INTRODUÇÃO à LINGUÍSTICA MÍTICA
O progresso das ciências arqueológicas de que a linguística
pode e deve fazer parte permite-nos conhecer o mundo arcaico como nem os
próprios contemporâneos o entendiam mas jamais seremos capazes de apreender o
mundo histórico como os homens contemporâneos o viveram.
Carpe Die, porque cada vivência é única e irrepetível.
O mito foi uma teoria e a teoria é um mito!
No início
das investigações gnosiológicas é preciso, depois de tudo que já vimos,
rejeitar tudo que já faz parte da área da cognição. A cognição é algo que foi
realizado pelo homem, algo que nasceu de uma atividade. Se a Teoria do
Conhecimento deve abranger, com seus esclarecimentos, todo o campo do conhecer, deve tomar
como ponto de partida algo que tenha permanecido alheio a essa atividade, algo
que dê a esta o seu primeiro impulso. Aquilo que deve constituir o início
situa-se fora da
cognição, e não pode constituir conhecimento. Todavia deve preceder
imediatamente o
conhecer, de modo que o primeiro passo dado pelo homem, a partir desse ponto,
já seja uma actividade cognitiva. A maneira pela qual esse princípio absoluto deve ser
determinado precisa ser tal que não se intrometa nada que já seja decorrente de
um ato de cognição não se intrometa nada que já seja decorrente de um ato de
cognição.
Tal início
só poderá ser feito com a imagem do mundo imediatamente dada, ou seja, aquela que o homem tem
diante de si antes de submetê-la, de qualquer modo, ao processo cognitivo — antes,
portanto, que tenha emitido a seu respeito a menor declaração, ou a tenha
submetido à mais ínfima determinação por meio do pensar. Aquilo que passa
diante de nós, e diante do qual nós passamos, essa imagem do mundo desconexa e
não dividida em detalhes individuais27 — imagem em que nada é ainda separado nem relacionado
com outra parte, nem determinado por outro detalhe — é o imediatamente dado. Nesse grau
da existência — seja-nos permitido usar essa expressão — nenhum objeto, nenhum
evento é mais
importante ou mais significativo que outro. (…) No próprio ponto inicial não pode haver erro, pois este só pode ter
início com o processo cognitivo — nunca antes dele. -- RUDOLF STEINER, VERDADE E
CIÊNCIA, Prelúdio a uma “Filosofia da Liberdade.”
Depois, o homem começou a pensar no bem e no mal e imaginou a
epifania do divina do mito e este forçou a consciência dos iluminados a inventarem
a linguagem sagrada que lhes permitiria pegar fogo ao mundo! O primeiro
conhecimento humano foi uma história ingénua que tinha tanto de pícaro como de sibilino,
ardiloso e trágico. O conhecimento começa sempre com uma qualquer forma de mentira
retórica expressiva de que a literatura foi o máximo expoente da oralidade.
A literatura é a arte do belo preconceito e a linguística,
enquanto ciência de literatas, um exercício penoso de conceptualização de
conceitos inefáveis. A poesia clássica é, toda ela, uma epopeia morta que nem
sequer chega a ressoar como elegia aos ouvidos modernos precisamente porque de gustibus et coloribus non dispuntandur e
pouca coisa é tão volúvel e subtil quantos as formas com que se adorna o bom
gosto.
O sol é
grande, caem co'a calma as aves,
Do tempo em
tal sazão, que soe ser fria;
Esta água
que d'alto cai acordar-me-ia
Do sono
não, mas de cuidados graves.
Ó cousas,
todas vãs, todas mudaves,
Qual é tal
coração qu'em vós confia?
Passam os
tempos, vai dia trás dia,
Incertos
muito mais que ao vento as naves.
Eu vira já
aqui sombras, vira flores,
Vi tantas
águas, vi tanta verdura,
As aves
todas cantavam d'amores.
Tudo é seco
e mudo; e, de mestura,
Também
mudando-m'eu fiz doutras cores:
E tudo o
mais renova, isto é sem cura!
Sá de Miranda
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Mudam-se os
tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o
ser, muda-se a confiança;
Todo o
mundo é composto de mudança,
Tomando
sempre novas qualidades.
Continuamente
vemos novidades,
Diferentes
em tudo da esperança;
Do mal
ficam as mágoas na lembrança,
E do bem,
se algum houve, as saudades.
O tempo
cobre o chão de verde manto,
Que já
coberto foi de neve fria,
E em mim
converte em choro o doce canto.
E, afora
este mudar-se cada dia,
Outra
mudança faz de mor espanto:
Que não se
muda já como soía.
Luís de Camões
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Toda concepción de mundo depende de una construcción simbólica de la
realidad, la cual es percibida selectivamente por cada actor social en un contexto histórico y
sociocultural específico. Dichas construcciones simbólicas se
legitiman y validan al generarse consensos activados por los procesos de
comunicación y transmisión cultural. Son entidades a la vez
emisoras y receptoras de los procesos de permanencia y transformación, cuyos
flujos y reflujos operan al interior de las matrices socioculturales. Accedemos
a sus significados mediante el rescate y comprensión del discurso simbólico de
los actores sociales, descubriendo los referentes émicos compartidos. --
M. Ester Grebe, Revista Chilena de Antropología. No. 13, 1995-1996, ISSN
0717-3312.
Nenhum diálogo é
possível sem linguagem comum o que pressupõe um consenso tanto nos meios como
nos conteúdos da linguagem, seja ela escrita ou falada. Que estes consensos
tenham sido adquiridos por longos processos evolutivos (laboriosos, polémicos
sempre mais académicos do que didácticos!) sempre ligados aos templos e às
escolas religiosas (e só depois aos palácios e muito recentemente às
chancelarias de estado) parece consensual no que respeita aos processos de
escrita. Porém, não faltará quem pense ainda que a oralidade surge por geração
espontânea como a linguagem postural e gestual herdada dos primatas que somos,
linguagem emocional esta que se mantém e acompanha o discurso como que para lhe
dar o tom e a cor e lhe marcar ritmo intemporal.
Now
the Egyptians, before the reign of their king Psammetichus, believed
themselves to be the most ancient of mankind. Since Psammetichus, however, made
an attempt to discover who were actually the primitive race, they have been of
opinion that while they surpass all other nations, the Phrygians surpass them
in antiquity. This king, finding it impossible to make out by dint of inquiry
what men were the most ancient, contrived the following method of discovery:-
He took two children of the common sort, and gave them over to a herdsman to
bring up at his folds, strictly charging him to let no one utter a word in
their presence, but to keep them in a sequestered cottage, and from time to
time introduce goats to their apartment, see that they got their fill of milk,
and in all other respects look after them. His object herein was to know, after
the indistinct babblings of infancy were over, what word they would first
articulate. It happened as he had anticipated. The herdsman obeyed his orders
for two years, and at the end of that time, on his one day opening the door of
their room and going in, the children both ran up to him with outstretched
arms, and distinctly said "Becos." When this first happened
the herdsman took no notice; but afterwards when he observed, on coming often
to see after them, that the word was constantly in their mouths, he informed
his lord, and by his command brought the children into his presence.
Psammetichus then himself heard them say the word, upon which he proceeded to
make inquiry what people there was who called anything "becos," and
hereupon he learnt that "becos" was the Phrygian name for
bread. In consideration of this circumstance the Egyptians yielded their
claims, and admitted the greater antiquity of the Phrygians. -- THE HISTORY
OF HERODOTUS by Herodotus, translated by George Rawlinson, The Second Book,
Entitled EUTERPE.
Ver: EPISTEMOLOGIA
HISTÓRICA (***)
We shall run no risk of being misunderstood
when we define a myth as, in its origin, an explanation, by the uncivilized
mind, of some natural phenomenon; not an allegory, not an esoteric symbol, --
for the ingenuity is wasted which strives to detect in myths the remnants of a
refined primeval science, -- but an explanation. Primitive men had no profound
science to perpetuate by means of allegory, nor were they such sorry pedants as
to talk in riddles when plain language would serve their purpose. Their
minds, we may be sure, worked like our own, and when they spoke of the
far-darting sun-god, they meant just what they said, save that where we
propound a scientific theorem, they constructed a myth.[12]
A linguística é, por
definição, uma meta linguagem, ou seja, uma
certa forma remanescente de metafísica e daí: «la difficulté qu’il y a en général à écrire
seulement dix lignes ayant le sens commun en matiére de faits de langage» y de
«l’assez grande vanité de tout ce qu’on peut faire finalement en linguistique» (BENVENISTE, 95). (…)
Igualmente,
la grafía qvom en
lugar de cum en el
verso AETATE
QVOM PARVA es
«unvéritable barbarisme voulu≫ para proveer la compensación de
la v de parva. En todos los casos «le lapicide était surveillé à
ce propos par le versificateur lui-même» (PROS DOCIMI & MARINETTI, 48-49).
Cada época tem os seus estilos cada qual com
suas modas tão efémeras quanto os tiques dos diletantes que as cultivam.
Porém, por de trás das boas formas
institucionais que fazem as delícias dos bons alunos e o panegírico dos
melhores mestres estava apenas o respeito pela palavra que, enquanto legado
quase único da tradição arcaica, era preciosa e merecia os cuidados com que ela
mesma servia para louvar os deuses. E da fonética à poesia se chegava ao rito e
deste ao mito feito literatura oral que tinha que ser religiosa e
meticulosamente preservada e transmitida de boca em boca pelos séculos dos
séculos. Assim, os recursos linguísticos mais ou menos elaborados e
aparentemente obscuros apareciam tanto como música de embalar as crianças
recém-nascidas, que sempre são as novas gerações, como recursos mnemónicos com
que os idosos e os mais desmemoriados se precaviam na quimeras a linha do
sentido da vida contra o fantasma da entropia que envenena as águas turvas do
rio Letes.
Na verdade, QVOM não seria tanto um
barbarismo quanto uma forma de falar regional de baixo latim ou mesmo uma
variante arcaica de latim parente próxima do “quão” minhoto (< quom <
Lat. quam),
o que prova o quanto é difícil fazer derivar as línguas românicas modernas
directamente do latim sem postular um crioulo intermédio provincial resultante
do encontro duma miríade de dialectos regionais tanto nas milícias imperiais
quanto nos falantes colonizados.
O estudo destes recursos estilísticos mnemónicos, que tinham
o mesmo papel dos ritos litúrgicos nos mitos de retorno, levou o mesmo autor,
acima comentado, a poder dizer:
“La cosa
capital, es decir, el hecho de que el poeta busque con afán un «residuo
significativo», es la prefiguración del anagrama tal y como será desarrollado y
perfec cionado más adelante. Saussure confiesa a Bally que «cette espèce de reste mystique ou
cabalistique me semblait étrange», pêro advierte inmediatamente que hay que
considerar dicho resíduo «bien existant et bien voulu, mais n’ayant rien de secret,
et correspon dant tout
simplement aux lettres tracés sur la pierre ou au moins sur la charta
du versificateur» (PROSDOCIMI
& MARINETTI, 50)
FERDINAND DE SAUSSURE
Como a preocupação etimológica do pai da linguística moderna
foi usada para questionar os seus estudos sobre a linguagem.
Ferdinand
de Saussure (1857-1913) foi visto por muito tempo como uma espécie de
"pai da lingüística moderna".
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Figura 1: Ferdinand
de Saussure foi vítima da aversão a estudos históricos que marcou sua
geração.
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Sua obra mais conhecida, o Curso de lingüística geral,
é póstuma (1916) e escrita pelos seus discípulos com base nas anotações de
seus cursos em Genebra.
Saussure, tal como um Sócrates ou um Jesus, teria
pregado uma nova lingüística e seus discípulos mais fervorosos, sobretudo
Charles Bally (1865-1947) e Albert Sechehaye (1870-1946) se incumbiram de
divulgar a nova mensagem, até então campo quase que exclusivo de autores
alemães. Muitos outros grandes lingüistas
reforçaram seu mito, como é o caso do dinamarquês Louis Hjelmslev (1899-1965)
que, em seu entusiasmo de fazer tabula rasa do conhecimento lingüístico
pregresso, chega a afirmar: "Aderimos explicitamente ao passado em
certos pontos a respeito dos quais sabemos que outros conseguiram resultados
positivos antes de nós.
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Um único
teórico merece ser citado como pioneiro indiscutível: o suíço Ferdinand de
Saussure". Essa idealização de tremenda originalidade na obra de
Saussure, no entanto, foi relativizada por alguns outros grandes lingüistas,
entre eles Eugenio Coseriu (1921-2002), que se empenhou em mostrar que muito
do que se atribuía a Saussure era, na verdade, resultado de sua imensa
erudição acerca dos tratados antigos dos gramáticos indianos ou tratava-se de
discussões que remontavam ao tempo dos estóicos ou, ainda, a autores mais
próximos, seus contemporâneos, entre eles, George von Gabelentz (1840-1893)
ou Hermann Paul (1846-1921), esquecidos ou ignorados pela geração seguinte.
