Figura 1: Belo vaso do grande pintor Eufrónio reproduzindo uma luta livre de Hércule & o gigante Antaios.
Ver: GILGAMESH (***)
O ciclo épico de Hércules começa em Gilgamesh.
Hercules (mythology), (...) was the son of the god Zeus and Alcmene, wife of the Theban general Amphitryon. Hera, the jealous wife of Zeus, was determined to kill her unfaithful husband's offspring, and shortly after Hercules' birth she sent two great serpents to destroy him. Hercules, although still a baby, strangled the snakes. As a young man Hercules killed a lion with his bare hands. (...). As a reward, he was given the hand of the Theban princess Megara, by whom he had three children. Hera, still relentless in her hatred of Hercules, sent a fit of madness upon him during which he killed his wife and children. In horror and remorse at his deed Hercules would have slain himself, but he was told by the oracle at Delphi that he should purge himself by becoming the servant of his cousin Eurystheus, king of Mycenae. Eurystheus, urged on by Hera, devised as a penance 12 difficult tasks, the “Labours of Hercules”. (...) After death he was brought by the gods to Olympus and married to Hebe, goddess of youth.[1]
Tendo-se ficado a saber por Pausânias que Hércules era um dos deuses ancestrais dos Dórios começamos a ficar com a suspeita reforçada de que de que Hércules era mesmo um mito de caserna espartana.
Ora, tal como Heródoto o atesta[2], na Grécia Hércules não era um deus olímpico pois que, o deus da guerra era Ares e o do sol era Apolo.
Ares < Hares < Kar(ish) ó Ishkur > Kaures > Erra.
No entanto, a expressão “Her kaures”, própria do deus dos exércitos, ficou no ouvido do povo ligada a um circulo dramático autónomo que deve ter acabado por se confundir com a história do Hércules histórico ao ponto de se ter tornado numa só tornando necessário divinizar a personagem verdadeira que assim se tornou num semi-deus!
VIII. Such were the words of Euphaes. When the leaders on either side gave the signal, the Messenians charged the Lacedaemonians recklessly like men eager for death in their wrath, each one of them eager to be the first to join battle. The Lacedaemonians also advanced to meet them eagerly, but were careful not to break their ranks. When they were about to come to close quarters, they threatened one another by brandishing their arms and with fierce looks, and fell to recriminations, these calling the Messenians already their slaves, no freer than the Helots; the others answering that they were impious in their undertaking, who for the sake of gain attacked their kinsmen and outraged all the ancestral gods of the Dorians, and Heracles above all. And now with their taunts they come to deeds, mass thrusting against mass, especially on the Lacedaemonian side, and man attacking man. -- Pausanias, Description of Greece.
Kaures > koures > Kores, “é em suma, o koureta divino e campeão de Hera, a esposa do deus supremo e deusa dos seus exércitos, também,” o que torna Hércules num divino koureta, príncipe e senhor da guerra, ou pelo menos dos exércitos dos Dórios dos tempos míticos! A este respeito o mito não foi parco em sugestões militaristas.
Figura 2: Herakles e as cobras. Hércules sob o olhar atento de «deus pai», domina as cobras da iniciação sexual, viril e militar.
O marido da mãe de Hércules era um general que faria de tal modo jus ao nome Anfitrião incentivando a esposa a receber tão bem que um dos seus hóspedes a terá engravidado com a ajuda piedosa de Zeus, «deus pai» de todos os filhos da Potinija! Ora, é sabido que os filhos bastardos foram sempre aguerridos ou revoltados como psíquica e socialmente se entende. Claro que estamos no domínio da virtualidade pura!
Hércules era ele próprio um brigão que nasceu a estrangular cobras, cresceu a matar leões e ganhou o primeiro trunfo contra a tribo que oprimia e explorava Tebas.
A glória deve ter-lhe subido à cabeça pois, que acabou por matar a mulher e o filho, ou feito sacrifício humano do seu primogénito, o que seria costume nesses tempos primitivos, em retribuição ao deus dos exércitos quando sentiu as primeiras derrotas, em consequência da «forte dependência da glória» que é a droga dos campeões, como o demonstra a antropologia dos «troféus de guerra»!
