Figura 1: Interpretação bizantina do Jovem Rico.
Lázaro bem poderia ter sido o “jovem rico” dos evangelhos precisamente porque também ele era jovem e rico!
João 11: 5 Ora, Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro.
João 11: 5 Ora, Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro.
Marcos 10: 21 E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, e vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem e segue-me.
Por outro lado também aquele foi amado por Jesus, tal como este o foi!
The language of (John 11:1) implies that the sisters were the better known. Lazarus is "of Bethany, of the village of Mary and her sister Martha." From this and from the order of the three names in (John 11:5) we may reasonably infer that Lazarus was the youngest of the family. All the circumstances of John 11 and 12 point to wealth and social position above the average. -- The International Standard Bible Encyclopedia.
Claro que quem se atreve a dizer que “o rei vai nu” sem ter a desculpa duma natural ingenuidade infantil corre o risco de que lhe seja apontada a sua própria nudez! A falta de escrúpulos dos que vivem dos lucros dos vendilhões do templo é igual à dos sacerdotes que chulavam a prostituição sagrada dos tempos mesopotâmicos (e não só!)!
What about the homosexual rumors? Proponents of homosexuality would like to have had Jesus on their team, and over the centuries they have tried to recruit him. They are the only ones, apparently, to realize that Jesus really wasn't romantically involved with women, so they like to draw attention to his relationship with the boys. [1]
A verdade é que, o que marca a diferença cultural dos tempos modernos a respeito da conquista do direito à diversidade de orientação sexual é precisamente este: já não e possível continuar a acreditar que um celibatário trintão possa andar sempre rodeado de homens, dar-se ao luxo de ter amigos íntimos particulares sem que isso seja, no mínimo, suspeito de homossexualidade platónica não assumida!
Os evangelistas focaram a sua principal atenção sobre a personagem de Jesus e, como seria de esperar, omitiram referências sobre personagens secundárias. Sabemos também que os textos originais foram sendo corrigidos em pormenores de acordos com as conveniências decorrentes das lutas fratricidas que existiram nas comunidades cristãs primitivas. Assim as referências a Lázaro parecem ter-se tornados incómodas por suspeita de gnosticismo e foram reduzidas ao mínimo, aparecendo nos sinópticos apenas como um mendigo leproso. No entanto, o mais natural seria admitir que Jesus só teria amado de forma memorável (no evangelhos, pelo menos!), ou seja, apaixonado, uma única vez e pelo mesmo jovem. Então o jovem rico, que começou por ser anónimo, veio a ter nome quando Jesus o veio a conhecer posteriormente.
Ora, todos os sinópticos referem este episódio menos João! A explicação pode ser simples: como todos estes se terão inspirado em Marcos, que por ora (e em tese) seria o Lázaro do IV evangelho, e como este, também em tese, se inspirou nos relatos de Maria Madalena naturalmente que esta não poderia ter sabido do encontro iniciático entre Jesus e Lázaro porque tais seriam, então como agora, as regras elementares de decência e do pudor masculino.
Marcos: 10 –- 17 E, pondo-se a caminho, correu para ele um homem, o qual se ajoelhou diante dele e lhe perguntou: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? 18 E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom senão um, que é Deus. 19 Tu sabes os mandamentos: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não dirás falsos testemunhos; não defraudarás alguém; honra a teu pai e a tua mãe. 20 Ele, porém, respondendo, lhe disse: Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade.
21 E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, e vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem e segue-me. 22 Mas ele, contrariado com essa palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades. Então, Jesus, olhando ao redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os que têm riquezas! 24 E os discípulos se admiraram destas suas palavras; mas Jesus, tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no Reino de Deus! 25 É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no Reino de Deus. 26 E eles se admiravam ainda mais, dizendo entre si: Quem poderá, pois, salvar-se? 27 Jesus, porém, olhando para eles, disse: Para os homens é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis. | Mateus: 19 –- 16 E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei, para conseguir a vida eterna? 17 E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Não há bom, senão um só que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. 18 Disse-lhe ele: Quais? E Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho; 19 honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo. 20 Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado (desde a minha mocidade[2]); que me falta ainda?
21 Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; e vem e segue-me. 22 E o jovem, ouvindo essa palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades.
(ver: Evangelho dos Hebreos)
23 Disse, então, Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no Reino dos céus. 24 E outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no Reino de Deus. 25 Os seus discípulos, ouvindo isso, admiraram-se muito, dizendo: Quem poderá, pois, salvar-se? 26 E Jesus, olhando para eles, disse-lhes: Aos homens isso é impossível, mas a Deus tudo é possível. |
Luc 18 - 18 E perguntou-lhe um certo príncipe, dizendo: Bom Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna? 19 Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom, senão um, que é Deus. 20 Sabes os mandamentos: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra a teu pai e a tua mãe. 21 E disse ele: Todas essas coisas tenho observado desde a minha mocidade. 22 E, quando Jesus ouviu isso, disse-lhe: Ainda te falta uma coisa: vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me. 23 Mas, ouvindo ele isso, ficou muito triste, porque era muito rico. 24 E, vendo Jesus que ele ficara muito triste, disse: Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os que têm riquezas! 25 Porque é mais fácil entrar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no Reino de Deus. 26 E os que ouviram isso disseram: Logo, quem pode salvar-se? 27 Mas ele respondeu: As coisas que são impossíveis aos homens são possíveis a Deus.
Aquilo que podemos entender do remate desta cena é que o grupo de discípulos era composto por gente rica ou, pelo menos gente fina e ambiciosa, pois, de outro modo, teriam concluído que só os pobres e, eventualmente, os remediados é que entrariam no reino dos céus!
Figura 2: Cristo e o Jovem Rico, de Heinrich Hofmann.
Aquilo que podemos entender do remate desta cena é que o grupo de discípulos era composto por gente rica ou, pelo menos gente fina e ambiciosa, pois, de outro modo, teriam concluído que só os pobres e, eventualmente, os remediados é que entrariam no reino dos céus!
Em boa verdade, este homem rico seria Simão Zaqueu, o pai de Mateus / Matias e de Marcos.
O aforismo cristão que andaria na tradição oral de que “um homem não pode servir a dois senhores”, foi desprezado por Marcos por este se recusar inconscientemente a colocar na posição de servente.
"A man/servant has no wish to serve two masters" appears in the Gospels of Luke, Matthew, and Thomas; but not Mark. It is certainly a quote from the earliest years of the oral tradition. But in Thomas and Luke, it reads "servant" instead of "man"; it probably read "servant" in the oral tradition and/or Q Matthew edited out the "servant".
