domingo, 3 de julho de 2022

ECO e a equidade, por Artur Felisberto

 


Equidade (em latim: Aequitas) era um conceito latino que evocava a noção de justiça, igualdade, conformidade, simetria. Na Roma Antiga, pode referir-se tanto o conceito legal de equidade ou justiça entre indivíduos.

Foi desenvolvido no direito romano dentro do âmbito do "ius honorário", forjado pela jurisprudência dos pretos, a fim de se desviar das regras rígidas e ritualistas da "ius civil" em nome de um princípio de equidade entre as partes.

Cícero dividiu a equidade em três partes: a primeira pertencia aos deuses acima (ad superos deos) e que era equivalente à piedade, obrigação religiosa; a segunda que pertencia aos Manes, os espíritos do mundo inferior ou espíritos da morte, que eram sagrados (sanctitas); e a terceira pertencia aos seres humanos (homines) sob a forma da justiça (iustitia).

Durante o Império Romano, Equidade como uma personificação divina era parte da propaganda religiosa do império, sob o nome "Equidade do Augusto" (Aequitas Augusti), que também aparece em moedas. Ela é retratada em moedas segurando uma cornucópia e uma balança (libra), que era frequentemente mais um símbolo da "medida honesta" para os romanos do que de justiça.



Figura 11: AEQUITAS AVG, Aequitas standing left holding scales and cornucopia.

A deusa equidade era identificada coma a deusa Moneta.



Figura 12: OBVERSE: IMP DIOCLETIANVS P F AVG, laureate head right. REVERSE: SACR MONET AVGG ET CAESS NOSTR, Moneta.

«Igual» < aequ-alis < Lat. Aequus < aiquos

< proto-itálico *aikʷos ou *aikwos < de origem desconhecida.

Cf. no entanto, a tribo itálica Aequī, Aequīcolī (+ raiva), e os topônimos Aequum Tūticum (Hirpinia), Aequum Faliscum e Aequī Faliscī (Etruria), Superaequum (Samnium), em alguns dos quais o substantivo aequum (“planície”), em outros talvez o adjectivo "arrasado" possa ser visto. Provavelmente não relacionado à unidade sânscrita (aikya, “concórdia, identidade, mesmice”).

Aequus (aecus, Pac. 32 Rib.; Lucr. 5, 1023 Lachm. e Munro; AIQVOS, SC de Bacch. 1. 26), a, um, adj. anteriormente referido a ΕΙΚΩ, οικα, mas Pott o conecta com o sânscrito. ēka = um, como se fosse propriamente, um e uniforme; outros o consideram semelhante a aemulor, q. v..

Εἴκω = colher, ceder passagem < De uma forma mais antiga ϝεικω : weikō. De Proto-Indo-Europeu *weyk- (“curvar, dobrar; trocar”)

Εἴ-κω < ϝει-κω < wei-kō< ??? *weyk- (“curvar, dobrar; trocar”)

Ἔοικα = “parecer-se com” <Formas alternativas οἶκα (oîka) – Jonico

Et tempore et loco aequo,” Liv. 26, 3: “tempore aequo,” Suet. Caes. 35. —

Aequo = «adequado» < ad-aequāre

«Adequado» = 2. Que é bom ou próprio para determinado efeito, lugar ou objectivo. = APROPRIADO, CONVENIENTE, PRÓPRIO, ADEQUADO.

Tudo aponta para que «equidade» derive do conceito do que “é próprio dum lugar” (ou seja, uma ideia primitiva e intuitiva de moralidade relacionada com o que faz parte dos hábitos, tradições e costumes de um lugar ou comunidade.

Aequus < aiquos < proto-itálico *aikʷos ou *aikwos, < Ἔοικα

= “parecer-se com (Jonio oîka)< *Eu-oicos < οἶκος

 

Ver: DA ÉTICA À ESTÉTICA (***)

 

Já a alternativa εἴκω = colher, ceder passagem < forma mais antiga ϝεικω : weikō  < Proto-Indo-Europeu *weyk- (“curvar, dobrar; trocar”) será um falso cognato derivado de *εu-ἴκω > Ue-ἴκω > ϝεικω.

