segunda-feira, 7 de setembro de 2009

DEUSAS DO MAR I, por Artur Felisberto

 

DEUSAS DO MAR I


ANFITRITE

Figura 1: Teseu, Atena, Anfitrite e Tritão.
Para provar que a esposa do deus dos mares teve relações funcionais de copeira próprias das potinijas, habilitada na produção de “poções mágicas”, podemos servir-nos das provas que se seguem:
Amphicty´onis (Amphiktuonis), um epíteto de Deméter, derivado de Anthela, cidade onde ela foi adorada sobe este nome porque era o lugar de encontro da anfictionia de Termópilas e porque na abertura de todas as reuniões eram oferecidos sacrifícios a Deméter Anfictiones. (Herod. vii. 200; Strab. ix. pág. 429.)
La Anfictionía (del αμφικτιονία, a su vez derivado de αμφί (ambos) + κτίζω (construir), por lo que etimológicamente significa fundación conjunta) se trataba de una liga religiosa que agrupaba 12 pueblos (no ciudades), casi todos de la Grecia central. Tenía sus reuniones en el santuario de Deméter en Antela, cerca de las Termópilas.
Como estas reuniões tinham, de facto, a Deusa mãe por anfitriã mitógrafos posteriores criaram a alegoria da deusa Anfictionis como deusa da fraternidade que presidia ao rito de oferecer aos visitantes uma libação de vinho, costume de boa hospitalidade que permaneceu como “porto de honra” nos costumes rurais até ao presente.
Na mitologia grega, Anfitrite é filha da ninfa Dóris e de Nereu, portanto uma Nereiade. É esposa de Posídon e deusa dos mares. A princípio, se recusou a unir-se ao deus, se escondendo nas profundezas dos oceanos, em um lugar conhecido apenas por sua mãe. Acabou cedendo às investidas de Posídon, se tornando rainha dos oceanos. É representada com um tridente, símbolo de sua soberania sobre os mares. Na mitologia romana, é conhecida como Salácia.

Ver: DAGON II / SALACIA (***)

Claro que só por distracção racional, fanatismo mítico ou purismo linguístico é que estas duas deusas não foram entendidas pelos eruditos como sendo a mesma entidade mítica.
Amphitryon (grego Ἀμφιτρύων, gen.: Ἀμφιτρύωνος; interpretado normalmente como aquele que tanto apoia como incomoda ambos os lados) era na mitologia grega, o filho de Alcaeus, rei de Tiryns em Argolis.
Enquanto Anfitrião estava na guerra de Tebas, Zeus tomou a sua forma para deitar-se com Alcmena e Hermes tomou a forma de seu escravo, Sósia, para montar guarda no portão. Uma grande confusão foi criada, pois Anfitrião duvidou da fidelidade da esposa. No fim, tudo foi esclarecido por Zeus, e Anfitrião ficou contente por ser marido de uma escolhida do deus. Daquela noite de amor nasceu o semideus Hércules. A partir daí, o termo anfitrião passou a ter o sentido de "aquele que recebe em casa".
Fosse porque a lenda assim o inventou ou porque assim parecia ter que acontecer por confusão do termo Ἀμφι-τρ-ύων com o da αμφι-κτι-ονία, a verdade é que a visita importuna que ao terceiro dia aborrece passou a ser o que sabe receber principescamente os seus hóspedes como se fossem deuses a quem, como os esquimós, ofereceria a própria esposa se não fosse indecoroso e uma prerrogativa divina.
«Anfitrião» • (< Lat. Amphítryone < Amphitrýon), s. m. aquele que paga e dirige um jantar sumptuoso; • aquele que recebe pessoas em sua casa e oferece um jantar ou banquete lauto.
*Anphitrionis, de que deriva o termo Anfitrião, pai de Hércules, poderia ser assim uma evolução étmica de Deméter Anfictiones, passando por Anfitrite bastando para tanto aceitar que Te(ia) seria de Tanit, esposa de Tunis, a cobra neptunina dos mares da talassocracia cretense.
                             Bast < Kiash + Ana > Than-it > Tanit.
Te(ia) < Teja < Thiash < Kiash + Ana > Kianish => -conis
Amphi-| Ctionis < Ct®ionis < Triconis ó Anphitri + conis º Anphitri-te.
A relação de Anfitrite com Hércules não se ficaria por Amphictionis mas passaria ainda pelo facto de Hércules póstumo ter casado no céu com Hebe, a copeira dos deuses, que seria afinal uma potinija como era Anfitrite…e Deméter Anfictiones.
Ambos os nomes apelam para uma natureza anfíbia, metade peixe metade humana, que, de facto, caracteriza a representação pictográfica da esposa de Poseidon. Claro que o radical *Amphi- não consegue esconder a sua origem a partir de Enki, tal como o sufixo *trite- apela mais para Istar e menos para Tritão, monstro que, em rigor, seria meio golfinho e meio touro como na representação alegórica da figura seguinte.
Figura 2: Anfitrite apela para Tritão, uma variante do nome de Poseidon baseada no símbolo da sua arma de pesca, o tridente, que a mitologia também acabou por individualizar num novo deus autónomo, companheiro de Poseidon, e também metade peixe como Anfitrite.
The Egyptian name for the Sign of Aquarius is Phritithi. Tirgata - Fish Goddess of Syria.
               Phritithi < Kritiki < Kur-kika > Tur-Caca > Tirgata.
=> An + Phritithi = An-Phritithi > Anfitrite!
Anfitrite seria então apenas a deusa do Aquário, porque era uma potinija e, de facto, deusa das águas do mar. Pois bem, não será por mero acaso que Fritite era o nome do signo do aquário no Egipto e Tirgata uma sereia síria, possivelmente a fêmea dum «peixe-gato», filha / esposa de Dagon! De facto, os peixes gatos além de se parecerem com os gatos de Bast, nome derivado do núcleo semântico das deusas do fogo e das bebidas espirituosas, derivadas de *Kiast, eram peixes venenos importantes para o fabrico de poções mágicas.[1]
Se os peixes gatos eram ou não frequentes nas águas mediterrânicas dos tempos minóicos eis algo que caberá à arqueologia do futuro confirmar! A verdade, porém é que tudo leva a crer que, pelo menos em relação a esta deusa, Heródoto tinha razão ao pensar que os deuses gregos teriam vindo do Egipto, ou, o que será mais consentâneo com a lógica dos mais recentes dados históricos, pelo menos de um antepassado comum que teria sido o império minóico.
Ainda no Egipto, a deusa do pote das águas era também a deusa da noite, ou seja Nut, esposa de Gebo, que tudo indica seria Caco e, enquanto senhor da terra, uma forma de Enki, que no Egipto era Nuno, o deus do abismo, tão criador e primordial quanto Ptah.
Nuno = Ne (Ptha) Nu > Neptuno º Poseidon, marido de Anfitrite, a Posidónia ó Neptunia < *Neputana = Newu- | Tan º Taurish < Taret |
> Nebo-Trit ó Anfitrite.
Ora, coincidência comum nestas análises etimológicas a respeito de coisas arcaicas, no Egipto udepu significava copeiro. Uma derivação por transposição de sílabas em repetição de nome seria:
                       < (U)-Thepu < Hewu > Hebe?
Egipt. udepu = uthe-| pu … uthe | -pu ó Ital. puto ó *Pot.
Nehalennia = (Gaul) Goddess of the sea.
Nehalennia < Nekarannia < Enkar Anina < Enkur-Inana.
                                             > *Nepharanina > *Nephrona?