É evidente que o mito grego de Hércules, não é teológico, como aliás o de Gilgamesh também não ou, pelo menos não o são, tanto quanto adiante se verá, o que era o equivalente egípcio centrado em Hereshaf e/ou em Hórus, o velho.
Ver: HORUS, O HÉRCULES DO EGIPTO (***)
De resto, como diz Heródoto a este respeito ”the Egyptians differ from the Greeks also in paying no divine honours to heroes”. Assim sendo, e porque os heróis mais populares são sempre as figuras sociais mais destacadas do seu tempo e lugar, o circulo de Hércules, tal como a epopeia de Gilgamesh, correspondem ao tipo daqueles mitos épicos com tanto de fundo de verdade histórica quanto de verdade virtual e, romanesca, quanto baste de mistura com outro tanto de maravilhoso e fantástico quanto for necessário para a decoração do contexto lendário de acordo com as convenções retóricas, estéticas e ideológicas de cada época. Do mito à epopeia vai apenas a sorte da epifania dum poeta Homérico adequado. O mito dos argonautas é uma fantasia militar; a Ilíada e a Odisseia é poesia de campanha e dum modo geral a epopeia é literatura militar o que nos reporta para o facto de os tempos heróicos terem sido épocas em que o espírito e a cultura militar foram preponderantes ao ponto de serem de índole militar os nomes dos deuses supremos. Se o sacerdócio foi a primeira diferenciação social de classes que preparou o caminho para o poder de estado, necessariamente militar, então estas foram épocas tipicamente heróicas[3] em que o deus dos exércitos era general ou seja Kaurano.
Pois bem, esta confusão do mito com a história por intermédio de tão indetermináveis quão incoerentes lendas é tipicamente grega. Mas tal não invalida que não tenha havido um fundo de verdade em tudo isto que iria permanecer no orfismo grego, um equivalente do esoterismo clássico.
«Segundo ele (Orfeu). a água estava no começo de todas as coisas depois da água formou-se o barro, e dos dois foi engendrado um ser vivo uma serpente (drakôn) que tinha também uma cabeça de leão e, ao meio um rosto de deus: deram-lhe o nome de Hércules e de Crono.
Este Hércules engendrou um ovo imensamente grande que dotado da força (bias) daquele que o tinha engendrado se rachou em dois sob o efeito da fricção.
A parte superior acabou por vir a ser o Céu, a parte inferior a Terra; Um deus de corpo duplo de lá saiu também. 0 Céu, unido com a Terra engendrou as filhas Cloto, Laquesis, Itropo e depois os filhos chamados Hecatonquiros (Coto, Giges e Briareu) e os Ciclopes, Brontes, Esteropes e Arges [e por fim os Titãs». ([4])
Portanto, Hércules terá sido uma variante do nome de Crono/kaurano que foi também Enki/ Hermes/ Horus Hermachis.
Isto não invalida que não tenham sido possíveis heróis de carne e osso nesses tempos da hegemonia da oralidade. Nem que aos factos reais se não misturassem interferências retóricas resultantes de erudição oral, mal fundamentada e pior referenciada, que, como no caso do «circulo épico de Hércules», iriam até à própria titulação do mito de acordo com a moda mítica em voga. De facto, a cidade de Tebas grega poderia ser uma alusão da homónima egípcia tal como a referência ao facto de “Hera, the jealous wife of Zeus, was determined to kill her unfaithful husband's offspring, and shortly after Hercules' birth she sent two great serpents to destroy him. Hércules, although still a baby, strangled the snakes” continua um recurso retórico semelhante ao do nascimento de Apolo, o que reporta o «circulo épico de Hércules» para um manancial de produção mítica muito anterior ao período micénico, ou seja, para uma época em que os mitos solares seriam referenciados a um antepassado comum tanto a Hércules quanto a Apolo.
Figura 3: Hércules dominando o leão de Nemeia. A nudez, frequente na estética grega, como é do conhecimento geral, só espanta neste episódio dos trabalhos de Hércules por não ser acompanhada da pele sacerdotal de leopardo o que permite especular que teria sido a partir deste primeiro trabalho que Hércules conquistou o direito ao seu uso ritual e simbólico.
TESEU & PERSEU
Muitos outros ciclos de sagas e mitos militares circularam na antiguidade, como terá sido o caso do ciclo épico de Perseu, Teseu, dos Argonautas e mais tarde todo o ciclo épico em torno da «guerra de Tróia».
