segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

EOS I, A DEUSA DO PARTO E DE TODAS AS DORES

Por Artur José Felisberto[1]
 
Em homenagem à minha saudosa mãe, Clotilde Amélia Ribeiro, falecida com 84 anos em Agosto de 2012.

clip_image001[1]
Figura 1: Eos < Heos, trasladando o filho morto na guerra de Tróia.
Eos (em grego Êôs, “aurora”) era a deusa grega que personificava o amanhecer. Filha de Hipérion e Téa, era irmã da deusa Selene e de Hélios. Normalmente citada como “de longos cabelos louros e dedos de cor de rosa” estava encarregada de abrir o dia numa carruagem puxada por cavalos alados, tingindo o céu com seus róseos dedos. - Wikipédia, a enciclopédia livre.
O politeísmo decorreu fundamentalmente da necessidade cultural de colmatar equívocos linguísticos provocados pela variedade de tradições míticas, nem sempre concordantes e raramente coerentes, porque veiculadas por línguas e dialectos diferentes, numa fase da história em que as culturas dependiam exclusivamente, ou quase, da oralidade a que apenas a fragilidade da memória colectiva dava suporte.
De facto, a memória colectiva era o maior bem institucional dos antigos, baseada num processo zeloso e ciumento de transmissão de saberes, desde logo no seio dos “segredos de cozinha” das primitivas comunidades de mulheres. Depois, ainda nos alvores da pastorícia e do início da caça controlada deu-se o alvoroço ideológico do patriarcado provocado pelas primeiras descobertas empíricas do papel do macho na fecundidade das fêmeas, pretexto para os primeiros ritos secretos de iniciação sexual masculina a partir dos quais se terá iniciado o movimento que demandaria aos processos de socialização formal da espécie humana e de que a institucionalização das religiões terá sido um dos primeiros instrumentos.
clip_image002[1]
Figura 2: Hélios, Eos e Hesperos!
EOSTRE
Uma deusa que espantosamente parece ter literalmente a mesma raiz etimológica de Eos é nórdica EOS-TRE.
Eostre, Ēostre, Ostara ou Ostera é a deusa da fertilidade e do renascimento na mitologia anglo-saxã, na mitologia nórdica e mitologia germânica. Eostre ou Ostera (no alemão mais antigo) significa “a Deusa da Aurora”.
Dos seus cultos pagãos originaram-se festivais (Easter, em inglês e Ostern em alemão) que foram absorvidos e misturados nas comemorações judaico-cristãs da Páscoa.
E dizemos: parece, porque é um facto fora de qualquer dúvida de que o nome da deusa germânica Eostre só aparecer referida pelo abade medieval Bede para justificar o nome pagão inglês do mês de Abril e das festas da Páscoa.
April = c.1300, aueril, from O. Fr. avril (11c.), from L. (mensis) Aprilis "(month) of Venus," second month of the ancient Roman calendar, dedicated to the goddess Venus and perhaps based on Apru, an Etruscan borrowing of Gk. Aphrodite. In English in Latin form from mid-12c. Replaced O.E. Eastermonað, which was similarly named for a fertility goddess. Re-spelled in Middle English on Latin model (apprile first attested late 14c.).
«Abril» < O. Fr. Avril < L. (mensis) Aprilis < Apru-lia < Haphru
< Ka-Pher + Kiki => Gk. Aphrodite, literalmente a deusa que transporta
o Ka da vida…à Natureza com a Primavera.
Eos-tur-monath, qui nunc Paschalis mensis interpretatur, quondam a Dea illorum quæ Eos-tre vocabatur, et cui in illo festa celebrabant nomen habuit:
Obviamente que discutir se existiu ou não uma deusa com este nome no panteão nórdico à data do triunfo do cristianismo se não é uma pura perda de tempo é sobretudo uma discussão académica menor sobretudo porque também muito pouco se sabe sobre as mitologias arcaicas ocidentais. De resto, já mesmo na Grécia clássica Eos era uma titânide arcaica sem culto popular próprio. O que deveria espantar todos os teóricos deste tema é o facto de esta deusa supostamente inventada por Bede ser quase literalmente a deus grega Eos.
Some debate has occurred over whether or not the goddess was an invention of Bede's, particularly in the 19th century prior and prior to more widespread reconstructions of the Proto-Indo-European dawn goddess. Writing in the late 19th century, Charles J. Billson notes that scholars prior to his writing were divided about the existence of Bede's account of Ēostre, stating that "among authorities who have no doubt as to her existence are W. Grimm, Wackernagel, Sinrock [sic], and Wolf. On the other hand, Weinhold rejects the idea on philological grounds, and so do Heinrich Leo and Hermann Oesre. Kuhn says, 'The Anglo-Saxon Eostre looks like an invention of Bede;' and Mannhardt also dismisses her as an etymological dea ex machina."
