segunda-feira, 7 de abril de 2014

PANTEÃO LUSITANO - AIRE ou SANTA IRIA, por Artur Felisberto


SERRA D´AIRE OU DA IRIA

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Figura 1: A serra de Aire vista de Torres Novas para Norte.

Serra de Aire = Ad Septem Ares. Ad | Septem < 7 = septem < septa

< septata > setada / serrata < «serra» | + Ares > Ares.
Eis o que pode revelar-se como prova de um óbvio equívoco de geógrafo mal informado! Por confusão com algum termo luso com o significado explicito de “serra”, e reconhecido como tal pelo povo de Mira Daire e seus arredores e traduzida pelos romanos como «serra» de serrar pela simples razão de que em latim a «serra», enquanto acidente orográfico, é sempre monte (mons) e nunca serra!
É reconhecido que o conjunto orográfico da serra de Aire e Candeeiros separam o mar do interior condicionando o clima e os ares húmidos desta zona da Estremadura portuguesa. Os locais identificariam a serra de Aire como sendo o que ainda hoje é “a serrada da Iria” ou seja uma metáfora descritiva da silhueta dentada, como que por uma serra de serrar, da deusa da Aurora (Iria).
Espantosamente a «serra» de serrar em gaélico é sabh e serrada é sàbhta.
Sabendo-se que a Irlanda se chama em gaélico Eyre, Eire, or Eiriu por ser a terra da deusa Eiru e suspeitando-se que o gaélico era uma língua galaica decorrente de imigrações galega pré-históricas podemos concluir sem surpresa que à época dos romanos já se falava gaélico na Lusitânia e a serra de Aire seria já isso mesmo a “sàbhta Eira”.
É também reconhecido que os romanos consideravam as terras húmidas como insalubres. Sendo assim, os romanos eruditos que por aqui passavam e perguntavam pelo nome da serra ouviam o que queriam entender. Como achavam a serra de Aire um local escalvado como que varrido pelo vento que tudo leva e pouco mais deixa além de “sete (maus) ares”, quando os indígenas lusitanos se referiam a “sàbhta Eirs só ouviam o que queriam ouvir e por isso entendiam sàbhta como se fosse septe(m) = 7, numeral.
Assim, a Serra da Iria, por ser considerada por puro preconceito romano de maus Aires, passou a chamar-se em latim, Ad Septem Ares = A dos sete Ares em vez de ser apenas o que é, a serra (silhueta) da Iria.
No entanto, as ideias míticas surgem como as cerejas num açafate e de repente lembramo-nos que a serra da Iria poderia ser o arco-íris, a ceitoira do crescente lunar com que esta deusa faria as cegadas às searas da Primavera ou o caduceu de mensageira de Hera.
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Figura 2: Uma Tridiva Irlandesa: Banba, Fotla and Eriu, as três Horai das estações do ano.
Nesta representação são teluricas como Hermes da esfinge de Gizé
Quando os Milesianos chegaram da Espanha, cada uma das três irmãs pediu ao bardo Amergin que seu nome fosse dado ao país. Ériu (Éire, e em sua forma dativa Éirinn, resultando no inglês Erin) parece ter vencido a disputa, mas os poetas consideram que todas as três tiveram seu desejo satisfeito, e assim Fodhla é por vezes usado como nome literário para a Irlanda, da mesma forma que Banba.
Diz a lenda que santa Iria foi raptada da sua casa por um hóspede nocturno e foi degolada num outeiro. Sete anos mais tarde, o seu assassino regressa àquele local, onde já se ergue uma ermida em memória da sua vítima. Ele pede perdão mas, numa atitude pouco cristã, a sua vítima nega-lho. Por isso nunca viria a ser uma deusa canónica. Segundo outras lendas santa Iria nasceu na aldeia da Torre da Magueixa, concelho da Batalha. Posteriormente partiu para Tomar onde tinha família e onde seguiu carreira religiosa.
Seguramente que nenhuma, destas lendas, é verdadeira porque seria uma deusa lusitana e pré-grega que veio a dar origem a irlandesa Eiru. É representada a segurar uma "panela de manteiga” em Magueixa (Batalha) e com uma colher de pau na Faniqueira (Batalha) o que permite supor que Eiru seria primitivamente uma deusa de pastoreio e do fabrico da manteiga.

SANTA IRIA
Santa Iria: esta santa não goza de grande culto popular, mas é frequente encontrá-la na toponímia. associada à ideia de cidade, é um topónimo de origem euskera ou proto-euskera, como Irun, Iruña. A freguesia de Tomar onde se situava o primeiro assentamento populacional chama-se Santa Iria. É provável que este termo esteja presente também em Santarém e em Leiria e que a santidade (sacralidade) provenha do lugar. A antiga Iria Flávia prescindia da santidade, apesar de estar intimamente ligada à lenda de Santiago.[1]
La denominación "Iruña" provendría probablemente de la palabra vasca (h)iri ('ciudad') y un segundo elemento que no está claro del todo, pero que podría ser on ('buena'): 'la buena ciudad' (algunos etimologistas hablan de 'la gran ciudad'). Este concepto se puede apreciar en otros municipios de Vasconia como por ejemplo Iruñea, Irunberri (Lumbier) o Irún. Curiosamente, Iruña de Oca, Irún y Pamplona fueron posiblemente los tres asentamientos urbanos romanos más importantes en la zona norte del País Vasco y Navarra.
Obviamente que para se chegar ao segundo elemento de Irunha ser teria que fazer derivas este topónimo de Irunia.
Iruña < Hirunia < Kur-| In-ana > Irnini|.
Irnini (Irnina): Goddess of war assimilated with Ishtar.
Suspeitando-se que o basco tem tanta ou mais antiguidade que o sumério correspondendo à cultura que outrora dominou toda a Europa Ocidental e Norte de África e pode ter sido a origem da cultura do alto paleolítico que veio a desenvolver-se no neolítico no Médio Oriente começamos então a entender que Irnina seria a deusa Senhora (ana) das cidades Ibéricas como Cibele e por isso a que criou a tradição das torres como símbolos heráldicos de poder militar.
Conta a história que na antiga Nabância (Tomar) nasceu Iria, uma bela jovem. Desde cedo, Iria descobriu a sua vocação religiosa e entrou para um mosteiro. A região era governada pelo príncipe Castin-aldo, cujo filho Brit-aldo tinha por hábito compor trovas junto da igreja de S. Pedro. Um dia, Brit-aldo viu Iria e ficou perdidamente apaixonado por ela. Ficou doente de amor e, em estado febril e desesperado, reclamava a presença da jovem. Temendo o pior, os pais foram buscá-la. Iria pediu-lhe que a esquecesse, porque o seu coração e o seu amor eram de Deus. Britaldo concordou sob a condição de que ela não pertencesse a mais nenhum homem. Passados tempos, Brit-aldo ouviu rumores infundados de que Iria tinha atraiçoado a sua promessa e amava outro homem. Furioso, seguiu-a num dos seus habituais passeios ao rio Nabão, apunhalou-a e atirou o seu corpo à água. O corpo de Iria foi levado pelas águas até ao Zêzere e daí ao Tejo. Foi encontrado junto da cidade de Scalabis (Santarém), encerrado num belo sepulcro de mármore. O povo rendeu-se ao milagre e, a partir de então, a cidade passou a chamar-se de Santa Iria, mais tarde Santarém. Cerca de seis séculos depois, as águas do Tejo voltaram a abrir-se para revelar o túmulo à rainha D. Isabel, que mandou colocar o padrão que ainda hoje se encontra na Ribeira de Santarém.
Fica assim talvez explicada o nome da humilde Torre de Magueixa que ainda lhe presta culto na região da Batalha.
Na mitologia irlandesa, Ériu, filha de Ernmas dos Tuatha Dé Danann, era a deusa epônima padroeira da Irlanda. Seu marido era Mac Gréine ("Filho do Sol"). Foi mãe de Bres com o príncipe Elatha dos Fomorianos. (...) Ériu, Banba e Fódla são interpretadas como as deusas da soberania.
A mitologia Ibérica de Irnina teria chegado à Ibéria por via cretense porque parece ser essa a informação que os irlandeses guardaram no nome do pai da deusa Eriu, Ernemas.
Ernmas < Ernimas < Her-Minos => Hermes / Enki, pai de Inana / Istar.
O marido da deusa Eriu era o pastor de gado andaluz, Gerião e o filho o deus Bres que ficou na Ibéria como Brigo, o deus das cidades lusitanas. Quer dizer que a torre que esta deusa sibilina da Torre de Magueixa poderia ter tido na cabeça era o próprio filho e pai das cidades lusitanas.
Magueixo = T. de Turquel (instrumento de ferro ou de outro metal à maneira de tesoura ou tenaz; • (Bras.) torquês.) Alça, que se coloca na dianteira de um carro, carregado de pranchas ou toros compridos, para que não toquem nos bois. Cada um dos dormentes, que se colocam no leito do carro, para assento de pipas, ou de vasilhas semelhantes.
Aparentemente o «magueijo» ou magueixo era a tenaz ou *maquico com que Eriu lidava o fogo da lareira e do forno o que nos permite suspeitar que esta deusa tinha relações com Brígida quiçá por ser a mãe dela como foi de Brigo. Estas entidades deixaram rasto no nome do amante de Iria, Brit-aldo.
 Acerca da designação do lugar da Torre da Magueixa existem algumas opiniões diferentes em relação ao topónimo Magueixa. Diz-se que o lugar da Torre da Magueixa se dava antigamente o nome de Torre da Magagia que, no português antigo, significava Torre da Magia ou da Feitiçaria por ter pertencido a um mágico ou feiticeiro. (…)