Estudos comparados podem permitir concluir que todos estes ciclos de gestas militares e sagas épicas partilham tantas façanhas comuns, por vezes em espaços e tempos semelhantes, que quase se poderia concluir sumariamente estarmos perante variantes dos mesmos arcaicos mitos solares de morte e ressurreição reinventados ao longo de uma infinidade de gerações, em milénios de «ritos de passagem», numa miríades de tempos e lugares próximos do mar Egeu.
E todas estas mitologias só passam a ter relações entre si se aceitarmos que Perseu era o mesmo que Teseu e ambos variantes dum arcaico mito solar próprio de ritos de passagem de que Hércules também fazia parte.
No caso particular do ciclo épico dos lendários Teseu & Perseu, estaremos não apenas perante variantes do mesmo mito como sobretudo a apanhar os poetas em flagrante delito de revisionismo histórico, num processo de re-elaboração mítica em que os vencedores micénicos reescreveram e alteram tanto quanto lhes convinha o mito de Atena, de modo a tornar esta deusa não apenas diferente de Ariadne como inteiramente autónoma e antagónica de Medusa, a deusa mãe das cobras dos cretenses, a deusa dos múltiplos nomes e disfarces!
Figura 4: Teseu & Perseu foram heróis micénicos que se movimentaram à sobra de Atena, tal como Hera à sobra de Hércules.
Minerva < Min-Herua, lit. Hera de Minos.
Como Atena teve o nome de Minerva no mundo latino, podemos inferir que todos estes heróis se movimentaram por influência da mesma Virgem Mãe.
E é assim que, tanto quanto a semelhança de nomes das deusas e a origem cretense dos heróis, seja tão interessante nesta história a semelhança de atitudes de Ariadne & Teseu com a de Atena & Perseu.
Se Perseu foi destinado pelos oráculos a matar o avô e acabou matando o Minotauro, Teseu terá igualmente morto o avô ancestral que seria o touro cretense, pais do Minotauro, divino senhor de Creta que seria então o avoengo político dos reis de Atenas, vassalos de Creta.
Ver: TESEU (***) & PERSEU (***)
Foi, aliás, a transformação destes ritos de passagem em mitos de iniciação guerreira que motivou o aparecimento de toda uma rica literatura clássica de epopeias na continuação da tradição caldeia da epopeia de Guigameche.
MELEAGRO
Um dos mitos militares com relações estranhas com o ciclo épico de Hércules terá sido o de Meleagro.
Figura 5: Sarcófago romano com a representação da «morte de Meleagro» enquanto dramática expressão da perda trágica dum chefe de grupo tribal.
1. Oenée, devenu roi de Calydon, fut le premier à recevoir de Dionysos un plant de vigne. Il épousa Althéa, la fille de Thestios, et engendra Toxéos, qu'ensuite il tua de ses propres mains, parce que l'enfant avait osé franchir le fossé qui entourait la cité. Il eut ensuite Tyréos et Clyménos, la fille Gorgé, qui épousa Andræmon, et Déjanire dont certains disent cependant qu'elle est la fille d'Althéa et de Dionysos. Cette jeune fille aimait conduire elle-même le char, et elle s'entraînait dans les activités guerrières; pour l'avoir comme épouse, Héraclès lutta avec le fleuve Achéloos.
2. D'Oenée, Althéa eut aussi Méléagre, dont certains disent toutefois qu'il fut le fils d'Arès. Quand l'enfant eut atteint l'âge de sept ans, les Moires apparurent et déclarèrent que Méléagre mourrait quand le tison qui était dans le foyer serait entièrement consumé. À ces paroles, Althée courut ôter le tison du feu, et le conserva dans un coffre. Ainsi Méléagre grandit, invulnérable de corps et noble d'esprit. – APOLLODORE, Méléagre, le sanglier de Calydon...Ugo Bratelli, 2001, Livre I, 8, 1-3
Como logo se vê este mito de Meliagro começa com os vaticínios fatais das fadas madrinhas das histórias infantis modernas, cruza o mito de Hércules na analogia das suas façanhas bem como sobretudo no episódio da morte do javali da Caledónia equivalente do quarto trabalho de Hércules que era: “trazer-lhe vivo o javali de Erimanto”.
