segunda-feira, 1 de maio de 2023

 SONETOS


 




Por Ajotaef
 



SONETOS
DA PIOR EMENDA QUE SÃO
OS AMORES DE PERDIÇÃO





















































Não choro mais por ti, horas perdidas,
Se não sonho contigo não me espanto,
Teu rosto já não é o meu encanto
Nas fotos de memória, esmaecidas!

Mas não cantes vitórias, entretanto
Nem dês por findo o jogo às escondidas
Que na roda da sorte, as nossas vidas
Deitamos a perder em qualquer canto.

Se já não é no corpo que te sinto
O peso com que tu me dois na alma
Gemendo por seres leve, é porque minto,

E assim com rimas certas ganho a calma
De à fome de te ver cerrar o cinto,
Pois que é, amar-te em vão, sofrida palma!























Espero e desespero sem razão
Teimando em contra mão e a contra tempo
Pois sei de há muito tempo que é em vão
Que luto sem razão por sentimento.

Que nem que tu tivesses um momento
Me davas por consolo a tua mão
E por descanso o peito e o coração
Aonde já senti mais que um tormento.

Gemendo ouvi o pranto e a surda dor
Gozando senti fome e fui, amor,
O teu consolo de alma sem piedade.

Orgulho de te amar foi só vaidade
Como este sentimento que te dei,
E agora em desespero morrerei.

Segunda-feira, 14 de Maio de 2012.




















Amo-te tanto…e tanto, oh meu amor
Que de te amar demais eu morreria
De gozo em teu prazer com alegria
Tal como sofreria a tua dor.

Amar-te como te amo sem pudor
É tudo o que me resta hoje em dia
Que vivo neste tempo em agonia
O pouco que me resta do sol-pôr.

Amo-te e sinto o quanto amargo é
Ter por destino amar-te tanto em vão
Como se fora falsa a minha fé.

Amar-te é afinal uma ilusão
De estando tu ausente, estar ao pé
Do amor que me alimenta a solidão.

10/09/18
























Muito espero em vão que me respondas
Oh deus do meu amor desencantado
Que me deixou na terra, abandonado
Qual barco em alto mar sem ar nem ondas.

Perdi o pé fiquei um naufragado
Nas linhas dum destino tão redondas
Como as costas solitárias que não rondas
Nadador salvador de qualquer lado.

Suspenso dos teus olhos sou um susto
Que ficou a pairar nos ais que dou
Com saudades do teu divino busto

Devia ter vergonha do que sou
Ao manter este amor de fogo exausto
Mas deixar de te amar é que não vou.


























A Esperança neste mundo é uma ilusão
De crianças crescidas sem querer
E a fé que é um desejo de a sofrer
Pelo amor que nos desse a Salvação.

E tu, só porque o és, todo o prazer
Do meu contentamento a vã razão,
Por ti eu alcancei satisfação
Na entrega caridosa do meu ser.

O segredo de tudo com valor
És tu a quem me entrego em alegria,
Sentindo em cada beijo o teu sabor.

Por ti daria a alma ao Criador,
Meu corpo em sacrifício imolaria
Para que fosse eterno o nosso amor!

13/09/18
























Eu posso até morrer em qualquer lado
Aqui ao pé de ti ou mais além
Mas nunca por amor a mais ninguém
Porque és quem escolhi do destinado.

Para ti nem sequer te fico bem.
Mal me vês já me queres abandonado.
Eu sou o teu negócio mal parado,
E tu, a minha aposta no desdém!

Vivemos este amor a qualquer preço
Usados e abusados onde fora
E logo, sem paixão, deitados fora!

Com outrem se estiveres eu estremeço.
És meu, sem o saberes? Não te mereço,
Que mal te vens já pensas ir-te embora!


























Gosto tanto de ti, oh meu amor,
Quanto gosto da luz do teu olhar
Mais gosto do teu corpo ao luar
Lindo e nu transpirando o meu suor.

És sombra derramada à beira mar
Tão longa como é certa a minha dor
De já não ter na boca o teu sabor
E acordo com vontade de chorar.

Porque é triste que sejas mais um sonho
Da ilusão de te amar em que me ponho
Quando enrolo os lençóis do sentimento.

E então eu sinto ser mais um fantasma
Pois quando penso em ti minha alma pasma
Sem saber esquecer-te o sofrimento.


























Tomara acreditar que bem me queres,
E mesmo se não gostas me desejas
Quem dera que fosse eu tudo que almejas
Tal como anseio o pouco que me deres.

Seria como o sino das igrejas
Bendito fora o fruto entre as mulheres
Servido à tua meses com talhares
De prata num açafate de cerejas.

Distante como estás desta ilusão,
És apenas, num soneto feito à toa,
A ideia que de ti mais tenho à mão.

