terça-feira, 26 de agosto de 2014

SANTARÉM, CIDADE DE ALFANGES E CENTAUROS por Artur Felisberto.

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Figura 1: campinos das lezírias do Ribatejo
O que há de mais característico na cidade de Santarém é o nome escalabitano dos seus habitantes que como é sabido deriva do nome que os romanos davam à cidade. Já o actual nome de Santarém, ainda que mais recente, parece de origem obscura e de etimologia pouco clara.
O início da Idade do Ferro no Estuário do Tejo, tal como em muitas outras zonas da fachada litoral peninsular, parece estar assinalado pela chegada de populações de matriz cultural oriental.
Este fenómeno ocorre, de acordo com as datações de radiocarbono obtidas durante escavações realizadas em Santarém (Arruda, 2005), e Almaraz (Barros, Cardoso & Sabrosa, 1993), entre finais do séc. IX e inícios do séc. VIII a.C., e irá alterar, em definitivo, a paisagem humana e cultural do Estuário. -- A ocupacão da foz do Estuário do Tejo em meados do Iº milénio a.C. Elisa de Sousa.
No entanto, não foram os romanos que criaram a cidade que já existia como uma das mais importantes do Ribatejo aquando da sua chegada.
Santarém é, em Portugal, uma das cidades que mais importância alcançou ao longo dos séculos. A presença humana na sua área está atestada já no Neolítico, mas é na Antigüidade que Santarém começa a adquirir notoriedade.
Em meados do século II a. C. os romanos chegaram ao rio Tejo, identificando a povoação Scallabis como uma das principais da região.-- Revista “Cabral, o Viajante do Rei”â - 4ª Edição.
Se Mantas não contesta a associação da área da Alcáçova ao Praesidium de Plínio, este investigador considera que a colonia não deve localizar-se neste planalto. Os factos que apresenta como argumentos para a sua tese baseiam-se num estudo detalhado das referências de autores medievais e na suposta descontinuidade dos vários núcleos urbanos que estiveram na génese da formação da vila medieval (Mantas, 1996, p. 584-600). Um dos problemas por resolver consiste no facto de Estrabão ter “esquecido” a referência à cidade scallabitana, quando menciona Móron e Olisipo, no vale do Tejo. Por outro lado, nas referências dos autores árabes transparece a ideia de uma cidade bipolarizada, com um importante núcleo ribeirinho, sendo igualmente considerada a área, de apenas 4,5 ha muito reduzida para poder ter sido ali edificada a colonia (Mantas, 1996, p. 596). Não deve, a este propósito deixar de se recordar a indicação de Jorge de Alarcão, que, a este respeito, afirma: “Talvez a cidade actual não se sobreponha exactamente à romana, ou esta se dividisse em vários núcleos não contínuos, um no morro onde se situa a Alcáçova, outro na ribeira do Tejo (Alarcão, 1988, p. 48). -- Viegas, C. (2003a) – Terra sigillata da Alcáçova de Santarém – Economia, comércio e cerâmica. Trabalhos de Arqueologia. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia.
Muitas são as cidades que em Portugal mudaram de nome desde a época dos romanos, pelo menos no que respeita ao que documentadamente é conhecido, mas nenhuma como Santarém parece ter mudado de nome de moto próprio como resposta milagrosa ao culto de uma santa de origem e historicidade duvidosa e que nem sequer é a sua padroeira. De facto, de 5 a 9 de Agosto têm lugar na freguesia da Ribeira de Santarém as Festas de Santa Iria mas não em honra desta santa mas de Nossa Senhora da Saúde.
Santa Iria: esta santa não goza de grande culto popular, mas é frequente encontrá-la na toponímia. associada à ideia de cidade, é um topónimo de origem euskera ou proto-euskera, como Irun, Iruña. A freguesia de Tomar onde se situava o primeiro assentamento populacional chama-se Santa Iria. É provável que este termo esteja presente também em Santarém e em Leiria e que a santidade (sacralidade) provenha do lugar. A antiga Iria Flávia prescindia da santidade, apesar de estar intimamente ligada à lenda de Santiago.[1]
Aceita-se que em Leiria esta Santa Iria, que mais não seria que uma velha deusa Inana / Irnina santificada esteja presente mas é duvidoso que facto linguístico idêntico tenha ocorrido em Santarém.
Obviamente que seria néscio recorrer para a dualidade evidente e elementar de todas as cidades estado neolíticas que, enquanto centros administrativos embrionários, eram simultaneamente pólos atractivos dos recursos agro-pecuários das populações das suas áreas geográficas de influência e de onde irradiava a cultura e a civilização que as populações citadinas produziam como meio de troca. Como nem só de pão vive o homem mas também da palavra de divina as cidades do mundo antigo formavam em torno dos templos uma unidade fundamental auto-suficiente com as suas populações rurais que as nutria de pão e a quem matavam a fome de divindade. No caso de Santarém esta dualidade simbiótica campo / cidade não se ficou apenas pela evidência das festas ao seu padroeiro S. José das «alfaias» de carpinteiro e patronos dos artífices e artesãos. Expõe-se nas festas do campino do Ribatejo que simultaneamente ocorrem nesta cidade.
De 18 a 23 de Março, Santarém respira num ambiente tipicamente ribatejano, em que o sagrado e o profano dão as mãos, para celebrar a honra da Cidade e de S. José, seu patrono. Campinos, toiros, artesanato, gastronomia, música e folclore preenchem o Campo Emílio Infante da Câmara com alegria, movimento, cor e sabores, levando-nos a recuperar e a festejar as tradições da nossa terra, das nossas gentes, fortalecendo a nossa identidade, recriando as nossas vivencias.
Durante seis dias, milhares de pessoas juntam-se a Santarém para VIVER o que de melhor a Cidade tem para oferecer. Largadas de toiros, desfiles de campinos e de cabrestos, espetáculos equestres, romarias, folclore com ranchos do concelho, mercados tradicionais, tasquinhas ribatejanas, provas desportivas, espaços de diversão para crianças e jovens, e o grande cartaz musical, são exemplos de momentos de animação que já temos preparados para si.
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Figura 2: Homenagem aos campinos do Ribatejo.
Se Mantas não contesta a associação da área da Alcáçova ao Praesidium de Plínio, este investigador considera que a colonia não deve localizar-se neste planalto. Os factos que apresenta como argumentos para a sua tese baseiam-se num estudo detalhado das referências de autores medievais e na suposta descontinuidade dos vários núcleos urbanos que estiveram na génese da formação da vila medieval (Mantas, 1996, p. 584-600). Um dos problemas por resolver consiste no facto de Estrabão ter “esquecido” a referência à cidade scallabitana, quando menciona Móron e Olisipo, no vale do Tejo. Por outro lado, nas referências dos autores árabes transparece a ideia de uma cidade bipolarizada, com um importante núcleo ribeirinho, sendo igualmente considerada a área, de apenas 4,5 ha muito reduzida para poder ter sido ali edificada a colonia (Mantas, 1996, p. 596). Não deve, a este propósito deixar de se recordar a indicação de Jorge de Alarcão, que, a este respeito, afirma: “Talvez a cidade actual não se sobreponha exactamente à romana, ou esta se dividisse em vários núcleos não contínuos, um no morro onde se situa a Alcáçova, outro na ribeira do Tejo (Alarcão, 1988, p. 48). -- Viegas, C. (2003a) – Terra sigillata da Alcáçova de Santarém – Economia, comércio e cerâmica. Trabalhos de Arqueologia. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia.
A dualidade funcional da cidade de Santarém estaria portante desenhada na sua topografia bipolarizada que teria na Alcáçova mourisca o remanescente do núcleo mais arcaico da cidade lusitana escalabitana, fortificada já na época micénica dos «povos do mar». No núcleo ribeirinho, que mais próximo estaria do campo e da lezíria do Tejo, ficaria o remanescente dos vestígios mais arcaico: um povoamento neolítico não fortificado de origem minóica e cujos vestígios terão desaparecido com o tempo no assoreamento do rio.
Não deve, a este propósito deixar de se recordar a indicação de Jorge de Alarcão, que, a este respeito, afirma: “Talvez a cidade actual não se sobreponha exactamente à romana, ou esta se dividisse em vários núcleos não contínuos, um no morro onde se situa a Alcáçova, outro na ribeira do Tejo (Alarcão, 1988, p. 48). (…)
As transformações que o traçado do rio Tejo sofreu desde a Antiguidade até aos nossos dias, aliado ao facto da região do Vale do Tejo não ter sido objecto de estudos de prospecção arqueológica sistemática, podem explicar a escassez de vestígios conhecidos em torno de Santarém. As descrições de Estrabão apontam para que esta lezíria fosse particularmente fértil, sobretudo para o cultivo de cereais, da vinha e na produção de azeite. Podia obter-se ouro, pela lavagem das areias do Tejo, e os cavalos criados nas suas margens eram conhecidos pela sua velocidade. -- Viegas, C. (2003a) – Terra sigillata da Alcáçova de Santarém – Economia, comércio e cerâmica. Trabalhos de Arqueologia. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia.
O interessante é suspeitar que pode ter sido esta dualidade funcional que a cidade de Santarém teria de forma particularmente marcada que terá gerado as tensões culturais que, no decorrer das vicissitudes da sua história, decidiram o destino da sua toponímia.

