sábado, 8 de fevereiro de 2014

OS DEUSES DA VERDADE E DA MENTIRA por Artur Felisberto.

 (Actualizado a 27/12/2015)

OS DEUSES DA VERDADE E DA MENTIRA
por Artur Felisberto.

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/85/Sandro_Botticelli_021.jpg
Figura 1: A Calúnia de Apeles é uma pintura de Botticelli realizada em 1495.
El tema es alegórico; se basa en una descripción literaria sobre una pintura de Apeles, pintor de la antigüedad, hecha por Luciano de Samosata1 en uno de sus Diálogos y mencionada por Leon Battista Alberti en su tratado De pictura.
Incluye diez figuras: a la derecha del espectador, el rey Midas, el Juez malo, es entronizado entre la Sospecha y la Ignorancia, representadas como mujeres de rostros crispados que están susurrándole malos consejos a sus orejas de asno. El trono está sobre un podio decorado con relieves en grisalla. Ante este Juez se encuentra una figura masculina, con hábito de monje, en quien se cree ver representado el Rencor (o la Envidia o la Ira) que conduce a una joven (la Calumnia) a la que están adornando los cabellos la Envidia y el Fraude. La Calumnia, indiferente a cuanto sucede, arrastra a la víctima, un hombre prácticamente desnudo que junta las manos en ademán de pedir clemencia. A la izquierda está la Penitencia, vestida de negro con ropa pesada y andrajosa, que se vuelve hacia la figura que está desnuda detrás de ella. Este último personaje es la Verdad desnuda que resplandece, señalando al cielo con el dedo.
A verdade e a Mentira são, antes de tudo o mais, divindades que presidem a querelas de tribunais primeiro divinos e dos mortos e depois dos humanos eventualmente condenados a morrer.

VERDADE
Alétheia (em grego antigo, ἀλήθεια: «verdade», no sentido de recordação: de a-, negação, e Lethes «esquecimento»), para os antigos gregos, designava verdade e realidade, simultaneamente.
Na Grécia Antiga, Lete ou Lethe significa "esquecimento". Seu oposto é a palavra grega para "verdade" - alétheia.
Na mitologia grega Lete é um dos rios do Hades. Aqueles que bebessem de sua água experimentariam o completo esquecimento.
Lete é também uma das náiades, filha da deusa Eris, senhora da discórdia, irmã de Algos, Limos, Horcus e Ponos.
Seguramente que o termo grego comum para “esquecimento” pareceu com o uso retórico do nome do Letes, o mítico rio dos infernos. Se a verdade for apenas aquilo de que, com Buona Fides, nos recordamos em tribunal estamos perante um conceito prático de verdade que pouco ou nada tem a ver com a lógica e a filosofia. No entanto, que este conceito se encaixasse numa pura negação do esquecimento é demasiada coincidência para ser verdade! De facto, o mais provável é que o nome do rio do esquecimento fosse inventado a partir do nome já existente da deusa Aleteia, a que se associava o conceito de recordação. Aletheia pode não ser uma alegoria helenista e ser de facto o nome de uma antiga deusa, Are-teia, ou Are-tusa. Esta deusa poderia já estar presente nos tempos micénicos com o nome de A-RE-JA, um dos epítetos de Atena, ou E-RE-U-TI-JA, quiçá apenas a forma mais arcaica do nome de Hera. Afinal, esta deusa escondida no fundo de um poço seria Ereuticha, filha de *Kertu, nascida na cova de Ilitía perto de Amniso, na baía de Cnossos, que é mencionada na Odissea em relação com o seu culto.
Tenía estalactitas alusivas al doble papel de la diosa, de traer el parto y retrasarlo, y se han hallado ofrendas votivas a ellas.
En la época clásica tenía altares a ella consagrados en varias ciudades de Creta (donde fue especialmente adorada), como Lato y Eleuterna, y se cree que se le consagraban cuevas (como la de Inatos), quizá en alusión al canal de los nacimientos.
Píndaro, un mitógrafo meticulosamente exacto, tampoco hacía mención alguna de Zeus: “Diosa de los nacimientos, Ilitía, criada del trono de la profundas Moiras, hija de la omnipotente Hera, oye mi canción.” (…)
Para los griegos clásicos, “está estrechamente relacionada con Artemisa y Hera”, afirma Burkert, «pero no desarrolla carácter propio alguno.”
Según el tercer himno homérico a Apolo Delio, Hera retuvo a Ilitía, que venía desde la Hiperbórea en el lejano norte, para evitar que Leto pudiese parir a Artemisa y Apolo, pues el padre de ambos era Zeus. Los demás dioses presentes en el nacimiento en Delos enviaron a Iris para que la trajese. En cuanto Ilitía puso pie en la isla nacieron los dioses.
Leto / Leda / Latona e Ilítia teriam que se encontrar, afinal, algures na mitologia antiga! Terá sido deste encontro inventado pelos hinos homéricos que surgiria a ideia de dar o nome Lete ao rio do esquecimento porque seriam afinal a mesma entidade. Sendo a passagem pela morte uma espécie de inversão mítica do nascimento quando os mitógrafos começaram a postular a intuição de que os mortos renasciam com Ilítia em cada parto e teriam que postular também uma passagem por um local de esquecimento das vidas anteriores que seria o rio onde Leto ia sendo esquecida por Ilítia por intromissão de Hera.