"... a Ermida da Magueixa era da invocação de Santa Maria (Sancte Marie de Magueiga) e não de Santa Iria. Houve aqui, segundo cremos uma mudança de padroeira: Santa Maria cedeu lugar a Santa Iria em data posterior ao primeiro quartel do século XIII.
Quanto ao vocabulário Maguieja ou Magueixa, diremos que não é exclusivo da região de Leiria, pois também existe no aro de Lamego uma Magueija, já mencionada num documento de venda de 1163.
Num documento de 1277, inserto no livro de D. João de Portel (p. 133), alude a uma herdade na Magueija, junto do Reguengo, o que parece significar que esta Magueija do termo de Leiria nada tem que ver com a Magajia de Santa Catarina da Serra, ao contrário do que se lê na nota manuscrita do exemplar de "O Cruzeiro" existente na Biblioteca de Leiria.
Magueigia é uma localidade da freguesia de Santa Catarina da Serra, concelho de Leiria, com cerca de 400 habitantes. (...) O nome da localidade é muitas vezes conhecido ou referido como Magagia, apesar de não ser o nome correcto.

De forma interessante, Magueigia poderia ser Magagia a partir de uma proto linguagem ibero-berbere porque nome semelhante subsiste, qual fóssil linguístico na tribo dos haussás que povoa o Sahel ocidental com o significado de princesa herdeira, sacerdotisa...ou mulher dedicada ao comércio. Parece assim que a semântica original mais arcaica seria a de uma sacerdotisa votada à prostituição sagrada. Assim sendo, a etimologia popular que acredita que no português antigo a Torre de Magueixa significava a Torre da Feitiçaria só estaria incorrecta por a condição de pertencer a um feiticeiro quando se sabe que na Idade Média a magia e a feitiçaria pertencia às bruxas que a Iinquisição punha na fogueira da intolerância.

Magajiya (also Magagia). High priestess of Bori and leader of the free women (now considered as prostitutes) who run the cult. – Historical Dictionary of Níger, Abdourahmane Idrissa, Samuel Decalo.

Magajiya translates to "Successor" in English. It is common with the Hausa tribe in Nigeria and primarily used by Females. Ilustração[1].

This school was located in Tungan Magajiya, which means, “a place where a trader woman sells her wares”. From Football to Freetown, Jake; Ruth Schierling.

Na verdade a linguística cada vez nos revela mais que não existem coincidências etimológicas, nem possivelmente falsos cognatos porque mageuixa se poderia decompor em ma-gueixa resultando assim que seria uma espécie de deusa mãe «gueixa», termo relativo a uma forma de prostituição aristocrática japonesa equivalente da hetera grega. Para sustentar esta comparação teríamos que aceitar que o Japão não foi descoberto apenas pela primeira vez por «gajeiros» portugueses quinhentistas mas que foi regularmente visitada deste o alto paleolítico senão a ocidente por povos ibéricos pelo menos a oriente a partir do corno de África por berberes.


 A palavra gajo não tem relação com gajeiro, o marinheiro da gávea nos veleiros antigos. Gajeiro deriva do italiano gaggia, «gávea».[1]

Supostamente «gajeiro» nada teria a ver com «gajo» mas suspeita-se que assim não será porque a proposta de deriva do italiano gaggia não é sustentável porque em italiano gaggia é apenas uma árvore: a acácia.
Então, o mais provável é que o cesto da gávea tenha tido denominação mais arcaica em algo próximo de *gaijeiro por ser o local para onde iam de castigo os «gajos» que mais não seriam que os marujos que se portavam mal.
Por outro lado, como se suspeitaria, gávea não tem etimologia segura porque é suposto derivar do latim medieval gabia, quando se sabe que este latinório era, as mais das vezes, uma transliteração em baixo latim dos falares locais. Outros supõem que derivaria do clássico cavea, “jaula, gaiola” que a gávea não é por ser um cesto aberto como a «gaveta» (antes de fechada) com que terá maior relação e que deriva do latim gabata, “escudela de madeira”.
Em conclusão, o mais possível é que o cesto da gávea tenha sido antes denominado *gaijeiro e posteriormente sofrido alteração compressiva para *gágija / gaggia, primeiro e depois, alterada para gávea por ressonância com «gaveto».
Na verdade tende a ser entre marinheiros que as tradições e falares arcaicos mais se mantêm em virtude do reconhecido isolamento da vida de marinheiro tanto no mar como em terra. Por outro lado, o termo «gajo» é hoje informal no português corrente porque esteve muito tempo perdida porque seria um termo pré-romano que os bem-falantes da latinidade primeiro e depois do baixo latim perderam e que apenas ficou no calão dos ciganos.

A etimologia da palavra gajo é a derivação regressiva de gajão ou ganjão. Gajão tem origem no caló espanhol gachó, do cigano ou romani gadjó, «homem». Na língua dos ciganos ou roma espanhóis gachó é um camponês ou homem adulto; gachó (masculino) e gachí (feminino) referem-se a pessoas que não são ciganas. [2]

Ora bem, o facto de o termo parecer ter derivado do calão cigano não significa que aí tenha sido criado porque é bem possível que se tenha passado com os ciganos o que soi passar-se com os marinheiros que pelo seu isolamento cultural tendem a guardar arcaísmos.

A origem da palavra romani gadjo, ou gajo, é desconhecida, mas poderá significar «camponês» ou «homem» e ter a mesma raíz de gav, «aldeia». Outra teoria deriva gajo de Ghazi, um reino na Pérsia e Afeganistão do século XI.

Em escocês, assim como no Ulster e no nordeste da Inglaterra, gadgie ou gadge significa «homem». Na Bulgária гадже (gadje) significa «namorado ou namorada». Em romeno gagic e gagică significam «namorado» e «namorada» e também «rapaz» e «rapariga» («garota, moça», no Brasil). [3]

Se nas língua gaélicas gadgie ainda significa «homem» então é natural que nos falares pré latinos ibéricos assim fosse também, ou seja, gajo é um termo ibérico de origem pré-romana aparentada com o gaélico. Já os termos búlgaros e romenos equivalente podem ter sido para ali levados pelos ciganos muito mais tarde. Ora bem, é bem possível que nos falares arcaicos «gajo» já fosse um pouco pejorativo por ser próximo de «gueixo», o bezerro da gueixa, ou seja, um chulo ou um bastardo.
Na verdade, sabemos que pelo menos no Egipto a deusa mãe da prostituição sagrada era a vaca Hator...que possivelmente deu nome às heteras gregas. Ora, nem por acaso, nos Açores o «gueixo» é um bezerro.


[1] http://palavrasvertendo.blogspot.pt/2015/03/gajo.html
[2] http://palavrasvertendo.blogspot.pt/2015/03/gajo.html
[3] http://palavrasvertendo.blogspot.pt/2015/03/gajo.html

Sabemos que pelo menos no Egipto a deusa mãe da prostituição sagrada era a vaca Hator...que possivelmente deu nome às heteras gregas. Ora, nem por acaso, nos Açores o «gueixo» é um bezerro.
Então começamos a entender porque é que em Turquel magueixo é “a alça, que se coloca na dianteira de um carro de bois para que a carga não toque nos bois”.

Magueixo = T. de Turquel (= instrumento de ferro ou de outro metal à maneira de tesoura ou tenaz; • (Bras.) torquês.) Alça, que se coloca na dianteira de um carro, carregado de pranchas ou toros compridos, para que não toquem nos bois. Cada um dos dormentes, que se colocam no leito do carro, para assento de pipas, ou de vasilhas semelhantes. sinónimo de: malhal, mangual, omado.
Turquel = instrumento de ferro ou de outro metal à maneira de tesoura ou tenaz; • (Bras.) torquês.