Por obscuras razões políticas que evolveram também a intriga dos oráculos pelo meio e a que a morte da princesa tebana não terá sido estranha, Hércules ficou vassalo do rei micénico seu primo que lhe terá feito a vida tão negra quanto impossível e daí o mito dos doze trabalhos de Hércules. Esta história deveria ser do agrado da soldadesca que a terá fantasiado por corresponder em parte a uma visão simbólica das provações da instrução militar.
A vida e o mito de Hércules e Meleágro teriam que se cruzar nem que fora nos infernos porque possivelmente participariam do mesmo mitema original porque Meléagro, era irmão de Dejanira que foi uma das esposas de Hércules.
Como uno de los trabajos mandados por su primo Euristeo, Heracles había de capturar al can Cerbero, que guardaba las puertas del Hades. Una vez en el lugar, se encontró con el alma de Meleagro, que le aconsejó que tomara como esposa a su hermana Deyanira.
Ver: A MORTE E APOTEOSE DE HÉRCULES (***)
While still young he came to be regarded as second only to Heracles in his abilities. He was the youngest of the Argonauts and according to some killed the Argonauts chief enemy, King Aeetes of Colchis.[5]
Figura 6: Hércules cumpre o trabalho de trazer vivo o javali de Erimanto
Claro que Meleagro matou o javali e possivelmente ofendeu Artemisa enquanto Hércules o caçou vivo. O local da façanha também não coincide mas se tudo fosse igual o plágio teria sido notado pelos próprios contemporâneos destes mitos! O cruzamento com o ciclo dos Argonautas está patente no facto de ser ele mesmo o mais novo destes heróis.
Various versions of the myth appear in Homer's 'Iliad', Ovid' 'Metamorphoses', and Aeschylus' 'The Libation Bearers.' In Homer, the Atalanta account is absent, and Meleager is killed in a battle for possession of the pelt. In the first version the quarrel over the prize led to a new war between Curetes and Calydon. This put Meleager who had blood relatives on both sides in a terrible position. Without his leadership Calydon was on the verge of losing. His wife appealed to him to save the city. However, while leading Calydon he killed his uncles. As a result his Mother cursed him. Possibly by burning the stick from the Fates visit. With or without the curse, the Erinyes killed him to revenge his killing of blood relatives.
O facto de ter havido mais do que uma versão da lenda de Meleagro na época clássica faz desta história um mito paralelo aos vários ciclos épicos correntes.
The Calydonian Boar is one of the chthonic monsters in Greek mythology, each set in a specific locale. Sent by Artemis to ravage the region of Calydon in Aetolia, it met its end in the Calydonian Hunt, in which all the heroes of the new age pressed to take part, with the exception of Heracles, who vanquished his own Goddess-sent Erymanthian Boar separately. Since the mythic event drew together numerous heroes — among whom were many who were venerated as progenitors of their local ruling houses among tribal groups of Hellenes into Classical times — the Calydonian Boar hunt offered a natural subject in classical art, for it was redolent with the web of myth that gathered around its protagonists on other occasions, around their half-divine descent and their offspring. Like the quest for the Golden Fleece (Argonautica) or the Trojan War that took place the following generation, the Calydonian Hunt is one of the nodes in which much Greek myth comes together.
Figura 7: A caçada ao Javali de Caledónia.
O episódio dos Curetas tem um nome tão genérico que nos faz pensar na lenda romana dos Horácios & Coriácios. Na lenda romana Meleagro é Horácio, que não mata os tios mas a irmã!
The central character of this myth is Meleagros, son of Oineus and Althaia. In order to arrive at a proper understanding of the structure of this myth, we must see what role Meleagros plays. We will start by looking at the meaning of his name Μελέαγρος, which is disputed. By my count, four meanings have been proposed:
1. He who will participate in a useless (or miserable) hunt (Euripides Meleagros fr. 517 ed. Nauck: Μελέαγρε, μελέαν γάρ ποτ’ ἀγρεύεις ἄγραν).
