EOS & MEMNÃO
Figura 1: Eos & Memnão.[1] Eos, qual Pietá, segura o corpo morto do filho Memnão. Assinado por Douris (pintor) e Calliadès (ceramista). Museu do Louvre. Restauro cibernético do autor.
Coupe attique à figures rouges Vers 490-480 avant J.-C. La scène, habilement adaptée au format circulaire, nous montre Eos (l'Aurore) recueillant au matin le corps de son fils Memnon , tué par Achille devant Troie. Le visage juvénile de la déesse, son attitude retenue, comme le corps rigide et sanglant de Memnon, suffisent à créer l'émotion.
Eos, que, além de deusa da Aurora, era também Sr.ª das erecções matinais, parece ter sido uma figura mítica de sentimentos particularmente violentos tanto na vida como na morte, mas esta relação duma deusa arcaica e ancestral com a história de Tróia já era à época, seguramente, um anacronismo alegórico, tipo filme de Holywood de má qualidade. No entanto, o resultado iconográfico da taça ática do Museu do Luvre é seguramente uma das mais expressivas criações do génio grego e um dos mais belos protótipos da Deusa Mãe chorando a morte do filho, tema muito arcaico que iria ressurgir na iconografia cristã como Pieta.
Ver: EOS (***) & AS DEUSAS DA AURORA (***)
Sabemos, no entanto, que o mito de Memnão perseguiu os gregos até à entrada de Alexandre no Egipto porque estes vieram a ter a ilusão da sua presença nas estátuas gigantescas de Amenhotep III.
An Ancient Tourist Business: The 18 meter high statues of Memnon are the only things left of Pharaoh Amenhotep III:s temple. Originally they stood on each side of the temple gate. The Colossi of Memnon were a tourist attraction as early as 2000 years ago, during the Greek and Roman era. The Greeks believed the statues represented Memnon, an Ethiopian king, who was killed by Achilles during the Trojan War. The statues "sang" at sunrise. This mysterious phenomenon made the Greek tourists believe it was a miracle. They were convinced that Memnon sang for his beloved mother Eos, who on her part wept for her fallen son. But the sound originated from the quick change of temperature when the sun heated the cold, cracked stone. The statues had been damaged in an earthquake in 30 BC. The Roman Emperor Septimus Severus must have been a busybody since he mended the statues 200 hundred years later. Memnon never sang after that treatment. I wonder if the tourist business in those days ever recovered from that loss. -- Copyright © 1996-2000, Mats O Arvendal, Revised November 12, 1998.
Figura 2: Colossos de Memnão.
Assim, parece que o mito turístico de Memnão foi sujeito a um restauro anacronizante em versão moderna, relacionada já não com «lágrimas de sangue» duma deusa das Angústias, como parece ter sido Eos, mas com misteriosos «gemidos de dor», seguramente variantes subconscientes de arcaicos mitos de «morte e ressurreição» sempre revisitados durante a nostálgica beleza das purpúreas cores do pôr-do-sol que acompanham o definhar do dia! A oposição Aurora / Vespera corresponde ao mito astrológico mais primário e primitivo da humanidade representado na crença cosmológica de que a deusa Mãe Noite paria quotidianamente o seu filho pela Aurora para o devorar na hora das vésperas!
Unlike most of the marvels of ancient mythology, there still exist some memorials of this. On the banks of the river Nile, in Egypt, are two colossal statues, one of which is said to be the statue of Memnon. Ancient writers record that when the first rays of the rising sun fall upon this statue a sound is heard to issue from it, which they compare to the snapping of a harp-string. There is some doubt about the identification of the existing statue with the one described by the ancients, and the mysterious sounds are still more doubtful. Yet there are not wanting some modern testimonies to their being still audible. It has been suggested that sounds produced by confined air making its escape from crevices or caverns in the rocks may have given some ground for the story. Sir Gardner Wilkinson, a late traveller, of the highest authority, examined the statue itself, and discovered that it was hollow, and that "in the lap of the statue is a stone, which on being struck emits a metallic sound, that might still be made use of to deceive a visitor who was predisposed to believe its powers."
Mem-non < Mama-| Naun < Nanu, literalmente, o «bonequinho» da mamã, enquanto «filho da mamã» Inana a mais arcaica deusa lunar < Nin-Anu, lit. Senhor do céu ou variante de nome de Nana, o deus sumério da lua < ou forma gaga de Mne-mon = *Ma-Ana-Ma-Anu > Min-Amon, que era indubitavelmente um dos epítetos de Montu enquanto variante de Min e Amom.
