quinta-feira, 14 de agosto de 2014

HÉRCULES LATINO, por Artur Felisberto.

 

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Figura 1: Versão romana de Hércules, um deus tão velho como a antiguidade da origem dos mitos solares e alquebrado pela fadiga dos trabalhos zodiacais.

In this famous myth, however, the god Hercules did not originally figure. The Latin Hercules was an essentially peaceful and domestic deity, watching over households and enclosures, and nearly akin to Terminus and the Penates. He does not appear to have been a solar divinity at all. [1]

Sendo assim, só poderíamos admitir que Caco tivesse ocupado no panteão duma arcaica mitologia pré-latina uma posição no mínimo paralela com a de Júpiter. Ora, nas equações de derivação fonética entre o nome de Zeus, que ocupava no panteão grego o estatuto de Júpiter, e Caco só se mete Kiwel, o deus supremo dos gnósticos mandeienos, o que constitui relações étmica suficiente para concluir que estamos na pista certa.

Lat. Cacus < *Kikus > Hiwel Ziwa = Melka Ziwa > Zeus!

Claro que o Hércules latino pode não ter tido originariamente uma mitologia idêntica à do homónimo grego facto que se sabe ser válido para quase todos os novensiles importados pelos latinos e que corresponde a um fenómeno comum na mitologia comparada.

Embora na origem todos os deuses tenham sido parecidos do seio caótico da Deusa Mãe primordial, a diferenciação mítica um processo de especialização politeísta, que teve variantes que obedecem às mesmas regras da diferenciação linguística. Sendo assim seria perfeitamente possível encontrar nomes de deuses homólogos com funções heterónimas e vice-versa. Se o Hércules latino era primordialmente um deus pacífico também Marte o foi. E que diabo, o «repouso do guerreiro» não é um dos méritos dos heróis?

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Figura 2: Venus & Marte de frescos de Pompeia, ou o repouso do guerreiro, tão valente e fogoso, quanto bruto e decidido, perante a eterna insatisfação feminina! (Adaptação de desenho de Raoul Rochette).

Não nos podemos esquecer que os relatos da mitologia antiga não são exaustivos, estão prenhes de contradições, lapsos e omissões e correspondem quase sempre a meros instantâneos muitas vezes fugazes. Ora bem, há que não esquecer que na época arcaica, anterior às primeiras especializações das castas sacerdotais e guerreiras o homem primitivo era polivalente e guerreiro por natureza uma vez que o estatuto de caçador/recolector exigia o exercício das mesmas tarefas funcionais básicas dos guerreiros das etapas militaristas seguintes. Pois bem, nos primórdios da história de todas as civilizações antigas verifica-se a existência de uma época chamada heróica correspondente à transição desta fase arcaica para a fase de sedentarização agrícola a que se seguiriam os grandes impérios militaristas da história antiga.

Precisamente nesta fase de transição os guerreiros em tempo de paz eram esforçados mas pacíficos lavradores, como era honra e orgulho dos antigos homens livres romanos.

But the purely accidental resemblance of his name to that of the Greek deity Herakles, and the manifest identity of the Cacus-myth with the story of the victory of Herakles over Geryon, led to the substitution of Hercules for the original hero of the legend, who was none other than Jupiter, called by his Sabine name Sancus. [2]

No entanto, o facto de estarmos perante um processo cultural evolutivo, espiralar e policíclico, repetitivo e redundante, permite-nos suspeitar que as coincidências tanto em mitologia quanto em linguística raramente são de tipo puramente aleatório.

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Figura 3: Um novo triunfo do invencível Hércules testemunhado por Atena & Hermes.

Acreditar em coincidências míticas é tão anti-científico como contrário a todo o raciocínio probabilístico a menos que se ande distraído e não se dê conta que a mitologia não depende tanto da vontade dos poetas e profetas iluminados mas sobretudo das crenças comuns que tendem a ser arreigadamente conservadoras e tradicionalistas e têm a seu favor, como mecanismo protector contra a aleatoridade do erro, a redundância natural do espaço e do tempo. O espaço geográfico duma grande memória cultural colectiva e o tempo que ciclicamente faz vir ao de cima a verdade das coisas conturbada pelas mentiras das convulsões sociais e das conveniências políticas. Em conclusão, as coincidências mitológicas seguem as mesmas leis da política, disciplina onde tudo o que parece é. Então, as analogias mitológicas nunca são coincidências se vierem a corresponder a uma analogia funcional que duma forma ou de outro já estava prevista no carácter redundante e plurívoco da linguagem simbólica.

De resto, os cultos de Terminus podem ser reportados a antepassados míticos de Hermes/Enki e os de Penates a Pan & Dionísio que como vimos já podem perfeitamente ter-se cruzado no passado remoto com a mitologia original etimológica (= etiomitologia?) de Hércules.

Now Johannes Lydus informs us that, in Sabine, Sancus signified "the sky," a meaning which we have already seen to belong to the name Jupiter. The same substitution of the Greek hero for the Roman divinity led to the alteration of the name of the demon overcome by his thunderbolts. The corrupted title Cacus was supposed to be identical with the Greek word kakos, meaning "evil" and the corruption was suggested by the epithet of Herakles, Alexikakos, or "the averter of ill." Originally, however, the name was Caecius, "he who blinds or darkens," and it corresponds literally to the name of the Greek demon Kaikias, whom an old proverb, preserved by Aulus Gellius, describes as a stealer of the clouds. [3]

Até aqui, tudo bem! Aceitando que estamos perante factos incontestados e não de meras opiniões, nem sequer iremos deixar de lado o facto de Sancus ser sinónimo de céu dos «sabinos». Quer então dizer que Sancus era um equivalente de Uranos, o avô mítico de Júpiter.

Sancus = Ki-An-Ku = (An) Kiku = Sr. Caco, ou

Sancus < Lat. Sanctus < *Kian-Kakus, lit. “o monte do fogo primordial, ou seja o vulcão que emergiu do mar primitivo” > Panish > Hind. Panis => Penates.

«Sabinus» < Ash-Win(us) < Ash-Pin, lit. os filhos de Pan e de Vénus > Panish ó Penates < Pan-Ish < Kian-ish, um dos filhos de Enki

Sabus < Sacus < Cacus.

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Figura 4: Hércules em postura de Sardanapalo.

Etimologicamente Sabinos eram filhos de Cacus e Sancus seria uma variante deste nome. Santus parece reportar-nos para uma montanha vulcânica fumegante como muitos dos vulcões italianos facto que permite explicar a semântica de Caco como sendo aquele que obscurece e cega. A possibilidade da forma alternativa de Caecius pode ser atestada na forma do nome dum filho de Caco, Caeculus.

