Figura 1: Paixão de Turim, é uma pintura do pintor primitivo flamengo de origem alemã Hans Memling.
Contrariando o princípio maquiavélico caro a certos católicos, os fins morais de Jesus só ficavam justificados quando os meios utilizados fossem ainda mais nobres do que os próprios fins! Se quisermos, em Jesus os fins são justificados pelos meios! A glória política da “ressureição” do Messias apareceu miraculosamente como acréscimo místico de vitória póstuma do bem sobre o mal e foi justificada pela vitória pessoal de Jesus sobre a morte e sobre os ardis dos seus inimigos políticos e doutrinários!
Depois da insurreição no episódio da “expulsão dos vendilhões do templo”, como seria de esperar, a resistência judaica não cedeu:
Marc. 11: 18 E os escribas e príncipes dos sacerdotes, tendo ouvido isso, buscavam ocasião para o matar; pois eles o temiam porque toda a multidão estava admirada acerca da sua doutrina. 19 E, sendo já tarde, saiu para fora da cidade.
Marc. 11: 18 12E buscavam prendê-lo, mas temiam a multidão, porque entendiam que contra eles dizia esta parábola; e, deixando-o, foram-se. 13 E enviaram-lhe alguns dos fariseus e dos herodianos, para que o apanhassem em alguma palavra.
Perante uma situação de impasse político, para as autoridades judaicas, que seriam mais sensatas do que os cristãos as têm querido fazer, o ideal seria conseguir a rendição voluntária de Jesus para se evitarem confrontos populares nas ruas estreitas de Jerusalém.
João 11: 49 E Caifás, um deles, que era sumo-sacerdote naquele ano, lhes disse: Vós nada sabeis, 50 nem considerais que nos convém que um homem morra pelo povo e que não pereça toda a nação. 51 Ora, ele não disse isso de si mesmo, mas, sendo o sumo-sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus devia morrer pela nação. 52 E não somente pela nação, mas também para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos. 53 Desde aquele dia, pois, consultavam-se para o matarem. 54 Jesus, pois, já não andava manifestamente entre os judeus, mas retirou-se dali para a terra junto do deserto, para uma cidade chamada Efraim; e ali andava com os seus discípulos. 55 E estava próxima a Páscoa dos judeus, e muitos daquela região subiram a Jerusalém antes da Páscoa, para se purificarem. 56 Buscavam, pois, a Jesus e diziam uns aos outros, estando no templo: Que vos parece? Não virá à festa? 57 Ora, os principais dos sacerdotes e os fariseus tinham dado ordem para que, se alguém soubesse onde ele estava, o denunciasse, para o prenderem.
Ora parece que os judeus tinham consigo um trunfo que era Barrabás!
A idéia de que Jesus nunca morreu realmente na cruz pode ser encontrada no Alcorão, que foi escrito no século VII - na verdade, os muçulmanos de Ahmadiya afirmam que Jesus realmente fugiu para a Índia. Até hoje, há um santuário que supostamente marca seu verdadeiro lugar de enterro em Srinagar, Caxemira. Com o início do século XIX, Karl Bahrdt, Karl Venturini e outros tentaram explicar a Ressurreição sugerindo que Jesus apenas se desvaneceu por esgotamento na cruz, ou lhe deram uma droga que o fez parecer morrer e que ele teria mais tarde revivido pelo ar frio e húmido do túmulo. Os teóricos da conspiração reforçaram essa hipótese ao apontar que Jesus havia recebido algum líquido em uma esponja enquanto estava na cruz (Marcos 15:36) e que Pilatos parecia surpreso com a rapidez com que Jesus havia sucumbido (Marcos 15:44). Consequentemente, eles disseram que o ressecamento de Jesus não era uma ressurreição milagrosa, mas apenas uma ressuscitação fortuita, e seu túmulo estava vazio porque continuava a viver. Embora estudiosos respeitáveis tenham repudiado essa chamada teoria do desmaio, ela continua recorrendo na literatura popular. Em 1929 D. H. Lawrence criou este tema em uma breve história na qual ele sugeriu que Jesus fugira para o Egipto, onde ele se apaixonou pela sacerdotisa Isis. Em 1965, o best-seller de Hugh Schonfield The Passover Plot alegou que foi apenas o esfaqueamento impensado de Jesus pelo soldado romano que frustrou seu esquema complicado para escapar da cruz vivo, embora Schonfield tenha admitido: "Nós não estamos reivindicando nada...que [O livro] representa o que realmente aconteceu. "A hipótese do desmaio surgiu novamente em 1972 no livro de