quinta-feira, 14 de agosto de 2014

OS TRABALHOS DE HÉRCULES – 12º, CÉRBERO por Artur Felisberto.


Figura 1: Descida de Hércules aos infernos onde reinava o Enki, o Capricórnio e deus dum «Cabrão».

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Figura 2: Cabras montesas tricéfalas num selo acádico que bem poderia ser equivalente sumério de Cérbero.

Por alguma razão o 12º trabalho de Hércules corresponde ao signo zodiacal do Capricórnio, signo que esteve sempre ligado a Enki ou a Ishkur enquanto deuses dos infernos. O carácter multifacetado deste deus aparece relacionado com o mito do deus Janus e com certas figurações sumérias de quatro cabeças que o fazem deus dos quatro pontos cardeais do mundo!

O mito de Hércules é, de todos os mitos clássicos o que revela mais elementos próprios de arcaicos mitos solares. Desde logo a descida de Hércules ao inferno, tão comum aos mitos primaveris enquanto grande variante anual do sono quotidiano do sol-posto, constitui a contrapartida da mesma descida de Gilgameche aos infernos em busca da alma de Enkidu!

No caso do círculo de Hércules, a descida aos infernos processa-se durante o “12º Trabalho de Hércules” o que consistia em roubar a Hades o Cérbero, o cão que guardava “a boca do poço” e os portões do inferno!

Claro que descer aos infernos para roubar um cão, ainda que quimérico, só pode constituir uma motivação algo fútil pelo que se poderia inferir que o mito anda mal contado.

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Figura 3: Herakles and the Argonauts in the Underworld. Collection History: Said to have been found near Orvieto in 1880; acquired by the Louvre in 1883, as part of the Tyskiewicz Collection.

A twelfth labour imposed on Hercules was to bring Cerberus from Hades. Now this Cerberus had three heads of dogs, the tail of a dragon, and on his back the heads of all sorts of snakes. (...)

O único aspecto estranho destes mitos seria o carácter tricéfalo destes gigantes relacionados seguramente com as monstruosas quimeras da deusa mãe primordial, Tiamat, a geradora de todas as bestas da Natureza tão realmente mal conhecidas porque temidas quanto miticamente imaginadas.

(...) Ancient writers differ as to the number of Cerberus's heads. Hesiod assigned him fifty; Pindar raised the number to a hundred, a liberal estimate which was accepted by Tzetzes in one place and by Horace in another.Others reduced the number to three. Apollodorus apparently seeks to reconcile these contradictions, and he is followed as usual by Tzetzes, who, however, at the same time speaks of Cerberus as fifty-headed. -- Nota (1) do texto referido antes.(...)

Geryon < Ker-Yan < Ker-Jan(us) < *Kur-Kian.

Orthros < Tor-horos < *Kurcurish => Hercules.

Cérbero < ΚέρβεροςKerberos < Ker-pher-ush < *Kur-Kur-ish > Kerkulish

> Hercules, “o filho de deus” que transporta o sol, de monte em monte!

No entanto, o numero três, que já era miticamente sagrado em si mesmo, tornou-se pretexto de monstruosidade por mera contingência fonética.

Ker- > *Ter, foneticamente próximo do mesmo étimo do numero 3 < Tor-. De resto, a origem do nome dos três primeiros numerais pode ser antevista por estas proximidades semânticas!

1 = Unus < Anu, o deus supremo do céu!

2 = Duos < Dwos < Kiwe < Kiki, a Diva Mãe => Hebe (esposa ou mãe de Hércules?)

3 = Tres < Terish < Ishter < Ishkur, o «filho de deus» e Sr. do Kur.

Em conclusão, se fossemos tão peremptórios como o autor em referência não aceitaríamos qualquer tipo de paralelismos nestas diversas mitologias. Pelo menos parecem existir menos analogias fonéticas entre estes monstros de 3 cabeças e Cacos que, por outro lado, manifestam fortes similitudes fonéticas com o nome de Hércules. No entanto, é bom que não nos esqueçamos que na mítica de Lúcifer e dos deuses de transporte solar são frequentes as “quedas dos anjos da luz”, seguramente em relação com a percepção catastrófica dos eclipses, das erupções poluentes dos vulcões e, em situações mais banais, de encobrimento do sol pelas nuvens e outros fenómenos meteorológicos relacionados com os temporais e o mau tempo, tudo fenómenos que acabaram em conotação negativa o que justificaria a má fama de Cacos, e o desprezo pomposo e aburguesado dos mestres da época clássica, já pouco experimentados com as benesses fecundas dos temporais.

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Figura 4: Hermes acompanhando Hércules na sequestração de Cérbero nos infernos!