Claro que usar a probidade intelectual de Bede como argumento de peso nesta questão é pouco porque além de émulo de Eusébio, reputado falsário da história eclesiástica, o Venerável Bede quis imita-lo na sua Historia ecclesiastica gentis Anglorum onde lhe são reconhecidos enviesamentos fundamentais e várias omissões.
De qualquer modo não está fora de questão de que tenha existido no mês da Primavera um culto germânico a deuses de morte e ressurreição pascal que em tempos arcaicos seriam comuns com deuses equivalentes gregos da Aurora e dos ventos herdados da civilização egeia, micénica e minóica. O que se duvida é que o nome desta deusa fosse quase decalcado do nome da grega Eos, como o Venerável Bede refere.
Shaw, no entanto, observa que "muito desse debate, no entanto, foi realizado na ignorância de uma peça-chave da prova, uma vez que não foi descoberto até 1958. Esta prova é feita por mais de 150 Romano-Germânico inscrições votivas às divindades nomeadas a matrona Áustria-henea, encontrado perto Morken-Harff e datável de cerca de 150-250 AD ".
Shaw, however, notes that "much of this debate, however, was conducted in ignorance of a key piece of evidence, as it was not discovered until 1958. This evidence is furnished by over 150 Romano-Germanic votive inscriptions to deities named the matron Austriahenea, found near Morken-Harff and datable to around 150-250 AD".
Her name comes from an Indo-European root "aus-," meaning "to shine," from which also come Eos and Aurora, the Greek and Roman names of the dawn goddess; also in Greek, Aurios was Aurora as the Goddess of the Morrow (Her name may derive from an earlier "*Ausrion," meaning morning). [2]
Grimm notes that in the Old Norse Prose Edda book Gylfaginning, a male being by the name of Austri is attested, who Grimm describes as a "spirit of light."
Grimm comments that a female version would have been *Austra, yet that the High German and Saxon peoples seem to have only formed Ostarâ and Eástre, feminine, and not Ostaro and Eástra, masculine.
Na mitologia nórdica, Nor-ðri, Su-ðri, Aus-tri e Ves-tri ("Norte, Sul, Leste e Oeste") foram mencionados na Prosa Edda como quatro anões presidindo aos quatro pontos cardeais e juntos eles sustentavam o céu criado com o crânio do gigante primigánito Ymir.
A raiz –aus do adjectivo «austral» presente nos nomes da Áustria e da Austrália, deriva em latim do nome do vento suão, quente e abafadiço, o Austro. Obviamente que antes de se transformar no vento do sul teria sido um filho de Eos, como as Auras, Eosfer / Eoster, ou Zéfiro.
Aura, Greek goddess of Breezes. Daughter of Eos, goddess of the dawn, and sister to the four winds.
Não se nega que Eas-ter possa derivar Eos-ter mas a verdade é que esta pode ser bem mais virtual do que a semita Ester, bem conhecida dos que têm alguma cultura bíblica! Juntar Eos e Aurora no mesmo saco etimológico duma tal Eas-ter anglo-saxónica ausente de todas as prolixas nomenclaturas sobre mitologia celta e nórdica, sem sequer passar por Istar é já suspeito de alguma cegueira ou parcialidade cultural.
-- Eoster is another name for the Spring Equinox, which occurs on March 21 each year. It is named after the Greek goddes of dawn, Eos. It occurs at a time when the light and the dark are balanced. -- D.J. Conway's "Celtic Magic".
-- Easter is from the Anglo-Saxon Oestre or Eoster and the German Ostern. Ostara was an Anglo-Saxon goddess of spring. She was called "goddess of the morning light," or "goddess of the return of the sun." The fourth month of the year, corresponding to our April, was dedicated to her worship, and was called Eosturmonath. The worship of Ostara was derived from that of Baal, Ashtaroth, Ishtar, Astarte, Tammuz, etc.[3]
-- The word "Easter" was derived from "Ishtar" the ancient pagan goddess of the Babylonian and Assyrian cultures, also known to the Phoenicians as "Astarte" - one of the titles of Beltis the queen of heaven - the wife of the sungod Baal. Both "Ishtar" and "Astarte" are pronounced the same as "Easter" today.[4]
clip_image003[1]
Figura 3: Eos conduzindo os carros do sol.
Estamos a verificar mais outro equívoco sobre a cada vez mais mítica “língua indo-europeia”, e por isso mesmo, fonte de equívocos cada vez menos desculpáveis.
Claro que a etimologia de Eoster não vem da raiz indo-europeia "aus-", significando iluminar, luzir, brilhar, mas, pelo contrário, todos os termos deste tipo é que virão do nome da mais antiga “estrela da manhã” que foi Istar.