Mitificações
No entanto,
entre as muitas opiniões que se podem criar de Saussure, uma delas é bastante
destoante. Otto Jespersen (1860-1943) comenta em 1922:
"Saussure aponta, como um dos princípios
mais importantes de nossa ciência, que a ligação entre som e sentido é arbitrária
ou imotivada."
Jespersen
refere-se ao trecho em
que Saussure diz: "palavras francesas como fouet
(chicote) ou glas (dobre de sinos) podem impressionar certos ouvidos por sua
sonoridade sugestiva; mas para ver que não têm tal caráter desde a origem,
basta remontar às suas formas latinas (fouet
derivado de fagus, "faia", glas = classicum); a qualidade de seus sons atuais, ou
melhor, aquela que se lhes atribui, é um resultado fortuito da evolução
fonética" (tradução de Antônio Chelini, José Paulo Paes e Isidoro
Blikstein).
Ao citar
esse trecho, Jespersen conclui:
"Aqui
vemos uma das características da ciência lingüística moderna: está tão
preocupada com a etimologia, com a origem das palavras que presta muito mais
atenção a de quais palavras provieram do que em quais se tornaram".
Dizer
que Saussure se preocupava demasiadamente com a história da língua parece um
erro de leitura de Jespersen, tão acostumados estamos a ver Saussure
empunhando uma bandeira contra os estudos históricos.
O tempo e o vento
Mas quem
pacientemente reler o Curso de Saussure encontrará alguém muito dedicado a
isso, o que era comum em sua época e prosseguiu normal até a década de 50 do
século passado.
Muitos
"lingüistas modernos" se preocuparam com a história das línguas. O
próprio Louis Hjelmslev, aparentemente tão iconoclasta na citação anterior,
trabalhou com etimologias das línguas bálticas (Études Baltiques, 1932, sua
tese de doutorado).
Émile
Benveniste (1902-1976) era especialista em línguas iranianas e publicou o Vocabulário
das instituições indo-européias.
Roman
Jakobson (1896-1982) estudou a evolução fonológica do russo comparado às
outras línguas eslavas.
André
Martinet (1908-1999) publicou em 1986 o pouco conhecido Des steppes aux
océans, sobre os indo-europeus.
Bernard
Pottier (1924-) é co-autor de um livro intitulado Morfología histórica del
español.
Grosserias
Nenhum
grande lingüista desconhecia questões de história da língua; no entanto, como
justificar afirmações grosseiras como esta, de Françoise Dubois Charlier
(trad. João Andrade Paes):
"Hoje falamos português, comunicamos por
meio deste aparelho complexo que é a língua portuguesa; uma questão é
perguntarmo-nos como funciona este aparelho; outra, que não traz qualquer
esclarecimento à primeira, é perguntarmo-nos donde ele provém, ou donde
provêm algumas das suas partes" (grifo nosso).
Continuando
com sua metáfora eletrodoméstica, Charlier afirma:
"Confundir
sincronia e diacronia seria fornecer, à dona-de-casa que pede instruções
sobre o funcionamento de seu fogão ultramoderno, uma história do forno
através dos tempos".
Contra a História
Essa
aversão a tudo que é histórico, presente em tantos lingüistas, começa depois
da década de 50 e vai tornando-se cada vez mais evidente até a década de 80.
Agora tomava
corpo real a histeria do pós-guerra, que se voltou contra tudo que era
alemão, a queda-de-braço entre franceses e americanos na disputa do espólio
dos estudos lingüísticos, as lamentáveis revoluções culturais (como na
China), enfim, a tentativa de total negação do passado, pregada com tanto
afinco pelo futurismo.
No lugar
das tradições, surgiam os quadros em branco, as sinfonias sem nota, o
concretismo, a abolição das aulas de latim e, com muito custo, anseios tão
caros desde a revolução francesa: a igualdade entre os homens, a
democratização do ensino, etc. (como se essas boas intenções até hoje não
atingidas em sua plenitude compensassem o mal causado pela destruição de
outros parâmetros antigos).
Enfim, a
tabula rasa e, com ela, o desprezo pela história e até um certo orgulho de
desconhecer as origens da língua. Dizia-se
nas salas de aula das universidades que, no que tocava à lingüística, essa
revolução era liderada por Saussure.
Contradições
Mas como? Saussure era neogramático e
indo-europeísta. A ele devemos a incrível teoria das laringais, que
propôs para explicar irregularidades nas vogais indo-européias, teoria essa
confirmada anos depois de sua morte, quando a arqueologia descobriu na
Turquia os primeiros textos em
hitita. A ele também devemos a engenhosíssima lei de
Saussure-Fortunatov, que explica os estranhos deslocamentos acentuais no
lituano e no russo, verdadeiro martírio para quem procura regularidades
nessas línguas.
O genial
Saussure era tudo, exceto um lingüista anti-histórico. Jespersen tinha razão
em sua crítica quando o via excessivamente historiador. Talvez tivesse ainda
mais razão quando citava o nome de Saussure no meio de tantos outros hoje
esquecidos (Schuchardt, Streitberg, van Ginneken, Sandfeld, Sturtevant,
Sweet), não como "pai da lingüística", mas apenas como um dos
grandes colaboradores dessa ciência.
Mário
Eduardo Viaro é professor de Língua Portuguesa pela USP, autor de Por trás
das palavras (Globo: 2004)
|
Deixando de lado a
lógica disparata de Françoise Dubois Charlier, que confunde a utilidade prática
da gramática com estudos científicos no campo da fonologia e da linguística, o
que continua a ser um escândalo difícil de digerir em Ferdinand de Saussure é
precisamente a sua crença apriorística de que
a ligação entre som e o sentido é arbitrária ou imotivada.
Obviamente que daqui não se pode concluir que seja
inteiramente verdade que o estruturalismo de Saussure seja responsável pelo
estado da linguística moderna que, de acordo com o comentário de Jespersen “está tão preocupada com a etimologia, com a
origem das palavras que presta muito mais atenção a de quais palavras provieram
do que em quais se tornaram".
Em matemática, a cadeia de Markov é um caso particular de
processo estocástico com estados discretos (o parâmetro, em geral o tempo, pode
ser discreto ou contínuo) e que apresenta a propriedade Markoviana, chamada
assim em homenagem ao matemático Andrei Andreyevich Markov. A definição desta
propriedade, também chamada de memória
markoviana, é que os estados anteriores são irrelevantes para a predição
dos estados seguintes, desde que o
estado atual seja conhecido.
O problema é que o estado actual do mundo e das coisas está
longe de ser conhecido. Os jovens que se deslumbram com o saber que não
herdaram de seus pais é que têm a tendência para a miragem do grau zero da
escrita e ficarem a pensar que acabaram de nascer da tábua rasa com a vocação
revolucionária de deitarem fogo aos velhos deuses do passado em nome "amanhãs
que cantam"!
O razoável será prestar igual atenção a ambas as coisas
ainda que a especial atenção que um estudioso dá a uma parte da questão não
invalida que outros se ocupem de outras partes dos diversos problemas
linguísticos porque afinal o que está em causa não é o objecto da linguística
mas os métodos limitados que ela usa para descobrir a verdade inefável da substância
da língua!
A ligação tão forte e indissolúvel entre a sonoridade da
eloquência e a profundidade do saber deveria no mínimo ter deixado a dúvida de
que a retórica teria alguma coisa a dizer a esse respeito e melhor do que os
exemplos referidos importaria no mínimo referir que o registo fonético da
linguagem está para o sentido como as regras de etiqueta para o jogo das
tradições nas relações sociais. Estamos num velho e aristotélico problema de
relação entre forma e matéria que ainda nenhum escolástico resolveu nem se
espera que a física moderna venha a resolver quando mistura as categorias kantianas
formais do espaço e do tempo no mesmo caldeirão material do espaço-tempo.
A linguagem humana não é a única forma de transmissão de
informação codificada desde logo porque temos feito descobertas impressionantes
a respeito do código genético dos seres eucariotas mas é seguramente a mais
complexa. Resumir a linguagem humana ou quiçá todas as formas de linguagem a um
jogo formal de códigos de informação tem tanto de verdade como de falsidade
desde logo pelos próprios critério do autor da ideia de que a linguagem é um
jogo.
Enquanto Wittgenstein se esforçava no Tractatus por
desvelar a essência da linguagem, nas Investigações Filosóficas (IF) afirma que
essa tentativa está fadada ao fracasso, simplesmente porque não há qualquer essência
a ser descoberta na linguagem que não seria um todo homogéneo, mas, antes, um
aglomerado de "linguagens" (IF §65).
Para esclarecer esse ponto, Wittgenstein traça uma
analogia entre a noção de linguagem e a noção de jogo. Há diversos tipos de
jogos: jogos de tabuleiro, jogos de cartas, competições esportivas, etc. Mas não
há uma essência dos jogos. Um jogo de cartas apresenta semelhanças com os jogos
de tabuleiros, mas também muitas diferenças; se compararmos esses últimos com
os jogos de bola, surgirão outras semelhanças e outras se perderão (IF §66).
Wittgenstein parece ser um daqueles autores que tem tanto de
genial quanto de banal e que evita a todo o custo o compromisso com o bom senso
para fugir ao senso comum. Obviamente que as essências se diluem quando estamos
possuídos pela neurose obcessivo-compulsiva do rigor das análises críticas que
partindo do geral e se perdem nos infindáveis níveis de complexidade dos discursos
particulares levados até à exaustão. Obviamente que existe uma essência de
jogos ou não existiriam essência para coisa nenhuma. Tanto existem que até
existem um campo da lógica matemática chamada teoria dos jogos.
A Teoria dos Jogos é uma área da
matemática aplicada que utiliza modelos para estudar interacções em estruturas formais
de incentivos e ganhos (os "jogos").
Originalmente desenvolvida como uma ferramenta probabilística para
entender o comportamento da economia como um jogo de optimização do lucro, a «teoria
de jogos» tornou-se uma ferramenta extremamente importante para o estudo do
comportamento esperado e observado nos indivíduos em situação teórica ou na prática
de jogos contribuíndo para uma melhor compreensão do comportamento humano na
tomada de decisões por isso «teoria de jogos» já é usada em muitos campos,
incluindo a biologia, a sociologia, as ciências políticas, psicologia,
filosofia e até nas teorias da comunicação e nas tecnologias da computação.
Sendo assim é estanho que Wittgenstein não tenha encontrado nos jogos um
mínimo de essência que permitisse a sua teorização numa lógica de optimização
de ganho.
Se é verdade que Wittgenstein nos esclarece, nas suas Investigações,
que o significado de uma palavra é estabelecido pelo uso que se lhe dá
num determinado «jogo de linguagem» (IF §43) a verdade é que os «jogos de linguagem»,
de salão e dos intelectuais bem falantes, estes são apenas um caso particular
do grande jogo das linguagens naturais que até quanto podemos saber tem um papel
interactivo complexo, fundamentalmente evolutivo porque maximizador de
vantagens adaptativas.
Se, por outro lado esta concepção do significado como «uso»
afasta a proposta de Wittgenstein das ideias tradicionais aristotélicas a
respeito da linguagem: que o significado de um termo é a essência dum objecto e
que este acompanharia uma expressão linguística não nos parece que Wittgenstein
tenha inteira razão quando afirma que os acontecimentos mentais ou psicológicos
que rodeiam a formalização duma expressão linguística sejam irrelevantes para a
constituição do seu significado porque o conceito de «uso» na fixação do significado
linguístico resulta duma interacção contínua entre os falantes ouvinte das
expressão de linguagem porque todos estão comprometidos no grande «jogo da
linguagem» quer pelo que esperam dele que pelo que nele investem e arriscam.
No canto, a simbiose perfeita entre as artes da música e da
poesia permite que o conteúdo de uma arte sirva reciprocamente de forma à outra
apesar de ambas terem em separado a sua própria forma e conteúdo. Ainda que o
canto seja uma forma teatral de expressão da linguagem falada a verdade é que a
fonética nunca foi vista como uma forma de música da linguagem precisamente
porque muito antes da escrita ela foi considerada como a própria substância
física da oralidade. Assim, ainda que
pareça uma clara evidência que a a
ligação entre som e o sentido é arbitrária ou imotivada, a verdade é que assim não pode ser, senão de
forma aparente, porque o som modela a linguagem tanto na sua evolução como no
seu uso, precisamente por causa da função específica da linguagem, que é a da
propagação eficaz do sentido ou seja, enquanto processo de informação sujeito
às leis matemáticas da “teoria da informação”.