A tentativa para enquadrar Caco no panteão clássico é vã porque se trata dum deus arcaico, possivelmente minóico ou mesmo paleolítico e autóctone pois como se verá em muitos outros contexto caco constitui um núcleo recorrente de muitos nomes de deuses, todos eles reportando para uma variante do nome de Enki enquanto *Kiko ou *Kuko, esposo e irmão de *Kiki ou *Kika e filho e esposo de Ki. Sob o ponto de vista linguístico, Kiko / Caco seria tão só e literalmente o “filho” da Virgem Mãe! A santidade deste “ filho da mãe” resultaria assim de ele ser o fogo do céu, como o sol e, portanto, ser Urano.

Semo Sancus Dius Fidius = A very obscure god of uncertain associations, origins, and etymology. Dius Fidius may have been an alternate or synonymous name. Semo appears to be his name, as in the Semnes of the Arval hymn. He (or they) is (are) usually assumed to be deities of sowing. Sancus appears to be an epithet. Dius simply means heavenly or divine. Fidius seems to be as in fides. He also seems to have been a Sabine god, and he was sometimes considered to be the father of the Sabus, the eponymous hero of the Sabines. Historically he is linked to oaths and treaties, and he has some connection with thunder. Thus he seems to have been a fertility god perhaps related to the Slavic fertility deity Simargl and IE thunder gods. Semonia = Goddess of sowing.

                                                     > Semel

Semo < Semn(es) + Anu > Semo-nia, lit esposa de Semo < Shemo < *Ashmu.

Semo Sancus Dius Fidius seria uma espécie de fórmula sacramental relativa ao nome da divindade suprema dos sabinos o deus Shem, conhecido pelos judeus como HaShem (Leviticus 24:16) no Egipto como Shemes e, talvez, Khnum, senhor do shemu (the season of harvest on the Nile < Shems {a name really meaning the Eye of the Sun"}, i.e., the well of water which is fed by a spring in the immediate neighborhood, and is commomly called the Fountain of the Sun"). De facto, se Shems significavam a inundação regula do Nilo e esta era propiciada pelo deus Khnum natural será que às semelhanças semânticas correspondam similitudes fonéticas.

Khnum < Kiku-Nun(o) > Ashnin

Sancus uma variante grandiloquente de Caco, Dius o equivalente de Deus e Fidius, lit. o deus de Ki.” A fé e a fidelidade seriam então uma redundância no nome deste deus!

Shemes = Uno de los catorce kas de Ra, que personifica la "Fidelidad".

Chnum (Knum) The Egyptian ram god who makes the Nile delta fertile and suitable for agriculture. He is considered the creator of humans, because he makes children from clay and places them in the wombs of the mothers. Chem = Also called Ham. He was the god of "increase", considered as the father of their race. He is usually pictured wearing a women's garment.

Afinal, Sancus pode ter tido uma arcaica relação com o latino e pacífico Hércules por intermédio de Penates. Ora, nem por acaso, Indra teve problemas idênticos Com os Panis.

 

Ver: KHNUM (***) & INDRA (***)

 

No entanto, não deixa de ser estranho aceitar o paralelismo entre o deus latino do fogo Cacos e o termo comum grego kakos para tudo aquilo que é feio e grotesco (e não propriamente diabólico e vil (evil) porque tais conceitos semíticos ainda não eram explícitos na religiosidade clássica). Claro que deve ter havido várias variantes em vários dialectos dos nomes dos deuses e dai a perplexidade e confusão!

Cacus < Caecius > Caeculus => Lat. coecu > «cego»

                            = > Grec. Kaikias, o vento quente.

Cacus = Originally a pre-Roman god of fire, who gradually became a fire-breathing demon. Cacus lived in a cave in the Aventine Hill from where he terrorized the countryside. When Heracles returned with the cattle of Geryon, he passed Cacus' cave and lay down to sleep in the vicinity. At night Cacus dragged some of the cattle to his cave backward by their tails, so that their tracks would point in the opposite direction. According to some sources, out of sympathy for the hero, Caca told Heracles the location of that cave and he killed the giant. Caca was later succeeded by Vesta. However, the lowing of the animals betrayed their presence in the cave to Heracles and he retrieved them and slew Cacus. On the place were Heracles slew Cacus he erected an altar, where later the Forum Boarium, the cattle market, was held. Caca - "Shit", is the goddess of excrement and ministered to by the Vestals.

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Figura 5: Um dos incessantes combates de Hércules.

Quer então dizer que o mito de Caco foi herdado pelos latinos a partir dos Sabinos e nele o herói teria sido o deus supremo equivalente de Júpiter, denominado Sancus o que faria desta história uma variante das gigantomaquias, ou pelo menos da luta de Zeus e Crono. Já o nome do monte Aventino < Haw-Antu-anu, lit. «a cave da deusa mãe do céu»! < Kaki-Antu-Anu, o monte dos deuses Kaku (Enki) o filho de Antu & Anu nos reportam para uma trindade de arcaicas divindades do fogo.

A verdade e que, a partir de certo ponto de exaustão mítica os narradores e poetas entravam em autênticos delírios e confundiam os nomes dos heróis com os dos vilões e é assim que se compreende que Sanco pareça conter o étimo de Saturno, Gerion se possa confundir com Crono e Caco com Zeus.

Afirmações tão peremptórias e tão a contracorrente das evidências são sempre temerárias. Desde logo porque, mais uma vez o excesso de sapiência cega e se demonstra que os preconceitos da etimologia clássica são avassaladores!

Dizer que o nome de Hércules latino deriva da raiz latina hercere, "cercar", sem suspeitar que pode ser o contrário não será muito grave no contexto do etimologismo racionalista clássico. Mas, ao reparar que este deus teve como função zelar pela segurança das habitações e das cercas ("watching over households and enclosures") no contexto histórico instável e inseguro do início da história significa que, no essencial, este deus era uma espécie de protector das fortalezas rurais. Ora, só a mera suspeita de que assim poderia ter sido, o logo numa sociedade como a latina que se veio a revelar de facto essencialmente militarista, remete inevitavelmente o Hércules romano para um contexto semântico com conotação militar.