ANFITRITE & HERA

Será possível relacionar Anfitrite com Hera em conformidade com a possibilidade de que em tempos recuados Poseidon e Zeus seriam a mesma entidade divina soberana?
Asherah (< Ash Hera < Ash Kera < Ash Kaura,) Syrian Goddess of the Sea and mother of the gods. She is El's loving consort and is protective of her seventy children who may also be known as the gracious gods, to whom she is both mother and nursemaid. Her sons, unlike Baal initially, all have godly courts. She frequents the ocean shore. In the Syrian city of Qatra, she was considered Baal-Hadad's consort.
Asherah, teria a variante de *Ash-Hera, a deusa Hera do poder destruidor do fogo e da guerra.
Kotharat (was thought to be Kathirat) 'skillful' They are a group of goddesses associated with conception and childbirth. '...The swallow-like daughters of the crescent moon.'
Então, sendo esposa de El ( que era Anu antes de vir a ser Enki, seria virtualmente possível que:
               *Kertu < Hera-ash = *Ash-Hera.
Enki + | *Kertu < Ker-at > Therat > | Amphi-trat > Anphitrite.
                                           > Hel-at > Elat.

Ver: TUNIS (***) & El (***) & HERA (***)

Seascapes, whether realistic or symbolic, held a place of choice in the repertory of North African mosaicists during the entire Roman Period. This panel, decorating the floor of a reception hall in a rich villa, presents the triumph of the sea god Neptune and his wife Amphitrite, standing on a chariot drawn by four sea horses, set against a watery ground teeming with fish. A great veil held aloft by putti underscores the majesty of the divine couple.
Figura 3: Triumph of Neptune and Amphitrite, Constantine (Algeria).
Os putos alados que rodeiam Anfitrite são quase os mesmos que costumam rodear Afrodite e é quase um plágio de uma representação do rapto de Europa

Ver: EUROPA (***)

Amphitrite goddess of the sea and wife of Poseidon. He chose her to be his wife from among her sisters as they were performing a ritual dance. She refused him and fled. Poseidon sent a dolphin after her and it took her back. After he married her, he rewarded the dolphin by making it a constellation and placing it in the heavens."
Claro que Anfitrite foi Posideja e são variantes óbvias da mesma «deusa do mar». Ora, numa talassocracia com a importância da cretense uma divindade marítima seria a deusa mais venerada, ou seja, a própria «deusas das cobras» cretense que era a mesma Deusa Mãe primordial, telúrica e titânica, que veio a ser a esposa de Poseidon/Neptuno.

ANFITRITE, UM TRAVA LÍNGUAS DO NOME DE AFRODITE?

E, até aqui tudo bem! Mas, em que medida têm estes factos alguma coisa a ver com Afrodite? Muito! Desde a deusa asiática Istar/Astarte à deusa equivalente etrusca Turan, todas as deusas do amor são etimologicamente taurinas, esposas do deus do fogo e relacionadas com o deus dos abismos oceânicos, Enki. Sendo assim, nada obsta a que em determinada altura Anfitrite começasse a ter uma variante continental de nome ligeiramente alterado e exclusivamente relacionada com as lides amorosas.
Anfitrite > Amphi-t(au)rite > A(n)ph (Thôr) ite > Aphrô Theite >
Afrodite.[2] => Afrodite = Anfitrite.
Anthretju < An-ther-Ki-Chu < An-tar-kiku > «Antártico».
                                              > Anphi-Tri-kehi > Anfitrite.
Anthretju = war-goddess mentioned in a treaty between the Hittites and Egypt. She seems synonymous with Anat/ Antu.
Como se vê, o aspecto mais interessante desta derivação reside no fenómeno da rotação aparente do étimo intermédio (-Thôr- > -roth-) que se cola ao anterior e ao seguinte contribuindo para a formação de dois novos semantemas (aphro, espuma e theite, deidade) a partir dos vários iniciais. Porém, tal rotação é meramente aparente e resultado de ressonância fonética. De facto,
Anfitrite <= An-Ki-Kyr-Ke < *An Kur Ki-ke => Afrodite.
... ou seja: Afrodite foi outrora casada com o deus dos mares da talassocracia cretense e teve então o nome de Anfitrite. A desgraça da catástrofe apocalíptica da explosão de Santorini terá sido a causa do trauma sócio-cultural que motivou a sisão mítica que originou as duas deusas, fenómeno implícito também no «mito das gorgónias» que transformou a deusa mãe Anfitrite na maléfica deusa mãe com o nome de Medusa.
Porém, o nome de Afrodite pode ter sido:
Aphrodite < Aphridot < Aphurpot < Kaphurat < Kaphur kiath.