2. The hunter of the dead (Dieterich 1893:56n2, who thinks that μέλεα means ‘the dead’).
3. He who cares for (verb μέλειν) the *ṷagros ‘thunderbolt’ (Delbrück 1865).
4. He who cares for (verb μέλειν) the ἄγρα ‘hunt’ (Scholia V and T to Iliad IX 543).
To these may be added:
5. He who cares for (verb μέλειν) the cultivated field. (…)
A similar point can be made about the name Μελέαγρος, if it is really derived from *melé-ṷagros, meaning ‘he who cares for the *ṷagros’ (so Watkins 1995:412). The -αγρος of Μελέαγρος, if it is really cognate with Indic vájra- and Iranian vazra-, can refer to the forces of healing, restoration, and revivifying, not only to the forces of destruction. The Indic noun vajra-, which refers to the stylized thunderbolt of the Indic god Indra, is attested in contexts where this weapon, like the hammer of the Germanic god Thor, has revitalizing as well as destructive powers (Nagy 1990:197). According to one theory (accepted by Watkins 1995:412–413), the vaj- of vajra- (as also the -αγ- of Μελέαγρος) derives from the root *ṷag- meaning ‘break’. I disagree, arguing instead that the vaj- of vajra- derives from the root *ṷeg-, as attested in the Latin verb uegeō in the sense of ‘revitalize’ (see again Nagy 1990:197). If this derivation is the right one, then perhaps the -αγ- of Μελέαγρος can be seen as an indirect derivative of *ṷeg-, and the compound formation *melé-ṷagros can mean ‘he who cares for revitalization’. By revitalization here I mean the revitalizing of vital forces, such as the forces of vegetation. Then, with the dropping out of the *-ṷ- of *melé-ṷagros in the dominant Ionic dialect of Homeric diction, the resulting μελέαγρος can be reinterpreted as meaning simultaneously ‘he who cares for the field or ἀγρός’ and ‘he who cares for the hunt or ἄγρα’. Since the Indic cognate of ἀγρός ‘field’ is ájra-, which means ‘uncultivated land’, that is, ‘fallow land’, and since the Greek derivative of ἀγρός is ἄγριος, which means ‘wild’ (also comparable is σύαγρος, meaning ‘wild boar’), I take it that the Greek contexts of ἀγρός in the sense of ‘cultivated land’ reflect a semantic shift from wilderness to cultivation, and that ἄγρα in the context of hunting in the wilderness is related to earlier contexts of ἀγρός in the sense of uncultivated land, as opposed to later contexts in the sense of cultivated land (cf. Chantraine DELG s.v. ἀγρός). Such a semantic shift is relevant to the myth of Μελέαγρος in the context of the formulaic system of Homeric poetry: in terms of this myth, Meleagros reverts from caring for cultivation to caring for the wilderness and then reverts back to caring for cultivation. -- A Structural Analysis of the Meleagros Myth, David Marwede.
Ora bem, a etimologia de Meleagro parece sugestiva o que deixa quase a certeza de as suas relações com Hércules serem não apenas semânticas mas também étmicas.
Meleagro < Meli-Acros lit. “Sr. das Alturas ou altíssimo Sr.”
No entanto este nome é uma patente corruptela de Melkart, literalmente o senhor da cidade que Meleagro se revelou ser na sua valente defesa da Caledónia, deus fenício conhecido por ser uma equivalente de Hércules.
O da cidade de Calcedónia parece suspeito de estar relacionada com os curetas na medida em que poderia ter sido originariamente *Caurethonia, ou seja uma colónia cretense. Na verdade o mito de Meleagro parece uma história mal contada de arcaicas lutas contra o matriarcado cretense. Desde logo a relação poderosa de Meleagro com a própria mãe revela uma metáfora da poderosa Deusa Matriarcal que tanto dá como tira a vida.
Logo após seu nascimento, sua mãe ficou sabendo que, quando o toro que estava na lareira fosse consumido, Meléagro morreria. Assim, ela apagou o fogo com água e escondeu a tora. Anos mais tarde, quando Meléagro matou seus dois tios, irmãos de sua mãe, esta lembrou-se da profecia e jogou o toro no fogo, causando assim a morte de seu filho.
