
No dia em que Gesht-Inana for chamada,
Nesse dia tu serás libertado."

Inana colocou Damuz nas mãos do Deus Eterno.

Santa Ereshkigal! Ótimo é o seu renome!
Santa Ereshkigal! Eu canto seus elogios!


Na mitologia suméria, Gugalana foi literalmente o Grande (gal) touro (gu) do Céu (na) e foi também a constelação do Touro do Zodíaco. Gugalana foi o primeiro marido da deusa Ereshkigal, uma deusa do Reino dos mortos.
O Touro foi uma constelação do hemisfério norte no equinócio da primavera até à data de 3 200 a. C. dando início ao ano agrícola na festa do Ano Novo, o Akitu (a-ki-ti še-gur-ku = sementeira da cevada), o dia mais importante da religião Suméria. Depois da época em que este mito foi criado, o Festival do Ano Novo, ou Akitu do equinócio da primavera, deixou de ocorrer na constelação do Touro devido a precessão dos equinócios e passou a ocorrer em Aries.
A "morte" de Gugalana representa então o desaparecimento obscuro desta constelação que passou a ficar ofuscada pela luz do sol desde a era de Gilgamesh. Por isso, uma compreensão mais clara do decesso de Inana necessita duma leitura da epopeia de Gilgamesh particularmente da seguinte passagem:

Ishtar abriu a boca e disse novamente: "Meu pai, dê-me o Touro dos Céus para destruir Gilgamesh. Preencha Gilgamesh, digo, com arrogância à sua destruição; mas se você se recusar a dar me o Touro do Céu, eu vou quebrar as portas do inferno e esmagar os parafusos; haverá confusão de pessoas, as acima com as das profundidades mais baixas. Eu vou trazer os mortos para comer alimentos como os vivos; e os anfitriões de mortos superarão os vivos. Anu respondeu à grande Ishtar: "Se eu fizer o que pede, haverá sete anos de seca em todo Uruk e o cereal será casca sem sementes. Você salvou grão suficiente para as pessoas e a feno para o gado? Ishtar respondeu. "Eu salvei grão para as pessoas, e feno para o gado; Por sete anos, de espigas sem sementes "há grãos e há feno suficiente".
Quando Anu ouviu o que Ishtar havia dito, ele lhe deu o Touro do Céus para o levar de cabresto até Uruk: Quando chegaram aos portões de Uruk, o Touro foi ao rio; com as primeiras fendas abertas na terra pelo seu bafo resfolegante cem jovens caíram até à morte. Com as segundas rachaduras abertas do mesmo modo duzentos jovens caíram até a morte. Com as três fendas de bafo resfolegante abertas, Enkidu se dobrou, mas recuperou instantaneamente, esquivou-se e saltou sobre o Touro e agarrou-o pelos chifres.
O Touro do Céus espumou no focinho e limpou-se com a crina da cauda. Enkidu gritou para Gilgamesh, "meu amigo, orgulhamo-nos por deixar fama duradoura atrás de nós. Agora enfia com força sua espada entre a nuca e os chifres. Então Gilgamesh seguiu o Touro, ele agarrou-o pela espessa cauda e enterrou a espada entre a nuca e os chifres e matou o touro. Quando eles mataram o Touro do Céus, cortaram-lhe o coração e o sacrificaram a Shamash, e dois os irmãos descansaram