terça-feira, 1 de maio de 2018

AS PORTAS DO RÓDÃO do jardim das Hespérides, por Artur Felisberto.

HESPÉRIDES, o séquito de Hera no jardim das suas delícias,

por Artur Felisberto.

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Figura 1: Argonautas no jardim das Hesperides. (Klytios, Hygieia, Chrysothemis, Asterope, Lipara, Herakles, Iolaos.) Adapatação de "Vase Catalog Number: London E 224". Como se vê à cobra do paraíso do Génesis enrolada na árvore da vida, do bem e do mal, nada teve de original!

Hera recebera de Gaia lindas maçãs (pomos) de ouro como presente de seu casamento com Zeus e mandou plantá-las em seu longínquo jardim, no extremo Ocidente. Ela deu às Hespérides, ninfas do entardecer e filhas de Atlas, a função de proteger este jardim. Quando as ninfas começaram a usar os frutos de ouro para próprio benefício, Hera teve de procurar um guardião mais confiável. Assim Ladão, o dragão com um corpo de serpente e cem cabeças, passou a proteger o jardim. Aparentemente o jardim das Hespérides seria então protegido por um vulcão que não seria de sete mas de muitas cabeças que a ocidente só poderia ser o Etna...ou o vulcanismo açoriano que deixou marcas na Lagoa das Sete Cidades porque em Portugal continental não há fenómenos de vulcanismo activo, mas existem vestígios de vulcanismo, por exemplo, na Estremadura, no Alentejo e no Algarve, sendo as águas termais as principais manifestações de vulcanismo secundário aí existentes.

Quem seria este estranho Ladão?

Desde logo há que realçar as semelhanças funcionais deste dragão com a cobra da sabedoria que guardava a árvore do bem e do mal e que não tendo ficado com nome definido na Bíblia poderia ter sido uma cobra «ladina».


«Ladino» = adj. astuto; • espertalhão, finório; • manhoso; < Lat. latinu

 < ??? > *Ladjino < Ladjin < Al-djin = O génio < Arab. Djin < Dan-

< Tan.                        < ??? > Ladan < Ra-Tan, a cobra solar de .

                                                          > Ladão.

< ??? > Ala-djin = génio de Alá < ??? > «Aladino».

< Aladjino < Alāʼ ad-Dīn < ela' al dyn > *Al-Ladjin.

Jinn é um substantivo coletivo árabe derivado da raiz semítica JNN (em árabe: جَنّ / جُنّ, jann), cujo significado principal é "esconder" ou "ocultar". Alguns autores interpretam a palavra como literalmente "seres que estão escondidos dos sentidos". (…) A origem da palavra Jinn permanece incerta. Alguns estudiosos relacionam o termo árabe jinn com o génio latino, como resultado do sincretismo durante o reinado do império romano sob Tibério Augusto, mas essa derivação também é contestada. Outra sugestão é que os génios podem derivar do aramaico "ginnaya" com o significado de divindade tutelar ou também "jardim". Outros afirmam uma origem persa da palavra, mais precisamente na forma das "jaini" dos avésticos, espíritos perversos femininos (bruxas). As jaini existiam entre várias outras criaturas da mitologia pré-zoroástricas dos povos do Irão.

Obviamente que as etimologias incertas são, na maior parte das vezes, aquelas que não satisfazem as regras clássicas da etimologia porque é evidente que só por puro preconceito se impede os jinn árabes de ter relações com os génios latinos e todos estes com as jaini avésticas porque todas derivaria duma só e única fonte muito mais antiga que todas estas que foi Enki / Kian o deus caldeus da sagacidade e da sabedoria. Obviamente que os génios latinos, relacionados com o conceito da gentilidade, se relacionariam mais rapidamente com o seu deus Jano do que com o proto-indo-europeu *ǵénhtis, suposto derivado do hipotético verbo *ǵenh- (= gerar, dar à luz) só para explicar o verbo grego γίγνομαι (/ɡí.ɡno.mă͜ɪ̆/) (nascer, acontecer) e o sânscrito जनति (/d͡ʒɐnɐti = dar à luz, criar, causar) passando ao lado de γυνή (gunḗ, mulher) tudo termos que como é óbvio terão que derivar da mesma mitologia de um deus criador que inegavelmente foi Enki, o deus cobra da sabedoria e das água doces que em Roma teve por equivalente Jano, casado com Carna / Cardeia, adeusa que seria também Juno / *Jana.

O primeiro mês do calendário actual foi uma homenagem ao casal de deuses Janus & Jana, ou *Dianus & Diana. Eram antigas divindades pré-latinas, tutoras dos princípios, das portas, das entradas e dos começos de qualquer acção ou empreendimento. Mais tarde, com a chegada dos latinos, Januspater foi substituído por Júpiter e Jana…por Juno.

Portanto, de forma indirecta Aladino deve o seu nome a uma mitologia arcaica que o antecedia senão sobretudo na origem do termo árabe para génio pelo menos também na origem egípcia ou caldeia deste mito feito história de encantar.

Aladim ou Aladino (em árabe Alāʼ ad-Dīn, literalmente "nobreza da fé") é um personagem fictício do conto de origem árabe conhecido como Aladim e a Lâmpada Maravilhosa. (…)

Não existem manuscritos árabes com a história de Aladim anteriores ao século XVIII. (…) A origem do conto é difícil de datar pela falta de elementos no texto que ajudem a situar a ação. Segundo o estudioso René R. Khawam, é possível que o conto tenha origem na segunda metade do século XI, entre a história de Simbad (fins do século VIII) e as Mil e Uma Noites (compiladas em árabe a partir do século XIII).

Outros supõem uma origem ainda mais antiga, como E. Gáll, que encontrou paralelos com histórias contidas em papiros da Antiguidade helenística e romana do Egito e com a prática do roubo de tumbas egípcias, o que o fez propor que a história poderia ter-se originado no século VII, após a conquista árabe do Egito. (...)

Aladim mantém-se despreocupado com uma definição para sua vida até ter um encontro com um feiticeiro ou mágico, que o procurava. Este encontro foi determinante para modificar sua trajetória. O mago, possuidor de muitos poderes e capaz de realizar muitos feitos, procura Aladim como um auxiliar eficaz para concretização de uma meta específica – obter uma "lâmpada maravilhosa", uma lamparina semelhante àquelas utilizadas na iluminação doméstica, mas que continha um "gênio" (em árabe djin) que a habitava e que era capaz de realizar todo e qualquer desejo a ele dirigido. A lamparina com o gênio era para o mago um recurso mágico que lhe daria mais poderes e que lhe permitiria realizar os desejos irrestritamente; mas ela estava guardada no interior de um jardim encantado, em uma espécie de gruta ou caverna, que continha muitas jóias e moedas de ouro.