There is nothing in common between the names Hercules and Herakles. The latter is a compound, formed like Themistokles; the former is a simple derivative from the root of hercere, "to enclose." If Herakles had any equivalent in Latin, it would necessarily begin with S, and not with H, as septa corresponds to epta, sequor to epomai, etc. It should be noted, however, that Mommsen, in the fourth edition of his History, abandons this view, and observes: "Auch der griechische Herakles ist früh als Herclus, Hercoles, Hercules in Italien einheimisch und dort in eigenthümlicher Weise aufgefasst worden, wie es scheint zunächst als Gott des gewagten Gewinns und der ausserordentlichen Vermögensvermehrung." Römische Geschichte, I. 181. One would gladly learn Mommsen's reasons for recurring to this apparently less defensible opinion. [4]

O facto de Hércules ser em Itália um deus da fortuna nos negócios de alto risco não chega para provar que este deus não teve nada a ver com o Heracles grego. Se assim tivesse sido os latinos ter-se-iam apercebido disso muito antes destes eminentes autores porque os romanos poderiam ser piedosos mas não eram seguramente imbecis:

La figura mítica de Hércules no es homogénea, sino todo lo contrario. Ya Cicerón distinguía seis personajes legendarios distintos llamados Hércules, y Varrón contabilizó cuarenta y cuatro. "Es, en realidad, un dios compuesto de muchos héroes oraculares de diferentes naciones en distintas etapas de la evolución religiosa, algunos de los cuales se convirtieron en verdaderos dioses, en tanto que otros siguieron siendo héroes. Esto hace de él el personaje más confuso de la mitología clásica" (La Diosa Blanca, Robert Graves, Alianza, 2ª de., 1984, p. 161).

Sendo assim, a versão romana original de Hércules pode ter tido componentes mais próximas de Hermes por Mercúrio. Ora, por este andar também poderíamos dizer que Miercoles, supostamente o nome ibérico de Hermes, nada teria tido com Mercúrio. A verdade é que, juntando a estes Melkarte, Ares e Marte, obtemos uma série de deuses todos eles próximos precisamente pela etimologia e pela semântica dos deuses marciais!

Depois de se ter recusado liminarmente qualquer tipo de parentesco entre os vários tipos de Hércules clássicos é óbvio que estamos perante uma contradição nos termos o que permite acreditar que se “apanha tão depressa um raciocínio coxo como um mentiroso pouco habilidoso”! Na verdade a estranha teoria de um Hércules latino sem a mais remota relação com análogo grego, equivaleria a aceitar duas teses insustentáveis em simultâneo:

1º Que os povos antigos fabricavam deuses como a sociedade moderna novos medicamentos! Neste caso, esquecemos que os latinos faziam parte duma cultura recente, nem sequer isolada do resto do mundo mediterrânico e que herdaram deuses de todos os povos vizinhos e de todos os cantos do império que criaram.

2º Que eram os deuses que consagravam as coisas e não a inversa. A ideia herética do Génesis que Deus deu a Adão o poder de nomear as coisas é uma impiedade tipicamente paternalista já da época história pré-clássica!

Mesmo que os latinos tivessem tido um deus hercúleo próprio, quiçá Sancus, ou um outro herói do género, interessados como eram por questões militares, já teriam tido conhecimento do círculo épico miliciano de Hércules pela mão dos etruscos que conheciam Hércules como deus da força e das águas. Ora, os celtas adoravam Hércules como Ogmio valorizando sobretudo o lado sapiente deste deus. Começa a ser então mais fácil ver que estamos perante variantes tardias do antigo culto sumério de Enki, deus este que teria cultos muito mais arcaicos de tipo solar, como se suspeita na sua relação com Damuz, com Urano e com o Kur, sendo possível encontrar nos diversos ciclos marciais de Hércules facetas próprias deste deus, particularmente as que são habitualmente atribuídas a Hermes e a Marte.

                                                 > Etrusc. Her(a)cle > Etrusc. Herc.

                       Grec. Heracles < Heracules < *Hercaules = *kurkurish.

Etrusc. Horacle < Horkele < Lat. Hercoles < *Hercaules > Lat. Hércules.

Para se poder afirmar a heresia de que o sol não anda em torno da terra foi preciso descobrir que, afinal, era a terra que andava em torno do sol ou seja, apenas se virou do avesso a perspectiva duma mesma realidade, de tal modo que o essencial da relação entre os fenómenos se manteve, ficando apenas por explicar as razões técnicas da diferença de pontos de vista, a saber, que o movimento aparente do sol é tão real para um observador terrestre como, o da terra para um observador lunar, de tal modo que, para a constância das regras e eficácia dos fenómenos, tanto adianta que seja a «montanha a ir ter com Maomé como ser este a ir ter com ela»!

De qualquer modo, o preconceito da fabricação artificial e premeditada dos nomes de entidades antigas a partir de raízes linguísticas parece-me outra forma de obscuro antropocentrismo classicista. Claro que todos os povos e culturas foram fabricando, adaptando e distorcendo a seu belo prazer nomes e termos de linguagem corrente mas, é de por de lado a ideia absurda de olhar para o passado com os preconceitos das atitudes do presente próximo deixando de aceitar de animo leve a ideia de que tudo se tenha passado como se tivessem existido antigamente academias de «ciências e letras» com o objectivo de fabricarem terminologias novas com as regras da linguística clássica e muito menos com as da taxinomia moderna!

Mas, ainda dentro deste assunto, uma das argumentações é decisivamente terrorista: "If Herakles had any equivalent in Latin, it would necessarily begin with S, and not with H, as septa corresponds to epta, sequor to epomai, etc".

Claro que este raciocínio seria correcto se tivéssemos a certeza de que o nome de Hércules latino foi fabricado por estes e no tom fonético do seu falar ou supostamente surgido duma raiz do dito indo-europeu!

Ora, a verdade é que estaríamos apenas a divagar sobre as divergências que o léxico hitita veio a ter ao emigrar para o lácio e para a Grécia! Mas, o nome de Hércules é seguramente semita, e não indo-europeu, pois se pode demonstrar que deriva de Erragal, que sofreu variantes fenícias em Melkart, que têm cruzamentos fonéticos com Gilgamesh.

Beladarsamdan = Asimilado con Samdan, era el Hércules de los Asirios. O nome Beladarsamdan só foi encontrado em fontes espanholas da Internet. No entanto, confirmou-se que «in Turkish Samdan means candelabra».

Our modern celebration of Halloween is a descendent of the ancient Celtic fire festival called "Samhain". From: Paul Seymour, The Origins of Halloween

«Candelabro» < Lat. candelabru

< candela-pher, lit. «o que transporta a luz das candeias!»

< Kian thela-Wer ó Bel-thar-(sam)tan...

...ou seja, também o candelabro pode ter tido a mesma origem étmica do nome Beladarsamdan, o que se entende se aceitarmos que os cultos solares de Hércules seriam cultos à «bela-luz» da candelas de Beltano nas festas primaveris das «Samhain».

Por sua vez, o termo turco seria derivado da metade final deste nome assírio, seguramente compósito.

Beladarsamdan < *Wel-a-Thar + *Samdan

*Wel-a-Thar, semant. «Belo touro = Baal o touro» < Herakal- => Heracles.

*Samdan < Sham-atan, lit.«a cobra em chamas» > Celt. Samhain.

                = a cobra solar = disco solar de Shamaz.

