Figura 1: Apoteose de Hércules.
Seguiram, então, viagem para Tráquis onde vivia um amigo de Hércules. Quando chegaram ao rio Eveno, encontraram o centauro Nesso, que em troca de uma moeda atravessava os viajantes pelo rio.
Na verdade, se a história romanesca da morte de Sanção não é igual ao episódio mítico da morte de Hércules não deixa de ser possível encontrar entre ambos um elo semântico comum:
Claro que nesta parte do mito existe uma óbvia interferência com o mito de Caronte, o barqueiro dos mortos que exigia também um óbolo como preço de transporte do rio do «esquecimento» com que o evanescente Eveno se parece! Por isso, e porque Hércules terá pensado numa cilada de morte é que tentaram a travessia a nado do rio Eveno!
Hércules dispensou a ajuda, mas o centauro transportou Dejanira em seus ombros. No meio da travessia, o centauro, enlouquecido pela beleza da mulher, ousou tocá-la de maneira impúdica. Hércules ouviu os gritos da sua mulher, e com uma flecha acertou nas costas de Nesso.
Esta foi talvez a mais trágica demonstração de sua ira pois, o centauro antes de morrer disse à Dejanira que guardasse seu sangue e o usasse em um encantamento para manter para sempre o amor de Hércules. E assim Dejanira teceu uma bela camisa que banhou com o sangue do centauro morto, de maneira a ficar completamente uniforme. No dia em que Hércules iria realizar um sacrifício aos deuses em agradecimento à uma vitória, Dejanira enviou-lhe o presente. Hércules vestiu a camisa e foi tomado de dores terríveis e feridas incuráveis. Havia chegado o fim do grande guerreiro. Ao ver o que aconteceu com seu esposo, Dejanira, tomada de remorso, suicidou-se.
A improbabilidade do mito não passa apenas pelo facto de ter sido quase impossível aproveitar o sangue do centauro no meio do rio como sobretudo pelo facto de Dejanira ter ali logo tecido uma bela camisa para embeber o sangue do centauro de forma uniforme. E aparentemente seria daqui que derivaria o nome de Dejanira.
Figura 2: Hércules e o centauro Nesso.
Dejanira < Δῃάνειρα; Deïaneira, “a perdição dos homens” ou “a que foi a causa da destruição do marido” < Δῃάνειρα < Dean-eira, lit. “a que segue as artes e práticas de Diana / Artemisa”.
Na verdade, parece que esta figura mítica semi-lendária parece dever a sua sobrevivência aos favores de Artemisa.
Deyanira era la hija de Altea y Eneo (rey de Calidón), Dioniso o Dexámeno. Cuando su hermano Meleagro murió, todas sus hermanas lamentaron su muerte en su tumba. Artemisa, enfadada, las tocó con su vara convirtiéndolas en pájaros, con la excepción de Deyanira, que pudieron retener su forma humana gracias a la intervención de Dioniso.
O mito refere a intervenção de Dionísio mas o mais provável é que Dejanira fosse uma devota de Diana / Artemisa porque, apesar de ser de beleza tão notável que Hércules e Aquelôo competiram para se casar com ela, Dejanira, porém não era dada a actividades feminis e passivas. "dirigia uma quadriga e praticava artes marciais", segundo notava Apolodorus (Biblioteca e Epítome, livro i, 8:1), e não quis nada com o pretendente que podia tomar a forma de uma serpente salpicada, de um homem touro, ou mesmo de um touro.
Figura 3: Ao 3º dia subiu ao céu onde esta (não, sentado, mas em pé) à direita do pai!
Robert Graves interpretou esta associação de Dejanira com a guerra como uma relação com as deusas pré-olímpica da guerra, em que a deusa Atena era uma noiva de orgiástica em muitos matrimónios sagrados locais para reis que poderiam vir a ser sacrificados em sacrifícios humanos ou na guerra entre rivais, como no caso de Hércules, o maior herói do emergente mundo olímpico Clássico, teve que derrotar o anterior noivo / marido de Dejanira, o deus rio Aquelôo, para a ganhar como sua noiva.