Notar que, embora seja considerada uma história árabe por causa de sua origem, ou porque foi incluída em As Mil e Uma Noites, os personagens da história não são árabes ou persas, mas sim do Extremo Oriente. A história, como outras das mil e uma noites, está localizada na China, que provavelmente é apenas uma licença literária para colocá-la em um lugar distante, já que o restante da acção decorre em um ambiente totalmente islâmico onde a maioria das pessoas são muçulmanas.

Assim sendo a transliteração do nome de Aladino como sendo literalmente Alāʼ-ad-Dīn, literalmente "nobreza da fé", fidedigno ou “de acordo com a lei” é duvidoso porque se limita a contornar uma blasfémia que se reportaria para *Alā-djin, o "génio" de Alá que aos árabes repugnaria prender numa lâmpada.

Ad-dīn < Al Din < Following Arthur Jeffery, the “religion” senses are borrowed directly from Middle Persian dēn, which is from Avestan daēnā, which is possibly from Elamite [script needed] (dēn), whereas the “law” and “judgement” senses in the Qur'an copy Classical Syriac ܕܺܝܢܳܐ (dīnā, “judgement”), which is possibly from Akkadian [script needed] (dēnu, dīnu, “judgement”) and possibly donator of Ge'ez ደይን (däyn, “judgement”). The borrowing has mixed up with the root د ي ن (d-y-n) of meanings related to increase of financial liabilities.

Obviamente que o conceito religioso do árabe din não precisa de ser emprestado pela via persa do Avesta daēnā nem muito menos de algo elamita ou do acádico porque é tão arcaico que já estava presente no conceito sumério Din-Gir para divindade e ficou como étimo componente explicito de senhoria no nome de Dionísio e de Dione / Diana mas que deriva seguramente dum mitema muito mais arcaico de que restou a raiz semita –tan para cobra ainda presente no nome de Tanit.

Assim, é bem possível que este termo *Alā-djin seja já uma etimologia popular arabizante que seria uma corruptela árabe marroquina da serpente Ladão que teria em linguagem magrebina o nome de *Ladjin e que seria guardiã das Hespérides às Portas do Ródano.



AS PORTAS DE RÓDÃO

Conta-se que, por alturas do avanço sarraceno, o Tejo separava o rei Vamba, visigodo, na margem direita, de um rei mouro, na margem esquerda. Vamba, entretido com a guerra e outros passatempos, deixou a sua mulher a governar as suas terras. A rainha cristã apaixonou-se pelo mouro, e diz-se que namoravam um com o outro sentados em grandes cadeiras de pedra, cada um na sua margem, num e noutro lado das Portas do Ródão, como se de guardiões do rio se tratassem. O rei mouro, perdido de amor, planeou o rapto consentido da rainha, por um túnel que passaria abaixo do Tejo e desembocasse no outro lado. As contas falharam e o túnel não terminou no destino certo. Ainda assim, a rainha acabaria por se escapar para junto do amado, atravessando uma teia de linho que fez de ponte entre os dois lados das Portas. Vamba, tendo conhecimento, planeou novo rapto, com sucesso. Uma vez recuperada para o lado cristão, Vamba condenou-a à morte, por despenhamento, presa a uma mó de moinho. Na queda a rainha lançou uma maldição sobre Ródão: nesta terra não haverá cavalos de regalo, nem padres se ordenarão e putas não faltarão. Acredita-se que por todos os sítios onde a rainha passou, arrastada pela mó, jamais nasceu mato.

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Figura 2: As Portas do Ródão na actualidade.
E é então que nos espanta ir encontrar no nome árabe da Idanha uma ressonância oculta à serpente Ladão. Obviamente que a ciência não é feita de vagas coincidências mas a mitologia pode ser e um estudo sobre mitologia não deve deixar de lhes fazer referência.

A forma que se encontra nas fontes árabes tem sido transcrita por muitos autores como Layˆda ̄niyya (v.g., Manzano, 1991, p. 193; Correia, 2005, p. 78). A transcrição suscita muitas dúvidas, e não apenas de restituição das vogais. (…). A forma das fontes árabes poderá corresponder a Lajdânia ou Lajidânia, Lijdânia ou Lijidânia. O /L/ inicial terá resultado, porém, da confusão de um alif inicial com um lam. Assim, Martim Velho (1981, p. 301) excluiu a forma Lajda ̄niya (ou Lajdânia), tomando-a como [a]l- Ajda ̄niya. A transcrição Layˆda ̄niyya não deve, em caso nenhum, adoptar-se em português. -- Notas de arqueologia, epigrafia e toponímia – VI, JORGE DE ALARCAO.

Se é certo que “a forma das fontes árabes poderá corresponder a Lajdânia ou Lajidânia” como nome magrebino deIdanha não vamos deixar de suspeitar que alguma razão mítica oculta terá havido para que a Idanha árabe não tenha sido, como é comum em toponímias árabes, *Al-jdânia ou *Al-jidânia.

As Portas do Rodão, situadas nos concelhos de Nisa (margem esquerda) e Vila Velha de Rodão (margem direita) são uma espectacular garganta epigénica do rio Tejo que corta espessas bancadas quartzíticas ordovícicas, que erguem a Serra das Talhadas ou de São Miguel, um pouco a semelhança do Cerro da Nossa Senhora da Candosa em Góis (…).

O rio Tejo, a partir do momento em que passa a correr no sentido do Atlântico há 2,6 milhões de anos, sofre um rápido e profundo encaixe no vale onde se formam vários terraços em escadaria, correspondendo cada um a antigas planícies de cheia onde se depositam sedimentos mais ou menos grosseiros, testemunhos da energia das águas.

É aqui que o Tejo tem a sua maior profundidade (aproximadamente 50 metros) provocada pela enorme queda da água que ali existia, já que a crista funcionava como uma parede de uma represa.

Mais tarde até a dinamite se tentou alargar o rio deste poderoso estrangulamento, pois este local era o limite de navegabilidade do Tejo. -- [1]

Quer-nos parecer que a paisagem mudou consideravelmente, já que as escarpas parecem na gravura muito mais acentuadas, se atendermos a imagens mais recentes da mesma vista de jusante (poente):

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Figura 3: Pass of the Tagus at Villa Velha into Alemtejo (C. Turner, 1811).
Figura 4: Passage of the Tagus at Villa-Velha (Westall, 1823).
Podemos falar em exagero do artista...porém não parece ser o caso de Westall, e temos alguma confirmação da diferença pela imagem vista do lado nascente (C. Turner, 1811).[2]

Em bom rigor o exagero dos artistas é óbvio porque as duas imagens são retratos do mesmo ponto que seria um porto fluvial a montante da garganta do Ródano resultante da intervenção do Marquês de Pombal sobre a navegabilidade do Tejo acima das Portas do Ródão seguramente em data anterior à sua morte em 1777.