Donovan Joyce, The Jesus Scroll, que" contém uma série de improbabilidades ainda mais incrível do que a de Schonfield", de acordo com o especialista em ressurreições, Gary Habermas. Em 1982, “holy Blood, holy Grail” acrescentou que Pôncio Pilatos tinha sido subornado para permitir que Jesus fosse derrubado da cruz antes de morrer. Mesmo assim, os autores confessaram: "nós não poderíamos - e ainda não podemos - provar a precisão de nossa conclusão". Recentemente, 1992, uma académica pouco conhecido da Austrália, Barbara Thiering, provocou uma reviravolta revivendo a teoria do desmaio no seu livro Reserve Jesus e o Riddle of the Dead Sea Scrolls, que foi introduzido com muita fanfarra por uma bem respeitada editora dos EUA e depois ironicamente demitido pelo estudioso da Universidade Emory, Luke Timothy Johnson, como sendo "a caca mais pura, um produto de uma imaginação febril, em vez de cuidadosa análise”.[1]
Quando se trata de liberdade de crença cada um acredita no que mais lhe convém, ou seja, existe um preconceito intrínseco a todo o sistema de fé que faz com que se acredite no que se está preparado para crer. Obviamente que quem não acredita em milagres antinaturais também não pode acreditar na ressurreição pós mortem porque tal constitui uma contradição absoluta tanto nos termos como nos princípios elementares das ciências médicas e ofende os pilares fundamentais do senso comum do pensamento actual. No entanto, os crentes em fantasias impossíveis são os primeiros a denegrirem as explicações racionalistas mais plausíveis por serem fantasiosas, o que demonstra uma hipocrisia intelectual inaudita, de que raramente se apercebem. Para qualquer crente as fantasias dos outros são sempre mais quiméricas do que as suas alucinações.
Porém, as ressurreições miraculosas não são exclusivas do cristianismo e só por um grosseiro desconhecimento se ignora toda uma longa série de ressurreições mitológicas, se bem que a sensatez da mitologia clássica oficial preferisse as metamorfoses como solução para a vitória da virtude sobre precariedade da vida. Hércules e Teseu passaram pelos infernos e voltaram à vida. Os cultos de morte e ressurreição mística eram o elemento fundamental dos ritos pascais pré cristãos, como o de Adónis e Tamuz. Osíris nuns mitos ressuscitou e foi morto novamente enquanto noutros ressuscitou sexualmente e fecundou Ísis, o que estava em sintonia o conteudo sexual dos ritos de passagem de que estes mitos faziam parte. Ou seja, por vezes os antigos eram mais relutantes que os cristãos em romperem com a lógica elementar do senso comum de que neste mundo só a morte é absoluta inelutável e irreversível.
Figura 2: Pintura de autor desconhecido em painel com cenas da Paixão da Igreja Cristã de Santiago em Torun na Polónia.
Ver: TAMUZ (***)
Ressurreições como as de Lazaro eram relativamente fáceis para Jesus e continuaram a sê-lo para os apóstolos cujos Actos e legendário estão repletos de milagres deste tipo. Deixando aqui as devidas desculpas aos crentes pelo lado blasfemo desta argumentação a verdade que deveria ser a facilidade com que se morria e ressuscitava na antiguidade, cristã, e não só, o que deveria colocar, os cristãos modernos, na retranca em relação à realidade literal da ressurreição de Jesus. Os erros de diagnóstico e as mortes aparentes fizeram, por insuficiência médica, as delícias dos taumaturgos antigos.
Claro que S. Paulo aceitava que a ressurreição mística de Cristo era a essência nuclear da crença cristã, mas, estaria ele a pensar na ressurreição física de Jesus ou antes na ressurreição mística de Cristo? É que, quer queiramos quer não, aceitar a ressurreição literal de Jesus implica aceitar como plausíveis todas as restantes ressurreições literais anteriores e posteriores à de Jesus. Apostar que a de Jesus foi a única na história da humanidade é sintoma de orgulho cultural tão estulto como o dos judeus se julgarem ainda um povo eleito (quando já será apenas a duodécima parte das tribos de Israel). Em qualquer caso, constituem uma singularidade de fé que deixa de ser um assunto para discussão académica e passa a ser assunto para comentar no espaço recolhidos das igrejas. Chamar a estas discussões cientistas e médicos é apenas sintoma de fraqueza de fé ou fragilidade mística.
