terça-feira, 15 de junho de 2021

I SAGRADA FAMÍLIA 3.3. AS BODAS DE CANÁ, por arturjotaef



Figura 1: Marcos nas bodas de Cana em versãoanacrónica medieval de Giotto.

Bom, se Jesus chegou ou não a casar com a Samaritana de Sicar não é assunto assim tão insofismável. A Igreja constantiniana depressa se apressou a apregoar a virgindade perpétua de Cristo o novo deus trinitário dos romanos que resolveu esclarecer as dúvidas que seriam quase certezas correntes entre os cristãos e é assim que, “conforme as notícias de Eusébio, Judas Tadeu teria sido o esposo nas Bodas de Caná e isso explicaria a presença de Maria e de Jesus. Claro que Eusébio mentiu descaradamente para desviar as atenções de Jesus. No entanto, devido ao facto de este episódio não ser relatado nos sinópticos fica-nos a dúvida se não se terá tratado de uma festa tão privada e sem consequências visíveis para a política messiânica, prosseguida pelos discípulos, que a ele nem sequer se referiram porque nunca mais se lembraram disso. Marcos teria estado lá, quer porque teria sido o casamento de sua irmã, quer porque segundo uma das tradições sobre este evangelista seria um dos copeiros da boda.

It was mentioned that Mark was at the Wedding of Cana of Galilee, where God did His first miracle, changing the water into wine. He was among those who tasted it. -- THE BEHOLDER OF GOD MARK THE EVANGELIST SAINT AND MARTYR BY H.H. SHENOUDA III 117 th Pope of Alexandria.


Figura 1: Bodas de Cana de Veronese, representação barroca tão anacrónica como a anterior de Giotto.

De qualquer modo, o semantema do encontro de namoro junto a um poço sagrado seguido de casamento permite suspeitar que se no 4º evangelho não diz de forma explícita que o casamento ocorreu nem quando nem onde também não diz que nunca ocorreu. Pelo contrário, o capítulo 2 começa por referir que ocorreu um casamento ao 3ª dia. A questão que se coloca é que lendo bem o 4ª evangelho não se descobre a razão de ser desta introdução temporal sem suspeitar que neste caso também, como e suspeito em relação a outros capítulos, o capítulo 2 está fora do contexto, pois em boa verdade primitivamente vir logo a seguir ao versículo 40º do 4ª capítulo.

João. 4: 39E muitos samaritanos daquela cidade creram nele, por causa da palavra da mulher, que testificava: Ele me disse tudo quanto tenho feito. 40Indo, pois, ter com ele os samaritanos, rogaram-lhe que ficasse com eles; e ficou ali dois dias. 41E muitos mais creram por causa da palavra dele; 42e diziam à mulher: Já não é pela tua palavra que nós cremos; pois agora nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador (Jesus) do mundo. 43Passados os dois dias partiu dali para a Galiléia.

João 2: 1 Três dias depois, houve um casamento em Caná da Galiléia, e estava ali a mãe de Jesus; 2 E foram também convidados Jesus e os seus discípulos para a boda.

Os restantes sinópticos parecem ter passado ao lado desta cena como gato por vinha vindimada, mas é bem possível que estes tempos fossem anos alegres na vida dos discípulos e que, por isso mesmo, terão deixado eco na memória evangélica de Marcos e depois de Mateus que o seguiu. Lucas limitou-se a lê-los e pouco mais. De facto, o que mais se aproxima de uma festa de casamento ocorre logo a seguir aos episódios iniciais do recrutamento dos apóstolos e imediatamente depois do episódio da chamada de Marcos para o apostolado. Segundo Lucas estes factos terão ocorrido na altura da multiplicação dos pães. Segundo Marcos e Mateus,

A reconstituição desta cena de acordo com as leis da plausibilidade seria:

Lucas 5:  27Depois disso saiu e, vendo um publicano chamado Levi, sentado na telónio, disse-lhe: Segue-me. 28Este, deixando tudo, levantou-se e o seguiu. 29Deu-lhe então Levi um lauto banquete em sua casa; havia ali grande número de publicanos e outros que estavam com eles à mesa.

 

Ver: MATEUS (***)

 

Marcus 2:

15Ora, estando Jesus à mesa em casa de Levi, estavam também ali reclinados com ele e seus discípulos muitos publicanos e pecadores; pois eram em grande número e o seguiam.

16Vendo os escribas dos fariseus que comia com os publicanos e pecadores, perguntavam aos discípulos: Por que é que ele como com os publicanos e pecadores? 17Jesus, porém, ouvindo isso, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos; eu não vim chamar justos, mas pecadores.

18Ora, os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando; e foram perguntar-lhe: Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas os teus discípulos não jejuam?

19Respondeu-lhes Jesus:

Podem, porventura, jejuar os convidados às núpcias, enquanto está com eles o noivo? Enquanto têm consigo o noivo não podem jejuar; 20dias virão, porém, em que lhes será tirado o noivo; nesses dias, sim hão de jejuar.

21Ninguém cose remendo de pano novo em vestido velho; do contrário o remendo novo tira parte do velho, e torna-se maior a rotura. 22E ninguém deita vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho novo romperá os odres, e perder-se-á o vinho e também os odres; mas deita-se vinho novo em odres novos.