E agora vem a parte arriscada dos saltos mortais etimológicos.
O nome de Turquel, que ainda hoje é terra de ferreiros e metalúrgicos, reporta-nos para a tenaz dos ferreiros que nas pinturas dos vasos relativos ao regresso de Hefesto ao Olimpo pela mão de Dionísio tinha a forma de uma «macaca» que é seguramente a representação mais arcaica da Deusa Mãe da Natureza como tipicamente aparece na forma de gorgónia de Medusa.
Há outros indícios que nos levam a aceitar que existiu uma ligação íntima entre o termo «magueixa» de Turquel e a tenaz dos ferreiros que é o termo «magujo», “instrumento, para extrair das juntas da embarcação a estopa velha”, ou seja, uma torquesa.
Assim, aparentemente o «magueijo» ou «magueixo» era uma das hastes da tenaz ou *maquico com que Eriu lidava o fogo da lareira e do forno o que nos permite suspeitar que esta deusa tinha relações com Brígida, quiçá por ser a mãe dela como foi de Brigo. Estas entidades deixaram rasto no nome do amante de Santa Iria, Brit-aldo. Quer dizer que a Torre de Magueixa que esta deusa sibilina poderia ter tido na cabeça era o próprio filho e pai das cidades lusitanas.
Porém, como a acção humana era, para os povos primitivos, uma imitação da cópula sagrada, criar e gerar era uma imitação do acto criativo dos deuses que tinha necessariamente que ser sexual. Ora, o símbolo mágico mais secreto desta cópula divina era o caduceu que na suméria era a representação do deus Ninguizida na forma de duas cobras entrelaçadas. Por isso podemos suspeitar que «magueixa» era também a cobra fêmea das cobras entrelaçadas em cópula sagrada na tenaz dos deuses do fogo.
Porém, como «maguilho» significa macieira brava *Maguilha ó Magueixa poderia ser só e apenas uma mata sagrada de «car-queija» / «tojo» em volta duma macieira enquanto árvore do paraíso que era o jardim das Hespérides e que a Serra Daire seria, durante o Verão pelo menos, na última glaciação.
Magueixa < Ma-queija <  Ma-*Ki-ash-a
ó *maquico = Macaquito < «Macaca».
«Tojo» < < Gal. Toxo < Ta-usho < Ka-usho < *Ki-ash.
MA = mãe; Ki = terra; asha = fogo ou filha.
*Kiash e um termo virtual que esta presente no nome de Vesta, Hestia e na «giesta» com que faz a «festa» do fogo e que por isso se relaciona com lenha ou mato ou qualquer tipo de planta do monte. Assim sendo tudo leva a crer que Magueixa fosse um matagal cheio de lenha, tojo e giestas. Uma espécie de floresta sagrada comunitária. A lenha além de alimentar o fogo eterno e sagrado da Lareira da aldeia servia para alimentar a forja já na época do calcolítico razão porque a Magueija de Lamego fica ao lado da aldeia de Bigorna.


[1] http://www.onlinenigeria.com/nigeriannames/ad.asp?blurb=19664.
Parece que Iria seria a deusa das éguas das represas e das cisternas seguramente porque era esta a única forma de ter água nas regiões calcárias da Cova da Iria.
Transpondo para a realidade Nabantina o dito e sabendo que a lenda de Iria é indissociável da designada “cisterna de Santa Iria”, outrora conhecida e referida como “Pego de Santa Iria”, excepção se faça à crónica dos monges franciscanos que no século XVIII a referem como cisterna, poderemos pensar ser esse o lugar por excelência, determinante para a localização da lenda e posteriormente, do recolhimento e convento das monjas de Santa Clara na planície de Tomar, ou seja, o sítio que continha em si alguma particularidade que levou à sua consagração, tendo em conta que a lenda é falaciosa, não obstante eventualmente a lenda conter algum acontecimento real mas bastante diferente do que se veio a fixar muito tardiamente na hagiografia da Santa.[2]
Desgraçadamente Eyreia (Iria, ou Irene) não deixou rasto lapidar na Lusitânia, nunca foi santa canónica, mas ficou eterna no Arco-Íris.
De facto, a deusa Eiru / Iria teve várias representantes na Grécia:
Eris, deusa da discórdia.
Eirene, one of the Horae; her name means peace.
Ery-theia One of the Hesperides.
Eury-ale, one of the Gorgons.
Eury-nome
1. In one account she is the goddess of all creation, and ruled the Titans (with Ophion) before Cronus.
2. In another she is the daughter of Oceanus and Tethys, and the mother, by Zeus, of the Graces.
Iris-rainbow. Iris was the personification of the rainbow. She was also the messenger of the gods.
A polissemia dos teónimos gregos é fruto da variedade de cultos que evoluíram logo tempo separados durante a prolongada idade das trevas da Hélade em recônditos locais da sua retalhada geografia.
Da vasta mitologia grega em torno da etimologia da deusa que na Caldeia foi Irinina e Iria em Portugal, podemos concluir que ela foi Dis-Cor-Dea, a filha de Deméter que desceu aos infernos e por isso foi uma das gorgónias. Esteve relacionada com o culto do pôr-do-sol porque na Irlanda foi esposo dele e por isso foi a deusa Ery, uma das Hespérides que terá sido esta variante que chegou à Ibéria. No entanto seria também uma deusa da Aurora enquanto Iris, ou pelo menos do fim das tormentas que anunciam a paz dos deuses sobre a terra e por isso também deusa da paz enquanto Eirene e uma das estações do ano, a Primavera.
Santa Iria é celebrada a 20 de Outubro, em pleno Outono, pelo que seria ela a deusa da discórdia como o seu martírio o revela.
Aliás existe em Tomar um provérbio que denuncia essa íntima relação com o touro...o pastoreio e a sementeiras: "Pela santa Eyreia, lavra e semeia"
Compreendemos então a voltas e reviravoltas que as deusas do calendário dão à volta do sol onde a mesma deusa passa de deusa das discórdias durante o inverno como Eris e acaba na Primavera como deusa da paz ou Eirene.
Claro que os gregos que foram politeístas de vistas curtas durante muito tempo não deram conta de que todas estas entidades eram meras facetas da mesma deusa que as vicissitudes da geografia grega autonomizaram. No entanto, o facto de outros panteões ligados por Creta terem apenas uma deusa com nome idêntico comprova que terão que ser necessariamente a mesma entidade mítica.
Não deixa no entanto de ser tentador relacional Leiria como um culto começado no cova da Iria e que desceu pelo Nabão até Tomar e pelo Zêzere até Santarém e depois veio pelo Tejo até Santa Iria da Azóia. A norte terá tido culto pelo menos em Castro Daire.
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Figura 3: Lenda do Lis e do Lena”, da autoria de Augusto Mota que decorava o café Colipo de Leiria.
Reza a lenda, que o rio Lis e o seu afluente rio Lena, se perderam de amores, e que um dia... à saída da cidade, onde os dois se juntam, celebraram casamento para unirem seu amor... num só rio.
A região da Cova da Iria, particularmente a da Serra de Mira Daire, é rica em topónimo em Al- como Alcobaça, Alveiázere; Alcaria, Alqueidão, Alvados; etc.
«Leiria» < Leireia < *Al-Eyreia = Al-Iris > liris > Lis > «Lis».
Al-Irena             > Lirena > Liena > «Lena».
Assim sendo, além de deusa das águas presas Iria seria também deusa das Águas Livres do rio Alviela e outros que nascem na Serra da Iria ou D´aire.