A pouca distância do porto de Villa-Velha, corre o Tejo por entre dois altos montes de finíssimo mármore, formando uma espécie de garganta, a que chamam as portas do Rodão. Pelas influências do, Marquez de Pombal se fez o mesmo, rio navegavel até ao porto de Villa Velha, que fica dentro desta garganta. Junto do porto havia huma Fazenda e Casas, em cuja porta se viam as armas, do Marquez, que são huma Estrella entre uma, quaderna, de crescentes. (Poesias de Cruz e Silva, 1805).

Assim, particularmente na imagem de 1823 de Westall e, ainda que o rio vá alto devido a cheias, a garganta do Ródão está exageradamente abrupta em relação a imagem de data muito anterior de C. Turner, 1811.

Por uma simples inspecção de altitude a 200 metros (as montanhas laterais ultrapassam os 300 m), o terreno formaria uma bacia natural que se estenderia até Idanha-a-Nova, criando um lago artificial...Seria esta a ideia de Bento de Moura.

Assim, se havia alguma represa natural de água, parece certo que o Marquês acabou com ela...e com um nível baixo, a navegabilidade ficou também comprometida, excepto para pequenas embarcações, conforme se pode ver nas gravuras. (…)

Com as Portas do Ródão fechadas ao Tejo, este formaria um lago interior que se estenderia até à zona de Idanha-a-Nova, e anteriormente talvez mesmo próximo de Idanha-a-Velha.


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Estas vilas que aparecem hoje como isoladas nos limites montanhosos da Serra da Estrela, poderiam ter tido um lago natural resultante da acumulação de águas do Tejo. Uma primeira cedência da rocha teria causado a deslocalização de Idanha-a-Velha para Idanha-a-Nova, mas a ideia de navegabilidade do Marquês teria terminado com qualquer ideia de recuperar o lago interno, conforme parecia pretender Bento de Moura. — [3]

As Portas do Rodão são um monumento geológico e histórico impressionante como poderia ter sido nos tempos clássicos uma cascata tal como acontecia com o Rio Douro, que tinha uma forte cascata perto de S. João da Pesqueira, chamado o “Cachão do Douro”, cuja demolição teve início em 1780 logo após a morte do marquês e que permitiu a navegação do Douro até Barca d’Alva. O nome do Rio Rádon em Aragão, tributário do Martín, com várias cascatas, indiciam que as portas do Reno seriam também uma cascata e cascata cachão ou canhoeira seria o significado arcaico de Rádon.

É um facto que o rio ou ribeira de Rádon não tem hoje magnitude de ser um rio mítico mas tê-lo-á sido localmente para povos colonizados por gentes do mar Egeu que partilhavam da mitologia do Hades.

Etimologicamente assim parece porque *Ra-Dan derivaria de *Ura-Than onde Ur significava “agreste” e “selvagem” em Sumério e a palavra tan era reconhecida entre os fenícios como sendo a cobra que era o que os rios pareciam ser aos povos primitivos pelo seu percurso serpenteado e esqguio. Assim sendo o dragão seria primitivamente qualquer realidade geográfica serpentina (mais ou menos volátil) e particularmente feroz como era o caso das cascatas e dos vulcões.

Além do exemplo espanhol temos o rio Ródano que ficou contraído em francês como Rhône suspeitando-se que o mesmo tenha acontecido ao Reno!


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Figura 5: o rio Radón afluente do rio Martim, afluente do Ebro a caminho da cascata do Cubo.

<= Figura 6: Cascata do Cubo no rio ou ribeira de Radón, porque na verdade só vai cheio em tempos de invernia.

Tudo para dizer o quê? Que o conceito mítico que esteve por detrás destes termos era o rio Erídano (do latim Eridanus), um dos cinco rios míticos que cruzavam o Hades.

Mas, quanto àqueles na Europa que estão mais distantes em direcção à noite, não posso falar com segurança; pois não me parece aceitável que os Bárbaros chamem Erídano a um rio que desemboca no mar, na direcção do Bóreas de onde se diz que vem o nosso âmbar, nem tenho conhecimento das Ilhas de Estanho, de onde vem o nosso estanho. “O próprio nome de Erídano indica que se trata de uma palavra grega e não bárbara, inventada por um qualquer poeta; nem por toda a minha diligência aprendi com alguém que confirme que existe um mar além da Europa. Tudo o que sabemos é que o nosso estanho e âmbar vêm das partes mais distantes.” Hdt. 3.115.1 a  2).

Por que razão se desceu aos infernos (Hades) do Ródão? Para demonstrar que os antigos confundiam as portas dos infernos com as do paraíso e que o mundo dos ocidentais era o mundo dos mortos, ou seja o inferno dos egípcios, logo, faz sentido pensar que o jardim das Hespérides era este país dos ocidentais próximo dos infernos do sol-posto porque seria guardado por grifos e dragões (Ladon / Radon) como a árvores da vida precisamente nas terras ocidentais para lá das portas do Ródão, que seria uma antiga queda de água ou cascata. A busca do paraíso ocidental que se percorreu nos caminhos de Santiago teria sido também procurando noutros rios dos infernos como seriam o Reno e o Ródano.

Notar ainda que Eridano seria o nome original de Ladon o que não deixa de ser interessante porque então este seria literalmente a cobra (than) de Eri(nia) / Eiru / Iria / Hera!

E para associar as cachoeiras dos rios que levam o nome de *Rádão com o dragão Ladão do jardim das Hespérides bastariam estes monumentos geológicos mas no caso das Portas do Ródão temos ainda a acentuar esta relação reptilinea os fósseis de “ratos de trajectos de trilobites” no Parque Icnológico de Penha Garcia.




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Figura 7: Diz-nos a memória dos mais velhos que, por aquelas bandas sempre se chamou “cobras pintadas” ou “pedras escrevidas”, aos esculpidos nas rochas de Penha Garcia.
Figura 8: No Vale do Rio Pônsul até as rochas xistosas se apresentam encarquilhadas e enrugadas como se fossem pilhas e pilhas de cobras esculpidas na rocha milionar.