Mateus 9:

10Ora, estando ele à mesa em casa, eis que chegaram muitos publicanos e pecadores, e se reclinaram à mesa juntamente com Jesus e seus discípulos.

11E os fariseus, vendo isso, perguntavam aos discípulos: Por que come o vosso Mestre com publicanos e pecadores? 12Jesus, porém, ouvindo isso, respondeu: Não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos. 13Ide, pois, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifícios. Porque eu não vim chamar justos, mas pecadores.

14Então vieram ter com ele os discípulos de João, perguntando: Por que é que nós e os fariseus jejuamos, mas os teus discípulos não jejuam?

15Respondeu-lhes Jesus:

Podem porventura ficar tristes os convidados às núpcias, enquanto o noivo está com eles? Dias virão, porém, em que lhes será tirado o noivo, e então hão de jejuar.

 

 

16Ninguém põe remendo de pano novo em vestido velho; porque semelhante remendo tira parte do vestido, e faz-se maior a rotura.

 17Nem se deita vinho novo em odres velhos; do contrário se rebentam, derrama-se o vinho, e os odres se perdem; mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam.

Lucas 5:

 

 

 

 

 

 

30Murmuravam, pois, os fariseus e seus escribas contra os discípulos, perguntando: Por que comeis e bebeis com publicanos e pecadores? 31Respondeu-lhes Jesus: Não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos; 32eu não vim chamar justos, mas pecadores, ao arrependimento. 33Disseram-lhe eles: Os discípulos de João jejuam frequentemente e fazem orações, como também os dos fariseus, mas os teus comem e bebem.

34Respondeu-lhes Jesus:

 

 

 

 

 

 

 

 

Podeis, porventura, fazer jejuar os convidados às núpcias enquanto o noivo está com eles? 35Dias virão, porém, em que lhes será tirado o noivo; naqueles dias, sim hão de jejuar. 36Propôs-lhes também uma parábola:

 

Ninguém tira um pedaço de um vestido novo para o coser em vestido velho; do contrário, não somente rasgará o novo, mas também o pedaço do novo não condirá com o velho. 37E ninguém deita vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho novo romperá os odres e se derramará, e os odres se perderão; 38mas vinho novo deve ser deitado em odres novos. 39E ninguém, tendo bebido o velho, quer o novo; porque diz: O velho é bom.

Esta cena ocorre imediatamente depois da cena da Chamada de Mateus Levi, facto referido pelos três sinópticos, seguramente a partir do texto original de Marcos, porque esta terá acontecido num momento festivo importante tanto na vida de Jesus como nas memórias agradáveis dos discípulos dos melhores tempos que estes passaram com Jesus.

3 E, faltando o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não têm vinho. 4 Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. 5 Sua mãe disse aos empregados: Fazei tudo quanto ele vos disser. 6 E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus, e em cada uma cabiam duas ou três metretas. 7 Disse-lhes Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram-nas até em cima. 8 E disse-lhes: Tirai agora e levai ao mestre-sala. E levaram. 9 E, logo que o mestre-sala provou a água feita vinho (não sabendo de onde viera, se bem que o sabiam os empregados que tinham tirado a água), chamou o mestre-sala ao esposo. 10 E disse-lhe: Todo homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então, o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho. 11 Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da Galiléia e manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele.

Que tinha a mãe de Jesus a ver com a falta de vinho se nãos se tratasse de um casamento de um dos seus filhos? Porque haveria os criados de receber instruções de Jesus se este não fosse directamente parte interessada? Saberia Jesus fazer vinho a martelo ou estariam as talhas já preparadas para misturar água com hidro-mel? Enfim, o grande milagre de Jesus nas bodas de Cana terá sido pouco mais do que o de ter feito, já na parte final das bodas dum casamento onde já estariam todos semi-embriegados, uma espécie de refresco de hidromel. Existia a tradição de que os casais recém-casados deveriam consumir hidromel durante o primeiro ciclo lunar após as bodas para nascer um filho varão. Daí surgiu a tradição actual da lua-de-mel. Assim, Jesus estaria apenas a tentar assegurar um filho varão para o seu casamento messiânico com a bela samaritana que seria a rica Maria Madalena, irmã de Mateus e de João Marcos, e quase seguramente irmã da rica Marta de Jesusalém conhecida do Talmud.

Estes tempos de alegre convívio e lua-de-mel de Jesus, partilhados com os seus discípulos mais íntimos, terão deixado na memória juvenil de Marcos, o irmão de Maria Madalena a imagem romântica de passeios primaveris pelo campo em época de fertilidade agrícola e de searas com espigas maduras varridas pelo vento Zéfiro.

Marcos 2: 23E sucedeu passar ele num dia de sábado pelas searas; e os seus discípulos, caminhando, começaram a colher espigas. 24E os fariseus lhe perguntaram: Olha, por que estão fazendo no sábado o que não é lícito? 25Respondeu-lhes ele: Acaso nunca lestes o que fez Davi quando se viu em necessidade e teve fome, ele e seus companheiros? 26Como entrou na casa de Deus, no tempo do sumo sacerdote Abiatar, e comeu dos pães da proposição, dos quais não era lícito comer senão aos sacerdotes, e deu também aos companheiros? 27E prosseguiu: O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado. 28Pelo que o Filho do homem até do sábado é Senhor.