NOSSA SENHORA D´AIRES.
Existem duas lendas contadas pelo povo.
Uma que relata que naquela herdade, chamada dos Vaqueiros, morava um lavrador rico, supõe-se que Martim Vaqueiro, que possuía uma manada de bois. Na herdade existia um curral onde todas as noites os bois eram recolhidos. A certa altura os empregados do lavrador repararam que durante a noite os bois saiam do curral para irem pastar, mas que no outro dia de manhã estavam todos lá dentro, com a porta fechada. Foram então contar o mistério ao patrão que se dispôs a ir dormir uma noite à porta do curral. Nessa noite apareceu-lhe em sonhos Nª Senhora, que lhe disse que era Ela que abria a porta aos bois e que era de Sua vontade que fizessem naquele local uma casa de Deus e que para isso Ela própria o ajudaria. O lavrador tratou logo de juntar os materiais necessários para dar início à igreja e como era preciso muito dinheiro vendeu alguns dos seus bois. Porém, quando os voltou a contar, após a venda, tinha na manada a mesma conta, tendo sido um milagre de Nª Senhora.
O aparecimento da imagem da Senhora d'Aires também tem uma lenda, e encontra-se expressa numa inscrição na portada do Santuário. É um verso em latim, que relata que após a expulsão dos mouros destas terras, um lavrador arava o campo quando encontrou dentro de um pote de barro a imagem que se vê no altar. Sobre esta lenda, diz-se que a imagem foi descoberta por Martim Vaqueiro quando este lavrava o campo.
Há muitos anos atrás era obrigatório os rapazes fazerem a Tropa e também eram obrigados a ir combater em guerras fora do nosso país. Certo dia, um pobre soldado, onde andava a combater, viu-se envolvido com uma monstruosa e enorme cobra, ele pensou mesmo que ia ser devorado por ela. Veio-lhe ao pensamento pedir a nossa Sra. Da Visitação e também a nossa Senhora D’Aires que o acudisse, se isso acontecesse ele iria esfolar o monstruoso bicho e oferecia metade da pele a cada uma das Santinhas. Com o lhe correu bem é claro que cumpriu a sua promessa, por isso existe em cada uma das igrejas metade da pele, que para terem volume foram enchidas com pa lha e cosidas. Parecem reais, estão expostas ao longo da parede de cada igreja.
A relação da Virgem Maria com as cobras foi reconstruída pelo catolicismo partir de uma interpretação abusiva, como são sempre todas as extrapolações mitológicas por conveniência, com uma maldição divina sobre a mulher proferida por Jeová a quando da expulsão de Adão e Eva do paraíso.
(Gênesis 3:15) - E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.
Obviamente que os crentes lêem nos textos sagrados tudo menos o que lá está. Alguns vêm nesta mulher a Igreja que pisa a cabeça do diabo das Igrejas opositoras. Na verdade o texto apenas revela a tradição do culto da cobra que até ao início do patriarcado que Génesis fundamenta era de uma relação amigável como o culto das cobras cretenses o demonstra arqueologicamente.
A Senhora da Visitação poderá ter uma ralação pagã anterior ao cristianismo porque quase todas as intrusões pagãs no evangelho ocorreram nos evangelhos da Infância. A Visitação seria uma mera alegoria do começo da Primavera. Então, Conservando o culto popular uma relação entre a Sr.ª da Visitação e a Senhora D’Aires podemos inferir que ambas estariam relacionadas com o culto arcaico das cobras reforçando a ideia de que Iria seria uma Irínias e por isso seria uma manipuladora de cobras como muitas outras Nossas Senhoras que pisam a meia-lua.

Ver: GUADALUPE (***)
Ver: EXCALIBUR (***) & PANTEÃO CRETENSE (***)



[1] http://toponimialusitana.blogspot.pt/2005/12/os-santos-tm-escolha.html
[2] http://blog.thomar.org/2011/12/santa-iria-de-thomar-parte-i.HTML
 
 

sexta-feira, 4 de abril de 2014

PANTEÃO LUSITANO - ENDOVÉLICO, por Artur Felisberto.