Para que Jesus possa ser colocado na tradição eterna dos ciclos de morte e ressurreição mística da natureza há que aceitar esta realidade apenas no plano mítico e procurar na ciência apenas os factos que possam desvendar o suporte natural justificativo do fenómeno social da crença na ressurreição física, outrora tão comum e hoje reduzido aos limites do imponderável nas unidades de cuidados intensivos dos hospitais civilizados. Dito deste modo, a crença na ressurreição literal é um resquício de paganismo, tal como a deificação de Cristo na pessoa exclusiva do homem Jesus constitui uma contradição nos termos, obrigando-o a fazer figura de pelintra ao lado da deificação em vida dos imperadores romanos e outros semideuses da antiguidade.
A este respeito os óbices levantados por judeus e muçulmanos continuam hoje mais pertinentes do que nunca. O facto de os cristãos não começarem a racionalizar as suas crenças e dogmas e a despirem a tradição evangélica dos seus resquícios de superstição, transformando o maravilhoso mítico dos textos sagrados em eufemismos de mera retórica mística, só contribui para que os ”homens de boa vontade” se afastarem para não perderem o comboio da vanguarda da tradição espiritual em que o gnosticismo colocou o cristianismo e do qual este foi banido quando não se adaptou à sensatez dos tempos do fim do império romano.
Segundo S. Paulo, a crença na morte de Jesus, que constituía um motivo de orgulhosa loucura divina para os cristãos, era um escândalo para os judeus e um sinal de loucura para os gentios não tanto por ter sido seguida de ressurreição mas por ter sido uma morte ignominiosa na cruz!
1ª Cor. 1, 18Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. 19porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a sabedoria e o entendimento dos entendidos. 20Onde está o sábio? Onde o escriba? Onde o questionador deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? 21Visto como na sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus, aprouve a Deus salvar pela loucura da pregação os que crêem. 22Pois, enquanto os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria, 23nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos, 24mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus. 25Porque a loucura de Deus é mais sábia que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens.
Pois bem, são as próprias palavras de mística insensata de S. Paulo, tão contestado por isso mesmo no seu tempo, que têm que ser revistas no contexto da modernidade para se retomar o verdadeiro sentido humanista da história de Jesus.
1ª Cor. 15, 11Então, ou seja eu ou sejam eles, assim pregamos e assim crestes.12Ora, se se prega que Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, como dizem alguns entre vós que não há ressurreição de mortos?
Obviamente que esta afirmação corresponde a uma contradição óbvia nos termos o que significa que não seria bem isto o que Paulo quereria dizer. Paulo apenas poderia afirmar que alguns continuavam a dizer:“não há ressurreição de mortos”, mesmo depois de muitas pregações de discípulos de Cristo e mesmo tendo sido isto há mais de dois mil anos.
Mas de facto, para Paulo a ressurreição era a principal razão de se ser cristão!
13Mas se não há ressurreição de mortos, também Cristo não foi ressuscitado.14E, se Cristo não foi ressuscitado, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.15E assim somos também considerados como falsas testemunhas de Deus que ele ressuscitou a Cristo, ao qual, porém, não ressuscitou, se, na verdade, os mortos não são ressuscitados.16Porque, se os mortos não são ressuscitados, também Cristo não foi ressuscitado.17E, se Cristo não foi ressuscitado, é vã a vossa fé, e ainda estais nos vossos pecados.18Logo, também os que dormiram em Cristo estão perdidos.
Ou seja, S. Paulo envolve-se num raciocínio que qualquer académico aristotélico teria considerado medíocre. As redundâncias repetitivas da mesma ideia revelam mais as incertezas argumentativas de S. Paulo do que a convicção lógica do que se expõe, pois o seu raciocínio parece perdido em falácias ad terrorem. O lado místico do conceito Paulino da ressurreição é bem patente na forma como a equaciona, com todas as falácias possíveis com o conceito metafísico de corpo ressurrecto:
1ª Cor. 15, 35Mas alguém dirá: Como ressuscitam os mortos? e com que qualidade de corpo vêm? 36Insensato! o que tu semeias não é vivificado, se primeiro não morrer. 37E, quando semeias, não semeias o corpo que há de nascer, mas o simples grão, como o de trigo, ou o de outra qualquer semente. 38Mas Deus lhe dá um corpo como lhe aprouve, e a cada uma das sementes um corpo próprio. 39Nem toda carne é uma mesma carne; mas uma é a carne dos homens, outra a carne dos animais, outra a das aves e outra a dos peixes. 40Também há corpos celestes e corpos terrestres, mas uma é a glória dos celestes e outra a dos terrestres. 41Uma é a glória do sol, outra a glória da lua e outra a glória das estrelas; porque uma estrela difere em glória de outra estrela. 42Assim também é a ressurreição, é ressuscitado em incorrupção. 43Semeia-se em ignomínia, é ressuscitado em glória. Semeia-se em fraqueza, é ressuscitado em poder. 44Semeia-se corpo animal, é ressuscitado corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual.