Notar que Canaan. Baal º Celt. Beleno º Apolo, ou seja, a mitologia de Hércules é semanticamente uma mitologia de raiz solar!

Ora, com apenas um pouco de imaginação podemos estabelecer a seguinte inferência desde que aceitemos que:

Gil = Bil = Bel e Gamesh = Shamaz;

Bel(adar)samda(n) < Bil-kamat > Gilgamesh.

Dito de outro modo, o nome assírio de Hércules pode ser a evolução duma antiga fórmula litúrgica que invocava na mesma divindade a semântica de Hércules / Gilgamesh, deus e senhor do céu An(u) e e a semântica dos deuses «manda-chuva», Athar / Adad.

Claro que se não foram estas evidências a opinião de Heródoto de pouco adiantaria mas a verdade é que este autor clássico afirmou que Hércules era tido em grande contas entre os Egípcios e tinha um dos seu maiores e mais magníficos templos na fenícia.

O mesmo autor não se exime ao cuidado de referir em intricado alemão que na Itália se encontra tradições relativas a nomes em número suficiente para servirem de elos evolutivos suficientes para se ir do grego

              Herakles < *Herakulesh > *Her-kaul-esh > Her-kur-ish

                                                        > *Her-kaul-esh > Hércules.

Enfim, depois teimar não querer ver mais lamentável do que um cego é aquele que não quer acredita naquilo que vê! E finalmente aparece entre as nuvens a luz da clarividência! Pelo menos alguns dos episódios do «ciclo de Hércules» seriam meras variantes dum arcaico «mito solar».

 

Ver: MELKART (***)

 

O “canto do cisne” moribundo reporta-nos para uma sugestiva metáfora musical do «pôr-do-sol» num mito solar em que Apolo teria Urfeu por contraponto lunar. Enquanto mais uma das “aves emplumadas” de transporte das almas o «cisne» branco era um arcaico animal solar seguramente relacionado com os arcaicos deuses do fogo.

Kiki-Anus, lit, “o filho solar de Kiki (a Deusa Mãe) e de Anu (o Deus Pai do Céu)” > Kyknos > Cycnos > «signo» relativo ao fálico papel do colo de cisne enquanto símbolo expressivo da fecundidade divina de Zeus. Este Kikno de um arcaico mito solar não seria outro que o mesmo Cacus da Itália que teria dado nome a rios, Côa na Lusitânia e Gua na Andaluzia, que foi nome paterno, Aka na Anatólia e Apa na suméria, supostamente *Kiu, o mesmo que:

Enki / Ea = Ishkur = Ares / Poseidon = Zeus / Hades = Hermes & Apolo = Hércules.

Na verdade, Cacos deve ter sido o deus supremo do fogo dos povos paleolíticos que vivia no interior dos vulcões, sendo por isso cego como as toupeiras, de que as «três cabeças» reptilínea seriam as diversas crateras ou as diversos rios de lava serpentina em que alguns destes vulcões se dividiriam.

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Figura 6: Ortos, o cão de três cabeças de Gerião!

Thus the significance of the myth becomes apparent. The three-headed Cacus is seen to be a near kinsman of Geryon's three-headed dog Orthros, and of the three-headed Kerberos, the hell-hound who guards the dark regions below the horizon. He is the original werewolf or Rakshasa, the fiend of the storm who steals the bright cattle of Helios, and hides them in the black cavernous rock, from which they are afterwards rescued by the schamir or lightning-stone of the solar hero. [5]

 

HERCULES & KIKNOS

E OS SACRIFÌCIOS HUMANOS A MELKART

O mais interessante destes mitos de Hércules & Kiknos reside no facto de por a nu uma das mais flagrantes provas da inconsistência histórica da mitologia clássica, enquanto fonte duma verdade religiosa que sempre tende a pretender-se dogmática, em resultado da incoerência da pluralidade das fontes narrativas. Esta foi uma das principais razões que fez com que a cultura clássica tivesse entrado em decadência para dar lugar a uma mitologia simplificada e renovada pelos apóstolos e evangelistas, depurada de modo farisaico por S. Paulo, de uma catolicidade universal regularmente revista em consensos conciliares, passada pelo pente fino dos tribunais do Santo Ofício e salvaguardada pela «infalibilidade papal»!

And Cycnus, son of Ares and Pyrene, challenged him to single combat. Ares championed the cause of Cycnus and marshalled the combat, but a thunderbolt was hurled between the two and parted the combatants. (...) Being informed, he traversed Libya.

That country was then ruled by Antaeus, son of Poseidon, who used to kill strangers by forcing them to wrestle. Being forced to wrestle with him, Hercules hugged him, lifted him aloft, broke and killed him; for when he touched earth so it was that he waxed stronger, wherefore some said that he was a son of Earth. -- 2.5.11

(...) And as he passed by Itonus he was challenged to single combat by Cycnus a son of Ares and Pelopia; and closing with him Hercules slew him also. -- 2.7.7 Apollodorus, Library and Epitome (ed. Sir James George Frazer).

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Figura 7: Herakles & Kyknos. O mais estranho deste episódio mítico reside no facto, que se obedecesse à lógica comum seria impressionante, de Hércules se ter atrevido a combater um filho do próprio Ares, o deus da guerra.

It is said that Cycnus used to cut off the heads of passing strangers, intending with these gory trophies to build a temple to his father Ares. This we learn from the Scholiasts on Pind. O. 2.82. The scene of his exploits was Thessaly. According to Paus. 1.27.6, Herakles slew the ruffian on the banks of the Peneus river; but Hesiod places the scene at Pagasae, and says that the grave of Cycnus was washed away by the river Anaurus, a small stream which flows into the Pagasaean gulf.

De facto, se tivesse havido alguma coerência genealógica na mitologia estaríamos perante graves impasses de heurística. A verdade é que seria altamente improvável, mesmo numa ária tão miraculosa como era a mitologia, que Ares tivesse tido dois filhos mortais com o mesmo nome e logo de esposas (mortais?) cujos nomes manifestam estranhas ressonâncias étmicas com epítetos de Afrodite.

Cycnus, son of Ares and Pyrene < Pher-Ana < *Kur-Ana > Cyrene.

Cycnus a son of Ares and Pelopia < Pher-Ophia < *Kur-Kikia.

Porém, a repetitividade de filhos de Ares com o mesmo nome de Kyknos > Cycnus em versões gregas do ciclo de Hércules onde falta o episódio das versões latinas de Hércules & Cacos deixa-nos a suspeita de que este corresponde aos episódios de Hércules & Kyknos.