Se *Ausrion foi o nome da aurora numa pertença proto linguagem indo-europeia qualquer, então haveria que fazer a derivação deste nome já que só muito dificilmente poderia ser imaginado como um termo imotivado, de geração espontânea, naturalista ou onomatopaico!
Mas, *Ausrion tem a desvantagem de ter apenas uma labial, como «Ester» e o Aurios Grego, pelo que nunca explicaria a bi-labialidade aliterativa do nome latino da Aurora. Que Eos teria sido Inana, a deusa da fertilidade prova-o o facto de ter andado também metida com Erra/Ares, como Afrodite. Mas...Erra/Ares era Kar, o Sol, pelo que seguramente Eos e Afrodite eram em tempos idos a mesma entidade divina, joguetes maternais nas mãos do deus menino que era Eros. De facto, o sol na abóbada celeste não passa de uma criança que passa a vida a nascer sem nunca chegar a crescer de vez!
Na mitologia eslava, Zoria (alternativamente: Zaria, Zvezda, Zwezda) são as três deusas (mas, às vezes duas) guardiãs da Aurora.
A estrela d'alva é Zorya Utren-nyaya (também Zvezda Danica, Zvezda Dennitsa, Zwezda Dnieca, Zora). Ela abre os portões divinos para a carruagem do sol pela manhã. Ela é descrita como uma guerreira completamente armada e corajosa.
A Estrela de Noite é Zorya Vecher-nyaya (também Vecernja Zvezda, Zvezda Vechernaya, Zwezda Wieczorniaia, Zwezda Wieczernica, Zarja). Ela fecha os portões de céu ao cair da noite quando o sol regressa casa.
A Estrela de Meia-noite é Zorya Polunoch-naya (também Zwezda Polnoca). Algumas lendas omitem este Zorya, enquanto deixando só as Auroras da Manhã e da Noite.[5]
Esta moda das deusas triplas já se parece com uma certa impertinência cabalística de comentaristas neo gnósticos porque, afinal, a triplicidade astral em que se junta o sol com a lua e a aurora corresponderia mais a uma “divina trindade familiar” composta pelo “deus pai”, o sol, a “Deusa Mãe”, a lua e a “deusa filha”, a “estrela da manhã”!
clip_image004[1]
Figura 4: Nut, a Deus mãe dos deuses do Egipto senhora do céu nocturno estrelado.
Pelo contrário, a “EstrelaAlva” era o planeta Vénus que por mais brilhante que qualquer outra estrela vista no céu aparecia ao por do sol como “Estrela da Tarde” e que por ser sempre a mesma foi conhecida pelos pastores da Serra da Estrela como sua ou seja “Estrela do Pastor”.
No entanto não deixa de ser interessante que na mitologia eslava a estrela da aurora seja Danica, nome com a mesma estrutura fonética de Tanit[6] e que poderia ser um genitivo de Diana ou meramente Te-Anat. De qualquer modo, saber que existe uma mitologia que identifica a deusa da aurora com a mãe de todas as coisas celeste que foi a Noite, Nix / Nut, que quotidianamente paria o sol que devorava ao fim do dia permite-nos ajustar a lógica mítica de Eos e explicar parte dos seus amores equívocos. De facto são conhecidos os assédios sexuais de Anat.
Por outro lado, Vecher é quase literalmente Véspera ou Hesper e Polunoca não tem equivalente na mitologia greco-romana e seria possivelmente uma referência À estrela Polar.
Por Eostre ser uma deusa um tanto obscura, muito do que se sabia sobre ela foi perdido através dos tempos…ou vice-versa. Ainda assim, dizem as lendas que Eostre tinha uma especial afeição por crianças. Onde quer que ela fosse, elas a seguiam e a deusa adorava cantar e entretê-las com suas magias.
clip_image005[1]
Figura 5: Afrodite sobrevoando o mar em cima de uma cisne e acompanhada por crianças esvoaçantes, os Erotes, como Eostre!
Este aspecto do mito de Eos-tre reporta-nos por o óbvio paralelismo com a ninfomania pederástica de Eos mas de passagem permite-nos suspeitar que seria esta mesma tradição que levou os gregos a representarem Afrodite acompanhada de divinas crianças, os Erotes, que ainda que considerados filhos desta antiga Deusa Mãe nem sempre parecem como tal, seja por serem alados seja por aparecerem sobretudo como paus-de-cabeleira em contextos afectados pela frivolidade dos amores venais.
Um dia, Eostre estava sentada em um jardim com suas tão amadas crianças, quando um amável pássaro voou sobre elas e pousou na mão da Deusa. Ao dizer algumas palavras mágicas, o pássaro se transformou no animal favorito de Eostre, uma lebre. Isto maravilhou as crianças. Com o passar dos meses, elas repararam que a lebre não estava feliz com a transformação, porque não mais podia cantar nem voar.