ESCALABITANOS
                                            < ??? Scall-Abi-dis < *Ish-Kar Wer-Dis
Santarém ó Lat. Scallabis < Scalavilis < Ish-Kar-(brigo) <=
??? *Ish-kar-an < Saturan ó Santhaur => ???
San©ta- | (Iria/Irene) > Iria-ne/am > Sant 'Arein > Arab. Chantirein
/ Chantarim > Santarém.
Santarém tem abrigado várias lendas acerca da sua origem. Uma delas está relacionada com a mitologia Greco-Romana e conta que o príncipe Abidis, fruto de uma relação do Rei Ulisses de Ítaca com a Rainha Calipso, foi abandonado pelo avô – Gorgoris, Rei dos Cunetas – que o lançou às águas do Tejo, dentro de uma cesta. Como por milagre a cesta que albergava o príncipe aportou na praia de Santarém, onde uma serva o criou. Tempos depois, Abidis foi reconhecido pela sua mãe, Calipso, tornando-se assim legítimo ao trono. A Santarém deu o nome Esca Abidis (“manjar de Abidis) e daí teria vindo o nome Escálabis.
Com um pouco mais de cultura clássica ter-se-ia descoberto que Habidis foi um rei mítico de Tartessos que descobriu a agricultura atando um jugo de bois a um tronco esgalhado, virado ao contrário.
Conta-se que esta primitiva designação provém de uma lenda que remonta à guerra de Tróia e segundo a qual um filho de lendário herói grego, Ulisses e da ninfa Calipso, chamado Abdis ou Abidis, foi abandonado e veio para às margens do Tejo, onde encontrou alimentação e mais tarde fundou o povoado, a que chamou “Esca-Abidis” (esca, em latim, é alimento; a raiz abd, em hebraico quer dizer servo ou servidor).
É grande a improbabilidade de o nome de Scalabis decorrer da sobreposição de duas raízes de origem linguísticas de povos inimigos como eram os romanos (que teriam dado a Santarém a raiz –Esca) dos fenícios que terá dado a raiz semita (hebraica) –abd. Mas lendas são mitos que pouco valem sem o mínimo de suporte arqueológico e histórico.
Como se diz também que Abidis formulou as primeiras leis pode muito bem ter sido o inventor da metalurgia e da balança comercial ou escala e com muito mais propriedade Santarém seria não o “manjar de Abidis” mas a “balança de Abidis” como possivelmente foi o caso de Valência.
De facto, com muito mais propriedade se poderia especular que Scalabis derivaria de uma virtual *Escala-briga, um burgo comercial de escalas e balanças como a filistina Ascalon. Abidis era um rei lendário da mítica cidade de Tartessos e, se bem que nada impeça de vir a encontrar esta cidade perdida na região do Cartaxo, já que de balde foi procurada na foz do Gualdalquibir, a verdade é que Abidis é um rei lendário e, até ver mais andaluz que lusitano.
Que Santarém seria, como é ainda hoje, um entreposto comercial não passa de mera evidência, válida para várias outras cidades lusitanas de modo igual ou ainda mais importantes mas, até ver, só o comércio dos alfanges parece ser uma característica particular desta cidade, que só teria igual em Toledo, a julgar pelos frágeis indícios da lenda.
Na verdade, a sugestão da lenda do Alfageme de Santarém é tentadora como referência à fama da metalurgia de Santarém.
A história tradicional do Alfageme de Santarém, que o povo conta de várias maneiras — mas sempre à sua maneira — foi conservada para a posteridade através da Crónica do Condestabre, atribuída a Fernão Lopes, e deu origem, além de outros trabalhos novelísticos, poéticos e jornalísticos, ao bem conhecido drama teatral de Almeida Garrett, que se representou pela primeira vez em público no velho teatro da Rua dos Condes, em 1842. Porém, para a evocação que vou fazer, mais do que nessas duas preciosas fontes, baseio-me na narrativa que dela ouvi, quando ainda menino, a um velho campino do Ribatejo. (…)
Ele chamava-se Fernão Vaz e era considerado, pelos entendedores, o melhor alfageme das redondezas. Já seu pai fora também um grande artífice. À custa de muito trabalho e de alguns sacrifícios, Fernão Vaz juntara fortuna que lhe dava uma certa independência. E também uma certa soberba. Dizia-se até que fora por via dessa fortuna que com ele casara a jovem e linda Alda Gonçalves, a qual, em tempos, andara enamorada de D. Nuno Álvares Pereira. (…)
Entretanto, em redor da vida de Fernão Vaz, o alfageme de Santarém, tinham-se amontoado muitas nuvens de tormenta, que ameaçava desencadear-se com terríveis consequências. De facto, invejas e intrigas minavam o prestígio de Fernão Vaz, até que os seus inimigos pessoais, arrastados pelo despeito e pela maldade, resolveram acusá-lo publicamente como traidor à Pátria. -- MARQUES, Gentil Lendas de Portugal Lisboa, Círculo de Leitores, 1997 [1962] , p.Volume II, pp. 193-199.
Desta lenda apenas vale a pena retirar o facto de o herói ser um alfageme famoso de Santarém por ofício de tradição familiar denunciando a possibilidade de esta terra ter ancestralidade nos ofícios da forja. Por outro lado, parece que a lenda popular corresponde a uma revisão favorável ao alfageme na medida em que, Fenão Lopes, que conta os factos como “estórias verdadeiras”, não teria Fernão Vaz em muito boa conta.
Lembrais ainda o que a história contou do alfageme a quem o Condestável mandou pagar o conserto de uma espada e ele se recusou a recebê-lo, dizendo que o faria quando D. Nuno por ali passasse, já feito conde de Ourem? Ora este alfageme fez-se muito chegado e ligado com os Castelhanos, enquanto estiveram na cidade; e por isso lhe chamavam cismático, que assim apelidavam nesse tempo aos Portugueses desleais. E, por ser tão conhecido como tal, um escudeiro, quando El-Rei vinha para Santarém, lhe pediu os bens do alfageme e ainda o corpo por cativo. El-Rei, pela informação que tinha, tudo lhe outorgou, de sorte que ao chegar a Santarém, o escudeiro tomou logo posse de seus bens, e o prendeu por seu cativo. A mulher do alfageme foi-se ao Condestável, lembrou-lhe tudo o que se passara, acrescentando que pois, graças a Deus, ele era já conde de Ourem, seu marido lhe enviava pedir como paga da espada, que houvesse com El-Rei que o mandasse soltar e lhe entregasse seus bens. Assim fez o Condestável, e El-Rei lhe fez mercê do corpo e dos bens do alfageme, que logo foi restituído à liberdade e à posse do que lhe pertencia. Desta sorte foi pago, e se cumpriu a sua profecia. Casos são estes que o humano entendimento não alcança. -- Crónica do Condestavel de Portugal, de Fernão Lopes (?).
Seja como for a lenda do alfageme de Santarém reforça a suspeita de que Santarém seria uma cidade de fortes tradições metalúrgicas que recolocam a questão da origem escalabitana da espada do rei Artur.
Há que notar que esta “estória” é contada por Fernão Lopes como tendo ocorrido quando Nuno Alvares, que se encontrava hospedado na localidade de Santa Maria de Palhais na ribeira de Santarém e se passeava na praia do Tejo, “se foi a fundo contra Santa Iria” onde encontrou a forja de um alfageme junto à praia.
Santa Maria de Palhais era uma antiga freguesia de Santarém, situada na zona baixa da cidade, fazendo parte do bairro da Ribeira. Esta paróquia foi extinta e integrada na de Santa Iria no início do século XIII.
Inevitavelmente teremos de concordar que Fernão Lopes escrevia sobre a actual freguesia de Santa Iria da Ribeira de Santarém, de origem muito antiga e de que terá partido a tradição do suposto nome visigótico de Sancta Irene.
No entanto, quando o autor da Crónica do Condestável de Portugal descreve que para encontrar o alfageme D. Nuno se foi a fundo contra Santa Iria” deveria querer dizer mais adiante e mais para junto do rio seguramente até encontrar a forja do alfageme que se situaria onde actualmente fica a Igreja de S. João Evangelista do alfange. Os indícios de que este monumento teria sido erguida em época recuadas da história levam-nos a supor que seria a cristianização de um templo da época romana que seria dedicado a um deus masculino responsável pelo subtítulo do alfange. A relação de S. João Evangelista com a espada ou alfange deriva seguramente do Apocalipse de S. João:
19:15 – Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as nações; e ele mesmo as regerá com cetro de ferro e, pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso.
No entanto o templo seria mais antigo possivelmente pré-romano a avaliar pelo escadório que configura um zigurate oriental. O único indício relativo ao deus pagão que teria sido adorado neste local pode encontrar-se nos santos que aqui são venerados. Desde logo a indefinição de qual o santo João a que a igreja primitiva seria dedicada transparece no facto de no altar-mor ser venerado tanto o Baptista quanto o Evangelista.
Ora, S. João Batista...que no porto é confundido pelo povo com o evangelista, reporta-se ao deus sumério Enki dos sábios Apkallu e dos Oanes.
Os nomes dos restantes santos não parecem oferecer pistas pagãs: “Santa Catarina, São Vicente, e o Deus Menino, do lado da epístola –, e de um altar lateral, do lado sul, no qual se encontravam as imagens de São Bartolomeu, de Santo António e de São Sebastião”. Porém não desanimemos porque na sacristia desta igreja escalabitana vamos encontrar nem mais nem menos do que o cofre com uma relíquia do casco da cabeça São Saturnino! A hagiografia deste santo tem todos os contornos para ser lendária desde logo porque para uns teria feito parte dos primeiros discípulos presentes no Pentecostes e para outros teria sido o primeiro apóstolo dos gauleses no século III. O túmulo deste santo encontra-se actualmente na Igreja de Notre-Dame du Taur (Nossa Senhora do Touro) depois de ter estado sepultado na de São Firmino do Taur o que começa a ser tourada a mais para que não se suspeite de que o martírio deste santo, que assemelha a uma largada de touros de Pamplona, se confunde com o inverso do tauróbolo do mitraísmo. De resto, o seu nome parece ser o do deus celta Cernuno.
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Figura 3: A Igreja de São João Evangelista do Alfange.
…encontra-se situada na cidade de Santarém, sobre um pequeno outeiro sobranceiro ao bairro ribeirinho do Alfange, tendo servido de sede a uma das suas três paróquias (…) A igreja, construída no local onde terminava a calçada que ligava o bairro às Portas do Sol, foi provavelmente fundada nos séculos IX a X, em pleno período muçulmano, por uma comunidade de cristãos moçárabes que aqui se encontrava estabelecida. Contudo, existem indícios de que este templo foi erguido a partir de um outro mais antigo, possivelmente do período visigótico.
San Saturnino de Tolosa (m. ca. 257, Tolosa, Galia), también llamado Serenín, Sernin o Cernin, fue un misionero romano que predicó en las Galias, el Pirineo y la península Ibérica.
Claro que bem analisada a mitologia de Cernuno acabaria por levar-nos a Saturno que seria o deus que os romanos adorariam em seu lugar.
Cernunnos est un dieu gaulois. Aucun texte se rapportant à lui n'a été conservé. Les chercheurs en sont réduits à des conjectures fondées sur l'interprétation de l'onomastique et de l'iconographie pour comprendre son rôle dans la religion gauloise puis gallo-romaine.
De facto, tudo aponta para que Cernuno fosse o Dis Pater referido por Júlio César não porque fosse Plutão, da mesma geração jupiteriana, mas o pai dos deuses olímpicos que foi Crono / Saturno, o que levanta a suspeita de os celtas serem antigas tribos cretenses que se diferenciarem dos gregos e romanos por não terem aderido à reforma do panteão olímpico imposta por Tudalia VI nos tempos conturbados da “guerra de Tróia”...ou em tempo ainda mais arcaicos. De facto, ao analisar os deuses cretenses, previstos no que já se pode ler do linerar-a, os telquines eram um povo missionário de caldeireiros que parecem ter sido deuses delfíneos, metade homem metade peixe, e que apareceram como apkallu entre os sumérios e foram chamados Oanes pelo helenista babilónio Berosus.
Cernuno pode ter sido também um deus dos caldeireiros pois que em sua homenagem lhe fizeram o Caldeirão de Gundestrup…seguramente enquanto Dis Pater dos galuleses.
Embora Crono não apareça explicitamente como um deus cretense, já perfeitamente definido, pode inferir-se (no que já se pode ler do linerar-a) que ele seria Serio. Ora, este deus seguido do designativo divino -an seria *Seri-an ou seja, *Kerian / Cernuno / Saturno.
Pois bem, Saturno que tinha sido expulso de Creta por seu filho Júpiter durante as invasões dóricas, refugiou-se na Itália. Lá exerceu a soberania e fez reinar a idade do ouro, cheia de paz e abundância, tendo ensinado aos homens a agricultura. Por isso é que os romanos que, segundo outras tradições, atribuíam a origem de Roma a Saturno (sendo assim também filhos de Dis Pater como os gauleses) construíram-lhe um templo à entrada do Fórum Capitolino e para que a sua prosperidade não abandonasse a cidade prendiam os pés da sua estátua com novelos de lã. Ora, por estranha coincidência, ou nem tanto, o sábado era o dia de Saturno...e as saturnalias eram o que veio a ser entre os cristãos as festas natalícias que nesses tempos de prosperidade mítica eram também orgásticas e carnavalescas.
"Dominus Saturnus" era para as populações da África romana o deus fertilizador da terra representado como o sol, na tradição cretense de Serio, assim como a lua seria Tanit a deusa Ma(e) cretense. Saturno africano era Moloque e por isso apreciador de vítimas humanas como teria sido de boa tradição cretense também herdada pelos celtas e ainda mais pelas civilizações ameríndias.