Dito de outro modo, esta é uma das muitas passagens evangélicas que, lidas com a devida a tenção, permitem desmistificar muitos dos preconceitos que se foram desenvolvendo em volta da figura de Jesus por causa de séculos e séculos de leituras ingénuas e literais, espalhadas por todo a eternidade dos longos anos da cristandade medieval, muitas vezes com a subconsciente intenção de fazer da “Boa Nova” o “ópio do povo”!
Jesus não seria um pobretana, filho dum vulgar carpinteiro, mas o filho assumido dum artesão abastado, possivelmente José de Arimateia, e os seus discípulos seriam gentes de posses.
Simão Pedro seria um próspero empresário de pescas que se podia dar ao luxo de deixar temporariamente o negócio e ir tirar com o mestre Jesus, lições de religião-e-moral, a disciplina política daquele tempo.
Jesus seria de facto um homem rico e de posses, porque bem casado com a irmã Maria Madalena do jovem rico e discípulo amado, Lázaro, servido por um pequeno harém de viúvas de Herodes.
9Vocês sabem qual foi todo o amor de nosso Senhor Jesus Cristo: ainda que sendo rico, tornou-se pobre por amor de vocês, a fim de que pela sua pobreza pudessem enriquecer. -- 2 Coríntios 8
Simão & André eram pescadores que teriam negócio de família e poderiam por isso dispensar a faina para se tornarem “pescadores de homens”, ou seja, para se dedicarem às lides político-religiosas, sem arriscarem passar fome. Zebedeu, pai de Tiago & João, era um empresário porque tinha empregados e podia dispensar o trabalho dos filhos. Os restantes discípulos seriam igualmente ricos ou abastados, para já não falar de Mateus, rico tabelião que, por sinal, era um homem rico e irmão do jovem Marcos, desta cena!
Marcos 1: 16 E, andando junto ao mar da Galiléia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. 17 E Jesus lhes disse: Vinde após mim, e eu farei que sejais pescadores de homens. 18 E, deixando logo as suas redes, o seguiram.
19 E, passando dali um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes, 20 e logo os chamou. E eles, deixando o seu pai Zebedeu no barco com os empregados, foram após ele.
Por outro lado, os que pensam que Jesus se fez Deus a si mesmo ficam aqui desmentidos no que se transformou no dogma fundamental do credo cristão! Possivelmente o original hebraico conteria uma expressão que seria equivalente à expressão “Bom Deus”! De facto, o evangelho dos Nazorenos, ainda que faça de Jesus um filho de Deus, coisa que são todos os seres da criação, explica que a razão porque só “Deus pai do Céu” pode ser “Bom Deus” reside nos atributos cósmicos de fazer chover e nascer o sol para todos, o que a cultura antiga atribuía sempre e apenas a Deus supremo e “senhor de todas as coisas”!
"Why do you call me good? One there is who is good -- my Father who is in heaven -- who makes his sun to rise on the just and on the unjust, and sense rain on the pure and on sinners." -- Gospel of the Naassenes [perhaps a reference to the Gospel of the Nazaraeans] (in Hippolytus, Refutation of All Heresies, V.7.26)
Se é fácil o anonimato dum pobre pedinte já é mais difícil manter segredos sobre a vida de pessoas ricas e influentes com vidas privadas constantemente sujeitas à devassa, a cargo da natural coscuvilhice social. E, príncipes, nas palavras da Vulgata, não haveriam a rodos na Judeia desse tempo! Claro que não se trataria de um príncipe na acepção moderna de “primeiro entre primeiros”, como os filhos dos rei, mas na conotação de “primeiro entre o comum dos homens”, ou seja como chefe, tal como era o caso dos chefes de sinagoga, os membros do sinédrio e o sumo sacerdote, etc.!
No caso deste senhor rico ser o “jovem rico” seria pouco provável que ele fosse já chefe de alguém pelo que o mais provável seria que nesta cena ele estivesse acompanhado por alguém mais velho possivelmente o pai Simão Zaqueu porque o irmão mais velho Mateus, este sim, publicano, estaria junto de Jesus enquanto discípulo deste!
Então, porque ficou este “rico” escondido sob a capa do mais secreto dos anonimatos, quando afinal, a admitir a tese óbvia de que se trataria do mancebo, recorrente nos evangelhos de Marcos, e que, como se verá noutro contexto, facilmente se expunha à nudez, fosse porque não se importasse com isso, fosse apenas para salvar a pele? A questão da veracidade dos nomes do novo testamento coloca-se constantemente e só pode ser entendida num meio cultural de zelotismo de clandestinidade penal e política, já que à época ser anti-romano poderia ser punível com pena capital por crime de alta traição.
Second, Eisenman has developed a keen sense for the "name game" played in the sources. Most of us have sometime scratched our heads over the tantalizing confusions latent in the strange redundancy of similar names in the New Testament accounts. How can Mary have had a sister named Mary? Is there a difference between Joseph Barsabbas Justus, Judas Barsabbas Justus, Jesus Justus, Titius Justus, and James the Just? Whence all the Jameses and Judases? Who are Simon the Zealot and Judas the Zealot (who appears in some NT manuscripts and other early Christian documents)? Is Clopas the same as Cleophas? What's going on with Jesus ben-Ananias, Jesus Barabbas, Elymas bar-Jesus, and Jesus Justus? What does Boanerges really mean? Is Nathaniel a nickname for someone else we know of? And so on, and so on. Most of us puzzle over these oddities for a moment—and then move on. After all, how important can they be, anyway? Eisenman does not move on till he has figured it out.
Possivelmente porque assim o quis o relator principal dos sinópticos, que foi Marcos, na medida em que, sendo o próprio visado na companhia do pai Simão Zaqueu e na presença do irmão mais velho, Mateus, se não receava a vergonha da nudez física, já, no seu orgulho de ousada juvenilidade, se envergonharia da cobardia moral que a fuga debaixo dum lençol indiciava.
Ver: MARCOS (***)
No entanto, como explicar em Mateus que faça sentido a frase: “disse-lhe o jovem: Tudo isso eu tenho guardado desde a minha mocidade”, sendo ainda jovem o interpelante? A versão latina e alexandrina não contêm este contra-senso! Mesmo aceitando que se trata de uma interpolação desastrada dos copistas bizantinos, recopiada pela versão do rei Jaime, a verdade é que tal interpolação é extraída ipsis verbis de Marcos que poderia conter uma velada referência `a tradição original de que nesta cena estariam dois homens, um jovem e um homem feito possivelmente pai e filho!
E, na verdade existem indícios fora dos canónicos de que seriam mesmo dois os ricos presentes nesta cena.