Ver: LEDA (***)

Assim, a verdade nasce na consciência com a recordação das dores de parto da memória.
Allatu (Allatum) is an underworld goddess worshipped by western Semitic peoples, including the Carthaginians Goddess of copulation, wife of the demon king Nergal. She is modelled on the Mesopotamian goddess Eresh-ki-gal.
O nome de Aretsaya significa "A da Terra " e na Epopéia leva o título complete de “Aretsaya bat Ya'abdar. Ya'abdar tem vários significados em torno de ideias de "amplo", "fluxo" e "campos", e é normalmente interpretado como "Aretsaya, filha de Amplos Fluxos", se referindo talvez a campos inundados ou irrigados. Outra interpretação faz do seu nome "a Filha do mundo amplo"; bastante semelhante ao termo Mesopotâmico para submundo, "a Terra distante, e o nome dela corresponde ao Akkadico Allatum, a deusa do submundo. Como deusa ctónica do submundo escuro, a imagem de campo inundado poderia indicar, à primeira vista, uma colheita arruinada; mas apenas os campos alagados por chuvas intensas poderiam simplesmente ser bem irrigados e depois ser semeados e tornados verdejantes. Estes termos insinua assim o seu papel de prosperidade como deusa de Terra. Por esta relação com as terras alagadas ela também pode ser uma deusa dos pântanos.
Outras ortografias: Arsai, Arsay, Arsy.
                                                                  > Eileithyia.
Karet-usha > E-RE-U-TI-JÁ > Eleitija > Hit. Are-tusa > Are-teia >
Karet-usha > «cartucha»                        > Ale-theia.
A equivalente acádica seria a deusa Allatu e a canaanita é Aretsaya.
Claro que Allatu é ja uma forma muito elaborada dum nome mais antigo que teria sido por exemplo, *Kar-la-tu ou *Kartu-la ou simplesmente Cartucha.
A deusa canaanita de nomes Arsai, Arsay, Arsy se teria tido o nome Aretsaya tamém poderia ter tido o de Aretsy e aproximar-se da hitita Aretusa.
A inter-relação que teria existido nos tempos arcaicos entre a mitologia oriental que começaria a estabilizar-se formalmente por via da descoberta da escrita levaria, a ocidente, a uma proliferação de nomes conforme a diversidade geográfica do arquipélago Egeu. Assim vamos encontrar na Grécia um grupo de ninfas que estariam relacionadas com os mitos de fertilidade agrícola canaanitas.
Na mitologia grega, Alseídes eram ninfas associadas aos bosques e suas flores. Habitam nos canaviais e arvoredos Costumavam assustar viajantes que passavam por seus domínios. Segundo a lenda Alseíde, a mais formosa das ninfas, protegeu um campo de papoilas da fúria e dos raios de Zeus. Logo, um arrependido deus olímpico, ao ver seu valor e desejo de cuidar das flores premiou a ninfa, dando-lhe este campo para sempre. Esta ninfa se vê implicada nos mistérios eleusinos.
Também não é preciso muito esforço etimológico para correlacionar o nome de Alseíde com o de Aretsaya e ambos com os de Alétheia.
A deusa latina da verdade será uma alegoria tardia do nome desta divindade trazida pelos antepassados troianos dos latinos? Possivelmente nem assim tanto e por mais estranho que pareça é o nome latino da verdade que nos vai confirmar a origem destes conceitos inicialmente míticos com a realidade fértil da vida agrícola, fonte de toda a criação e de toda a verdade.
En la mitología romana, Veritas (verdad) era la diosa de la verdad, hija de Saturno y madre de la Virtud. Se creía que se ocultaba en el fondo de un pozo sagrado porque era muy elusiva. Su imagen la muestra como una joven virgen vestida de blanco. En la mitología griega, Veritas era conocida como Aletheia.
Os romanos nunca tiveram um panteão coerente e rico como os gregos razão pela qual a sua cultura religiosa se submeteu inteiramente ao helenismo. Nesta linha de investigação, vamos deparar-nos com o deus Vertumno que quase seguramente seria uma variante dum deus de morte e ressurreição pasacal.
Vertumno o Vortumno (en latin: Vertumnus o Vortumnus) era una divinidad romana de origen etrusco (Veltumna o Voltumna) que personificaba la noción del cambio, de la mutación de la vegetación durante el transcurso de las estaciones. Presedía la maduración de los frutos durante el verano y se le atribuía el don de transformarse en todas las formas o cosas que desease.
Vertumno < Wer-Atu-Mino, filho de *Weratu
(e possivelmente irmão da Vir-tus).
Belili: Um nome da deusa Geshtin-anna, irmã de Dumuzi, esposa de Nin-gishzida. Epíteto: "A que sempre lamenta (a morte de Damuz)".
Esta deusa Bel-Ili não diverge muito foneticamente de Bel-et-Ili e poderiam ser a mesma deidade ou mãe e filha como a Verdade e a Virtude.
Figura 2: Virtus de lança e trofeu pisando com o pé esquerdo um guerreiro vencido.
Virtus teria que ser um deus da virilidade na medida em que vir significava em latim a varonia. A verdade é que Virtus, era lit. “o filho varão de *Kertu”, ou seja, o equivalente minóico de Hórus. A relação arcaica com cultos da época de “caça e recolecção” pode explicar o arcaísmo dos cultos das  “Virgens Mães” bem como a conotação marcial de Britomartis.