As Portas do Ródão seriam míticos impedimentos ao acesso à zona superior do Tejo ou seja, às terras dos Igaeditanorum onde ficaria o jardim das Hespérides, possivelmente nas murteiras da Senhora do Almortão de Idanha-a-Velha.

Pinho Leal diz que "alguns" davam também o nome de Hircania a Idanha-a-Velha (que diz ser uma das primeiras vilas lusitanas, fundada c. 500 a.C.)...lembrando-nos que o mar Hircanio era exactamente a designação do Cáspio, não deixamos de ver aqui uma alusão a um mar interno. Egitania foi um bispado importante na época visigoda, e a cidade terá mudado de nome para Eydaia na época árabe, de onde viria o nome Idanha. A nova Idanha parece ser só mencionada já com D. Sancho I.

A Idanha, que os Romanos fundárão poucos annos antes do Nascimento de Christo, e fizerão depois seu Municipio, era das Cidades mais amplas, nobres, e opulentas da Lusitania, conhecida com o nome de Egitania, Igeditania, Egita, Aegita, Igedita, ou talvez Hircania.

Na história do bispado da guarda, que herdou o da Egitânia visigótica, não se dá qualquer crédito à relação da responsabilidade de Frei Pedro de Poiares de Idanha com Hircânia ali referida como sem qualquer fundamentação. No entanto, existem referências eruditas dos escritores iluministas lusitanos:

Quem há que acredita que a Hircânia, em vez de sua natural produção de carnívoros tigres, seja agora fecunda em mansos cordeiros? Quem há que experimentasse caridade no leão, benignidade no lobo, mansidão no urso, bondade na raposa, ou simplicidade na serpente? Pois é mais factível que a Hircânia abunde em cordeiros, (…), do que os pedreiros compadecerem-se do filho de um Rei, de um Príncipe infeliz, de um Soberano destronado. Padre Agostinho de Macedo, "DEFEZA DE PORTUGAL" (1831) - Que Pretendem os Pedreiros com a Chegada de D. Pedro à Europa ... (VIII parte a).

Frei Pedro de Poiares foi autor do «Diccionario lusitanico-latino de nomes proprios de Regioens; Reinos; Provincias; Cidades» e lá terá tido as suas razões para referir que os nomes de Idanha eram Aegitta; Aegedita; Igidita e Hircania.

Hircania (en griego antiguo, Υρκανια; en persa antiguo, Varkâna, «país de lobos») está situada entre el mar Caspio al norte, el cual era llamado océano Hircanio en la Antigüedad, y los montes Elburz al sur y al oeste.


Hircania < Υρκανια Varkâ-na

< Warka, a cidade da Babilónia.

Até prova em contrário o nome de Idanha seria Hircânia por mera alegoria iluminista do tipo das modernas geminações de cidades estrangeiras. Seria Hircania por ter lobos nas serranias próximas das Talhadas…e por ter, ou ter tido, um mar interior de que só resta esta vaga alusão alegórica.

De Igaedis terá derivado o nome *Igaeditania. Não estando atestado, este nome parece dever supor-se para explicar a posterior forma Egitania (Vasconcelos, 1926 2 , p. 327, 1928, pp. 349–350). Mas, a ter existido a forma *Igaeditania, terá sido, na Época Romana, o nome da cidade ou um corónimo, isto é, o nome de vasta região que a cidade tutelaria? A forma Egitania é a que se encontra no Parochiale Suevum.

A forma Egitania é a que se encontra no Parochiale Suevum (David, 1947, p. 38). Está confirmada por moedas visigóticas: de Recaredo (586–601) a Rodrigo (710–711), foram muitos os reis visigodos que cunharam moeda em Egitania (García-Bellido& Blázquez, 2001, p. 179). Admitindo a evolução *Igaeditania > Egitania , devemos concluir que a síncope da sílaba / di / (síncope que se observa noutras palavras, como em medicina > mezinha) já se tinha verificado nos fins do século VI, data do Parochiale. É certo que nos concílios visigóticos, entre 597 e 653, aparecem as mais diversas grafias, que registamos por ordem cronológica: Igitana, Equitania, Iditana, Egaditana, Egitania, Igiditana, Egiditana, Igeditana (Vives, 1963). Talvez, no século VI ou VII, as formas com / di / fossem apenas eruditas e a cidade fosse comummente chamada Egitania. Apesar da forma Egitania do Parochiale Suevum. --[4]

Seriam os Igaeditanorum aparentados com os Edetanos? Num estudo sobre a etimologia da Ética demos conta de que “a propósito do nome de do deus Sete presente no nome dos setesquinos próximo do edesquinos podemos postular que o nome de *Se-tis se reportaria à «sé» ou sede dos deuses e *E-des à casa dos deuses o que nos levaria a recordar novamente o nome de deusas como Sedna e Edna”. Então do mesmo modo, podemos postular que no nome dos Igaeditanorum se pode descobrir o nome de uma deusa equivalente a estas que seria Egaeditana, uma forma arcaica da que veio a ser Edania ou Edna?

A forma Egitania seria usada no periodo da dominacao muculmana pelos falantes de origem hispano-romana e conservava-se nos seculos XII e XIII, pois se encontra em documentos de D. Sancho I de 1197, 1199 e 1206 (Azevedo, Costa& Pereira, 1979, docs. 100, 118 e 162). Ou, por se tratar de documentos da chancelaria regia escritos em latim, devemos pensar que Egitania e aqui, mais uma vez, uma forma erudita, diferente da falada? A forma falada seria ja entao Ydania ou Edania (ambas em documentos de 1165, ver DMP, DR., docs. 288 e 317)?

Na Cronica Geral de Espanha de 1344, encontramos a forma Edama (Cintra, 2009, II, p. 450). Talvez se possa admitir um erro de leitura paleografica (Edama por Edania?). E quanto ao /a/ final, reproduzira um /a/ ligeiramente nasalado?

A sincope da consoante /g/ parece atestada ja na Epoca Romana. Com efeito, em Segura (Idanha-a-Nova), inscricoes romanas consagradas à deusa Erbine dão-lhe o epíteto de Iaedi ou Iaidi (em dativo), que parece dever interpretar-se como abreviatura de Iaeditana (Prosper, 2002, pp. 215––217). --[5]

Claro que a Edama, da Cronica Geral de Espanha de 1344, em vez de Edania é um dos muitos erros de grafia, ou de ortografia, que geram muitos equívocos em estudos históricos.


Civitas Igaeditanorum< Iga-editana > Ig-editan > Visig. Egitania

(ó Luci-Tania >)                 >Roman. Ia-editana > Edania .

                                                                                >Idania > Idanha.