Afrodite
< An Kar Kika  

An(u)

Kur

Ki
Ki
Anfitrite
< Anki Karka   
< Anki Kar-ki
An(u)
Ki
Kur


Ki
Artemisa
< Kar kime Kika
< kime Kar-kika
(An/me)
Ki
Kur

Ki
Ki
Neverita
< Nepher-at
< An-Pher-Ish
An(u)

Kur

Ki
Ki
Proserpina
< Kar kar Kian
< Anki Kar kar
An(u)
Ki
Kur
Kar


Perséfone
< Ker-Ki-kian
< Anki Kar-ki
An(u)
Ki
Kur


Ki
Deusa Mãe


An(u)
Ki
Kur

Ki



Ou
An(u)

Kur

Ki
Ki

Fica assim a saber-se que é o radical Aphor- o componente nuclear do nome desta deusa. Que este radical deriva de *Kafura constituindo a origem taurina e ofídia do nome das deusas do amor venal. Uma deusa do amor que parece ter todos estes étimos é a tibetana Brag-srin-mo.
Brag-srin-mo < | Wrag < Phraki < *Kiphur ó Aphor- | -Sar < Kaur < Kur | -Anu-Ma.
Brag-srin-mo = Tibetan goddess of Fertility.
Em conclusão, Afrodite, Anfitrite & Perséfone parecem derivar todas duma mesma Deusa Mãe arcaica, que muito seguramente se chamaria *An-Kur-Kika e que viria a ser, por passagem pela civilização minóica, a Medusa Gorgona. O quadro manifestaria uma relação quase perfeita, no pressuposto fácil de aceitar, de que Kur º Enki e Kika º *Kima.
Tal facto levantaria a suspeita perturbadora de me sumério não ser afinal um termo imotivado primordial mas, tal como eventualmente o étimo primordial Ama, lit. «mãe» de Enki, o deus da sabedoria, o «logos» criador de todas as coisas e por isso legitimamente o deus que ateou o fogo da linguagem com que se nomeiam e escrevem as tábuas do destino! Em qualquer dos casos ficamos assim a saber que em Creta o nome da Deusa Mãe andou associado a um arcaico deus dos oceanos, Enki, e dai o seu epíteto solene *An-Kur-kiki, a esposa do Enki-Kur! De resto, se o radical An não era senão um radical relativo a «senhora do céu» ou seja designativo genérico de entidade divina, do nome de Afrodite destaca-se *Kur-kiki como constituindo a porção nuclear do nome da deusa do amor grego! Ora, desta raiz *Kur-kiki podemos derivar o nome Prithivî, que significa terra em védico.
*Kur-kiki > Phir kiwi > Prithivî.
Quer isto dizer que Afrodite foi a evolução natural da doce e carinhosa mãe do céu e Senhora de toda a terra!
Amfitrith
Amphitritê
The third one who encircles (the sea)???
'Alosudnh
Halosydnê
Sea-Born
Dizer que Anfitrite seria a terceira que, com Tetis/Tiamat, a primeira Deusa Mãe, Afrodite, a segunda, filha da Deusa Mãe primordial e que por isso teria virtualmente por nome *Afrodicha, fariam o trio das Trívias eternas não é senão um outro nível ideográfico de leitura semântica dos nomes mitológicos. Outra leitura seria a de que se tratava de uma *tarisha (= odalisca) de Enki.
Se Anfitrite foi também nascida (da espuma) do mar como Afrodite tal reforça, desde logo, a suspeita de que estamos perante duas deusas sobrepostas ou pelo menos com um mesmo culto original.
De facto, o nome de deusa mais parecido com o de Afrodite é Anfitrite.
Porém, na escassa tradição micénica PO-SI-DA-E-JA é que era a esposa de Poseidon (<= Poteidan E(n)kia = Enkia de Poseidon)! Porém, Posideja reporta-se etmicamente ao deus sumério Enki das águas primordiais como Anfitrite.
Anfitrite < Anki Tarite < Enki Kur Ki = *An-Kur-Kiki => Afrodite.
In Lydian mythology, Omphale is a goddess of the earth, rebirth & augury. The universal Womb and the hub of life.
«Omfala» < Omphale < Aumpharhe < *An-kur-Ki.

Ver: OMFALA (***)

Pois bem, nem de propósito Anfitrite apareceria representada como o próprio nome o indica: às costa de Telepinus, um touro anfíbio com a parte inferior do corpo mais cobra e dragão do que peixe! Ora, os mitos raramente contam a verdade toda!
«Golfinho» < Kaul-phian < Thele-pin(a) > «delfim»
Na mitologia romana Neverita era a esposa de Neptuno, também chamada Salácia (< Karkiha + An > An-kurkiki).
Neverita < Nepher-at < *An-Kur-Kiki.


[2] Anesidora (< An Enki Taura > Anphitaur An => Anphitri |Te = An|).