As crianças pediram a Eostre que revertesse o encantamento. Ela tentou de todas as formas, mas não conseguiu desfazer o encanto. A magia já estava feita e nada poderia revertê-la.
clip_image006[1]
Figura 6: Eástre (1909) by Jacques Reich.
Eostre decidiu esperar até que o inverno passasse, pois nesta época seu poder diminuía. Quem sabe quando a Primavera retornasse e ela fosse de novo restituída de seus poderes plenamente pudesse ao menos dar alguns momentos de alegria à lebre, transformando-a novamente em pássaro, nem que fosse por alguns momentos.
A lebre assim permaneceu até que então a Primavera chegou.
Nessa época os poderes de Eostre estavam em seu apogeu e ela pôde transformar a lebre em um pássaro novamente, durante algum tempo. Agradecido, o pássaro botou ovos em homenagem a Eostre. Em celebração à sua liberdade e às crianças, que tinham pedido a Eostre que lhe concedesse sua forma original, o pássaro, transformado em lebre novamente, pintou os ovos e os distribuiu pelo mundo.
Na primavera, lebres e ovos coloridos eram os símbolos da fertilidade e renovação à ela associados.
Na mitologia grega as lebres (ou os coelhos) não aparecem explicitamente como símbolos de fertilidade mas aparece em cenas de sagrada prostituição presididas por Afrodite e são reconhecidos símbolos de fortuna e boa sorte entre os hitistas. Pois bem: na ausência de outras evidências de Eostre fazer parte do panteão nórdico há autores que identificam esta deusa com Friga, esposa de Odin.
Alguns historiadores dizem que ela é meramente uma das várias formas de Frigg (esposa de Odin), ou que seu nome seria um epíteto para representar Frigg em seu aspecto jovem e primaveril. Outros pesquisadores a associam à Astarte (Deusa Fenícia) e Ishtar (deusa Babilônica), devido às similaridades em seus respectivos festivais da Primavera.
Porém, antes de depararmos com a evidência de que se trataria de uma variante nórdica da bem conhecida Ishtar / Astarte ficamos surpresos ao verificar que já entre os nórdicos havia a tendência para separar a Deusa Mãe do amor no matrimónio e das artes domésticas a cargo de uma Afrodite Urânia / Hera como Friga de uma antiga e arcaica deusa mãe da fertilidade matriarcal de toda a natureza e por isso mais próxima do amor venal de Afrodite Pandemos, deusa da sensualidade, da beleza, da luxúria, da música e das flores como Freia…ou como Eos? Na verdade as duas facetas de Afrodite só foram separadas na mesma deusa pelos filósofos porque os poetas míticos sempre conheceram apenas Afrodite Pandemos e Eos poderia perfeitamente passar por um seu arcaico avatar astrológico se esta não tivesse sido vítima das impiedades democráticas dos poetas atenienses que transformaram o seu telúrico amor matriarcal por crianças bem-nascidas numa anedota de ninfomania pederástica.
I, 4, 4. Poséidon, entre-temps, avait fait construire par Héphaïstos un refuge souterrain pour Oenopion. Eos tomba amoureuse d'Orion; elle l'enleva et l'amena à Délos: c'était la vengeance d'Aphrodite, qui obligeait Eos à être éternellement amoureuse, parce qu'elle avait osé coucher avec Arès. -- La Bibliothèque d'Apollodore.
Pensando bem seria pouco provável que o destino de uma deusa titánide astral como era Eos pudesse ser alterado por uma crónide olímpica como Afrodite, que só tinha entre os homens o poder de “mulher fatal” com a ajuda das setas infalíveis e inevitáveis de Eros, sem a ajuda e autorização de Zeus que aliás era incapaz de afrontar a poderosa deusa primordial Ananque, a mãe das Moiras que teciam as malhas do destino dos deuses e dos homens.
Portanto, se Eos poderia ser uma variante de Afrodite também Eoster poderia ser um nome alternativo germânico para Freia já que esta chorava lágrimas de ouro (como a Senhora do Rocio na Andaluzia) por seu marido Odr, o deus responsável por conduzir como Eósforo / Fósforo, o carro do sol.
Odr < Authre < *Au(s)-ter ó Eos-pher.