A metáfora mística torna-se ainda mais surpreendente quando Paulo abusa da loucura divina afirmando:
1ª Cor. 15, 51Eis aqui vos digo um mistério: Nem todos dormiremos mas todos seremos transformados, 52num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos serão ressuscitados incorruptíveis, e nós seremos transformados. 53Porque é necessário que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade e que isto que é mortal se revista da imortalidade. 54Mas, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrito: Tragada foi a morte na vitória. 55Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? 56O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. 57Mas graça a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo.
Se são Paulo falava literalmente e não numa linguagem mística e metafórica então porque é que os mortos modernos não ressuscitam literalmente e apenas são reanimados pela medicina? Como ignorar que toda esta ideologia mística fazia parte dum conjunto mais vasto de crenças obscuras que tinham por suporte subconsciente a esperança do fim da opressão do império romano manifestada na Parúsia apocalíptica do fim do mundo? Ora, se nem a parusia (ou parúsia) aconteceu, quando ainda se acreditava como estando próxima dos tempos apostólicos, nem mais tarde nos movimentos milenaristas, seria motivos para começar a duvidar da literalidade da fraseologia doutrinária que acompanhava estas crenças.
De resto, as citações dos poemas proféticos anti-termodinâmico são controversas:
“Tragada foi a morte na vitória.
55Onde está, ó morte, a tua vitória?
Onde está, ó morte, o teu aguilhão?
Isaías 25:8 Massorético: “Vai tragar a morte na vitória…”
LXX: "A Morte prevaleceu e tragou os homens.”
Oséias 13:14 Massorético: “…Ó morte, eu serei as tuas pragas; Ó cova, eu serei a tua destruição.”
LXX: “Onde está a tua pena, Ó morte? Ó Hades, onde está o teu aguilhão?
E não basta desculpar S. Paulo dizendo, como se dum escritor comum se tratasse, que de Isaías não se trata de uma “citação exacta, porém é mais que uma referência. Não há razão para se acreditar que seja baseada na LXX em vez de no texto em Hebraico. E que Paulo não está citando Oséias realmente, mas expressando um pensamento semelhante.”
Enfim, a respeito de Santos inspirados pelo divino Espírito Santo não deveria ser bem assim, ou seja, cada um inspira e expira conforme a fé que tiver! E para São Paulo a pregação era a sua forma de transpirar e de ganhar a vida com o suor do rosto! Se S. Paulo não fora um homem religioso convicto teria sido um agente romano interessado em impregnar o judaísmo acético e monoteísta de misticismo oriental. Mas a convicção interesseira de S. Paulo revela-se obvia! Não eram os preceitos morais nem a sabedoria de vida cristã trazida por Jesus que lhe interessavam mesmo que fosse isso afinal o reino de deus pregado por Jesus. O ambicioso, batalhador e justiceiro S. Paulo pretendia ganhar tudo com a sua fé em Cristo ou seja porque a trombeta soará e os mortos serão ressuscitados incorruptíveis, e nós seremos transformados…em corpo e alma!
Obviamente que este misticismo Paulino só seria novidade para S. Paulo pois qualquer iniciado nos mistérios gregos e outros mistérios solares de morte e ressurreição saberia o mesmo!
Possivelmente o que teria transformado este fanático da ortodoxia judaica num adepto duma ressurreição em que mesmo os fariseus acreditavam sem precisarem da mediação nem do compromisso de Jesus Cristo seria de facto um mistério nunca revelado mas que afinal seria outra forma de escândalo: Cristo estava vivo em Damasco na casa de Ananias e S. Paulo vi-O, tocou-O e falou com Ele e talvez ambos se tenham mutuamente seduzido! Dai a profunda convicção de S. Paulo a respeito da ressurreição de Jesus de cuja morte teria tido a profunda convicção dos restantes judeus dos anos em que perseguiu os primeiros cristãos.