Assim, a relação
subtil entre o som e o sentido terá que ser encontrada numa retórica menos
preocupada com as definições das figuras de linguagem e dar mais atenção à
expressividade do diálogo musical entre o ouvido e o aparelho fonador humano. A
fonética da poesia do canto e das diversas formas de discurso mais ou menos
teatrais ou informais não faria as delícias dos nossos ouvidos se fôssemos
surdos e de pouco nos valeria ouvir o canto dos pássaros e a musicalidade da
natureza se não tivéssemos sido capazes de imitar com a voz a natureza. Para
entender o papel da fonética na evolução das línguas não basta estudar a
fonologia da voz humana porque importa também entender a psicologia da percepção
sonora e a forma como os humanos elaboram imagens com o som. Ora, neste campo
quase nada foi feito ainda com utilidade para o senso comum que não tenha sido
apenas feito pelos músicos e pelos poetas!
ALGUS EXERCÍCIOS
PRÁTICOS
Fouet (chicote) ou glas (dobre de sinos) podem impressionar certos ouvidos por sua
sonoridade sugestiva; mas para ver que não têm tal caráter desde a
origem, basta remontar às suas formas latinas (fouet derivado de fagus, "faia", glas <=
classicum).
Se Saussure tivesse ousado suspeitar que fouet
< fagu-ete teria logo verificado
que a sonoridade própria da “baguette
longue et flexible” lhe tinha sido dada logo
na origem e que nada nos garante que tal sonoridade não andasse já na fala do
baixo latim popular.
Fouet. s. m. Cordelette de chanvre ou de
cuir,qui est attachée à une baguette, à un baston; & dont on se sert pour
conduire & pour chastier les chevaux & autres animaux. (…) se dit qu'en matiere
Ecclesiastique. La fulmination des Bulles. La fulmination d'une sentence
Ecclesiastique
Lat. fagu + etter > Fouetter
ó coup de fouet = fouetté > < fou-et.
Fouet = Étymol.
et Hist. [2e
moitié xiiie s., [ms.] désigne un
coquin, un brigand (Des 2 Bordeors Ribauz, éd. Montaiglon, I, 6 ds T.-L.) attest. isolée];
1379-80 (Inventaire du mobilier de Charles V, éd. J. Labarte, 2211, p. 242 : ung fouet
d'yvire à troys cordes de soye); 1680 «petite ficelle» (Rich. ,,terme de cordier et de cocher``). Dér. de
l'a. fr. fou «hêtre» (ca 1200, Renaud de Montauban, 86, 6 ds T.-L.) le mot signifiant
proprement «petite baguette de hêtre»; suff. -et*; v. aussi fau.
Fr. fou < fau < fa-hu < Lat .fagu <=> Lat. fagea
> fahea > «faia»
Fr. fou-teau < fautellu < *fogu-tellu < D'un lat. pop. *fogustellum.
Fr. fayard = fou = fouteau = hêtre.
< Mot franco-provdér. de l'a. fr. fou «hêtre » (> fouet),
suff. -ard* ??? ou antes do provençal fahea + Franc. hard?
Fayard < Mot franco-prov., et s'étendant jusqu'à la mer par la vallée du
Rhône; dér. de l'a. fr. fou « hêtre » (v. fouet), suff. -ard*.
Hêtre < De l'a. b. frq. *haistr (cf.
néerl. heester «arbuste»), dér., à l'aide du suff. -tr, servant à former les noms d'arbres (cf. apholtra),
du rad. de *haisi « buisson, fourré » qui est entré en
gallo-roman sous trois formes différentes (v. hazier). *Haistr est devenu roman plus tard que haisi et haisia (v. hazier), de sorte que ai y était devenu e. Il a éliminé l'a. fr. fou (v. fayard, fouet) désignant les grands arbres, tandis que hêtre était le nom donné aux jeunes troncs qu'on
coupait régulièrement et qui repoussaient généralement sur les souches. Cette distinction s'est perdue par la suite
et hêtre, remplaçant fou, a fini par désigner l'arbre adulte (b).
O mais importante é dar conta que os termos franceses fou e
fou-teau foram preteridos a favor de fayard e hêtre por razões fonéticas que nada
parecem ter de arbitrário e imotivado na medida em que o sentido preponderante
de fou
passou a ser o de adjectivo fou / folle carregado de loucura
semântica de que a «faia» não poderia ser culpada, enquanto fau passou
a soar em falso (a faux)!
Mas as interferências conotativas ressonantes não se terão
ficado por aqui!
O fouet das
sentenças papais deve ter tido menos
a ver com a vara de Moisés e mais com o facto de as sentenças eclesiásticas
caírem rápidas como foguetes e fulminantes como relâmpagos sobre os
excomungados em fuga ou sem escapatória possível.
Fr. fougue > fougueux < Fouage < Feu
> *fusette
> fusée.
«fogo» > «fogoso» >
«Foguete».
Assim, a ligação entre som e o sentido é arbitrária ou
imotivada apenas para
quem só vê o lado absurdo da face oculta da retórica e não ouve as dissonâncias
e ressonâncias da musicalidade da história trágico-cómica da oralidade que
ficou por contar e da literatura que se perdeu ou ficou por escrever!
GLAS. s. m. (Quelques-uns disent Glais.) Le son d'une cloche qu'on tinte pour une personne qui vient d'expirer.
Sonner le glas.
D'un lat. pop. *classum < lat. class. classicum «sonnerie de trompettes»; glas s'explique par assimilation du c initial à la consonne sonore suivante; cf. glaire*; la présence de formes en ai à côté de celles en a est encore mal expliquée, v. FEW t. 2, p. 746b.
Quanto a glas fiquemo-nos pela falta de
explicação para a variante glais.
Bret. glas
= «azul», lívido = “a comparer avec les
mots glais, glas en gallois, glas en gaélique irlandais (sens
identique)”.
O fim da história e a
realização totalizante do Saber Absoluto (Sa, Savoir absolu, que em francês pode ser tomado também no sentido
ambíguo do ça freudiano-lacaniano e como abreviatura do signifiant) nos remetem, portanto, ao glas da filosofia ocidental (glas, do latim classum, classicum, sonnerie de trompette, denota, em francês, o sonido do sino para
anunciar a agonia, as obséquias ou morte de alguém). A dialética hegeliana
empreende, pelo trabalho do negativo e da exterioridade, a morte da metafísica,
por quem dobram os sinos (glas) de toda a história da filosofia. -- Hegel,
Heidegger, Derrida: Desconstruindo a Mitologia Branca, Nythamar Fernandes
de Oliveira.
"La métaphysique
-- mythologie blanche qui rassemble et réfléchit la culture de l’Occident:
l’homme blanc prend sa propre mythologie, l’indo-européenne, son logos, c’est-à-dire le mythos de son idiome, pour la forme universelle
de ce qu’il doit vouloir encore appeler la Raison. Ce qui ne va
pas sans guerre (...) Mythologie blanche -- la métaphysique a effacé en
elle-même la scène fabuleuse qui l’a produite et qui reste néanmoins active,
remuante, inscrite à l’encre blanche, dessin invisible et recouvert dans le
palimpseste" . (J. Derrida, "La mythologie blanche", Marges --de la
philosophie, p. 254)
Na verdade, é muito mais plausível que glas venha de glais de
origem tão incerta como glaire, a clara de ovo francesa.
Nous sommes
d'autant plus porté à adopter cette traduction, que Varron a dit 33: a Ceux qui
sonnent de la trompette pour appeler les classes du peuple à l'assemblée des
comices, et qu'on appelle classici, tirent leur nom du mot classis (division du
peuple). -- Le Dictionnaire des Antiquités Grecques et Romaines de Daremberg et
Saglio
«Glas. Du latin
classique “classicum”: sonnerie – mais triomphale – des trompettes. Au
moyen-âge: joyeux tumulte, bruit confus du bonheur, aboiement de chiens,
gazouillement des oiseaux. De ramage en ravage: le retournement du mot glas.»
The
expression "machen schal", or "to make noise during the
battle", is quite probably related to the later Baroque term, "Lärm-blasen". In the Middle Ages,
this music-making by trumpeters was called "classicum". The classicum
was described by John
of Janua as follows: "Properly speaking, classicum is the unison made by
all the instruments sounding together, whether they be the tubae and cornua in
war, or the bells". The "unison of all the instruments sounding
together" seems to have been organized in some way. But at other times,
however, "the tubae were sounded at random to frighten the enemy"
(Aymeric de Peyrac, fifteenth century). The performance of the classicum
will be discussed below.
Glas
= Bourg. clas; prov. clas; ital. chiasso; du lat. classicum, signal avec la
trompette, de classicus, qui est relatif à une classe, à une réunion, de
classis, une certaine partie du peuple romain (voy. CLASSE). Le classicum était
proprement un signal de trompette pour réunir, rassembler. Le nom de ce signal a
passé à une sorte de sonnerie. On trouve aussi glas pour aboiement, grand
bruit; dans le sens d'aboiement, c'est le même que le provençal glat qui a ce
sens et tient au verbe glatir (voy. GLAPIR).
Glas: ("clas", lat. "classicum",
sonnerie de trompette) Tintement d’une cloche d’église pour annoncer l’agonie,
la mort ou les obsèques d’une personne.
Como se comprova no
precursor do termo francês glas
a evolução dos fonemas sofre de vicissitudes idênticas aos semantemas.
Entre o classicum que reunia as classes para
os comícios e o glas da liturgia fúnebre francesa perpassa o
dobrar dos sinos da agonia da romanidade medieval e neste toque de finados
linguístico muitos sons e sentidos se perderam.
Lat. Clas-sicu > chas-ico> Ital. Chiasso ó «Chasco» (gracejo
satírico, motejo) < Cast. Chasco (Voz
onomat.)
> Bourg. clas; prov. clas
> Classic > glassit > glast >
provençal
glat < *glait < *Galla-ish > *glaish
> Fr. glais > glas.
Postular um *Galla-ish
pré-latino implica apelar para as línguas da bacia mediterrânica do Sul de
França e Nordeste de Espanha anteriores à dominação romana pelo que *glaish nada terá a ver com o germânico glaich
com que apenas se parece, se
é que do qual terá este derivado.
De qualquer modo do
culto arcaico da deusa mãe Galla derivou *Galla-uria de que terá
derivado a Glória dos militares que usaram e abusaram do classicum. Depois…de
etimologias duvidosas, falaciosas ou meramente ressonantes estão os dicionários
cheios.
O termo luso
«gritar» aparece inevitavelmente à colação desta questão etimológica. No
entanto, dizem os gramáticos:
«Gritar» < Lat. quiritare,
interpelar os Quirites!
Cry = c.1225, from O.Fr. crier, from L. quiritare "to wail, shriek," var. of quirritare
"to squeal like a pig"
from *quis, echoic of squealing, despite ancient folk etymology that traces
it to "call for the help of the Quirites, "the Roman
constabulary.
Será que um termo
tão banal quanto fisiologicamente espontâneo precisava de um termo com a
solenidade da liturgia da interpelação dos Quirites. Antes deste culto
tipicamente Romano não se gritava nem na Itália nem nas Ibérias?
Scream (v.) = c.1225, earlier shreamen
(c.1200), of uncertain origin, similar to words in Scand., Du.,
Ger., and Flem. (cf. O.N. skræma "to terrify, scare," Swed. Scra-na "to scream,"
O.H.G. scri-an, Ger. Schre-ien "to cry"). The
noun is attested from 1513.
Do mesmo modo se constata que Scre-am = O.N. skræ-ma está próximo
do latino Lat. clamore. Porém, com os restantes termos nórdicos apenas
compartilha a raiz skræ- muito mais próxima do banal "to
cry". Ora este termo de voz onomatopaica é possivelmente um sobrevivente dum
termo pré latino de que derivou o luso «gritar» e O.Fr. cri-er.
> Kry > (to) cry!
«Gritar» < Grit < Kari-et > Kri-it <= Kyrie
=> O.Fr. cri-er.
= Ish-Kar > skræ-.
De qualquer modo, sejam os gritos de guerra dos guerreiros
de Kar ou o clamor das trombetas a causa da estranheza sónica do glas
do toque a finados francês, o barulho vai dar ao mesmo. Que tais alaridos e
barulheiras de guerra tenham sido apenas uma realidade do classicismo romano é
de nula credibilidade. De igual modo há que constatar que se o classicum
dos romanos era o grande buzinão com BUC-CINA (lit. “corno de boi”) com que
faziam as suas sua galas militares os militarem modernos guardam dessa tradição
o grito da alvorada dos clarins e o rufar dos tambores em parada!
Classicu ó Lärm-blasen.
Lärm > Visigot. *El-Larm > «Alarme» ó
It. alle
arme = “às armas!” = «a-lar-ido» = Ár. | al + arir ó al-ar(i)d | = “revista às tropas” => «a-lar-de»,
etc.
Assim, pode-se postular
a lei de que na evolução das línguas e das palavras se dá quase sempre um
fenómeno de ressonância linguística que leva a adaptar fonemas antigos de que
se esqueceu o exacto sentido por intermédio de fonemas de sentido próximo.
