A respeito de Conimbriga reza assim a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira:
O nome indígena, em que entra a raiz celta cun-, com significado de altura, não deveria diferir muito, segundo os filólogos, de *Conenobriga, que assim, pelo radical e pela terminação, afirmava seguramente a origem celta do povoado. Seria pois esta a evolução do vocábulo, de harmonia com as nossas leis fonéticas: *Conenobriga > Coniumbriga > Conimbriga > Colimbria > Coimbra.
A verdade é que pouco ou nada existe na tradição Coimbrã que faça pensar em tradição celta até porque é mesmo duvidoso que os lusitanos fossem celtas e não um povo tão autóctone como os Iberos! Para ir de *Coneno a (> conion > ???) Conium são necessários «passos de mágica» etimológica (como é o caso de passar de Conimbriga a *Colimbria) que mais parecem saltos mortais de caranguejo, tão estranhos, que postula-los se parece mais com uma conice de filólogos distraídos do que com uma verdadeira explicação semântica! Claro que Conimbriga ficava situado num “seco e alto promontório, entre águas de duas torrentes”, mas quem nos garante que *Coneno era o nome que os celtas davam a estes locais? Os «canhões do colorado» terão esta mesma etimologia pela via do Cast. cañón? Mas, neste caso seria a «garganta funda» do vale a dar semântica à metáfora já que literalmente o «canhão» não passa de um grande e enorme «cano» paralelo com a semântica das «canadas» e vales! En conclusão para que a suposta raiz celta cun- pudesse ter tido algo a ver com a semântica do nome de Conimbriga seria necessário que tivesse mais a ver com «partes baixas» do que com alturas o que, em qualquer caso dependeria sempre mais da perspectiva do que duma verdadeira e fecunda lógica etimológica! A verdade é que raramente o nome de localidades antigas se relacionava com trivialidades que não derivassem de coisas tão importantes como era tudo o que se relacionava com a mitologia e com o sagrado! No mínimo, os topónimos das cidades antigas tomavam o nome das tribos que as habitaram pela primeira vez! Ora, afinal, não eram os cónios (cunetes ou cinetes) os arcaicos habitantes do Algarve sem que por isso fossem suspeitos de serem celtas? Claro que é estranho imaginar que a cidade de Coimbra pudesse ter sido um posto avançado a norte em pleno coração da Lusitânia duma antiga confederação de cónios peri-mediterrânicas algarvios! Se não fora o preconceito rácico do modismo indo-europeu não haveria grande vantagem em invocar a presença celta em terras do Mondego porque antes da romanidade o progresso e a civilização vinham do sul e os cónios seriam seguramente mais civilizados e cultos do que os celtas da cantábrica! Aliás, os cónios seriam literalmente gregos antigos quanto mais não seja pela similitude do nome da língua grega antiga com o nome deste antigo povo algarvio.
The Greek language as it is spoken today is descended from koinê, which comes from the Attic-Ionic branch of classical Greek.
Estranho seria que depois de tanta semelhança fonética os cónios não fossem os mesmos Cunetes que falando koinê só poderiam ter sido descendentes de colonos jónicos vindos da Ática no tempo das migrações gregas pré-clássicas que iriam levar à formação da magna Grécia itálica.
Pois bem, se existiu um nome indígena anterior à inteira romanização de Conimbriga ela teria sido Coniumbrica como se infere duma inscrição lapidar encontrada em Freixo de Numão que reza assim:
«Dis.Diabusq. Coniumbric» = a Dis, Pater, e a todos os deuses de Coimbra!
Desses primeiros séculos da nossa era, ficou-nos uma «ara votiva» dedicada aos Deuses e Deusas CONIUMBRICENSES! Durante muitos anos os investigadores ligaram os CONIUM aos CONIM (versus Conimbricenses), o que levou a interpretar a dedicatória aos Deuses de Conímbriga! No entanto, hoje, à luz de uma nova investigação e reinterpretação dos textos, podemos verificar, num documento do século XIII, a referência a «um lugar contra Columbria», provavelmente a tal Coniumbriga que se refere na Ara de Numão! Daí a nossa inclinação para a existência naquele lugar de uma grande «VICUS» e porque não uma «CIVITAS» com a denominação provável de CONIUMBRIGA.