domingo, 6 de setembro de 2009

HABEO ou A ETIMOLOGIA DO SER E DO TER, por Artur Felisberto

HABEO ou A ETIMOLOGIA DO SER E DO TER
Supomos ter encontrado o étimo duma série de verbos com a significação de "haver” nos domínios grego, latino e germânico.
E' certo que várias etimologias têm sido propostas para os explicar, mas essas etimologias estão sujeitas a graves objecções e sofrem do defeito de separarem verbos que, pela identidade de sentido e de função, procedem evidentemente da mesma origem.
Uma etimologia que reunisse todos esses verbos, cingindo-se às possibilidades fonéticas, ofereceria, sem dúvida, grandes verosimilhanças.
E' uma hipótese com essas aspirações que o leitor vai ler e julgar.
O verbo "haver” tem o seu quê de misterioso. Parece que em sânscrito se deveria encontrar verbo semelhante na forma e no sentido, paralelo aos que correm pela Europa, e não se encontra; parece também que a comunidade de origem do lat. habeo e do got. haban, p. ex., deveria estar fora de discussão, e no entanto não está: a Lei de Grimm protesta; finalmente, o lat. habeo e o grego ecw, estão foneticamente (supõe-se) separados por um abismo, e todavia ambos têem o mesmo sentido e assumem identicamente, por vexes, as funções de auxiliares.
Mas ainda outra singularidade nos apresenta esse verbo extranho.
Disfarça-se tão bem, quando aglutinado a outro verbo, que, para ser descoberto, é quási preciso génio, e, ainda quando descoberto, persistem disputas acerca da sua identidade. Lembremo-nos o que sucedeu com a descoberta do humanista espanhol António de Nebrissa, da formação do futuro românico e das dificuldades que houve na adopção das suas ideias (1).
Quando já era admitida por todos a teoria da formação do futuro e do condicional, surge o sábio e fantasista autor da "Fascinação de Gulfi", o célebre Bergmann, sustentando que tal doutrina não era verdadeira, que nem futuros nem condicionais tinham a origem que se lhes atribuía, mas sim que provinham do futuro perfeito latino (2).
O mesmo sucede com o perfeito do verbo espanhol andar que evidentemente é formado com o verbo haber. Há no entanto quem se recuse a ver aí esse verbo (3).
Esta propriedade de tão bem se ocultar o verbo "haver” é certamente a causa de não ter sido encontrada a sua etimologia nem o seu correspondente em sânscrito. --
(1) Adolfo Coelho —Teoria da Conjugação em latim e português, 1870, pag. 116.
(2) Bergmman — Cours de Linguistique, etc. Paris, 1876, pág. 222.
(3) P. ex. Commerlan y Gomez —Grammatica-Comparada de las lenguas Castelana y Latina, Madrid, 1889, pag. 153. (…)
Supomos ter encontrado o étimo duma série de verbos com a significação de "haver” nos domínios grego, latino e germânico.
E' certo que várias etimologias têm sido propostas para os explicar, mas essas etimologias estão sujeitas a graves objecções e sofrem do defeito de separarem verbos que, pela identidade de sentido e de função, procedem evidentemente da mesma origem.
Uma etimologia que reunisse todos esses verbos, cingindo-se às possibilidades fonéticas, ofereceria, sem dúvida, grandes verosimilhanças.
E' uma hipótese com essas aspirações que o leitor vai ler e julgar.
O verbo "haver” tem o seu quê de misterioso. Parece que em sânscrito se deveria encontrar verbo semelhante na forma e no sentido, paralelo aos que correm pela Europa, e não se encontra; parece também que a comunidade de origem do lat. habeo e do got. haban, p. ex., deveria estar fora de discussão, e no entanto não está: a lei de Grirmm protesta; finalmente, o lat. habeo e o grego ecw, estão foneticamente (supõe-se) separados por um abismo, e todavia ambos têm o mesmo sentido e assumem identicamente, por vexes, as funções de auxiliares. (…)
Em sânscrito o verbo bhu "ser” tem, além de "ser”, "existir, produzir, pertencer, nascer” etc., também a significação de "obter" (5) bem vizinha de ter, haver.(…)
O verbo bhu sânscrito, oriundo de bheu, tinha conjugação completa, mantendo o sentido de "ser” como já vimos. Estudemos, pois, as formas que toma em indo-iraniano esse verbo, no presente, p. ex. (omitimos o dual):
Sânscrito
Zend
SINGULAR
bhávâmi
bavâmi
bhávasi
bávahi
bhávati
bavaiti
PLURAL
bhavâmas
bavâmi
bhávata
bavata
bhávanti
bavainti
A semelhança das formas nas duas línguas é flagrante.
Imaginemos por um momento (o que, de resto não é legítimo) as formas sânscritas sem h. Então a semelhança com as de habeo, de haben etc., seriam notáveis? Simples acaso? A conveniência semântica, já a procuramos demonstrar. A questão fonética, a mais grave, será o assunto do nosso próximo artigo nesta revista.
Matosinhos, Maio de 1920. josé teixeira rego. Estudos de Glotologia indo-europeia, UMA NOVA ETIMOLOGIA DUM VERBO.
Faz pouco sentido ser tímido em comparar o foneticamente subtil verbo sânscrito bhu (ainda para mais suposto oriundo de *bheu, sabe-se lá com que real fonética falado) com o latino habeo só porque um significa “ser” e outro “ter” quando conjugação completa do mesmo verbo em sânscrito e em Zend ressoam naturalmente à musicalidade das flexões do verbo habeo.
Un falso cognado es una palabra que, debido a similitudes fortuitas de apariencia y significado, parece guardar parentesco con otra palabra de un idioma diferente, pero que en realidad no comparte su mismo origen etimológico (no son verdaderos cognados). El ejemplo típico es el del verbo inglés to have (tener, haber) y el similar verbo español haber, los cuales, pese a sus semejanzas aparentemente obvias, en realidad provienen de raíces proto-indoeuropeas bien distintas: el inglés to have proviene de *kap- (agarrar), y en realidad está emparentado con nuestro verbo captar, aunque no lo parezca; mientras que nuestro haber proviene de la raíz proto-indoeuropea *ghabh- (dar), y aunque tampoco lo parezca, está emparentado con el inglés to give (dar).