Depois, sobra o pretexto da morte de Meleagro ter acontecido por causa dos tios maternos que, como sabemos, eram os intocáveis suportes do poder matriarcal. De passagem encontramos o pretexto mítico de a “caça ao javali da Celcedónia” ter acontecido por causa de uma praga de Artemisa, a poderosa Virgem Mãe primordial dos sacrifícios humanos e das caretas gorgónias de Medusa, relacionadas com uma falta ritual gravíssima cometida pelo pai de Meleagro. O rei da cidade etólia da Caledónia, Éneo, esqueceu-se de sacrificar a Artemisa durante o festival das Delícias ou Talucias.
No entanto estas festas eram fundamentalmente dedicadas à Deusa Mãe! O nome desta festa reporta-se para o de Thalos, o deus sol dos cretenses que seria filho de Tália equivalente seguramente da latina Tellus um dos nomes primordiais da Terra Mãe da Anatólia.
«Delícia» < Lat. delicia <?> Grec. Thalycia = Θαλύσια = > «Primícia».
O primeiro pão feito das primícias de espigas era chamado thalysios em Atenas e era consumido num contexto mágico e religioso possivelmente misturado com frutos secos o que lhe conferiria um sabor «delicioso».
Ver: TALOS (***)
Théocrite dans l’une de ses idylles donne quelques détails sur une fête des Thalysies telle qu’elle se déroulait à son époque (IIIe siècle av. J.-C.) sur l’île de Cos ou il séjourna. La fête est organisée par des propriétaires terriens pour remercier Déméter d’avoir permis une récolte abondante. Elle se déroule à la fin de l’été/début de l’automne et revêt un caractère bucolique, il s’agit d’un repas ou l’on va offrir les prémices à la déesse. On a dressé sur l’aire de battage un autel à Déméter, l’on boit un vin fameux et l’on adresse une prière à la déesse : «Qu’il me soit permis de plonger de nouveau mon van dans un tas de grain et de la voir [Déméter] me sourire en tenant des gerbes de blés et du pavot.»
Sendo estas festas dedicadas exclusivamente a Deméter como foi possível a Eneu, o Noé grego por ter sido o primeiro a plantar vinha, ter esquecido Artemisa?
Dans la mythologie grecque, Œnée (en grec ancien Οἰνεύς / Oineús), fils de Porthaon et d'Euryté, est roi de Calydon. On dit qu'Œnée, visité par Dionysos, permit à ce dieu d'avoir un commerce intime avec Althée, sa femme, et que Dionysos lui permit, en récompense, de donner son nom au vin.
Estas coisas não se esquecem, sobretudo quando é impossível esquece-las com a facilidade com que os mitógrafos o dizem com ingenuidade quase infantil pelo que se suspeita que se trata de pura invenção retórica de conveniência. Como sabemos a primeira referência a este episódio que nos chegou é de Homero.
De certa vez os Curetes e os fortes Etólios à volta
de Calidona lutavam causando recíproco estrago.
Estes lutando em defesa da bela cidade; os Curetes
só desejosos de que Ares entrar nas muralhas lhes desse.
Foi provocada a contenda por Ártemis do trono de ouro
que se indignara por não ter de Eneu recebido as primícias
dos agros pingues quando este ofertou hecatombes aos deuses
todos do Olimpo exceptuando-se a filha de Zeus tão-somente
ou por descuido ou de caso pensado o que a fez irritar-se.
-- RAPSÓDIA IX, Homero – Iliada – Trad. Carlos Alberto Nunes
A verdade é que grande parte deste mito parece ter sido inventado de propósito por conveniência narrativa de Homero na medida em que todo o canto IX, onde este mito é descrito, se desenrola à volta do tema da tentativa inglória de Agamémnom se reconciliar com Aquiles.
De facto fazer hecatombes aos dose deuses olímpicos pela época das colheitas seriam uma razia de mil e duzentas cabeças de gado o que seria exagero pelo que quanto muito seria uma hecatombe pelo conjunto dos deuses olímpicos. Neste caso, Homero estaria a referir-se a um insulto cometido não contra Artemisa mas contra Deméter por a ordem patriarcal ter substituído as honras devidas à Deusa Mãe pelas devidas aos deuses olímpicos com as alterações do panteão introduzidas precisamente na época da guerra de Tróia pelo rei hitita Tudália IV. Assim, se alguma ofensa contra Artemisa poderia ter havido teria sido cometida por Meleagro ao matar o javali que possivelmente teria fugido para um bosque sagrado.