Endovélico is one of the most famous pre-roman divinities whose cult has been adopted throughout the Portuguese territory.
He is also somehow well documented, due to the fact that the Romans also adopted Him. In fact, what is known from the Endovélico divinity originates, to a large extent, from the Roman sanctuary of Endovélico, which can be found in Alandroal, in the province of Alentejo, Portugal.
However, the geographical location of this sanctuary along with its Roman inscriptions indicates the possibility that this does not correspond to the original sanctuary. Furthermore, a new site has been discovered very recently nearby , which not only has the prerequisites known from other santuaries of Endovélico in other (distant) areas of Portugal, but also meets the stereotype landscape pattern adopted by the Celtic and other natives who built up such sanctuaries. The new site, located in a place known as "Rocha da Mina", constitutes a breathtaking scene on the side of the river Lucefecit, a river which embraces many memories of human occupation going back to upper Paleolitic era. Human settlements with 6 to 7 thousands years of age can also be found along the riverside, although the main period in this region dates back to the Iron age, where Celtics and, later, the Lusitans, have occupied the region.
Finally, it is noteworthy that the prefix endo constitutes a superlative. This may indicate the importance of this divinity for the settlements of this region.
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Figura 1: Reconsrução de endolélico
Endouelico: Espíritu infernal de la noche. Endovellico - Este é sem dúvida o mais conhecido dos Deuses Antigos da Lusitânia. O seu templo no outeiro de S. Miguel da Mota, no Concelho do Alandroal, foi estudado abundantemente. Leite de Vasconcelos explica o seu nome pelo céltico Andevellicos, comparando-o com nomes galeses e bretões, dando-lhe o significado geral de "o Deus Muito Bom" - curiosamente o mesmo espíteto do deus irlandês Dagda.
Atribui-lhe a caracteristica de deus tópico do outeiro onde seu culto se realizava e também de um deus da Terra e da Natureza. De origens antigas, foi no período celta que melhor se definiu (e daí o seu nome céltico), os romanos tendo-lhe prestado homenagem e culto, como se comprova pelos numerosos ex-votos por eles deixados.
Hoje, as investigações mais recentes mostraram que Endovellico está presente numa área geográfica maior do que se julgava e revelaram inclusive novos locais de culto de origem nitidamente indo-europeia, pelo que a atribuição de Endovellico aos celtas é por muitos aceite.
Endouelico < Enthu-Werico < *Enki-Kar-kiko > Inti-Pherico,
o que transporta o Intu < En-Uto, sol para o inferno”?
A ermida setecentista da senhora da Fonte santa, também localizada junto ao Lucefece, uns poucos quilómetros a montante, parecem demarcar um tramo do Lucefece particularmente rico em vestígios de antigas sacralidades, centradas nos santuários de Endovélico.
Tudo aponta para que as transmontanas festas dos rapazes culminassem os ritos de passagem dos festivais de Telefino que por aqui teria o nome de Oeste-Fan ou Estre-Fan, o “sol-posto” nas costas estremenhas, também conhecido por Endovélico, mas que seria apenas o genitivo de Endo-Belo. E seria então que apareceria a hitita Lel-vanis, variante de Vénus, possivelmente a Senhora dos remédios que salvava da morte o “deus menino”.
Indíbil (h. 258 a. C. – 205 a. C.) fue un rey de los ilergetes, un pueblo prerromano de la península Ibérica. (...)
Las fuentes para conocer la historia de Indíbil proceden fundamentalmente de autores romanos. Entre estos, Tito Livio utiliza el nombre Indíbilis; Polibio lo denomina Andóbales. Otros utilizan el término Indebilis. Los autores contemporáneos consideran que Ando- e Indo-, y el sufijo -beles son de origen ibérico, aunque una minoría considera que se trata de una construcción híbrida entre ibero y otras lenguas indoeuropeas.
Não deixa de ser espantoso que dum extremo ou outro do grande continente euro-asiático seja possível encontrar dois deuses arcaicos com etimologias que, se não são, poderiam ter sido coincidentes!
Endo-vel-ico (Endovellico, Indovellicus) – Deus mais importante em todo o sul da Lusitânia. É o Deus curador ligado aos milagres e à fé, assim como da medicina, saúde, da terra e da natureza, mas também é um deus do mundo subterrâneo e protector da vida após a morte. É o deus da sabedoria e o génio da montanha. Chamam-lhe: “O Bem-Bom”. Também foi adoptado pelos cristãos como o arcanjo São Gabriel padroeiro de Portugal. Tem diferentes naturezas e manifestações.
Eno-bol-ico (Indi-bilis) – Manifestação negra original e infernal do Deus lunar Endovélico, senhor do submundo. Está relacionado com os elementos terra e água.
ANDOVELICO – Manifestação celestial ou evolutiva solar do Deus supremo curandeiro e dos céus Endovélico. Representa o bem e está relacionado com os elementos ar e fogo.
ENOBOLICO (INDIBILIS) – Manifestação negra original e infernal do Deus lunar Endovélico, senhor do submundo. Está relacionado com os elementos terra e água.
Enobolico / Tusca / Olia / Tauri f(ilia) / pro Quinto / Statorio / Tauro m(arito) / v(otum) a(nimo) l(ibens) s(olvit).
Place of Finding = Terena, Alandroal, Évora, Portugal.
Foram também encontradas 3 novas aras, uma delas com uma denominação de Endovélico única até à data: "Ennouolico" (já era conhecida uma outra variação muito semelhante: "Enobolico"). Nesta mesma ara, a fórmula ritual com que se refere ao deus, "Deo Domino", "deus Senhor", é também inédita. [1]
Endovellico - Este é sem dúvida o mais conhecido dos Deuses Antigos da Lusitânia. O seu templo no outeiro de S. Miguel da Mota, no Concelho do Alandroal, foi estudado abundantemente. Leite de Vasconcelos explica o seu nome pelo céltico Andevellico, comparando-o com nomes galeses e bretões, dando-lhe o significado geral de "o Deus Muito Bom" - curiosamente o mesmo epíteto do deus irlandês Dagda.
Endovélico era um deus da Idade do Ferro de medicina e segurança, de carácter simultaneamente solar e ctónico, venerado na Lusitânia pré-romana. Depois da invasão romana, o seu culto espalhou-se pela maioria do Império Romano, subsistindo por meio de sua identificação com Esculápio ou Asclépio, mas manteve-se sempre mais popular na Península Ibérica, mais propriamente nas províncias romanas da Lusitânia e Bética. O culto de Endóvelico sobreviveu até ao século V, até que o cristianismo se espalhou na região.
(...) mostrei que a palavra Endovellicus pode ser céltica, e corresponder a Endovellicos, por Andevellicos = *Ande-vell-ico-s, onde o vulgar elemento ande é par- tícula intensitiva, e o elemento adjectival *vell-ico-s deriva do thema vello-, a que em gallês e bretão, dialectos célticos modernos, corresponde gwell «melhor», — vindo pois a palavra completa a ter pouco mais ou menos a si- gnificação de «Optimus», em português «muito bom».
Tal significação, é, como se vê, completamente vaga, pois tanto podia applicar-se a Endovellico, como a outro qualquer deus. Os exemplos porém de factos análogos abundam: na Gallia temos os díi Casses «les dieux três beaux», em Roma a Bona Dea, etc. Entro os nomes dos dedicantes que figuram no santuário de Endovellico existem algums cujo caracter céltico se pôde admittir; isto apoia a etymo- logia proposta a cima. Como base das dcducçSes linguisti- cas temos o facto de o santuário ficar situado numa região em que os Celtas estiveram, como se indicou a p. 60. – Religiões da Lusitania na parte que principalmente se refere a Portugal (Volume 2)  - Vasconcellos, J. Leite.
Leite de Vasconcelos tem neste percurso etimológico o grave defeito de todos os racionalistas e depois positivistas: o de fazerem o protocolo religioso às arrecuas e passarem do rústico e banal ao excelso e sobrenatural sem qualquer vergonha pela blasfémia que isso representa.
Como resultado desta análise do nome de Endovélico traduzido como termo comum dnuma língua que deveria ser considerada crioulo do lusitano Leite de Vasconcelos chega apenas a um resultado genérico de deus «bem-bom» simplismo que deveria ter deixado o normalmente circunspecto racionalismo de Vasconcelos de pé atrás tanto mais que conseguido a martelo. De facto, -vell só e transliterado por gwell porque Vasconcelos assim o decidiu por uma mero palpite. Se Leite de Vasconcelos suspeitasse que parte da vis fonética lusitana é responsável pela particularidade do português moderno teria tentado supor que –-vell tem mais a ver com caravela e escaravelho do que com a banalidade galesa e bretonica do gwell ainda presente no Well inglês realidades linguísticas com as quais o lusitano nada terá tido a ver porque a haver alguma proximidade em assunto tão importante seria com o gaélico irlandês ou escocês. Ora, em gaélico antigo o termo mais parecido e -bil que deve ser mais próximo do português belo por Bel-Marquque do que de «bom» e de que o reportado por Vasconcelos derivará. De resto o étimo Voll
De resto a etimologia germânica apontaria para Bem e não para Bom o que tornaria o nome de Endovélico ainda mais vago.
Well (adv.) = "in a satisfactory manner," Old English wel, common Germanic (cf. Old Saxon wela, Old Norse vel, Old Frisian wel, Dutch wel, Old High German wela, German wohl, Gothic  waila "well"), from PIE root *wel- (2) "to wish, will" (cf. Sanskrit prati varam "at will," Old Church Slavonic vole "well," Welsh gwell "better," Latin velle "to wish, will," Old English willan "to wish;" see will (v.)).
Mas aponta também para desejar e querer como no italiano voglio.
Te voglio bene assai
ma tanto tanto bene sai
e' una catena ormai
che scioglie il sangue dint' e' vene sai.
Obviamente que qualquer deus amado pelos crentes é Bom e um supremo Bem e por isso Bem-Bom mas a ideia de que Ande é um intensitivo que substitui não se sabe se o bem se o bom é suspeita. Mas -ande ou -ante em gaélico antigo simplesmente não existe e end significa quase o mesmo que hoje em português por etimologia grega, “nele, dentro disso” > no interior.
Um deus com o significado de Bem Interior seria então o mais correcto e com algum fundo étmico religioso moderno mas com pouco ou nulo significado mitológico.
De facto a tentação para reconhecer em Endo- um conceito intimista místico e misterioso preferentemente a um hipotético intensivismo celta seria grande se não fosse simples demais. No entanto quase se apostaria que este conceito tem paralelo com o nome deste deus mas por vias etimológicas que por ora se desconhecem e não se vai discutir aqui.