Díjole el otro de los ricos: ¿Qué de bueno tengo que hacer para poder vivir? Díjole: Cumple la ley y los profetas. Respondió le: Ya lo vengo haciendo. Díjole: Ve, vende todo lo que es tuyo, distribúyeselo entre los pobres, y vente, sígueme. Mas el rico empezó a rascarse la cabeza, y no le agradó (el consejo). Díjole el Señor: ¿Cómo te atreves a decir: He observado la Ley y los Profetas? Puesto que está escrito en la Ley: Amarás a ru prójimo como a ti mismo. Y he aquí que muchos hermanos tuyos, hijos de Abrahán, están vestidos de basura y muriéndose de hambre, mientras que mi casa está llena de bienes abundantes, sin que salga nada de ella. Y volviéndose, dijo a Simón, su discípulo, que estaba sentado a su lado: Simón, hijo de Juan, es más fácil que un camello entre por el ojo de una aguja que un rico en el cielo. – Evangelio dos Hebreos (Comentario de Orígenes a Matt. 15:14 en la versión Latina)
De facto, para que o extracto de Orígenes a respeito dos evangelhos perdidos dos Nazorenos (Judeus e Ebonitas) tivesse falado no “segundo rico” é porque teria havido um outro de dois a falar ou a aparecer primeiro.
Por outro lado, se mocidade não é infância também não está muito longe da juventude, e, de qualquer modo, os originais bizantinos falam em juventude!
Mocidade= • s. f. estado de moço; • juventude; • (fig.) falta de reflexão; • imprudência.
Pois bem, aceitando a tese de que Mateus foi irmão de Marcos fica em parte explicada a aparente divergência entre estes dois sinópticos a respeito da idade deste rico na medida em que ambos se limitaram a dizer da missa a metade. Estando ambos presentes cada um procurou manter o anonimato das personagens o mais que pode. O mais velho, Mateus, terá apenas reparado na desenvoltura do mais novo e este na perspicácia do mais velho e, por natural autodefesa, ambos entenderam a lição de generosidade social como tendo sido dirigida apenas ao outro dos dois presentes!
Claro que a leitura integral deste capítulo dos evangelhos dos judeus nos ajudaria definitivamente a saber qual dos dois ricos foi alvo das réplicas de Jesus mas, como é óbvio, tal é impossível enquanto este evangelho apócrifo estiver perdido! Comparando a informação disponível a respeito de todos os evangelhos em latim termos que concluir que se tratava de “alguém de muitas posses” (quidam (...) habens possessiones multas), segundo Marcos, de um “jovem rico” (Unus (…) adulescens (...) habens multas possessiones,) segundo Mateus, de um chefe que era príncipe e muito rico (Princeps (...) quia dives erat valde) segundo Lucas e, afinal, de “dois ricos” segundo o evangelho dos Nazorenos.
Assim, a primeira impressão com que teríamos ficado a partir das traduções comuns seria a de que Marcos contrariaria Mateus por colocar nesta cena um adulto em vez dum jovem quando na verdade este se limitou a usar uma linguagem indefinida quanto à idade e identidade desta pessoa! O mais provável é que esta cena se tenha desencadeado por causa da impulsividade juvenil do segundo “rico”, filho do (primeiro) “rico” que sendo o verdadeiro detentor da riqueza (de que o “jovem rico” era ainda apenas herdeiro), ao ouvir o que ouviu, coçou a cabeça constrangido!
De qualquer modo, o célebre aforismo proto-cumunista de que “é mais fácil a um camelo entrar pelo cu duma agulha do que um rico no reino dos céus” só poderia ter sido segredada a Marcos por Simão Pedro, seu tutor e mentor depois da morte de Jesus!
A verosimilhança desta cena fica atestada pela presença de Simão Pedro referida no seu final em todos os sinópticos que copiaram Marcos e, por isso, todos referem a tristeza do jovem mas só o próprio Marcos a terá entendido inteiramente! Mais do que pena pela impossibilidade de entrarem no reino dos céus, Marcos e/ou Mateus, ter-se-ão entristecido pelo preço que teriam que pagar para corresponderem ao amor do mestre e entrarem no reino (messiânico) dos céus da política religiosa de Jesus!
Se em Marcos a identidade do “jovem rico” fica prejudicada pela sua indeterminação, pelas razões já referidas, a verdade é que, razões subjectivas bem mais fortes reforçam a suspeita de que Marcos sabia demasiado sobre a identidade da personagem na medida em que foi o único a referir que “Jesus, olhando para ele, o amou”, pois, como é óbvio, destas coisas só os visados se apercebem das flechas dos olhares cruzados e entendem a dor que o amor deixa nelas!
Se facto, nem sempre os próprios visados são os mais atentos às trivialidades que se passam à sua volta e são muitas vezes outros a recordar mais tarde o que realmente se passou, já o mesmo não acontece quando a memória fica enredada nas malhas da emoção! Quem poderá saber das emoções secretas e profundas dum amor à primeira vista senão os próprios envolvidos?
Claro que a honestidade moral obriga a que se tenha de explicar a razão pela qual os restantes sinópticos (Mateus e Lucas) se esqueceram, ao copiarem Marcos, de registar que Jesus amou o “jovem rico” e que, (por isso mesmo?), lhe deixou esperanças de salvação! E tal explicação torna-se necessária independentemente do facto de Marcos ser ou não o “jovem rico” e, portanto, o próprio visado!
A explicação pode ser simplesmente a de que Marcos só expôs os seus secretos sentimentos numa versão secreta tardiamente revista, já depois de se terem espalhado as versões que viriam a ser copiadas pelos restantes sinópticos. Ficaria assim explicada a existência do “Evangelho Secreto de Marcos”, que se adiante referirá.
Estando fora de causa imaginar que Jesus tenha sido um escandaloso debochado, só sendo Marcos o próprio “jovem rico” se entende que tenha sido o único a dar-se conta de que Jesus o amou! Nestas coisas raramente os próprios visados se enganam ou, pelo menos, só uma grande cumplicidade de sentimentos permite explicar o risco de alguém se expor em relatos tardios relativos a paixões íntimas e secretas. Por outro lado, Marcos é também o único a registar o momento de fragilidade emocional de Jesus, depois desta tão embaraçada quanto embaraçosa troca de olhares, revelando o seu lado humano tratando os discípulos por filhinhos. Porém, como um amor à primeira vista é, na semântica dos franceses, um relâmpago efémero, também não deixa rasto senão nos intervenientes e apenas quando é correspondido e alimentado pelo que ficamos desde já a suspeitar que este episódio terá sido o primeiro encontro duma intensa e, quiçá trágica, história de “amor à primeira vista” que viria a culminar na morte e ressurreição iniciática de Lázaro com contornos eróticos que o “Evangelho Secreto de Marcos” irá esconder (e revelar apenas a gnósticos iniciados) até a descoberta deste manuscrito nos tempos modernos!