A ressonância pode obedecer a leis próximas da arte poética!
A confluência de raízes semânticas com raízes fonéticas de
diversas origens pode revelar a confluência de diversas fontes de poder linguístico
na mesma corte de poder académico, que no caso das línguas ibéricas
pós-românicas, ora foi visigótico ora pasou a ser árabe ou italiano medieval!
«Grassar» < Lat. *grassare,
por grassari,
= caminhar pela areia da praia > para
apanhar «gar-abato» (< Cast. garabato)
ou «gra-vetos» de lenha na «gra-vinha» < enquanto os galináceos «es-gra-vatam
ou es-gar-avatam» em busca de «grã-inhas»!
Naturalmente que a raiz grã- nos reporta para uma deusa do
gão e de cereal que na latinidade foi Cer-es e terá sido Grain entre os celtas.
Assim, o grève francês será de origem tão pré-latina
como o termo de que derivou o latino *grassare.
Glaire = Étymol. et Hist. 1. Fin xie
s. judéo-fr. «humeur visqueuse» (Raschi, Gloses 546, p. 76 ds T.-L.); 2. 1re
moitié xiie s. «blanc d'œuf» (Lapidaire de
Marbode, éd. P. Studer et J.
Evans 652). Du lat. vulg. *clarea, terme coll., prob. dér. de l'adj. lat. class. clarus «clair»; g- initial demeure obscur; DG, FEW t. 2, p. 738b voient une infl. possible du lat. class. glarea «gravier» (d'où le m. fr. glaire «gravier», xive
s. ds Gdf.), voisin phonétiquement mais fort
éloigné de sens.
Grève = Étymol.
et Hist. Ca 1140 (G. Gaimar, Hist. des anglais, éd. A. Bell, 4711). Du lat. pop. *grava «gravier» (attesté en lat. médiév. 876 ds Nierm. au sens de «plage»), d'orig. prélatine; la
très grande extension du mot hors de l'aire gallo-romane (A. Långfors ds Romania t. 50, p. 631) rend improbable une orig.
gauloise (cf. FEW t. 4, p. 259). Bbg. Darm. Vie 1932, p. 78. - Quem
DDL
t. 1. - Rigaud (A.). Sous les ponts de Paris. Vie Lang. 1968, pp. 550-560. - Thurneysen 1884, p. 102.
Em todas as línguas existem elos perdidos nos falares
populares e crioulos que a língua padrão rejeitou. Os falares populares e
regionais caracterizam-se por serem resquícios de dialectos e línguas autónomas
arcaicas pendurados na fala comum e por isso são desprezadas pela gramática
oficial sujeitos a deturpações fonéticas e a desvios de sentido por metaforismo
natural. Com o tempo estes parasitas da linguagem podem passar de ruído de
fundo a música de deleite da corte ou a preciosismos de linguagem de
diletantes. O importante é que este ruídos-de-fundo se interligam como cerejas
num açafate podendo espalhar por uma vasta área geográfica sendo assim possível
encontra-lhes o rasto fonético onde menos se espera embora em termos
aparentemente sem relação de sentido! A causa deste fenómeno só pode residir precisamente
no que tem feito a riqueza das línguas: a plasticidade fonética dos falares e a
versatilidade retórica dos discursos. Embora a relação entre os fonemas e os
semantemas não seja nunca evidente e previsível ele é sempre aparente e plausível.
O ruído nos sistemas de linguagem ou é liminarmente rejeitado por ser equívoco
ou acaba por ser incluído como forma dum novo sentido!
O fenómeno da ressonância pode aparecer em toponímias
supostamente bem estudadas como é o caso da cidade de Istambul que começou por
ser Bizâncio, nome do seu fundador grego originário de Megara. No entanto,
antes de vir a ser apropriada pelos romanos para capital do império romano do
oriente com o nome de Constantinopla em honra do imperador que entronizou o cristianismo
e indirectamente devolveu o império aos gregos que por isso doravante passaria
a chamar-se bizantino a verdade é que possivelmente o nome do local já
existiria deste o tempo dos hititas com nome próprio próximo do actual,
Istambul.
Etimologicamente o nome é derivado da frase grega medieval "εἰς
τὴν Πόλιν" [istimˈbolin] ou, no dialeto egeu, "εἰς
τὰν Πόλιν" [istamˈbolin] (em grego moderno:
"στην Πόλι", que significa "na cidade", "à
cidade" ou "centro da cidade".
Se o nome era grego porque teriam os turcos preferido chamar
à preciosa cidade que tanto lhe havia custado a conquistar por um nome
supostamente de origem grega mas que pelas suas incertezas etimológicas nem
sequer seria um coloquialismo popular genérico de cidade como será o caso da
cidade de Bagdade, mas uma tentativa dos racionalistas posteriores tentarem
manter o grego na etimologia da cidade de que nem os turcos teriam conseguido
apropriar-se. De facto se assim tivera sido hoje seria com mais propriedade
Almedina do que Istambul.
Sabendo-se que Istano era o nome hitita do Sol e sendo esta
cidade oriental uma verdadeira cidade do sol nascente para os povos de origem
egeia então o seu nome original seria *Ishtan-polis, a cidade do sol, ou
meramente *Ishtan-bol, literalmente “a que transporta o sol da aurora”.
Este seria o nome originário da cidade que os falantes mais arcaicos,
acantonados no cotão do fundo de saco da história do estreito do Bósforo
perdido na memória dos estratos populares mais autóctones e castiços da cidade
que se teria desde sempre espalhado no linguajar comum do mar da Mármara com o
qual os turcos contactaram primeiro muito antes de conquistarem a poderosa
Constantinopla.
Myths, symbols and rituals work at several
different levels, simultaneously, according to the 48 Fundamental Sciences:
Philosophy, Metaphysics, Ethics, Theology, Religion, History, Geography,
Astronomy, etc… In other words, myths work not according to so-called
Aristotelian logic, but to "fuzzy logic", where concepts and ideas
are somewhat diffuse and vague, as in Quantum
Mechanics. We Westerners are not used to this kind of logic, in contrast to
the ancients and to the Orientals, and the Hindus in particular. Our difficulty
in understanding myths and their hidden truths derives above all from the
essence of our monosemic tongues, which accustom our minds to reason literally,
rather than "diffusedly". --
Para demonstrar o quanto pode haver de traiçoeiro no
percurso da arqueologia semiótica apresento o exemplo do que poderia ser uma hipotética etiologia apressada da
própria palavra «HIPÓTESE».
«HIPÓTESE» <= hi +
pot + esse = quase literalmente «isto
pode ser»!
Propondo-se uma etimologia em que apenas o hi teria que ser negociado, presumindo-lhe o papel de pronome indefinido numa
proto-linguagem virtual desconhecida, conseguiríamos de forma simples e
miraculosa o que poderia aparentar
uma tradução tão intuitiva quanto literal do termo HIPÓTESE.
Mas, como só na praxis política é que «o que parece é», há
que ficar de pé atrás com o que corresponde a uma informação excessiva para tão
pouco contexto que aliás nem sequer soa bem!
A intuição tem o defeito de carecer da convicção para
começar a ser verdade. Ora, neste caso, a convicção foi sempre pouca porque uma
etimologia idêntica a uma tradução literal além de pouco comum tem ainda o
inconveniente de ser suspeita como a galinha gorda e barata.
A estrutura gramatical do português não é seguramente a que
terá sido a dos tempos proto-linguísticos e, de resto, a palavra tem todos os
requisitos semânticos e etimológicos para ser uma óbvia importação erudita. De
facto, só a distracção não permitiu desde início reparar no aspecto helenístico
do termo que, transporto para o grego, daria: hipo + tese, cuja
tradução literal passa a ser menos directa na medida em que uma tese cavalar ou a cavalo da tese nos deixaria
na mesma dúvida, senão equídea, pelo menos leoninamente asneirenta.
Qualquer escolástico sabe que a hipótese vem antes da tese
que lhe fica descritivamente em cima, se bem que nos raciocínios aristotélicos
sejam as premissas que ocupam este lugar, com a força das certezas dos
primeiros princípios. Então, seria na dialéctica clássica que teríamos que
procurar o conceito da hipótese a demonstrar pela argumentação. Isto que
reporta o termo aos tempos dos sofistas, imediatamente anterior à lógica formal
peripatética. «Hipótese» terá sido assim um termo artificialmente sintetizado
pelos gramáticos gregos, até porque a linguagem comum costuma conter conotações
mais terra a terra e conteúdos mais óbvios e palpáveis pois mesmo quando
constrói termos que se referem a realidades abstractas e gerais fundamenta-os a
partir de abstracções evidentes e comuns com a universalidade reconhecida aos
deuses e não de particularidades anedóticas com que se elaboram as gírias
profissionais.
Claro que a etimologia pode andar mal orientada já de há
muito tempo e, de facto, a etimologia clássica quase sempre “mete água”! Desde
logo porque costuma enfermar do “pecado racionalista” de derivar o nome dos
deuses de termos circunstâncias o que, diga-se com ironia, não tem lógica
protocolar nenhuma. Depois, porque cai facilmente nas malhas menos sólidas do
senso comum duma tradição linguística limitada ao espaço cultural do
classicismo.
ESTANDARTE
Muitos exemplos se poderiam dar do quanto de duvidoso anda
pelo campo da etimologia particularmente no que respeita às línguas mais
recentes, ainda que muito faladas pelas mesma razões de sempre, fala-se sempre
mais sobre o que está na moda e que é sempre “o que está a dar”…dinheiro ou nas
vistas! Ao longo da história, as línguas predominantes foram sempre as línguas
francas fosse por razões de conquista fosse por motivos comerciais. O Inglês é
uma caso típico que consegui associar a razão de império à de negócio.
Porém, os novos-ricos nem sempre são os mais avisados ainda
que possam ser os mais cheiros de orgulho e presunção! O Inglês está longe de
ser já uma língua padrão ainda que comece a falar-se por toda a parte um Inglês
estandard.
Pattern (n.) = 1324, "the original proposed to imitation; the
archetype; that which is to be copied; an exemplar" [Johnson], from O.Fr. patron, from M.L. patronus (…).
Patron = "a lord-master, a protector,"
c.1300, from O.Fr. patrun (12c.), from M.L. patronus
"patron saint, bestower of a benefice, lord, master, model, pattern,"
from L. patronus "defender, protector,
advocate," from pater (gen. patris) "father." Meaning
"one who advances the cause" (of an artist, institution, etc.),
usually by the person's wealth and power, is attested from 1377; "commonly
a wretch who supports with insolence, and is paid with flattery"
[Johnson]. Commercial sense of "regular customer" first recorded
1605. (…)
Extended sense of "decorative design"
first recorded 1582, from earlier sense of a "patron" as a model to
be imitated. (…)
The difference in form and sense between patron and pattern wasn't firm till 1700s. Meaning
"model or design in dressmaking" (especially one of paper) is first
recorded 1792, in
Jane Austen. Verb phrase pattern after
"take as a model" is from 1878. (…)
The dates beside a word indicate the earliest
year for which there is a surviving written record of that word (in English,
unless otherwise indicated). This should be taken as approximate, especially
before about 1700, since a word may have been used in conversation for hundreds
of years before it turns up in a manuscript that has had the good fortune to
survive the centuries. --
http://www.etymonline.com/index.php
O termo standar de que os brasileiros já se aproveitaram tem
em português o óbvio equivalente semântico no termo «padrão» que mais não é que
um compromisso fonético entre o *pedrão com
que se fizeram os padrões e a semântica de patrão que ditava as regras e as lei
do patriarcado que substitui o matriarcado do neolítico pré-histórico. E a este
propósito conviria dizer que muitos anglicanismos fazem fortuna nas línguas
alheias não tanto porque as língua latinas mais velhas não tenham termos
próprios para traduzir os modismos inventados pelo génio industrioso dos
anglo-americanos mas sobretudo porque os termos quase sempre singelos e pouco
inovadores nas língua mãe fazem furor nas línguas latinas pelo seu exotismo
aparente. A inversa nem sequer terá acontecido com a última semântica do
“patron” posterior a 1700, que a língua inglesa terá recebido dos portugueses
no fundo do baú das parcelas de império marítimo que os lusos tiveram de dar de
mão beijada aos ingleses, uma vez que seria uma mera antonomásia em moda dum
termo inglês, por sinal nem muito antigo.
Obviamente que é foneticamente difícil fazer derivar pattern
do O.Fr. patron
quando é foneticamente óbvio que isso terá acontecido literalmente com o
Engl. Patron. Pelo contrário, não será este que deriva directamente
do latino pater mas o Engl. pattern, e não do genitivo
patris
mas do adjectivo paternus, sobretudo
porque a confusão gramatical patente denuncia a sua origem popular e crioula,
ainda durante a domínio romano da Bretanha.