Não podemos ter a certeza de que o culto de Príapo tivesse tido na Lusitânia equivalente com Endovélico até porque os romanos teriam identificado tal indecência que teriam aproveitado para difamar os obstinados lusitanos que lhes resistiram tanto tempo.
Mas podemos aqui identificar o prefixo Endo- < Ando ó En(n)o- ó Indi < Enti > «Ente», como adjacente e dispensável para entender a evolução do nome deste deus lusitano supostamente infernal.
Na Grécia «os deuses ctónicos, diz Bouché-Leclercq, são deuses médicos por excelência: é por isso que Demeter, Plutão, Dionísio, Pan, Serápis, e de modo geral os heroes que desceram ao seio da terra, são curandeiros; é por isso que a incubação, com seus sonhos e visões nocturnas, foi sempre o método particularmente adequado para a adivinhação médica». Que Endovellieo também representou papel do deus curandeiro consta de vários documentos. Segundo a inscrição do costeiro do Alandroal, Caio Júlio Novato cumprira um voto que havia feito a Endovellieo pela saúde, pro salute, da sua querida Vivennia Venusta. O mais importante documento desta espécie é contudo uma lápide em que se figura um hemiplégico (paralisia dos membros de um dos lados), a qual contém também uma inscrição (...); a hemiplegia é esquerda, e comprehende-se que o doente fosse melhorado ou curado por suggestão, o que prova que a doença era de origem nervosa. Talvez na lapide em que na mão esquerda de um devoto se representa uma ave (fig. 11.), esta tenha alguma relação com o gallo e gallinha que, segundo o tes- temunho dos antigos, se ofereciam a Esculápio, costume que tem um parallelo numa superstição do pais de Galles, referida por Simpson. No mesmo caso estará outra lápide. em que ee iigura a parte antenoi de nm animal que parece cão; encontraríamos assim mais um parallelo entre Endovellico e Esculápio. – Religiões da Lusitania na parte que principalmente se refere a Portugal (Volume 2)  - Vasconcellos, J. Leite.
De “médico e de louco todo, o mundo tem um pouco” mas não me parece que Vasconcelos seja a pessoa mais indicada para saber se a hemiplegia esquerda deste Caio Júlio fosse nervosa porque a hemiparésia deste caso seria supostamente traumática por acidente militar e por isso de melhor prognóstico. Ora o grau e gravidade das lesões traumáticas cranianas é variável e como nada sabemos deste caso podemos postular que pelo menos não seria severo e que recuperou bem com a terapêutica termal e depois ocupacional que era a que por via de regra se praticava nesse tempo onde só os mortos desistiam de lutar pela sobrevivência.
Se este era pois divindade naturalística, e mais particularmente da montanha, haveria perto do templo alguma cavidade ou antro donde se recebessem as inspirações dele, como nos casos apontados por Bouché-Leclercq; assim se explicaria a fórmula ex imperato averno, que se lê numa inscrição do Museu Etnológico, numa ara turícrema (...):
ENDOVELLICO
SACRVM • L • T • M
ET • T • M • EX IM
PERATO AVER
NO • A • L • F
inscrição em que deve entender-se que a palavra imperirato é substantiva, e a palavra averno é adjectiva, — pelo que a expressão ou fórmula ex imperato averno significa «segundo a determinação de avernal», i. é, «segundo a determinação que emanou de baixo»; todavia o que digo da eixistencia do antro ou cavidade é meramente conjectural, pois embora os crentes supusessem que, conforme o que acabei de notar, os sonhos provinham do interior da terra, nãoo era de absoluta necessidade que as de terminações da divindade se recebessem num antro: podiam receber-se em sonhos, noutra qualquer parte. – Religiões da Lusitania na parte que principalmente se refere a Portugal (Volume 2)  - Vasconcellos, J. Leite.
A confirmar esta autonomia original de um deus da medicina anterior a Apolo, ou pelo menos de um epíteto de um “deus menino” denominado Paião existe o mito de um deus com este nome filho de Poseidon, deus tutelar dos mares minóicos e que teria levado a talassocracia cretense até à Trácia, a partir do Helesponto, e onde teria o nome de Edono. Notar então que o nome do ibérico Endo-vélico pode ser uma síntese do deus Edono como o do latino Averrunco, literalmente o “deus menino” (Ico, Icaco) que transporta a vida do céu à terra”!
ALBU-CELA-INCUS- É uma divindade local menor venerada no coração da Lusitânia profunda.
Notar que no nome da deidade desconhecida Albu-Cela-Incus correspondente possivelmente a uma tridivia da Lusitânia profunda a raiz ou deidade Incus- está próxima dos incas e do seu deus Inti que seria afinal Endo / Don, o deus menino solar. Neste caso suspeita-se que Cela seria Ceres filha de Deméter a branca e Alba mais de ambos os irmãos, que na Lusitânia profunda seriam Cela / Cres e Inco / Baco.
Averruncus < Ka-pher- | Enki > Enti > Edon => Incus > Inti.
Edono | -ush > Endo-Wer-kico > Endovélico |
Em mitologia grega, Paeon era um filho de Poseidon por Helle que entrou no Helesponto. Em algumas lendas ele foi chamado Edonus. Ele era o irmão do gigante Almops. [[2]]
Edonus (Greek: Ἠδωνὸς) was the mythical ancestor of the Edonians in Thrace and Thracian Macedonia. The names Edonus, Edonian, Edonic is therefore used also in the sense of "Thracian," and as Thrace was one of the principal seats of the worship of Dionysus, it further signifies "Dionysiac" or " Bacchantic." Paeonians, a people of Macedónia.
Sendo assim, Endo-véll-ico seria o deus que trás (vell-) o deus menino (Endo / Deon > Don) que seria a luz protágona ou seja Faon ou Faeonte, como S. Cristovão, por acaso Cristó-bal em espanhol e Crsitó-foro em grego  e latim.
De resto o étimo Vell- ressoa demasiado a etimos gregos de movimento solar apolíneo presentes nos mitemos do ouróboro, discóbolo e dos hiperbórios.
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Segundo o Dictionnaire des symboles o ouroboros simboliza o ciclo da evolução voltando-se sobre si mesmo. O símbolo contém as ideias de movimento, continuidade, auto fecundação e, em consequência, eterno retorno.
Quer isto dizer que o conceito grego de devorar Boro implicava um conceito de transportar do alimento para a boca ou de ir de encontro ao desejo devorador e era portanto um caso particular do movimento genérico representado pelo do sol.
Enobolico < Endouelico < Enthu-Werico < *Enki-Kar-kiko
> Inti-Pherico, «o que transporta o Intu, o sol para o «inferno».
Ente deus *Entiférico seria equivalente de Eosforo, Fósforo e Héspero.
Edovio – Deus adorado na Celtibéria hispânica.
Edóvio é seguramente uma corruptela sintética de endovelico.
Edóvio < E(n)dove(l)io < E(n)dove(l)i-(c)o.
Na mitologia grega Eósforo (Do antigo grego: Ηωσφόρος Eosphorus) ou Fósforo (Do antigo grego: Φωσφόρος Phosphorus), a Estrela d’Alva ou Estrela da Manhã,1 é filho de Eos, deusa da aurora, e irmão de Héspero (Do antigo grego: Ἓσπερος Hesperus), a Estrela Vésper. Seu equivalente romano era Lúcifer ( do Latim Luxferres, ou seja "portador da luz").
Na mitologia grega Eósforo (Do antigo grego: Ηωσφόρος Eosphorus) ou Fósforo (do antigo grego: Φωσφόρος Phosphorus), a Estrela d’Alva ou Estrela da Manhã, é filho de Eos, deusa da aurora, e irmão de Héspero (do antigo grego: Ἓσπερος Hesperus), a Estrela Vésper. Seu equivalente romano era Lúcifer (do Latim Luxferres, ou seja "portador da luz").
Entre nós, apesar da curiosidade que deviam naturalmente despertar antigualhas descobertas em S. Miguel da Mota, foi só depois da publicação das Antiquitates Luisitaniae de André de Resende, em 1593, e da parte l da, Monarchia Lusitana de Fr. Bernardo de Brito, em 1597, que Endovellico adquiriu celebridade. Com efeito, Resende publicou pela primeira vez oito inscripções, e Brito, reproduzindo e traduzindo algumas delas, contou a propósito uma historia maravilhosa e absolutamente fantastica, segundo a qual o templo de Endovellico fora fundado pelo capitão carthaginés Maharbal, e o deus não seria outro senão Cupido, do qual ahi houvera uma estatua de prata, com asas nos pés. (...)
Onde hoje está, antigamente estava
Aquelle templo sumptuoso e rico.
Do Deus Cupido, e que então chamava
O romance vulgar Endovellico. (...)– Religiões da Lusitania na parte que principalmente se refere a Portugal (Volume 2)  - Vasconcellos, J. Leite.
Não sabemos se podemos dar algum crédito a esta relação de Endovélico com Cupido até porque um deus com asas nos pés aponta mais para Hermes e Mercúrio do que para um anjinho do amor.
Em 1760 publicou em Madrid o presbytero hespanhol D. Miguel Perez Pastor mais uma Disertación sobre el dios Endovellico y noticia de otras deidades gentílicas de la Espana antigua; suppõe que a palavra Endovellicos é céltica, explicando-a a seu modo por Bellenus e Belinus, e discute as etymologias expostas até então. (...)
Visitação Freire explica o nome do deus por End «divindade» e Beltis, Belenus, Bal etc. – Religiões da Lusitania na parte que principalmente se refere a Portugal (Volume 2)  - Vasconcellos, J. Leite.
Pelo contrário, Hermes Psicopompo seria seguramente uma transliteração teológica adequada para o deus indígena *An-Tu-bal, que deve ter sido o seu nome verdadeiro sem a forma nominativa -eco de que os canteiros romanos terão usado e abusado por analogia com o nominativo latino.
Entre os mss da Bibliotheca da Academia de Historia de Madrid compulsei uma Discertatio de Enlovelíico et Neto Hispanonua diis de António Martinez de Quenada ( 1751), em que se julga provável que Endovellico corresponda a Apollo. Com esta dissertação estava uma «Nota de D, Miguel Casiri sobre el aios Endobelíico», em que o autor quer provar que o nome do deus é púnico, africano ou phenicio. – Religiões da Lusitania na parte que principalmente se refere a Portugal (Volume 2)  - Vasconcellos, J. Leite.
Já a referência de que o “templo de Endovellico fora fundado pelo capitão cartaginês Maharbal” pode ter algum fundo de verdade já que *Antu-Bal tem mais ressonâncias com o deus Bal fenício do que o celta Belenos. De qualquer modo a tendência para o celtiberismo é uma moda correlata ao arianismo fascista e uma mera variante pomposa do preconceito anti-semita e anti-islâmico decorrente das cruzadas e reconquistas.
Na verdade, a lógica histórica e da corrente civilizacional manda suspeitar que as inovações culturais seguiram na bagagem dos inovadores civilizacionais que vieram sempre de oriente para ocidente em busca do túmulo do sol poente e do ouro e metais preciosos que era suposto existir por perto. De resto, Bel / Baal era adorado por perto entre os cónios, iberos da Bética e possivelmente também a sul da Lusitânia. Baal era a forma fenícia de Apolo e este deus podia ter cultos ctónicos de sol-posto e era também um deus médico e pai de Esculápio