Mateus 12 1Naquele tempo passou Jesus pelas searas num dia de sábado; e os seus discípulos, sentindo fome, começaram a colher espigas, e a comer. 2Os fariseus, vendo isso, disseram-lhe: Eis que os teus discípulos estão fazendo o que não é lícito fazer no sábado. 3Ele, porém, lhes disse: Acaso não lestes o que fez Davi, quando teve fome, ele e seus companheiros? 4Como entrou na casa de Deus, e como eles comeram os pães da proposição, que não lhe era lícito comer, nem a seus companheiros, mas somente aos sacerdotes? 5Ou não lestes na lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado, e ficam sem culpa? 6Digo-vos, porém, que aqui está o que é maior do que o templo. 7Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifícios, não condenaríeis os inocentes. 8Porque o Filho do homem até do sábado é o Senhor.

Lucas 6: 1E sucedeu que, num dia de sábado, passava Jesus pelas searas; e seus discípulos iam colhendo espigas e, debulhando-as com as mãos, as comiam. 2Alguns dos fariseus, porém, perguntaram; Por que estais fazendo o que não é lícito fazer nos sábados? 3E Jesus, respondendo-lhes, disse: Nem ao menos tendes lido o que fez Davi quando teve fome, ele e seus companheiros? 4Como entrou na casa de Deus, tomou os pães da proposição, dos quais não era lícito comer senão só aos sacerdotes, e deles comeu e deu também aos companheiros? 5Também lhes disse: O Filho do homem é Senhor do sábado.

No texto de Mateus, mal copiado de Marcos se denotam mais uma vez as flagrantes interpolações de apologética clerical, que nada teriam seguramente a ver com o evangelho dos Nazoresnos e Hebreus, sobretudo porque com tanta interpolação clerical se transformaram nos evangelhos mais beatos e mais antijudaicos do cristianismo.

 

I SAGRADA FAMÍLIA 3.2. SAMARITANA DE SICÁ por arturjotaef


Figura 1: A bela Samaritana de Sicá.

Samaritana plebeia de Sicar

Alguém espreitando te viu Jesus beijar

De tarde quando foste encontrá-lo só

Morto de sede junto à fonte de Jacob.

Se a bela Samaritana de Sicar não fizesse parte dos evangelhos e se estes não andassem a ser lidos nas igrejas com olhos demasiado angelicais conseguiríamos imaginar, como os estudantes de Coimbra, que Jesus morreu de amor à primeira vista quando a encontrou.

10 Pedro dijo: «Mariam, hermana, nosotros sabemos que el Salvador te apreciaba más que a las demás mujeres. Danos cuenta de las palabras del Salvador que recuerdes, que tú conoces y nosotros no, que nosotros no hemos escuchado». -- EVANGELIO DE MARÍA MAGDALENA

Claro que Maria Madalena poderia nem sequer ser samaritana nem especificamente de Sicar nem plebeia mas poderia viver na Samaria por “ter tido vários maridos” e, entre estes, algum dali. Porém, depois deste encontro ter-se-á posteriormente mudado para Betânea, sua casa de família.

É evidente que a bela Samaritana depois de tão grandes feitos referidos em João, 4: 6-36 teria ficado na história com nome próprio se não houvesse fortes motivos em contrário.

Ninguém, de boa-fé, estaria à espera que Maria Madalena falasse abertamente do seu primeiro encontro amoroso com Jesus! Nem nos tempos modernos é fácil aceitar que uma mulher fale abertamente da sua vida sexual quanto mais há dois mil anos, quando até os homens tinham pudor em falar da sua vida amorosa! E então os cristãos que foram, sobretudo, uns puritanos incomparáveis, desde a primeira hora!

O recurso aos samaritanos como sicranos e beltranos de substituição parece que teria sido recurso estilístico comum na época, pelo menos no pequeno círculo de Jesus onde se contou a parábola do “bom samaritano”.

The particular form of the story in John 4 is probably related to stories found in the Old Testament: the meeting of Abraham's servant (who was looking for a wife for Isaac) with Rebekah (Gen 24), of Jacob with Rachel (Gen 29) and of Moses with Zipporah (Exod 2). In each of these stories, the hero (or his servant) travels to a foreign land and there at a well he meets with a woman, alone by herself or with other women. The traveler asks for drink and/or helps the woman or women in some way. The woman runs home to inform her people about the hero and they receive him with great hospitality, resulting in a marriage between the hero and the woman. These stories are parts of the foundational legends for the tribe of the Israelites or their religion. In John 4 a similar meeting between Jesus and the Samaritan woman, which significantly takes place at Jacob's well, has become a legend for the foundation of the Samaritan church. Of course, in John Jesus does not marry the woman, only converts her by showing her his supernatural powers. But even this transformation had already taken place in the Old Testament in the story of Elijah and the widow of Zarephath. -- [1]

Mas, se aceitarmos que esta cena encobre o primeiro encontro de Jesus com Maria Madalena então ficaremos a saber que pelo menos aqui amou-a de forma muito particular.

João. 3: 22Depois disto foi Jesus com seus discípulos para a terra da Judéia, onde se demorou com eles e batizava. 23Ora, João também estava batizando em Enom, perto de Salim, porque havia ali muitas águas; e o povo ía e se baptizava. 24Pois João ainda não fora lançado no cárcere.