Esta redundância, *Ma-Ana-Ma-Anu, de formas do mesmo deus parece pouco compreensível por subentender uma espécie de informação subliminar, «Min(os) é Amon», que pretenderia desfazer as dúvidas a respeito da identidade de Amon.
Ver: MONTU (***) & HERA /MNEMOSINE (***)
No entanto, o mais provável é estarmos perante uma invocação de um dos nomes da Deusa Mãe, uma das esposas de Zeus, Mnemosine, que então seria também Eos e mãe de Memnon ó Mnemon, quiçá uma forma de encarar os montes gémeos da aurora, os poderosos deuses «guardiães da fertilidade garantida pelas imperiosas erecções matinais > Grec. Mnemon, «memória» de todas as leis trágicas do destino (Sumer. mes) de que Ea/Enki, filho e esposo de Eos, seria o divino depositário?
In Egyptian Thebes, on crossing the Nile to the so called Pipes, I saw a statue, still sitting, which gave out a sound. The many call it Memnon, who they say from Aethiopia overran Egypt and as far as Susa. The Thebans, however, say that it is a statue, not of Memnon, but of a native named Phamenoph, and I have heard some say that it is Sesostris. This statue was broken in two by Cambyses, and at the present day from head to middle it is thrown down; but the rest is seated, and every day at the rising of the sun it makes a noise, and the sound one could best liken to that of a harp or lyre when a string has been broken. -- Pausanias, Description of Greece, 1.42.1.
Assim, é bem possível que o mito não tivesse sido inteiramente inventado pelos gregos porque estas estátuas colossais seriam simultaneamente a figura homenageosa de Amenhotep III (que Pausânias confundiu com o nome, quiçá inventado, Phamenoph) e, por serem duplos, os equivalentes das quiméricas esfinges supostas guardiãs das portas da aurora e por isso variantes míticas de Horus Hermaquis!
Assim, duma confusa mistura entre mitos da aurora e o nome de Amenho-(tep) (» Mnemon) teria surgido o caldo de analogias místicas suficientes para que os herdeiros de Alexandre viessem a refundar o mito de Memnão, agora já não apenas como príncipe de Tróia mas também como rei da Etiópia, o mítico pais do sol nascente! Ainda que seja impossível saber com rigor quais as tragédias humanas que realmente estiveram subjacentes no mito de Memnão, a verdade é que a Aurora enquanto tal (e sobretudo enquanto «deusa da manhã») é uma entidades intemporal! Quanto muito, aparece aqui como actualização dramática dum antiquíssimo mito de «morte e ressurreição» em que a Deusa Mãe se revela N.ª Sr.ª das Dores, pela natureza lunar do cataménio, pelos partos da aurora, pela ansiedade sangrenta do sol-posto, e pelos repetitivos «sacrifícios humanos» de seus filhos e maridos, por ela mesma condenados à humana condição de «guerreiros para a morte», que é como quem diria hoje, carne para canhão!
De facto, a expressiva figura 3 reporta-nos para a recorrência da tragédia do «filho morto nos braços de sua mãe». E, estando nós diante da memória mítica de todos os heróis mortos em nome de Deus Sabaoth, vem-nos à lembrança o «stabat Mater Dolorosa justa cruxem lacrimosa»!
N.ª Sr.ª DAS DORES
Figura 3: Mater Dolorosa de Giovanni Bellini ou Eos e Memnão, de rosto macerado e masculinizado (seguramente porque o modelo seria um homem, como soía acontecer nas representações teatrais dos mistérios?) pela dores do tempo, com o filho morto no colo.
«Dor» < Lat. Dolor, ris < Hitit. Tella-uris < Thaulor < Hauror > Aurora!
Da «dor» física nasceu a «doença».
«Doença».< dooentia < Dolêntia, a deusa do «dolo» <= | Thaul < *Tala- < Taura < *Kur-Enki-ka.
Sendo assim, *Tala, foi uma variante cretense de Tellus e mãe de Talos, um mito que muito teria a ver com os cultos solares da aurora e da morte e ressurreição solar.