«Idanha» < Idania < Ida + Ana

ó *Eda + Ana > Adana> Edania > Edina > Edna.

Sabendo-se que numa tradução do disco de Festos aparece o nome IQE-KURJA, o que pode significar “mãe grávida” ou apenas o nome da Deusa Mãe das cobras cretenses, Kurisha, a senhora do monte (kur) por estar grávida, é quase seguro que no nome dos Iga-editanos seria *Ika-Editani…ou seja deusa mãe Idânia dos editanos.

Ou seja a mãe das cobras cretenses que foi Kurija / *Kertu / Hera, foi Beira / Cale e a mãe das cobras de da Lusitânia (< Luci-tan) Ofiussa que era uma cobra de luz aos pés de todas as Virgens Ibéricas e o crescente lunar que era a deusa Nut com o sol no ventre.

Por sua vez, a deusa Idânia que deus nome a Idanha seria Iaedi ou Iaidi a Senhora Idaeado monte Ida em Creta que agora entendemos significar apenas *E-da, literalmente a casa de Da, a cobra mãe dos cretenses, ou simplesmente a deusa mãe Idaea que passaria a Edna ou *E-da-Eia, a casa da cobra da “casa mãe de água. Por isso é que a Aquitânia francesa, que facilmente se confunde com a Equitânia de Idanha, era considerada “lugar das águas” e por isso também chamada Guiana, literalmente terra de Gui, o deus ibérico taurino das águas doces, como Enki, e que fez parte do nome de muitos rios Ibéricos.

A epigrafia do Almortão revela uma divindade chamada Igaedus.

A síncope da consoante /g/ parece atestada já na Época Romana. Com efeito, em Segura (Idanha-a-Nova), inscrições romanas consagradas à deusa Erbine dão-lhe o epíteto de Iaedi ou Iaidi (em dativo), que parece dever interpretar-se como abreviatura de Iaeditana (Prósper, 2002, pp. 215– –217). --[6]


Iga-edi-tani< | Ika < E-Ki | -Editana

                  > Egitania < *E-ki-tania> Equitânia.

                                     Iside + Ana ó *Isidania > Idanha.

Iside < Idaea< *E-da-Eia ó Igaedus Ihaedi >Iaedi ou Iaidi.

Isna é uma freguesia portuguesa do concelho de Oleiros e Distrito de Castelo Branco. O topónimo desta freguesia Isna reveste-se de alguma curiosidade, pois pode derivar de isanu “lugar de difícil acesso”, issanare “lugar saudável” ou igeana “limite do território Egitanense”. É controversa a origem de Isna. Há quem considere que o nome se relaciona com a palavra árabe hisn, «fortaleza». Há outros autores que consideram que o nome remonta ao latim asinus ou, melhor, à forma correspondente do género feminino, asina, isto é, «burro», «burra». Na região em que o rio corre, tendo em conta que durante grande parte, até finais do século XII, se encontrou aí frequentemente a fronteira noroeste do território árabo-islâmico, torna-se mais plausível a hipótese arábica.

Jorge de Alarcão partilha da ideia asinina e propões várias vias derivativas o que é suspeito de serem todas de pouca confiança.


* Aesina > * Aisina > Asina > * Aisna > * Eisna > Isna

* Aesina > * Esina > * Eisna > Isna

* Aesina > * Esina > * Isina > Isna [7]

A via arabizante tem a vantagem de reportar o nome desta pequena freguesia para a mesma origem oriental e distante de Idanha-a-Velha. Se relacionarmos o nome da aldeia de Isna com o nome de Isis e destes com a multiplicidade de nomes próprios espalhados pelo mundo ficaremos espantados com as semelhanças de todos estes com nomes da mitologia antiga.


Isis < Iside + Ana> *Isidana > Isidna, Isidina, Isaidona,

Istina, Isdana, Izidna, Isadna, Isidhanya,

Istinah, Is-Diana, Iustina< Justina < Ju-Istina.

O topónimo Zêzere alude a uma «villa» Ozecari, de um tal Ozecarus - facto em harmonia com a antiguidade desta freguesia. A forma do topónimo no século XIII era Ozêzar, cujo etimológico passou a ter função de artigo na grafia.

Obviamente que o nome Ozecari parece um anagrama do nome do rio Ocreza de onde vinha o ocre amarelo que dava cor amarela dourada às agua que banhavam o mar interior da Idanha e apelavam para o sangue dos deuses.

Sabemos que os romanos associaram o culto de Cibele aos cultos de Magna Mater nos quais sintetizaram vários cultos orientais, particularmente os de Isis e Serapis, mas não temos a certeza epigrafia de que existiu um culto desta deusa anatólica na Egitânia.

P(ublius) Popil(ius) Avitus P(ubli) f(ilius) indul/gentia pontifici(s)

Ig(a)edita/nor(um) locum sepul(cri) / accepi ante / aed(em) deae / Magnae

Cybeles quam / iratam morte / sensi

“Publio Popilio Avito, hijo de Publio, por la indulgencia del pontífice de los igaeditanos, aceptó el lugar del sepulcro ante el templo de la Gran diosa Cibeles, a la cual sintió irritada por su muerte”.

Comentario: Se trata de una inscripción funeraria, probablemente falsa, donde se alude al enterramiento de un difunto junto al templo de Cibele. De esta información se infiere que dicho templo se encontraría extramuros de la ciudad, ya que los muertos no se enterraban dentro de las ciudades hasta la época cristiana. Ya en el CIL este epígrafe figura como falso.[8]

Para o caso o que é apenas provavelmente falso também pode ser verdadeiro se o contexto o indicar. É certo que, segundo Segundo José da Encarnação “não se veneravam deuses orientais em Idanha-a-Velha”. Hilariante! Como se fosse possível excluir divindades pela epigrafia actual ou fosse possível contar com a anuência as nossas teses por parte de uma multitude de epigrafias que se perderam…ou que nunca chegaram a ser feitas, ou seja, como se fora apenas a epigrafia a única fonte documental histórica!

A verdade é que típico adufe da região de Castelo Branco e particularmente da Idanha tem um nome com ressonâncias egípcias e por isso uma boa prova de que teria sido trazido com os cultos ruidosos de Isis e Cibele no tempo da Iaeditana romana ou memo na pré-romana Igaeditana.

Sendo então uma terra de culto a Isis, o seu nome inicial se confundiria com o da deusa Isis a, Egiptana, razão pela qual o seu nome acabou sendo Egitânia, no tempo visigótico.

Mas há que desconfiar das etimologias eruditas que são como as santinhas cristãs: capas para mitos mais antigos.