Este episódio mítico permite cruzar referências a dois «filhos de deus» que matavam estrangeiros como sendo seguramente uma confusão relativa a uma mesma e mal disfarçada metáfora de «sacrifícios humanos» em que os deuses da guerra sacrificavam os próprios filhos primogénitos, tal qual como Agamenão. Na verdade se Antaeus (< Antu-Heus, filho de Antu e de Zeus) é tido como filho Poseidon também outro Kyknos rei de Colonae (Paus. 10.14.1-3) foi filho de Poseidon. Uma das hipóteses é tratar-se de um mito muito antigo em que Zeus e Poseidon eram os deuses suseranos da guerra da ilha de Creta. Outra hipótese seria aceitar que a expressão «filho de Poseidon» não passaria de uma metáfora relativa a um rei semi lendário duma cidade marítima da Líbia onde os sacrifícios humanos a Tanit seriam tão comuns como o foram com os fenícios.

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Figura 8: Outra versão de Hércules & Cignus.

Cycnus, they say, was a son of Poseidon, and ruled as king in Colonae, a city in the Troad situated opposite the island Leucophrys. He had a daughter, by name Hemithea, and a son, called Tennes, by Procleia, who was a daughter of Clytius and a sister of Caletor.[6]

Ora, refere-se no sumário da versão perdida da Iliada, a Kyfíria, que:

The Greeks try to land at Ilion, but the Trojans at first prevent them from landing and Hector kills Protesilaus, the first of the Greek champions to fall in the war. Achilles, kills Kyknos, a son of Poseidon, then drives the Trojans back and the Greeks disembark to begin their long siege.

Para lançar ainda mais suspeitas sobre a qualidade mnésica dos poetas míticos podemos referir ainda que Kyknos > Cycnos, significava «cisne» em grego e parece que um outro Kyknos foi um músico e rei dos ligures, facto que permitiu a Pausânias uma das mais subtis confissões de cepticismo racionalista a respeito das insensatas crenças do politeísmo.

Now the swan is a bird with a reputation for music, because, they say, a musician of the name of Swan became king of the Ligyes on the other side of the Eridanus beyond the Celtic territory, and after his death by the will of Apollo he was changed into the bird. I am ready to believe that a musician became king of the Ligyes, but I cannot believe that a bird grew out of a man. -- Pausanias, Description of Greece.



[1] Myths and Myth-Makers: Old Tales and Superstitions Interpreted by Comparative Mythology, by John Fiske.

[2] Myths and Myth-Makers: Old Tales and Superstitions Interpreted by Comparative Mythology, by John Fiske.

[3] Myths and Myth-Makers: Old Tales and Superstitions Interpreted by Comparative Mythology, by John Fiske.

[4] Myths and Myth-Makers: Old Tales and Superstitions Interpreted by Comparative Mythology, by John Fiske. Chapter IV. LIGHT AND DARKNESS.

[5] Myths and Myth-Makers: Old Tales and Superstitions Interpreted by Comparative Mythology, by John Fiske.Section II

[6] -- Pausanias, Description of Greece.

ETIMOLOGIA DO NOME DE HÉRCULES, por Artur Felisberto

 

HÉRCULES E ONFALA.. 1

HÉRCULES E HERA.. 7

HÉRCULES DOS CELTAS. 7

OGMIOS-OGMA.. 7

 

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HÉRCULES E ONFALA

clip_image004[6]

Figura 1: Hércules com a pele sacerdotal do leopardo e a sua moca simbólica de sete nós.

The most popular of all Greek heroes was Heracles. Originally perhaps a Mycenaean hero from Tiryns near Mycenae and named after Hera, the chief local goddess, he became the subject of a vast number of folktales. Like a Greek Paul Bunyan, he accomplished gigantic feats of prowess, but they were primarily against beasts and monsters rather than against men in the manner of the epic heroes. The derivation of Heracles' name suggests that he was originally thought of as Hera's champion; but in all the tales his labors are due to her hostility toward him because he was the son of Zeus by a mortal women, Alcmena.[1]

Que se saiba Hera > E-RA aparece como divindade micénica em Pylos pelo que não seria necessário localiza-la apenas em Tiryns.

Pelo contrário, Hércules é que não aparece no, é certo que escasso, glossário de divinas nomenclaturas micénicas. No entanto, dada essa mesma escassez de informação das placas micénicas, ficamos também sem saber se E-RA se referia à deusa Hera ou se era uma variante elíptica do nome de Hércules que, na sua forma mesopotâmica foi Erra.

 

Ver: ERRA (***)

 

Erragal, Erakal: Probably a pronounced forme of Nergal, may mean "Erra the great" probably pronounced "Herakles" in Greek.

Erkalla: "Great city" =Underworld.

Erra: God of war, hunting, plagues. Etymology "Scorched earth" probably incorrect. Assimilated with Nergal and Gerra.

Gerra < Sumer. Sharru, lit.« o rei»

Ø    Herra > Erra > Era + kal > Erakal

Ø     Her-kal-ish, lit. «filho do rei > Hércules.

Ø    Her-kal-la <= Kalla < Kar-la, lit. «rainha», esposa do K(a)ur.

      Irkalla < *Er-Kalla < Erkalla < (Devi) Kurukulla ó hind. Kali / Hera.

                              «Opala» < Om-phale < Haum-kale < *Kima-Kali.

Lat. opalu < Gr. ópalos < Sânsc. upala = pedra.

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Figura 2: Hércules & Omfala.

Enquanto deus solar detentor das duas colunas (de Gibraltar) do sol nascente, que eram os seios da Deusa Mãe, não faria sentido que Hércules combatesse as amazonas que seriam ou um povo de adoradores da Deusa Mãe ou as suas sacerdotisas. A verdade é que um mito tão complexo e sincrético como o do ciclo épico de Hércules teria que conter suficientes incoerências como esta, pelo que também se não pode estranhar a inimizade de Hera contra um campeão solar da Deusa Mãe!

Ou será o divino Hércules foi um avatar do deus supremo e Hera foi sua esposa ciumenta?

 

Ver: KALI (***)

& AMAZONAS (***).

Pois bem, o nome Hindu de Devi Kurukulla deixa-nos pistas bastantes para deduzir o significado místico mais arcaico do nome deste deus dos infernos.

Kurukulla < Kur-Kur-la, lit. «a Sr.ª da dupla montanha (= kur)» da aurora!

*Kurkurish => Herkales, o deus das duas colunas de Gibraltar.

He fell in love with a young lady named Iole, whose father evidently did not his bulging muscles and told him to go on his way. Heracles, who had a quick temper, killed Iole's brother. Once more the gods sent him into exile, this time to be slave for a year to Queen Omphale, of Lydiua. The queen took over his lionskin and club and ordered him to spend his time spinning, sewing, and baby-sitting. For a whole year Heracles acted the part of a sissy while the queen laughed at him. Heracles, always an easy mark of pretty women, liked Omphale so well that he gladly did woman's work for her. At the end of the year, however, he departed tired of spinning and unsuccessful in his courtship of Omphale. The scolars identify her with an oriental mother-goddess; Hreacles is her subordinate male consort.