When Hercules was about to depart to fetch him, he went to Eumolpus at Eleusis, wishing to be initiated. However it was not then lawful for foreigners to be initiated: since he proposed to be initiated as the adoptive son of Pylius. But not being able to see the mysteries because he had not been cleansed of the slaughter of the centaurs, he was cleansed by Eumolpus and then initiated.

Independentemente do carácter monstruoso de Cérbero a verdade á que o cão era o animal de Gula, a deusa da cura suméria e já por isso relacionada com os infernos porque os deuses das doenças eram demónios. Hecate era seguida por uma matilha de cães semi-selvagens. Odin, que seria uma evolução de Dionísio (e por isso um deus com algo de infernal como Negral) era sempre seguido por dois lobos vorazes. Anubis era um canídeo apolíneo e o cão branco era dedicado a Apolo Liceu. No entanto nesta série de deuses conotados com o cão não se descortina a razão de ser de Cérbero.

Na mitologia grega, Cérbero ou Cerberus (em grego, ΚέρβεροςKerberos = "demónio do poço") era um monstruoso cão de múltiplas cabeças e pescoço que guardava a entrada do inferno (mundo inferior), o reino subterrâneo dos mortos, deixando as almas entrarem, mas jamais saírem e despedaçando os mortais que por lá se aventurassem. (...)

Seu nome, Cérbero, vem da palavra Kroboros, que significa comedor de carne. Como castigo Cérbero comia o corpo dos condenados.

Como verificamos os gregos “andavam à nora” em torno da etimologia de Cérbero que ora seria o demónio do poço de mina que ficaria à entrada dos infernos como monstro devorador de condenados à morte como a deusa mãe Egípcia Amut. Na verdade, o conceito subjacente relacionado como o genérico de “mãezinha” da vida e da morte, que em grego era Maia, só poderia ser a Deusa cretense da morte súbita, Ker. Então porque razão temos este fonema repetido duas vezes na forma *Ker-Ker e que já antes referimos como sendo uma referência às duas colunas de Hércules? Porque estamos perante os dois leões Aker que guardavam as portas dos infernos das cavernas da deusa mãe Cibele e que na assíria eram os dois Kerubins que guardavam as portas do paraíso judeu. A confusão resultou quando os gregos transformaram os leões em dois lobos e depois em dois cases monstruosos. Suspeitamos agora que o nome de Hércules tem mais a ver dom o nome de Cérbero. Na verdade, inicialmente Hércules seria o mesmo mitema de que derivou Hércules, o poderoso e forte guardião das colunas de Hércules das montanhas da Aurora.

 

INICIAÇÃO DE HÉRCULES

A iniciação de Hércules nos mistérios Eleusinos parece fornecer-nos uma inesperada ajuda semântica a respeito das verdadeiras intenções do último trabalho deste divino herói.

According to Diodorus, the rites were performed on this occasion by Musaeus, son of Orpheus.

Museus < Am-ash-iash = Ash-Ama-ash => Shamash. Quanto a Orfeu é quase seguro que este semideus teria sido uma personagem lendária engalanada com a retórica duma versão do mito de Damuz enquanto manifestação crepuscular de Enki!

Elsewhere the same writer says that Demeter instituted the lesser Eleusinian mysteries in honour of Herakles for the purpose of purifying him after his slaughter of the centaurs. The statement that Pylius acted as adoptive father to Herakles at his initiation is repeated by Plut. Thes. 33.

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Figura 5: Iniciação de Hércules.

Se houve quem se tenha atrevido a acreditar que Demiter instituiu os «Mistérios de Eleusis» em honra de Hércules, tendo tido Pilius (< Phyryus < Kyrius < Ishkur) como padrinho, depois de se ter afirmado que este heróis tinha sido neófito dos cultos órficos ficamos com a suspeita de que não haveria senão variantes menores neste ritos de passagem juvenil e iniciação militar a que assim, e afinal, Hércules presidiria de pleno direito. Por ser reconhecido como valente guerreiro e por ser, ou ter tido a sorte de ter tido o nome e o percurso de vida do sol zodiacal. O deus Hércules arcaico foi então um epíteto de Damuz ainda que o Hércules lendário não tenha passado de uma verdadeira anedota de caserna.

And having come to Taenarum in Laconia, where is the mouth of the descent to Hades, he descended through it. But when the souls saw him, they fled, save Meleager and the Gorgon Medusa. And Hercules drew his sword against the Gorgon, as if she were alive, but he learned from Hermes that she was an empty phantom. And being come near to the gates of Hades he found Theseus and Pirithous, him who wooed Persephone in wedlock and was therefore bound fast. (...) When Hercules asked Pluto for Cerberus, Pluto ordered him to take the animal provided he mastered him without the use of the weapons which he carried. Hercules found him at the gates of Acheron, and, cased in his cuirass and covered by the lion's skin, he flung his arms round the head of the brute, and though the dragon in its tail bit him, he never relaxed his grip and pressure till it yielded. So he carried it off and ascended through Troezen. But Demeter turned Ascalaphus into a short-eared owl, and Hercules, after showing Cerberus to Eurystheus, carried him back to Hades. -- Apollodorus, Library and Epitome (ed. Sir James George Frazer)

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Figura 6: Hércules, Eubouleus / Eumolpos, Triptolemos e Dionísio. Afrodite e Eros, Deméter e Pluto, Hecate e (talvez) Perséfone.