Claro que, para afirmar que o “jovem rico” seria o próprio evangelista que o descreve, não temos apenas meras inferências circunstanciais mas, como não temos contra argumentos que impossibilitem esta tese em absoluto, temos também as inferências retiradas da relação deste com Lázaro e com o “discípulo amado”.
Este episódio aparece em todos os sinópticos como sendo ora alguém rico, ora um jovem, ora um nobre. Pois bem, mais uma vez no Evangelho de João não existem referências a este episódio. Porque? Porque tendo este sido, em tese, inspirado por Maria Madalena e não tendo esta estado presente nesta cena nada soube dela nem poderia ter sabido porque tais assuntos eram então, como agora, exclusividade masculina e dos intervenientes. Por outro lado, também ninguém lhe terá contado esta história porque esta se terá passado com o seu amado esposo ou namorado e, a ser como se suspeita, com o seu irmão Lázaro. Como não é credível que Jesus se tenha exposto ao ridículo dos humanos apaixonados duplamente insensatos, nem, como senhor duma moralidade radical (que não seria seguramente inteiramente teórica como soi acontecer entre o comum dos políticos mais humanos), é inadmissível que tenha cometido o pecado do escândalo moral, que tanto reprovava, atentando contra o interdito da revelação dos segredo íntimos da iniciação para a qual este episódio acabará por evoluir. Então, ficamos com a quase certeza de que o ”jovem rico” é o próprio autor do Evangelho de S. Marcos que inspirou os sinópticos, o único que poderia mais tarde ”vir a dar com a língua nos dentes” confessando psicanaliticamente (sem o querer nem disso se aperceber (?) a sua secreta paixão pelo homem cuja força moral, a par da probidade intelectual de Sócrates e Aristóteles, iria marcar toda a cultura ocidental durante mais de dois mil anos.
Este mesmo jovem iria acompanhar a intimidade de Jesus até a sua prisão no monte das oliveiras onde mais uma vez se vai encontrar um episódio anedótico de contornos eróticos que, além de conter pouca relevância para a doutrina cristã, mais uma vez, se inclui no campo daquelas memórias efémeras tipicamente psicanalíticas e autobiográficas.
A historicidade do “jovem rico” suspeita-se realizada na personagem de Marcos apenas a partir das cumplicidades implícitas entre ambos.
O facto de na biografia oficial da cristandade Marcos estar longe de ser um príncipe Judeu fica numa parte por conta dos exagero de Lucas e, noutra, às mesmas regras de parcialidade apologética que fizeram de Jesus, um Messias laico de entre os candidatos recorrentes ao trono dos Asmoneus ou ao poder sacerdotal do Templo, um Cristo místico candidato ao trono universal da cristandade emergente!
No entanto, é possível que Lucas não tenha sido tão exagerado quanto se pensa neste assunto.
A história oficial de S. Marcos começa nos Actos dos Apóstolos, porque até então ou ela era simplesmente o jovem rico, também chamado Lázaro no 4º evangelho, ou oficialmente não era ninguém no meio de vários Marcos que entretanto foram aparecendo. De facto, a tradição cristã identifica-o com João Marcos (em grego: Μάρκος Ιωάννης, Márkos Ioánnes), mencionado como companheiro de São Paulo nos Actos dos Apóstolos e que posteriormente teria se tornado um discípulo de Simão Pedro (São Pedro). Uma tradição do século III d.C. referida na obra espúria "Sobre os Setenta Apóstolos" de além de distinguir os dois acrescenta um terceiro Marcos à lista dos "Setenta Discípulos" que foram enviados por Jesus para a Judeia a pregarem o evangelho (veja Lucas 10:1-16).
(…) Dos Setenta Discípulos
14. Marcos o evangelista, bispo de Alexandria. (…)
56. Marcos, primo de Barnabé, bispo de Apolonia.
65. Marcos que também é João, bispo de Bibloupolis. --
This listing by Hippolytus is made complicated and becomes difficult to appreciate for its applauded intent, when it is observed that at the fifty-sixth position, we meet” Mark, cousin of Barnabas, bishop of Apollonia”, and at the sixty-fifth position, ”Mark, who is also John, bishop of Bibloupolis, ”for both of these are the same ”Mark” of the New Testament. -- Dr. Clyde Curry Smith, Professor Emeritus of Ancient History and Religion, University of Wisconsin, River Falls.
A lista de Pseudo Hipólito tem pouca ou nula historicidade e contém outros erros graves como referir no item“9. E Tiago o filho de Alfeu, que ao orar em Jerusalém foi apedrejado até à morte pelos judeus, e foi enterrado lá ao lado do templo” para logo a seguir colocar no topo da lista dos setenta: “1. Tiago o irmão do Deus, bispo de Jerusalém”, quando sabemos que ambos se referem a S. Tiago, o irmão do Senhor. Obviamente que esta lista é uma das muitas ficções piedosas do cristianismo emergente forjada com o propósito de dar suporte fundacional aos bispados criados pela Igreja saída da reforma do início do 3º século. Marcos era o pseudónimo de João Marcos que por ser romano não seria nome corrente na palestina do tempo dos setenta discípulos tanto mais que parece seguro que os judeus mais cultos tinham por uso recorrer a pseudónimos gregos pelo que a probabilidade de haver 3 Marcos na lista dos setenta seria mínima. Não sabemos de qual das muitas Apolónias antigas um dos Marcos da lista dos 72 era bispo mas se fosse Apolonia de Cirene seria quase seguramente um bispado de João Marcos, primo ou sobrinho de Barnabé e até aqui tudo plausível. O improvável é que este não tenha sido o mesmo que veio a ser evangelista na medida em que os textos canónicos apontam para isso e a Igreja de Alexandria teria sido fundada por S. João Marcos de que só não foi o primeiro bispo metropolitano porque tais designações seriam então desconhecidas.
Resta saber qual seria a cidade de Bibloupolis de que um Marcos de sobrenome João foi bispo e membro do grupo dos 72 discípulos. A verdade é que a cidade de Bibloupolis não aparece em mais referências históricas além desta lista. É evidente também que 3 João Marcos no mesmo grupo de 72 discípulos seria confusão a mais que Jesus teria desfeito com alguma alcunha pessoal.
Il y a des divergences et des erreurs dans certaines listes compilées de ces 70. Une liste attribuée à saint Dorothée de Tyr (5 juin) voit certains noms répétés (Rodion ou Hérodion, Apollos, Tychique, Aristarque), alors que d'autres sont omis (Timothée, Tite, Epaphras, Archippus, Aquila, Olympas).
Se existem listas com nomes repetidos nada obsta a que na de Pseudo Hipólito o nome de Marcos não apareça repetido também 3 vezes. Mas há quem encontre mérito nesta lista por estranhas motivações.