Ἵκω < *seyk- (“alcançar (para)”). Os sinônimos ἱκάνω (hikánō) e ἱκνέομαι (hiknéomai) são da mesma raiz, com sufixo nasal. Possivelmente cognato com ἥκω (hḗkō, “ter chegado, estar presente” Aqui!).

Ἥκω < Incerto, mas parece vir do proto-indo-europeu, talvez *seyk-. Compare ἵκω (híkō, “vir”).

«Eco» < Grego Ekhó

EKHO (Eco) era uma ninfa Oreiad do Monte Kithairon (Cithaeron) na Boiotia. A deusa Hera a amaldiçoou com apenas um eco por uma voz como punição por distraí-la dos assuntos de Zeus com sua tagarelice sem fim. Ela era amada pelo deus Pan, e ela mesma se apaixonou pelo menino Narkissos (Narciso). Quando o jovem rejeitou seus avanços, ela definhou, deixando nada para trás além de uma voz ecoando. Na antiga pintura de vasos gregos Ekho foi retratado como uma ninfa alada com o rosto envolto em um véu.

Pausanias, Descrição da Grécia 2. 35. 10 (trad. Jones) (livro de viagem grego C2 d.C.): "À direita do santuário de Khthonia (Chthonia) [ou seja, Deméter da Terra, na cidade de Hermione, Argos] há um pórtico, chamado pelos nativos de Pórtico de Ekho (Eco). É tal que, se um homem fala, reverbera pelo menos três vezes."

Eco era uma das Oréades, as ninfas das montanhas, e adorava sua própria voz. Como Zeus gostava estar entre as belas ninfas, visitava-as com grande frequência. Suspeitando dessas ausências do esposo, Hera veio à terra a fim de o apanhar em flagrante delito com as suas amantes.

Sendo a prolixa Eco a única do grupo que não se divertia com Zeus, intentou salvar as suas amigas, tagarelando com a esposa de Zeus ininterruptamente, de forma a possibilitar que o deus e as outras ninfas escapassem. Finalmente a deusa conseguiu livrar-se dela e, chegando ao campo onde os amantes estavam, encontrou-o deserto.

Zeus havia usado do dom de Eco falar fluente e eloquentemente pelos cotovelos para distrair a esposa, a fim de continuar os seus adultérios. Hera logo descobriu o ardil e condenou-a para sempre a repetir apenas as últimas palavras das frases que os outros diziam (ecolalia). A ninfa perdia assim seu mais precioso dom da tagarelice, aquilo que mais amava.



Figura 13: Eco & Narciso. Museu Arqueológico Nacional de Nápoles (inv. 9380); fresco de Pompeia (45-79 dC). (Restauro cibernético do autor).

Enquanto vagava em seu sofrimento, encontrou um homem chamado Narciso que era tão belo que tanto as mulheres quanto os homens se apaixonavam logo por ele assim que o viam.

Mas Narciso, que parecia não ter coração, não correspondia a ninguém.

Certo dia, vagando pelos bosques, Eco encontrou o belo mancebo por quem logo tombou de amores. Como não podia falar-lhe, limitou-se a segui-lo, sem ser vista.

O jovem, porém, estando perdido no caminho, perguntou: "Está alguém aqui?"

Ao que obteve apenas a resposta: "Aqui, aqui, aqui…".

Segundo outras fontes, Eco era uma ninfa que tinha maravilhosos dons de canto e dança, que desprezava os amores de qualquer homem. O deus Pã dela se apaixonou, mas obtém-lhe apenas o desdém. Tolhido em sua lascívia, Pã se enfurece, ordenando aos seus seguidores que a matem. Eco foi então estripada, e seus pedaços espalhados por toda a Terra.

A Titã Gaia incorporou os pedaços da ninfa, com os restos de sua voz, que repetem as últimas palavras que os outros dizem.

Em algumas variantes dessa versão, Eco e Pan chegaram a ter uma filha, chamada Jambe, de que derivou o nome dos versos jâmbicos (pé de verso formado por uma sílaba longa e outra breve).

«Eco» < Lat. Ēchō < ηχώ < ἠχή (ēkhḗ) < ἦχος (êkhos, “sound”) < Ἠχώ

            > Lat. ecce (homo)!