Ora bem, se o nome de Dejanira não é explicitamente aparentado com o de Atena com ele tem relações míticas que pelo mito referido por Robert Graves que pel similitude do seu nome com a deusa lusitana que teria as mesmas funções de Atena.
Tanira – Deusa da beleza e das artes muito venerada entre as Lusitanas das classes mais favorecidas.
Tanira < Djanira < Thianeira > Atena-ura, lit. “a aguerrida Atena”.
Ver HERMOGENES, & O CULTO DOS DEUSES ESTAFETAS. (***)
Ambos foram vítimas da traição duma mulher, e nem sequer valeria a pena investigar qual dos dois episódios é mais suspeito de infidelidade!
HÉRCULES & BUSIRIS
Assim, é possível a suspeita de que o ciclo romanesco de Hércules encobre a realidade lendária dum Heróico «filho de deus», ainda mais romanceada do que a de Jesus Cristo, na linha duma tradição xamânica antiquíssima de festas guerreiras de iniciação juvenil e de «ritos de passagem» primaveris, selváticos e sangrentos, com misteriosos cultos de morte e ressurreição solar onde seriam feitos «sacrifícios humanos». No ciclo de Hércules podemos suspeitar duma pálida reminiscência a estes «sacrifícios humanos» no episódio de Hércules & Busiris.
Ver: «A MORTE SACRIFÍCIAL DO PRIMOGÉNITO DE DEUS» (***)
AO 3º DIA SUBIU AO CÉU
Figura 4: Atena, a deusa dos infernos e do triunfo da aurora sobre a morte solar promove participa na ressurreição pascoal de Hércules.
Hércules pediu que fosse levado ao monte Eta para cumprir o que havia sido dito por um oráculo, que ele terminaria seus dias naquele monte. Pediu aos seus amigos que fizessem uma pira e queimassem o seu corpo mesmo antes de morrer.
A pira foi preparada, e sobre ela deitou-se o herói. Enquanto as chamas ardiam, raios de sol brilharam forte no céu para fortalecer as labaredas, e uma nuvem de fumaça cobriu a pira, enquanto trovões soavam no céu. Quando seus companheiros buscaram os restos do herói nas cinzas da pira, nada foi encontrado, o que serviu como prova que seu corpo havia ascendido ao Olimpo.
E lá no alto, Hércules foi aceito como um dos imortais, e a própria Hera finalmente aceitou a sua presença e apaziguou a sua ira. Héracles recebeu a mão da deusa Hebe, da eterna juventude, como sua esposa.
A figuração deste detalhe duma tampa de caixa de toucador tem todo o aspecto de ser uma espécie de colagem retórica de estereótipos. Uma noiva ataviada como rainha oriental e um guerreiro selvático nu não fazem seguramente um conjunto muito congruente. A verdade é que esta figura de Hebe corresponderá menos a uma representação tradicional desta deusa, quase sempre uma aguadeira alada como Niquê, e mais ao estereótipo duma noiva dum divino herogamos, Ishtar, a branca lua, esposa dum rúbeo sol!
Figura 5: Casamento de Hércules & Hebe. |
Este casamento pos mortem de Hércules com Hebe é seguramente uma das virtualidades míticas mais estranhas do cíclo de Hércules.
Figura 6: Hebe & Hércules em celestial viagem de núpcias.
Como todos os mortais Hércules só foi imortal depois de morto. Assim, e deste modo, poderia pensar-se que a imortalidade deste pobre e esforçado mortal resultou de dote de casamento com a deusa da eterna juventude, regalia que estaria reservada a todos os heróis mortos em combate.
Hebe < Kewe < Kiki => Isis.
Kiwe + El > Kiwel > Cibel.
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