Fosse como fora, Saturno é seguramente o deus Sabaot dos judeus, senhor do Sábado e manifestação do deus Set que os Egípcios consideravam semita. A variante setiana do gnosticismo cristão referia-se a Cristo como sendo Sete, o terceiro filho de Adão e Eva, como o único revelador do conhecimento, o que parece vir lançar confusão na tradição da metalurgia que na tradição judaica é devida a Tubal Caim descendente dos filhos com a marca de Caim da sabedoria e relacionado com a cidade de Setúbal...quando deveria ter sido de Sete, relacionado com a cidade de Santarém.
Gênesis IV, 22. Zillah também teve um filho, Tubal-Caim, fabricante de todo instrumento cortante de cobre e de ferro; e a irmã de Tubal-Caim foi Naamah.
Mas pouco importam as insuficiências e ignorâncias judaicas perante tradição mais antigas hoje em dia sobejamente recuperadas.
Sethlans è una divinità etrusca del fuoco, protettore dei fabbri. Raffigurato con martello, tenaglie e bipenne, il suo aspetto è molto simile a quello del dio greco Efesto e del romano Vulcano.
Sethlans < Sethulanus < Saturanus > Saturno.
Tubal Caim = Ca(im) Tubal < *Ka-tuwar-(im) < *Shathuwaino
< Saturnino  < Saturno.
Se Sethlans, o deus dos ferreiros dos etruscos, se pode confundir com Saturno, também Tubal Caim poderá ser uma corruptela racionalizante de pendor mazdaista de Saturno e por igual razão o deus Sete do caldeus e posteriormente dos canaanitas e egípcios pode ter sido uma variante de Saturno que mais nãos seria do que K(a)urano, o sol nocturno dos cretenses (Serio) que na variante diurna seria Úrano...ou seja Erio ou Ario em variantes arcaicas cretenses ou micénicas...ou seja Ares ou Eros em variantes olímpicas.
Filho de Urano e de Gaia, Crio representa o inverno, o frio, os seres marítimos, os rebanhos e seu poder destrutivo envolve as criaturas até hoje desconhecidas do mar abissal. Ninguém conhece a real forma deste titã.
Na verdade, Crio era uma corruptela do sol nocturno...e de Sério cretense!
A deusa Eiru irlandesa, a santa Iria cujo culto desceria ao longo do Zêzere de Leira a Santarém, a grega Eirene, seriam as formas femininas do sol diurno celebradas no nome da deusa do sol de Arina.
La déesse-soleil d'Arinna est la déesse principale du panthéon hittite. (...). Appelée également Arinitti ou Arinnitti, le nom de cette déesse était sans doute Wurushemu en hatti, qui devient Urunzimu en hittite.
A variante celta Nu(n)a-da pode parecer a que está mais desfasada da manada saturnina e caldeireira mas ser apenas uma corruptela de Cer-nuno.
Nuada (Irlanda) / Goibniu (Irlanda) / Gofannon / Govannon ou Gofannon (galês); - Mitologia Celta - O nome é bretão; e significa "ferreiro".
Goibniu / Gofannon / Govannon / Gofannon < Kau(r)-ka-Ninanu
< Ker-Kamnino < Ka- |*Kurmino > Kermno > Cernuno.
Na verdade S. Firmino que anda relacionado em Pamplona com este mártir gaulês é literalmente *Kurmino nem mais nem menos do que uma variante arcaica de Hermes que com o latino Saturno nos reportam para o sumério Enki / Enku, deus dos curros dos infernos do Kur...onde latino Vulcano, o grego Hefesto e o etrusco Sethlans praticariam a metalurgia.
Claro que a partir daqui entramos no domínio da pura especulação mítica que é quase arte divinatória. No monte da Igreja de S. João Evangelista do alfange terão os fenícios erguido um zigurate dedicado a Moloc que os romanos identificaram com Saturno um deus que também protegia a mineração e a arte dos caldeireiros. De passagem devemos esclarecer que Moloc era possivelmente uma corruptela diminutiva de Melkart o que permitiria assim relacionar Saturno com Hércules explicando assim porque é que Heródoto dizia que os Egípcios acreditavam que Hércules era um dos deuses mais antigos e de origem Ibérica...como o atestam as colunas de Hércules.
No entanto a utilidade principal que os lusitanos dariam à metalurgia seria a confecção de armas brancas que terão dado fama a espada toledana. Em Santarém a especialidade dos ferreiros seria o fabrico da espada que aqui se chamaria *esca-labur de que teria derivado o nome da espada do rei Artur como vimos antes.
«Alfange» < Ár. Al-khanjar, sabre de folha curta, larga e curva
< kanjar < Kan-kal, grande senhor filho da (deusa) Ki do labris (cretense)
> Ish-Ki + labris > Ish-Ka-labris
> *escalabur > Scalabis.
                     > «escalavrar» < ? Cast. descalabrar.
Por outro lado, é perfeitamente aceitável que o fabrico de balanças e espadas fizesse parte do mesmo labor justiceiro dos guardiões das leis dos pesos e das medidas com o rigor da espada que seriam os principais motivos dos litígios comerciais da época que Temis teria que resolver com a espada numa mão e a balança na outra. Como em latim a balança era Libra de Liber Partis ou algo parecido no mediterrâneo ocidental e era Eskala no mediterrânico oriental talvez tivesse existido uma forma comum intermédia proto cretense *escalabris porque o célebre “machado duplo cretense”, o laburis, seria um símbolo de poder da deusa mãe para impor as leis da justiça de Temis, a *Ki-ma cretense, que teria dado nome tanto à balança (*escalibra), como à espada, (*escalabur). Então, *Escalabriga seria a cidade da ribeira de Santarém onde ambas, espada e balança, se fabricariam em nome da lei, e o seu nome terá sido corrompido pelos romanos para Esbalabis.
Evidentemente que nada sabemos da época minóica de Santarém que deve ter sido ribeirinha nem da época micénica que terá sido destruída e enterrada nas fundações da Alcáçova muito antes da chegada dos Fenícios para sobre ela construírem um castro que veio a ser conhecido como Scalabicastrum com os romanos, até às únicas referências seguras visigóticas de Hidácio em 460 e Isidro em 550.
Depois, durante o domínio romano, passou a denominar-se “Praesidium Julium (nome dado por Caio Júlio César) e “Scalabicastrum” (Scalábis Castrum), voltando-se a chamar-se simplesmente Scalábis, quando tomada pelo conde visigodo Sunierico, no ano de 460.” 590-621 — João de Biclara, natural de Santarém, após ter peregrinado pelo Oriente, funda um mosteiro e é sagrado bispo de Gerona, na Catalunha. Escreve uma crônica.
Seja como for, parece que um dos papeis mais importantes das cidades neolíticas seria a garantia e manutenção da lei dos deuses de que “machado duplo cretense” (laburis) seria o garante simbólico e a balança e a espada os principais instrumentos artesanais garantidos pela arte da forja de que, entre os celtas, seria vigilante a irlandesa Berite, cristianizada Brígida.
Assim sendo, na Ribeira de Santarém ao lado do culto solar de Santa Iria restaria a reminiscência do culto do fogo telúrico do sol-posto no monte de S. João do alfange não na forma de Santa Brigida mas de Santa Catarina, a santa que foi tão lendária que a Igreja Católica a eliminou 1969 do Calendário Litúrgico Universal do dia 25 de Novembro com o pretexto pouco usual de falta de documentos históricos da sua época. Com um argumento deste quilate a Igreja Católica ainda acaba por destituir Jesus Cristo da sua humanidade histórica ficando só a sua parte de divindade supra cultural sempre eterna.
Santa Catarina de Alexandria, também conhecido como A Grande Mártir Santa Catarina (do grego ἡ Ἁγία Αἰκατερίνη ἡ Μεγαλομάρτυς) é uma santa e mártir cristã que se alega ter sido uma notável intelectual no início do século IV. (…)
O corpo de Catarina desapareceu milagrosamente, sendo transportado por anjos para o topo de Jebel Katerina, o pico mais alto da península do Sinai.
The outstanding peaks in this area are Jebel Katerina (8,652 ft.), Jebel Mūsā, the traditional Mt. Sinai (7,486 ft.) and Jebel Sirbāl (6,791 ft.).
Se seria ou não um acto encoberto de remorso católico na forma de renascimento póstumo da filósofa Hipatia de Alexandria massacrada pelos cristãos, não é fácil de o saber, mas que Santa Catarina encobre alguma verdade pagã, é um facto.
E apareceu-lhe o anjo do SENHOR em uma chama de fogo do meio duma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia. E Moisés disse: Agora me virarei para lá, e verei esta grande visão, porque a sarça não se queima. E vendo o SENHOR que se virava para ver, bradou Deus a ele do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés. Respondeu ele: Eis-me aqui. E disse: Não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa. Êxodo 3:1-5
O milagre da sarça-ardente parece estar cientificamente decifrado como sendo uma mera metáfora descritiva de um arbusto espinhoso da família das acácias que quando parasitada pela planta loranthus acaciae, cujos frutos e inflorescências avermelhados dão, de longe, a impressão de chamas levou os judeus tomaram à letra o conceito de sarça-ardente como sendo mesmo uma epifania divina na forma de fogo incombustível. Mas outros pretextos naturais poderiam ter existido no vulcânico monte Sinais, como fumarolas ou fugas de petróleo acesas por queimadas naturais.
O mosteiro foi construído por ordem do imperador bizantino Justiniano I (r. 527-565) à volta de uma capela que abrigava a sarça ardente construída por Helena, a mãe de Constantino. A sarça que ainda hoje ali está é, supostamente, a original. A capela também é conhecida como "Capela de Santa Helena" e o local é sagrado para os cristãos e muçulmanos.
No entanto, só por volta do ano 800 é que os monges do Mosteiro do Sinai encontraram os supostos restos mortais de Santa Catarina que ficou assim associada ao mosteiro e ao mais alto monte do Sinai. Posteriormente o culto de Santa Helena esteve seguramente relacionado com o de Santa Irene e este com o da lusitana Santa Iria.
Obviamente que é de suspeitar que o nome da mítica Santa Catarina tem que estar relacionado com o culto do fogo oriental como Santa Brígida estava com a deusa do fogo na Irlanda...o difícil é saber como.
A devoção aos santos auxiliares teve início na Renânia, agora parte da Alemanha, na época da peste negra.
Os catorze santos auxiliares são venerados pela Igreja Católica como intercessores eficazes contra as mais diversas doenças. (...)
Entre o grupo encontram-se três virgens mártires: Santa Margarida de Antioquia, Santa Bárbara e Santa Catarina de Alexandria, conhecidas também como Santas de Casa.
Sainte Catherine d'Alexandrie (le 25 novembre), vierge et martyre.
Roue brisée
Filles célibataires Professions intellectuelles: étudiants, philosophes, orateurs, avocats. Professions liées à la roue: Charrons, meuniers, rémouleurs, tourneurs.
Maladies de la langue. Célibat. Dangers des femmes enceintes, fausses couches. Mort soudaine.
(Santa Margarida de Antioquia) Elle est souvent associées à trois autres saintes ayant fait, elles aussi, vœux de virginité: Sainte Barbe, Sainte Catherine d'Alexandrie et Sainte Geneviève.
Assim sendo as santas virgens referidas como santas da casa seriam uma forma germânica de tridivas transliteradas para a hagiografia cristã à qual alguns cristãos acrescentam Santa Génova.
The name originated from the Greek Αἰκατερίνα or Αἰκατερίνη (Aikaterina, Aikaterinẽ), which is of unknown etymology. The earliest known use of the Greek name is in reference to Saint Catherine of Alexandria. The theory that the name comes from Hecate, the name of the Greek goddess of magic, is regarded by the editors of the Oxford Dictionary of First Names as unconvincing, however this appears as merely an opinion of the editors and their text admits the etymology is unknown.
Another potential origin of the name is the Armenian word Կատար, gadar, meaning peak or summit. In Armenian, the equivalent name is Կատարինէ, Gadarine; coincidentally the ending ինէ -ine is homophonous with the modern Greek verb είναι 'she is', suggesting a macaronic phrase meaning "she is the summit".
The name subsequently came to be associated with the Greek adjective καθαρός (katharos), meaning "pure", leading to the alternative spellings Katharine and Katherine.
Parece assim que a sapiência relativa ao nome de Catarina parece dizer tudo! Catarina seria Hecate, a deusa do cume das montanhas onde tudo seria metaforicamente puro fosse por força do poder de purificação ritual do fogo dos picos vulcânicos, fosse pela proximidade da pureza límpida do céu!
De facto, Hecate não era uma mera deusa da bruxaria, como se veio a transformar na tradição ateniense tardia! Hecate seria uma variante de Héstia com que foneticamente se parece tal como com a deusa egípcia do nascimento, Heket, uma deusa primordial em forma de sapo cujo nome poderia também ser pronunciado como Hekatete de que resultou a pronúncia grega Hecatê!
Hecate participava dos poderes de Artemisa e de Selene pelo que acabou por ter pouco impacto na cultura clássica apesar de ser uma das principais dividades adoradas nos lares atenienses como deusa salvadora (Soteira) e como a que conferia prosperidade e bênçãos diárias à família. Hecate era, portanto uma mera variante, tanto fonética quanto semântica, de Héstia, uma deusa do fogo do lar e a variante masculina de Hermes. Como esta deusa era muito venerada pelos cários da Anatólia podemos ter quase a certeza de que esta deusa era uma tridiva cretense e que Catarina poderia ser um dos seus epítetos obviamente enquanto feminino de Saturno ou seja uma forma de *Kat(a)urina / Saturnina. Ficaria assim explicada a particular deferência que Hesídio refere que Zeus lhe votava por ser a única Titânide que teria ajudado Zeus na sua luta contra os titãs: ela seria senão a própria Rea pelo menos uma das filhas de Crono que teria ajudado o próprio filho ou irmão a lutar contra a tirania do pai. A razão por que Hesíodo faz de Hecate uma titânide menor, filha de Perses e Astreia, só pode resultar das confusões da reforma do panteão levado a cabo por Tudália IV.