Eos, ou Eos-ter ou Ester seria uma mera variante de Istar, a deusa caldeia da prostituição sagrada que veio a ter Afrodite como principal representante helénica. Inevitavelmente, as comunidades autóctones da Hélade que, em épocas posteriores à revolução patriarcal do panteão olímpico, mantiveram a memória e a tradição do culto de Eos acabaram por entrar em conflito mitológico com os sacerdotes de Afrodite de que o mito de Eos é, afinal o eco do inevitável compromisso mítico a que teve que se chegar, na justa medida em que terá sido impossível fundir o culto de Eos local, possivelmente originário da costa ocidental da Anatólia ou de Creta, com o novo culto olímpico de Afrodite.
Na verdade, já na Suméria a deusa da específica Aurora estava directamente ligada ao nascimento do sol estando com ele casada, como se suspeita ter sido o caso de todas as deusas mães primordiais, esposas do próprio filho.
Aya (or Aja) in Akkadian mythology was a mother goddess, consort of the sun god Shamash. She developed from the Sumerian goddess Šherida, consort of Utu.
Šherida is one of the oldest Mesopotamian gods, attested in inscriptions from pre-Sargonic times, her name (as "Aya") was a popular personal name during the Ur III period (21st-20th century BCE), making her among the oldest Semitic deities known in the region.
Aya is Akkadian for "dawn", and by the Akkadian period she was firmly associated with the rising sun, and with sexual love and youth. The Babylonian's sometimes referred to her as kallatu (the bride), and as such she was known as the wife of Shamash. (…)
By at latest the Neo-Babylonian period (and possibly much earlier), Shamash and Aya were associated with a practice known as Hasadu, which is loosely translated as a "sacred marriage."
Aua, ou Aja, é uma Deusa Mãe acádia da aurora, mulher de Chamaz, o deus do sol, equivalente da suméria Sherida, a «querida» mulher de Utu, também conhecida por «noiva»…e «nora».
Funcionalmente Aja seria Eos, a deusa grega das erecções matinais e da aurora, mas pelo lado sumério seria uma variante da deusa Mãe da Noite, ou Sherida.
Sendo assim, Eos / Eoster seriam equivalentes de Aja / Ker(i)tu ó Ker-tu / Sherida / Istar. Claro que, enquanto mãe do sol, que paria com a aurora religiosa e quotidianamente como a egípcia Nut, Eos seria, como a assíria Aia, a esposa do sol, depois de ter sido sua extremosa mãe e aia permanente e imprescindível.
«Aia» = • s. f. dama de companhia; • senhora encarregada da educação doméstica de um príncipe ou de crianças nobres. Sumer. Ia = (epíteto da) mãe de Marduque.
«Aia» é uma palavra lusa sem etimologia conhecida pelo que nada obsta a que seja uma adaptação local do nome da deusa assíria às funções de uma segunda mãe do príncipe real. Ia, esposa de Ea e mão de Marduque, pode ter sido mãe de Aia.
O facto de Hesta / Vesta, deusas castas da santidade do lar, serem aparentemente de moralidade oposta à da ninfomaníaca e pedófila devoradora de jovens que era Eos só demonstra que a deriva dos nomes permite que as palavras possam adquirir sentidos opostos, obviamente que por via das vicissitudes dos cultos dos deuses que tutelavam os seus nomes. De qualquer modo, com Hesta / Vesta estamos nos terrenos dos deuses do fogo e com Eos nos da luz da lua cheia, Febe.
clip_image007[1]
Figura 7: Eos, seguida por um golfinho, considerado um animal solar por se supor que dançava e acasalava ao pôr-do-sol!
Febe ou Foibe (grego Φοίβη, transliteração "Phoibê", tradução "brilhante, profética") era conhecida como "a mais bela entre as Titânides". Talvez a primeira deusa da Lua que os gregos conheceram, Febe é confundida com a sua sobrinha Selene (filha de Hipérion e Téia), e também com suas netas Ártemis e Hécate. Febe é a deusa da lua, relacionada com as noites de lua cheia. Seu nome quer dizer "brilhante", nome que foi emprestado ao seu neto Apolo, chamado de Febo.
Aia, Eos e Hesta / Vesta podem não ter tido exactamente a mesma origem etimológica mas Eos terá mantido na Grécia a mesma ressonância fonética de Aia por ter tido a mesma função semântica que a latina Aurora não manteve.
                                                > *Wi-ast > Vesta / Hesta.
Eos < Êôs < Heôs < *Ki-auch ó Ki-ka < Kiha > Hiha > Ia.
 Febe < Foibê < Pho-iw + et < Kauhica ó Ka-kika > Hahiha
> Acha > Aja > Aia.
Ushás (‘amanecer’ en idioma sánscrito) es una diosa védica y consecuentemente también hinduista. (…) El término sánscrito proviene de la lengua indoeuropea *hv(2)ausos, que dio origen al vocablo griego Eos, al latín Aurora, el lituano ausz-ra y antiguo alto germánico ôs-tan.
Uraš o Urash, na mitologia suméria, foi uma deusa ctónica (veja ctónico) e uma das consortes de Anu.