Sabemos também que na Ibéria romana o culto mais comum destas deusas era precisamente o de Vénus que, segundo a lista de Vives, contamos com um total de 15 dedicatórias a Vénus no espaço peninsular, uma delas referindo a existência de estátuas e a outra o templo a Vénus em Idanha-a-Velha.

Na mitologia grega, Esmirna ou Mirra foi, por castigo de Afrodite, a mãe de Adónis depois desta ter cometido incesto engravidado às ocultas de seu próprio pai Cíniras < Ki-(A)nurasó Enki e depois transformada segundo uns em mirra segundo outros em mirto ou murta, um arbusto de folha perene símbolo de juventude eterna e pureza e, por isso, consagrada a Afrodite depois do nascimento do seu amado Adónis.

Na mitologia grega, a murta era consagrada a Afrodite. O mesmo aconteceria na mitologia romana, em que Vénus recebia o título de Múrcia, que a relaciona a esta planta. De facto, desde a antiguidade que esta espécie está relacionada com rituais e cerimónias solenes - já os Gregos a utilizavam para adornar as noivas com grinaldas, como ainda por vezes acontece hoje em dia, existindo também referências no Antigo Testamento a este modo de adornar as noivas.

Há muitos anos, nos terrenos das imediações da actual ermida da Senhora do Almortão, crescia, por toda a parte, um arbusto chamado murta.

* Em Alcafozes havia um rapazinho que era pastor e vinha diariamente com o seu rebanho para estes terrenos. Um dia, andando ele a vigiar o seu rebanho, descobriu, no meio de uma moita de murta, uma linda imagem. Ficou muito contente e brincou com ela toda a tarde. Quando pretendeu ir embora, meteu-a no sarrão, para a mostrar à mãe. Ao chegar a casa, contou à mãe o que se havia passado e quando ia para mostrar a bonequinha – como ele lhe havia chamado – já não a encontrou.

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Figura 9: Painel de azulejo a embelezar a padieira de uma porta no lugar de Torre (Monfortinho).

No dia seguinte, veio a encontrá-la novamente no local de origem. Voltou a brincar com ela e, à tarde, meteu-a no sarrão para a levar. Todavia, ao chegar a casa, não a encontrou. E isto repetiu-se durante vários dias. Estranhando o sucedido, o pastorinho e a mãe contaram-no a várias pessoas que concluiram que a “bonequinha” era uma linda imagem da Senhora do Almortão e que deveriam fazer-lhe uma capela no sítio onde o rapazinho a encontrava sempre.

Assim, fizeram a ermida e puseram à Senhora o nome de Almortão por ter aparecido no meio da murta”.

(Baseado in ” Passinhos de Nossa Senhora – Lendário Mariano”, by FRAZÃO, Fernanda, Editorial Apenas Livros, em Lisboa, ano de 2006, pagina 40)

A Senhora do Almortão ou do Almurtão? Obviamente que vale mais uma boa polémica etimológica do que disparatar sobre coisas sérias. De qualquer modo, se o sítio da aparição da Virgem foi em Água da Murta a dúvida não estará tanto na forma comoo povo raiano pronuncia o nome da santa mas na sua grafia que em bom lusitano será sempre confusa porque Almortão ou Almurtão pronunciam-se do mesmo modo. Já o Almotão com etimologia germânica parece suspeito porque ou a mitologia do local é anterior à Egitânia visigótica, como o refere a arqueologia de “um complexo santuário luso-romano dedicado ao deus indígena Igaedo, ou mais possivelmente ainda à deusa *Ika-Editani, deusa protectora das boas águas e dos cavalos, cognominada Erbina, e, neste caso, a mota do germanismo estaria a mais e sem rodas para andar.

Erbina (Erbine Iaedi) – Deusa Igaeditana adorada no interior e nos campos da Lusitânia.

Igaedo (Igaedus, Iaedi) – Deus adorado pelos Lusitanos Igaeditanos.

Menrva era a deusa etrusca das artes e da guerra. Nascida da cabeça de Tinia, outro deus etrusco, acredita-se que os romanos basearam-se nela para descrever a deusa Minerva.

Notar que Erbine deve ser um betacismo de *Ervine o que imediatamente nos reporta para Minervina variante carinhosa de Minerva que os gregos clássicos identificaram com Atena mas que deveria ter sido antes uma forma minóica de Hera.


Erbine < *Ervine < Min-| ervina < Er-kina) > Minerva

> Men(e)rva < Min | Herua> Hera.

A Senhora do Almortão, como quase todas as virgens cristãs aparecidas, será de origem recente relacionada com as várias crises políticas e sociais da portugalidade e, neste caso, relacionada com o lugar da Água da Murta, que esse sim guardaria desde tempos imemoriais a mitologia arcaica de uma deusa de águas puras, uma espécie de fonte de eterna juventude simbolizada no arbusto perene da murteira.

Se Adónis nasceu de uma murteira, a urna de Osíris foi escondido por Ísis numa acácia, tamarindo ou numa murteira, este último um arbusto usado nos ritos funerários de mumificação, antes da sua ressurreição. Tamuz, Osíris, Attis, Adonis, Dionísio, e Jesus todos foram deuses de morte e ressurreição solar e todos se relacionaram de forma ritual com a murteira porque foram todos o “deus menino” da sua Virgem Mãe.

O pastoreio acompanhado levou à transumância e esta as constantes migrações ao longo da Europa. Estas realidades ao mesmo tempo penosas e perigosas tiveram que ter justificações ideológicas e uma delas era a busca do paraíso perdido que para uns era a busca das portas do nascer do sol situados na Anatólia do extremo oriente onde o Japão é o império do sol nascente e para outros era a busca das portas do sol poente nas rotas dos caminhos da estrada de Santiago onde se situava a casa dos mortos no «país dos ocidentais» que os Egípcio chamavam Shentiamenti (> «sentimento»).

Khentimentiu = The Egyptian god who rules the destiny of the dead, seen as the guardian 'dog of the dead'.

Pelo caminho encontravam pepitas de ouro que era para os egípcio a substancia dos deuses...e lágrimas de Ra, o deus sol e que os gregos transformaram em Hespérides > «esferitas» = pepitas que outros interpretes confundiram com «maçãs», «peros» ou «malápias» que na Ibéria também seriam doces, amarelas e douradas como o sol!

Depois de atravessar muitos países, Hércules chegou à terra de Atlas, que não era, dizem alguns, no noroeste da África, mas na terra dos hiperbóreos no extremo norte. Em todo caso, Hércules, seguindo as instruções que recebeu de Prometeu, pediu a Atlas que buscasse as Maçãs Douradas em vez de buscá-las. E é por isso que por um curto período de tempo os pilares do céu e da terra foram apoiados por Hércules, que aliviou Atlas enquanto ele foi buscar as Maçãs Douradas.