Ver: EXCALIBUR (***) & PANTEÃO CRETENSE (***)

SANTARENOS
Conforme refere Justino Maciel, a conotação militar da colónia de Scallabis, mencionada por Plínio, manter-se-á durante a antiguidade tardia: “Esta conotação continuará até à antiguidade tardia nos contextos suévico e visigótico, pois o Calendário do Antifonário de Léon, que procederá de Évora, indica, (...) o culto de Santa Irene in scallabi castro no século VI (Maciel, 1996, p. 29). -- Viegas, C. (2003a) – Terra sigillata da Alcáçova de Santarém – Economia, comércio e cerâmica. Trabalhos de Arqueologia. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia.
Assim sendo e em conclusão, teria sido o lugar da paróquia de São João Evangelista do Alfange que teria dado o nome romano de Scalabis a Santarém enquanto que este nome actual teria nascido na paróquia de Santa Iria da Ribeira de Santarém que seria uma cristianização dum nome arcaico relativo os santarenos como sendo Santarim em fenício, nome saturnino relativo aos centauros e a Cernuno...e aos campinos e cavaleiros das lezírias do Ribatejo colonizada no neolítico pelos cretenses que acabaram em forcados, ou seja em vaqueiros e toureiros.
À luz dos dados respigados na bibliografia recente, é bastante plausível a referência a zonas ganadeiras onde os bovídeos pastavam livremente:
smþ rem largar/soltar/deixar em liberdade. touro selvagem
A formação de um substrato cultural de economia basicamente ganadeira na Península Ibérica tem sido por diversas vezes assinalado pela historiografia espanhola. Para P. Sáez há fortes indícios de ter existido, na antiguidade, um regime de transumância entre a Bética e a Lusitânia, à volta de Sierra Morena. (...)
Também as incursões de bandos de lusitanos, vetões e outros indígenas pelo sul, referidas por várias vezes nas fontes clássicas (Lívio, XXXV, 1; XXXV, 7, 8; XXXV, 22, 8; Apiano, Iber., 56-58; Diodoro, V, 34, 6; etc.) parecem reflectidas no vocábulo:
šmt rem destroçar/aniquilar. touro selvagem
sem t’ rem nome/reputação/fama. atacar. touro selvagem
sm t’ rem lá/ ali. atacar. touro selvagem
Estas incursões são hoje preferencialmente interpretadas como movimentos de transumância para pastagens meridionais de inverno. É porém a eventual referência a uma comunidade gentílica, organizada sob a insígnia (ou estandarte) do touro, que nos surge como a hipótese mais interessante e potencialmente revolucionária:
smtØ rem que é. a comunidade. touro selvagem
sem mtô rem que é. lugar. homens/pessoas/gente. touro selvagem
sem tô r ‘am nome. touro. tribo/povo/gente. -- Luís Mata, “O «cais» de Santa Iria, uma reflexão sobre uma velha questão”.
É óbvio que Luís Mata se aproxima, mais intuitivamente do que por um verdadeiro apoio linguístico sólido, da verdade etimológica do nome de Santarém que de facto estaria relacionada com cavalos, com touros, ou com ambos. Mas é evidente que esta etimologia só é inteiramente inteligível se pressupusermos o mitema intermediário *San-ta-ur que por ser presente nos montes cantábricos deixa de ser genuinamente semita e passa a ser muito mais arcaico e de origem minóica e egeia, pelo menos na parte que diz respeito ao norte da Cantábria.
Claro que as coincidências semânticas deverão ser consideradas cada vez mais improváveis pelo que é óbvio que devem ser retiradas as devidas ilações de certos factos semânticos agora apresentados. Os montes cantábricos são terra de reconhecida frequência de arte rupestre.
Já em Portugal, Santarém corresponde a uma região geográfica bem definida de intenso culto do «touro de raça» tanto no que tal envolve de velhas tradições civilizacionais agro pastoris como de aspectos culturais arcaizante em torno de crenças e ritos relacionados com a fertilidade taurina na mais óbvia das tradições minóicas do sul mediterrânico.
Os vértices deste polígono geográfico tinham por centro Creta que deve ter sido a terra de origem do nome dos centauros. Porém, o mito grego dos centauros deve ter sido uma metáfora tardia dedicada à, então estranha, arte de equitação dos citas por analogia com a domesticação de outros animais, particularmente o touro de raça.
A classificação ou hierarquização das diferentes unidades étnicas registadas nas fontes para a Lusitânia e sua localização com os topónimos é bastante difícil, tanto mais que, como refere Jorge de Alarcão, os Lusitanos «são vasta comunidade étnico-cultural envolvendo a Beira Interior portuguesa e parte da Extremadura». Ainda assim, o investigador considera os Elbocori os mais ocidentais dos Lusitani, recordando que «Ptolemeu situa Elbocoris a oriente de Sellium (Tomar). Ainda que as coordenadas ptolemaicas não sejam elemento seguro para localizarmos as cidades que a Geografia regista, é muito provável que esta civitas ficasse entre os rios Tejo, Zêzere e Ocresa. Este último, em parte do seu percurso e depois, para norte, a serra do Muradal dividiriam Elbocori, de Tapori.» Temos portanto uma cidade (Elbocoris) e um populus (Elbocori) situados na região de Santarém. O etnónimo parece ter igualmente uma origem semítica:
’l bôqr de.boieiro/alguém que lida com gado.
Será a este grupo de lusitanos que se aplicava o designativo de “tribo do touro”? Se assim for, Santarém representaria um etnónimo e designaria a apropriação territorial (étnica, económica, simbólica) pelo grupo gentílico dos Elbocori. É uma proposta que, apesar de polémica, merece, decerto, futuros trabalhos de natureza interdisciplinar. -- Luís Mata, “O «cais» de Santa Iria, uma reflexão sobre uma velha questão”.
Según algunos autores, Brozas sería la antigua Concordia Elbocoris citada por Plinio el Viejo; para ello se basan en una supuesta evolución del topónimo Elbocoris hasta Brozas que no se ve refrendada ni por la arqueología ni por la epigrafía existente en la zona.
Dando de barato a relevância da localização incerta de Elbocoris que os espanhóis localizam em Brozas não deixa de ser estranho que o termo semita ’l bôqr pressuposto para a etimologia do nome desta cidade ressoe como uma transliteração do vaqueiro português.
’l bôqr < bôqr < Bo-Ker > Bou-kauro > «Vaquiro».
Para a maioria dos comentadores, os dois nomes da cidade de Santarém seriam meras alterações de nome da mesma entidade que nem sequer teriam nada a ver com variantes de personalidade do seu povo mas com a decadência inexorável do cidade alta ocorrida já no tempo dos romanos em detrimento da cidade de Lisboa
No entanto, e perante a importância que a cidade de Lisboa parece ter adquirido, desde muito cedo, Jorge de Alarcão coloca mesmo a hipótese da sede do conventus ter sido transferida para esta cidade (Alarcão 1994, p. 60). Pelo contrário, Cardim Ribeiro considera que “De facto, não existem quaisquer razões concretas que induzam a supor que Scallabis não tenha cumprido regularmente a sua função como centro administrativo regional” (Ribeiro, 1994, p. 77-78). Vasco Mantas considera que o elevado número de inscrições, provenientes de Lisboa, relacionadas com magistrados, seria indicador de que, no plano político, Olisipo teria suplantado Scallabis. Da mesma forma, teria também ultrapassado Salacia, do ponto de vista económico, “impondo-se como principal centro marítimo da Lusitânia (Mantas, 1994, p. 71). Esta é também a opinião de Tranoy que afirma que “si Scallabis conserve son titre de capitale de conventus, la concurrence de la cité voisine d’Olisipo se renforce et que cette cité tend à supplanter, par son rôle économique, la capitale administrative “ (Tranoy, 1990, p. 20). -- Viegas, C. (2003a) – Terra sigillata da Alcáçova de Santarém – Economia, comércio e cerâmica. Trabalhos de Arqueologia. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia.
No entanto, a grande decadência de Santarém veio a ocorrer com as invasões bárbara. Embora não esteja documentado nenhum facto parecido com o da queda e aniquilação de Conímbriga por culpas dos Vândalos e Alanos a verdade é que sendo um ponto de passagem e travessia do Tejo esta cidade teria sido assolada por estas hordas de bárbaros que se deslocaram do norte para o sul da península em direcção ao norte de África. No entanto, as razias mais duradouras e menos cicatrizadas terão ocorrido durante as constantes disputas entre Suevos e Visigóticos durante a vigência do reino suevo que tinha os seus limites próximos de Santarém.
A história política revela-nos, por outro lado, que em meados do século V, no quadro da instabilidade política generalizada criada pelo progressivo domínio e consolidação do poder visigótico, Santarém é tomada em 460, num episódio protagonizado por Sunerico. É também neste período que se assiste a uma reorganização do reino suevo, com progressivo avanço para sul e consequente conquista de Conímbriga em 468. Os dados que dispomos para este período são transmitidos sobretudo pela crónica do bispo Idácio de Chaves, sendo quase inexistentes a partir desta data. É ainda difícil reconstituir com exactidão os domínios territoriais destas duas forças políticas em confronto. No entanto, a linha do Tejo parece ter correspondido a um espaço de “fronteira” entre estas duas realidades. É, extremamente difícil, analisar hoje, um conjunto de documentos que correspondem a elementos arquitectónicos, tradicionalmente, atribuídos ao período visigótico. Efectivamente, à luz das recentes teorias sobre o vigor das comunidades moçárabes sob domínio islâmico (Real, 1995, p. 17-68), muitos desses vestígios foram considerados mais tardios. -- Viegas, C. (2003a) – Terra sigillata da Alcáçova de Santarém – Economia, comércio e cerâmica. Trabalhos de Arqueologia. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia.
Assim, quando os Visigóticos acabaram com o reino suevo terão dado conta de que da velha cidade romana Scallabicastrum já pouco ou nada restaria além da zona ribeirinha que por ser piscatória e rural se teria mantido por ser o seu tecido habitacional precário e fácil de reproduzir e cicatrizar.
O que temos a atestar o baptismo de Santarém pelo católico imperador visigodo Recesvindo é pura lenda sem fundamento, ou seja, mito histórico senão pura fraude piedosa!
“No reino do visigótico do católico Recesvindo, no meado do século Vll, a povoação, de que aqui tratamos, tomou o nome de Sanct’Hirennia, latinização do nome grego, que significa a paz, correspondente às formas arcaicas Herena, Eirea, Eirea, Eyrea e às modernas Iria e Irene.”
“Santarém é o estado actual do nome cristão Sancta Hirennia, virgem mártir cuja lenda é muito conhecida. Essa lenda foi belamente contada por Garrett nas “Viagens na Minha Terra” (...), onde se relatam as paixões que causou essa “donzela nobre, natural da antiga Nabância e freira no convento beneditino e de quem se enamoraram um jovem e um monge, os quais nada conseguiram da pureza da santa, que resistiu a tudo, “forte na sua virtude”, como diz Garrett.
A Lenda de Santa Iria ou Irene data do tempo dos Godos do Ocidente Peninsular. Originária da lendária Nabância, consta que Iria, filha dos Senhores de Sellium (Tomar), começou muito cedo a professar a religião cristã num mosteiro da ordem beneditina. Vítima de uma intriga pelo Monge Remígio, foi desprezada e mandada assassinar quando orava junto ao Rio Nabão. Lançada ao rio, o seu corpo foi sepultado pelos anjos nas areias do Tejo, junto a Scalabis.
“Sanct’Hirennia, nome dado pelo Cristianismo, evolucionou sucessivamente e transformou-se em Santarém através de várias formas intermédias, documentadas em textos literários antigos, como sejam, por exemplo, Sanctaeiren (século X), Sancta Herena (século Xl, Sanctaren (século Xll), e Sanctarem (século XVl), que precedeu imediatamente a forma actual, cujo significado etimológico é, portanto, simplesmente Santa Iria.”
Sabemos que é difícil fazer arqueologia em cidades modernas habitadas mas, do que sabemos de Santarém, é quase tudo romano e árabe e praticamente nada de Visigótico.
A Alcáçova de Santarém constitui terreno privilegiado para a leitura conjugada de informações de origem muito diversa, tais como fontes literárias e dados epigráficos e arqueológicos. Naturalmente que, no longo período cronológico que este estudo aborda, isto é, desde o início da ocupação romana em Santarém (meados do século II a.C.) até sensivelmente ao século VI (data das últimas importações de sigillata foceense tardia), a natureza dos conhecimentos que se analisam é muito diversa e desigual. Se para o início da ocupação romana se dispõem, além de inúmeros dados relativos aos materiais e estruturas arqueológicas encontradas, de fontes literárias importantes, existem outros períodos que permanecem na quase total obscuridade. Efectivamente, a escassez de testemunhos, quer do ponto de vista literário, quer arqueológico, existentes para a Alcáçova, relativos ao período do final da ocupação romana e alta idade média, não é exclusivo da cidade escalabitana, pois este período encontra-se, ainda, bastante mal caracterizado, para o conjunto do território português. -- Viegas, C. (2003a) – Terra sigillata da Alcáçova de Santarém – Economia, comércio e cerâmica. Trabalhos de Arqueologia. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia.