Ce qui joue à mes yeux en faveur de l'authenticité de la liste de saint Hippolyte (qui est mise en doute par les historiens occidentaux modernes), c'est le fait qu'il y mentionne aussi ceux qui ont abandonné le Christ, qui ont apostasié. Dans un texte falsifié, ou plus tardif et destiné à "fonder" une autre liste de "succession apostolique," les faussaires n'auraient rien ajouté comme zone d'ombre.
Ora, como não se referem os nomes dos apóstatas e a alista é toda cheia de bispos, mártires e santos, se algum relapso por lá andou com Jesus, muitos mais vieram depois das grandes perseguições romanas. Deixar alguns nomes infamantes como exemplo edificante de excepção fica sempre bem para comprovar a regra de que todo o rebanho tem a sua ovelha ranhosa tal como os “dose” tiveram Judas.
Mas para a trama da história de Jesus e de Marcos pouco importa saber quantos marcos faziam parte do grupo dos 72 tanto mais que a raridade dum pseudónimo romano faria com sue fosse quase seguro que seria apenas um.
Existe outro aspecto estranho na vida de marcos que respeita a ser conhecido como o “do dedo aleijadinho”. Existem várias explicações sendo a mais comum a de que se teria mutilado para não ser sacerdote judeu o que parece disparate porque este cargo embora hereditário não era de cumprimento obrigatório e só o supremo sacerdócio exigia ausência de defeito físico.
Bem cedo no terceiro século Hippolytus (Philosophumena ", VII, xxx) refere Marcos como kolobodaktulos i. e. "de dedo aleijado" ou " de dedo mutilado ", e autoridades posteriores aludem ao mesmo defeito. Foram sugeridas várias explicações para este epíteto: Depois de ter abraçado o Cristianismo, Marcos cortou o dedo polegar para ficar impuro para o sacerdócio judeu; que os dedos dele eram naturalmente aleijados; que teria algum defeito nos dedos do pé também é aludido; que o epíteto seria metafórico significando "abandonado" (cf. Atos 13:13).
Assim, a explicação para este facto deve ter sido bem mais dramática e trágica.
Pues bien, en la Historia eclesiástica de Eusebio de Cesárea leemos esto, que es muy curioso: “Juan, también, aquel que apoyó su cabeza sobre el pecho del Señor, que fue sacerdote (cohén, en hebreo), y que llevó el petalon, que fue mártir y didáscalo, reposa en Efeso.” Eusebio de Cesárea, Historia eclesiástica, III, XXXI, 3.
Ahora bien, el petalon era una insignia pontifical, propia de los sumos sacerdotes judíos; está descrito en el Éxodo (28, 36-38) como una lámina de oro con la inscripción “Santidad de Yavé”, y estaba fijado sobre la tiara frontal del pontífice.
En otro punto, también de la Historia..., leemos: “El trono de Santiago, de aquel que fue el primero en recibir del Salvador y de los apóstoles el episcopado de la Iglesia de Jerusalén, y que las divinas Escrituras designan corrientemente como el hermano de Cristo, también se ha conservado hasta ahora...” Eusebio de Cesárea, Historia eclesiástica, VII, XIX. (…)
Todo parece indicar que fueron Santiago (Jacobo) y Juan quienes iniciaron la tradición y la sucesión episcopal.
Sin duda, la manipulación Católica vino un poco después. [3]
Os autores que colocam o sumo pontificado de João em paralelo com o trono cátedra de Tiago erram em duas coisas. Primeiro ignorando que o sumo pontificado judeu nunca terá estado nas mãos de cristãos (ou se esteve foi durante os curtos tempos conturbados da guerra da Judeia, e só enquanto judeus mas não enquanto cristãos). Segundo porque o João “que apoiou a cabeça no peito do Senhor” não era o filho de Zebedeu mas sim Lázaro, de que João Marcos virá a ser o pseudónimo ofícial. Ora, este sim parece ter sido sumo-sacerdote ainda adolescente e por pouco tempo, podendo ter sido Eleazar ben Ananus 16-17 ou 23-24 D. C., confirmando assim Eusébio e explicando a razão porque Lucas se refere ao homem rico como príncipe.
O homem rico dos evangelhos seria o riquíssimo e influente aristocrata Anano e pai de Lázaro.
761. Depois que Cirénio vendeu os bens confiscados a Arquelau e terminou o inventário, que se realizou trinta e sete anos depois da batalha de Áccio, ganha por Augusto contra António, os judeus se rebelaram contra Joazar, sumo sacerdote, e ele tirou-lhe o cargo e deu-o Anano, filho de Sete. (…)
766. Tibério Nero, filho de Lívia, sua mulher, substituiu-o no império e enviou Valério Grato à Judéia como sucessor de Rufo, tornando-se aquele o seu quinto governador. Ele tirou o sumo sacerdócio a Anano e deu-o a Ismael, filho de Fabo. Mas logo depois Ismael foi deposto, e em seu lugar foi colocado Eleazar, filho de Anano. Um ano depois, depuseram também a este, que foi substituído por Simão, filho de Camite. Ele também só ocupou o cargo durante um ano, sendo obrigado a resigná-lo em favor de José, cognominado Caifás. – Flábio Josefo.
O acesso ao sumo sacerdócio não dependia da idade do candidato mas da vontade caprichosa dos governadores romanos que no caso de lázaro terão prefeririam um filho ainda jovem em detrimento de Matias, por exemplo, que seria mais velho. Um sumo-sacerdote infantil seria por ventura politicamente mais manipulável. O facto de Lázaro ter sido destituído ao fim de um ano pode ter resultado do facto de ter um aleijão na mão, possivelmente por poliomielite, que inicialmente passou despercebido mas que acabou por determinar a sua substituição referida por Flábio Josefo como sem causa aparente.
Imagina-se o desgosto deste jovem que já vivia a angústia desta ferida narcísica secretamente escondida e de repente passou a ser um aleijadinho público apontado a dedo! Tendo ouvido dizer que Jesus era um poderoso mago recém-chegado Egipto decidiu recorrer a ele na esperança de ver o seu mal curado. E foi assim que a vida de Marcos e de Jesus se terão cruzado e que o cristianismo terá começado a germinar.
776. (…) Vitélio, para reverenciar a nossa nação, entregou-o, como acabo de dizer, aos sacerdotes e dispensou o governo de toda responsabilidade na sua conservação. Tirou também depois o sumo sacerdócio de Caifás para dá-lo a Jônatas, filho de Anano, o qual também havia sido sumo sacerdote, e partiu de regresso a Antioquia.