Ver: TALOS (***) & Ver CANIBAL (***) E TLALOC (***)
A Virgem N.ª Sr.ª das Dores preside nas cores do sol-posto ao enterro do Seu filho muito amado e N.º Sr. Jesus Cristo, o Deus que se fez carne no pão e no vinho de Dionísio para morrer por nós esmagado como as espigas de Osíris e ressuscitar ao 3º dia, qual Adónis e Tamuz, para penhor da vida eterna da humanidade.
Mais interessante seria pensar nestes cultos da aurora dolorosa da Virgem das Dores de Parto e de parida ritual ou da virgem dos toureiros de Macarena como reminiscências relacionados com arcaicos mistérios de iniciação guerreira com ritos de morte e renascimento com ritos de auto-sacrifício como exercícios de coragem à mistura com sacrifícios humanos voluntários ou acidentais.
De facto, a mais expressiva de todas as N.ª Sr.ª da Piedade Ibéricas é a Virgem Macarena.
La St.ma Virgen de los Dolores, conocida por la Dolorosa del Cristo del Amor se situa a los pies de la Cruz, sentada sobre una roca con actitud implorante.
Ver: ACTEON (***) & MACARENA (***)
La Macarena. «del Cristo del Amor»
Padroeira da: Real, Ilustre y Fervorosa Hermandad y Cofradía de Nazarenos de Nuestra Señora del Santo Rosario, Nuestro Padre Jesús de la Sentencia (Figura:6) y María Santísima de la Esperanza Macarena (Figura:7). |
VIRGEN DE LOS DOLORES
Figura 6: "Una Virgen de los Dolores. El rostro de la Virgen y sus manos juntas expresan angustia y el color morado de su vestimenta significa penitencia. La Dolorosa es una imagen de vestir; es decir, sólo el busto y las manos están esculpidos y terminados. Lo demás es un armazón que se viste con ropa de tela."[2] Esta tradição deriva seguramente de outra muito mais arcaica relacionada com os Herma dos gregos. Claro que o termo Rocío ou Rossio terá a ver com tanto com a cor rosa da «aurora», tal como a bela cor «púrpura» (Lat. Purphura < *Kurkura)[3] da Aurora a que os gregos chamavam Rhodo-daktulos, «a dos róseos dedos»! A mesma cor «púrpura» das dores do poente e a cor «carmim» e o cheiro amortalhado do sangue azul de toureiros feridos de morte. |
«¡Ay, dolor, dolor, dolor, por mi Hijo y mi Señor!»
Figura 7. selo sumério com Enki saindo das portas dos infernos, guardadas pelos dois leões Akeru, vestido de roxo como filho da Aurora
Ora, é então que se nos levanta a questão das arcaicas relações da Andaluzia com a velha civilização minóica dos cultos de fertilidade taurina. De qualquer modo, o grito da Virgem das Dores é o grito da grande paixão que a Virgem Mãe primordial sempre nutriu pelo próprio filho, o Cristo do Amor Eterno, Eros!
Porém, a bela praça do Rossio que dá fama e prestígio à cidade de Lisboa não deve desdenhar a sua relação com a aurora, pois que, por ser virada a sul terá sido sempre ensolarada e um local adequado para arcaicos cultos solares. Estes justificam que uma das toponímias propostas para antepassadas da cidade de Lisboa possa ser Helissipona < *Helish-hipona, literalmente a terra dos cavalos do carro solar, em vez de Ulissipo, uma vez que seria quase impossível que uma cidade geograficamente tão bem situada como Lisboa, com um dos melhores portos naturais do mundo, não existisse já nos tempos da talassocrassia cretense, muito tempo antes da guerra de Tróia![4]
VIRGEM DAS ANGUSTIAS
Figura 8: A belíssima e expressiva N.ª Sr.ª das Angustia de Granada. Milénios depois e o crescente lunar continua a ser o símbolo da deusa mãe primordial e os “emes” entrelaçados, o símbolo mais arcaico da cópula das cobras que foram o primeiro par da criação! Porém o mais expressivo é o facto de toda a postura transcendente e intemporal desta Pieta fazer lembrar tanto Eos & Mnemom como a da deusa mãe Kali. Angustia < Angus Tea ó Agnus Deia.
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Angus Deia teria também sido a deusa da “angina pectoris”.
«Angina» <?> Grec. ankhon < Anshauna < An-Gina < En-Kina[5], a esposa e mãe e divina depositária das «escaras» do filho de Enki, morto no decesso de Innana.