A tese oficial mais credível do senso comum judaico era a de que ninguém escapa a morte na cruz e a falta do corpo no túmulo de Jesus só poderia ser um roubo com ocultação de cadáver, crime ainda hoje punível pela lei penal moderna. Nunca teria passado pela cabeça de um qualquer judeu da época e menos pela de S. Paulo que Jesus tivesse simplesmente ludibriado a morte na cruz. Alguns discípulos sabiam que Jesus teria conseguido ludibriar a morte e para eles esse era o milagre bastante e a resposta possível ao repto poético de Oseias:
“Ó morte, eu serei as tuas pragas;
Ó cova, eu serei a tua destruição.”
Mas, é óbvio que o cristianismo, neste como noutros pontos, só se sustenta no plano das metáforas místicas e, portanto, a análise da teologia racional dos evangelhos entre duas mentiras piedosas possíveis e alguns erros de tradução nos obriga a aceitar a mais sensata no plano da razoabilidade. A esse respeito o evangelho apócrifo de Filipe parece ser bem mais inteligente quando afirma:
21. Aqueles que dizem: "O Senhor primeiro morreu e depois ressuscitou", se equivocam. Ele primeiro ressuscitou e depois morreu. Se alguém antes não procura a ressurreição, não morrerá. Assim como Deus vive, aquele estaria já mo rto. -- O Mistério da Câmara Nupcial ou O Evangelho de Filipe.
De facto, ou a ressurreição de Jesus é tão verdadeira como as que Ele, seus discípulos e tantos outros taumaturgos, efectuaram ao longo da história por mero erro do diagnóstico da morte, ou seja uma mentira técnica inadmissível num texto que se pretende irrepreensível na inspiração divina mas aceitável nos limites da falibilidade humana, ou se tratou duma verdade histórica distorcida pela crendice popular com a cumplicidade da hierarquia eclesiástica, verdade esta que não passou duma fraude piedosa, mais doutrinária do que política, destinada a fazer com que Jesus pudesse, mais uma vez, dar uma lição aos poderosos do seu tempo tornando-se motivo de escândalo para os judeus e fazendo com que os romanos passassem por parvos! Na verdade, Jesus enquanto espírito radical e judeu de sangue nunca poderia deixar de ser, em rigor natural, pelo menos tão anti-romano que o comum dos judeus do seu tempo. O mesmo se poderia dizer hoje de qualquer cidadão do terceiro mundo que, sem as ver nem ouvir, se apercebe das incongruências dos bem-pensantes crentes no «god save America” que são as lágrimas de crocodilo vertidas no conforto dos sofás do «American way of life» sobre o leite derramado das crueldades antigas como se não houvera, de forma mutatis mutandis cruezas relativas modernas bastantes para pensar que uma visão medieval de Cristo coloca o cristianismo numa posição mais arcaica do que o sempre humano Sócrates, o pouco santo e muito humano profeta Maomé ou o muito humano e mais ainda virtuoso Buda.
The plush setting was starkly incongruous with the subject we were discussing. There we were, sitting in the living room of Metherell's comfortable California home on a balmy spring evening, warm ocean breezes whispering through the windows, while we were talking about a topic of unimaginable brutality: a beating so barbarous that it shocks the conscience, and a form of capital punishment so depraved that it stands as wretched testimony to man's inhumanity to man.[2]
Porque é que de todos estes grandes vultos do passado que permanecem presentes por detrás da ética moderna têm menos direito à divinização do que Jesus sendo apesar de tudo historicamente menos incontestados? Precisamente por isto, ou seja porque a divindade participa do mito e este deve pouco há história! E a história vale ainda hoje muito menos que uma boa mal contada que possa ser escrita ou filmada e…vendida!
Um antigo pesquisador que ensinou na Universidade da Califórnia, Metherell é editor de cinco livros científicos e que escreveu para publicações que vão desde Aerospace Medicine até Scientific American. Sua análise engenhosa da contracção muscular foi publicada em The Physiologist e Biophysics Journal. Ele mesmo veste o papel de uma autoridade médica de forma distinta: ele é uma figura imponente com cabelos prateados e um comportamento cortês e formal.