Mas as suspeitas de que o mito de Meleagro se desenrola na época do matriarcado cretense continuam quando damos conta das possíveis relações promíscuas de sua mãe Alateia ou da possibilidade de Éneo ter sido o primeiro bêbado da história grega.
Se casó con Eneo, rey de Caledonia, con quien fue madre de Toxeo, Tireo, Clímeno, Meleagro, Gorge y Deyanira. En cambio, según algunos, Meleagro era considerado fruto de su relación con Ares y fue madre de Deyanira con Dioniso. También tuvo a Anceo con Poseidón.
On dit qu'Œnée, visité par Dionysos, permit à ce dieu d'avoir un commerce intime avec Althée, sa femme, et que Dionysos lui permit, en récompense, de donner son nom au vin.
Meleagro < Meli-| ager < Hager ó Ka-Ker | => Mulciber º Vulcano.
Aka-Aker “pai de guarda a aurora” > Kauricaco => Horácio.
Hercules º Melkart < Mel- |*Kartu < Kaurish ó Iscur| < Meli-Kertes
> Melicertes.
Ver: OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES E O ZODÍACO (***)
Outro mito que teria andado relacionado com o de Hércules pelo menos de nome foi o de Melicertes, por sinal relacionado com o de Meliagros logo no nascimento de ambos os heróis pelo cruzamento de passagem com o mito do nascimento de Dionísio, o que deixa a suspeita de estarmos perante variantes dum mitema solar do “deus menino” que Hércules também teria sido.
Depois de Dionísio ter nascido da barriga da perna de Zeus este entregou-o a Hermes para o levar ao casal Ino & Atamante, com a condição peremptória de que fosse criado como uma menina, exactamente como aconteceu com Hércules e precisamente porque ambos eram filhos de Zeus e odiados por Hera. Normalmente os mitógrafos atribuem o papel da loucura a Dionísio mas, neste caso, parece ter sido Hera quem enlouqueceu Atamante para que este matasse o seu filho Learco num acidente de caça, confundindo o filho com um veado. Normalmente um acidente de caça com um veado teria sido atribuído a Artemisa o que deixa a suspeita de estarmos perante um mito muito mais arcaico dum sacrifício humano de uma criança em honra da Deusa Mãe. De facto até pode ter acontecido que os nomes dos personagens do mitema mais arcaico tenham sido trocados porque Atamante parece-se com *Ataminus, um nome postulados como precursor de todos os deuses meninos de morte e ressurreição solar, e Laerco tem semelhanças fonéticas com Licaão, o rei lendário da Arcádia que praticava sacrifícios humanos e com Arcas, o filho que este penúltimo serviu assado de bandeja a Zeus, facto que precipitou o Dilúvio de Deucalião.
Learco < La + Arcas + An > Li-ark-ão > *Li-Kar(i)-ão ó Licaão.
Deucalião < Theo | Kalian > Kar(i)-ão.
De passagem reparamos que as equações etimológicas virtuais permitem estabelecer correlações entre vários mitos fixando, de entre as variantes possíveis duma tômbola combinatória fonética, as que mais provavelmente andaram confundidas na memória frágil dos poetas e mitógrafos.
Pseudo-Apollodorus, Bibliotheca 3. 28: "Hermes took him [the infant Dionysos] to Ino and Athamas, and persuaded them to bring him up as a girl. Incensed, Hera inflicted madness on them, so that Athamas stalked and slew his elder son Learkhos on the conviction that he was a dear, while Ino threw Melikertes (Melicertes) into a basin of boiling water, and then, carrying both the basin and the corpse of the boy, she jumped to the bottom of the sea. Now she is called Leukothea (Leucothea), and her son is Palaimon (Palaemon): these names they receive from those who sail, for they help sailors beset by storms. Also, the Isthmian games were established by Sisyphos in honor of Melikertes."
Segundo as fábulas de Higino, quando Ino fez catapontismo com seu filho Melicertes, eles foram transformados pela graça de Liber Pater, respectivamente, nos deuses Leucótea (para os romanos, Mater Matuta) e Palaemon (para os romanos, Portunus).