Ver: ANGUS (***)
ROSARIO DE LOS 7 DOLORES:
Primer Dolor - La profecía de Simeón (cf. Lucas 2,22-35)
Segundo Dolor - La huida a Egipto (Mateo 2,13-15)
Tercer Dolor - El Niño perdido en el Templo (Lucas 2,41 -50)
Cuarto Dolor - María se encuentra con Jesús camino al Calvario (IV Estación del Vía Crucis)
Quinto Dolor - Jesús muere en la Cruz (Juan 19,17-39)
Sexto Dolor - María recibe el Cuerpo de Jesús al ser bajado de la Cruz (Marcos 15, 42-46)
Séptimo Dolor -Jesús es colocado en el Sepulcro (Juan 19, 38-42)
El gozo y la esperanza, la tristeza y la angustia de los hombres de nuestro tiempo, especialmente de los pobres y de todos los afligidos", sean "también gozo y esperanza, tristeza y angustia de los discípulos de Cristo" (Gaudium et spes, 1)
GOZO, ANGUSTIA Y ESPERANZA (Ana Pérez Naranjo) parecem ser as três etapas da vida sentimental da mulher!
Na liturgia católica espanhola a Virgem da Esperança de Macarena aparece associada na semana santa à “virgem de Los Dolores” Virgen de la Amargura, VIRGEN DE LA SOLEDAD, VIRGEN DE LA CARIDAD, à Virgem de la Misericórdia
María Santísima de la Amargura, transida de dolor, se encamina al encuentro con Jesús. En aquellos trágicos momentos, la Madre angustiada, sobrecogida, temblorosa, es reconfortada por el Discípulo amado. Ambos, en perfecta e inigualable conjunción de sentimientos y actitudes, constituyen uno de los grupos escultóricos más logrados de la estatuaria barroca sevillana.
Amaurki-ura > Amargura.
SPES E Nª. S.ª ESPERANÇA.
Macarena é epíteto duma N. S.ª da Esperança (< Esperanza, em espanhol) que dificilmente derivaria etimologicamente da deusa latina alegórica Spes.
«Esperança» = • s. f. acto de | esperar < *Sper-entia < Lat. Sperare.
Obviamente que o equivalente latino literário da esperança latina foi a que teve o nome da deusa Spes.
Figura 9: Spes = The personified Roman goddess of hope. She had a sanctuary on the vegetable market. Spes is portrayed as a young woman holding a cornucopia and a flower. Na figura do lado falta a cornucópia mas ficamos a saber que, afinal, a deusa transporta na mão direita um ramo de verdura, quiçá uma alface, símbolo de Min, o deus egípcio da fertilidade, facto que poderia ter feito desta deusa uma «alfacinha». Assim é suspeito que o nome da Sr.ª da Esperança seja bem mais arcaico que o termo latino de que se suspeita derivar tardiamente. |
Na verdade, o Lewis & Short Latin Dictionary garante que termo lat. spes, ei não tem uma origem etimológica segura arriscando-se a tropeçar nas malhas das raízes da etimologia convencional de tradição clássica e racionalista ao afirmar o seguinte:
"spes, spêi (...), f. [perh. root spa-, to draw out; Gr. spaô; cf.: prosper, spondeo; v. spatium]."
Ora, mais adiante dá-se conta que:
"Spes, is a Roman divinity who had several temples in Rome.[6]"
Sendo assim, Spes não era uma alegoria tardia mas uma deusa popular e arcaica pelo que haveria que entender a semântica da “verde esperança” procurando saber qual teria sido a liturgia desta deusa! De facto, se fosse uma alegoria criada tardiamente muito possivelmente ela teria sido criada a partir do verbo sperare e, então, mais depressa teria sido chamada *Sper-entia do que a deusa do obtuso nome, Spes.
Ora, o «verde é esperança» por ser a cor dos vegetais de que Spes foi deusa da respectiva fertilidade e fartura![7] Aliás, a sua iconografia clássica deixa a impressão de uma virgem casadoira ou de uma jovem em «estado de esperanças», ou seja, grávida! Sendo assim, é quase segura que Spes era uma filha de Enki e uma deusa da boa e bela fruta, como Inanana variante Ninana.
Ver: NINANA, (A DEUSA DO KHULUPPU E DA BOA FRUTA.) (***)
Se a N. S.ª Esperança veio substituir a Spes latina então esta deusa seria uma variante das deusas florais da primavera e da luxúria pelos bens de fartura e fertilidade agrícola que delas se esperava. Porém, na iconografia cristã a Esperança teria já tanto de angelical quanto quase nada da fartura luxuriante da deusa homónima romana, ficando-se apenas pela atitude das mãos erguidas próprias de pedintes que mais depressa desesperam das migalhas deste mundo do que deixam de acreditar que «quem espera sempre alcança» as benesses impossíveis que não caiem do céu aos trambolhões!