Eu serei honesto: às vezes me perguntei o que estava acontecendo dentro de Metherell. Com a reserva científica, falando devagar e metódica, ele não deu nenhuma sugestão de qualquer turbulência interior, enquanto descrevia calmamente os detalhes arrepiantes da morte de Jesus. Tudo o que estava acontecendo por baixo, qualquer angústia que ele causasse como cristão para falar sobre o destino cruel que aconteceu com Jesus, ele foi capaz de a mascarar com um profissionalismo nascido em décadas de pesquisa laboratórial. Ele apenas me deu os fatos e, afinal, era o que eu tinha procurado viajando ao longo do país para os conseguir. [3]
Com todo este glamour californiano não há leitor de literatura cor-de-rosa que não fique convencido que a prova cientifica de cristianidade se continua a fazer à boa maneira medieval. Já nem é mesmo sequer necessário saber se o magister dixit (quod dixit) por ter sido laureado com um prémio Nobel bastando para tanta razão de autoridade meras credenciais duma pós graduação num curso universitário californiano do século XX numa medicina aeroespacial de ficção científica do século XII.
O irrisório da situação é imaginar que analisar cientificamente a morte e ressurreição de Jesus à luz desta novíssima especialidade médica incorre tanto no risco da insipiência dos recém-nascidos quanto na possibilidade de poder ser tomada por uma estranha forma de ironia angelical que tem quase tanto de mitologia urbana quanto de laivos de ovnilogia, de mistura com anacronismos por defeito de profissão do tecnicismo moderno. Em rigor, pode e deve recorrer-se a todos os instrumentos de análise desde que sem parti pris nem, sobretudo, grandes saltos mortais fora dum ambiente aeroespacial!
Inicialmente, eu queria provocar de Metherell, uma descrição básica dos eventos que levaram à morte de Jesus. Então, depois de um tempo de bate-papo social, abaixei meu chá gelado e me movi na minha cadeira para encará-lo direc
tamente. "Você poderia pintar uma imagem do que aconteceu com Jesus?" Eu perguntei. Ele limpou a garganta. "Ele começou depois da Última Ceia", disse ele. "Jesus foi com seus discípulos para o Monte das Oliveiras - especificamente, para o Jardim do Getsêmani. E, se você se lembrar, ele rezou a noite toda. Agora, durante esse processo, ele estava antecipando os próximos eventos do próximo dia. Como ele sabia que a quantidade de sofrimento deveria ter que suportar, ele estava naturalmente experimentando um grande stresse psicológico: "Levantei minha mão para detê-lo." Whoa - aqui é onde os cépticos têm um longo dia de trabalho de campo ", lhe disse eu. "Os evangelhos nos dizem que ele começou a suar sangue neste momento. Agora, vamos, não é só um produto de alguma imaginação hiperactiva? Isso não questiona a exactidão dos escritores do evangelho? "Insatisfeito, Metherell sacudiu a cabeça."Na verdade, respondeu ele, "esta é uma condição médica conhecida chamada" HEMATIDROSIS ". Não é muito comum, mas está associado a um alto grau de stresse psicológico.[4]
Esta teoria, apresentada aqui com parangonas de descoberta aeroespacial não é original pois outros pensaram e incorreram no mesmo erro de acreditarem no mito da hemohidrose mas nem sempre tiveram a falta de lucidez de confundiram este fenómeno esfíngico com uma hemorragia em toalha, de abundância tal que pudesse provocar choque por hipovolémia.
Na vizinhança de Getsémani, Jesus, aparentemente sabendo que o tempo de sua morte estava próximo, sofreu grande angústia mental e, conforme descrito pelo médico Lucas, seu suor se tornou como sangue. (1) Embora este seja um fenómeno muito raro, o suor sangrento (hematidrose ou hemohidrose) pode ocorrer em estados altamente emocionais ou em pessoas com distúrbios hemorrágicos. (18,20) Como resultado da hemorragia nas glândulas sudoríparas, a pele torna-se frágil e macia. (2,11) As descrições de Lucas suportam o diagnóstico de hematidrose em vez de cromidrose ecrina (suor marrom ou amarelo-verde) ou estigmatização (sangue escorrendo das palmas das mãos ou em outros lugares). (18,21) Embora alguns autores tenham sugerido que a hematidrose produziu hipovolemia, concordamos com Bucklin (5) que a perda real de sangue de Jesus provavelmente era mínima. No entanto, no ar frio da noite, (1) pode ter produzido calafrios.-- [5]
A verdade é que estamos perante fenómenos que se revestem de roupagem de ciências biomédicas mas que se referem a realidades que têm mais de medicinas alternativas do que de veracidade clínica. Não necessito sequer de invocar o meu estatuto de perito médico-legal para confirmar que nunca conheci tal fenómeno, que também nunca me foi ensinado fora do contexto bíblico, nem conheci nunca nenhum colega que alguma vez tenha encontrado um caso clínico destes que, dada a sua suposta raridade, a aparecer daria direito a um simpósio médico e a primeiras páginas nos jornais, promovido por uma industria de expansores plasmáticos, e a contento de amantes de videntes e estigmatizados.