Así, por ejemplo, si nos basamos en similitudes superficiales, podríamos suponer que el verbo latino habere y el alemán haben, que significan tener, son cognados, pero no es así. (…) haben proviene en realidad del proto-indoeuropeo *kap (agarrar), y su cognado real en latín es capere (tomar, capturar). El verbo latino habere, en cambio, deriva del proto-indoeuropeo *ghabh (dar, recibir), por lo que es el cognado de la palabra alemana geben.
Não posso! Não consigo! É demais!!! Apetece gritar: Fora com estes académicos pedantes duma figa!
Mas já alguém leu em algum lado o que quer que fosse de proto-indoeuropeu já que seguramente ninguém ouviu sequer nenhuma das muitas línguas mortes que ainda são legíveis. O pior é que o proto-indoeuropeu nem sequer pode ser considerado como sendo uma língua porque nem morta é! O proto-indoeuropeu é apenas uma quimera e logo um mito que pode ser monstruoso se nos obriga ao descaramento de acreditar que o branco é preto…e quem dá não deixa de ter! Claro que para ter é preciso agarrar e «captar» mas, francamente se ninguém dá o que não tem também é verdade que “quem dá e tira vai para o inferno”!!!
O.E. habban "to own, possess; be subject to, experience," from P. Gmc. *haben- (cf. O.N. hafa, O.S. hebbjan, O.Fris. habba, Ger. haben, Goth. haban "to have"), from PIE *kap- "to grasp" (see capable). Not related to L. habere, despite similarity in form and sense; the Latin cognate is capere "seize." (…) Related: Capably ó capaz del Lat. tard. capabilis "receptivo," usado por los teólogos de Lat. capax "capaz de contener mucho" forma adj. de capere "to take, grasp, lay hold, catch, undertake, be large enough for, comprehend," from PIE *kap- "to grasp" (cf. Skt. kapati "two handfuls;" Gk. kaptein "to swallow, gulp down;" Lett. kampiu "seize;" O.Ir. cacht "servant-girl," lit. "captive;" Welsh caeth "captive, slave;" Goth. haban "have, hold;" O.E. hæft "handle," habban "to have, hold;" see have).
To keep < late O.E. cepan "to seize, hold," also "to observe," from P. Gmc. *kopijanan, but with no certain connection to other languages. It possibly is related to O.E. capian "to look," from P. Gmc. *kap- (cepan was used c.1000 to render L. observare), which would make the basic sense "to keep an eye on." (???)
Em fonética histórica, dá-se o nome de Lei de Grimm a uma tendência fonética nas línguas germânicas, descoberta em 1822 e descrita em detalhes por Jacob Grimm (autor, junto com seu irmão Wilhelm, dos famosos contos dos irmãos Grimm). A lei explica as variações que sofreram várias consoantes indo-européias, por uma mutação acontecida no período pré-histórico da evolução das línguas germânicas: as consoantes aspiradas do indo-europeu, [bh, dh, gh], tornaram-se não aspiradas, [b, d, g]; as sonoras, [b, d, g] tornaram-se surdas, [p, t, k]; as surdas fixaram-se aspiradas, [f, ?, h].
Como é mais do que evidente desde que não se esteja obcecado pela mitologia indo-europeia ou pelo mero preconceito académico mais facilmente se aceita que seja to keep que deriva de PIE *kap- já que não se nega que passa derivar do P. Gmc. *kap. E não há-de poder porque?
A Lei de Grimm:
1º Só é inteiramente válida no contexto das línguas germânicas onde tem tantas excepções que foi completada pela lei de Verner que deve contar ainda com muitas excepções porque é duvidoso que as línguas sigam rigidamente leis fonéticas quase sempre impostas pelos gramáticos e não pelos falantes que apenas seguem regras muito gerais onde quotidianamente nascem excepções que as confirmam.
2º Corresponde a um fenómeno recente em torno do século primeiro antes de Cristo, altura em que as línguas germânicas ainda estavam em fase pré-histórica e o latim já se encontrava estabilizado por escrito tal como muito mais e sobretudo o grego e as línguas indo-arianas.
3º Assim, muitos termos latinos podem ter-se encontrado com o mesmo antepassado comum do P. Gmc.
De resto, a confusão entre PIE e P. Gmc. é mais do que patente e denota um preconceito pan germanista mal disfarçado! Mas sendo aceite que o latim é indo-europeu o que impede de aceitar que o tão teórico quanto inefável e difuso PIE *kap- não tenha sido a fonte semântica directa tanto do inglês to keep, que assim se revela um insólito e isolado arcaísmo, quanto do latino capere que pode ter induzido à manutenção do arcaismo?
Do mesmo modo, o que impede o latino havere de ter derivado do PIE *kap- em época anterior ao século primeiro antes de Cristo contemporânea do P. Gmc. *haben-?
Pelo menos evitar-se-ia sem dor nem stress ter que aceitar o puro disparate de que nuestro haber proviene de la raíz proto-indoeuropea *ghabh- (dar), y aunque tampoco lo parezca, está emparentado con el inglés to give (dar).
Mas a verdade é que «haver» nem parece na forma gráfica nem fonética e muito menos na semântica pelo que só por equívoca teimosia se pode aceitar que o latino habeo tenha alguma coisa a ver com inefável raíz proto-indoeuropea *ghabh- com a qual o verbo inglês pode ter tudo mas com a qual o verbo latino habeo nada tem de semelhante. Por outro lado, mesmo que os pedantes académicos digam o contrário até à exaustão por equívoco seguidista de algum catedrático com Alzeimer, to keep é o verdadeiro cognato de todos os derivados directos do *PIE *kap- e todas as falas indo-europeias com a raiz em *hab- são também possivelmente cognatas entre si!
«Capaz» = Lat. capace < Lat. capere > «caber».
> «capar» ó «escapar» Lat. * excappure, tirar a capa??? Para quê fugir à inevitabilidade da captura?
«Captar» < Lat. captare / Lat. captura < Lat. captivus, de captus, participio passado de capere “tomar, atrapar”.