A ribeira de Santarém veio a ter esse nome por ter tido Santa Irene por padroeira ou aceitou esta santa porque já era um lugar sagrado de nome parecido mas dedicado não a uma deusa mas ao deus Saturno, particularmente adorado pelos fenícios na forma que a bíblia identifica com Moloc, mas que localmente estaria relacionado com os sátiros na forma de centauros ou *Santarim em versão fenícia, por causa do culto dos cavalos da lezíria do Tejo.
De facto, a etimologia lendária do nome de Santarém é suspeita de dupla manipulação porque ora se reporta a uma santa local que ainda não existia à data dos godos ora a uma santa bizantina que mais não era do que a cristianização das alegoria grega da paz, a deusa Eirine. Na verdade é muito possível que este culto tenha sido uma mística moçárabe vulgarizada na Península Ibérica por altura do reinado da Imperatriz bizantina Irene (775-802) tomada como esperança de salvação do cristianismo ibérico pelo que a primeira referência de Santarém, como Sanct’Hirennia, a Recesvindo carece de confirmação!
Indesmentíveis são “as ligações a Constantinopla documentadas pela presença do natural de Scallabis, bispo João Biclarense (século VI)”, naquela cidade (Viegas, Custódio e Mata, 1996, p. 66). Deve-se a este autor, que cedo abandonou Santarém em direcção ao Oriente, o Chronicon que relata os momentos finais do reino suevo e a sua integração no domínio visigótico (Maciel, 1996, p. 66). As relações comerciais com o extremo oriental do Mediterrâneo estão bem documentadas na Alcáçova, num conjunto significativo de sigillata foceense tardia. Conforme refere Justino Maciel, a conotação militar da colónia de Scallabis, mencionada por Plínio, manter-se-á durante a antiguidade tardia: “Esta conotação continuará até à antiguidade tardia nos contextos suévico e visigótico, pois o Calendário do Antifonário de Léon, que procederá de Évora, indica, (...) o culto de Santa Irene in scallabi castro no século VI (Maciel, 1996, p. 29). -- Viegas, C. (2003a) – Terra sigillata da Alcáçova de Santarém – Economia, comércio e cerâmica. Trabalhos de Arqueologia. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia.
Na verdade a relação de Sanct’Hirennia com Recesvindo não passa de um mero “diz-se que diz”.
É que em Santarém há hoje reunidas numa só cidade muitas cidades de diversas épocas: há a cidade mitológica do rei Abidis, a quem deve o seu primeiro nome de Scalabis, "alimento ou manjar de Abidis"; há a cidade romana de Júlio César; Proesidium Julium, um dos três conventos jurídicos da Lusitânia; há a cidade gótica do tempo de Receswindo, época em que se diz ter vindo ao Tejo o corpo de Santa Irene, virgem mártir, donde alguns querem derivar o nome de Santarém; (...). -- Alberto Pimentel, in A Estremadura Portugueza - O Ribatejo.
Em 653, reinando Recesvindo ou Recesvinto rei dos godos, se diz ter apparecido o corpo de S." Iria ou Irene, virgem martyr cuja lenda è de todos sabida; e d'a´hi em diante se começou a chamar á povoação S. Irene e com os tempos Santarém.
Com tudo os mouros sempre lhe deram o seu antigo nome Scalabis castrum, que corromperam para Cabelicastro. -- Chorographia moderna do reino de Portugal, João Maria Baptista, Goronel de Artilheria Reformado.
Se é verdade que S. Bento funda a Ordem dos Beneditinos em 529 no Monte Cassino e 60 anos depois, em 589, o reino visigodo da Península Ibérica se converteu ao cristianismo seria plausível que os beneditinos tivessem entrado em Espanha por volta do século VII como é muitas vezes suposto ainda que sem provas porque em 711 os berberes comandados por Tarique invadem a Península Ibérica arrasando todos os indícios históricos recentes menos sedimentados.
Assim sendo não é possível documentar historicamente que os beneditinos tivessem tido tempo de entrar na Península Ibérica porque só vêm a aparecer em Espanha durante a reconquista a partir de Cluny. Na verdade, se a data mais provável da fundação do Mosteiro de Lorvão é de 878, o certo é que este mais antigo mosteiro beneditino em território português só adoptou a regra beneditina em meados do século XI quando os fluminenses apareceram ao lado de Afonso VI de Leão e Castela ainda que no Mosteiro de Silos apareçam no sec. X. Seja como for, a lenda de Santa Iria é de origem medieval pelo que o recurso ao anacronismo dum convento beneditino em Tomar em época visigótica é mais do que improvável. Sendo assim, a lenda é possivelmente de urdidura beneditina mas, posterior à reconquista.
Santa Irene, que era de origem, eslava, viveu na segunda metade do século I e era filha de Licínio, prefeito da cidade de Maggedona na Macedonia. Ainda muito jovem Irene compreendeu a inconsistência do paganismo e aceitou a fé cristã. Conforme a tradição, apóstolo Timóteo, discípulo do apóstolo Paulo, batizou-a. Santa Irene decidiu dedicar a sua vida a Deus e recusou o casamento.
Claro que a hagiografia desta santa eslava é lendária tendo sido criada como variante à de Santa Helena, mãe do cristianismo pela mão de seu filho Constantino Magno, época em que a deusa Grega da paz, Eirine, foi cristianizada pelos ortodoxos como Santa Irene. Assim sendo, esta lenda é um plágio óbvio da hagiografia de Santa Irene que os visigodos podem ter venerado aqui por motivos óbvios de pacificação política.
No seu artigo, “O «cais» de Santa Iria, uma reflexão sobre uma velha questão” Luís Mata diz o seguinte sobre o estudo das manifestações religiosas...que obviamente se pode adaptar ao estudo mitológico e lendário em particular.
É nossa firme convicção que o estudo das manifestações religiosas exige uma metodologia de investigação avessa às abordagens positivistas, ou, por assim dizer, “documento-dependentes”. Sobretudo quando os esquemas interpretativos assentam em fontes intrinsecamente ideológicas, como são as cristãs. -- Luís Mata, “O «cais» de Santa Iria, uma reflexão sobre uma velha questão”.
Claro que é difícil fundamentar apenas na filologia a prova da existência de uma fraude piedosa cristã a respeito do nome de Santarém.
A dependência etimológica entre Iria e Santarém é tradicionalmente aceite entre os historiadores, que argumentam ser a tese comprovada pelas fontes medievais, quer árabes, quer cristãs. Mas as fontes árabes não corroboram esta dedução, já que ao referir-se ao topónimo Shantarîn, Yâqût al-Hamawî (1179- -1229) diz apenas tratar-se da articulação das palavras Shanta e Rîn, sendo abusivo e até inocente ver na sua explicação toponímica qualquer referência a uma santa de nome Iria.
De resto, o seu Mu’jam al-buldân (escrito entre 1224 e 1228) é uma espécie de “geografia literária”, uma vez que reproduz as estórias e mitos relacionados com os locais, pelo que sendo Yâqût descendente de cristãos gregos oriundos do Império Romano do Oriente (al-Rumi) seria mais que natural que se referisse à ascendência grega da mártir de Santarém. O problema está em sustentar a evolução fonética Irene > Iria, que os autores nunca conseguiram explicar de modo convincente. Miguel de Oliveira já havia salientado a debilidade do fundamento filológico, ao notar pertinentemente que «se Irene evolucionou em Iria, surpreende que Santarene ou Santarena não evoluísse em *Santeiria, *Santiria, ou não apresentasse ao menos estas variantes a comprovar a relação com o hagiónimo no sentido linguístico do povo». -- Luís Mata, “O «cais» de Santa Iria, uma reflexão sobre uma velha questão”.
Na verdade, Luís Mata apenas prova que o nome de Santarém não pode derivar de Santa Iria mas mão deixa de fora a possibilidade de poder derivar de Santa Irene porque dizer que “sendo Yâqût descendente de cristãos gregos oriundos do Império Romano do Oriente (...) seria mais que natural que se referisse à ascendência grega da mártir de Santarém” é um mero juízo de intenção e presunção porque sendo verdade que Yâqût al-Hamawî claramente refere que o nome de Santarém articula as palavras Santa & Rin não fica muito claro que este autor se devesse ter lembrado de Santa Irene porque, de facto, se é difícil sustentar a evolução fonética Irene > Iria também é Irene > Rin. Assim sendo, o que Luís Mata quer dizer é que não seria do conhecimento consensual da época que Santarém estaria relacionado fosse com Santa Iria fosse com Santa Irene embora seja estranho que este autor considerasse que fosse a articulação das palavras Shanta & Rîn.
Seguramente que este autor árabe sabia que nos falar do moçárabe local, Santarém soava como Santa mas não conhecendo nenhuma com o nome Rin ficou-se por aqui porque nem quis divagar como fizeram os cristãos nem tinha meios para ir mais longe até às raízes arcaicas do nome Santarim que Luís Mata supõe semitas mas que Yâqût al-Hamawî não identificou como tal.
Que significado tinha tal articulação para Yâqût al-Hamawî? Em rigor não sabemos nem podemos especular muito com base apenas na sua história pessoal.
Parece assim ter razão Miguel de Oliveira ao defender que «tudo parece indicar que a introdução de tal santa no calendário leonês resultou de uma errada interpretação do nome da cidade, influenciada pelo nome da mártir de Salónica». Interpretação facilitada por aquilo que o autor considera «uma espécie de cilada hagiográfica produzida pela homofonia da sílaba inicial de certos nomes de lugar com a da palavra santo.» Moisés Espírito Santo já escrevera que «Até ao século XV, a quando dos censos (ou inquirições) das propriedades, redacções de testamentos, contratos, forais, etc, os notários, guiando-se pela fonética aproximativa, registavam em latim o que supunham ouvir». Isto acontecia porque, como bem exlica Albert d’Haenens, «A escrita fonocentrada, pelo recurso ao alfabeto e às suas vogais, torna visível, permite ver o que é naturalmente invisível, a saber, o som. (...)
O que poderá então significar o ápodo local? E de que língua derivará? Moisés Espírito Santo defendeu, há já algum tempo, que o topónimo escalabitano é o resultado tardio da convergência de outros fundos linguísticos, deixando em aberto a possibilidade de uma etimologia semítica. -- Luís Mata, “O «cais» de Santa Iria, uma reflexão sobre uma velha questão”.
A esta filha puseram nome Irene e nós hoje chamamos Iria; e foi a razão que, sendo também Irene nome godo, que a língua portuguesa não pronunciava bem, com o tempo o foi mudando e acomodando à sua pronunciação mais grosseira, chamando-a primeiro Eurea e agora Iria, e assim se há de advertir que o seu nome em grego é Irene qual o teve da pia, em latim Irena e em português Iria. -- Isidoro de Barreira, Historia da vida, e martyrio da Gloriosa Virgem Santa Eria... E relação de sua milagrosa sepultura, feyta per mãos dos anjos dentro das agoas do rio Tejo, onde está seu santo corpo, Em Lisboa: por António Alvarez, 1618, p. 3.
Sabemos que no tempo dos mouros Santarém era conhecida por Xantarim e que possivelmente em moçárabe seria Chantaram o que por especulação de tabelião cristão teria passado a Chantirein para se adequar à lenda de santa Irene que entretanto terá sido inventada por resposta a esta etimologia popular.
Seria Escalabis (depois Santarém) na época dos iberos além de um centro de famosos ferreiros adoradores de deuses do fogo e também um local afamado de forcados, cavaleiros e toureiros? Se por um lado, a revolução da metalurgia se terá espalhado com a idade do bronze espalhado por toda as áreas conhecidas do império minóico e chegado às terras do estanho na Lusitânia onde fundaram cidades como a que os latinos chamaram Scalavis, junto desta existiria desde finais do paleolítico com a descoberta da caça vigiada que precedeu a transumância, um núcleo de acampamento de inverno que levaria o nome de Santar-im, lit. “terra do centauros” ou dos touros de Set / Shem, o mesmo deus que da metalurgia que foi Sethlan entre os etruscos.
Scalavis < Scalabur ó Santarém < Santar-im.
A plausibilidade desta etimologia reforça-se pelo facto de existirem outros topónimos portugueses com a mesma raiz de Santarém, como Santar, freguesia de Nelas; Santar, freguesia de Arcos de Valdevez, sem que tenham nada a ver, nem de perto nem de longe, com Santa Iria.
Santar é uma das mais pequenas freguesias do concelho de Arcos de Valdevez, mas é ao mesmo tempo uma das mais belas, qual jóia que se encontra incrustada nas margens do rio Vez, com a praia fluvial a ser a sua maior preciosidade e a ponte de Santar, assim como a igreja paroquial a lembrarem um passado remoto da passagem do homem ancestral por esta freguesia.
Notável é ainda o facto de ao lado da Freguesia minhota de Santar existir a de Gândara possivelmente relacionável com os centauros e deuses Gandareva hindus. Na mesma toponímia saturnina deve ser incluída a Vila do Sátão, enquanto corruptela sintética do nome de Saturno, como é seguramente Satã.