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Figura 3: Hercules & Omphale. 1890 Chromolithograph of fresco from the House of Marcus Lucretius, Pompeii.

Hércules embriagado e coroado de folhas de vinho como Baco esta vestido de mulher num ambiente festivo. A pandeireta de Cibel e o falo erguido ao alto faz pensar numa cena carnavalesca dum qualquer rito de fertilidade em que Onfala mais parece Vénus vestida com as vestes sacerdotais da virilidade de Hércules. Esta cena dum semideus condenado a uma escravidão infamante por desvirilização constitui uma expressiva metáfora de morte e ressurreição sexual de Atis por castração, num rito de fertilidade pascal em honra da deusa mãe Cibel, a deusa dos castrados e eunucos. Assim, contrariamente ao sarcasmo seguinte esta provação de Hércules só ganha sentido à luz dum velho mito de iniciação militar.

This is a sample of the way scholarly analysis can ruin a good stroy. Heracles went on to more adventures and unhappy experiences with women.

 

HÉRCULES E HERA

Kleis, [kleiô] = I. that which serves for closing: 1. a bar or bolt, drawn or undrawn by a latch or thong (himas), Hom. 2. a key, or rather a kind of catch or hook, by which the bar (ocheus) was shot or unshot from the outside, id=Hom. 3. a key (unknown to Hom).

Kleô [Pass, epic 2nd sg. imperf. ekleo (for ekleeo )] to tell of, celebrate, Od., Hes., Eur.:--Pass. to be famous, ó kleos = a rumour, report, news. Dor. KleWos < kaleô = to call, summon.

Kleiô1. to shut, close, bar. Kleiô2. to celebrate.

Numa primeira impressão Heracles = Hera + | Cles < Grec. kleis > Lat. clavis | = o que tem as chaves de hera? Mas a chaves de que? Do «clitóris» (< kleitoris) de Hera, a Deusa Mãe dos Dórios?(J!)

Mas, também poderia ser o que conta a tradição clássica: Heracles = Hera + Grec. klêo = «o que é cantado em lira (celebrizado por aclamação calorosa) por Hera», igualmente a Deusa Mãe das duplas colunas da aurora! (J!)

Esta parece ser a conclusão a que chegaram alguns autores que se deixaram seduzir pelas ressonâncias semânticas do nome de Hércules. Esta é a convicção de Bernard Sergent que refere:

«Héraclès est textuellement «la Gloire d´Hera; en dehors de ceux formé sur le nom de Zeus, les anthroponymes théophores sont rares dans la mythologie grecque -- «Héraclès et l´apprentissage de la Guerre».

Em qualquer dos casos chegaríamos à conclusão de que o grego Heracles seria o campeão de da Deusa Mãe enquanto denominada Hera, quando afinal, parece que até nem era! Porém, a versão que faria derivar o nome de Heracles de kleis, a chave, poderia ser lida como significando literalmente, «o que foi preso (aos dozes trabalhos e vendido como escravo) por Hera»?

There is some comfort for unathletic men in the story of the great hero's failures as a lover. The admirers of brawn, however, will be pleased to know that when he died he was taken to Olympus where he married the goddess of youth and cupbearer to the gods, Hebe, and made up with Hera, who stopped persecuting him.[2]

Figura 4: Hércules rouba o trípode sagrado de Delfos

The Lydian queen Omphale actually owned Hercules, as a slave. She bought the hero from the god Hermes, who sold him following an oracle which declared that Hercules must be sold into slavery for three years. Hercules had sought the oracle to find out what he had to do in order to purify himself, after he murdered his friend Iphitus and stole the Delphic tripod.[3]

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A ambiguidade e ambivalência de Hera e Hércules ficaram famosas na mitologia antiga!

 

Ver: HÉRCULES & GERIÃO (***)

 

Ainda que os grandes ódios de morte sejam sempre suspeitos de antigos amores eternos, a verdade é que as ressonâncias semânticas do nome de Hércules parecem meras contingências étmicas quando embrulhadas no nome de Hera mais por causa da sua relação preferencial com a deusa mãe da aurora, enquanto deus solar. Por outro lado, a própria mitologia põe Hera a amamentar Hércules como se este fora o único “deus menino da soberana deusa mãe”! O mais provável é que esta cena corresponda a uma reminiscência relativa ao culto do divino Hércules que teria sido um arcaico deus solar, filho único e amantíssimo, gerado sem pecado por mítica e teogónica partenogénese de sua própria Virgem Mãe.

The paradigmatic example of a hero controlled by Hera is Herakles, whose birth and death are connected to her (117, 156). O'Brien reads the later version of the Herakles myth in which he marries Hebe (heroes who die lose their H(/BH) and attains a certain immortality as an Olympian perversion of Herakles' original heroic death (150, 192). (…) Conversely, O'Brien avoids questions of Hera's benignity in other instances, such as the necessity of binding the goddess to ensure fertility, and more importantly, the meaning and nature of a goddess who demands from or imposes upon men in the prime of their lives an early death. Is this goddess hostile to heroes, as she is to Herakles?--- [4]

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Figura 5: Cena dum espelho etrusco em que Hércules barbudo e crescidinho, mama, qual «deus menino» retardado, nas tetas de deusa mãe suprema na presença do pai babado e dos irmãos gémeos, Apolo, Afrodite e mais não se sabe quem.

De facto, tanto a imagem de patriarcal severidade quanto de aristocrática altivez de Hera, bem como a etimologia militar do nome desta deusa aproximam-na mais das Virgens Mães primordiais, derivadas do mito de Tiamat, tais como Atena / Minerva e Diana / Artemisa, do que de deusas da fertilidades como Vénus / Afrodite. Como se verá a seu tempo, o equivalente egípcio de Hércules deve ter sido Horus, «o velho», que na sua variante de esfíngico Hermaquis era simultaneamente «o sol nos dois horizontes», tal como Hércules, «das duas colunas», e Hermes Trimegisto.

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Figura 6. Triunfo de Hércules, entre Hermes e Nikê, a deusa da vitória de que Hebe seria seguramente um heterónimo.

Hera set in motion the events which led to his 12 Labors. (***) Even after Hercules finished the Labors, and went on to other adventures, Hera got in his way. When the hero sailed from Troy, Hera sent violent storms that tossed the boat around like a toy. Zeus got so mad at Hera for causing trouble that he hung her off the edge of Mount Olympus. Hercules did try to smooth things over with the angry queen of the gods; when he noticed that she had not opposed him during his fight against Hippocoon, he sacrificed goats to her, in thanks. When Hercules died, Hera's anger finally cooled, and after the hero ascended to Olympus, he married Hera's daughter, Hebe. -- [5]

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Figura 7: Apoteose de Hércules.