João. 4: 1-2Os fariseus ouviram dizer que Jesus estava a baptizar e a ganhar mais discípulos que João (embora de facto não era Jesus que baptizava, mas os seus discípulos).

Não é claro o motivo pelo qual o 4º evangelho se envolve então numa pequena contradição com o seu próprio contexto, seguramente pela pena entrepolativa dum copista trapalhão e beato, mas não deixa de ser estranho que isto tenha acontecido precisamente a propósito de uma espécie de concorrência entre dois candidatos messiânicos que começavam a arregimentar adeptos com cerimónias iniciáticas baptismais.

No entanto, a rivalidade entre João e Jesus começa a ser notada pelas intrigas políticas da época.

25Surgiu então uma contenda entre os discípulos de João e um judeu acerca da purificação.

26E foram ter com João e disseram-lhe: Rabi, aquele que estava contigo além do Jordão, do qual tens dado testemunho, eis que está batizando, e todos vão ter com ele. 27Respondeu João:

O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu. 28Vós mesmos me sois testemunhas de que eu disse: Não sou o Cristo, mas sou enviado adiante dele. 29Aquele que tem a noiva é o noivo; mas o amigo do noivo, que está presente e o ouve, regozija-se muito com a voz do noivo. Assim, pois, este meu gozo está completo. 30É necessário que ele cresça e que eu diminua.

31Aquele que vem de cima é sobre todos; aquele que vem da terra é da terra, e fala da terra. Aquele que vem do céu é sobre todos. 32Aquilo que ele tem visto e ouvido, isso testifica; e ninguém aceita o seu testemunho. 33Mas o que aceitar o seu testemunho, esse confirma que Deus é verdadeiro. 34Pois aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus; porque Deus não dá o Espírito por medida. 35O Pai ama ao Filho, e todas as coisas entregou nas suas mãos. 36Quem crê no Filho tem a vida

João não comprova nem desmente a existência duma disputa. À parte a verborreia gnóstica típica do 4ª evangelho e das mulheres que falam pelos cotovelos sem dizerem coisa nenhuma ou repetindo sempre a mesma ideia até à exaustão como velhas bruxas num sortilégio de encantamento e amarração, João limita-se a fazer um desabafo que parece de sapiência mas que seria apenas a repetição do lugar-comum aceite pelos crentes no messianismo, a saber: que ninguém recebe o poder messiânico se este não tiver sido previamente decido por Deus. A regra da origem divina do poder real era uma evidência faraónica indiscutível. O inopinado aconteceu com a metáfora do noivado nas palavras de João deixando a suspeita de que seria messias quem alcançasse a noiva que seria muito possivelmente uma candidata real dos samaritanos que estes primos conheceriam ambos muito bem.

Os madianitas afirmam que os precursores de sua seita vieram do antigo Egito, embora a seita seja originária da Palestina. Eles não eram judeus, mas viviam lado a lado com estes. Sua seita, conhecida então como nazoreanos, era liderada por João Batista, mas já existia desde muito tempo antes. Eles o veneram, mas não o consideram nada além de um grande líder e profeta. Sofreram perseguições, primeiro por parte dos judeus, depois dos cristãos, e foram expulsos da Palestina, cada vez mais para leste, até chegarem a sua terra atual.

Os madianitas viam em Jesus um mentiroso, um embusteiro, um feiticeiro do mal, o que corresponde com a visão dos judeus expressa no Talmude, onde se diz que Cristo foi acusado de "desencaminhar" os judeus e que sua sentença de morte lhe foi imputada por ter sido condenado como ocultista. (…)

Se existisse alguma coerência nesta crença dos antigos madianitas é porque alguma consistência real existiu entre elas.

A liderança da Igreja de Jerusalém era mais monárquica que eclesiástica, pois logo após o assassinato de Tiago, em 62 d.C., um primo de Jesus, Simão, filho de Cleofás, tornou-se o novo líder da Igreja. Ele também foi mais tarde assassinado; executado pelos romanos como um pretendente ao trono de David. O fato de ter Jesus assumido a liderança completa após o assassínio de seu primo João Batista, seguido por ser irmão Tiago e então pelo próximo membro homem da família, tem conduzido muitos analistas a observar que a Igreja de Jerusalém era estruturada como uma monarquia hereditária. Exatamente como se poderia esperar da linhagem real de David. -- O SEGUNDO MESSIAS, Christopher Knight & Robert Lomas, Tradução: Fábio Rogério Pedra Cyrino, 1997.


Figura 2: A Samaritana, plebeia de Sicar.

 

Ver: MESSIAS (***)

 

João. 4: 3Quando o Senhor constatou isso, deixou a Judeia e voltou para a província da Galileia

…Porque lhe era necessário encontrar a noiva adequada e tratar da sucessão real coisa que parece que João baptista teria descorado, possivelmente porque não teria conseguido engravidar a esposa da casta sacerdotal que lhe tina sido encontrada pelos essénicos nazorenos. Daí decorrem as lendas relacionadas com a leviandade de Maria Madalena que se teria limitado a ser um joguete do maquiavelismo messiânico como terá sido Lucrécia Borgia nas mãos do papado de Alexandre VI.