SINTRA
Outro topónimo que inesperadamente explica o de Santarém é o da cidade de Sintra.
Existe ainda todo um património literário que transformou esta Sintra numa referência quase lendária. Sintra, cuja mais antiga forma medieval conhecida "Suntria" apontará para o indo-europeu “astro luminoso” ou “sol”, terá sido designada por Varrão e Columela como Monte Sagrado. Ptolomeu registou-a como a "Serra da Lua" e o geógrafo árabe Al-Bacr, no século X, caracterizou Sintra como «permanentemente mergulhada numa bruma que não se dissipa».
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Figura 4: As brumas da memória de Sintra.
À falta de mitologia popular com uma lenda cristã apropriada foi criado um mito urbano indo-europeu relacionado com o facto óbvio de chamar ao sol o astro luminoso como se a lua não o tivera sido também. Claro que ninguém se atreveu a fundamentar esta etiologicamente no barbarismo que resulta de uma mistura da banalidade óbvia de “sun” ser sol em inglês e Suria, o sol dos indo-europeus.

Ver: SURIA – O SOL DOS INDO-EUROPEUS (***)

Obviamente que uma etiologia que resulta da mistura de duas variantes do nome do sol, uma moderna e outra indo-ariana, não pode ser credível.
Durante o domínio muçulmano surgem os primeiros textos que referem explicitamente a Vila de Sintra (Xintara ou Shantara em árabe).
De novo os árabes não arriscam nem etimologias nem mitologias porque obviamente sabiam que o nome de Sintra se perdia na bruma dos tempos que pareciam cobrir eternamente este local sagrado que será mais lunar que solar como Ptolomeu já o sabia e que seria o bastante para duvidar da hipótese indo-europeia *Suntria.
De facto Sintra foi chamada pelos árabes por Shantara porque quando ali chegaram já assim se chamaria por ser terra de cavalos selvagens cujas éguas emprenhavam com o Zéfiro como as de Carcavelos e de Lisboa.
Suspeitamos então que o cavalo seria dedicado a Saturno, um deus lunar da época minóica.
O cruzado Osborne, um dos voluntários estrangeiros na conquista de Lisboa aos mouros por D. Afonso Henriques, e o primeiro "repórter" da História de Portugal, nas suas crónicas, disse sobre a serra de Sintra que se tratava de uma região tão enigmática ao ponto das éguas ficarem prenhas apenas devido ao vento...
O plural fenício deste termo seria Santarim que significaria tanto cavalos como centauros e que o espírito inventivo dos mitógrafos gregos transformou em centauros, mito que teriam alternativamente nomes como sátiros e silenos.
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Figura 5: O palácio da Pena de Sintra sobre as nuvens da bruma lendária de Sintra.
A raiz toponímica desta idílica estância estremenha é várias vezes milenar. O célebre geógrafo Edrisi, que viveu no século XII, chama-lhe Xentra e Sentra, termos arábico e moçarábico. Chamava-se antes, em celta, Chyntia ou Cyntia, vulgarizando-se no século XVII a grafia Cintra. E ainda hoje ela se impõe no presente modo de escrever, como se quis a partir dos anos 30/40 do século XX: Sintra. -- Sintra, Serra Sagrada – Vitor Manuel Adrião.
É difícil seguir inteiramente esta senda semântica de Victor Adrião porque não nos foram dadas provas arqueológicas ou circunstanciais de que Sintra fora Chyntia em celta e logo de imediato o fosse por homenagem a um epíteto de Artemisa. A credibilidade do saber Saber Iniciático materializado em propostas tecidas por mera intuição mística vele o que velem os seus impropérios aos que lhe sejam menos fiéis.
Como fui eu quem iniciou em 1978 o Ciclo Taumaturgico de Sintra para Aquarius – 2005, e como tudo quanto tenho transmitido pela comunicação social nos últimos dois decénios e alguns anos não tem passado de excertos ou fragmentos soltos de um Saber Iniciático indo à Raiz do Mundo, considero-me, portanto, com idoneidade espiritual e humana suficiente para afirmar a certos «sábios da Grécia» que tudo sabem menos ter algum sentimento nobre pelo seu próximo: tudo o que fazem hoje em dia, inventando tratandices sobre conjecturas tartufas, vale menos que nada! – Vitor Manuel Adrião
Claro que não existe documentada nenhuma Kinthya celta e por aqui nos ficaríamos porque contra prim-historiadores militantes não há razão que nos valha!
“Segundo a opinião de autores antigos dignos de fé, já em eras remotíssimas se chamava Promontório da Lua ou Cynthia, sob cujo nome os primeiros habitantes da Lusitânia adoravam aquele planeta. Segundo eles, de Cynthia se deriva a palavra Cintra. De acordo com a maior parte dos autores, a fundação desta vila principiou por um templo edificado pelos Gregos, Galos-Celtas e Túrdulos, 308 anos antes de Jesus Cristo, e dedicado à Lua. Quiserem dedicar este templo ao imperador Octaviano Augusto II, mas, como este não consentiu em semelhante apoteose, o dedicaram então à Lua. Isto se acha confirmado por vários cippos e outras pedras com inscrições que por aqui têm aparecido em várias épocas.” -- Pinho Leal, “Portugal Antigo e Moderno”.
De facto, o testemunho de Pinho Leal, feito “de conteúdo bastante variável, muitas vezes baseado em informações recolhidas junto dos abades”, pouca prova racional acrescentam a uma tese que seria mais credível se tivesse ficado apenas como tal. Na verdade, a Sintra faltando uma santa cristã, criaram os abades de formação jesuíta uma deusa suposta galo-celta, ou seja, de lusitanidade que nada tivesse de celtibero e arabizante, mas que, não podendo ter sido inteiramente inventada do nada acabou com nome de Cíntia decalcado do grego tudo porque a única réstia de verdade na tradição de Sintra resulta do facto de Ptolomeu ter chamado Selenes Oros ákron, Promontorium Lunae ao cabo da Roca.
Há cerca de 2.600 anos, “Rufo Festo Avieno”, em sua “Ora Marítima”, chamou-lhe Promontório de Ofiússa (palavra que significa serpente). Este autor informou que Ofiússa era o nome de um povo que habitava a região a que atualmente corresponde à área metropolitana de Lisboa. Esse povo, por sua vez, era descendente de um outro chamado Oestrymnia, ambos adoradores da Serpente e prováveis atlantes. Segundo alguns autores, como Ofiússa significa “Serpens”, infere-se que nesse contexto pode-se encontrar a justificativa geológica para a origem atlante do “Cabum Lunarum” de Sintra.
À Lua os gregos deram o nome de “Selene”, origem da palavra portuguesa serena. Deste vocábulo se formou a palavra serenata que é, como se sabe, uma forma musical de declaração de amor, usualmente cantada e tocada ao luar, de preferência debaixo de uma janela e dedicados a uma donzela.
Ptolomeu chamou ao extremo da “Serra da Lua”, o “Promontório da Lua”, “Cabo da Lua” ou “Cabum Lunarum”. -- [2]
O conteúdo original desses monumentos epigráficos é-nos transmitido por outros autores e correspondem a três aras consagradas respectivamente a Soli et Lunae, Soli Aeterno Lunae e Soli Aeterno (Cil II 258, Cil II 259,Cardim Ribeiro, 1994 p.86-87 e fig.4- 5). (...) O locus sacer do Sol e da Lua implementava-se na época romana sobre uma elevação rochosa de cerca de 40 metros sobre o mar. Situado no sopé do mons Sacer (Serra de Sintra) é referida por muito autores da antiguidade, e mais tarde designada por Cláudio Ptolomeu como “Serra da Lua”, inclui no seu estreito junto ao mar o promontório Magno ou Olisiponense descrito por Plínio e que o geógrafo denomina igualmente por “da Lua”. Plínio refere ser esta a região da Hispânia onde se dividem “as terras, os mares e os céus”, pelo que pela sua específica localização o santuário do Sol e da Lua assinalava e sacralizava os limites do Império ocidental. (...)
O desenvolvimento do Santuário terá sido sobretudo durante o reinado de Cómodo (176 d.C.-192 d.C.), atendendo ao afastamento do Imperador Marco Aurélio a este tipo de Cultos, e o seu apogeu deve ter-se atingido sob o imperialato de Septimio Severo. Entra em decadência após Caracala. O santuário poderá não ter durado uma centúria, sendo abandonado em momento indeterminado no segundo quartel do século III d.C., atendendo a que a Aeternitas Imperii se diluísse na crise política que se acentuou a partir dos Severos. -- Monumental Santuário Romano do Sol e da Lua - Sítio Arqueológico do Alto da Vigia (Colares, Sintra).
Entre a tradição, seguramente cretense, da serpentina Ofiússa e o Cabo da Lua de Ptolomeu pode ter havido o culto arcaico do crescente lunar típico das Santas Virgens ibéricas mas nada nos garante que esse tivesse sido o culto do sol e da lua que floresceu no Sítio Arqueológico do Alto da Vigia no tempo de Cómodo, que por ter sido um culto de funcionários imperiais durou pouco mais de uma centena de anos e que, por isso, seria de pouca popularidade.
Por estas mesmíssimas razões a lenda de Sintra que nunca teve força de mitologia chegou a oscilar entre o sol e a lua.
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Figura 6: Convento de Santa Cruz ou dos Capuchos em Sintra.
Alguns antiquários humanistas, tais André de Resende, João de Barros, D. João de Castro ou Francisco de Holanda, e até barrocos, caso, entre outros, de D. Francisco Xavier de Meneses (Cynthia, in Henriqueida, 1741), dedicaram uma atenção muito especial ao assunto, que já havia inspirado a Gil Vicente o argumento do Auto da Lusitânia (1532). Uma das protagonistas dessa Farsa é a ninfa Lisibeia, filha de uma Rainha da Berbéria e de um príncipe marinho, a qual reside nas vizinhanças de Solércia (Sintra). -- Manuel J. Gandra, A Serra de Sintra (Laudas em antecipação a outras que se hão-de apurar...).
No entanto, podemos asseverar que o culto misterioso e feminil à luz do luar é de facto o preponderante, pelo menos no romantismo isotérico da sempiterna neblina da serra de Sintra.
Então acabamos a pensar que talvez Victor Adrião tenha alguma razão quando relaciona Sintra com a grega Cintia porque afinal em mitologia tudo se relaciona com quase tudo e Artemisa de Éfeso era possivelmente Cibele, também chamada Berecintia por ter culto no monte do mesmo nome.
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Figura 7: A “Ressurreição de Lázaro” ou uma das portas dos infernos relativas ao culto do «cono» místico da Deusa Mãe Terra, que Berecintia era.
Ora, se aceitarmos que Berecintia seria a forma completa de um nome de uma deusa mãe cretense como Brito-Martis (< Matris) então Sintra já poderia ter relação com Artemisa pelo lado de Berecintia, que teria sido em Creta *Kere-Cuntia.
Brito-Martis < Writo Matris = Mae Brito ou seja Brígida.
Brito < Wer-it < Ker-et < *Kertu.
Por outro lado, já se tinha dado conta, ao falar de Santarém que a raiz nuclear destes nomes era Cent-, relacionada com o deus azeteca dos cereais, Centeotl e com o nome do «centeio».
De acordo com a língua Tupi, a maior nação indígena do Brasil, a palavra Sintra também está inserida nela, como: Sy-nh-atyara. Decompõe-se e traduz-se da seguinte maneira: Sy = Lua, mais nh, igual à partícula de ligação, mais atyara, igual a Monte, Elevação. Portanto, Sy-nh-atyara igual a Sintra, o mesmo que “Monte da Lua”, correspondendo ao Selene Oros de Ptolomeu e ao Mons Lunae dos Latinos (cf. Teodoro Sampaio, O Tupi na Geografia Nacional. Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1987). – Vitor Manuel Adrião.
Quanto ao topónimo actual Sintra, divide-se em Sin e Tar, termos aglutinantes turânicos significando, respectivamente, “Lua” e “Monte”. O turânico Sin foi adoptado pelos Caldeus e Hebreus para designar a Lua, e Tar o local elevado do seu culto, como sucede com o onomástico Sinai, este também presente na quinta da Penha Verde, na capela de Santa Catarina do Monte Sinai. – Vitor Manuel Adrião.
Não podemos confirmar se a raiz Sin- de Sintra e a lua suméria é do ramo linguístico turânico porque suspeitamos que esteja relacionada *Ki-Ana / Diana de origem egeia de que o tupi guarani participa quase de certeza por via ibérica arcaica. A forma mais elementar desta raiz será afinal Cen- de *Ki-Ana que deu o «Cono» da deusa mãe como porta do inferno e saída para o paraíso e a forma Kun que nos permite chegar a Cin-tia...de que deriva o deus sumério da lua, Sin, o «seio» da deusa mãe, o «seno» e a «enseada»...e o «sino».
Se postularmos uma deusa mãe *Ki?n-Ter, senhora das feras como Pótnia Teron, teremos a ligação que procuramos entre Sintra e Artemisa...e os centauros.
Claro que para reforçarmos o postulado de *Ki?n-Ter teríamos que ter À mão o nnome de Alguma deusa mãe sobrevivente nos panteões conhecidos mas obviamente que no longo mar da história linguística muitos elos etimológicos se perderam irremediavelmente. Mesmo assim podemos aceitar, como derivados próximos do nome desta deusa mãe virtual, além dos estranhos termos arcaicos para divindade em sumério (dinger) e em egípcios (netger), nomes míticos como a «pantera» de Dionísio, o nome da lendária esposa do rei Artur, Guinevere e o da divindade criadora dos mongóis, Tengri.
Guinevere = The wife of King Arthur of Britain, and the Queen of that land for the duration of Arthur's rule. Guinevere loved Sir Lancelot, however, and her infidelity with the knight sowed the seeds of doom for Arthur's kingdom.
Tengri = The sky god of the Mongols, their creator deity. Tengri was regarded as the author of all things visible and invisible, the controller of destiny, and the ruler of the world.
*Ki?n-Ter < Kian-Ker > Guan-Ker > Guani-Wer > Guinever.
Mas o mais intrigante de todos os termos que podem ser reportados a este mitema arcaico da deusa do «Cono», protectora dos animais selvagens é Afrodite Zerintia, sobrenome afrodisíaco obscuro e negro com resonancia com os labirintos de Creta e que se reporta a uma gruta («Cono sagrado) de Samotrácia onde a deusa das bruxas era adorada como Hecate, a deusa protectora dos cães de caça.
Aphrodite Zerynthia. = N.B. Zerynthia was the name of a sacred cave on the island of Samothrake. The goddess of the cave was usually identified as Hekate.]
Claro que de imediato Zerintia está longe de se parecer com o termo virtual *Ki?n-Ter. Se as coisas fossem sempre óbvias não havia lugar para perder tempo com estudos e ciência.
*Ki?n-Ter = Kunter > Synter > Zynther ó Zerunt + Ki-a > Zerynthia.
«Caçador» < Eng. hunter <    > Sintra.
Hunt = Old English huntian "chase game," related to hentan "to seize," from Proto-Germanic *huntojan (cognates: Gothic hinþan "to seize, capture," Old High German hunda "booty"), from PIE *kend-.
Assim, alem da raiz Kent-, temos também acesso à raiz -tra de Sintra de que deriva –ter < Ker, raiz proto grega para fera, besta ou animal e que justifica o epíteto de Artemisa como Pótnia (senhora) Teron (das feras), tal como Mater deriva de *Ma-Ker, a deusa mãe das feras como a Medusa do templo de Artemisa em Corfu.
Para terminar poderíamos suspeitar que Sintra seria de origem arcaica que nunca terá sido inteiramente assimilada popularmente por via árabe na forma que seria gramaticalmente correcta *Al-Shantra, como pode ter sido o caso de Alcântara, porque ficou sempre como as-Shantara.
O seu nome deriva do árabe al-qantara, que significa "a-ponte". Assim se chamava a ponte que atravessava a ribeira nessa área, que acabou por se chamar ribeira de Alcântara.
Será que o topónimo al-qantara significaria exactamente uma ponte ou terá acabando como parecendo tal?
Qantara é sinónimo de ligação entre dois pontos separados, ponte, vau, local de passagem de gado em transumância o que pode ter sido o caso de Santarém. Estaremos perante meras variantes conotativas cuja relação nos escapa ou perante verdadeiros falsos cognatos?
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Figura 8: Ponte das barcas em Bagdad em 1918.
O conceito de ponte anda relacionado, por razões óbvios, com os cursos de água que para os povos árabes não era, por motivos climáticos e geográficos, uma realidade natural que conhecessem tão bem como as dunas dos desertos. Mesmo o Iraque, terra mãe da civilização, não conhecia outras pontes que não foram de barcas até ao século XIX.
Assim, os árabes terão tomado alguma familiaridade com as pontes quando as herdaram dos restos do império romano no norte de África onde a realidade arquitectónica das pontes romanas os terá fascinado ao ponto de lhe terem imposto o nome como sendo aquilo que lhe parecia: uma soberba obra de «cantaria» o que nos leva a suspeitar que receberam o termo do Egipto onde o termo cantaria teria aparecido entre os pedreiros dos canteiros das pirâmides, termo que depois colocaram no Corão como conceito teológico relativo às pontes entre a terra, o inferno e o paraíso!
A origem dos termos relativos a «canto», «canteiro», «cantaria», «alcantil» e «alcantilado» derivam todos de um homógrafo do canto canoro mas não do mesmo étimo latino. De facto a origem latina do «canto» dos canteiros é pouco consensual.
El segundo viene de otro cantus. En latín se refería a "llanta de metal de una rueda", en castellano moderno es "extremidad o lado". Parece que el latín lo tomó del celta y podría estar emparentado con la raíz *ak (agudo).
«Canto» = (Lat. canthu, círculo de ferro que cinge a roda? < Célt. kant?), ângulo saliente ou reentrante formado pelo encontro de linhas ou superfícies;
Pois se aos gramáticos parece que os latinos aprenderam a arte da cantaria dos carroceiros celtas quase seguramente que se enganam por estarem a revisitar a história às arrecuas do sentido das correntes de civilização. Na verdade o conceito de «canto» aparece na arte da cantaria com o sentido de ângulo exactamente o mesmo da “pedra angular” do templo que é o corpo místico de Cristo nas parábolas cristãs. Ora, paralelo a este conceito angular, temos textualmente em português o “canto do olho” que em grego clássico era kanthós.
Em conclusão, se não se vier a provar que kanthós já era conhecido dos persas por via indo-europeia, os árabes herdaram o nome das pontes do grego pela via das obras de arte em cantaria deixadas pelos romanos.
Poderá parecer que todo este périplo em torno da cantaria seria para provar que Alcântara seria um nome cognato de Sintra e de Santarém mas não é exactamente assim que as coisas são. O que se pretende provar é que kanthós significava ângulo em grego por ter a forma piramidal da pedra angular onde repousou o pássaro Benu no primeiro dia da criação. Parece que a raiz cen- de centauro deriva também de kenthos que significaria as setas que os domadores de cavalos citas usariam como «ângulos» de arcos de flechas na guerra contra os lapitas. Dito de outro modo, toda a linguística dependeria de uma mitologia complexa toda feita de alegorias em cadeia, como cerejas num açafate. De facto, o pássaro Benu não é senão a Fénix e esta apenas uma variante linguística de Vénus, a Deusa Mãe do «Cono» primordial.