Figura 10: Spes. Cappella degli Scrovegni -- Allegorie delle Virtù e dei Vizi. O estranho desta representação renascentista é verificar-se que o anjo da esperança cristã se tornou muito mais ambicioso no plano da abundância económica, que antes era apanágio das deusas da cornucópia, a que Spes pertencia. Esperança = • a 2.ª das virtudes teologais; • o que se espera; • expectativa;• • suposição; • probabilidade. A Esperança cristã já não espera alcançar um mero ramo de verdura primaveril mas antes eleva ambas as mão numa ambição desmedida de alcançar na terra a coroa real do «reino dos céu», o que demonstra o quanto o cristianismo se transformou numa ideologia da monarquia medieval europeia. De facto, a esperança cristã mistura a fé no impossível com a suposição para alcançar o provável! |
E as «falsas esperanças» podem ser tantas que pode transforma-se no defeito da «inveja».
«Inveja» < Lat. invidia < Enwi-| < Enki | -Thia < Kiki.
O sufixo -entia já contem em si a semântica da «ânsia(-dade)» implícita em todos os estados de «esperança», pelo menos no plano da experiência expectante, pelo que o nome peninsular desta abstracção se parece com uma redundância.
Todos os termos portugueses terminados em «–ância, -ência, -ansa, -ensa» derivam todos do radical latino –entia definem mais actos potenciais do que acções efectivas, ou seja, qualidades abstractas que os antigos só conseguiam imaginar como sendo divindades. No entanto, a menos que se postule a existência duma forma popular de baixo latim *Spe®entia <= Lat. sper(are) + Enki(a), a Esperança não deriva da deusa romana Spes, que deu origem à 2ª virtude teologal, mas de uma entidade mítica homóloga que teria na Ibéria a forma *Ish-pher-enkia ó *Ishtarenki!
De facto Ishtar, a filha querida de seu pai Enki, ou seja, Hesperia, uma das Hespérides que de facto a tradição clássica coloca nas terras do sol-posto!
Hesperis: "evening," personified as a Greek goddess, wife of Atals and mother of the Hesperides.
Hesperides: the "daughters of Evening," the goddesses who guarded the golden apples given by Gaia to Hera at her marriage to Zeus. They live at the western extreme of the Mediterranean, near Mt. Atlas, hence they are sometimes considered the daughters of Atlas. Their names are Aegle, Arethusa, Erytheia and Hesperia.
Hesperia: A garden, situated at the western end of the earth, in which golden apples grow.
Kar-Ki > Alphi-ish > Elpis > Spes.
Esper- < Hesper(ia) < Ki-Ash-pher, lit. “a que transporta a filha da terra!”
> «Esfera» < Ish-pher < Ish-Kur ó Istar.
Ver: GRIFOS (***)
E é assim que o ciclo mítico se fecha uma vez que descobrimos que a tradição da deusa que desceu ao inferno das dores supremas por causa da morte solesticial do esposo ou do filho amado fazem parte da tradição multissecular dos ritos primaveris de fertilidade agrícola iniciados precisamente com ao mito lunar de Inana / Istar.
Então, a deusa ibérica da Esperança teria assim um nome compósito a partir de Espher- , variante fonética de Ishtar, que, quando prenhe de esperanças de vida era esférica como a Sr.ª do «O», e de *Enkika que seria um genérico como potinija.
JUVENTAS
No entanto, como mostra a moeda de ouro seguinte Spes era a «princesa da juventude» logo, uma variante da filha de Juno, a deusa Juventas.
Então seria muito provável que Spes tivesse tido uma evolução algo parecida com a de Ops.
Ops < Ophis (> opus) < *Auphis < Kaukis => Ish-phis > Spes < Cald. Ishat ou mesmo talvez uma variante da Fenix, e, por isso, ainda angelical na alegorias cristãs.
Porém, o mais provável é que Spes seja uma forma elíptica de Sp(er)es < Ish-phur-ish, literalmente ninfas de Ishtar, possivelmente a personificação da sua corte de estrelas, as Hespérides, e, por tanto, deidades da esfera floral de Vénus/Afrodite, afinal variantes de Juventas.