A seita tinha uma lenda sobre uma mulher chamada Miriai (Miriam ou Maria), que foge com seu amante e cuja família a procura desesperadamente para trazê-la de volta (mas não sem antes lhe passar uma descompostura, expressa em linguagem bastante forte, chamando-a de "puta no cio" e "alguidar libertino"). Filha dos "governantes de Jerusalém", ela vai viver com seu marido madianita na foz do Eufrates, onde se torna uma espécie de profetiza, sentada em um trono e lendo o “Livro da Verdade".

Hay hasta tradición de Miryam de Magdala como salvaje, esposa de Yohanan Bautista durante un tiempo. ¿Primos disputando por la misma mujer? Diatessaron de Shim'on.

Relendo novamente esta crença madianita e substituindo o Eufrates pelo Jordão poderemos inferir que S. João Batista já teria tentado a sua sorte o que não terá resultado. Possivelmente a lenda Áurea terá levantado uma ponta do véu pela mesma via dos Madianitas ou seja, partir da tradição ebionita que terá sido encontrada pelos templários como todos os maçónicos e escritores esotéricos o referem.

Sainte Marie-Magdeleine, La Légende Dorée, De Jacques De Voragine Nouvellement Traduite En Français. — Il y en a qui disent que Marie-Magdeleine était fiancée à saint Jean l’évangéliste, et qu'il allait l’épouser quand J.-C. l’appela au moment de ses noces. Indignée de ce que le Seigneur lui avait enlevé son fiancé, Magdeleine s'en alla et se livra tout à fait à la volupté. Mais parce qu'il n'était pas convenable que la vocation de Jean fût pour Magdeleine une occasion de se damner, le Seigneur, dans sa miséricorde, la convertit à la pénitence; et en l’arrachant aux plaisirs des sens, il la combla des joies spirituelles qui se trouvent dans l’amour de Dieu.

Quelques-uns prétendent que si N.-S. admit saint Jean dans une intimité plus grande que les autres, ce fut parce qu'il l’arracha à l’amour de Magdeleine. Mais ce sont choses fausses et frivoles; car frère Albert, dans le prologue sur l’Evangile de saint Jean, pose en fait que cette fianchée dont saint Jean fut séparé au moment de ses noces par la vocation de J.-C., resta vierge, et s'attacha parla suite à la sainte Vierge Marie, mère de J.-C. et qu'enfin elle mourut saintement.

Obviamente que a lenda áurea confundiu nestas intrigas de alcova da tradição cristã pelo menos três personagens importantes do cristianismo primitivo de nome João: João Baptista, João Evangelista e João Marcos. João, o suposto Evangelista, nem teólogo terá sido e portanto sempre esteve a mais no Evangelho de seu nome e muito mais ainda no resto das intrigas de virgindade que lhe são imputadas. Nesta história relativa à vida sexual de Maria Madalena obviamente que seu irmão Marcos terá que ser posto de lado. Sendo assim, o que a lenda parece querer dar a entender é que Maria Madalena acabou por ficar com fama de adúltera porque terá fugido de casa para se casar com João Baptista e terá acabado por repudiar este marido porque este teria sido incapaz de consumar o casamento ou porque seria demasiado virtuoso e por isso impotente ou estéril como teria sido Zacarias. A suspeita de que Jesus lhe teria roubado o marido seria mais grave e estranha naquela época mas sendo estes primos e tendo possivelmente sido ambos educados por essénicos é possível que se tenham encontrado algumas vezes e algo se terá passado de estranho entre ambos.


Figura 3: A bela Samaritana de Sicar junto ao poço de Jacó. (Notar que Veronese retratou Jesus com olhar de cego...de paixão?).

La segunda idea supone que Yeshúa abandona su casa a una edad de unos quince años, ingresando en una comunidad de esenios, en la que permanecerá durante quince años más. Esta teoría es aceptada como razonable por buen número de historiadores, aunque la única manera de ratificarla con los textos disponibles pasa por buscar correspondencias entre los escritos esenios conservados y el pensamiento de Yeshua.

Esta idea se matiza con añadidos propios. En el texto, Yeshúa es expulsado por Yoseff cuando tiene uos quince años, marchando a Qu´mran donde se encuenra ya su primo Yohanan, y permanece allí unos quince años más.

Finalmente, la tercera hipótesis es la de la expulsión de Yeshúa y el papel de Miryam de Dalah. Según la teoría, Miryam estaba casada con Yohanan (el matrimonioe staba permitido en la comunidad de Qu´mran), pero Yeshua se la disputa. Sorprendidos luchando, los tres son expulsados. Yeshua y Yohanan son abandonados en el desierto, probablemente atados entre sí. En su cautiverio, Yohanan y Yeshúa hablan. Yohanan, el adversario (satanah), le propone utilizar el origen de Yeshúa para aspira al trono de Jerusalén. Éste lo rechaza. Posteriormente, se separan. Inician ministerios separados, y cuando Yohanan muere, Yeshua se casa con Miryam. Poco a poco, el éxito del  ministerio de Yeshúa le convence de su papel y finalmente marcha a Jerusalén. El resto es historia conocida. --Diatessaron de Shim'on.

Miryam de Dalah, Magdala ou Dal(manuta) parece não conhecer Jesus quando o encontrou junto ao poço de Jacó, portanto a especulação de que teriam sido expulso os três pode ser rebuscada. No entanto, por vezes a realidade é mais estranha que a ficção. Quem sabe se não terão sido um “menage à troi”, seguramente um caso nem primeiro nem único na história!