Hércules lotou com Apolo e foi vendido por Hermes, como José aos mercadores do Egipto pelos próprios irmãos. Este facto deixa a suspeita de que teriam existido antigas rivalidades de cultos entre a dupla Hermes & Apolo, e Hércules. Hércules nunca deixou de ser um heróico semi-deus porque teria que ocupar o «nicho mítico» que já era de Hermes & Apolo. Dito de outro modo, o deus Hércules de outras culturas acumulava as funções de Marte e Mercúrio da cultura Clássica. Sendo assim, é possível que a relação etimológica do nome de Hércules com Hera seja ambígua por ter resultado duma releitura tardia num contexto que já era ambivalente na origem porque não nos podemos esquecer que o mito mais arcaico da morte e ressureição solar coloca a Virgem Mãe, Mut ou Nut, a parir o sol quotidianamente para o devorar canibal e contabilisticamente, todas as noites! Esta relação ambivalente da Virgem Mãe já foi atestada na mitologia de Artemisa e de Medusa.

Sendo assim, Hércules bem poderia ter sido o «orgulho de sua mãe», mas então com toda a propriedade semântica e étmica!

«Orgulho» < Germ. ûrgoli < Hurgauri < Kur-Kaurish

> *Her-kaurihs > Hércules.

 

Ver: ARTEMISA (***), GLAUKORIS (***), NUT (***)

 

Dito de outro modo, tudo aponta para que o nome de Hércules tenha raízes no nome de Hera mas duma maneira mais arcaica e primordial.

De facto, de acordo com o já citado autor Bernard Sergent o étimo antroponímico -kles já era conhecido na época micénica e seria possivelmente de origem pré-histórica. Sendo assim, a relação deste étimo, seguramente gentílico na origem, teria mais a ver com actividade guerreira, que só secundariamente daria a fama, do que a fama propriamente dita que em Homero gerava termos como dourikleitos, «os famosos lanceiros»!

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Figura 8: Outra apoteose de Hércules.

Se Hércules nunca foi tão querido e tão creditado por Hera ao ponto de ter sido conhecido pelo nome virtual de *Heracleido então é bem possível que só tenha existido uma relação semântica com Hera em época tão tardia quanto a do casamento de Hera com Zeus!

Por sua vez, kleitos parece ter tido relações com outros determinativos antroponímicos de idêntica semântica.

Klei-tos < Kali-kos < *Kaurish > Phorisco > Phori-cos.

                                                    > (Mel)*Kartu.

Sendo assim, a origem etimológica mais plausível para o nome de Hércules terá sido:

Her + *Kauri-tu = (Mel)-Kartu, lit. o jovem famoso do exército (de Creta?)»!

A possibilidade de a etimologia do nome deste «deus menino» remontar à época mais arcaica da pré-história cretense é assim francamente possível.

 

Ver: PARACHURAMA, O HÉRCULES HINDU (***)

 

HÉRCULES DOS CELTAS

A etimologia proposta antes parece flagrantemente confirmada pelo nome do deus celta Curoi mac Daire que tem semiologia suficiente para ser um arcaico antecessor de Hércules.

Curoi mac Daire = A Celtic sun-deity, believed to be a storm-bringing giant, armed with an ax.

The Karakal-pak population is mainly confined to the central part of Karakalpakstan that is irrigated by the Amu Darya.(…) The word means "black hat" in Turkic and has caused much confusion in the past, since some historians have attempted to link them with other historically earlier groups, who have also born the appelation "black hat". Many accounts continue to falsely link the present day Karakalpaks with the Cherniye Klobuki of the 11th century, whose name also means "black hat" in Russian. In fact the Cherniye Klobuki were a cadre of mercenary border guards who worked for the Kievan Rus. They were of mixed tribal origin and many adopted Christianity and became settled agriculturalists. There is no archaeological or historical evidence to link these two groups, apart from the fact that their names have the same meaning.

Se o céltico irlandês mac = filho = ish, então:

Curoi mac Daire = Curoi (filho de = ish) Daire = Daire Curoi-ish

< Thaur *Kaurish, lit. «o jovem filho do Touro (do céu)»!

< Kaur-Kaur-ish < *Kurkurish, lit. «o filho da dupla montanha da aurora»!

>= Karakal-(pak) > Caracala

=> Herkaulish > Herkal(es) ó Hércules.

Além de outras inferências confirmamos uma correlação semântica positiva entre os deuses taurinos das tempestades e os deuses dos exércitos!

Claro que na evolução do nome de Hércules se ascite a um fenómeno interessantíssimo de economia semântica porque da inicial monotonia Kur-kur evolui-se para uma diferenciação semântica exército (her-) recruta (kauro), acompanhada da respectiva diferença fonética, seguramente perceptível no núcleo da proto-linguagem das civilizações do mar Egeu de que iriam derivar as chamadas línguas indo-europeias ocidentais.

In Sumerian mythology, Kalkal is Enlil's doorkeeper in Nippur.

Este porteiro de Enlil não era mais do que uma variante da divindade que guardava as portas da dupla montanha aurora como Hércules guardava as colunas do poente!

Kur-Kur > Kalkal > Her-(ura)-kal > Erragal.

No entanto, a precocidade destas evoluções terá sido tal que foi como se tudo isto tivera ocorrido logo nos alvores do neolítico, em época anterior ao fenómeno que os autores bíblicos definiram como da «confusão das línguas» e que mais não foi do que aquele em que as civilizações do mar Egeu e as da Suméria e regiões satélites (povos centro-europeus e índicos!) partilhavam dos mesmos pressupostos culturais (e logo, míticos, e linguísticos).

Derivado da mesma mitologia relacionada com o culto heróico da força e bravura miliciana terá sido o nome do rei lendário Cuchulinn.

In Celtic mythology, Cuchulinn is a hero-king of Ulster and son of Lugh. He is a warlike figure and tales tell of his warlike deeds.

Cuchulinn < Ku®-Ishulino (> Isolino) < Ish-Kurkuran > *Kurkuranus.

 

OGMIOS-OGMA

"According to Lucian, who wrote during the second century A.D., Hercules was known to the Celts as Ogmios. He describes a Gaulish picture of him armed with his familiar club and bow but portrayed uncharacteristically as an old man, bald and grey, with skin darkened and wrinkled by the sun, more like Charon than Hercules, and drawing behind him a joyful band of men attached to him by thin chains which linked their ears to the tip of his tongue. By way of elucidation, Lucian quotes a Caulish informant who explained that his fellow Celts did not identify eloquence with Hermes, as did the Greeks, but rather with Hercules because he was much the stronger. The existence of Ogmios is further confirmed by two defixiones, inscribed tablets on which he is besought to wreak a curse on certain individuals.