Voltando ao termo standar:
Standard
= 1138, "flag or other conspicuous object
to serve as a rallying point for a military force," from O.Fr. estandart,
probably from Frank. *standhard, lit.
"stand fast or firm," a compound of words similar to Gothic standan "to stand" and hardus "hard”. So called because the flag was fixed to a pole or
spear and stuck in the ground to stand upright. The other theory connects the
O.Fr. word to estendre "to stretch out," from
L. extendere. Meaning "unit of
measure" is 1327, from Anglo-Fr., where it was used 13c., and is perhaps
metaphoric, the royal standard coming to stand for royal authority in matters
like setting weights and measures.
O interessante é que de todos os sentidos etimológicos
possíveis o inglês padrão vulgarizou precisamente o sentido prático mais
recente de padrão precisamente pela via das unidades de medida padronizadas que
os ingleses não aceitaram da revolução francesa por terem derrotado Napoleão.
Se uso e abuso da fala facilita a diversificação das
palavras é sobretudo o poder político quem fixa a semântica dominante.
Os Ingleses dizem que o seu standard deriva do antigo francês dos francos como aglutinante de
stand-hard que os ingleses poderiam produzir por si mesmos. Por outro lado
voltaram a importar de França o estandart.
As línguas cultas do centro mediterrânico há muito que
tinham deixado de aglutinar conceitos para produzir novas semântica em parte
porque tinham já termos de sobra para quase tudo e depois porque sendo línguas
altamente flexionantes e sufixativas não careciam do recurso à aglutinação para
criarem novos sentidos bastando-lhes modelar e declinar os que tinham para
deles extraírem os sons e aromas mais adequados a cada nova situação.
Depois se permanecessem ainda na fase da rudeza rural da
sexualidade explícita poderiam ter criado em vez de «estandarte» um
“sempre-em-pé” ou mais próximo da fonética do standard termos como *estendeirito < *estende-hirto ou *esten-direito < *estende-recto.
Obviamente que pela sua obvia liberalidade se tratariam de
etimologias de conveniência belicista própria de bárbaros mas não de autores de
canções de amor e trovas de amigo! Também não se discute a raiz semântica sta-.
Stand (v.) = O.E. standan (class VI strong verb; past tense stod, pp. standen), from P. Gmc. *sta-n-d- (cf. O.N. standa, O.S., Goth. standan, O.H.G. stantan, Swed. stå, Du. staan, Ger. stehen), from PIE base *sta- "to stand" (cf. Skt. tisthati
"stands," Gk. histemi" cause to stand, set, place," L. stare "stand," Lith. stojus, O.C.S. stajati). Sense of "to exist, be present" is attested from
c.1300.
A etimologia de *sta- não difere muito da do latino “cedere” e dos deuses do trono.
O sânscrito tisthati parece reportar-nos para um deus Hati, ou seja para o
terreno cultural dos hititas germinada nas franjas e na sombra dos impérios
minóicos e do crescente fértil que viria a engrossar a corrente sociocultural e
crioula dos movimentos bárbaros antigos.
Já os portugueses fazem derivar «estandarte» do provençal estendart < Lat. extendere = «estender».
Porém, onde foram os provençais buscar o seu estendart? Os provençais, ricos e cultos
descendente de galo-romanos, não eram muito dados a artes marciais mas mais
virados aos prazeres da paz e do amor. Procurando equivalências no dicionário
luso tropeçamos com o termo «estenderete» como sendo o que foneticamente lhe
deveria corresponder.
Ora, «estenderete» é a acção de fazer um «estendal» de
cartas sobre uma mesa de jogo. Os ingleses ouviram do estandarte o que quiseram
ouvir. Os provençais fizeram do «estendal» o que mais lhe agradava fazer!
«Estandarte» < Prov. estendart
< B. Latim *estender-etus < Lat. extendere > «estendal» da feira =
local onde mais frequentemente se punham à prova as bitolas da justa medida
> «estandarete».
Como a tendas de feira foram durante muito tempo meras lonas
estendidas, com possíveis bandeiras identificativas e publicitárias, também de
pano batido pelo vento, a semântica do estandarte teria assim começado nas
feira francas dos tempos arcaicos, muitos séculos antes dos francos se terem
feito duros com os galo-romanos. A particularidade dos jogos de feira com
cartas em estendal deve ter ficado entre os lusitanos como uma forma popular de
casino. Com as invasões bárbaras acabaram os casinos de feira e recomeçaram as
guerras tribais e de bandeira que fizeram as glórias do estandarte.
O EMBUSTE
ETIMOLÓGICO DAS SEICHELES
No Índico, as ilhas do paraíso são as «Seicheles» com praias
idílicas repletas de fragas graníticas e grandes seixos.
Quer isto dizer que
em princípio existem razões aparentes para fazer derivar o nome destas ilhas do
termo «seixo». Então:
«Seychelles» =
Seiche (i)lles, possível literalidade para «ilhas dos seixos» ou virtualmente *Seixilhas.
Quase que se poderia dizer que se o nome das Seychelles não
indiciasse uma descoberta portuguesa do arquipélago então estaríamos perante
uma demonstração de notável arcaísmo na colonização do indico, quiçá por
antigos ibéricos da frota fenícia. No entanto, a verdade é bem mais próxima e
banal.
Figura 2: Granite
rocks on the beach of La Digue,
Seychelles.
|
It is thought that the Seychelles
archipelago may have been visited by early Arab, Phoenician and
Indonesian traders, but the first recorded sighting was by the Portuguese
navigator Vasco da Gama at the beginning of the 16th century. Until as little
as 200 years ago, it remained uninhabited.
|
En 1756, les Français prennent officiellement possession
des îles Seychelles. Lorsque le capitaine Nicolas Morphey s'en empare,
elles ne portent pas encore ce nom. Il débaptise l'île d'Abondance pour
l'appeler Mahé, en souvenir de Bertrand François Mahé de La Bourdonnais,
gouverneur des îles de France et Bourbon (La Réunion). Puis, pour ne pas être en reste, il
baptise l'archipel tout entier au nom de Jean Moreau de Séchelles,
contrôleur général de Louis XV. Mais ce vicomte ne vint jamais dans l'Océan
Indien, le seul Séchelles qu'il connut étant sa seigneurie homonyme
de l'Oise.
Depois dum «balde de água fria» do Vale d´Oise já só mesmo o
remanso numa ilha paradisíaca nos poderia manter o sonho. Afinal a etimologia
francesa para o topónimo Séchelles pode ter etimologia paralela com *Seixilhas mas já não seria a mesma
coisa. Afinal, o nome da famosa ilha nada ficou a dever nem à beleza dos seus
seixos nem à sanha navegante dos portugueses mas tão só e simplesmente a uma
questão de sabuja bajulação política. A relação do nome com os sexos até
poderia ter por lá andado de forma indirecta e inconsciente entre a marinhagem
francesa recém chegada que só poderiam associar uma ilha de seixos com o
homónimo dum ministro do filho do rei sol, mas, quem disso pode ter a segurança?
A verdade é que a motivação fonética para associar uma ilha
de seixos a Jean
Moreau de Séchelles só pode ter sido a intuição de que aquelas
ilhas eram mesmo o que pareciam: *Seixilhas.
Poderia a sonoridade do francês
de Louis XV permitir tal
associação de ideias ou pelo contrário já era esse o nome informal que os
marinheiros portugueses davam aquelas ilhas?
Mas, antes de avançar neste campo importará referir que, se
é consensual aceitar que a investigação linguística é o principal instrumento
de “escavação arqueológica” para a descoberta de aspectos culturais
proto-históricos referentes às culturas aparentadas do grupo indo-europeu, não
me parece que os resultados alcançados até hoje sejam brilhantes na medida em
que não sendo sempre consensuais, seja na sua magnitude e importância seja na
clareza lógica dos métodos de investigação utilizados, também não são isentos
de falhas críticas imperdoáveis.
Vem isto a propósito do livro de Pierre Levêque o volume III
das PRIMEIRAS
CIVILIZAÇÕES. Salvo o devido respeito pela cultura francesa, este
livro além de conter muitas irregularidades de estilo, o que não é habitual em
autores franceses, contém desnecessárias tibiezas conclusivas a par de algumas
incoerências argumentativas o que, num campo onde os factos nascem sobretudo da
presunção, me parece constituir motivo bastante para, enquanto autodidacta e
ensaísta desencartado em transito pela história, dele me servir e me afastar
sempre e quando necessário.
1º O método para inferir uma língua desconhecida ideal a partir de outras, nem sempre bem
conhecidas na sua totalidade, não pode ser o mesmo utilizado pelos linguistas
para identificar uma língua desconhecida
real…mente. Neste último caso só o rigor linguístico e fonológico pode garantir conhecimentos certos. Já
na presunção duma linguagem a partir de factos quase sempre incertos conta mais
a intuição lógica do que o rigor técnico.
Assim, não se compreende que os autores afirmem nuns casos
coisas do género: “a equação, sedutora,
entre Brâmanes e os Flamines romanos põe problemas
fonéticos e era, como ainda é, rejeitada pelos purista da linguística, apesar
do poderoso reforço das análises de Dumézil”,
quando é obvio que:
Brâmanes < War man(es) < Kar ma An > Phar maan >
Phal Min(es) > Flamines.
Porém, em outras situações arriscam o inaudível como é o
caso da afirmação de que: “(…) gr. Kentauroi, ind. Gandharvá, ir. Gody,
lit. Gundu, aos quais se liga, pela
análise fonética, o latim februum.”
Que entre Kentauroi e
Gandharvá existe correlação fonética
é audível mas, a partir daí não se entende como Gody e Gundu possam dizer algo a esta
série. Já Februum...talvez tenha
mas...apenas dum antepassado comum muito distante de nome *Kikuran.
Februum < Phebruanum < Phe Wur Anu
< Ki kur An = Ki An
Kur => Kentaur.
Pelo contrário, este mesmo autor explica genericamente quase
tudo, no que respeita às possibilidade da
arqueologia linguística, a aplicar nas culturas do período neolítico
recente com cultura exclusivamente oral como é a fase mítica de quase todos os
povos antigos.
Quando o mesmo autor afirma:
«A verdadeira ciência é toda
de memória. Tal era a educação indo-europeia. Teremos então, por contraste, de
nos espantar pela manutenção das
estruturas teológicas ou mitológicas, ao passo que os nomes quase nunca
coincidem (…) A explicação do fenómeno, (…) parece-nos estar na própria
natureza da tradição: (…) uma sabedoria, (…) de especialistas, que só se
transmite de iniciado a discípulo. (…) O
nome verdadeiro do deus deve, com frequência, ter sido do domínio do segredo.
A renovação dos teónimos viria, em suma, de um tabu linguístico, de um
interdito cultural.»
Assim sendo, o mandamento
“não pronunciarás o nome de deus
em vão” não terá sido uma originalidade judaica mas, antes um imperativo
sacerdotal comum nas antigas civilizações! Por um lado por motivos de
corporativismo duma casta em expansão e por outro porque tal interesse
encontrava na reflexão teológica a ideia de que, se nomear é dominar, como está
implícito no Génesis (2,19-21), o corolário explícito só pode ser o de que, se
o homem deve adorar a Deus, então não o pode nomear e o implícito de que quem,
como a casta sacerdotal, detêm o segredo/sagrado do nome de deus partilha do
seu poder. Pelo menos era assim que pensava Isis antes de embriagar Rá para lhe
conhecer o nome secreto detentor de poderosos poderes mágicos.
Ora bem, se existem fortes razões para pensar que a ideia
antiga mais corrente de Deus era a de uma trindade funcional única então a
causa da persistência do politeísmo, pelo menos para além do helenismo, e do
encarniçamento da casta sacerdotal egípcia contra Akineton não pode ter
resultado da teologia dos sacerdotes não judeus. Pelo contrário, por razões de
sensatez e de sobrevivência, se o que os sacerdotes tinham de mais sagrado para
dar aos homens era o segredo do nome
de deus havia todas as razões para multiplicar os epítetos e as epicleses nos
nomes dos deuses como laboratórios multiplicam para os médicos os nomes de
marca dos medicamentos. Ora, é em parte este fenómeno que vem juntar
dificuldades acrescidas à linguística do nome de Deus!
But the fact that a natural phenomenon was
explained in one way did not hinder it from being explained in a dozen other
ways. The fact that the sun was generally regarded as an all-conquering hero
did not prevent its being called an egg, an apple, or a frog squatting on the
waters, or Ixion's wheel, or the eye of Polyphemos, or the stone of Sisyphos,
which was no sooner pushed to the zenith than it rolled down to the horizon. So
the sky was not only a crystal dome, or a celestial ocean, but it was also the
Aleian land through which Bellerophon wandered, the country of the
Lotos-eaters, or again the realm of the Graiai beyond the twilight; and finally
it was personified and worshipped as Dyaus or Varuna, the Vedic prototypes of
the Greek Zeus and Ouranos.