Ishat is a Phoenician Goddess of Fire (Her name simply means "Fire"), called "the Bitch of the Gods". She is mentioned in the Epic of Ba'al as one of the enemies of the God who is destroyed by Anat, the Warrior Goddess.
Fazer derivar a Aurora latina do mais que hipotético *hv(2)ausos é mais inaudível que inefável!
No entanto, como não seria tudo muito mais fácil dando conta que Ushás se parece muito mais em todos os planos com Urash, a esposa do Rei-Sol, o semita deus Chamaz, do que com *hv(2)ausos!!!
Ushás < Ush-Ash ó Ur-Ash > Uraz
                               > Ish-ash > Ishat.
clip_image008[1]
Figura 8: Eos e Eos-fer, o tocheiro divino!
De facto, com um pouco mais de respeito pelas deidades alheias e menos fé na mitologia positivista indo-europeia ter-se-ia tropeçado em Arruru, a grande Deusa Mãe da Caldeia como *Ki-aush era, a mais que provável origem etimológica da latina Aurora.
Aruru: A name for the Great Mother goddess in Babylonian mythology. She created people. See Belet-ili, Mami, Ningal, Ninhursag, Ninmah, Nintu.
Eos < -Aus < Hahus < *Kakush (> Caco) > Phaus > -Phos.
Zeus < Thius > Dyaus > «Dia» = Hemera.
Phos, como Febo, enquanto significando “luz e brilho celestiais” virão quanto muito do nome do mesmo étimo do “deus menino” *Kakiko, filho de Kiki e/ou de Kako, o deus do fogo que deu origem ao nome de Zeus!
É evidente que Eos, a deusa das erecções matinais, tem semântica suficiente para ser, como Ishat, uma prostituta dos deuses sem deixar de ser esposa de Anu. Neste papel teria sido a cananeia Anat e a egípcia Nut. Afinal sendo esposa do “Sr. dos Céu seria” a mais fogosa das deusas tendo o poder matriarcal e a eterna e divina disponibilidade de ser também amante de todos os deuses!
Ora, este novo culto, enquanto triunfo decisivo do patriarcado, impunha uma deusa do amor venal inteiramente separado da antiga “prostituição sagrada” que Eos ainda parecia misturar e que os mitólogos helenistas teimavam separa numa Afrodite Pandemos / Urania.
clip_image009[1]
Figura 9: Eos, tão alada e sensual como Istar, precedida de Phosfero, a aura que precede os dias.

VITÓRIA, ÍRIS OU AURORA
Já no caso da trilogia, que junta a Aurora / Eos, com o período diurno, Hemera, e depois com o período nocturno, Nix, o facto de serem três deidades femininas presidindo ao períodos de tempo sucessivos dum mesmo ciclo diário poderemos aceitar que, sendo a existência um acontecimento desde sempre entendido como efémero porque a festa da vida “não dura mais de três dias”, estamos perante uma analogia ideal para a metáfora das três idades da vida da mulher.
Ora, se tudo acaba com as trevas mortais da noite de Nix é com a vitória desta na forma de Nikê que tudo também recomeça, neste ciclo mítico do “eterno retorno” dos amanhãs que em todos os dias cantam o sol para todos!
clip_image010[1]
Figura 10: Apolo, a vitoriosa Nikê ou Eos a aurora triunfal, e Zeus, o seu amantíssimo pai, numa cena de gigantomaquia.
Noutros contextos até se pode descobrir que as deusas cananeias Anat, Ashera e Ashtoret seriam desdobramentos politeístas tardios de Inana/Istar o que permite suspeitar que Atena, a equivalente helénica de Anat, foi mais afrodisíaca do que transparece do mito clássico!
clip_image011[1]
Figura 11: Vitoria.
Vitória era, na mitologia romana, a personificação / deusa da vitória. Corresponde à deusa grega Nice (em grego Νίκη, Níkē ou Niké – "Vitória").
Diferentemente da deusa Nicete, Victoria exercia um papel fundamental e um grande culto subsistiu por centenas de anos e quando a estátua foi retirada em 382 d. C. houve revoltas em Roma.
A adoração era muito comum entre os generais que a agradeciam pela vitória nas guerras.
Nikê < Niket < Nut > Niwet < *Enki-at <=
*An-kiki > Anish > Nix.
               > Anat = Atena.
... pelo que Nix foi Atena e Nikê é Istar, filha de Enki e da Virgem Mãe primordial, Anat/Atena.
Ora, entre Atena e Nikê não existe apenas uma cumplicidade linguística porque de facto são, senão a mesma deidade, pelo menos divindades do mesmo campo mitológico, quanto mais não seja porque aparece na mão direita de Atena Partenos.