818. Depois de cumprir todos os seus deveres para com Deus, o rei Agripa tirou o sumo sacerdócio de Teofílon, filho de Anano, e entregou-a a Simão, cognominado Cantara, filho de Boeto, sumo sacerdote, cuja filha, como dissemos, Herodes, o Grande, havia desposado.
821. O rei Agripa, depois disso, tirou o sumo sacerdócio de Simão Cantara e entregou-o a Jónatas, filho de Anano, julgando-o mais digno dele. Mas ele rogou que o rei o dispensasse do cargo, expressando-se nestes termos: "Sou-vos muito grato por me desejardes conceder tanta honra, mas Deus não me julga digno dela. É-me suficiente já haver recebido uma vez a veste sagrada, e eu não poderia agora retomá-lo tão inocentemente como fiz outrora. Se Vossa Majestade desejar conceder essa dignidade a uma pessoa que a merece muito mais que eu e cuja virtude seria muito mais agradável a Deus, eu não hesitaria em vos propor o meu irmão". Essa resposta tão modesta comoveu Agripa de tal modo que ele deu o sumo sacerdócio a Matias, irmão de Jónatas. Algum tempo depois, Marcos sucedeu a Petrônio no governo da Síria.
Ora bem, quem poderá garantir que Lázaro não foi buscar o pseudónimo de João Marcos precisamente ao facto de tal ter ocorrido quando seu irmão Matias / Mateus foi elevado ao sumo sacerdócio por volta do ano 42, sucedendo a seu irmão Jónatas algum tempo depois Marcos sucedeu a Petrónio no governo da Síria, por razões de secretismo típico do estilo de Marcos explicável pelo facto de ele a sua família terem a cabeça a prémio?
Jónatas + Marcos => João Marcos, pseudónimo de Lázaro, o jovem rico dos evangelhos de Mateus e o discípulo amado do Evangelho de João. Ou então até é possível que Lázaro, o discípulo amado, tenha sempre tido o nome de João.
Yohanan Eleazar (Lazarus), on the other hand, as a member of the sanhedrin (but not of the criminal court) was allowed to remain as a spectator to the travesty. It is to him we owe our debt of gratitude for the report of the trial proceedings. This is the disciple who beareth witness concerning these things and who hath written these things; and we know that true is his witness [John 21:24].
Se Lázaro chegou a ser sumo sacerdote, e por isso aparece nos evangelhos como jovem chefe dos judeus, além de mimado e indolente seria um latagão dum homem como o referem as fontes talmúdicas quando falam do filho de Marta filha de Betos:
Dizia-se do filho de Marta, que era sacerdote, que ele era tão forte que podia levar até o altar dois lados de um enorme boi sem falta de decoro. (Talmud Sukkah 52b.)
856. Morrendo Festo, Nero deu o governo da Judéia a Albino e o rei Agripa tirou o sumo sacerdócio de José para dá-lo a Anano. Anano, o pai, foi considerado como um dos homens mais felizes do mundo, pios gozou quanto quis dessa grande dignidade e teve cinco filhos que a possuíram também depois dele; o que jamais aconteceu a qualquer outro. Anano, um dos de que nós falamos agora, era homem ousado e empreendedor, da seita dos saduceus, que, como dissemos, são os mais severos de todos judeus e os mais rigorosos nos julgamentos. Ele aproveitou o tempo da morte de Festo, e Albino ainda não tinha chegado, para reunir um conselho, diante do qual fez comparecer Tiago, irmão de Jesus, chamado Cristo, e alguns outros; acusou-os de terem desobedecido às leis e os condenou ao apedrejamento. Esse acto desagradou muito a todos os habitantes de Jerusalém, que eram piedosos e tinham verdadeiro amor pela observância de nossas leis. Mandaram secretamente pedir ao rei Agripa que ordenasse a Anano, nada mais fazer de semelhante, pois o que ele fizera, não se podia desculpar. Alguns deles foram à presença de Albino, que então tinha partido de Alexandria, para informá-lo do que se havia passado e dizer-lhe que Anano não podia nem devia ter reunido aquele conselho sem sua licença. Ele aceitou estas desculpas e escreveu a Anano, encolerizado, ameaçando mandar castigá-lo. Agripa, vendo-o tão irritado, tirou-lhe o sumo sacerdócio, que exercera somente durante quatro meses, e a deu a Jesus, filho de Daneu.
O corolário mais tenebroso desta história é o facto de Simão Zaqueu, o Leproso, ser também um pseudónimo do odioso Anaz que julgou Jesus! Mas será que este, tal como Judas não seria uma mera estratégia política do messianismo de Jesus para salvar o povo de Israel da tenaz infernal do poder romano? Seria Anaz afinal um dos discípulos secretos de Jesus? Afinal Jesus só dizia mal dos fariseus e dos doutores da lei e pouco se referia aos sadoceus!
E a morte e ressurreição de Jesus não era a estratégia pessoal de Jesus consubstanciada na tripla premonição da sua paixão?
Não é então estranho que o argumento político para condenar Jesus depois da ressurreição de Lázaro fosse coincidente com este?
O plano para matar Jesus em nome de Deus e para salvação do povo de Israel espalhado pelo mundo.
6Alguns, porém, foram ter com os fariseus e contaram-lhes o sucedido.
47Os principais sacerdotes e os fariseus convocaram o supremo conselho para discutir o caso. Que vamos fazer?, perguntavam-se uns aos outros. Não há dúvida de que este homem faz grandes milagres.
48Se não interviermos, toda a gente o seguirá, e o exército romano virá e destruirá tanto o nosso templo como a nossa nação.
49-50Um deles, Caifás, que naquele ano era supremo sacerdote, disse: Vocês não percebem nada. Deixem este homem morrer pelo povo. Porque é que se há-de perder toda a nação?
51-52Esta revelação de que Jesus deveria morrer por toda a nação veio da boca de Caifás, no seu cargo de supremo sacerdote; não foi coisa que ele tivesse pensado por si próprio, mas foi inspirado (por Deus) a dizê-lo. Era uma predição de que a morte de Jesus não seria só por Israel, mas para reunir todos os filhos de Deus espalhados pelo mundo.
53A partir daí, começaram a planear a morte de Jesus.
Mais uma vez se demonstra que não é preciso distorcer muitos os evangelhos para os por a querem dizer o que os cristãos (e todos os que não percebem nada) a querem ouvir e o contrário do que eles escrevem.
Obviamente que, se houvesse coerência nos evangelhos, onde se lê “não seria só por Israel, mas para reunir todos os filhos de Deus espalhados pelo mundo” se deveria ler “seria para reunir as ovelhas perdidas da casa de Israel” como consta em Mateus 15: 21-24 :
21Ora, partindo Jesus dali, retirou-se para as regiões de Tiro e Sidom.