Figura 11: Spes como "Princesa da Juventude". Nesta sequência de relações se verifica então que Spes pode ter sido, enquanto Juventas, irmã e esposa de Marte, uma deusa afinal mais ambiciosa do que aqui parece pois que esteve relacionada com as virtudes militares que levavam às honrarias, aos troféus de caça e aos despojos de guerra. Assim a representação renascentista apelava mais para a faceta da deusa da juventude do que para a da Esperança. |
Ver: HEBE (***)
Pois bem, esta deusa era de facto Vénus, a «estrela da manhã», deusa do amor e da juventude presente no «repouso do guerreiro» que era Marte, seu irmão e amante, gloriosa e triunfal Deusa Mãe das dores de parto da Aurora, Sr.ª e das dores da menarca e da desfloração era também a deusa das dolorosas partidas e, das ainda mais dolorosas e inesperadas chegadas aos a antros da morte, dos guerreiros que em seu nome lutavam.
Ora, a 6ª Feira (Viernes) Santa sevilhana também se chama a «madrugada» (<Mater-kau-ata < Mater-Ki-Uto) ou seja, manifesta a reminiscência do nome das dores de parto das deusas da Alvorada (< *Karkur).
De qualquer modo e, ainda que assim não fora, sabemos que a 6ª feira foi dia de Vénus! Aceitando que os dias da semana honravam os deuses principais e que este correspondiam às realidades astrólogas fundamentais temos que admitir que se o primeiro e segundo dia eram reservados aos deuses supremos, que eram o sol e a lua, o 6º dia seria reservado à ao planeta Vénus enquanto estrela da manhã! Assim, razão têm os sevilhanos para celebrarem a sexta-feira santa como o dia de todas a s madrugadas!
Matuta The Roman goddess of the dawn. Later she was known as Mater Matuta, the patroness of newborn babes, but also of the sea and harbors. Her temple was situated on the Forum Boarium (the cattle market). Every June 11, the Matralia was celebrated here. This festival was only open to women who were still in their first marriage. She was associated with Aurora and identified with the Greek Eos.
Portanto, pelo menos em Roma ainda era sabido que a deusa Matutina era a Deusa Mãe precisamente por ser a mãe do Sol. Matuta < Ma-Ki-Uto, a Terra Mãe do Sol! Porém, uma das coisas ainda mais estranhas sob o ponto de vista linguístico é que o nome da 6ª feira seja Pyatnitsa em russo, Petak em servo-croata e Pia, Tek em polaco e Péntek em Húngaro. Sobretudo em russo:
Pyatnitsa < Phiat-Anisha < *Phiatanisca, literalmente Pitonisa do fogo do céu de *Phiat < *Kiash-Anish!
Estes factos levantam a suspeita de que a língua russa deriva muito estreitamente das fontes da proto linguagem peri-mediterrânica e cretense e sumério-caspiana! O nome polaco Pia, Tek levanta um pouco o véu à origem das Piatás e da Sr.ª da Piedade de tal modo que:
«Piedade» < Lat. Pietas < Pia + Tek < Petak < Péntek < Ki-An-Kiki, a deusa mãe do céu, aurora de Kiki = «o duplo monte de terra»!
Por sua vez,
Péntek => Phen < Wen + ush > Venus, «filha de Wen»!
VIRGEM DO ROCIO
A Mater Matuta era a Majestosa deusa Maia, das festa da Fauna & Flora da Primavera, Matrona da Esperança Macarena e era também a deusa da brancura da «Alva», a deusa Matutina da purpura Manhã, a Virgem del Rocío.
Primavera (< Phru-ma-Vera < Kar-ma-Keras < Karma & Ceres?),
«Alva» < Arka (> Aca Larencia) < Kahura < Kakura > Kiphura.
Ver: TALOS / RODES (***)
Figura 12: Virgem del Rocío. Ora, nem de propósito se teria imaginado uma Mãe do Deus Menino mais próxima da tradição de Isis, mãe de Horus / Istar, mãe de Shara, filho de Deus do céu, Anu. Com os pés sobre o crescente da serpente lunar a «Virgem del Rocío» é, de facto, a lua matutina ainda cercada de estrela, a aurora radiante e dourada com sol ao colo, acabado de nascer! Un bosque impenetrable de acebuches, sabinas, lentiscos y zarzas. Este atractivo lugar además de ser enclave equidistante a tres provincias: Huelva, Sevilla y Cádiz, es lugar de encrucijada. |
Todos estos ingredientes, según los estudiosos del fenómeno, son la base para explicarnos la transcendencia religiosa social de la romería hoy. El Rocío de hoy nace, pues, del lugar. Más tarde y, lógicamente, con la leyenda de la aparición de la Virgen y la ubicación de la ermita en aquel sitio insólito y misterioso, lugar siempre vinculado a la villa de Almonte, hacen posible que hablar de Rocío sea lo mismo que hablar de Almonte.