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Figura 9. Ogmio.

(…) Ogma's counterpart in Gaul is Ogmios, a Herakles and a god of eloquence, thus bearing the dual character of Ogma, while Ogma's epithet grianainech, "of the smiling countenance," recalls Lucian's account of the "smiling face" of Ogmios.[6]

His name apparently means "the provider" or "the purveyor". He is a bearded athlete who, with a club, is about to kill a snake. He was thus a god of abundance known from inscriptions in Gaul. He was linked to Mars as Mars Smertrius. He was especially popular amongst the Treveri.

Ogma < Haukimia > (St.) Eufémia.

                                < Thaugma > «dogma».

Ogmios < Hau-Kimaush < Ka-*Kima-ish < *Ashma-ish ó Shamash!!!

Sob o ponto de vista semântico a relação de Hércules com a sabedoria pode ser encontrada no arcaísmo das relações deste deus com cultos iniciáticos que Bernard Sergent refere na secção “Héraclès et l´apprentissage de la Guerre” do seu livro sobre a componente homossexual da iniciação arcaica dos indo-europeus. Se no estudo deste autor cerca de 20% dos mitos de «pedofilia iniciática» tiveram Hércules como eraste seremos obrigados a suspeitar que este herói foi mal compreendido pelos autores clássicos. Apesar de terem exaltado o salutar do princípio da “mens sana in corpore sano”, ou haviam esquecido o lado intelectual da iniciação militar, de que Atena era a patrona (enquanto deusa das tácticas e da estratégia militares), ou já não se recordavam do arcaico papel de Hércules neste campo, quiçá em resultado dum preconceito ateniense. De facto, na dicotomia do antagonismo ideológico com Esparta, ao atribuir-se o papel da sagacidade militar a Atena relegava-se o papel masculino dos iniciadores militares para o campo exclusivo do treino físico e da exaltação da força bruta que justificava o relativo desprezo a que Ares era votado na piedade do mundo grego, bem como a omissão dum papel intelectualmente construtivo nos mitos de Hércules. Ora, sendo assim, o facto de este papel aparecer na cultura celta não e motivo de espanto!

Pelo contrário, o espantoso é ter este passado de Hércules para Hermes quando este deus Propileu é que presidia aos ginásios ainda que lhe seja imputado apenas um “mito de iniciação”! Pelo contrário, toda a atribulada vida de Hércules é um longo mito de iniciação juvenil e miliciana, sobretudo no caso dos 12 trabalhos de Hércules (que mais não são do que provações de treino militar e desafios iniciáticos), no mito da descida aos infernos, e no da iniciação de Hércules nos ritos de eleusinos de Deméter.

 

Ver: CÉRBERO E O 12º TRABALHO DE HÉRCULES / INICIAÇÃO DE HÉRCULES (***)

 

Claro que na origem a iniciação para a vida adulta se confundia com a iniciação guerreira. Na Grécia clássica democrática começou a separação destas duas componentes que, apesar do seu arcaísmo ideológico, permaneciam juntas em Esparta. Esta separação fez com que Hércules fosse transformado num deus menor que nunca deixou de ser um mero herói relegado para a posição secundária de patrono do treino militar e votado ao culto pouco prestigiado de Ares. Porém, antes da separação ocorrida por causa da rivalidade entre Atenas e Esparta, os cultos de Hermes Propileu e de Apolo Karneios eram heranças do culto de dum Enki juvenil que teve continuação em Iscur ou em variantes heróicas como no caso de Guilgamez.

Apolo, deus reconhecidamente sábio tem na variante Karneios um possível elo étmico com Hércules.

Karneios < Karnei®os (> «carneiro») < kur-ne-uros < *Kurkuranus.

De resto, noutros pontos se verá que:

Hermes º Mercúrio º Mercoles º Marte º Melciber º Melkart º Hércules.

Quer isto dizer que aos deuses mais conhecidos da iniciação clássica tardia poderíamos juntar deuses de iniciação mais arcaica encontrados no cortejo de Dionísio como sejam Pan, Hefesto, os silenos e os centauros.

A correlação que os celtas da romanização fizeram entre Osgmio e Mars Smertrius permite reforçar a inferência de que o lado miliciano da iniciação juvenil era, entre os celtas, uma marca, senão do arcaísmo desta cultura, pelo menos do seu forte pendor miliciano que poderia resultar do seu carácter colonial. De resto, talvez tenha que se repensar o mito dos chamadas povos indo-europeus que mais não seriam do que o resultado crioulo de antigas colónias de civilizações egeias ou mesmo de países como o crescente fértil ou do vale do Indo. De qualquer modo, a origem mais arcaica dos mitos de iniciação juvenil que deram origem ao ciclo de sagas milicianas de Hércules deve ser procurada nos arcaicos ritos solares que tiveram no Egipto Horus por protagonista.

 

Ver: HORUS, O HÉRCULES DO EGIPTO (***)

Smertios = The Celtic war-god who was especially worshipped by the Gaulish Treveri peoples. He is portrayed as a bearded athlete who, with a club, is about to kill a snake.

A morte da cobra é um símbolo iniciático que faz parte da infância de Hércules. Este aspecto, só por si, relacionaria este deus com Hércules, bem como obviamente com Ógmio, e todos eles com Enki.

                                             *Shama-Urtius > Smertios

                                                                        > Martu-ish > Marte.

Lat. Samson < Samashon < *Shama-ash-an, lit. as «Chamas do céu»

               *Ashma-ash-an > *Shamash(an) > Jud. Shemesh.

Pois bem, a etimologia de Ógmio só se compreende sob o ponto de vista étmico conotando a sua semântica com a de Sanção e com a de Smertios!

 

Ver: SANÇÃO, O HÉRCULES FENÍCIO E CANAANEU (***)



[1] Copyright © 1996 P.F. Collier, A Division of Newfield Publications, Inc. Michael Jameson, MYTHOLOGY, CLASSICAL, Colliers Encyclopedia CD-ROM, 28 Feb 1996.

[2] www.mvrhs.org/netsite/School/departments...hologyMain.html. MythologyMain.

[3]http://www.perseus.tufts.edu/Hercules/index.html, Perseus Project, Hércules Greece´s Greatist Hero: Omphale, the Barbarian Queen.

[4] Holmberg, 'Transformation of Hera: A Study of Ritual, Hero, and the Goddess in the "Iliad"', Bryn Mawr Classical Review 9502.

[5] http://www.perseus.tufts.edu/Hercules/index.html, Perseus Project, Hércules Greece´s Greatist Hero. Hera Made Hercules' Life Difficult

[6] The Religion of the Ancient Celts, John Arnott MacCulloch.