A linguística tradicional trata as matérias da língua com paninhos de renda porque, como é óbvio, a tirania de mestre-escola assim obriga. As línguas são sagradas e tocar nas ideias feitas a seu respeito é tabu como é pecado de lesa majestade vitoriana por em causa a teoria indo-europeia.
Ora esta é uma invenção tipicamente facista feita com a intenção subliminar de explicar a semelhança dos sânscrito, muito mais arcaico do que as línguas ocidentais, com o inglês, sem por em causa a superioridade cultural dos colonizadores.
É óbvia a relação Sânscrito bhá vâmi ó Zend ba-vâmi bastando deixar cair o h que muitas vezes emudece. Mas neste caso quem perdeu na fala foram os apressados escritores em zendi! De facto, nem sequer parece ser preciso não deixar cair para passar do sânscrito (literalmente, a “escrita santa”) ao latim.
Afirmar que a origem indo-europeia virtual fosse *bheu- é duvidoso. Na verdade, a análise da declinação referida antes do verbo sânscrito bhu permite a raiz significante bhá- que em latim trerá passado a ser hab- sem que tenha afinal sido preciso queda alguma de som significante.
Na verdade habeo e seguramente uma forma composta hab-eo, literalmente “eu hei”. Claro que no português resultou uma aglutinação difícil de explicar foneticamente sem um estudo das formas arcaicas e medievais deste verbo mas é evidente que sempre existiu a consciência subliminar nos falantes de que a raiz significante deste verbo era monossílaba e que o -eo seria apenas o pronome pessoal. Quase que se pode apostar que o latino hab- > haw (espan. /german. hago) > hau, que por aliteração com eo, ou com a forma autóctone do verbo equivalente, deu em galaico-português, hei.
A etimologia do Gr. ecw é complexa e controversa, dizem os gramáticos.
Com relação a ecw supôs Bopp que esse verbo derivasse da raiz vah transportar, alegando que esse sentido de transporte ainda aparece claramente no composto anecw, etc., e explicava o sentido de "haver” pelo facto de a raiz vah ter também o significado de “levar”, pelo que se chegaria facil­mente, diz o excelso pensador, ao de possuir. As dificuldades de formas como as do aoristo sceino, resolvia-as invocando a intervenção de duas raízes na formação dos tempos desse verbo, a saber ec de vah e sce de sah. -- Estudos de Glotologia indo-europeia, Matosinhos, Maio de 1920. josé teixeira rego.
Existem indícios fonéticos que parecem correlacionar o missénico com os modernos falares ibéricos o que pode ter resultado da forma como as línguas francas neolíticas se espalharam pelo extremo peninsular pela mão dos minóicos. Deste modo, a controvérsia linguística constatada só poderia ser esclarecida se tivéssemos acesso completo à língua missénica, ao linear-a da língua minóica e às antigas línguas ibéricas. Até lá fiquemo-nos pela verosimilhança, que uma vez postulada parece resolver a questão!
Gr. ecw < Missénico. *Hejo < Ibérico. *Haj-o
ó Prot. Germ. eig- / hab- / hafj- <> Letão. būt
Arabic:
يَمْلك
Latvian:
būt (piederības nozīmē)
Czech:
mít
Lithuanian:
turëti
Danish:
have
Norwegian:
ha, eie
Dutch:
heb-ben, bezitten
Polish:
mieć, posiadać
Estonian:
olema, omama
Portuguese
haver, ter caber
French:
avoir
Romanian:
a avea
German:
haben
Russian:
иметь
Greek:
έχω
Slovak:
mať
Hungarian:
van (vkinek vmije)
Slovenian:
imeti
Icelandic:
vera með; eiga
Spanish:
haber, tener, poseer
Indonesian:
mempunyai
Swedish:
ha, inneha
Italian:
avere
Turkish:
sahip olmak, var
Gr. ecw < Missénico. *Hejo < Ibérico. *Haj-o ó Prot. Germ. eig- / hab- / hafj-
> «acho» => «faço, vejo»?
Pela análise sumária das várias formas de expressar o conceito de «ter e haver» nas línguas mais comuns verificamos que a origem indo-europeia das línguas modernas ocidentais está longe de ser universal. Na verdade as línguas eslávicas parecem estar mais a dever o que têm aos transcaucasianos do que aos indo-europeus pois têm apenas semelhanças com o turco. Mas, a verdade é que o conceito de ter enquanto posse tem uma relação semântica muito forte com a realidade concreta da instabilidade da posse que só existe enquanto se pode segura-la e defende-la dai decorrendo as múltiplas variantes semânticas que se podem encontrar para este verbo. De qualquer modo, não deixa de espantar que o rasto linguístico do haver se estenda com uma certa regularidade e nitidez ao longo da costa ocidental da Europa o que recoloca a origem minóica destas culturas, seguramente revisitadas pelos fenícios.
E é então que deparamos com o facto, que deveria ter pouco de espantoso, de ter que aceitar que verbos tão genéricos e metafísicos como “ser e haver” terão andado com semânticas tanto mais imprecisas e vagas quanto mais primitivas foram as línguas e, obviamente as culturas e as civilizações que as falaram. Atrapalhar-se com a clareza e riqueza semântica de línguas altamente trabalhadas por gramáticos e filósofos com os falares populares, que necessariamente seriam as línguas primitivas, a cair sempre no mesmo preconceito de pensar que as línguas surgiram da boca dos deuses já perfeitas e acabadas quando afinal nem o Géneses pretende tanto ao ter postulado o mito de que Deus deu a Adão o poder de nomear as coisas. É certo que logo a seguir se caiu na tentação do verbo divino, encarnado a partir do “om” universal num corpo linguístico perfeito e acabado, postulando a confusão das línguas com a queda da torre de Babel mas a verdade é que as línguas seguiram forçosamente o percurso da historia humana universal pelo que não faz sentido pensar a língua esquecendo os falantes e sobretudo as vicissitudes da sua história.