Ver: DEUSES DA HONRA E DA VIRTUDE (***)

Dito de outro modo, necessitamos de postular uma deidade arcaica com o nome de *Weratu < *Kertu > Beruth que só por mero acaso não seria uma variante fonética da caldeia Bel-et-Ili. Estes nomes reportam-nos para a arcaica Brito-Marte cretense e para a céltica Brígantia, Brites e Brígida.
Beruth = Earth mother goddess of the Phoenicians. Today's Beirut is her city.
In Babylonian and Akkadian mythology, Belet-Ili (lady of the gods - Akkadian) is a mother goddess, probably modelled on the goddess or equal to Ninhursag.
Sabendo-se que Belet acabaria por ser um genérico de “senhora”, este nome seria uma variante acádica da suméria Ninhursag, a “Sr.ª do Monte Sagrado”, também conhecida por “Senhora Ili”, ou seja, a deusa Ili, ou seja...Ili-teia.
Em conclusão, o conceito de verdade tem pouco a ver com a realidade de conveniência do que é possível recordar em tribunal derivado duma etimologia tardia, especulativa e regressiva, do nome de Alétheia e tudo a ver com os cultos pascais de fertilidade agrícola e com os mistérios Eleusínos onde a verdade oculta da sexualidade e a sabedoria da vida eram revelada aos neófitos.
“Que haja água para as cheias do Tigre e Eufrates
Que as plantas cresçam alto nos seus bancos e encham os campos
Que a Senhora da Vegetação empilhe grãos e montes e montanhas.
Oh, minha Rainha do Céu e da Terra, Rainha de Todo Universo
Que ele passe longos dias na doçura de vossos sagrados quadris!
O rei foi de cabeça erguida até os quadris sagrados
Ele foi de cabeça erguida até os quadris de Inana
Ele foi até a rainha de cabeça erguida
Ele abriu bem os braços para a alta sacerdotisa dos céus.
Inana falou:
- Meu amor, a delícia dos meus olhos, me encontrou.
Juntos, fomos felizes.
Ele foi feliz comigo. Ele me trouxe para sua casa.
Ele me deitou no leito perfumado de mel
Meu doce amor deitou-se junto ao meu coração.”
--- A corte de Inana & Dumuz.
O inesperado é dar conta de que a deusa das cobras cretenses era a mãe de todas as coisas, senhora da aurora e do parto e portanto senhora do amor e da vida que toda a mãe transmite aos seus filhos com a verdade e a virtude. Mas esta deusa seria também a mãe do Minotauro e por isso a mãe de todas as guerras e de todas as mentiras. O mais escabroso desta verdade é que Alétheia, a deusa da verdade de que nos podemos recordar num testemunho de boa-fé, pode ter sido a mesma que Aléto, a implacável verdade da lei da vida!
*Alecto, (Ἀληκτώ, a implacável) a Erínia eternamente encolerizada. Encarrega-se de castigar os delitos morais como a ira, a cólera, a soberba, etc. Tem um papel muito similar ao da deusa Nêmesis, com diferença de que esta se ocupa do referente aos deuses, Alecto tem uma dimensão mais "terrena". Alecto é a Erínia que espalha pestes e maldições. Seguia o infractor sem parar, ameaçando-o com fachos acesos, não o deixando dormir em paz.
No Egipto a deusa da Verdade e da Boa Ordem cósmica era Maat, literalmente a “filha da mãe”...quer em Creta era Ker e no Egipto Ta-Wer-et, ou seja apenas *Weret, já que Ta acabaria sendo um mero artigo depois de ter sido o genérico de divindade, ou seja, *Verita depois latinizado como Vertias porque seguramente corresponderia na época minóica a uma tríade de deidades masculinas como as Horai tanto mais provável quanto é uma facto que vamos encontrar este étimo Ver- nas estações do ano, Prima-Vera, Ver-ão e In-Ver-no.
Write (v.) = Old English writan "to score, outline, draw the figure of," later "to set down in writing" (class I strong verb; past tense wrat, past participle writen), from Proto-Germanic *writan "tear, scratch" (cognates: Old Frisian writa "to write," Old Saxon writan "to tear, scratch, write," Old Norse rita "write, scratch, outline," Old High German rizan "to write, scratch, tear," German reißen "to tear, pull, tug, sketch, draw, design"), outside connections doubtful. […]
Words for "write" in most Indo-European languages originally mean "carve, scratch, cut" (such as Latin scribere, Greek graphein, glyphein, Sanskrit rikh-); a few originally meant "paint" (Gothic meljan, Old Church Slavonic pisati, and most of the modern Slavic cognates).
Obviamente que a etimologia do Inglês Write teria que ser de relações duvidosas porque faze-lo derivar de um virtual Proto Germânico *writan com o significado díspar de "tear, scratch" não pode trazer a «verdade» a ninguém. Obviamente que se aceita que não apenas nas línguas indo-europeias como em muitas outras o acto da escrita teria começado pelos grafitos paleolíticos arranhados e rasgados na pedra mas a função da escrita foi desde sempre a de substituir a palavra de honra e gravar para a eternidade a verdade contratual. Por isso se entende que o espírito dos primitivos escritores ingleses seria o de por os pontos nos is à verdade declarada e à revelia das restantes línguas indo europeias ter valorizado menos o aspecto técnico da palavra escrita e sobretudo enfatizar a sua função de verificação da palavra dada. Dito de outro modo, write deve ter sido ou um termo crioulo importado do latim veritas, ou, o que é muito mais provável, um arcaico termo minóico relacionado com a latina Veritas.