Se Sa < *san- =
são, santo (com saúde física e moral) do mesmo modo que o sal, pela sua virtude
de impedir a putrefacção da carne, se torna num elemento de importância vital e
por analogia ritual
Salix < sa + lux > salus = saúde = luz
santa
Ver: SALUS (***)
«Segredo» < sacredo
< sacar edo = ordem de Sacar
= mandamento, tabu!
«Sacramento» = excreção santa de Kar, para alguns gnósticos o
esperma era a excreção da alma e neste caso o sacramento (> excremento) seria
o esperma de *Kar.
Sashar < Satar
< Saturano < Sa
taur ano = «Santo Deus
Touro».
A prova de que o étimo *Sa-ta-ur é plausível
pode ser reforçada pelo facto de ser uma origem possível do termo Satan, o «diabo».
Porém a maior virtude desta equação reside no facto de dar à
luz o étimo *Sat- gerador tanto de
deuses (Saturno, Sátiro) como demónios (Satã, Satanás)! E, como
se esta virtude não bastasse para reabilitar este deus da Satisfação, resta ainda,
para sua eterna glória, o elo etimológico que estabelece entre o Urano de
Hisíodo e o Saturno de Ovídeo pela fórmula:
Deus do céu de Ur = Urano
= Santo deus taurino = Sataurano = Saturno.
Ficaríamos também a saber que o animal totémico de Ur foi (ou supunha-se que era) o Touro
se Ur não fosse aqui sinónimo de civilização e não tanto, da cidade
Suméria do mesmo nome, embora seja quase impossível não corresponder a um rasto
etimológico mnésico dos tempos da primeira grande civilização da história! Será
sempre impossível saber se foi o ovo ou a galinha o que nasceu primeiro e daí
que não nos seja possível propor se foi a cidade de Ur que gerou o étimo de
«ur(banidade)» ao ser extensivo por antonomásia a todas as cidades em geral ou
na forma de um qualificativo de algumas outras (Uruk v.g.) ou se pelo
contrário foi a cidade de Ur e outras cidades que assim foram chamadas
por ter sido a Suméria conquistada por indo-europeus vindos dos montes Urais
numa fase muito remota da pré-história Suméria.
O nome e o conceito de Ur é de pura e exclusiva criação dos
indo-europeus que o transmitiram por conquista aos Sumérios ou foi a cidade de Ur
que, pelo seu remoto e primevo prestígio cultural, impôs este som como étimo de
civilização? Julgo que será impossível responder a esta questão circular!
Na verdade o que a
expressão pretende revelar é que a civilização passou a ter o touro como animal
totémico e deus tutelar o que corresponde a um movimento de renovação religiosa
começado com a revolução neolítica do começo da agricultura, pelo menos no
mundo mediterrânico indo-europeu, como adiante se verá.
In the respective Vocabularies of Euskara
(Basque) and Magyar (Hungarian) there are words which are similar in form,
meaning and sound. However, similar words with similar meanings do NOT
prove that languages are related. It may point to a possible
relationship; you would still need to examine the origin of each and
every word (Euskara and Magyar) in order to be certain that
the similarity is not due to chance or to other factors such as being
loan-words. You would need to examine such scholarly works, for example, which
prove that the Euskara word ARRAN (a bell worn by sheep and cattle) is derived
from the word ARRAIN (fish) and therefore could not possibly be related to the
similar Magyar word HARANG (bell). --- Basque Hungarian Word List, T. Majláth.
Arran < Haran <
??? Arrain (Fish)???
«Charanga» < Harang < Kar-Enkiha, o sistro de Isis
e de Ishtar > Arrain (Fish) > «arenque» < Prov. arenc
< Germ. haring, exército???
Charanga < cast. charanga, m. s. orquestra composta por
instrumentos de sopro e, por vezes, de percussão.
Claro que um
chocalho de gado não é uma «charanga» mas um conjunto de campainhas pode fazer
uma charanga rústica. O importante é dar conta de que, na comparação entre
linguagens diversas, o núcleo fundamentar a comparar é o semantema. Ora, é
pouco provável que, mesmo em basco, a campainha tenha derivado do peixe porque
existe pouca semântica entre ambos os termos. Pelo contrário, a inversa é
plausível através duma arcaica semântica que relacionasse os chocalhos das
cabras de Enki, deus das águas doces e dos peixes, com os peixes
pelo lado capricórnico deste Deus. De facto, na comparação linguística vão ser
necessários muitos e diversos esforços, variados métodos e muita criatividade e
inspiração para descortinar as analogias mais fecundas as e verdadeiras raízes
semânticas existentes entre as línguas. No entanto, a analogia mitológica e a
lógica do sagrado deve ter sido o móbil semântico mais importante para ter
gerado os consensos indispensáveis à criação de linguagens com tendência para
uma semiologia de alcance universal, tal como o previsto na mitologia da
existência duma época histórica pós-diluviana anterior à confusão das línguas.
Mas, se o pecado esquerdista da investigação histórica se
revela no desprezo pelo papel dos deuses na criação metafórica do homem
cultural o maior pecado das ideologias de direita na investigação histórica
reside na teimosia de cotejar o espírito conservador pelas motivações da
tradição europeia e ocidental. De facto, ressoa bem aos ouvidos do Ego dos
eruditos do norte da Europa ouvir falar duma origem comum das línguas
indo-europeias que permitiria, no plano simbólico, estender o direito de
domínio e predomínio cultural para além do continente europeu, ou seja
penetrando em vastos territórios asiáticos e chegando como Alexandre Magno até
ao vale do Indo. Claro que foi sobretudo aos Ingleses que interessou a tese dum
arcaico domínio ariano do sub continente Indiano. Tal tese não só permitia que
uma Inglaterra vitoriosa e vitoriana superasse o complexo, senão de humildade
pelo menos de constrangido espanto, perante o sânscrito que lhes revelava uma
cultura hindu muito mais antiga do que a sua. Recusando liminarmente aceitar,
nem sequer por a hipoteque, que os hindus alguma vez tivessem sido antepassados
culturais dos Ingleses restava a conclusão do racismo ariano que o mais
elementar bom-senso impunha como significando a óbvia superioridade congénita
das raças que o eram actualmente e, como corolário, que os responsáveis pelo
sânscrito tinham sido antepassados dos ingleses. E assim nasceu o mito
politicamente bem pensante, mas pouco correcto, das línguas indo-europeias.
Figura 3: Migrations
and cultural diffusion carried the Indo-European protolanguage from the
homeland, which the authors place in the Transcaucasus( see Historical Armenia
maps), and fragmented it into dialects.
The science developed from the study of the
Indo-European superfamily of languages, by far the largest in number of
languages and number of speakers. Nearly half of the world's population speaks
an Indo-European language as a first language; six of the 10 languages in which
Scientific American appears—English, French, German, Italian, Russian and
Spanish—belong to this superfamily.
Over the past 200
years, linguists have reconstructed the vocabulary and syntax of the postulated
IndoEuropean protolanguage with increasing confidence and insight. They have
tried to unravel the paths by which the language broke into daughter languages
that spread throughout Eurasia, seeking at the
origin of those paths the homeland of the protolanguage itself. The early investigators placed the
homeland in Europe and posited migratory paths by which the daughter
languages evolved into clearly defined Eastern or Western branches. Our work indicates that the
protolanguage originated more than 6,000 years ago in eastern Anatolia
and that some daughter languages must have differentiated in the course of
migrations that took them first to the East and later to the West.
Afinal, se nem europeus nem hindus, os indo-europeus eram
proto-arménios?! Porém, de forma mais sensata, esta questão deveria ser
dividida de forma salomónica. Utilizando um paradigma epidemiológico poderíamos
investigar, por um lado a origem cultural desta «infecção linguística»
indo-europeia e, por outro, o vector rácico, ou seja, o povo ou povos que
geraram a massa de migrantes que difundiu a cultura e a língua Indo-europeia.
Assim sendo, o mapa acima referido não faz mais do que
referir o óbvio! Que, como a história e a cultura começaram na Suméria, a
origem cultural dos indo-europeus teria que ser de lá perto! Quanto ao povo ou
povos que veicularam com migrações recorrentes, continuadas e sucessivas o
fenómeno indo-europeu não parece que tenha sido apenas o arménio ou muito menos
o neo-hitita urartriano. A única conclusão óbvia a retirar é apenas esta. A
unidade cultural evidente dos indo-europeus é a mais fácil de pressupor, tanto
mais que vai ao encontro da lógica do que é sabido pelas fontes históricas
escritas. Porém, tal unidade cultural nada tem de espantoso aceitando que um
dos pressupostos da dinâmica das civilizações é este mesmo: o da tendência para a uniformização universal das culturas que
tem implícita a lógica da maximização das suas vantagens sociais. O que é bom é
o que “está a dar” mais-valias! Ora, por mais resistências conservadoras que
existam à partilha dos lucros destas vantagens (o que leva à
institucionalização do poder que legitima o privilégio do seu usufruto e o
direito de as guardar para seu uso exclusivo) a verdade é que a cultura gera
riqueza e, esta, poder que, como formas de energia que é, ou se transforma
depressa em moda cultural dominante, que se propaga como doutrina
política e se transmite como fé
religiosa, ou leva à explosão e degradação subsequente com a queda dos
impérios que se alimentam de fogo de palha.
In revising the consonant system of the
Indo-European protolanguage, we have also called into question the paths of
transformation into the historical Indo-European languages. Our reconstruction of the
protolanguage's consonants shows them to be closer to those of the Germanic,
Armenian and Hittite daughter languages than to Sanskrit. This neatly
reverses the classical conception that the former languages had undergone a
systematic sound shift, whereas Sanskrit had faithfully conserved the original
sound system.
Assim sendo, os indo-europeus eram apenas os povos que
viviam em torno do fogo cultural que despontava na mesopotâmia na época do
império cultural da Suméria e que, ao se deixaram influenciar pela cultura do
vinho e da cerveja, ganharam a energia suficiente para espalharem o incêndio da
revolução agrícola por toda a parte. De resto, o sânscrito deixou de ser a
razão central desta questão linguística.
Another significant clue to the identification
of the Indo-European home land is provided by the terminology for wheeled
transport. There are words for "wheel" (*rotho-),
"axle" (*hakhs-), "yoke" (*iak'om) and
associated gear. "Horse" is *ekhos and "foal" *pholo.
The bronze parts of the chariot and the bronze tools, with which chariots were
fashioned from mountain hardwoods, furnish words that embrace the smelting of
metals. Petroglyphs, symbols marked on stone, found in the area from the
Transcaucasus to upper Mesopotamia between the
lakes Van and Urmia are the earliest pictures of horse-drawn chariots.
Lat. rota < *rotho- < urautho < urat < Karash, «o
disco solar»!
*Hakhs- <= Termo
tão impronunciável quanto irredutível!
*Iak'om <= idem.
*Ekhos <= Hekikos
< Kikikus
*Pholo ó Ha-phau-lu < Kaka-lu.
I am the more explicit on this point, because
it seems to me that the unguarded language of many students of mythology is
liable to give rise to misapprehensions, and to discredit both the method which
they employ and the results which they have obtained. If we were to give
full weight to the statements which are sometimes made, we should perforce
believe that primitive men had nothing to do but to ponder about the sun and
the clouds, and to worry themselves over the disappearance of daylight. But
there is nothing in the scientific interpretation of myths which obliges us to
go any such length. I do not suppose that any ancient Aryan, possessed of
good digestive powers and endowed with sound common-sense, ever lay awake half
the night wondering whether the sun would come back again. []
Deixando de lado essa teoria, mais mítica do que histórica,
de ter havido uma raça, mesmo que de im(puros)
arianos, até se aceita que nem mesmo os neuróticos têm insónias por causa de
medos naturais pela simples razão de que nunca é a natureza que mete medo mas a
ideia que dela se possa fazer! Ora, ninguém faz teorias sobre a natureza por
sua conta e risco fora dum contexto académico
o que, transposto para o plano antropológico, significa que os “bons selvagens”
da aldeia de Asterix só teriam começado a temer que “o céu lhe caísse em cima”»
quando os druidas lhes explicaram a
origem das estrelas cadentes com o mito de Faetonte.
The child and the savage believe of
necessity that the future will resemble the past,
and it is only philosophy which raises doubts on the subject.[126] The
predominance of solar legends in most systems of mythology is not due to the
lack of "that Titanic assurance with which we say, the sun MUST
rise";[127] nor again to the fact that the phenomena of day and night are
the most striking phenomena in nature. []
Ora bem, os conceitos temporais são já realidade elaborada e
culturalmente apreendida. Porém, desde o momento em que se apreendem noções tão
básicas quanto trágicas, como as do nascimento e da morte, somos iniciados na
espiral da angustia metafísica que (e ainda bem para a sobrevivência da espécie
humana) está longe de ter a mesma intensidade e gravidade da neurose ansiosa.