As Hespérides eram maçãs douradas, pepitas de ouro que todos os povos antigos procuravam por aqui como procuravam o estanho para fazer o «latão» (< Ra-tan) que o substituía.O sol era o ouro que era a carne dos deuses na geografia mítica dos egípcios e a boca da deusa Nut ficava na Ibéria e as mãos dela seguravam-se nas colunas de Hércules.

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Figura 11: A Área Arqueológica do Conhal também referida como Conhal do Arneiro, no Alentejo, localiza-se no topo norte da freguesia de Santana, no concelho de Nisa, distrito de Portalegre, em Portugal. Ocupa mais de 90 hectares delimitados pelo ribeiro do Arneiro, pela margem esquerda do Tejo e pelas Portas de Ródão (Serra das Talhadas).

Esta área apresenta indicadores de uma actividade mineira antiga de exploração de jazigos secundários de ouro situados em terraço fluvial, que atingiu o auge no período romano, mas terá continuado em menor escala em épocas subsequentes. (…) Os amontoados cónicos de grandes calhaus rolados – conhos – retirados manualmente dos canais de lavagem (agogae), e que podem atingir mais de cinco metros de altura, constituem o indicador mais visível desta actividade mineira.

Deste local vislumbra-se um vasto panorama sobre o vale do Tejo, com destaque para as escombreiras de estéreis com calhaus rolados de prospecção de ouro do Conhal do Arneiro, na margem esquerda. Este conjunto é uma gigantesca obra de mineração romana de exploração aurífera. Os romanos, quando aqui chegaram no séc I A.C., repararam que o rio perdia uma boa parte da sua capacidade de transporte, após a passagem das Portas de Rodão pelo que se depararam com 6m (em altura) de sedimentos acumulados. Não demoraram muito a perceber que estas areias eram ricas em ouro, que tinha sido trazido até aqui pelas águas do Tejo.

No entanto a tarefa de remoção do apetecível minério não prometia ser fácil: as finas areias “enriquecidas” encontravam-se “misturadas” com uma enorme quantidade de pedras roladas (quartzitos) mais resistentes e sem interesse económico.[9]

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Figura 10: Portas de Almourol no rio Ocreza na garganta do rio Ocreza, uma espécie de miniatura das Portas do Ródão.

As conheiras resultantes da exploração de ouro nas aluviões do Rio Ocreza desde a época dos romanos estendem-se em ambas as margens do Ocreza, entre Foz do Cobrão e Sobral Fernando, fazendo de cenário à tradicional actividade de garimpo do ouro.

De acordo com a tradição da mitologia grega, os Hiperbóreos eram um povo mítico vivendo no extremo norte da Grécia, próximo aos Montes Urálicos. Sua terra, chamada de Hiperbória (do grego hiper, "super" ou "além"; bóreia, "norte"; traduzido como "além do bóreas" [bóreas, o vento norte]), era perfeita, com o sol resplandecente 24 horas por dia. Os gregos pensavam que Bóreas, o deus do vento norte, vivia na Trácia. A Hiperbórea, portanto, era uma nação desconhecida, localizada na parte norte da Europa e da Ásia. Exclusivamente entre os Olímpios, apenas Apolo era venerado pelos hiperbóreos: o deus passava os invernos junto a esse povo. Esses últimos enviavam presentes misteriosos, embalados em palha, que primeiro chegavam a Dodona e depois eram passados de povo em povo até chegar ao templo de Apolo em Delos (cf. Pausânias). Teseu e Perseu também visitaram os hiperbóreos.

No nome das Hesperides está a raiz pher de Ker, a deusa mãe das cobras cretences, da vida e da morte e dos seus leões Aker que guardavam as portas co paraíso. Então, Ker ó Pher significa transporte (solar) ou estado de gravidez e His não pode ser senão Isis a mãe do sol posto que foi Osíris.

O estranho é suspeitar que nesta geografia mítica os egípcios suspeitavam que Isis / Nut engravidava pela boca comendo o sol. Devia ser terrivelmente traumático pensar que a deusa mãe paria e comia todos os dias o próprio filho.

Amentiu era a deusa que devorava a alma dos mortos para toda a eternidade.


Amen + tiu = deusa Amen ou Me-ana, a mãe de Minos e do senhor sol.

A mitologia egípcia conserva muitos arcaísmos relativo a Creta minóica e é uma espécie de ruminância em volta de conceitos e termos míticos simples em volta das mesmas eternas obsessões: a vida e a morte; o nascer e por do sol; o eterno retorno.

«Lusitânia» < Lu-ishtan-kia, seria literalmente a terra de Ladão / Ratão ou *Ra-istan, o sol Rá, o “disco solar alado” brilhante como o «latão».

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Será por acaso que o jardim das Hespérides se deverá situar na Beira Interior da Lusitânia? Seguramente que não porque Beira deve ter sido uma deusa tão poderosa como era Hera na Grécia por serem a mesma entidade.


Beira < Wer  < Her < Her(a) < Ker> Cale na Galiza.

A relembrar o arcaísmo da tradição da região das Portas do Ródão temos a estranha relação entre Almourol e Balmoral, dois castelos europeus de similar sonoridade. Há quem aponte uma origem árabe para o primeiro nome e como os Árabes não estiveram na Escócia e como a coincidência sonora é grande a tentação para duvidar da origem árabe sistemática de todos os nomes lusitanos começados em al-. De facto até o dicionário Infopédia da Porto Editora refere para Almourol: As opiniões divergem, mas este topónimo parece derivar do céltico moraul, 'curva do rio' (confrontar o galês morawl), com o prefixo árabe al-. Já para Balmorol a wikipédia diz: a primeira referência o nomeia como "Bouchmorale" em 1451,7 cujo primeiro elemento parece vir do gaélico tanto, "abrigo", embora a segunda parte seja desconhecida. Adam Watson e Elizabeth Allan escreveram em The Place Names of Upper Deeside que este segundo elemento significaria “grande extensão [de terra].” Alexander MacBain sugeriu que pode vir originalmente do picto *mor-ial, “grande clareira”; em galês também mawr-ial. Ou seja, parece concordante a origem do ambos os termos ser gaélica bastando depois confrontar os etimologistas desta corrente porem-se de acordo sobre o galês morawl ou mawr-ial. Ora, a verdade é os dicionários galeses dizem que morawl significa “mar, marinho, marítimo”, ou seja, quanto muito local com muita água como seria a beira-rio. Dirão, só os tolos confundem rios com mar porém, na origem da linguagem em que os colonos cretenses estariam antes de virem a ser celtas as grandes porções de água seriam mares fossem lagos ou rios. Pois bem, ambos os castelos referidos estão perto de rios: Balmoral no vale do rio Dee e Almourol no meio do rio Tejo ou seja ambos estes castelos teriam tido o mesmo nome celta original e ambos seriam *kal-morawl significariam “casa do vale ribeirinho” ou “castro à beira rio”!