MENTIRA
Mistério linguístico difícil de deslindar é o que fez com que o grego deilos deixasse de ter sido a flor, ou a cor, de Talos / Sete para passar a ser apenas o nome da traição miserável mas, a verdade é que terão sido as mesmas razões de psicologia social que continuam a dar ao amarelo uma simbologia negativa e traiçoeira que com o tempo faz com que a alcunha de “amarelos” dos fura-greves viesse a ser-lhes colada à pele e a passar a ser sinónimo desta última negativa realidade. A relação de deilos (δειλός) com a traição poderá ser um aziago étmico congénito, presente em (δολόω = enganar) e no «dolo» do direito romano, já que poderá encontra-se encripta no fonema ulli pela possibilidade de este se confundir com o sumério lul / lu que significava “mentira e traição”.
Lu = Companheiro, Humano, Homem, Pessoas.
Lu-Lu = Ser hmano, homem.
Lul = Rebeldia, Mentira, Deslealdade, Engano.
Lul-La (= prostituta) = Falso, Traiçoeiro.
A semiologia da falsidade e da mentira entre os sumérios estaria ainda ao nível mais primário da realidade social. Qualquer humano poderia ser um companheiro ou um traidor. Possivelmente a primeira evidência social aparecia à consciência dos senhores de escravos aquando da sua rebeldia que ocorreria sobretudo quando estes sentiam a força do grupo. A maior parte das vezes a traição viria dos escravos de maior confiança e mais amarga traição dos amigos mais fiéis.
Em qualquer caso, o conceito sumério de Lul-La (la = prostituta) com o significado de falso e traiçoeiro seria a realidade literal do vernáculo “filho-da-puta” que começaria a surgir numa sociedade que lentamente passava do matriarcado para o patriarcado por força das transformações sociais do esclavagismo e da agricultura intensive para produção de cerveja.
A razão de ser de tão estranha associação semântica pode afinal sem bem simples: é que, lul seria a contracção de *lu-ul, homem flor, ou seja, um homem florido como costumavam ser os cantores de antigamente, e alguns de hoje, um «lu-lu» e um «larilas», calão português que não aparece nos dicionários mas que tem a fonética suméria da delicadeza floral dos que são só «lérias» e nos dão a música suave da mentira e de traição. Enfim, o facto de o amarelo ser a cor de todas as Deusas Mães incluindo Tiamat contra a qual combateu seu neto Marduque; o facto de os “deuses mortos” dos ciclos pascais serem sempre mais ou menos bissexuais ou castrados; o facto de, quer na relação de Creta com o continente helénico, quer na do Egipto com os canaanitas, estes deuses terem andado envolvidos em traições políticas mais ou menos reais ou míticas; a verdade é que o destino pejorativo do amarelo acabaria por ficar ligado, na mística patriarcal, com a cor citrina da perfídia e da traição! Ora, tudo isto pode ter acontecido também porque, em parte, a traição resulta duma cólera retraída, duma inveja vil e biliosa, ou duma cobardia tão medrosa quão merdosa! A relação de Sete com o porco e deste com a vingança cobarde pode ter sido um reforço semântico para a relação deste deus com a traição e com o amarelo bilioso!
De passagem há que referir o óbvio: o termo inglês lie, derivará seguramente do sumério sendo assim uma das muitas provas em como o lado mais vernáculo desta língua, que não sofreu influência da latinização nem do francesismo, deriva de povos primitivos que ali chegaram na época dos gigantes *famoiros, contemporâneos dos sumérios e de possível origem cretense.
Lie (n.) = "an untruth," O.E. lyge, from P.Gmc. *lugin (cf. O.N. lygi, Dan. løgn, O.Fris. leyne, Ger. Lüge, Goth. liugn). To give the lie to "accuse directly of lying" is attested from 1593. Lie-detector first recorded 1909. Synonyms of lie : bull* (* = informal usage)
W.Gmc. *gin-nan, of obscure meaning and found only in compounds, perhaps "to open, open up".
P.Gmc. *lugin < Lu(l)-gen, literalmente o que gera mentiras.
Este étimo manteve a semântica da mentira em termos como «logro» e ludíbrio».
«Ludíbrio» < • (Lat. ludi-briu, joguete), s. m. acto de zombar de alguém; • objecto de mofa, de zombaria; • desprezo; • escárnio; • logro, engano.