A existência de tal documento do XII necessitaria de ser verificada e comprovada. Depois justificar a passagem de Coniumbric a Columbria o que é quase impossível já que encontrar uma terra actual para Columbria não é difícil por estas paragens bastando ir até à terra dos oleiros de Santa Comba. Ora, se confundir Conium-briga com Columbria é façanha, pensar que uma povoação que seria à época romana uma mera Villa com um pombal (e um possível pequeno templo a Afrodite das Pombas) com uma localidade com cultos vários, a Dis e outros deuses, seria falta de realismo, a menos que Santa Comba de V. N de Fóz Coa se viesse subitamente a revelar in loco um passado arqueológico glorioso que passou despercebida a todos os parcos registo da época e posteriores. Então teríamos:
Lat. Conimbriga < Lusit. Conium-brica = *Conium- + | Wrica (< Cald. Warca ) | => *Cõiumbrija > Coimbrya > Coimbra).
Porém, sendo duvidoso que tenha sido a raiz celta cun- (relativa a alturas???) a dar a, ainda mais duvidosa, *Coneno, antes de chamar os cónios à colação só nos resta tentar buscar uma etimologia mítica para Conium!
Ora, acontece os «coinos» eram o mesmo que Jónios da ática Atenas!
*Kima-Coni = *Coni-Kime > Coni-hime > Coniim- > *Conium, sem qualquer tipo de sobressalto fonético!
Atena < Anat < Han-at < Kainuat < Ki-Anu-At
=> Chu-na-ish => «Jónios».
Grec. Xoanas < kauinat > *Koin-et º *Coni-Kime
«Conios» < Coinos < koinê < *Koin-et > Cunetes.
Por outro lado e bem perto havia uma cidade que veio a herdar o nome de Conimbriga e que se chamava Æminium onde existe a estranha persistência do m no nominativo o que permite suspeitar que a sua pronuncia seria tal que permite postular que possa ter tido a seguinte origem étmica:
Æminium < Erminium < Lat. Herminius Mons.
Obviamente que não seria necessário que esta cidade ficasse nestes montes ou nas suas fraldas mas que tivesse por patrono o mesmo deus votivo Herminius ou Hermes deus psicopompo dos cumes montanhosos.
O facto de se referir que (S. Salvador de) Aramenha tinha o nome romano de Ammaia referida em Ptolomeu implica que os colonos romanos nem sempre ouviam bem os nomes das localidades indígenas. De facto as leis da fonética lusa permitem inferir que:
Aramenha < Alamenia < Ar(a)mahi-an, variante de Artemisa
> Oppidum A(l)maia(n).
Em Æminium deve ter acontecido o mesmo, pelo menos em relação à primeira labial. E, mais uma vez, são coincidências laterais que vêm em auxílio duma tese que só aparentemente poderia conter contradições insanáveis. De facto, como a lapide referida indicia, seriam intensas as relações culturais entre as duas localidades e tal como ainda hoje pelo que se Numão não foi a da celebrada teimosia de Numância (< Anu-Ama-Ankia, lit. «Sr. Mãe (e esposa) de Enki», tal como foi Tiamat ) foi pelo menos Nammu ou Numanu.
Lat. Herminius < Kar-Minus, filho de *Kur-Ma-Ana
=> *Kur-Ma-Ana + ush > Her-ma-ish Anu, Sr. Hermes, possivelmente com o epíteto de *Nau-manu > Lusit. Nomano.
De qualquer modo a tese de que Numão possa ter sido uma forma abreviada de Numância não fica prejudicada, pois, pelo contrário, reforça tal possibilidade!
Hübner publicou, em CIL II 430, a seguinte inscrição que se acharia gravada num penedo em Freixo de Numão:
IVNO / VEAMVAEARVM / TARBOVMAN / CNVNARVM / SACRVM / CIRI / CVR (...)
A inscrição não é fácil de interpretar. Ainda recentemente, A. N. Sá Coixão e José d’Encarnação (1998, p. 83) a republicaram da seguinte forma: IVNO VEAMVRERVM TARBORVM NA CNVARVM / SACRVM CIR CVR. E acrescentaram: “Seria, muito provavelmente, a consagração ao Génio feminino (Juno) de um povo ou de um lugar”. Também M.ª Lourdes Albertos (1985, p. 504) considerou hipotética qualquer interpretação.