Resta pouco do amor que no céu voa
Qual anjo que me guarde da paixão
Que se não me matou muito magoa.

13/09/18
























Pudera ser tão teu como não és
Quão meu como jamais alguém foi teu
Vivendo o que o destino nos cedeu
Correndo o mesmo mundo lés-a-lés.

Pudera ao menos ser teu de viés
Deitado no teu belo corpo ao léu
E fora o nosso amor o mesmo véu
Do Amor ajoelhado a nossos pés.

Então me bastaria a fantasia
De rosas o botão que eu te faria
Para de gozo te pregar em mim

Mas como possuir-te é uma injúria
Que eu fosse trespassado pela fúria
Que tens, dentro de ti, morrendo enfim.

Sexta-feira, 18 de Maio de 2012
























Pior do que uma emenda de soneto
É teimar escreve-los para ti
Sabendo que só eu é que os reli
Com alma de judeu dentro de um gueto.

No meio deste incerto desconcerto
De quando foste e me deixaste aqui
Eu sinto desde o dia em que te vi
Fazer sem ti o solo dum dueto.

Sem o dom nem a lira de Morfeu
Jamais amansarei a tua alma
E em vão eu te persigo à luz do dia.

E assim já só me resta ter a calma
De não desesperar, por sendo teu,
Meu corpo envelhecer sem serventia.


























Recordo-me do quanto te irritavas
De eu não saber o dia dos teus anos,
Risíveis amadores de desenganos,
Ao colo das promessas que me davas.

Recordo rejeitar os óbvios danos
Do amor que ternamente me entregavas
E a pressa com que tu não te enganavas
Na falta de saída dos teus planos.

Foi sempre em vão o nosso vago empenho
Num Amor feito à medida de ninguém
Que eu queria eterno e lindo e tu também!

Entretanto de ti já nada tenho
Além dum eco fixo e solitário
De me lembrar do teu aniversário.


























Repleto dos desejos que trouxeste
Logo em mim ateaste um fogo eterno
Partindo quão depressa te viste
Deixaste a minha vida num inferno.

Se ainda és o meu o amor: não sei.
Se queres saber se te amo: digo sim
Mas como o que começa tem um fim
Eu amo sem saber se te amarei.

Por isso, meu amor de ocasião
Vou pedir o teu som do coração
Para embalar o meu neste momento.

E no peito encostado contra o teu
Aperto todo o teu bom sentimento
Libertando-me assim do mal do meu!


























Aos poucos, lentamente vou perdendo
A esperança de te haver reencontrado
E com este abandono do meu lado
De amor desconsolado vou morrendo.

Cruel este destino desolado,
De amar quem já de nós se está esquecendo;
Ai negra é a vida que sofrendo
Mais ama quem a deixa abandonado.

Amor ai grande amor de algum momento
Amor da minha vida de tormento
Eu hei-de amar-te assim como vieste

Deixando-te depois sem um lamento,
Amando-te da hora em que partiste
Até findar no peito um fado triste.
























De tanto recordar a tua ausência
Há muito que esquecido, eu deveria
Nem me lembrar sequer que existiria
Algo em mim pertencendo à tua essência!

Amor da minha vida de algum dia
Que me deu novo rumo e consistência
Eu teimo nesta espera feita ausência,
Nesta agonia lenta, noite e dia!

Ao procurar livrar-me dos teus laços
Nas mãos só vejo a falta dos teus traços,
Sem ti é tudo em vão e sem sorriso!

Bem tento mas jamais ganho algum siso
E teimo neste sonho impreciso
Que ainda hei-de ter-te nos meus braços!

Marinha Grande, sexta-feira, 3 de Fevereiro de 2012.
























Vivemos em dois mundos paralelos
Dois corpos que se amam repartidos
Somos dois corações já desunidos
Por duas almas gémeas em libelos!

Já fomos afinados violoncelos
Gemendo as cordas soltas dos sentidos
Agora somos dois livros já lidos
Contos de areia feitos em castelos!

Astros no céu dos sonhos vagueando,
Por sorte ou maldição nos conjugarmos
E logo por amor nos separarmos.

Mantendo a mesma rota vou sonhando
Por outra conjunção em que ficarmos
Por toda a eternidade nos amando!

Quarta-feira, 16 de Maio de 2012.


























Sombrios são os dias deste Inverno
E tristes as lembranças que me assaltam
Envelheço sozinho neste inferno,
Da morte conto as dores que ainda faltam.

Contente é este amor no mais interno
Do peito onde as saudades sobressaltam
Quais alegres crianças que alto saltam
No encalço dos pardais no azul eterno.

Por um lado é cinzento o meu caminho,
Que escolhi receber à luz do dia
No amor que tu me deste com carinho.

Por outro exulto e canto de alegria
Sabendo de antemão quanto é sombrio
Viver longe de ti, triste e sem brio.


