Obviamente que não sendo fácil separar a verdade da mentira, sendo ambas estratégias de defesa animal instintiva, podemos aceitar que a mentira apareceu na época minóica como estratégia de guerra psicológica da deusa mãe das cobras e a verdade construída e fabricada (mantras) nos tribunais dos juízes dos infernos presididos por Minos, Sarpedon e Radamento.
A relação de Mitra com a verdade dos contratos parece ter persistido na latinidade lusitana no nome da intrujice (< Pers. druj?) que é a «mentira». De facto a etimologia oficial para este termo é discutível!
                                       > Mentura > Hind. Mantra.
Minotauro > Mintura > «Mentira» < Lat. men-tita, sob o influxo de mentir? < mentior ⬄ Lat. mendax < *Mandrax, o mago embusteiro e  charlatão como Hermes, juiz dos mortos como Minos.
Ou antes, a mentira seria uma forma verbal de mentīor? E qual e porque estranha razão?
Por vezes a mentira realça a verdade deixando o rabo à mostra! Por outro lado, as conveniências de estado devem ter sido urgências muito arcaicas do poder que teve em *Mandrax, o mago embusteiro e charlatão como Merlim e Hermes (juiz dos mortos como Minos), os mais típico e nobre representante da expressão prática de que, “em política o que parece é”, e para tal há que saber mentir com o poder imaginativo da «mente»!
A origem minóica da mitologia persa pode ainda ser encontrada noutros conceitos avéstico tais como Angra Mainyu.
Angra Mainyu > An-kura Minijo > Minus Kaur-an => Sr. Minotauro.
A mentira é assim semanticamente uma invenção mental! A estratégia psicológica do terror sagrado da mitologia seria uma das armas do matriarcado cretense que terá tido na crueldade do mito do Minotauro uma forma de manter o respeito pela talassocracia cretense. Muitos autores antigos pensavam que o mito do Minotauro era de facto uma mentira monstruosa precisamente pela sua inverosimilhança, mas quiçá também pela sua relação com a semântica da mentira! Ora, como muitas vezes as voltas e reviravoltas da conturbada história da mitologia permitem que os sentidos semânticos se invertam, os deuses da verdade e da vida podem transformar-se em deuses de mentira mortal! Ao Minotauro acabou por acontecer isso mesmo, por força da lógica da história que acabou reescrita pelos vencedores atenienses!
Mneme (Lower Greece) = Muse of Memory = Mnemosyne (Rest of Greece).
Se o nome da musa da memória era, ora Mneme ora Mnemosine, pode ter havido múltiplas razões etimológicas para tanto mas um facto não pode ser contornado, eram termos com a mesma semântica logo seguramente variantes do nome da mesma deusa de que Mneme seria a forma elíptica ou apenas a nuclear por oposição a uma variante mais arcaica de tipo apostrófico Mnemosine, literalmente a “Esperta Ausónia” ou seja a astuta filha do senhor do céu que foi Atena / Inana.
Mnemosyne < Mnem(e)- | Ausuna < Ash-Anu
                                          ⬄ Memnon mnêmôn < Min-Anu
> Enki, o deus «Menino» de Ki, o deus dos julgamentos do inferno, senhor dos mês e da mente e das mentiras que a mente humana inventa.
O termo francês “mensonge” reporta-nos para uma semântica construída sobretudo a nível da educação infantil e dos problemas familiares que as mentiras imaginárias das mentes sonhadoras das crianças mais rebeldes causariam. O termo grego ψεῦδος = falso (caminho) parece ter sido gerado neste contexto educativo primitivo. O italiano bugia talvez nos reporte para a tradição italiana do culto do Minotauro como deus do dia das mentiras nas festas dos rapazes explicando também a razão pela qual a mentira tem em inglês como sinónimo informal, o touro, quem sabe se por alguma reminiscência do uso de «tourinas» para treinar os toureiros e forcados no Ribatejo.
«Tourinas» = corrida de novilhas mansas; paródia à corrida de touros, sendo estes representados por canastras, etc.;
Touradas e palhaçadas foram sempre cenários de mentiras, e falsidades que em tempos de rebeldia e de guerra se transformavam em estratégias de guerra psicológica cheias de intrigas, calúnias e de meias verdades transformadas em pragas e impropérios contra os inimigos.