«Rocio» (= «orvalho» < Lat. *roraliu < ros, orvalho) < rociar (< Lat. ros-cidare) ou do Lat. *ros-civu.
ó Lux-io > «Luzío».
Rocío < Raush-iho < Urash < *Ur-Kishu => «Roxo»
> Lat. ros.
Obviamente que para ir do «orvalho» ao Lat. *roraliu seriam necessários muitos saltos mortais sobre a fonética. A verdade é que nem sequer é segura a existência de *roraliu que, em rigor, teria que ter sido «rosália»!
Almonte < Arma-Antu < Karma-Antu, A deusa mãe Artemisa responsável pelo nome de todas as Carmens de Sevilha! Mas, Sevilha sempre foi a terra da aurora!
Sevilha < Ki-Willa, lit. «a vila de Ki»? <= *Kiphur-la, a cobra solar alada dos cretenses < Sa-kur-auria, a luz de Sacar /Saturno < *Ki-Kur-Ur > Kur-kur, «a dupla montanha da Aurora»!
Ver: SARPEDON (***) & Ver: TUNIS (***)
PIETAS
Figura 15: Nesta alegoria a «deusa da piedade» latina parece reporta-nos para uma arcaica Deusa Mãe, entronada, telúrica e poderosa como Cibele mas maternais e protectora como Isis, ou Afrodite. | Figura 16: Nesta alegoria a deusa da «Piedade de Augusto» seria sobretudo uma metáfora dos cuidados maternais inspiradores da compaixão pelos órfãos e da caridade pelas crianças pobres e abandonadas. | Figura 17: Nesta metáfora a raiz mítica original da fecundidade da Terra Mãe parece ter-se perdido e ficado reduzida à mais recente semântica da piedade enquanto devoção ritual inspirado no respeito pelas leis divinas. |
"Originally the word piety was used to designate the honor and respect one showed to members of one's family, children to parents, children and parents to grandparents, and everyone to one's ancestors. But the term came to be used in a wider sense, designating loyalty and obedience to the customs and traditions of Rome, to inherited laws, to those who lived in previous generations- in short to the "fatherland." As time went on, the term acquired a more specifically religious sense, meaning reverence and devotion to the gods and to the ritual or cultic acts by which the gods were honored, as for example the offering of sacrifices. But the older sense of the word was never lost. Piety embraced both the sense of reverence for the traditions of the family and the city and the more specifically cultic sense." -- The Christians as the Romans Saw Them Robert L. Wilken Yale University Press, New Haven and London, 1984
É obvio que a função social destas alegorias da «deusa da Piedade» em moedas romanas nos obriga a repensar a função política da religiosidade. Afinal a crueldade dos homens de poder impiedoso resultava do facto de que a falta de temor pelos deuses levava ao desrespeito das leis religiosas que mais não eram do que formas de ética inspiradoras humanidade então na forma de caridade e compaixão nas quais se viria a alicerçar o culto cristão da N.ª Sr. ª da Piedade.
Ora, se bem que longe da tradição de maternidade telúrica das moedas anteriores, a variante ritualista e virginal da Pietas da última moeda correspondia, quase seguramente, a uma evolução sublimada do culto das vestais enquanto deusas do fogo da pureza. Ora, as deusas da aurora eram simultaneamente tudo isto!
Figura 18: Pietá de Miguelângelo do Vaticano. A semelhança com a postura de Eos e Memnon é espantosa! Figura 19: Deposição do corpo de Cristo da cruz de Miguelângelo Museo del Opera del Duomo, Florence. Neste caso é Nicodemos que mais se parece com Hermes segurando o corpo de Sarpedon ladeado por duas mulheres que bem poderiam ser os anjos de Eufrónios. |
Pela positiva do lado dos vencedores teríamos Atena, a deusa das tácticas e das estratégias milicianas, sendo Nikê nos dias luminosos da vitória enquanto que em contraste pelo lado negro das guerras perdidas teríamos que Anat, além de deusa da morte foi também Nix, deusa noite do luto dos vencidos! Claro que os pressupostos de que o pensamento mágico dos primitivos funcionava magistralmente com esta lógica de contrastes e associações antinomias intuitivas e obvias não carece de demonstração por ser um dos princípios fundadores da mitologia racional.