A cumplicidade é também funcional porque sendo Atena Areja a guerreira esforçada (Atena Ergane) é desta que depende o nascimento da Vitória.
clip_image012[1]
Figura 12: O carro da Aurora. Reparar que esta deusa romana é aqui representada acompanhada da Vitória como Atena & Nikê.
Tratando-se de uma deusa Virgem Mãe mais esforçada nas lides guerreiras do que nas amorosas, já dores de mais ela teve que ter para parir Eritónio pelo que só resta concluir que Nikê e Atena eram heterónimos da mesma deidade! Pois bem, a existência do epíteto Athena Zôstêria, feita do hullupu de Inana, a deusa dos troncos de árvore com que se fazem as fogueiras que iluminam a noite e antecipam a aurora!
Atena Zôstêria (= a «trave» mestra = madeiro) Nikê => Victoria!
Zôstêria < Kau-Ashteria < Ki-Ish-Tar => Ishtar-ki => tarwe > «trave».
Sax. Oestre or Eos-ter < Hoster < Zôstêria > Zauasteria < Kiki-tauria
> Wica-Taura > Victoria (do dia sobre a noite).
Eos seria então uma mera elipse de Eoster, que já era, por sua vez, uma variante fonética de Istar.
As the New Day, Eos accompanies Her brother Helios, the Sun, throughout the day, riding or walking ahead of His chariot. Therefore She is identified with daylight and is called:
Hêmera (< Ki me Ura < Ki me kara => Artemisa),
Titô (< Titon < *Kikian > Thi Phan > Divan => Diana ou, muito mais provavelmente, dea Venus) and
Hêlia (< Heria > Hera).
She is Queen of Day. At dusk She accompanies the Sun to the west, where She is called Hespera (> «véspera».
O interessante na força mítica da triplicidade é que ela obrigava a reducionismos que minimizavam aspectos que já então seriam óbvios como é o caso de à Aurora se não contrapor uma deusa do «crepúsculo» nem a Lua nova ser percebida como uma efectiva fase da lua! No entanto, Anat / Atena eram Virgens Mães nocturnas como o mocho e Artemisa / Diana eram deusas mães lunares.
Istar < Eoster < Haustra < *Kiash Pher, lit. Vesta,
“a que transporta o facho de fogo! > Hespera > «véspera»!
É certo que Hespera era a deusa do fim do dia. Esta deusa exausta, da luz do lampião e da candeia do fim da tarde vespertina, que passou o dia a percorrer a «esfera» celeste, bem poderia ter sido a esposa do «crepúsculo» e reporta-nos para uma espécie de pequenos (= -ulu) deuses da aurora, ou pelo menos para um deus secundário adjuvante dos deuses da manhã!
«Esfera» < Lat. sphaera < Gr. sphaîra < *Iscur-kia > Ki-ashphera > Hespera.
«Crepúsculo» < Lat. crepusculu < Ker-phish-ulu < Pher-Ki-Chu-lu
> *Sacurisculu <= *Kiash Pher-lu=> *Herper-lu.

Ver: DEUSES DO FOGO (***) & ATENA PARTENOS (***)

clip_image013[1]
Figura 13: Eos, Nokê ou a Vitória aproximando-se de Aquiles aproximando-se do corpo triste de Aquiles (ou de um qualquer outro herói) para o levar em apoteose póstuma.
Quanto a Hemera não deixa de ser espantosa a sua aparência na teogonia de Hesíodo na medida em que o seu carácter primordial nos deixa a suspeita de que se tratará do nome duma divindade muito arcaica! Na verdade a tentação de fazer casar esta Hemera diurna com um *Hemero nocturno, obviamente análogo funcional e fonético de Hermes (Psicopompo), levar-nos-ia a postular que são fortes as possibilidades de Hemera ser uma variante do nome de Artemisa e todos estes resultarem de variantes do nome dos Lamahsu, os arcaicos gémeos primordiais!
Yet again, as Goddesses, Eos, Hêmera and Nyx [= Dawn, Day, Night] are the Maiden, Mother and Crone. [7]
The Greek goddess Hemera was one of the Protogenoi, i.e. a primordial deity. She represented the personification of the day/daylight. She was one of the daughters of Erebus and Nyx and, as such, the sister of Aether (the Atmosphere), whom she later married.
Her Roman name was Dies (Day). Pseudo-Hyginus says she was a daughter of Chaos and a sister of Nox (Night), not her daughter.
Later she was identified with Eos, and Pausanias describes images of Eos, but he mistakenly identifies her as Hemera. Philostratus mentions the statue of Memnon, in Aethiopia, which would greet Hemera, his mother, in the morning, and would mourn her departure in the evening. In fact, Memnon was the son of Eos, so Philostratus thought the two goddesses were one and the same.