DEUSES ROMANOS – MANES por Artur Felisberto.

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Figura 1: Folias fúnebres etruscas!

Na mitologia romana, os Manes eram as almas dos entes queridos falecidos. A sua veneração está relacionada com o culto aos antepassados. Como espíritos menores, estavam também relacionados com os Lares, os Genii e com os Di Penates. Eram honrados durante a celebração das Parentalia e das Feralia, em Fevereiro. Os Manes eram ainda chamados de Di Manes (Di significa "deuses"). Os túmulos romanos incluem, muitas vezes, as letras D.M., como abreviatura de dis manibus, ou dedicado aos deuses-Manes".

Mania é a personificação da loucura na mitologia grega, geralmente enviada àqueles que não observam os ritos, para lhe perturbar o espírito.

 

Ver: MENADES (***) & MANA (***)

 

Na mitologia romana e Etrusca, Mania (ou Manea) era a deusa da morte. Ela, junto com Mantus, governava os infernos. Era dito que ela era a mãe de fantasmas, dos mortos vivos, e outros espíritos da noite, como também os Lares e as Manes. Tanto a Mania grega como a e latina derivam de PIE "*men-, pensar". Conceitos cognatos incluem o menos grego Antigo ("vida, vigor") e o spírito mainyu avéstico, e…a mens…da mente que tecia a mentira latina.

Muta < Matuta < Mater + Mutata <= Mut Ati

<= Mut-Ana > *Mutuna > *Mutina > mutna.

Muta / Tacita; Silence (or change); Mutinus Mutunus = A Roman fertility god who was invoked by women seeking to bear children. He was depicted as ithyphallic or as a phallus. Also the Roman form (Mutinus) of the Greek Priapus.

Como Lares = Larish, lit. filhos de Lara,

Então, Mânia = Lara, (porque mãe dos Lares).

«Manhã» < Mani-ana < Mania > mane.

Mania seria uma forma de Afrodite Melania e a mesma que a etrusca Mean e obviamente uma variante de Ereshkigal tal como Mantus seria o egípcio Montu ou Min e o mesmo que Nergal.

Na verdade os cultos dos mortos eram, na antiga religião etrusca, quase tão envolventes como eram na antiga civilização Egípcia.

At midnight, the Paterfamilias (or Materfamilias) arises and dresses with no knots, buckles, or other constricting items on his person (thus he is barefoot). He makes the sign of the mano fico with his hands (a fist with the thumb placed between the index and middle fingers; a sign of good luck and fertility) and then washes his hands in pure water. He then walks through the house, spitting out nine black beans, being careful not to look behind him as the lemvres accept the beans as a sort of ransom for the living members of the household. As he spits out each one, he says "With these beans I redeem me and mine." Once all nine beans have been accepted by the lemvres and the entire house walked through, the Paterfamilias then washes his hands again, clashes two vessels of bronze together, and nine times says "Ghosts of my fathers, be gone." ("Manes exite paternae.") In addition, there are public ceremonies of a similar nature, designed to cleanse the State as a whole as the household is cleansed.