Ora, se a angustia existencial da descoberta da natureza inexorável da morte
nasce como reacção às primeiras experiências pessoais de perda, a verdade é que
esta só se tornam depressiva quando imposta no contexto do jogo da vida com
apostas totalitárias num referencial ideológico de expectativas absolutas, decorrentes da dinâmica das sociedades
heróicas onde o culto de vitória é o ópio dos eleitos com que se mantém o
guerreiros dependente do “jogo da glória” ao serviço das estratégia da
sobrevivência do grupo.
Quer isto dizer que a depressão reactiva do “bom selvagem”
diante da inevitabilidade da derrota, por mais adiada que esta tenha sido pela
boa estrela das vitórias, se transforma no “sentimento trágico da vida”, tão
querido dos ibéricos de Uanamuno, que se torna na força anímica necessária para
a elaboração mítica no contexto dos cultos de morte e ressurreição dos “ritos
de passagem”, precisamente porque todo e qualquer herói e “bom selvagem”, de
todos os tempos e lugares, se recusa a aceitar a meio do “jogo da glória” a
derrota antecipada de que intuitivamente se apercebe quando se pressentem
enredados no logro das malhas que o império tece! Ora, as instâncias sociais
que caucionam com promessas de vitória este jogo-necessário
do sacrifício do indivíduo no altar da luta infernal pela sobrevivência do
grupo, que exaltam e fortalecem com a protecção de talismãs mágicos, e
santificam com a vontade dos deuses, sentem-se convocadas pelos lamentos de
todos os guerreiros feridos e pelos gritos lancinantes de todas as mães de
heróis mortos a ter de dar uma resposta consoladora a tanto sacrifício que mais
do que vão pode ser sentido como logro, traição e ineficácia mágica!
Eclipses and earthquakes and floods are
phenomena of the most terrible and astounding kind and they have all generated
myths; yet their contributions to folk-lore are scanty compared with those
furnished by the strife between the day-god and his enemies. The sun-myths have
been so prolific because the dramatic types to which they have given rise are of
surpassing human interest. The dragon who swallows the sun is no doubt a
fearful personage; but the hero who toils for others, who slays hydra-headed
monsters, and dries the tears of fair-haired damsels, and achieves success in
spite of incredible obstacles, is a being with whom we can all sympathize, and
of whom we never weary of hearing. []
Porém, o único remédio que a sociedade pode fornecer contra
a fatalidade das leis da entropia é a cultura do saber possível que é sempre
uma espécie de compromisso entre o realismo do óbvio e a ilusão do desejado com
que são urdidos os sonhos.
Such is the theory which was suggested half a
century ago by the researches of Jacob Grimm, and which, so far as concerns the
mythology of the Aryan race, is now victorious along the whole line. It remains
for us to test the universality of the general principles upon which it is
founded, by a brief analysis of sundry legends and superstitions of the
barbaric world. Since the fetichistic habit of explaining the outward phenomena
of nature after the analogy of the inward phenomena of conscious intelligence
is not a habit peculiar to our Aryan ancestors, but is, as psychology shows,
the inevitable result of the conditions under which uncivilized thinking
proceeds, we may expect to find the barbaric mind personifying the powers of
nature and making myths about their operations the whole world over. And we
need not be surprised if we find in the resulting mythologic structures a
strong resemblance to the familiar creations of the Aryan intelligence. In
point of fact, we shall often be called upon to note such resemblance; and it
accordingly behooves us at the outset to inquire how far a similarity between
mythical tales shall be taken as evidence of a common traditional origin, and how
far it may be interpreted as due merely to the similar workings of the
untrained intelligence in all ages and countries.
Analogies drawn from the comparison of
languages will here be of service to us, if used discreetly; otherwise they are
likely to bewilder far more than to enlighten us. A theorem which Max Muller
has laid down for our guidance in this kind of investigation furnishes us with
an excellent example of the tricks which a superficial analogy may play even
with the trained scholar, when temporarily off his guard. Actuated by a
praiseworthy desire to raise the study of myths to something like the high
level of scientific accuracy already attained by the study of words, Max Muller
endeavours to introduce one of the most useful canons of philology into a
department of inquiry where its introduction could only work the most hopeless
confusion. One of the earliest lessons to be learned by the scientific student
of linguistics is the uselessness of comparing together directly the words
contained in derivative languages. For example, you might set the English twelve side by side with the Latin duodecim, and then stare at the two
words to all eternity without any hope of reaching a conclusion,
good or bad, about either of them: least of all would you suspect that they
are descended from the same radical. But if you take each word by itself
and trace it back to its primitive shape, explaining every change of every
letter as you go, you will at last reach the old Aryan dvadakan, which
is the parent of both these strangely metamorphosed words.
É um facto que dvadakan tem ressonâncias com o duodecim(us) latino mas, nem um
nem outro parecem ter algo a ver com o twelve
inglês.
Ora, a verdade e que, se alguma relação existe
ela é incompleta e de outra natureza semântica.
*Dvadakan
< Diwa Kaki-na
< Diwa Kaki-ma > Thiua-Thacim => duodecim(us).
Twelve < Th(i)we + | Elwe < Elki < Helki > Elphi
º Kakian.
[130] Nor will it do, on the other hand, to
trust to verbal similarity without a historical inquiry into the origin of such
similarity. Even in the same language two words of quite different origin
may get their corners rubbed off till they look as like one another as two
pebbles. The French words souris, a "mouse," and souris,
a "smile," are spelled exactly alike; but the one comes from Latin sorex
and the other from Latin subridere.
Ou seja, a etimologia exige antes de mais bom-senso e senso
comum ou seja, respeito pelo que há de incontornável e óbvio na tradição ao
mesmo tempo que o espírito crítico e a dúvida metódica se impõem
sistematicamente uma vez que nem sempre o que soa menos está errado e nem tudo
o que é «bem trovato» é plausível e muito menos sempre acertado.
A
expressão italiana “se non è vero, è ben
trovato” é ela mesma uma expressão muito feliz relativa à verdade enquanto
mera plausibilidade. Ora bem, os maiores erros de tradução ocorrem precisamente
na fronteira entre o que se sabe ser a certeza e o que é a plausibilidade mais
razoável que não pode passar pela mera presunção por capricho pessoal.
O
verbo trovar, de trovador é de origem provençal mais ou menos segura (< B.
Lat. *tropare < encontrar um tropos,
figura de retórica) e
não italiana depois porque os “falsos cognatos” mais comuns são obviamente
termos homófonos de línguas próximas mas diferentes. Ora o termo italiano
trovar é cognato do francês “trouver” com a mesma origem do provençal
mas que evoluíram para termos de uso corrente com significado de encontrar o
que não aconteceu com os verbos
trovar relativos apenas a trovas (versos) e que por isso caíram em
desuso e hoje podem ser considerados falsos cognato dos termos italiano e
francês.
A
tradução mais adequada de expressões idiomáticas não é sempre a que respeita a
proximidade etimologia mas a que procura equivalentes na língua de tradução. Em
espanhol não sei como é a expressão corrente mas em língua lusa dizemos de algo
que se não é verdade poderia passar por isso que se trata de algo “bem achado”
ou “um bom apanhado”…que de facto é praticamente a tradução literal de ben
trovato.
Aulio Gelo,
refiriéndose a una palabra determinada, lanza, afirma lo siguiente: "Varro
dice que lanza no es una palabra latina, sino hispana". Para empezar y así
a guisa de aperitivo, el propio nombre del Lacio, la patria del pueblo latino,
es un derivado de Lanzia. Y este Lanzia, que es un topónimo
inconmensurablemtente ibérico (Bar-Lanza, Laziana, Lanzarote, Lanze, Linzoain,
Lanzoain, Lanzón, Lanzuela, Lanjarón, Lanz, ...) no es sino una aféresis de
Balanzia, lo que explica el que fuera justamente Balenzia el primer nombre
documentado de la ciudad de Roma, heredado, como vemos, de todas las Balenzias
(que no Valencias) de la
Península Ibérica. Que son numerosas. Como numerosas son las
Palanzias y Palenzias, incluyendo también, en este caso, a otro de los antiguos
nombres de Roma: Palanteo.
Pois bem, de tudo
isto só se pode inferir que Varro não teria tido razão já que seria ter mais
olhos que barriga demonstrar que foram os ibéricos que impuseram o castelhano
aos latinos.
A etimologia é como as cerejas: quando se puxa por uma ideia
vêm uma séria delas agarradas.
Ora bem, Valência antes de significar a realidade abstracta
do valor significou o seu avaliador concreto que em latim era a libra e que em português é a «balança»!
Ora, a «balança» deve conter referência ao peso = bar e ao fiel dos pratos que é a lança => Bar + lanza = Bar-lanza,
um dos topónimos referidos. Para além do mais fica assim provado que o
português, como as línguas ibéricas que não são apenas o castelhano, tiveram
uma evolução independente do latim ao ponto de só conter os semantemas que lhe
convieram. Neste caso, nem mesmo numa realidade onde nem seria de esperar
divergências, pois a questão dos pesos e medidas tinha uma importância
económica tal que os imperadores romanos terão feito o que puderam para os
imporem aos ibéricos, tal como o latim se impôs aos lusitanos.
El Espasa nos dice que Cayo, en latín, es derivado de cantes, "peñasco, roca", y
que como prenombre romano significa señor, a la par que los romanos lo
empleaban como nombre propio, siendo sinónimo en Italia de fulano.
Como se verifica mais uma vez parece que a etimologia ou
permite tudo ou tem segredos a que só se chega com muita magia e ainda maior
inspiração nem sempre necessariamente divina.
Que Cayo e «cantes» possam ter andado etmicamente
ligados não será de espantar mas que se possa ir de cantes a Cayo já me parece mais difícil de ouvir! Para mim é muito
mais claro o seguinte:
Gaio < «Caio» < Kajo < Kasho
< Kako, o deus do fogo que se manifesta no cume dos montes
vulcânicos.
Quanto a «cantes» <
Ki-Antu, o monte santo da Deusa-Mãe-Terra!
In 1984, Gamkrelidze and Ivanov published their
monumental joint monograph (an English translation of this work has since been
published by Mouton de Gruyter [in 1995]). As is to be expected, this massive
work (2 volumes, 1,328 pages) contains the most detailed discussion of the
Glottalic Theory that has yet appeared. Gamkrelidze and Ivanov's book also
contains trajectories of the revised Proto-Indo-European phonological system in
the various Indo-European daughter languages, original proposals concerning the
morphological structure of the Indo-European parent language, an exhaustive
treatment of the Proto- Indo-European lexicon, and a new theory about the
homeland of the Indo- Europeans (they argue that the Indo-European homeland was
located in eastern Anatolia in the vicinity of Lake Van). One of the most novel
proposals put forth in the book is that Proto-Indo-European may have had
labialized dentals and a labialized sibilant. Gamkrelidze and Ivanov also posit
postvelars for Proto-Indo-European. --- Indo-European Phonology by Allan
Bomhard.
Passarei a expor um tipo de análise linguística de tipo
comparativo baseada em pressupostos operativos intuitivos.
1.
Não sendo possível conhecer a fonética exacta de todas
as línguas indo-europeias mortas conhecidas, sendo muitas as formas dialectais
desconhecidas (mais as mortas do que as vivas) e sabendo que a maior parte
das vezes nem sequer a tónica é conhecida o melhor é limitar a análise
linguística aos étimos virtuais das
palavras.
2.
Estes étimos
virtuais encontram-se depois de uma transposição simulada para a fonética
duma língua de trabalho (que pode muito bem ser o latim para um analista duma
língua latina, ou até mesmo a própria língua materna do autor da analise)
3.
Aceitando o desafio teórico de pressupor que as línguas
são tanto mais simples e as palavras tão mais sintéticas quanto mais primitivas
forem as línguas em estudo ao ponto de tenderem a ser monossílabos
consonânticos e aglutinantes.
4.
Como corolário, aceita-se que as línguas evoluem em
complexidade a partir de um núcleo monossilábico de tipo onomatopaico por
sobreposição sedimentar primeiro por grupos monosilabicas aglutinantes e depois
por infixos, sufixos e prefixos.
5.
A semiologia dos étimos permanece no núcleo não
flexional ou seja na parte dos infixos que não resulta da força do contexto
gramatical. As línguas semelhantes terão gramáticas mais ou menos semelhantes
mas o sentido dos étimos não pode depender das vicissitudes dessas semelhanças.
6.