Que tal situação ainda hoje seja instável é fonte de querelas familiares e discórdias mais o teria sido nesta época em que apenas supremos interesses de estado e religião teriam imposto a este trio a obrigação de procriarem e darem um descendente messiâncico à nação de Israel. Cristo terá levado a melhor porque já teria sido feito das suas antes pois ou já teria estado casado por volta dos 15 anos com uma jovem que teria possivelmente morrido de parto e lavado o jovem Jesus ao desespero, motivo da sua reclusão numa comunidade essénica.

De resto, a ideia de que Jesus não teria vindo para trazer o reino dos céus aos gentios mas apenas para unir as tribos dispersa de Israel estariam na sua mira começando por reunir os judeus com os samaritanos e galileus num reino messiânico único. E é então que aparece em cena a bela samaritana de Sicá.

João 4: 4E era-lhe necessário passar por Samária. 5Chegou, pois, a uma cidade de Samária, chamada Sicar, junto da herdade que Jacó dera a seu filho José;

E era-lhe necessário porquê? Precisamente porque se queria encontrar com a namorada ou esposa de João senão para a conhecer pelo menos para saber com o que poderia contar.

Maria Madalena revela no episódio da “mulher de Sicar” a veia romanesca que a faria uma digna inspiradora dos evangelhos segundo S. João sabendo tornar a cena convincente decorando-a num contexto ideológico samaritano até ai fim deste episódio.

João. 4: 6Achava-se ali o poço de Jacó. Jesus, pois, cansado da viagem, sentou-se assim junto do poço; era cerca da hora sexta. 7Veio uma mulher de Samária tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá- me de beber. 8Pois seus discípulos tinham ido à cidade comprar comida. 9Disse-lhe então a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (Porque os judeus não se comunicavam com os samaritanos.) 10Respondeu-lhe Jesus: Se tivesses conhecido o dom de Deus e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe terias pedido e ele te haveria dado água viva.

Mesmo hoje esta forma de sugestão erótica acaba por ser insinuante: “Se conhecesses quem te pede de beber tu me pedirias e eu te daria a água que dá vida”!

João. 4: 11Disse-lhe a mulher: Senhor, tu não tens com que tirá-la, e o poço é fundo; donde, pois, tens essa água viva? 12És tu, porventura, maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, do qual também ele mesmo bebeu, e os filhos, e o seu gado?.

Madalena revela-se uma mulher não menos vivida ao ensaiar uma falsa manobra de diversão em tom provocatório, respondendo: “Não tens balde e o poço é fundo! Onde escondes tu essa água que dá a vida? Serás tu, por ventura mais potente que nosso pai Jacob que nos deu este poço de que bebeu ele, os seus filhos e o seu gado?

João. 4: 13Replicou-lhe Jesus: Todo o que beber desta água tornará a ter sede; 14mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna.


Figura 4: Annibale Carracci - a mulher samaritana no poço de Jacó.

Jesus, sempre cavalheiro não dá sinais de desconcerto e mantém o mesmo registo evasivo acabando também num remate frontal: “a água que eu te daria faria germinar em ti uma fonte de vida humana (que aspira pela vida eterna)”! Mais bela metáfora da potencia jecundi e do líquido espermático capaz de provocar efectiva gravidez não seria fácil de encontrar!

João. 4: 15Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, nem venha aqui tirá-la.

Mais uma vez, Madalena se fez de desentendida como convinha a uma mulher que fingia ingenuidade mais do que aquela que tinha, exclamando: “Senhor, dá-me de tal água para que numa mais tenha sede...nem precise de voltar aqui à fonte”!

João. 4: 16Disse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido e vem cá.

Quando Jesus lhe respondeu que “fosse buscar o marido”, obviamente que não estava a fazer-lhe uma proposta desonesta para um “menage a trois” mas apenas pretendeu arriscar e saber se esta estava ou não disponível para um eventual acasalamento.

João. 4: 17Respondeu a mulher: Não tenho marido. Disse-lhe Jesus: Disseste bem: Não tenho marido;

A resposta inesperada seria a de uma mulher adulta e ainda tão receptiva como uma virgem deixou Jesus na dúvida e este resolveu arriscar tudo insinuando que esta faria jus ao aspecto vivido que tinha manifestado:

João. 4: 18porque cinco maridos tiveste, e o que agora tens não é teu marido; isso disseste com verdade.

Obviamente que Jesus arriscou forte e poderia ter perdido mas a sua perspicácia era infalível!

— “Disseste bem, porque já tiveste uns poucos e agora vives maritalmente!” Então, Maria Madalena estupefacta desarmou e exclamou!

João. 4:  19Disse-lhe a mulher: Senhor, vejo que és profeta. (ou bruxo!)”

A conversa que se seguiu parece enquadrada no contexto de uma verdadeira samaritana. De resto, nada obsta a que não tivesse havido uma cena autêntica na qual tivesse sido abordada a questão do separatismo religioso samaritano, de forma idêntico ao utilizado na cena da “samaritana de Sicar”!

João. 4: 20Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. 21Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me, a hora vem, em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. 22Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos; porque a salvação vem dos judeus. 23Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. 24Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade. 25Replicou-lhe a mulher: Eu sei que vem o Messias (que se chama o Cristo); quando ele vier há de nos anunciar todas as coisas. 26Disse-lhe Jesus: Eu o sou, eu que falo contigo.