O «mano fico» tem em português o nome de «figa» de que o Menat Egípcio seria uma variante menos explicitamente sexual! Pelo menos o termo «figa» ainda conserva tal conotação uma vez que pode substituir como eufemismo todas as frases do calão em que se pretende evitar referir a cópula pelo vernáculo «foda» (o «efe» dos três pontos do puritanismo beato e bem falante!). Na verdade o calão só tem contra si o lado arcaizante da linguagem pois conseguiu a proeza de ter sobrevivido à Inquisição e a todas as formas de ostracismo cultural por «orgulho e preconceito» das culturas dominantes ao longo de séculos, seguramente por ter a seu favor uma tremenda força mágica de natureza semântica.

«Mano fico» = lit. «mão (que finge um) figo»???

É duvidoso que assim seja, ou pelo menos que tenha sido apenas assim

< Fi(n)co > fingo, fingere, finxi ó «Esfinge» < Lat. Sphinx, ngis < Gr. Σφίγξ

<

O mais provável é que estejamos perante um cruzamento de linha etimológicas que mutuamente se reforçaram.

«Figo» (< Lat. ficu), s. m. fruto da figueira, pode ter sido inicialmente apenas um *kiko, uma quase genérica «qualquer coisa» filha da Terra Mãe!

The mano fico, also called figa, is an Italian amulet of ancient origin. Examples have been found from the Roman era, and it was also used by the Etruscans. Mano means "hand" and fico or figa means "fig," with the idiomatic slang connotation of a woman's genitals. It represents a hand gesture in which the thumb is thrust between the curled index and middle fingers in obvious imitation of hetorsexual intercourse. (...) The mano fico shown here is a modern pewter reproduction of a 19th century silver amulet, probably from the area around Naples, where such charms were extremely popular. -- © 1996-1999 catherine yronwode, cat@luckymojo.com.

Figura 2: «Mano fico».

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Entretanto terá surgido o amuleto na forma da «mão fincada» simulando um coito que enquanto acto de fertilidade se opunha à morte e era então um símbolo de «coisa boa». Ora, ainda hoje a gíria popular dos portugueses reserva a expressão idiomática de «chama um figo» às «coisas boas» o que afinal não será assim uma idiossincrasia tão lusitana quanto isso porque a língua latina teria utilizado a expressão «mano fico» precisamente nesse sentido. Porém, é bem possível que inicialmente o termo utilizado tenha sido mano *finco, lit. «mão fincada», «em garra fechada»!

 

Ver ESFINGE/ÉDIPO E A ESFINGE. (***) & MENAT (***)

 

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Figura 3: Sarcófago etrusco, dito dos «felizes esposos»!

A relação linguística da «figa» com o Menat persistiu no nome do culto dos Manes e lémures, ainda presente na fórmula ritual das «lamúrias»: Manes exite paternae!

Manes < Manish > Manat > Menat.

Pois bem, o Menat era pertença quase exclusiva de Hator, a deusa do amor, porque arcaica deusa taurina da fertilidade. Assim, enquanto símbolo de protecção e boa sorte fazia derivar a sua força da metáfora óbvia da sexualidade enquanto fonte de fertilidade e vida que por magia simpática permitiria aos mortos ressuscitarem no além! Por alguma razão então o culto dos Manes tinha como correspondente maior o culto da deusa Mania, a que se tornou numa deusa da mania enquanto «loucura sagrada» seguramente por degenerescência de antigos cultos de oráculos proféticos e sibilinos relacionados na versão ritualmente tresloucada dos curibantes de Cibele.

 

Ver: CIBEL (***) & MENAT (***)

 

Mâna, also Genita Mana, and Ma-nuâna, ae, f., ancient Roman goddesses who presided over the submanes, (Mart. Cap. 2; Plin. 29, 4, 14.)

Mâna < Manina < Manuana > Mania(na) > Mania.

Por vias etimológicas não tão estranhas quanto isso estes deuses e ritos permitem cruzar, com perdas semânticas evidentes, os cultos dos mortos dos latinos com os do Egipto, por intermédio dos tão conhecidos cultos funerários dos etruscos, bem como entender a deusa Maat no seu confronto com a verdade «nua e crua» da morte!

Mens, Goddess of right thinking and the mind. (reparar na relação funcional com a Egípcia Maat) She is sometimes known as Mens Bona.

Mens Bona < Meanish Wauna

ó Waun-ish Meana, Lit. «Vénus, a filha de Mania

< Meanish > Menat > (an)-Maat

Vénus, seria então (a vaca) do Mino(tauro), a filha de Mania, seguramente uma variante de Mut / Tiamat, e, por isso mesmo mãe de Ishtar.