Porque teimas nesta alma de poeta
De arcádicos sonetos bolorentos
Em que inventas desastrados sentimentos
Com que arrastas um corpo de pateta.

Até pensas que a dor que tens secreta
Faz sorrir os teus vizinhos por momentos.
És velho, não te enxergas, tens maus ventos;
Montar-te nem que fosses bicicleta.

E para de bater mais no ceguinho,
Que és burro, sem emenda, e coitadinho,
Caricato de pé, esperas sentado.

Cheiras mal dos sovacos, já tens ranço;
Teimando em não dar tréguas sem descanso
Só podias ser um triste mal-amado.

Quinta-feira, 17 de Maio de 2012



























A última ilusão da minha vida
Foi sol de pouca dura ao fim da praia
Paixão feita de areia que desmaia
Assim que nos viermos de fugida.

A derradeira ideia de seguida
Vai ser a que merece a nossa laia,
O adeus que é mais desdém com que se raia
De insultos a saudade da partida.

Vaidade das vaidades é vazia
De pétalas de rosa e de carinhos
Mas cheia de suspiros e de espinhos

Certezas como anseios pequeninos
São feitas com o odor da maresia
E o amor: sonho que rima em poesia.

Marina Grande 2 de Junho de 2022


























Um mandamento que respeito pouco
É o sexto mais amado do diabo
Cabrão, peludo e com fogo no rabo
Que ora me leva ao céu ou me põe louco.

De pecar tanto assim vou condenado
A cantar fado até ficar tão rouco
Quanto começa o mundo a ficar mouco
Aos meus ais de fadista mal amado.

Por amor eu daria a própria vida
Pelo teu eu daria a minha alma
Se à força me levasses de vencida.

Mas tudo neste mundo acaba em calma
Na paz do cemitério cresce a palma
Que a ambos nos aclama e nos fustiga.






































Meu amor de Além Douro meu abrigo
Bem beber no meu peito o leite e o mel
Meu amor do Alentejo o teu castigo
Quero tê-lo à noitinha num motel.

Ai Amor de Paris porque entardeces
No «seziéme» aonde moras e arrefeces
Qual migrante de Erasmos, solitário
Aprendiz construtor do teu Calvário.

Ai amor de Paris porque me tardas
Em trazer-me o teu corpo aonde guardas
A minha tentação de suicida.

Teu corpo eu quero ter mais uma vez
Come-lo com paixão e avidez
Morrendo, a seguir, cheio de vida.


























Se o arrependimento nos matasse
Eu não ensombraria a tua vida
Por ter minhas entranhas em ferida,
Ai de mim se eu a ti não me entregasse!

Ai de mim se não tivesse a recaída
De padecer de ti como gostasse
Porque breve era a dor que me esgotasse
De te ter dentro de mim sem ter saída.

Lamento por não ter ido contigo
Assim que não ligaste ao que eu te digo
Pedindo-me que eu fosse tudo em ti.

Amando-te só sendo teu amigo
Fez com que eu me ficasse por aqui
Penando, pois só eu não te esqueci.


























Desejo vagamente ser feliz
Como já fui outrora sem saber
Agora que o não sou volto a querer
Ser outra vez aquilo que não quis.

As voltas que o destino traça a giz
São gargalhadas soltas sem querer;
Amargos encontrões do mal-dizer
Castigos por aquilo que me fiz!

Mas se eu pudesse ainda lá voltar
Aos desatinos em que já te amei
De novo voltaria a despertar

Do pesadelo ingrato que encontrei
Quando perdi vontade de te amar
E morto de paixão enfim fiquei.


























Já não quero saber onde tu andes;
Quem beijas, com quem dormes não me importa.
Quem rasteje qual verme à tua porta
Carvalho é com bugalhos sem dar glandes.

Já não sou mais o escravo em que tu mandes
Tuas juras de amor são letra morta
Numa história marítima sem rota
Em livros de ilusão com letras grandes.

Quando dei fé por ti foi quando errei;
Maior asneira fiz, quando te amei
E me perdi contigo na má sorte.

Mas o que mais lamento é ter perdido
Meu tempo num amor tão desunido
De que só restará ódio de morte.

MG. 09/07/2022
























Ai se eu sonhasse o mal que me fizeste
Quando te amei desde o princípio ao fim
Como jamais alguém te amou assim
Nem voltarei amar por outros dias.

Teria nem olhado mal me vias
Por mais que tu quisesses mais de mim
Teria te deixado mal me vim
E tu ficado ali de mãos vazias.

Como quem ganha a cara, perde o cu
E o deus do amor jamais seria tu
Fiquei-me num amor de perdição.

Onde ressaco ainda da paixão
Sentindo que jamais serei liberto
De ter de andar sozinho no deserto.

MG 10/07/2022


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