Bel(a,e,i)nos < Belemnus < Beel-Minus => (Cicrano &) *Beltano.
Ora, *Beltano é literalmente um anagrama de Antubal e este um nome próximo de Setu-bal e de Tu-bal Caim!
Mais importante, embora não isenta de defeitos, é a memória de D. José Comide que vem apensa ao folheto precedente: nela publica o viajante espanhol (galego) as duas inscrições da igreja da Boa-Nova, e interpreta» embora sem razão, por Lucífero o nome do rio Luciféce (ou Luçaféce) que passa perto daquela igreja, supondo também sem fundamento que Endovellico era equivalente a Lúcifer; a esta memoria, que tem a data de 1801, juntou-se uma colecção das inscrições de Vila Viçosa e de Alandroal, que penso ser a mesma que citei a cima, na p. 116.
Que motivações terão levado Leite de Vasconcelos a considerar que a relação de equivalência entre o rio de Luciféce e o deus Endovélico não tinha qualquer fundamento? Apenas a de que ninguém é perfeito porque no melhor pano cai a nódoa!
Em toda a Península Ibérica, o único santuário comprovadamente dedicado à divindade indígena-romanizada conhecida sob a invocação de Endovélico situa-se em Terena, Alandroal (Alentejo), junto à ribeira actualmente denominada Luceféce / Luciféce / Lucifécit. O hidrotopónimo aparece registado sob as formas equivalentes de "oyada-luiceuez", no ano de 1231, e de "udia-luiciuez", no ano de 1262. A forma "Luçefece", a única que gráfica e prosodicamente sobreviveu até aos nossos dias, surge em plena época renascentista no Foral Novo outorgado pelo Rei D. Manuel I à vila do Alandroal em 1514.
A etimologia de Lucifer / Lucefece
A etimologia deste estranho e enigmático hidrónimo - o único conhecido em todo o território português e, creio, em toda a Península (se não em todo o Mundo) - tem suscitado diversas dúvidas por parte de diversos investigadores. De uma forma geral, foram maioritariamente sugeridas duas possíveis origens: uma raiz latina, proveniente de "lucifer", nome que em época cristã foi transformado em sinónimo de Satã/Demónio, ou uma raiz árabe, proveniente do substantivo "oucif", significando "negro".
*Al-oucif > 1231 (oyad)-al-uice-uez > 1262 (udi)-al-uici-uez < *Luci-wez
> Luci-fez > Lucifécit > 1514 Luçefece.
A interpretação do nome da humilde ribeira de Luçefece pelo árabe "oucif" é pouco credível por implicar um *Al-oucif cujo «efe» não se deveria ter perdido de 1231 a 1262 nas formas escritas em árabe Aluici-uez sem «efe» para voltar a ressuscitar 1514 em língua cristã como «efe» em Lucefece.
O culto a Lúcifer não necessita de um recurso directo aos latinos porque fosse como Apolo Loxias fosse como Lug deixou marcas diversas na Espanha.
Obviamente que se os árabes tivessem inventado o termo por "oucif" lhe teriam mantido a semelhança fonética. Ainda assim haveria de se procurar saber porque é que os árabes usaram a semântica da escuridão para uma ribeira inofensiva que veio a meter tal medo aos cristãos que nem lhe ousavam pronunciar o nome.
Interessa-me aqui particularmente a canção nº CCXIII, intitulada "Como Santa Maria livrou u ome bõo en Terena de mão de seus emigos que o querian matar a torto, porque ll' apõyan que matara a ssa moller". No texto descreve-se como um homem de Elvas, chamado Tomé, fora acusado de haver assassinado a mulher, pelo que procurara auxílio no santuário de Terena; a família da mulher assassinada também ali se deslocara em perseguição do acusado, mas apenas haviam encontrado o demónio disfarçado sob a forma de Tomé. Lê-se na cantiga: "(…) foron-sse contra Terena, u sen dulta o cuidavan achar; mas o dem' acharon en forma del na ribeira (…) Dun rio que per y corre, de que seu nome non digo (…)".
Já em 1906 o arqueólogo e etnólogo Leite de Vasconcelos afirmara que o verso "de que seu nome non digo" se tratava manifestamente de uma alusão à ribeira de Lucefece. E por que motivo não diria o autor da cantiga o nome do rio? Parece-me que a razão é bem clara: porque o hidrotopónimo se referia de facto a Lucifer, então entendido por todos os autores cristãos como sinónimo de Satã. (…)
Referi-me já em artigo anterior (…) ("Sinais do nascimento de Cristo na Hispânia: dos prodígios solares à queda de Endovélico") ao achado neste santuário romano, no ano de 2002, de um depósito de estátuas voluntariamente quebradas e que em data não conhecida foram cuidadosamente arrumadas na base da igreja cristã consagrada a São Miguel Arcanjo, (…). O culto a Endovélico manteve-se ali pujante pelo menos até ao séc. III e terá certamente continuado em época posterior. A quebra das imagens - evidentemente interpretadas como demónios - ocorreu certamente em época cristã (e recorde-se que o Codex de Teodósio ordenou em 15 de Novembro de 407, no seu livro XVI, 10, 19, a retirada das aras e das estátuas dos templos pagãos, com a sua destruição); e sobre essas deidades destruídas se edificou a igreja dedicada ao próprio arcanjo que expulsara Lucifer, (…).
Curiosamente, a ribeira de Lucefece - um curso de água que apresenta caudal permanente numa região hidrologicamente pobre e que estabelece a ligação entre a Serra de Ossa e o rio Guadiana, junto a Juromenha, num curso tortuoso e encaixado numa área de xistos extremamente árida - nasce na freguesia de Rio de Moinhos (Borba), onde existe, pelo menos desde 1556, uma pequena emida dedicada a São Gregório Magno, precisamente o Papa que no séc. VI promoveu a cristianização dos bárbaros pagãos.
(…) Por outro lado, na margem esquerda do rio Lucefece situa-se a estação arqueológica de Águas Frias, estudada por Victor S. Gonçalves e Manuel Calado. Aqui foi identificada uma verdadeira fábrica de placas de xisto decoradas, tão típicas da cultura megalítica alentejana: blocos de meteriais em bruto, blocos com o contorno de placas, placas sem qualquer gravura mas já polidas, placas polidas e gravadas e placas gravadas, mas sem estarem polidas. Esta oficina de "ídolos" data provavelmente dos dois últimos séculos do IV milénio do primeiro século do III milénio. (…)
(…) O hidrotopónimo Lucefece tem como origem etimológica o nome "lucifer", surgindo assim como um verdadeiro epónimo dessa velha "estrela da manhã" ou "portador da luz" que o cristianismo dos primeiros séculos (e a tradição cristã posterior) identificou com Satã. O nome foi dado em época histórica a um rio desde muito cedo sacralizado por sucessivas comunidades humanas, possivelmente por influência do vizinho santuário dedicado a Endovélico e numa "satanização" das inúmeras figurações escultóricas ali depositadas em voto de agradecimento ao deus pagão. -- Lucefécit/Lucifer e o santuário de Endovélico: um epónimo do "príncipe das trevas"? Por Heitor Baptista Pato.
Por último há que referir uma relação que não parece muito convincente de Endovélico com o culto das Antas.
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Figura 2: Altar rupestre em degraus de Rocha da Mina (Alandroal).
Assim como no sec. XVII Braz Garcia de Mascarenhas se lembrou de Endovellico, assim no XVIII o autor anonymo da tragedia intitulada Osmia, Lisboa 1788, embellezou o scenario do acto 1º com um «bosque consagrado ao deos Endovellico com a sua ara em forma de anta», e fez que na scena IV um dos protagonistas da peça dissesse voltado para a anta:
Estes povos quo ornárão tantas vezes
De festõens essas aras..............
ideias em verdade fantásticas, pois que as antas não eram aras mas assim se suppnnha então. – Religiões da Lusitania na parte que principalmente se refere a Portugal (Volume 2)  - Vasconcellos, J. Leite.
De facto a relação que Endovélico teria com as antas não seria tão anacrónica como a que seria de esperar duma obra de ficção do sec. XVIII. De qualquer modo sabemos que a cultura celta, como aliás, a posterior cristã que se seguiu, se serviram de monumentos que lhe eram anteriores como seria o caso das antas. No caso de Endovélico não teria sido necessário o recurso a antas porque existia perto um altar rupestre cavado na pedra da Rocha da Mina (Alandroal). No entanto, o culto a um deus das antes deve ser muito anterior porque o nome do deus aponta para antas não enquanto altares devotados ao deus mas enquanto cavernas artificiais por onde era suposto o sol entrar nas entranhas da terra na sua quotidiana descida aos infernos depois do sol-posto.
A proposta do nome de Endovélico como derivando duma proto linguagem do tipo *An-Tu-bal reposta-nos precisamente para o mito do por do sol nas antas naturais da terra que tanto a Andaluzia como a Lusitânia seriam. A estrutura monossilábica deste nome como se fora uma frase descritiva do papel de psicopompo deste deus reporta-nos para um grande arcaísmo e para a quase certeza de que este deus pré lusitano ou foi localmente gerado no início da cultura rupestre ou, importado da Anatólia por via da talassocracia cretense dos primórdios do neolítico.
Um deus que seria semelhante na função e na etimologia terá sido Obelleginus formado com o mesmo sufixo de Atégina de quem ambos seriam paredro.
Obelleginus (Obellegin[us]) = Se encontró este teónimo, desconocido hasta el momento presente, en un ara de Berruelo de Santullán, Palencia. Se conserva en esa misma localidad. El ara está dedicada por D e c i m u s, liberto del Ala Augusta o del Ala Asturum. La raíz del teónimo es aquitana-pirenaica a partir del elemento -bells. Los autores proponen que parece presentar alguna semejanza con la deidad aquitana Abelio / Abellio, o incluso con Endovellico, pero esta relación parece inverosímil. Podría relacionarse con el topónimo Villa-vellaco, próximo al lugar de aparición del ara. La fecha de la inscripción es la época julio-claudia.
Abelio / Abellio < Obelle-Ginus literalmetente o Génio dos devotos de Villa-vellaco e então o nome original teria sido Obelleco variante dialéctica de um virtual *Obellico sim senhor, que então seria o deus dos obeliscos celtas de Astérix, obviamente. A relação de Abellio e *Obéllico com Endovélico não tem nada de inverosímil porque seriam variantes alternativas do mesmo deus como fósforo era de Eósfero e ambos de Hespero e depois Lúcifer.
Todos estes deuses seriam variantes teofóricas se repostariam a Dis Pater que era suposto ser o pai dos gauleses e celtas porque teriam partido todos de Creta onde reinava Crono / Saturno antes da queda da cultura minóica.