A typical illustration of this situation is the scene, named "The initiation of Herakles in Eleusis" on the red-figure pelike (a Greek vase) from Kerch in the collection of Hermitage in St. Petersburg, Russia (St 1792). There is no agreement among scholars about the identification of some figures, which are explained in many different ways. I want to summarize the various ideas and to present my opinion. I believe that the narrative scene on the initiation of Herakles (Hercules) in Eleusis scene was created with some higher purpose --to give a philosophical message to people. I shall try to decipher the painter's logical plan of this composition and on this base to identify the participants and relation among them.

Ascalaphus < Esculápio, o que foi transformado em mocho por Deméter, permitindo assim suspeitar que esta foi Atena, era filho de Ishkur/Apolo e pode ter entrado inicialmente nesta história pela mão do próprio pai que teria sido seguramente o mesmo que Hércules. Quanto ao facto de afinal Cérbero ter voltado aos infernos tal só nos confirma o carácter circular destes mitos tão romanesco como as modernas histórias inverosímeis de ficção científica em que as provas do miraculoso se perdem no meio dum súbito azar de fantasia ou tudo volta ao normal como no acordar dum sonho. De facto, os mistérios de morte e ressurreição devem ter repousado em experiências xamânicas de onirismo místico e intoxicação por drogas alucinogénios.

The physical character of the myth is apparent even in the description of Virgil, which reads wonderfully like a Vedic hymn in celebration of the exploits of Indra. But when we turn to the Veda itself, we find the correctness of the interpretation demonstrated again and again, with inexhaustible prodigality of evidence. Here we encounter again the three-headed Orthros under the identical title of Vritra, "he who shrouds or envelops," called also Cushna, "he who parches," Pani, "the robber," and Ahi, "the strangler." In many hymns of the Rig-Veda the story is told over and over, like a musical theme arranged with variations. [1]

Vritra < Wurita (< *Pher-Uto, lit. «o que transporta o filho do céu, o sol») < *Kur-Kika > *Volkia + An > Volkian > Volcano!

Cushna < Kau-ish-An, lit, «o que lança o fogo da terra para o céu»?!

Pan < Pani < Panih < Kanish.

Ahi < Hahi < Kaki > Kakus.

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Figura 7: Hércules & Cerberus.

Além do colorido expressionista deste vaso grego há que reter a manifesta relação deste mito com antigos cultos dos mortos onde a proliferação de imagens de cobras, mais do que paradigmática, é a mais clarividente das metáforas sobre a importância atribuída a este réptil no seu importante papel de «transportador de almas». Sendo assim, o carácter monstruoso de Cérbero só pode ter resultado duma incompreensão tardia do mito original.

Na verdade, os mestres da erudição lidam fundamentalmente com realidades virtuais. Como raramente suportam a indignidade da falta de dogmática certeza, quando não sabem inventam e quando não gostam do que lhes parece mal desvalorizam o que não sabem bem, tão mais frequentemente com sentido conotativo inverso do original quanto maior for a incómoda grandeza da ignorância sobre o tema. O certo é que entre Cérbero & Hércules deve ter existido uma relação positiva original mais relevante do que a sua proximidade etimológica.

Na verdade, etimologicamente falando Cérbero deve ter sido o animal de transporte da alma de Hércules, o «anjo da guarda» do sol-posto, depois de ter sido em vida o seu cão de guarda pessoal!

En opinión de Pausanias, Hércules fue el último de los cabiros (ver nota 17). [2]

 

Ver: CIBEL (***) & LUCIFER (***)

 

The Guardians = The three-headed wolf that helps Veles guard his herds and the wonder plant that grows with sweet and nourishing seeds.[3]



[1] Myths and Myth-Makers: Old Tales and Superstitions Interpreted by Comparative Mythology, by John Fiske.Section II

[2] SACRALIDADRQUETÍPICAY TRADICIONAL DEL MUNDO ANTIGUO, MONCAYO, CELTÍBEROS Y MITOS VARIOS, Ángel Almazán de Gracia.

[3] Tales from Slavic Myths,. Wauconda, IL. USA. 2001, © 2001 BOLCHAZY-CARDUCCI, Publishers, Inc.

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