"Sou um cirurgião, e dou aulas há algum tempo. Por treze anos vivi em companhia de cadáveres e durante a minha carreira estudei anatomia a fundo. Posso portanto escrever sem presunção a respeito de morte como aquela. Jesus entrou em agonia no Getsemani e seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra. O único evangelista que relata o fato é um médico, Lucas. E o faz com a decisão de um clínico. O suar sangue, ou”hematidrose", é um fenômeno raríssimo. É produzido em condições excepcionais. Para provocá-lo é necessário uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento moral violento causado por uma profunda emoção, por um grande medo. O terror, o susto, a angústia terrível de sentir-se carregando todos os pecados dos homens devem ter esmagado Jesus. Tal tensão extrema produz o rompimento das finíssimas veias capilares que estão sob as glândulas sudoríparas, o sangue se mistura ao suor e se concentra sobre a pele, e então escorre por todo o corpo até a terra. -- Dr. Barbet, médico francês.
Neste caso o medico Lucas, um médico da época de Galeno, se não estava a divagar metaforicamente por sua conta e risco, terá usado um dos muitíssimos conceitos erróneos da medicina hipocrática para descrever em segunda mão algo que seria tão metafórico como ”suar as estopinhas”, ”sofrer até às fezes”, ou ”passar as passas do Algarve”! De facto, “O suar sangue, ou ”hematidrose", é um fenômeno (tão) raríssimo” que nem sequer existefora do contexto do evangelho segundo S. Lucas pelo que terá que concluir-se que se trata duma velharia médica exclusiva da arqueologia medieval católica...fruto mais de uma materialização metafórica do que de realidade delirante. Utiliza-la ainda nos dias de hoje como meio de prova num contexto de aceitação literal dos evangelhos seria o mesmo o mesmo que incluir a teoria do «bucho tombado ou de espinhela caída” da medicina popular nas aulas de patologia geral, anacronismo tão pouco recomendável como todas as que os cristãos criticavam na mitologia dos pagãos da época clássica!
Sabendo-se que ainda hoje a gíria da dermatologia deve muito a metáforas morfológicas e aceitando que Lucas tinha a probidade dum médico honesto, é possível que a ”hematidrose”,nome inventado por médicos que, na época de Lucas, não teriam escrúpulos em provaremquea morte de Hércules tinha sido, de facto e veramente, provocada pelo feitiço vingador da camisa ensanguentado com o próprio sangue do centauro Nesso, correspondendo por isso à descrição morfológica dos exsudados sero-hemático, por fragilidade capilar, consecutivas a lesões erosivas da epiderme particularmente no caso de lesões pós-traumáticas tais como: lesões bolhosas esfoliativas, abrasões e escoriações extensas. Neste caso a denominada ”hematidrose” de Lucas estaria deslocada do contexto porque deveria fazer parte das cenas seguintes da flagelação, ou seja, a cena do “Ecce homo”. No entanto, como se verá, a flagelação é de historicidade duvidosa porque parece que não faria parte do sistema penal romano e de facto, os dois ladrões crucificados com Jesus pareciam estar pendurados na respectiva cruz, robustos e frescos como uma alface, a julgar pela sua loquacidade e ironia.