22E eis que uma mulher cananéia, provinda daquelas cercania, clamava, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim, que minha filha está horrivelmente endemoninhada.
23Contudo ele não lhe respondeu palavra. Chegando-se, pois, a ele os seus discípulos, rogavam-lhe, dizendo: Despede-a, porque vem clamando atrás de nós.
24Respondeu-lhes ele: Não fui enviado senão as ovelhas perdidas da casa de Israel.
Nesta perspectiva o messianismo de Jesus seria pouco mais do que um proto sionismo dois mil antes do tempo o que em parte deixa o cristianismo com alguma razão ao ter sido obrigado pelo Espírito Santo a rejeitar o evangelho puro e duro distorcendo-o em favor de uma evangelho Paulino que os tempos modernos exigem ainda mais ecuménico e mais virado a um humanismo compreensível pela espiritualidade presente e futura de todas as pessoas de boa vontade, se possível com o melhor do cristianismo e no limite contra ele sempre e quando tiver que ser necessário.
Ver: SIMÃO O LEPROSO (***)
Sendo assim, nada nesta biografia oficial de Marcos contraria a hipótese de este ter sido efectivamente rico uma vez que sua mãe tinha palacete na cidade santa de Jerusalém e manifestou ter meios económicos suficientes para saber escrever e ter edições evangélicas próprias, coisa que nesses tempos exigiria tanto dinheiro como nos tempos modernos montar um filme!
Theissen writes (pp. 186-187): The anonymous young man has also offered resistance. In the struggle, his clothes are torn off, so that he has to run away naked. Both these people were in danger in the aftermath. As long as the high priest's slave was alive (and as long as the scar from the sword cut was visible) it would have been inopportune to mention their names; it would not even have been wise to identify them as members of the early Christian community. Their anonymity is for their protection, and the obscuring of their positive relationship to Jesus is a strategy of caution. Both the teller and the hearers know more about these two people. Only they could tell us who they were, whether Peter was the one with the sword, whether both are the same person, and whether reference was made to them in order to make the story of Jesus' end more credible. All that will have to remain closed to us. -- by Gerd Theissen in The Gospels in Context
Marc. 14, 51 E um jovem o seguia, envolto em um lençol sobre o corpo nu. E lançaram-lhe as mãos, 52 mas ele, largando o lençol, fugiu nu.
Afinal, este jovem era ainda adolescente ou seja, na idade clássica do puber latino ou do erómeno grego. No mundo grego andar nu, coberto apenas com um lençol, teria sido coisa normal, razão pela qual os crentes antigos, maioritariamente greco-latinos, nunca terem achado nada de extraordinário nisso. Os cristãos posteriores à medievalidade da Europa atlântica, já menos habituados à nudez mediterrânica, devem ter sentido alguns arrepios ao ouvirem esta anedota a meio da «paixão de Cristo» que achariam mais risível do que erótica, quanto mais não fora pelo lado incómodo da nudez num clima frio. Porém, no clímax da tensão do episódio da prisão de Jesus este teria sido pretexto feliz para um breve momento de alguma descompressão dramática.
Ora, o jovem era rico porque seria filho de alguém que tinha a profissão que ele próprio viria a ter mais tarde, a de chefe dos publicanos, ou seja, para os sicários judeus a casta ignóbil dos cobradores de impostos! De facto, era isso o que o povo comum judeu pensava da dinastia sacerdotal de Anás!
«(...) Malheur sur moi à cause de la maison de Hanin [Hanan]! Malheur sur moi à cause de leurs conciliabules (...) Ils sont grands prêtres, leurs fils sont trésoriers, leurs gendres administrateurs et leurs esclaves frappent le peuple à coups de bâton.» — Talmud de Babylone, Mishna Pessahim 4, page 57a
Só para testar esta tese procuremos saber que pensava Marcos, o evangelista, da questão candente do pagamento de impostos aos romanos!
Marc: 12, 13 13 E enviaram-lhe alguns dos fariseus e dos herodianos, para que o apanhassem em alguma palavra. 14 E, chegando eles, disseram-lhe: Mestre, sabemos que és homem de verdade e não te importas com quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens, antes, com verdade, ensinas o caminho de Deus. É lícito pagar tributo a César ou não? Pagaremos ou não pagaremos? 15 Então, ele, conhecendo a sua hipocrisia, disse-lhes: Por que me tentais? Trazei-me uma moeda, para que a veja. 16 E eles lha trouxeram. E disse-lhes: De quem é esta imagem e inscrição? E eles lhe disseram: De César. 17 E Jesus, respondendo, disse-lhes: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus. E maravilharam-se dele.
Este episódio diverge pouco de idêntico do sinóptico Lucas mas não aparece em Mateus para quem, sendo publicano, a questão dos impostos era constrangedora demais para a ela se referir ser censuras subconscientes, o que nos permite concluir que a sinopticidade destes três Evangelhos se deverá centrar improvavelmente em Mateus.
A verdade é que Mateus ou seu pai Zaqueu é que seriam os visado neste episódio porque era ele próprio um cobrador de impostos e o seu pai o chefe desta casta profissional. A sanha contra os cobradores de impostos costuma ser proporcional ao medo que se tem deles, o que é natural. Por um lado, porque cobram o que custa a pagar e por outro porque podem, quando lhes convêm, dificultar, ou recusar-se a facilitar a vida dos contribuintes em maiores dificuldades pelo que seria de elementar prudência não provocar Mateus numa cena destas! Já o suposto filho, Marcos / Lazaro era então um efebo que, como todos, tendem a ter tanto de orgulhosos quanto de ingénuos acabando por não terem grandes dificuldades em envolver-se em querelas como esta que seria à época e no lugar particular da Judeia uma manifestação política de orgulho nacionalista.
Whether Jesus, as He did in the case of several others of His disciples, gave him the additional name of Matthew is a matter of which we are not informed. As he was a customs officer (ho telones, Matthew 10:3) in Capernaum, in the territory of Herod Antipas, Matthew was not exactly a Roman official, but was in the service of the tetrarch of Galilee, or possibly a subordinate officer, belonging to the class called portitores, serving under the publicani, or superior officials who farmed the Roman taxes. As such he must have had some education, and doubtless in addition to the native Aramaic must have been acquainted with the Greek His ready acceptance of the call of Jesus shows that he must have belonged to that group of publicans and sinners, who in Galilee and elsewhere looked longingly to Jesus (Matthew 11:19; Luke 7:34; 15:1). Just at what period of Christ's ministry he was called does not appear with certainty, but evidently not at once, as on the day when he was called (Matthew 9:11,14,18; Mark 5:37), Peter, James and John are already trustworthy disciples of Jesus. Unlike the first six among the apostles, Matthew did not enter the group from among the pupils of John the Baptist. International Standard Bible Encyclopedia.