A verdade é que nestes cultos funéreos a saudade dos filhos perdidos nas guerras eternas das sociedades heróicas deve ter acabado por se sobrepor a ritos mais grosseiros e primitivos de morte e ressurreição acabado em tão belas quanto trágicas manifestações colectivas de dor e paixão como as do «Senhor Morto» nos braços da «Sr.ª da Piedade».
Figura 20: Pietá & «Deposição da cruz» do Corpo de Deus.
O «Memento homo quia pulvis est et in pulvere reverteris» da liturgia da 4ª feira de cinzas não faz mais do que confirmar este saber universal de que somos o pó da terra que nos dá vida e alimente a que regressamos com a evidência da decomposição cadavérica que o homem primitivo deve ter evidenciado de forma dramática porque muito precocemente na história da humanidade surgiram os cultos dos mortos como primeiras formas de cultura e religiosidade! Esta convivência precocemente traumática da humanidade com a brutalidade das «leis naturais da luta pela sobrevivência» deve ter sido uma das principais razões da ambiguidade dos cultos dedicados à Deusa Mãe Terra!
Figura 21: Vesta, a Imaculada Virgem Mãe. Vesta = was a deity presiding over the public and private hearth. On of the most popular and mysterious goddesses of the Roman pantheon. E era sobretudo a virginal Veta, a deusa da pureza do fogo doméstico. Pieta(s) < Phieta < *Ki-ast > Wiast > Vesta > Hesta. > Bast. |
Esta Virgem Negra dos infernos de Ereshkigal era a mesma Antu, a mãe do céu, do branco e claro olhar como Inana, a Senhora do céu! A sua relação com as dores e sangramento do parto e com a aurora ficou marcada no nome da deusa latina Mena, a deusa das dores da menarca e dos sangramentos mensais da mulher.
Ver: MANA (***) & PERSEFONA (***)
[1] Restauro cibernético do autor.
[2] comentários ao retablo da "Virgem de los dolores" numa página da InterNet.
[3] ...e do enxofre (< lat. sulfur < *kurkur) já por via erudita e à posteriori baseada na relação do enxofre com as sulfataras vulcânicas e destas com o fogo dos infernos.
[4] A este propósito ver o capítulo LYCIAN APOLLO.
[5] «Quina», enquanto abreviatura de «esquina» (< Ishkina), é, nos símbolos de Portugal, o espaço das chagas ou «escaras» de Cristo morto. Obviamente que o símbolo das quinas pode ser muito mais arcaico nas terras lusitanas. Os marginais, por vezes, perpetuam códigos secretos que podem perder-se nas noites do tempo! A verdade é que as 5 quinas na tabaqueira anatómica é frequente em antigos prisioneiros portugueses sem que nenhum deles saiba o seu verdadeiro significado. A sua relação com arcaicos ritos iniciáticos de morte e ressurreição solar nestas terras ocidentais de sofrido «sentimento» (ó Egipt. Kentiamentu?) de saudade onde o sol, esfolado pelas lutas do dia, era posto atrás de grades do mar e enterrado quotidianamente pela Deusa Mãe, é inevitável.
[6] (...) Plaut. Bacch. 4.8.52; id. Ps. 2.4.19; id. Cist. 4.1.18; Cic. Leg. 2, 11, 28; id. N. D. 2, 23, 61; 3, 18, 47; Liv. 2.51.2; 25.7.6; 40.51.6; Tac. A. 2, 49; Plin. 2, 7, 5, § 14; Tib. 1, 1, 9 (19); Ov. A. A. 1, 445; Aus. Idyll. 12, 9; cf. Hartung, Relig. d. Röm. 2, p. 264.-- Lewis & Short Latin Dictionary.
[7] Recordo-me que, na minha infância, existia na minha aldeia natal uma romaria à N. S.ª da Esperança da aldeia vizinha de Murça, (Ver: MORFO) que era realizada por velhos caminhos ladeados de dedaleiras, giestas brancas e amarelas (maias) floridas, ou seja, no início da primavera.