As leis do bom senso prevalecem nas presunções por
verosimilhança. Semelhanças inequívocas ou coincidências estranhas demais para
não serem suspeitas de veracidade são tanto mais credíveis quanto mais afastadas
na geografia e na história. Como corolário, uma semelhança linguística entre
povos que não podem ter estado em risco de contágio cultural, por contacto
exclusivo, tem que corresponder à sobrevivência de um elo cultural comum e
muito antigo que se perdeu no tempo da evolução linguística histórica.
7.
Uma equação etimológica será tanto mais plausível
quanto menos longa for a série de elos evolutivos propostos. Um bom princípio
de credibilidade deveria conter menos de três passagens.
8.
Os étimos
virtuais das passagens intermédias correspondem quase sempre a elos
perdidos em virtude de puderem corresponder a dialectos não fixadas na tradição
literária dessa língua ou a fases esquecidas da sua longa evolução.
9.
Nas línguas modernas, onde convergem dialectos e línguas
diversas, podem cruzar-se várias linhas de evolução semântica. v.g.: O
português tanto pode ter por génio intrínseco o latim coma a vis celtibérica do lusitano como,
sobretudo as línguas e falares de todos os povos que passaram por cá.
Posto isto, passemos a uma comparação do nome conhecido do
Deus supremo em várias línguas indo-europeias antigas.
Ver: DEUS PAI (***)
& HABEO (***)
"[Plato
invents philosophical explanations for the names of the gods:]
Se inicia el diálogo con una invitación, por parte
de Hermógenes, a que Sócrates participe de la discusión que éste ha estado
sosteniendo con Crátilo sobre la exactitud de los nombres.
Crátilo sostiene que los nombres son exactos
por «naturaleza» (physei), por lo que algunos no corresponden a quienes los
llevan, por ejemplo: el mismo de Hermógenes.
Hermógenes, por el contrario, piensa que la
exactitud de éstos no es otra cosa que «pactó» y «consenso» (synthéke,
homología), «convención» y «hábito» (nómos, éthos).
Sócrates pretende destruir inmediatamente la
teoría convencionalista, para adherirse, en principio, a la idea naturalista de
Crátilo.
Sócrates
sostiene que puede que... no sea banal la imposición de nombres... con que
Crátilo tiene razón.
El artesano
de los nombres no es cualquiera, sino sólo aquel que se fija en el nombre que
cada cosa tiene por naturaleza y es capaz de aplicar su forma tanto a las
letras como a las sílabas».
Es decir,
existe un nombre en sí (forma) que puede encarnarse en diferentes sílabas y
letras.
Sócrates
considera definitivamente liquidada la teoría convencionalista por las
consecuencias epistemológicas y –en definitiva- ontológicas que implica.
Frente a
ella, opone su -todavía tentativa- teoría de las formas
que parece ajustarse
mejor al naturalismo de Crátilo.
Para apoyar a
Cratilo, Sócrates alude a la imitación: «el nombre es la imitación de la
esencia mediante sílabas y letras».
Sócrates
alude a la imitación: «el nombre es la imitación de la esencia mediante sílabas
y letras». El lenguaje es un arte imitativo más, con un objeto propio, la
esencia de las cosas. Así como el pintor realiza su imitación del color con los
diferentes pigmentos, así «el nominador» realiza su imitación de la esencia con
sílabas y letras.
a) Según ha quedado ya sentado, la exactitud del nombre consiste en
que éste revele la esencia de la cosa; es decir, el lenguaje es un arte
imitativo.
b) Si es arte, por un lado habrá artesanos buenos y malos, luego el
nombre revelará la esencia de las cosas mejor o peor según la cantidad de
rasgos que revele de dicha cosa.
Pero, además,
es un retrato, es decir, algo distinto de la cosa (no una adherencia o un
duplicado de ella, como
sostiene el naturalismo de Crátilo), y lo mismo que un retrato se puede aplicar
a quien no le corresponde, así el nombre puede aplicarse al objeto que no le
corresponde; es decir, se, puede hablar con falsedad. Por segunda vez se ha
probado como
falso el célebre sofisma de que no se puede hablar falsamente.
c) Ahora
bien, el nombre no solamente puede representar mal la cosa. De hecho, a veces
representa lo contrario, como sucede con la palabra sklérótēs, que significa
para los atenienses lo mismo que sklerotēr para los eretrios, siendo así que,
en un caso, termina en s y, en el otro, en r, elementos que significan, según se
explicaba arriba, nociones distintas (r, «movimiento» y s, «agitación»). Y, además,
significando «dureza», contiene 1 que denota lo liso, grasiento, viscoso (i. e.,
lo blando).
d) Y, sin
embargo, nos entendemos. Aquí Crátilo admite precipitadamente: «sí, pero por
‘costumbre’ (éthos)». ¿Y qué otra cosa es costumbre que «convención» (nómos)?
Con esto, Sócrates ha llevado a Crátilo a admitir que, en definitiva, la
exactitud del
nombre consiste en la convención.
Tanto Crátilo como Hermógenes sostienen que los nombres son
exactos.
La diferencia estriba en que para Hermógenes lo
son todos katà nómon o éthos (por «convención» o «costumbre») y para Crátilo, o
lo son katà physin (ajustándose a la realidad), o ni siquiera son nombres, sino
meros ruidos.
Tal es el planteamiento radical que se ofrece
al comienzo del diálogo por boca de Hermógenes; doblemente radical, ya que se
afirma que todos los nombres son exactos y que, o lo son por convención, o lo
son por naturaleza. Veamos
por separado ambas tesis y sus bases filosóficas, así como las implicaciones
que tienen o las que Platón les atribuye.
El lenguaje
es un arte imitativo más, con un objeto propio, la esencia de las cosas. Así
como el pintor realiza su imitación del color con los diferentes pigmentos, así
«el nominador» realiza su imitación de la esencia con sílabas y letras.
SÓCRATES.—
¿Y Pan, mi querido amigo? Probablemente es hijo de Hermes, y tiene una doble
naturaleza.
HERMÓGENES.—
¿Cómo?
SÓCRATES.—
Sabes que el discurso expresa todo, (pan), y que rueda y circula sin
cesar, (polei aei). Sabes igualmente que es de dos modos: ver-dadero y
falso.
HERMÓGENES.—
Perfectamente.
SÓCRATES.—
La parte verdade-ra del discurso debe ser llana, divina, colocada en lo alto
entre los inmorta-les; la parte falsa debe estar situada acá abajo entre la
multitud de los hombres, y ser de una naturaleza bru-tal y análoga a la de la
cabra; porque en este género de vida es donde tie-nen su origen la mayor parte
de las fábulas y de las mentiras.
HERMÓGENES.—
Perfectamente.
SÓCRATES.—
El que lo anuncia todo (pan), y que circula sin cesar, (aei poloon), será
llamado con exactitud (pan aipolos), hijo de Hermes, con doble
naturaleza, liso y limpio en la par-te superior, velludo como una cabra en la
parte inferior. Por consiguiente, si Pan es hijo de Hermes (Ermes), es o el
discurso o hermano del discurso; ¿y qué tiene de extraño que el hermano se
parezca al hermano? Pero, como
dije antes, mi excelente amigo, deje-mos en paz a los dioses.
SÓCRATES.—
¿No es oportuno comenzar por los dioses, e indagar por qué razón se les ha
podido dar con propiedad el nombre de (theoi)?
HERMÓGENES.— Muy bien.
SÓCRATES.— He aquí lo que sospecho. Los primeros hombres,
que habitaron la Hélade,
no reconocieron, a mi parecer, otros dioses que los que hoy día admiten la mayor
parte de los bárbaros, que son el sol, la luna, la tie-rra, los astros y el
cielo. Como los ve-ían en un movimiento continuo y siempre corriendo,
(théonta), a causa de esta propiedad de correr (theín), los llamaron
(theoí). Con el tiempo las nuevas divinidades que concibieron, fueron
designadas con el mismo nom-bre. ¿Te parece que esto que digo se aproxima a la
verdad?
HERMÓGENES.—
Me parece que sí.
SÓCRATES.—
¿Qué deberemos examinar ahora? Evidentemente los demonios, los héroes y los
hombres.
HERMÓGENES.—
Veamos los demonios. (…)
SÓCRATES.—
El poeta se explica de esta manera:21
“Desde que la muerte ha extinguido esta
raza de hombres,
Se les llama demonios, habitantes
sagrados de la tierra,
Bienhechores,
tutores y guardianes de los hombres mortales”.
SÓCRATES.—
Esto basta, en mi juicio, para dar razón del nombre de demonios. Si Hesíodo los
llamó demonios, fue porque eran sabios y hábiles, (daeemones), palabra
que pertenece a nuestra antigua lengua. Lo mismo Hesíodo que todos los demás
poetas tienen mucha razón para decir que, en el instante de la muerte, el
hombre, verdaderamente bueno, alcanza un alto y glorioso destino, y recibiendo
su nombre de su sabiduría, se convierte en demonio. Y yo afirmo a mi vez que
todo el que es (daeemon), es decir, hombre de bien, es verdaderamente
demonio durante su vida y después de la muerte, y que este nombre le conviene
propiamente.
HERMÓGENES.—
No puedo menos de alabar lo que dices, Sócrates. Pero ¿qué son los héroes?
SÓCRATES.— No es punto difícil de comprender. Esta palabra
se ha modificado muy poco; y demuestra que los héroes toman su origen del amor,
ἒρως (eros).
HERMÓGENES.—
¿Qué quieres decir con eso?
SÓCRATES.—
¿No sabes que los héroes son semidioses?
HERMÓGENES.—
¿Y qué?
SÓCRATES.—
Es decir, que todos proceden del amor, ya de un dios con una mortal, ya de un
mortal con una diosa, Si quieres que me refiera a la antigua lengua ática,
entonces me entenderás mejor. Verás que el nombre de amor, al que deben los
héroes su nacimiento, se ha modificado muy poco. He aquí cómo es preciso
explicar los héroes; o si no, hay que decir que eran sabios y oradores,
versados en la dialéctica, y particularmente hábiles para interrogar, (erotan);
porque (eirein) significa hablar. Como decíamos, resulta que en la
lengua ática son oradores o disputadores, (erooteetikoi) y la familia de
los oradores y de los sofistas es nada menos que la raza de los héroes. Esto es
fácil de concebir. Pero es más difícil saber por qué a los hombres se les llama
(anthroopoi). ¿Puedes tú explicarlo?
ERROS A NÃO COMETAR
MAIS:
HERMÓGENES.—
¿Y la luna (seleenee)?
SÓCRATES.—
Esa es una palabra que mortifica a Anaxágoras.
HERMÓGENES.—
¿Por qué?
SÓCRATES.—
Porque parece atestiguar la antigüedad de la doctri-na, recientemente enseñada
por este filósofo, de que la luna recibe la luz del sol.
HERMÓGENES.— ¿Cómo?
SÓCRATES.—
La palabra (selas y fos) tienen el mismo sentido (luz).
HERMÓGENES.—
Sin duda.
SÓCRATES.—
Pues bien; la luz que recibe la luna es siempre nueva y vieja, (neon kai
enon aei), si los discípu-los de Anaxágoras dicen verdad; por-que girando
el sol alrededor de la lu-na, le envía una luz siempre nueva; mientras que la
que ha recibido el mes precedente es ya vieja.
HERMÓGENES.—
Conforme.
SÓCRATES.—
Muchos llaman a la luna (selanaia).
HERMÓGENES.—
Conforme.
SÓCRATES.—
Y puesto que la luz es siempre nueva y vieja, (selas neon kai enon aei), ningún
nombre puede convenirle mejor que (selaenoneaeia), de donde por
abreviación se dice: (selanaia).31
HERMÓGENES.—
He aquí una palabra verdaderamente ditirámbica, Sócrates. Pero qué dices de (meis,
me-ses) y de los (ostra, astros)?
Sócrates.— (meiousthai, dismi-nuir),
debería decirse propiamente (meiees). Los astros parece que toman el
nombre de su brillo, (astrapee); palabra que viniendo de (ta oopa
anastrefei, que atrae las miradas) debe-ría decirse (anastroopee);
pero para ha-cerlo más elegante se ha pronunciado (astrapee).
HERMÓGENES.—
¿Y las palabras (pur, fuego) y (udor, agua)?
Myths and Myth-Makers: Old Tales and Superstitions Interpreted by Comparative
Mythologyby John Fiske.
(tanto pior para os puristas que desconfio singular e
marreta, pois que a analogia é flagrante demais para não poder passar de hipótese
teórica a presunção.
Myths and Myth-Makers: Old Tales and Superstitions Interpreted by Comparative
Mythologyby John Fiske.
Myths and Myth-Makers: Old Tales and Superstitions Interpreted by Comparative Mythology
by John Fiske.
Myths and Myth-Makers: Old Tales and Superstitions Interpreted by Comparative
Mythology by John Fiske.
Myths and Myth-Makers: Old Tales and Superstitions Interpreted by Comparative
Mythology by John Fiske.