[4] Notas de arqueologia, epigrafia e toponímia – VI, JORGE DE ALARCAO.

[5] Notas de arqueologia, epigrafia e toponímia – VI, JORGE DE ALARCAO.

[6] Notas de arqueologia, epigrafia e toponímia – VI, JORGE DE ALARCAO.

[7] Notas de arqueologia, epigrafia e toponímia – VI, JORGE DE ALARCAO.

[8] El culto a Cibeles y Attis en la Hispania romana: restos arqueológicos y epigráficos. Autor: Xavier Bayer Rodríguez.

sábado, 28 de abril de 2018

MITOLOGIA MODERNA: DOS DIN.GIR AOS EXTRATERRESTRES, por Artur Felisberto.



Zecharia Sitchin é um dos muitos pseudo historiadores que se servem da ciência para inventarem a mitologia dos deuses como astronautas e que, por ser baseada em falsas evidências, é mera decepção e embuste.

Começa ele por confundir o determinativo sumério genérico para divindade que era Din.Gir ou Dinhir com os Anunnaki. Depois, traduzindo literalmente o nome destes deuses, alternativamente escritos como "a-nuna", "a-nuna-ke-ne, ou "a-nun-na", por "aqueles que vieram do céu" em vês de aqueles que vieram de Anu, que sendo o deus do céu era pai dos deuses que este teve com Ki, particularmente Enki e Enlil. Depois de ter cometido a insensatez de ter levado à letra o conceito de entidades que vieram do céu como seres reais e não meras entidades teológicas começa a acreditar que só poderiam ter sido astronautas extraterrestre caindo nos erros mais elementares da interpretação histórica que são: o anacronismo e aplicação errada do “princípio das causas actuais” aceitando que se “pode explicar-se o passado a partir do que se observa no presente” ignorando que este principio só é válido se cumprir escrupulosamente outro principio de que as causas semelhantes só têm consequências parecidas se, e apenas se, ambas condições de acção das causas forem também semelhantes. Ora, as condições tecnológicas actuais do auge da revolução industrial que permitem a existências de astronautas não têm qualquer semelhança com a tecnologia emergente do Neolítico que permitiu o esboço da primeira escrita e o registo das mitologias da época.

Ora, se nada existe de extraordinário em aceitar que os Anunnaki, enquanto entidades teológicas filhas do Pai do céu, são no plano mítico entidades vindas do céu, admitir que estes seriam astronautas só respeitaria o “princípio das causas actuais” ou “princípio do actualismo” se ainda hoje fosse assim, ou pelos menos se só actualmente fosse evidente que os astronautas fossem reconhecidamente extraterrestres, o que está longe de ser verdade. Pelo contrário, é a mitologia moderna dos extraterrestres que se serve da moderna tecnologia para tentar explicar com causas naturais o que no passado era pura mitologia.

Voltando aos argumentos de Zecharia Sitchin e simpatizantes verificamos:

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Another one of the enigmas of Mesopotamia is the Din.Gir. The name Din.Gir is Sumerian meaning “righteous ones of the bright pointed objects”. The Sumerians were referring to the Anunnaki, the pantheon of their gods. They used this two part symbol to designate the Anunnaki collectively. When looking at how the Sumerians wrote this symbol it is not apparent from this two dimensional drawing that it represents a three dimensional object. It’s only when you look at the solar winged disk that you see it as the three dimensional object that it is. This disk has been presented in a variety of styles from the mechanical to one much more bird like. There is another translation of Din.Gir as "The Righteous Ones of the Blazing Rockets". What is the word in Sumerian which means "Blazing rockets"? This is a Sitchin mistranslation and unfortunately has been carried over to other web sites as well. The myths of the sun god both Mesopotamian and Egyptian have the sun god traveling across the sky in a boat, the vehicle of choice. What follows is speculation on the Gir – what seems to be a capsule of sorts – that sharp pointed object.

No entanto, ao procurar na sumeriologia os sumeriogramas para Din.Gir não encontramos nada que confirme a existência de pictogramas para Din.Gir que confirmem poderem ter a leitura de “Os Justos dos Foguetes Flamejantes”!!!

O mais parecido que encontramos é dos dicionários acádicos.

Diĝir [DEITY] (1837x: ED IIIb, Old Akkadian, Lagash II, Ur III, Early Old Babylonian, Old Babylonian) wr. Di(n)ĝir; dim3-me-er; dim3-me8-er; dim3-mi-ir; di-me2-er, "deity, god, goddess" Akk. Ilu, iltu.


[1]
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diĝir (dingir)
[2]
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dim3-me-er (ES)
[3]
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dim3-me8-er (ES)
[4]
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dim3-me-ir (ES)
[5]
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di-me2-er (ES)

Como se constata, o pictograma mais parecido com um foguetão é de facto este:

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Ainda assim nada parecido com o que este autor refere como prova.

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E ainda assim transliterando-se como Dim.me.ir que ainda que algo semelhante a Din.gir dele difere muito sendo declaradamente a junção do pictograma Dim + me-ir, ou seja, um termo literariamente construído para significar divindade no vago sentido de algo que se aproxima (dim) das leis (me) poderosas (ir).

Por mais que se procure não se consegue encontrar o sumeriograma para GIR que desenharia “um objecto longo, em forma de seta, dividido em várias partes ou compartimentos» e seria o pretexto para postular a cabeça dos foguetões dos extraterrestres. Aliás, a existir algo parecido seria mais fácil identifica-lo como sendo uma ponta de seta que é hoje o que mais se assemelharia a um objecto deste tipo e bem conhecido dos sumérios. No entanto é mais que provável que se trate de uma das muitas mistificações destes adeptos dos extraterrestres algures reconhecidamente como sendo uma adaptação de uma imagem por sinal de origem egípcia rodada a 90º.




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Alguém acredita que esta simples manipulação de imagens nos convence que, por um lado a figura central destas imagens representavam, no Egipto Antigo, os deuses sumérios Din.Gir e, por outro, que ambas representam um foguetão espacial?