De qualquer modo a relação etimológica com a Deusa Mãe na mitologia latina com estes arcaicos cultos telúricos atinge o máximo da significância linguística na ralação fonética obvia destes nomes com o da deusa do mês de maio, Maia = Maiesta - Mãe Terra = Lara Mania = associated with Vulcan and sometimes equated with Fauna and Ops!

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Figura 4: "Dança da roda". Fresco dum túmulo etrusco do sec. V a. C. Museu Nazional de Naples.

 

Ver: HERMES, «O FILHO DA MÃE» / MAIA (***)

 

Se Maia foi a deusa mãe e foi mãe de Hermes seria natural que tivessem existido entre os latinos cultos a ídolos masculinos correlativos dos Erma gregos que, de facto, foram os Penates.

Di Penates, gods of the home and hearth. Most homes have an altar to them. Penates were the gods who were supposed to attend to the welfare and prosperity of the family. Their name is derived from Penus, the pantry, which was sacred to them. Every master of a family was the priest of the Penates of his own house. They were worshipped at the hearth and were given their part of the daily meals. They were rescued by Aeneas from burning Troy and via Lavinium and Longa brought to Rome. Upon their arrival, the Penates were housed in the Temple of Vesta, on the Forum Romanum (Penates Pvblici).Their cult is closely related to that of Vesta and the Lares.

Penates < Phen-Atis => penus < Phenus < Kianus > Wianus > Venus!

Os Penates Pvblici eram representados por dois jovens sentados e, se ao que parece os foram importados da Frígia por Tarquínio, a tradição mais comum refere que foram trazidos por Eneias da Anatólia. No entanto, estes jovens seriam os Kauroi gregos que tanto poderiam cruzar-se com os cultos de Deméter & Koré como com os Kouros Apolíneos e dos «curetas» que com os seus gritos frenéticos protegeram o nascimento de Zeus e seriam assim uma variante dos ululantes «curibantes» frígios revelando-nos o profunda relação que o culto dos mortos teria tido com o esperança na ressurreição expressa na renovação das gerações!

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Figura 5, Figura 6 e Figura 7: Este erotismo fúnebre etrusco, presente no "túmulo de Aquiles", poderia ser considerado hoje piada de mau gosto mas, nos tempos dourados da «idade de Saturno», a sexualidade era um rito de fertilidade taurina, que, enquanto função vital, era um esconjuro da morte e uma garantia de ressurreição reprodutiva!

Então não nos espantaria que exista confusão de opiniões que quando respostas no seu devido lugar fariam de Tarquínio o responsável pelos cultos matriarcais dos Manes, estes sim que teriam sido contaminados pelos cultos frígios de Cibele, enquanto os Panates teriam sido uma variante dos cultos agrários de morte e ressurreição relacionados também com o frígio Atis e com Telepinus (< Tellus + Pinus?) hitita.

É fácil de ver que o culto dos Penates era uma versão paternalista dos anteriores cultos aos Manes e por isso mesmo mais prestigiados e respeitados!

O esconjuro da morte pelo erotismo onde o homoerotismo seria mera variante abençoada pela macha deusa mãe! Na verdade, os cultos dos mortos dos latinos acabaram por perder a típica alegria desses crentes que esperavam pela ressurreição que eram etruscos de quem os romanos apenas herdaram os aspectos rituais e o lado mítico mais negativo relativo à inevitabilidade da morte.

«Macha» < Ma-isha, lit. “filha da mãe” > Maija > Maia.

Sendo assim somos quase obrigados a suspeitar que os etruscos fariam parte de uma cultura autóctone aparentada com a tradição minóica que partilharia com os Egípcios as crenças na morte e ressurreição típicas das civilizações matriarcais em transição para a ruralidade agrícola enquanto os romanos corresponderiam ao componente emigrado da Anatólia hitita que partilharia com os assirio-babilónicos o cinismo diante da morte, como reacção ao medo diante da morte, característica duma cultura, dita indo-europeia, mas que mais não seria do que uma cultura paleolítica recém chegada das zonas centro-europeias e, por isso, ainda primitiva e na fase heróica.

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Figura 8: A «joia de vivere» como esconjuro do medo de morrer, numa bela e terna cena de homoerotismo num banquete funério etrusco!

Em qualquer dos casos podemos concluir que o nascimento etimológico de Vénus andou relacionada com o muito arcaico Pan, o deus do Fogo na variante latina de Fauno, e a deusa mãe da «Terra e do Céu» de quem seria a filha querida (Vénus < *Ki-An-Ish, variante de Prosérpina, foneticamente válida para Afrodite de que Vénus era o heterónimo latino!)