Se é sabido que em hebraico o verbo “haver” não existe e é substituído pelo dativo precedido do verbo "hajah” (= ser..étc.) um gramático de língua lusa tem mesmo que tropeçar no “haja Deus” dos judeus e mandar as teorias arianas às malvas se quiser continuar em frente no esclarecimento da verdade linguística. É obvio que a fonética portuguesa do verbo haver deve mais ao "hajah” judaico do que ao latim precisamente porque antes dos romanos andaram por cá os fenícios e cartagineses com tanta ou mais cultura que a dos romanos não sendo por isso necessário sequer invocar em vão o nome do povo de Deus. Já em espanhol “haver” tem a semântica de “fazer”, porque, de facto, numa economia minimalista normalmente só se tem o que se faz! Mas é bom lembrar que também o verbo «ser» pode em muitos casos ter que ser clarificado com o verbo «estar» pois quem não está ou não existe ou não é…para aqui chamado!
De resto a conversão da voz passiva em voz activa é tão intuitiva que até os alunos cábulas lá chegam! O que nunca ninguém nos tinha ensinado é que no princípio era o verbo na voz passiva…Mas tantos preconceitos que os mestres escolas nos ensinaram por ignorância, santo Deus!
E nem sequer é preciso recorrer à voz passiva para passar do ser ao ter!
Diz-se que em árabe o verbo "haver” é substituído por "ser” com dativo em expressões como "eu tenho (hei) duas casas” = “Andi zandj diar
= sou (dono) de duas casas = são minhas duas casas, etc, pois seria ridículo dizer “duas casas são tidas por mim”!!!
É bom dar conta que os verbos auxiliares servem para isso mesmo, ou seja, como coadjuvantes genéricos, moduladores da função verbal específica dos verbos objectivos. Ora se o “ser” é o mais genérico dos verbos, o ser abstracto precedeu a existência até ao existencialismo mas começou a perder pertinência ideológica precisamente com o começo do helenismo. Assim, é muito possível que tenham sido os romanos os primeiros a enfatizarem o papel auxiliar do ser existencial com o verbo habeo que acabou por se desdobrar em português em dois verbos equivalentes, o verbo «haver» com flexões eruditas latinas e algumas populares ainda próximas do ser semítico, e o verbo «ter» na medida em que o poder de ser e existir dependia na economia feudal da força do que se tinha. E do ser ao devir pelo “ter que ser” se chega ao conceito ético do “dever” e, por isso ao papel que os verbos com esta semântica compulsiva têm como auxiliares de futuro condicionado!
Ora bem, só mero e puro anti-semitismo estulto não repara que o hebreu "hajah" é desta família! Separar as línguas indo-europeias das semitas é puro disparate, a não ser para dar conta que as indo-europeias seriam meros crioulos das línguas acádicas e semitas, muito mais arcaicas e elaboradas.
Então, seria preciso saber a origem de haj-ah < Lat. Af-flare), v. tr. encontrar > «achar» ó ecw.
Hab-< eig- / hab- / hafj- < *Hawj- < ??? A partir daqui os linguistas terão de procurar nas arcaicas línguas, semitas, acádicas (aramaicas e sumérias), coptas e egípcias etc. as pistas para a semânticas do ser e do ter. Na verdade, na origem da cultura as coisas eram de quem as tinha e só tinha algo quem era alguém! A separação deve ter começado na filosofia grega e com o «ego» dos gramáticos que passaram do hab- ao hah-eo por hab-ego quiçá por ressonância redundante com ecw.
Quem sabe mesmo se o “ser” latino resultou apenas do “não ter” de quem quer ter, ou seja, comprar?
Sumer: sám, šám, sa: = (troca) compra; preço; mercadoria; comprar, venda.
No entanto, parece não ser verdade que os sumérios não soubessem distinguir o ser do terem, pois sabiam até separar o ter do não ter.
Possivelmente os sumérios nem usariam muito o verbo ter, pois os poucos que tinham algo guardavam-no dos indiscretos! Na verdade, toda a cultura semita, patente na sabedoria bíblica do livro de Job, estava amargamente ciente da precariedade do ter! Por outro lado, o ter sumério estava relacionado com o poder entendido como intrinsecamente instável pois começava no acaso do achar e acabava feito em cacos.
O sum latino nada tem a ver com to be inglês e do eimi grego apenas tem o m!
Be = O.E. beon, beom, bion "be, exist, come to be, become," from P.Gmc. *beo-, *beu-. Roger Lass ("Old English") describes the verb as "a collection of semantically related paradigm fragments," while Weekley calls it "an accidental conglomeration from the different Old English dial[ect]s." It is the most irregular verb in Mod.E. and the most common. (…) The "b-root" is from PIE base *bheu-, *bhu- "grow, come into being, become,"and in addition to Eng. it yielded Ger. present first and second person sing. (bin, bist, from O.H.G. bim "I am," bist "thou art"), L. perf. tenses of esse (fui "I was," etc.), O.C.S. byti "be," Gk. phu- "become," O.Ir. bi'u "I am”, Lith. bu'ti "to be”, Rus. byt' "to be”, etc. It is also behind Skt. bhavah "becoming," bhavati "becomes, happens," bhumih "earth, world."
O mesmo se passa com as flexões do sum latino e do verbo ser português! Isto significa que estes verbos genéricos se sedimentaram a partir de variantes de dialectos populares de conotações diversas de acordo com a sua frequência nos falares comuns. As línguas latinas perderam estas flexões em b do verbo ser porque já as tinham gasto no verbo haver de habeo. No entanto ressonâncias arcaicas podem ser encontradas em verbos tais como o prov. «botar» (pôr, impelir) ou na forma contracção verbal do latino videre em «ver»!
No entanto o mundo sânscrito bhumih nada tem a ver com bhavati que tudo tem a ver com o latino habet.
O verbo foneticamente mais próximo do sum latino é o Sumer: sám, šám, sa = (troca) compra; preço; mercadoria; comprar, vender.
Os sumérios, bem mais práticos do que os acádicos em matéria de ser e ter, terão usado o verbo ser com a conotação do habeo latino.
Tentando uma etimologia artificial e especulativa para habeo teríamos:
Lat. Hab-eo < *bheu- > *bhu- < W*ku (> ecw < Eco) < Caco, deus do fogo e esposo de Caca ou *Ki-ash / Hebat / Hekate / Hebe / Eva.