O conceito mítico da “diva tripla” confirma, nestes casos, a relação esfíngica dos tempos da mulher com as Horas (< koras, as donzelas de Ker ou de Hera), que começaram por ser a deusas das estações do ano para acabaram como pedaços do dia onde Eos / Aurora (ou º Afrodite Uraniana) das erecções matinais; Hemera / Hera / Artemisa do meio-dia leonino e aristocrata; e Nyx (< Anu ish º Afrodite Pandemos) do amor comum e repousante de todos os mortais!

Ver: TRIDIVAS (***) & KER (***) & GEMEOS (***)

Nesta série correlativa Hera não ocupa a posição de «rainha dos deuses», que lhe é formalmente atribuída pela tradição clássica, mas apenas a de deusa dos exércitos decorrente o étimo *her- também herdado por Ares. O rasto desta passagem etmimológica permanece no nome da deusa Ker que é seguramente uma antepassada de Hera, de Íris, das Erínias e das Harpias.
Na verdade a esposa que se levanta antes do rei sol só pode ser uma rainha. Como estamos possivelmente no terreno da mitologia Hitita onde Arina era a deusa solar e rainha dos céus dos Hattis, a Aurora seria então a imperatriz, “rainha das rainhas”! Eos, sendo uma titânide correspondia a uma geração divina muito mais arcaica e deveria ser muito mais poderosa, pelo menos em respeito, do que Afrodite, a menos que fossem a mesma entidade de diferente proveniência, pelo que o mito que se segue é suspeito de ser falso ou tendencioso!
Aurora < Haur-Haura < Kur-Kur > Ker-kar > *Hercalla / Omfala.
Tender-hearted Eos is always eager for young mortal lovers; this is a punishment inflicted on Her by Aphrodite for having slept with Ares. Like Aphrodite, She brings love to mortals, but is not so easily placated as the Goddess of Love. So also Dawn brings a renewal of erotic passions and the morning erection. [8]
Na verdade, o mito encobre mal a verdade que faria de Eos, possível constrição de Eoster / Istar, e Afrodite variantes descendentes da mesma entidade lunar que era a deusa suméria Inana, filha e esposa do Sol. Ora, sendo um dos nomes do sol Kar, dele derivou o nome Wer / Bel dos deuses da guerra.
Então, Íris, como Hebe, seria uma variante casta de Eos que em vez de ninfomaníaca foi uma vez assediada pelos sátiros.
clip_image014[1]
Figura 14: IRIS AND HERA ATTACKED BY SATYRS. By Brygos. The messenger-goddess, Iris, carrying her herald's staff (ktrykeion) and a roll, is seized by two satyrs. The scene takes place in a precinct of Dionysos, as is seen by the ivy-crowned altar on which one of the satyrs leaps. Behind the altar stands the god Dionysos himself; he bears a faun's skin knotted over his cloak and holds a sceptre in one hand, in the other his characteristic two-handled wine-cup, the kantharos. Behind him, an attendant satyr springs forward to help his fellows.
Iris < Yris < Uris < Auris > Auras ó Aurora.
O “arco-iris” antes de ser o arco da aliança de Deus com os homens anunciada pelos anjos mensageiros (deuses alados) foi um símbolo do fim das trovoadas primaveris que fecundavam a terra e portanto um arco festivo multicolor do prazer fecundo e do gozo criativo das deusas mães da aura e do pôr-do-sol.



[2] Eoster, Mysteries of the Resurrected Child (c) 1996, John Opsopaus.
[3] © 1998 Brent Pennell Webdesigns. Updated August 5, 1999..
[4] © 1998 Brent Pennell Webdesigns. Updated August 5, 1999..
[5] In Slavic mythology, the Zorya (alternately: Zarya, Zvezda, Zwezda) are the three (sometimes two) guardian goddesses, known as the Auroras. 
The Morning Star is Zorya Utrennyaya (also Zvezda Danica, Zvezda Dennitsa, Zwezda Dnieca, Zora). She opens the heavenly gates for the chariot of the sun in the morning. She is depicted as a fully armed and courageous warrior.
The Evening Star is Zorya Vechernyaya (also Vecernja Zvezda, Zvezda Vechernaya, Zwezda Wieczoniaia, Zwezda Wieczernica, Zarja). She closes the gates of heaven each night as the sun returns home. 
The Midnight Star is Zorya Polunochnaya (also Zwezda Polnoca). Some legends omit this Zorya, leaving only the Morning and Evening Auroras.
[6] A famosa Tianita do rapé de Loulé.
[7] Biblioteca Arcana page.
[8]Ora bem, um dos termos mais sugestivos do calão português e o que se refere à erecção como «tesão».