Ver: A MORTE DE HÉRCULES (***)
[1] The idea that Jesus never really died on the cross can be found in the Koran, which was written in the seventh century -in fact, Ahmadiya Muslims contend that Jesus actually fled to India. To this day there's a shrine that supposedly marks his real burial place in Srinagar, Kashmir. As the nineteenth century dawned, Karl Bahrdt, Karl Venturini, and others tried to explain away the Resurrection by suggesting that Jesus only fainted from exhaustion on the cross, or he had been given a drug that made him appear to die, and that he had later been revived by the cool, damp air of the tomb. Conspiracy theorists bolstered this hypothesis by pointing out that Jesus had been given some liquid on a sponge while on the cross (Mark 15:36) and that Pilate seemed surprised at how quickly Jesus had succumbed (Mark 15:44). Consequently, they said, Jesus' reappearance wasn't a miraculous resurrection but merely a fortuitous resuscitation, and his tomb was empty because he continued to live. While reputable scholars have repudiated this so-called swoon theory, it keeps recurring in popular literature. In 1929 D. H. Lawrence wove this theme into a short story in which he suggested that Jesus had fled to Egypt, where he fell in love with the priestess Isis. In 1965 Hugh Schonfield's best-seller The Passover Plot alleged that it was only the unanticipated stabbing of Jesus by the Roman soldier that foiled his complicated scheme to escape the cross alive, even though Schonfield conceded,”We are nowhere claiming... that [the book] represents what actually happened.”The swoon hypothesis popped up again in Donovan Joyce's 1972 book The Jesus Scroll which”contains an even more incredible string of improbabilities than Schonfield's,”according to Resurrections expert Gary Habermas In 1982 sadded the twist that Pontius Pilate had been bribed to allow Jesus to be taken down from the cross before he was dead. Even so, the authors confessed”We could not--and still cannot--prove the accuracy of our conclusion.”As recently as 1992 a little-known academic from Australia, Barbara Thiering, caused a stir by reviving the swoon theory in her book Jesus and the Riddle of the Dead Sea Scrolls, which was introduced with much fanfare by a well-respected U.S. publisher and then derisively dismissed by Emory University scholar Luke Timothy Johnson as being”the purest poppycock, the product of fevered imagination rather than careful analysis. -- THE MEDICAL EVIDENCE: WAS JESUS’ DEATH A SHAM AND HIS RESURRECTION A HOAX?, Taken from THE CASE FOR EASTER Lee Strobel.
[2] The Case for Easter: A Journalist Investigates the Evidence for the Resurrection, Strobel, Lee
[3] A former research scientist who has taught at the University of California, Metherell is editor of five scientific books and has written for publications ranging from Aerospace Medicine to Scientific American. His ingenious analysis of muscular contraction has been published in The Physiologist and Biophysics Journal He even looks the role of a distinguished medical authority: he's an imposing figure with silver hair and a courteous yet formal demeanor. I'll be honest: at times I wondered what was going on inside Metherell. With scientific reserve, speaking slowly and methodically, he gave no hint of any inner turmoil as he calmly described the chilling details of Jesus' demise. Whatever was going on underneath, whatever distress it caused him as a Christian to talk about the cruel fate that befell Jesus, he was able to mask with a professionalism born out of decades of laboratory research. He just gave me the facts and after all, that was what I had traveled halfway across the country to get. -- The Case for Easter: A Journalist Investigates the Evidence for the Resurrection, Strobel, Lee.
[4] Initially I wanted to elicit from Metherell, a basic description of the events leading up to Jesus' death. So after a time of social chat, I put down my iced tea and shifted in my chair to face him squarely.”Could you paint a picture of what happened to Jesus?”I asked. He cleared his throat. 1'It began after the Last Supper,”he said.”Jesus went with his disciples to the Mount of Olives-specifically, to the Garden of Gethsemane. And there, if you remember, he prayed all night. Now, during that process he was anticipating the coming events of the next day. Since he knew the amount of suffering be was going to have to endure, he was quite naturally experiencing a great deal of psychological stress,”I raised my hand to stop him.”Whoa - here's where skeptics have a field day,”I told him.”The gospels tell us he began to sweat blood at this point. Now, come on, isn't that just a product of some overactive imaginations? Doesn't that call into question the accuracy of the gospel writers?”Unfazed, Metherell shook his head.”Not at all,'1 he replied.”This is a known medical condition called”HEMATIDROSIS". It's not very common, but it is associated with a high degree of psychological stress. -- The Case for Easter: A Journalist Investigates the Evidence for the Resurrection, Strobel, Lee.
[5] At nearby Gethsemane, Jesus, apparently knowing that the time of his death was near, suffered great mental anguish, and, as described by the physician Luke, his sweat became like blood. (1) Although this is a very rare phenomenon, bloody sweat (hematidrosis or hemohidrosis) may occur in highly emotional states or in persons with bleeding disorders. (18,20) As a result of hemorrhage into the sweat glands, the skin becomes fragile and tender. (2,11) Luke's descriptions supports the diagnosis of hematidrosis rather than eccrine chromidrosis (brown or yellow-green sweat) or stigmatization (blood oozing from the palms or elsewhere). (18,21) Although some authors have suggested that hematidrosis produced hypovolemia, we agree with Bucklin (5) that Jesus' actual blood loss probably was minimal. However, in the cold night air, (1) it may have produced chills. -- EVIDENCE FOR THERESURRECTION, By Josh McDowell.
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