Na verdade, na origem da cultura “as coisas eram de quem as tinha e só tinha algo quem era alguém com poder”!
Sumer: Ba-Su = ser. Sumer: Nu = não ser.
Sumer: Nu-A = não ter. ó Pad = ter??? = fazer em pedaços, esmigalhar = Descobrir = Achar; Pa-Pil-Sak = Grande fogo (Leo); Pa-Pil-Sak = Ceptro; Pat-esi = o Governador.
A separação drástica entre o «ter e o ser», que sempre esteve ligada pelo existir e haver, deve ter começado na filosofia grega e com o «ego» dos gramáticos!
De qualquer modo, é flagrante a relação fonética do pad sumério com a raiz indo-europeia de pai e do latino pot- e da grega pos-, raiz que passou incólume na península para o termo paternalista e patriarcal, «padre», ou “pai de quem tem o poder de ter”!
Também quase inalterável foi a passagem do Sumer: Nu (= não ser) / Nu-A (= não ter) pela ideia da «nu-lidade da nu-dez».
Ba-Su, deus do ser que pode ter sido Bês ou Dionísio Bassareu, deveria ter alguma antinomia com Nu, deus do não ser do Caos primitivo que foi o egípcio Nun!
Nun (também conhecido como Nu ou Ny) é o necter egípcio sem sexo que é o líquido cósmico que deu origem ao universo. É o ser subjetivo, quando se transforma no ser objetivo, torna-se Atum.
El término Nun es el utilizado en el periodo tardío, mientras que más arcaicamente se utilizaba Nuu. En el principio, antes de la creación, sólo hay Nun (pero «no existe»), es un océano inerte, sin límites, rodeado de absoluta oscuridad, que no es la noche, pues aún no se había creado esta. Los sacerdotes egipcios, para describir este estado, enumeraban lo que no existía.
As formas mais primevas de linguagem seriam parecidas naturalmente com as formas mais primitivas da linguagem infantil: de tipo gestual, mimético, e foneticamente guturais, interjectivas e silábicas!
Inicialmente Nu / Anu / Nu-Nu seria o deus invisível do céu e das fontes de água doce primordial. Assim, mais do que não ser, Nu ou Nuno significaria quase o mesmo do que hoje significa em português: o que esta despido como os deuses do céu e, por isso, não tem nada de corpóreo por ser um puro sopro invisível, um “ar que se lhe deu”, um espírito incorpóreo invisível a olho nu, um puro nada!
Nu-A, a forma infantil de dizer: «não há» é literalmente em sumério “água no céu” e, semanticamente, algo como: “não há á-gua, evaporou-se, sumiu”!
Seria mesmo ausência tal de ser que nem uma pinga ou migalha de coisa alguma deste deus se veria, em tempo de seca e carestia, ou sobretudo de noite se caso se tratasse dum deus solar. Na verdade este deus era a forma nocturna de Enki, no Abzu, deus ocioso e antigo, velho, obeso e barbudo, distante e ausente, senhor descido aos infernos do Kur durante o inverno e depois do sol-posto.
A esta forma hermética e negativo dum deus morto e dos mortos, representado no Egipto como uma múmia, deus negro, verde ou azul já no fim da linha da vida se opunha o “deus menino” da aurora que em casos extremos de compromisso formal seria representado como adulto acriançado, como foi o caso de Bês ou Ba-Su.
Ver: BASSAREU (***)
Mas como foi com o casal divino Caco/ Caca que tudo começou, a kašbir por estes inventada para gáudio e sustento do povo neolítico, pode ter sido o eco arcaico dum mero delírio efémero de bebedeira mal curtida!
Assim, até que alguém encontre a resposta certa linguisticamente documentada pode propor-se o atalho seguinte para a origem do «haver».
Ba-Su < *Wiashu < Kawish > *Hawj- < Kawish
ó kašbir => «caber» < lat, capere, compreender > Lat. sapere.
Obviamente que muitos verbos genéricos terão surgido colateralmente ao habeo da mesma fonte semântica como «saber», «caber», ou mesmo «achar e fazer», etc. Notar a relação latente entre hav-er e hab-itar! As raízes linguísticas manifestadas pelas línguas modernas são construções de gramáticos que se limitaram a padronizar formas de falar muito diversas mas que na origem estiveram relacionadas com os cultos aos deuses. Assim foi com a primeira escrita, assim terá sido com as primeiras palavras eruditas. Mas como antes das formas eruditas existiram formas comuns e populares, suspeita-se que o nome dos primeiros deuses terá sido uma sílaba gutural semelhante aos guinchos dos macacos e das crianças antes começarem a palrear.
Assim a fonética não é a questão mais importante da linguagem porque as suas regras só são válidas para linguagens perfeitamente constituídas. O alfabeto fonético é um consenso adquirido pelo uso com o contributo dos falantes de ouvido mais atento e apurado e de voz mais afinada e melhor articulada. As formas fonéticas de sons claros e bem articulados, característica típica das línguas latinas, são tanto uma forma de boa chegada dum longo uso disciplinado da língua como um ponto de partida para línguas crioulas que delas derivaram por simplificação e abuso.
Os sumérios terão sido o primeiro povo a registar os sentidos correntes genéricos mais comuns do começo da história e a verdade não poderia de facto ter sido outra. Os genéricos correntes eram mesmo os do senso comum da época porque eram os mais usados na prática.
Os que podiam comprar, para ter alguma coisa, talvez lhe «coubesse» por sorte uma pequena e doce cerveja que em sumério era kašbir, literalmente urina humana, possivelmente de diabéticos. Colateralmente, abaixo da insustentável leveza do ser o senso-comum dos súbditos e escravos sumérios que no fundo foram os falantes mais numerosos que divulgaram a linguagem, terão aprendido a valorizar sobretudo o ter das migalhas que tombavam da mesa farta dos senhores paternais e terratenetes.
Kašbir = cervejeca; cerveja doce < kaš (urina) + bir (varão) = literalmente urina humana muito possivelmente com ressonâncias com o nome de *Kiash, deusa do fogo e das bebidas fermentadas que permitiam supostamente o acesso a saber os segredos dos divinos més.