CANTÁBRIA
Ao mesmo grupo toponímico de Sintra e Santarém pertenceria o nome da Cantábria e o estranho nome da cidade de Santander.
Aunque aparece citada por primera vez en 1068 en un documento hecho redactar por el rey Sancho II, en el siglo IX Alfonso II, el Casto, funda la Abadía de los Cuerpos Santos en la ermita preexistente en el cerro de Somorrostro, sobre el relicario de las cabezas de san Emeterio y san Celedonio y los enterramientos de otros mártires desconocidos, a los que debió su nombre de iglesia de los Cuerpos Santos. Según la leyenda, las cabezas de san Emeterio y san Celedonio, mártires decapitados en Calahorra por no abjurar de su fe católica en el siglo III, fueron transportadas en una barca de piedra para proteger ambas reliquias del avance musulmán. (…)
Los filólogos consideran que el nombre actual de Santander proviene del nombre de Portus Sanctorum Emeterii et Celedonii, San Emeterio por evolución
(Sancti Emetherii > Sancti Emderii > Sanct Endere > San Andero
> Santendere > Santanderio > Santander)
Es una secuencia generalmente aceptada, aunque los saltos fonéticos propuestos no estén muy claros. En muchos de los mapas y documentos posteriores se refieren a Santander como San Emeterio y Sant Ander. En otros y seguramente por equivocación aparece la otra versión menos aceptada, que razona sobre su origen relacionado con San Andrés como patrono "Sanct Ander", pero la ausencia de este santo en el posterior desarrollo de la ciudad, hacen dudar de su autenticidad. Wikipédia.
É óbvio que os saltos fonéticos que vão de Portus Sanctorum Emeterii et Celedonii a Santander são muito, mas mesmo muito pouco claros. Quase seguramente que se passou com o nome desta cidade cantábrica o mesmo que com a cidade escalabitana. As relíquias dos santos que foram escolhidos como patronos destas cidades encalharam nelas por pura casualidade e muito pouca semelhança fonética. De facto, Santo André > Ander > Andeiro seria muito mais apropriado para patrono de Satander.
Os montes cantábricos seriam literalmente *Cantar-bur, os montes dos centauros, ou pelo menos os montes *Cent-a-bur, ou seja, os montes de *Cento, literalmente o deus Kian / Enki / Phian / Pan, deus do pão centeio, do cume do monte da luz primordial de que deriva o nome do deus azeteca Centeotl, deus do cereal...e Dagon...o grande deus da agricultura e da navegação e pesca dos minóicos. Obviamente que por estes lados Dagon era o Tejo.
Dagon < Te-Gu-An > Te-Gu > Tejo.
Segundo a equação referida no “desarrollo etimológico de la palabra 'CANTABRIA', tal como nos lo ofrece Jorge M. Ribero, siguiendo estudios de varios lingüistas”, tudo terá começado com o culto dos cavalos.
ZALZAVAL
\|/
ZELTIVER <---- ZELTIVAL -> ZELTUBAL -> (Setubal)
\|/
(Celtiberia) ZENTIVAR
\|/ \|/
ZENTAVRA (Centauro)
\|/
(Cantavria)
No entanto, a Celtiberia é um neologismo latino inventado para referir os supostos dois grupos étnicos, celta e ibero, da península que entretanto se supunha já misturados. Mas, se havia locais onde tal mistura era vantajosa para os celtas era precisamente nos montes cantábricos.
Cantábria < Kantawria < Kantauria.
Se assim for é aos centauros que temos que refazer a etimologia e não à Cantábria porque é óbvia a relação fonética, e assim muito possivelmente étmica, entre os dois termos.
Según Andrés de Poza (1587), se conocía como 'Cantavros' a los antiguos moradores de Iberia, descendientes de esos Centauros. Ciertas costumbres de esos Cantavros se han conservado hasta nuestros dias, en las regiones ibericas de: Cantabria, Rioja, Burgos, Pais Vasco, Navarra y Pirineos. La herencia más importante, sin embargo, es su idioma: el Euskera.
Santander, cidade que ainda hoje é a capital da Cantábria teria sido santificada de propósito como Santarém porque ambas antes de serem santas já o pareciam ser por terem sido locais de culto do mais puro e santo de todos os deuses que foi Enki, o deus protágono, filho da terra e do céu nascido no pináculo do monte da luz primordial. De igual modo se pode falar da cidade cantábrica de Santonha.
«Iruña» < Hir-unia < Kur-| In-ana > Irnini|.
                                       > Unia > «Oña» => Santa Oña.
Irnini (Irnina): Goddess of war assimilated with Ishtar.
El topónimo de Santoña es anterior a la conquista romana, anterior al nombre de Portus que le dieron los romanos. El origen de la palabra puede ser celta, derivado de una gens de la tribu de los sanntones o Sánt-onos, asentada en el suroeste de la Galia (…)
Desde muy antiguo en los documentos que citan esta zona se habla de Santoña refiriéndose al monte, mientras que el núcleo de población que fue creciendo al amparo del primitivo cenobio respondía al nombre de Puerto. También en época del conde castellano Sancho García se conocía el lugar como el peñate de Sancta Onia en una desfiguración del topónimo. El conde proclamaba el peñate como una propiedad del abad y la abadesa del monasterio de Oña, al mismo tiempo que lo repoblaba con gentes que se dedicaban al comercio y a la pesca de la ballena.
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Figura 9: Vista idílica de Santander.
Santa Onia nunca existiu e foi inventada pelos tabeliães medievais para justificar o topónimo Santoña sem darem conta de que muito perto existia a localidade de Oña na província de Burgos o que permite soletrar o nome de Santonha como sendo de facto Sant(a)-Onha.
Assim sendo, Satander seria uma localidade pré-histórica cantábrica de nome mais próximo com estes montes e com o deus do cereal azeteca Centeotl do que com qualquer santo cristão que a ter existido seria, pelo menos no que aos falantes pareceria Santo Ander, nome cantábrico de André.
Satander ó Sant Ander < Sant-eo-ter > Centeotl.
Este périplo cantábrico permite-nos, pelo menos, identificar a raiz Sant- com localização muito mais a norte e mais anterior do que a colonização semita dos fenícios. Permite-nos também postular que o nome dos centauros, de Santar, Saturno e Santarém teriam, como núcleo mitológico, o nome de Crono / Saturno, *San-ta-ur, literalmente, Enki / Dagon, o deus Delfino e taurino. Pois bem, taurinos eram todos os deuses sumérios representados com uma tiara de triplos cornos de touros.
A questão que se coloca de seguida é a evidente ambiguidade de *San-ta-ur ser como Crono um deus de cornos taurinos e no entanto os centauros que parecem foneticamente derivar deste mitema serem divindades meio homem meio cavalos. De facto os cavalos da região do Ribatejo foram tanto ou mais famosos do que os de Lisboa. Evidentemente que os vestígios da civilização minóica que quase de certeza estão na origem do culto taurino ibérico e particularmente ribatejano terão sido assoreados pelo Tejo.
As transformações que o traçado do rio Tejo sofreu desde a Antiguidade até aos nossos dias, aliado ao facto da região do Vale do Tejo não ter sido objecto de estudos de prospecção arqueológica sistemática, podem explicar a escassez de vestígios conhecidos em torno de Santarém. As descrições de Estrabão apontam para que esta lezíria fosse particularmente fértil, sobretudo para o cultivo de cereais, da vinha e na produção de azeite. Podia obter-se ouro, pela lavagem das areias do Tejo, e os cavalos criados nas suas margens eram conhecidos pela sua velocidade. -- Viegas, C. (2003a) – Terra sigillata da Alcáçova de Santarém – Economia, comércio e cerâmica. Trabalhos de Arqueologia. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia.

Ver: CENTAUROS (***)

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Figura 10: Centauromaquia.
De facto, o nome actual da cidade de Santarém reporta-nos para o culto dos cavalos e dos míticos centauros que os campinos a cavalo seriam, nas lezírias do Ribatejo.


[1] http://toponimialusitana.blogspot.pt/2005/12/os-santos-tm-escolha.html
[2] http://turismoemportugalparabrasileiros.blogspot.pt/2012/07/onde-terra-se-acaba-e-o-mar-comeca.html.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

HÉRCULES, UM FALSO GÉMEO DE HERMES. por Artur Felisberto.

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Figura 1: Hermes & Hércules. Estes deuses quase nunca aparecem juntos. As funções de juiz mensageiro que Hermes costuma ocupar em cenas mitológicas doutros contextos costumam ser preenchidas por Atena quando Hércules está presente. Como noutros contextos parece inferir-se que Hércules seria um avatar de Apolo é então possível que esta cena represente afinal uma variante inconsciente e tardia do culto dos gémeos primordiais.
Já demos contas que Pan aparece nas etimologias dos nomes de arcaicos deuses do fogo o que, como filho de Enki que é, nos terá que fazer reportar para este deus primordial da divina sabedoria que teve por equivalente helénico o deus das espertezas saloias, Hermes mal acabava de nascer e já andava a roubar o gado de Apolo!
Por su parte, Sánchez Dragó, encuentra en la figura hispánica de Hércules un sincretismo considerable: "En él confluyen Habidis u Osiris-Dionisio-Baco, por una parte, y Baal-Hammon-Melkart-Kronos-Saturno por otra", (p. 205)."Es indudable que el Heracles griego, llamado Hércules por los latinos, era el mismo dios Melkart o Melkarte de los fenicios y cartagineses, que en un principio fue no sólo el dios de la fuerza, sino el de la industria, la astucia, el comercio, los viajes, exploraciones y expediciones legendarias. Su nombre púnico Melkart o Melkarte, tiene el mismo sentido que el término latino Mercurius... Se discutía mucho su nacionalidad, pero en el templo sus sacerdotes seguían el rito egipcio y decían que el dios había venido de Egipto... Así, el padre de la Historia exclama: ¡declárese la verdad y sea Hércules tenido por dios antiguísimo egipcio!" Los fenicios consideraban también a Hércules "protector de las rutas y los caminos, por lo cual hacían montones de piedras que encontraban en sus viajes para conocer el camino de vuelta y además asegurar la felicidad de los negocios y empresas".[1]
De facto, entre Hermes e Hércules existem óbvias analogias étmicas.