O nome da mãe de Melicertes era Ino mas como foi transformada na deusa Leucótea reencontramos assim os enredos cruzados deste mito com o de Meleagro, cuja mãe era Alateia que por se parecer com Galateia se aproxima de Leucótea. Ora, nem de propósito, o elo que nesta parte cruza os dois mitos é Galateia uma ninfa cretense que foi também vítima do trágico destino de ver o seu amado Ácis esmagado por uma rocha que contra ele lançou o enciumado Polifemo que amava ingloriamente a ninfa. Pois bem, mais uma vez reparamos em outro cruzamento mítico quando damos conta de que o nome de Ácis se assemelha foneticamente ao de Arcas que aparece no mito de Licaão explicitamente sendo uma referência ao sacrifício de crianças à Deusa Mãe na época matriarcal arcaica.
Que Melicertes tenha sido transformado no deus Palaemon comprova o seu cruzamento com Meleagro e Hércules porque Palaimon, que significa o lutador, era um sobrenome de Hércules em Licofrão, e era também segundo outros o nome de um dos seus filhos com Ifinoê e mesmo um dos argonautas, que deste modo se aproxima do latino Portunus, deus dos portos.
Palaimon < Phara-Meon < Kar(t)a-Minus > Taura-Minos > Minotauro.
> Kartuminus > Phortumnus > Portunus.
Figura 8: Denário da República Romana. Laureate head of Neptune right. (...) Winged boy (deified Palaemon?) riding on back of dolphin right.
According to some, Melicertes after his apotheosis was called Glaucus, whereas, according to another version, Glaucus is said to have leaped into the sea from his love of Melicertes. The body of Melicertes, according to the common tradition, was washed by the waves, or carried by dolphins into the port of Schoenus on the Corinthian isthmus or to that spot on the coast where the altar of Palaemon subsequently stood. There the body was found by his uncle Sisyphus, who ordered it to be carried to Corinth, and on the command of Nereides he instituted the Isthmian games and sacrifices of black bulls in honour of the deified Palaemon.
Pseudo-Hyginus, Fabulae 2 (trans. Grant) (Roman mythographer C2nd A.D.): "Leucothea, and Melicertes, the god Palaemon -- we call her Mater Matuta, and him Portunus."
Cicero, De Natura Deorum 2. 26 (trans. Rackham) (Roman rhetorician C1st B.C.): "The suffix seen in Portunus (the harbour god) [Palaimon], derived from portus a harbour."
Apuleius, The Golden Ass 4. 31 ff (trans. Walsh) (Roman novel C2nd A.D.): "Shaggy Portunus sporting his blue-green beard...and Palaemon, the little charioteer on his dolphin."
O mais estranho no mito de Melicertes é estarmos perante um “deus menino” que não teve a oportunidade de crescer e ser um poderoso herói como Melkarte / Hércules. No entanto a relação entre Melicertes e Hércules por meio de Melkarte é incontornável, como os eruditos o consideram.
Melikertes is believed by scholars to have derived from the Phoenician god Melkart, whom the Greeks also identified with Herakles. Indeed, the boy's grandfather in Greek mythology was the Phoenician immigrant Kadmos.
Melicertes < Melkartis < Melkart > Ma(r)cer(t)is > Maceris.
[10.17.2] The first sailors to cross to the island are said to have been Libyans. Their leader was Sardus, son of Maceris, the Maceris surnamed Heracles by the Egyptians and Libyans. Maceris himself was celebrated chiefly for his journey to Delphi, but Sardus it was who led the Libyans to Ichnussa, and after him the island was renamed. – PAUSANIAS 10. 17 – 31, DESCRIPTION OF GREECE, TRANS. BY W. H. S. JONES,
O mito de Melicertes é um dos muitos mitos clássicos que revelam o quanto o processo de evolução cultural resulta da sobreposição sedimentar de referências culturais sucessivas de diversas épocas e origens geográficas.
[1]"Hercules (mythology)," Microsoft® Encarta® 97 Encyclopedia. © 1993-1996 Microsoft Corporation. All rights reserved.
[2] Ver mais adiante.
[3] Tempos que seriam facistas se fossem fora de época!
[4] AS COSMOGONIAS GREGAS, Reynal Sorel.
[5] http://www.greekmythology.com/Myths/Heroes/Meleager/meleager.html