Na verdade, se esta cena tão íntima não fosse descrita por um dos intervenientes seria uma pura invenção romanesca do autor dos evangelhos de S. João na medida em que não estamos à espera que Jesus não tivesse sabido comportar-se como um cavalheiro nada revelando deste encontro. Em boa verdade, também estes se comportaram decorosamente na medida em que o evangelista refere:

João. 4: 27E nisto vieram os seus discípulos, e se admiravam de que estivesse falando com uma mulher; todavia nenhum lhe perguntou: Que é que procuras? ou: Por que falas com ela? 28Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, foi ã cidade e disse àqueles homens: 29Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto eu tenho feito; será este, porventura, o Cristo? 30Saíram, pois, da cidade e vinham ter com ele. 31Entrementes os seus discípulos lhe rogavam, dizendo: Rabi, come. 32Ele, porém, respondeu: Uma comida tenho para comer que vós não conheceis.

Sendo o assim, manda a lógica elementar que foi a própria Samaritana quem revelou esta intimidade reforçando-se assim a tese de que foi Maria Madalena quem inspirou o 4º evangelho.

 

Ver: EVANGELHO DE JOÃO SEGUNDO SANTA MADALENA (***)

 

Obviamente que o relato, feito muito a posteriore, acabou vestido de metáforas místicas mas...não é mesmo verdade que o amor divino acaba por ter as melhores metáforas nas vivências do amor humano? Uma coisa espantosa é que Jesus se revela nesta cena não só como um amante envolvente como, sobretudo, manifesta uma ironia empática de fazer inveja aos maiores galãs das nossas cantareiras!

João. 4: 33Então os discípulos diziam uns aos outros: Acaso alguém lhe trouxe de comer? 34Disse-lhes Jesus: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e completar a sua obra. 35Não dizeis vós: Ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Ora, eu vos digo: levantai os vossos olhos, e vede os campos, que já estão brancos para a ceifa. 36Quem ceifa já está recebendo recompensa e ajuntando fruto para a vida eterna; para que o que semeia e o que ceifa juntamente se regozijem. 37Porque nisto é verdadeiro o ditado: Um é o que semeia, e outro o que ceifa. 38Eu vos enviei a ceifar onde não trabalhaste; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho.

De forma sibilina Jesus segreda aos discípulos numa retórica de anorético apaixonado que estava ali numa alta missão de estado. Que uns semeiem e outros colham seria possivelmente uma indirecta a respeito da sua decisão em ir casar com uma mulher que já tinha sido semeada antes pelo seu primo João Baptista (casando com ela).

Entretanto, a moralidade sexual iria progressivamente ser alterada ainda antes do advento do Cristianismo por razões que se prendem mais com a própria essência da moral, enquanto código de boa conduta social, do que com a evolução das teorias religiosas. É certo que o cristianismo trazia a novidade da intencionalidade inerente ao dolo, estendendo o adultério ao próprio desejo da mulher do próximo, coisa desconhecida da tradição judaica, mas o Cristo evangélico nada nos diz a respeito da sexualidade com mulheres que não fossem do próximo, nem da sexualidade ritual mutuamente consentida. Sabendo que nem sempre os bons pensamentos acompanham os defeitos herdados, nem os hábitos de educação, pois que bem prega frei Tomas (que o bem raramente e mal o faz!), podemos aceitar que Jesus já começava a pensar de forma puritana sem que tenhamos de admitir que teria tido uma vida angelical anacrónica e ao arrepio total dos hábitos sexuais vigentes no seu tempo. A ortodoxia sempre se recusou a ver o óbvio por mera cegueira histérica na sequência das ondas de puritanismo que se apoderou das Igrejas quando necessitaram de substituir os cultos dos imperadores e dos deuses sexualmente indignos por um deus assexuado parecido com um pescador de homens, homossexual...mas abstinente, como apenas João Baptista teria sido.

Lucas: 7 33Porquanto veio João, o Batista, não comendo pão nem bebendo vinho, e dizeis: Tem demônio; 34veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizeis: Eis aí um comilão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores. 35Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos.

Jesus, a quem os fariseus acusavam de todas os hedonismos dionisíacos, seria, antes de ter sido submetido à sublimação deificante das igrejas, um boémio anarquizante, amante da boa mesa, que, no estilo da época helenística, era também uma boa cama! No entanto, nem Jesus se livrou, como vimos, da fama de libertino nem os seus seguidores tiveram outra, mesmo que exagerada, entre os romanos dos tempos mais precoces do cristianismo. Os ágapes dos primeiros cristãos estariam nesta tradição.