Mat: 9 E Jesus, passando adiante dali, viu assentado no telónio (escritórioda alfândega) um homem chamado Mateus e disse-lhe: Segue-me. E ele, levantando-se, o seguiu. 10 E aconteceu que, estando ele em casa sentado à mesa, chegaram muitos publicanos e pecadores e sentaram-se juntamente com Jesus e seus discípulos. 11 E os fariseus, vendo isso, disseram aos seus discípulos: Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores? 12 Jesus, porém, ouvindo, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas sim, os doentes. 13 Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não sacrifício. Porque eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento.
> Talião
«Telónio» < Telaunio < Tala-wino > Taliban ó tabilan > Tabelião.
Ou seja o estudante afegão foi denominado a partir dos seus instrumentos de escrivão.
Por outro lado temos a quase certeza de que foi na continuação desta cena que se deu o recrutamento de Mateus para a causa do reino (dos céus)! Alguns autores traduzem por reino dos anjos, equivalentes de santos, eufemismos com que os essénicos e nazorenos a si mesmo se atribuíam, enquanto filhos da pomba e da cruz do martelo vingador dos Macabeus.
Ver: MATEUS (***) & O DISCÍPULO AMADO (***)
Mas, Mateus, enquanto publicano rico e a discípulo de Jesus, pode ter sido um dos visados na cena do homem rico pelo lado familiar. A este mesmo propósito, não deixa de ser coisa estranha que Marcos se tenha então colocado neste mesmo episódio como homem feito e praticante dos mandamentos desde a mocidade. Estaríamos assim perante um caso enternecedor de um mesmo episódio ter sido relembrado muitos anos mais tarde pelo irmão mais velho como se tudo se tivesse passado com o irmão mais novo e por este como se tudo se tivera passado com o pai de ambos. Obviamente que então ficamos sem saber se afinal Jesus amou o pai ou o filho, ou eventualmente ambos com o mesmo amor divino que levou Marcos a seguir à letra o desafio moral do mestre!
No evangelho de Bartolomeu este seria aquele Matias rico que deixou tudo para seguir Jesus, ou seja, respondendo literalmente ao desafio do episódio do “jovem rico”!
Como é bem possível que Simão Zaqueu seja Anás, que nesta papel não poderia aparece impunemente em público, seriam então Mateus / Matias e o seu irmão Lázaro / Marcos os que estiveram na cena dos homens pelo que vamos encontrar em Lucas uma resposta ao repto de generosidade de Jesus, que mais não seria do que uma forma subtil de fazer política, convidando os seus seguidores a darem provas de generosidade aliviando o sofrimento económico do povo, tal como hoje se pratica com políticas de “bem estar social”.
Lucas 19 8 E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se em alguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado. 9 E disse-lhe Jesus: Hoje, veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão. 10 Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido. 11 E, ouvindo eles essas coisas, ele prosseguiu e contou uma parábola, porquanto estava perto de Jerusalém, e cuidavam que logo se havia de manifestar o Reino de Deus.
Pois bem. A parábola que se segue e uma metáfora tão aterradora quanto impiedosa no que respeita ao rigor e zelo económico com que Jesus pensava que deveria ser gerido o futuro reino messiânico de Israel.
Lucas 19 12 Disse, pois: Certo homem nobre partiu para uma terra remota, a fim de tomar para si um reino e voltar depois. 13 E, chamando dez servos seus, deu-lhes dez minas e disse-lhes: Negociai até que eu venha. 14 Mas os seus concidadãos aborreciam-no e mandaram após ele embaixadores, dizendo: Não queremos que este reine sobre nós. 15 E aconteceu que, voltando ele, depois de ter tomado o reino, disse que lhe chamassem aqueles servos a quem tinha dado o dinheiro, para saber o que cada um tinha ganhado, negociando. 16 E veio o primeiro dizendo: Senhor, a tua mina rendeu dez minas. 17 E ele lhe disse: Bem está, servo bom, porque no mínimo foste fiel, sobre dez cidades terás a autoridade. 18 E veio o segundo, dizendo: Senhor, a tua mina rendeu cinco minas. 19 E a este disse também: Sê tu também sobre cinco cidades. 20 E veio outro, dizendo: Senhor, aqui está a tua mina, que guardei num lenço, 21 porque tive medo de ti, que és homem rigoroso, que tomas o que não puseste e segas o que não semeaste. 22 Porém ele lhe disse: Mau servo, pela tua boca te julgarei; sabias que eu sou homem rigoroso, que tomo o que não pus e sego o que não semeei. 23 Por que não puseste, pois, o meu dinheiro no banco, para que eu, vindo, o exigisse com os juros? 24 E disse aos que estavam com ele: Tirai-lhe a mina e dai-a ao que tem dez minas. 25 E disseram-lhe eles: Senhor, ele tem dez minas. 26 Pois eu vos digo que a qualquer que tiver ser-lhe -á dado, mas ao que não tiver até o que tem lhe será tirado. 27 E, quanto àqueles meus inimigos que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui e matai-os diante de mim.
Só os ingénuos e os beatos se limitariam a ler as metáforas evangélicas como relativa a meros bens espirituais. De qualquer modo, o contexto duma situação onde um rico homem acabava de fazer vultuosos donativos que só iriam beneficiar o prestígio messiânico de Jesus, não deixa grande margem para especulações que nãos sejam também de rígida e rigorosa economia social anti-usura e anti-farisaica.
[1] Was Jesus Sexually Active? By Donald L. Hughes.
[2] Eis um exemplo moderno de manipulação dos evangelhos, possivelmente copiado das versões bizantinas. O original latino e alexandrino não apresentam esta asserção!
Em Mateus:
Byzantine = legei autw o neaniskoV panta tauta efulaxamhn (ek neothtos mou) ti eti usterw.
Alexandrian = legei autw o neaniskoV panta tauta efulaxa ti eti usterw.
Vulgate = dicit illi adulescens omnia haec custodivi quid adhuc mihi deest
King James Version: The young man saith unto him, All these things have I kept from my youth up: what lack I yet?
Em Marcos:
Byzantine = o de apokriqeis eipen autw didaskale tauta panta efulaxamhn ek neothtoV mou
Alexandrian = o de efh autw didaskale tauta panta efulaxamhn ek neothtoV mou
Latin Vulgate = et ille respondens ait illi magister omnia haec conservavi a iuventute mea
King James Version = And he answered and said unto him, Master, all these have I observed from my youth.
[3] http://ateismoparacristianos.blogspot.com/2011/05/pedro-y-su-caida-como-lider-del.html