SUCELLUS
Sucellus (Deus Pater) = El Sucellus céltico es el equivalente al romano Deus Pater. De él han aparecido varias imágenes en Hispania. Cuenta con dos aras. Una, con nueva lectura, se re-cogió en Burguillos del Cerro, Badajoz, pero el teónimo es totalmente irregular76; más segura es la dedicatoria repetida en Munigua, Sevilla, hoy conservada en el Museo Arqueológico Provincial de Sevilla, en la que se lee Dis Pater, al que se le dedica la estatua de un caballo de mármol que recuerda lo escrito por Suetonio (Cal. 55.3). El dedicante es Lucius Aelius Fronto.
Outro teónimo que poderia estabelecer a relação entre os deuses da aurora e o deus do sol-posto dos infernos que foi Dis Pater, Orco e Hades pode ser Sucellus que assim seria uma variante celta de Endovelico muito menos evoluída etimologicamente.
Sucellus < Su(b)-Tellus => «Sub- | solo» < Lat. solu / sola > solea > Esp suela / suelo. > Old French soeul, sueil > Anglo-French soil.
               < Su(b)-cellus < | Kerlus > «Carlos» |
                                        < Kerlus > Pherlico > Vellico
***Ka(u)ki-kur-kiko => *Subellico > Ubéllico > *Obéllico
=> Obelle-Ginus.
O limite da protolinguagem leva-nos a uma fonética gutural primitiva que englobava a semiologia gestual do movimento quoridiano do sol do duplo horizonte da terra (Ki-a-u-ki > Ka-ki) ou mar-céu vaginal que seria a *queca ou (Clo)aca da Deusa Mãe promordial Ker que o faria crescer transportando-o à cebeça no cimo da montanha primordial da Aurora (kur / Ker) no cume da montanha mais alta de Creta para voltar a fazelo desce-lo no antro da duplo horizonte mar/céu ((Ki-a-u-ki > Ki-ko) ao ser devorado pela «boca» (< Lat. bove > wauwe > Kuki > iko) da Noite primordial. Se não foi assim poderia ter sido ou seria mais oum menos assim e de qualquer modo bene trovato como totalidade semantica do grandioso espectáculo do percurso solar quotidiano que regia por completo a vida primitiva do homem da sabana Africana.
Endovélico e seus equivalentes deuses misteriosos e curativos eram a totalidade do movimento quotidiana do sol resumido na forma de um deus Todo Bem-Bom enquanto paradigma do eterno retorno cósmico, do monótono e cansativo processo que era o destino, a razão de ser e o valor da vida!
A busca da etimologia do termo solo é complexa. Na verdade não parece de imediato estar relacionado com nenhuma divindade telúrica ou agrária. Usando as propostas dos ingleses que tem termos idênticos importados dos franceses ou de origem germânica verificamos o seguinte:
soil (n.1)  = c.1300, originally "land, area, place," from Anglo-French soil "piece of ground, place" (13c.), from an merger or confusion of Old French sol "bottom, ground, soil" (12c., from Latin solum "soil, ground;" see sole (n.1)), Old French soeul, sueil "threshold, area, place" (from Latin solium "seat"), and Old French soil, soille "a miry place," from soillier (see soil (v.)). Meaning "place of one's nativity" is from c.1400. Meaning "mould, earth, dirt" (especially that which plants grow in) is attested from mid-15c.
Conhecemo o termo do direito de naturalização nas variantes jus soli / jus sanguinis. A origem parece decorrer ora do latim solum = solo; ora do latim solium = Assento < sentar < Lat. *sedentare, calcado em sedente < sed-ere = sentar < sed + ulla > se(d)ella > sella > «sela» = espécie de assento acolchoado que se coloca no dorso da cavalgadura, para comodidade do cavaleiro.
Pois bem, se não nos é fácil encontrar a etimologia para solium veremos que para sele é mais fácil.
Como em latim solium tinha a semantica do trono e do palanque dos deuses podemos considerar que a palavra resultou de uma confusão compromisso entre o «solo» e sella como base de assento do trono e o estado de solidão de quem se senta no trono. Por outro lado, um trono seguro teria que ser «sólido», ou seja estar bem acente no solo!
«Solo» < Lat. Solu > Lat. Soli(d)u > Solium.
From Middle English sole, soule, from Old French sol, soul (“alone”), from Latin sōlus (“alone, single, solitary, lonely”), of unknown origin. Perhaps related to Old Latin sollus (“whole, complete”), from Proto-Indo-European *solw-, *salw-, *slōw- (“safe, healthy”). More at save.
Obviamente que é um disparate procurar uma etimologia específica para a solidão quendo é uma óbia metáfora da forma solitária como «sol» rege a abóbada eleste!
Da latina sella também ninguém se atreve a postular uma etimologia que pode ser afinal um diminutivo de sed- como parece recordar-se na cela portuguesa dos cavalos e no celim das bicicletas.
Porem, fosse pelos latinos solu ou soliu a origem do nome do «solo» não parece ser clara porque tanto pode ser o que fica exposto ao sol como o que é pisado pela sola dos sapatos.
O termo teve seguramente ressonâncias do judaico Cheol!
From Middle English sole, soole, from Old English sole, solu (“shoe, sandal, sole”), from Proto-Germanic *sulô, *suljō (“sandal, shoe, sole”), from Latin solea (“sandal, bottom of the shoe”), from Proto-Indo-European *swol- (“sole”). Cognate with Dutch zool (“sole, tread”), German Sohle (“sole, insole, bottom, floor”), Danish sål (“sole”), Icelandic sóli (“sole, outsole”), Gothic sulja (“sandal”). Related to Latin solum (“bottom, ground, soil”). More at soil.
Por sua fez a sola dos sapatos parece reportar-nos para sandálias feitas de corda que terá sido o material mais antigo do calçado!
From Middle English sole, soole, from Old English sāl (“a rope, cord, line, bond, rein, door-hinge, necklace, collar”), from Proto-Germanic *sailą, *sailaz (“rope, cable”), *sailō (“noose, rein, bondage”), from Proto-Indo-European *sey- (“to tie to, tie together”). Cognate with Scots sale, saile (“halter, collar”), Dutch zeel (“rope, cord, strap”), German Seil (“rope, cable, wire”), Icelandic seil (“a string, line”). Non-Germanic cognate include Albanian dell (“sinew, vein”).
O culto de Dis Pater e dos deuses subterrâneos como Endovélico parece ser a marca genética dos celtas que quase seguramente terão tido maior relação com a cultura continental anatólica e semita do que os nórdicos que revelam na etimologia do termo que usam para a alma uma origem egeia.
Soul = (...) Old English sawol (...) from Proto-Germanic *saiwalo (cf. Old Saxon seola, Old Norse sala, Old Frisian sele, Middle Dutch siele, Dutch ziel, Old High German seula, German Seele, Gothic  saiwala), of uncertain origin.
Sometimes said to mean originally "coming from or belonging to the sea," because that was supposed to be the stopping place of the soul before birth or after death [Barnhart]; if so, it would be from Proto-Germanic *saiwaz (see sea). Klein explains this as "from the lake," as a dwelling-place of souls in ancient northern Europe.



[2] In Greek mythology, Paeon was a son of Poseidon by Helle, who fell into the Hellespont. In some legends he was called Edonus. He was the brother of the giant Almops.