The baker who had bought me was a decent enough fellow, but was unhappily married. His wife was the wickedest woman I met in all my travels and treated him so badly that I used often to groan in secret pity for him. There was no single vice which she did not possess: her heart was a regular cesspool into which every sort of filthy sewer emptied. She was malicious, cruel, spiteful, lecherous, drunken, selfish, obstinate, as mean in her petty thefts as she was wasteful in her grand orgies, and an enemy of all that was honest and clean. She also professed perfect scorn for the Immortals and rejected all true religion in favor of a fantastic and blasphemous cult of an ‘Only God.’ In his honor she practiced various absurd ceremonies which gave her the excuse of getting drunk quite early in the day and playing the whore at all hours; most people, including her husband, were quite deceived by her. This bitch took an unexplained dislike to me and persecuted me with amazing rancor. She used to call out from her bed before dawn: ‘Hey, men, lead out the new ass and harness him to the mill!’ And as soon as she was up she made them give me an almighty beating under her personal supervision and at breakfast time, when we were unharnessed, kept me from the manger until long after my companions had been fed and rested. Her cruelty sharpened my natural curiosity about her goings-on. I knew that a young fellow was always visiting her bedroom and I longed to catch a glimpse of his features; unfortunately, the blinkers that I wore for my work at the mill prevented this. But for them, I felt sure that I should have been able to catch the whore at her tricks. A nasty old woman acted as her confidante and go-between and the two were inseparable. As soon as breakfast was over they would drink flagons of untempered wine, as if for a bet, and their one topic of conversation was how to cheat the poor baker. Translated by Robert Graves, The Golden Ass (New York, 1951). Slightly altered.

Ou seja, a sociedade bem pensante do início do império praticava uma moral de vícios privado e de públicas virtudes começando a delinear-se o princípio maquiavélico da hipocrisia como lógica básica da ética política. Assim, a principal razão do puritanismo ocidental deriva do conservantismo hipócrita da sociedade bem pensante romana que se baseava num princípio intuitivo muito claro: Aos patrícios tudo seria permitido na vida privada da aristocracia desde que a mulher de César parecesse mais honesta do que realmente precisava de ser!

Pour l'opinion commune, l'Antiquité tardive (3 au 5e siècle) a marqué un tournant capital dans les conceptions et les pratiques de la sexualité en Occident. Après une période antique gréco-latine où la sexualité, le plaisir charne sont des valeurs positives et où règne une grande liberté sexuelle, une condamnation générale de la sexualité et une stricte réglementation de son exercice se mettent en place. Le principal agent de ce renversement, c'est le christianisme. Selon Paul Veyne et Michel Foucault, ce tournant existe bien mais il est antérieur au christianisme. Il daterait du Haut-Empire romain (1 au 2e siècle); et il existerait chez les Romains païens, bien avant la diffusion du christianisme, un”puritanisme de la virilité". ([2])

A licenciosidade dos escravos convidava ao vício e à ociosidade pelo que seria obviamente contrária aos interesses económicos dos latifundiários e qualquer permissividade para com as classes pobres urbanas que não pudesse ser controlada e confinada nas arenas dos teatros e dos circos só poderia ser fonte de conflitos sociais. Cícero foi um puritano retórico. Júlio César, o primeiro dos imperadores devassos de quem se dizia que “era tanto o homem de todas as romanas quanto a mulher de todos os romanos”, pretendia passar por um exemplo de públicas virtudes nunca tendo sido capaz de assumir publicamente o seu escandaloso caso de política privada com Cleópatra. Octávio, que nunca conseguiu por ordem nos deboches da sua própria família foi o verdadeiro fundador do puritanismo de estado de que o poeta romano da arte do amor, Ovídio, foi uma das suas primeiras vítimas! O suporte filosófico desta corrente puritana não derivava naturalmente da licenciosidade exemplar dos seus deuses, porque a indignidade sexual do paganismo era tão famosa já desde a alta antiguidade que iria acabar por sentenciar o seu fim na cultura do baixo-império às mãos dos herdeiros fraudulentos de Constantino. O puritanismo romano imperial era uma exigência moral intuída espontaneamente pelos filósofos estóicos de recente tradição platónica e racionalista como resposta aos problemas resultantes da promiscuidade nas cidades apinhadas de escravos e de estrangeiros desenraizados, adoradores de estranhos cultos orgiásticos de morte e ressurreição e por isso, sem temor aos deuses patrícios que, apesar de tudo, tinham alguma temperança na sua licenciosidade. De certo modo, os romanos que eram filhos duma loba e de Afrodite teriam com o tempo aprendido a superar o trauma de infância de serem filhos bastardos de etruscos, quem sabe, o resultado duma prostituição sagrada ao serviço da licenciosidade natural dos tarquíneos!

Os romanos haviam herdado algumas festividades arcaicas com cultos orgiásticos como as Lupercais mas que foram entrando em desuso progressivamente de tal modo que no final da república estariam limitadas aos poucos dias do ano do Carnaval.

The Divine Mother and her Consort/Savior Son is a strong theme in World Goddess Myth, making Virgin Mary/Mary Magdalen a likely composite. As noted on the Virgin page, the title of Virgin was often bestowed upon sexually active Goddesses. Sacred Temple Prostitutes were often called Virgins (D). In addition, children of The Sacred Marriage, a ritual union of a temple priestess and a king willing to die for his people, were often called”virgin born”or”divine children,”just as Christ was (C). As noted on the Virgin page, it is possible that Mother Mary was dedicated to a Goddess temple when she was a child. Perhaps Mother Mary was a temple priestess, thus making Jesus (or Yeshua) a divine child (E). There is even stronger evidence that Mary Magdalen was a temple priestess, so perhaps this is the true connection between Mother Mary and Mary Magdalen.

 

Ver: UNÇÃO DE BETÂNIA (***)

 



[1] The Mysterious Disappearance of Jesus and the Origin of Christianity By: Dr. Ahmad Shafaat

[2] Jacques Le Goff  Directeur d'études à l'École des hautes études en sciences sociales,Le refus du plaisir.