«Eis» < Lat Ecce < etimologia incerta. < Eia A-qui! (Ki = Terra), quase de certeza ou seja próximo da etimologia do Eco.

São fortes os indícios de que o mito de Eco é uma variante de várias deusas de amor e fertilidade particularmente Anat / Istar / Isis...e Ishat.

Ísis, Aset ou Eset, é uma das deusas mais importantes do antigo Egipto. Seu nome é a forma grega de uma antiga palavra egípcia para “trono”, ou melhor, sede ou assento. Não podemos garantir se foi o trono que deus nome ao assento por correlação hieroglífica ou, como seria mais lógico, se foi o nome do trono da deusa mãe ou de qualquer lugar onde esta se assentava. Como sabemos, primordialmente a deusa mãe era a terra e por isso qualquer lugar em cima da terra era um aqui onde a deusa mãe estava presente e sentada. Este conceito parece ser o que se manteve na mitologia do nome da deusa Eco: Aqui! Aqui! Aqui!

A relação desta mitologia com Pan e reminiscências de sacrifícios humanos arcaicos de fertilidade agrícola parecem garantir antiguidade desta deusa que acabou destronada por Hera das funções de deusa mãe como era Isis.

Ishat é uma deusa fenícia do fogo (seu nome significa simplesmente "Fogo"), chamada de "a cadela dos deuses". Ela é mencionada no Épico de Ba'al como um dos inimigos do Deus que é destruído por Anat, a Deusa guerreira. Ishat é chamado de "o ígneo" e é evidentemente uma deusa do fogo e do calor; como Ba'al é o Deus da chuva e do relâmpago (personificado como as deusas Talaya e Pidraya, respectivamente) Que traz umidade vivificante para uma terra seca, talvez Ishat represente o calor ardente do verão que faz com que as plantas murchem e morram.[1]

Quando uma deusa é destruída por outra é sinal de que a substituiu porque eram variantes da mesma entidade mítica.

Formas alternativas ᾱ̓χᾱ́ (ākhā́) - Dórico < ??? Do proto-indo-europeu *(s)wehgʰ-.

Cognatos são difíceis de atribuir com certeza, mas provavelmente incluem latim vāgiō, sânscrito वग्नु (vagnu), inglês antigo swōgan (inglês sough).

A etimologia indo-europeia não faz sentido quer porque não ressoa a nada quer porque não leva a nada que faça sentido.

Então teríamos:

Ἠχώ < ήχος (íchos) < ἠχή < Echat < Achat < Ichat.

             Ich-Ki < Ichat = Ich-Ati

Ἰξίων < Ich-Ki-ão.

“Ixion era filho de Ares, ou Leonteus, ou Antion e Perimele, ou o notório malfeitor Phlegyas, cujo nome conota "ardente”, ou seja, tem conotações com Ishat.

ῐ̔κέτης • (hikétēs) m (genitivo ῐ̔κέτου); primeira declinação (épico, ático, jônico) Aquele que vem em busca de ajuda ou proteção, suplicante = Aquele que vem em busca de purificação depois de ter assassinado alguém: comum na Ilíada e na Odisseia.

Ver Orestes e Recordar o «Adeste Fidelis!» Ou seja chegai-vos e sentai-vos Aqui no chão que é o seio da Terra Mãe!

Esta deusa do fogo fenícia Ichat seria também a deusa da crepitação que fazem as achas das fogueiras quando ardem ou dos relâmpagos quando troveja. Se os fenícios exaltaram o lado fogoso desta deusa os gregos retiveram o lado sonoro. No entanto há muitas semelhanças em ambos os mitos desde logo o facto de Eco ser possivelmente uma variante evolutiva de Eos e ambas formas de uma deusa do amor violento e incontido.

 

 



[1] Ishat is a Phoenician Goddess of fire (Her name simply means "Fire"), called "the Bitch of the Gods". She is mentioned in the Epic of Ba'al as one of the enemies of the God who is destroyed by Anat, the warrior Goddess. Ishat is called "the Fiery" and is evidentally a Goddess of fire and heat; as Ba'al is the God of the rain and lightning (personified as the Goddesses Talaya and Pidraya, respectively) Who brings life-giving moisture to a dry land, perhaps Ishat represents the burning heat of summer that causes the plants to wither up and die.