Hermes
< Her
-Ama
            = Kali
-ish
Hércules
< Her
-Kul
< *Kur > Kali
-ish

ALCIDES

O mais provável, em função da própria personalidade miliciana de Hércules é que a etimologia deste nome fosse mais directamente a seguinte:
Hércules < Her + | Grec. kurios = senhor, autoridade suprema => *Herkulios, lit. «o (> *horgul- > Germ. ûrgoli > «orgulhoso») Senhor da Guerra!
Original name = Alkides (renamed by Delphic Sibyl) = Alkaios, changed to Herakles by the Argives.
Em que ficamos? Alcides ou Alcaios ou, como adiante se dirá, *Alexikakos?
Como kauros º kakos => *Alexikakos = Alexi-Kauros
=> *Helish-Kourios, «o jovem filho do sol».
=> Her-Kurish, Iscur, (o deus) dos Exercitos.
Poderia até ter sido Alfeu.
Alfeu < Alpheiu < Alwaios, lit. “aquele que é branco”
< Al-kaios >Al-kides = Herakles, enquanto figura lendária porque, enquanto figura mítica e divina, Hércules deve ter sido o nome que mais seguramente entrou na língua grega a partir de Eragal
< *Heragal-ish, lit. “o filho guerreiro do rei, o príncipe guerreiro, o sol”, filho de *Kurkur(-ish), o poderoso deus pai que transportava o deus menino solar de monte em monte todo santíssimo dia, *Kurkurish
=> Herkales.
Até parece que os gregos clássicos já sabiam que um dia iriam ser dominados pelos árabes porque têm termos que parecem moçárabes.
Alfeu > «Alfaia» < Ár. alhaja, = lit. «coisa necessária», s. f. qualquer utensílio adequado a uma arte ou ofício! Ora, além destes sinónimos este termo comporta ainda: • arreio; • baixela; • atavio; • enfeite; • jóia; • paramento de igreja etc. quando «alfaiate» < Ár. alkhayyát = lit. «que corta e cose». Será mesmo assim? Não haverá exagero na atribuição de responsabilidades dos significados das palavras nacionais a outras línguas? Na verdade, não me parece que se possa separar a semântica de «alfaia» da de «alfaiate» tanto pela semelhança fonética como pelo facto de me parecer que os sentidos primários de alfaia teriam estado relacionados com vestuário e só secundariamente estes sentidos se terão alargado a qualquer utensílio adequado a uma arte ou ofício, seguramente que só depois de se terem perdido por conotações circunstanciais relacionados vestuários distintivos duma arte ou ofício, ou pelo menos duma cooperação medieval, por analogia com os paramentos de igreja. Ora bem, e aqui é que se entronca o nó desta questão, a alvura destes paramentos de igreja tinha que ser imaculada pelo que não seria de espantar que tenha sido a igreja a criar na gíria das sacristias o termo «alfaia». A partir daqui os restos dos sentidos teriam vindo por acréscimo até chegarem onde chegaram. De facto, sendo assim, o «alfaiate» teria sido primariamente o que fazia os paramentos do clero cristão já que o clero árabe não sói paramentar-se para actos litúrgicos. Ora, que o «alfaiate» fosse árabe ou viesse a ter nome árabe estando ao seu serviço do clero cristão seria quase uma heresia! É até possível que o Ár. alkhayyát seja lit. «que corta e cose» e o Ár. alhaja, = lit. «coisa necessária» (< Alkaja, lit. «a coisa»), mas parece-me que será muito difícil que suportem estes sentidos em simultâneo.
Suspeita-se assim que muitas etimologias de termos autóctones e de cariz popular que não se encaixem à tradição latinista acabam por ir parar ao fundo de saco do arabismo. Ora, se não fosse o preconceito rácico implícito no mítico paradigma do indo-europeu talvez utilizássemos mais o árabe como instrumento de investigação étmica e então, não nos esqueceríamos tão facilmente, sempre que nos falham as deixas etimológicas do classicismo, que o árabe descende da mesma fonte comum das linguagens péri mediterrânicas por via dos caldeus e que os fenícios andaram na península a falar linguagens semitas muito semelhantes às arábicas pelo que, em tese pelo menos, será sempre difícil afastar a suspeita de que muitos arabismos sejam renascimentos fenícios, por exemplo! De resto, o arabismo na etimologia do português fica com as costas das possibilidades semiótica tão largas que de tanto serem esticadas acabam por ficar com as costuras à mostra. Na verdade, pelo exposto antes relativamente aos paramento de igreja, o «alfaiate» deveria derivar de «alfaia» e então ter sido na fonte árabe algo do tipo alhaja-yat que é bem diverso de alkhayyát.
Para uma língua como a árabe, que se supõe conservadora, seria evoluir demais em pouco tempo. Em conclusão, «alfaia» derivaria de *alphaja, lit. “a faixa branca?” < Alwaia (> «alvaiade» < Ár. albayãd, brancura) <= *Kar-kaka, epíteto relativo ao fogo do sol > homologa do termo árabe alhaja = Al-haja = a «causa»! Quanto a «alfaiate» seria um mero composto, como tantos outros terminados em -ate, «relativo a todo aquele que faz», neste caso «alfaias». Sendo assim e como tudo se terá passado numa época em que os árabes dominavam a Península Ibérica, e bem possível que, se não podermos demonstrar que o árabe é dispensável para explicar muitas etimologias que o latim não permite prever ou será porque se trata de termos inteiramente autóctone com homologias compreensíveis por uma arcaica fonte comum ou no mínimo foi o árabe que com a sua presença influenciou por ressonâncias a escolha preferencial de algumas palavras autóctones mais aparentadas com o árabe conseguindo assim, numa fase de maturação dos falares ibéricos, marcar pontos sobre o latim já então em decadência desde a época do baixo latim dos séculos finais do império romano e com alguma perda de competitividade depois da pressão dos falares germânicos desde o começo do império visigodo.
De qualquer modo, não deixa de ser interessante, já que quase ignorado por toda a gente, que, afinal, o famoso Hércules tenha tido originalmente o prosaico nome de «Alcides»! Este facto deixa no ar a suspeita de que, no substrato lendário do mito de Hércules, pode ter existido uma personagem histórica, dentro da mesmíssima lógica de probabilidades relativas à existência histórica dum Jesus judaico por detrás da mitologia messiânica de Cristo Salvador, um arcaico deus de morte e ressurreição.
«Alcides» < Alki-de(o)s < Alki-Kius < Kurish | = *Iscur | -Caco
=> *Alex(i)kakos > Alcheihakos > Alchaihos >Alcaios.
Alcides < *Kar-Kitish => *Iscur-Kiki + Ama > Maharkithes > Mer-Kartish > Melkart/Melquides.
Outro dos epítetos espantosos de Hércules foi Buraicos o que parece reportar-nos Bóreas, o deus dos ventos. Obviamente que o deus dos ventos foi, como Enlil, um «manda chuva», senhor das tempestades e da fertilidade vegetal.
Buraicos < *Phur-Yacos < *Pher-Jakos, lit. «o que transporta Jacos, o deus menino Dionísio, *Kakisco, o filho do «Caco & da Caca», o divino casal do fogo primordial < *Kur-kakus, lit. “o filho dos montes (da aurora)” > *Kaphurisco, “lit. o filho da cobra”, facto que, em parte, explica a mitologia da infância de Hércules em que este aparece dominando as cobras, de certa forma uma metáfora do herói patriarcal que necessita de dominar mãe para aceder ao poder supremo!
=> *Hapolisco, lit. “filho de Apolo”.

Ver: HERMES CRIÓFORO (***)

Kronos, imprison Vriareo (Heracles) Kotto and Gye, on Tartaro. Kronos (Vriareo, Kotto, Gye) on Tartaro, tie them and place them. Apollodoros, book A, paragraph 4
Kur Kurish => *Kur-kur-kiko > Wir-Hareu > Vriareo
                                                   > Wur-Aireu => Buraicos!
Notar que Jacos foi um dos nomes de Baco/Dionísio, que por sua vez foi um mítico rei de Espanha. Seriam os dórios tão trácios como se julga? Não teriam sido os dórios originários do Douro a terra do «carago» (< carajo < «caralho» > Karhalyo < *Harkal) por excelência?!
- "Dicen Varrón y Silio Itálico, que Baco conquistó España; refiriendo el primero que de Pan, jefe de los ejércitos de Baco, tomó Hispania su nombre. También Plutarco afirma que Pan, jefe de las tropas de Baco, dió nombre a Hispania. Esta noticia la suministra asimismo, algo modificada, Sosthenes, que escribe ‘tomó Spania su nombre de los panes que llevaba Hércules, siendo de anotar que el nombre de ‘panes’ significa los rojos, denominación de ‘rojo’ que se dió al dios Pan, según Servio, por que le representaban pintada la cara de color rojo. De pan e is ‘país, tierra’ en caldeo occadio, se formó el nombre de ispania ‘país de Pan’ o ‘país rojo’, dado el color predominante de nuestra Patria para los navegantes" (p. 18[2]).
«Espanha» < Ish-Pan-hia, literalmente «a terra dos filho de Pan»?
< Ish-Kan-Kia, «terra de *Ishkian», a Fénix, o pássaro de fogo?
< Phanhikia, terra de fenícios?
A mera suspeita de que o nome das Espanhas tenha andado associada ao deus dos pastores que terão sido os primeiros habitantes do paleolítico das regiões de entre Côa e Águeda a fazer fortuna com a venda de gado, é um facto que, só por si, é já razão suficiente para concluir que estamos na pista certa e ter que admitir que a tradução literal deste epíteto de Hércules, o *Pher-Jakos, só poderia ser coincidente com a que se tinha deduzido por *Kurkurish!
Ora, outra coincidência espantosa é precisamente a que envolve Hércules num conflito mortal com Caco pela posse do «gado do céu».
The battle between Hercules and Cacus, although one of the oldest of the traditions common to the whole Indo-European race, appears in Italy as a purely local legend, and is narrated as such by Virgil, in the eighth book of the AEneid; by Livy, at the beginning of his history; and by Propertius and Ovid.
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Figura 2: Caco, destruído por Hércules é aqui representado como um deus do fogo na forma da lava dum vulcão!
Hercules, journeying through Italy after his victory over Geryon, stops to rest by the bank of the Tiber. While he is taking his repose, the three-headed monster Cacus, a son of Vulcan and a formidable brigand, comes and steals his cattle, and drags them tail-foremost to a secret cavern in the rocks. But the lowing of the cows arouses Hercules, and he runs toward the cavern where the robber, already frightened, has taken refuge.
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Figura 3: O gado de Gerião ou de Apolo.
Armed with a huge flinty rock, he breaks open the entrance of the cavern, and confronts the demon within, who vomits forth flames at him and roars like the thunder in the storm-cloud. After a short combat, his hideous body falls at the feet of the invincible hero, who erects on the spot an altar to Jupiter Inventor, in commemoration of the recovery of his cattle. Ancient Rome teemed with reminiscences of this event, which Livy regarded as first in the long series of the exploits of his countrymen. The place where Hercules pastured his oxen was known long after as the Forum Boarium; near it the Porta Trigemina preserved the recollection of the monster's triple head; and in the time of Diodorus Siculus sight-seers were shown the cavern of Cacus on the slope of the Aventine. Every tenth day the earlier generations of Romans celebrated the victory with solemn sacrifices at the Ara Maxima; and on days of triumph the fortunate general deposited there a tithe of his booty, to be distributed among the citizens. -- Myths and Myth-Makers: Old Tales and Superstitions Interpreted by Comparative Mythology, by John Fiske.
«Nuvem» < Lat. * nubine, por nube ou antes, e mui mais provavelmente,
plural semita de Nube < Anuwe < Anuki > Enki,
=> a «neve» < Lat. nive, do céu < Grec. nephos, cúmulo de nuvens.
Pois bem, como se verá adiante, «o gado do céu» era feito de «nuvens» e a sua posse, enquanto vacas leiteiras produtoras da chuva, permitia ser «manda chuva», expressão idiomática que não tem o significado de «pessoa poderosa» por mero acaso «pecuniário» ou devido a uma qualquer anedota circunstancial que já teria sido célebre mas que por ora permanece perdida na noite dos tempos, obscuros e indecifráveis, relacionada com os poderosos xamãs da dança da chuva.
O mito de Hércules & Caco encobre, de forma tão mística quão nebulosa, o pecado original do parricídio por mesquinhas razões de poder. Dito de outro modo, podermos levantar a suspeita de que estamos perante uma variante da titanomaquia que deu o poder supremo a Zeus. Para tanto, teríamos de admitir primeiro que, se Caco era filho de Vulcano, então este não pode ter sido filho do próprio pai.
Ora, não tendo havido explicitamente nenhum filho de Enki que tenha tido um nome com ressonâncias fonéticas com Vulcano é quase certo que este nome tenha evoluído a partir das funções que Enki tinha na qualidade de Iscur, o deus que seria não apenas o Sr. do «gado das nuvens» com que se tecem as manadas do gado das tempestades como seria também o deus dos infernos do Kur, como teremos outras oportunidades para o demonstrar.
Iscur >| Ishwur = Wulish | + Anu > Vulcano.

Ver: ISCUR /DEUSES «MANDA-CHUVA» (***)


[1] SACRALIDADRQUETÍPICAY TRADICIONAL DEL MUNDO ANTIGUO, MONCAYO, CELTÍBEROS Y MITOS VARIOS, Ángel Almazán de Gracia.
[2] SACRALIDAD ARQUETÍPICA Y TRADICIONAL DEL MUNDO ANTIGUO, MONCAYO, CELTÍBEROS Y MITOS VARIOS, Ángel Almazán de Gracia.