Numa primeira tentativa de entender CIL II 430, proporemos a leitura:
IVNOVE AMVAEARVM TARBOVMA NCNVNARVM / SACRVM / CIRI / CVR
IVNONE AMNAEARVM TARBOVMA NONVNARVM / SACRVM / CIRI / CVR
Na nossa hipótese, a inscrição teria sido consagrada não só a Iuno, mas também a uma divindade Tarbouma, Tarboumia, Tarbouna ou Tarbounia. As nossas dúvidas quanto à restituição do teónimo vêm do nexo (que Hübner tentou reproduzir, vid. CIL II 430). Tarbouma poderá ser a forma mais credível (Corominas, 1976, p. 376).
Quanto ao suposto etnónimo que se seguiria a Tarbouma (e não podemos esquecer-nos de que dativos em -a em vez de -ae estão epigraficamente atestados), a sequência -NCN- parece inaceitável. Não deveremos supor NONVNARVM? Ou, mais uma vez admitindo um nexo, NOMVNARVM? Tarbouma seria a divindade protectora de um castellum ou vicus Nonuna ou Nomuna, cujos habitantes seriam os Nonunae ou Nomunae. Mas, mais uma vez admitindo nexos que teriam perturbado Viterbo, não estaria gravado na pedra o nome Nomanarum em vez de Nonunarum ou Nomunarum?
Além das ligaturas, traços já apagados pela erosão ou riscos naturais tomados por gravações intencionais poderiam ter induzido Viterbo em erro. Ora, se a forma mais antiga documentalmente atestada de Numão é Nauman (em PMH, DC.,n.º 81, do ano de 960), posteriormente encontra-se a forma Noman. Nauman será hipercorrecção?
Mas também podemos admitir, na época romana, um castellum ou vicus Naumana, com uma pronúncia que teria levado o gravador da inscrição a escrever Nomanarum em vez de Naumanarum.
Será que este castellum ou vicus Naumana ou Nomana coincidiria com a actual vila de Numão?
Deixando para outro lugar a discussão deste problema, apresentaremos segunda hipótese de interpretação da epígrafe:
IVNO / VEAMNIAEARVM (ou VEAMINIAEARVM) / TARBOVMA N/OMANARVM /
SACRVM / CIRI / CVR
(1985, p. 504). Notas de arqueologia, epigrafia e toponímia – II Jorge de Alarcão 211 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia.volume 7.número 2.2004, p.193-216
Sem que seja necessário corrigir sempre os textos, que obviamente andaram tanto mais mal escritos quanto mais analfabetos foram os pedreiros que increveram as lápides, há sempre a hipótese de o nome de Numão ter tido a variante NONVNA ó MONVMA. Na verdade, o deus das águas primordiais egípcio era Nun, ou Nuno. Nonuna poderia ser um epíteto carinhoso ao gosto egípcio do deus lical de Nomano.
*Nau-manu > Lusit. Nomano ó Nonumna > Nonuna
Æminium < A(l)eminium(a) < Elmeinio-ma < Hermano, literalmente «Hermes: o filho da Mãe», a mesma Deusa Mãe da Terra (*Kima) & do Céu, que como veremos, seria adorada em Conimbriga como *Kima-Coni.
Temos a favor desta última tese o facto de Hermes ser também um deus dos mortos o que pode ter levado o ocupante romano a confundi-lo com Dis Pater, como o indicia a referida placa de Freixo de Numão!
Dis Pater = The Roman ruler of the underworld and fortune, similar to the Greek Hades. Every hundred years, the Ludi Tarentini were celebrated in his honor. The Gauls regarded Dis Pater as their ancestor. The name is a contraction of the Latin Dives, "the wealthy", Dives Pater, "the wealthy father". It refers to the wealth of precious stone below the earth.
Duas coincidências a reter desta análise da mitologia de Dis Pater. Com este ou outro nome os celtas adoravam-nos como seu antepassado o que indicia uma origem a partir dum povo onde era adorado como «deus da pátria», que é seguramente o que no fundo este epíteto quereria dizer na sua origem mais remota. A correlação de Dis com a semântica da abundância deve ter sido consequência da própria mitologia dos deuses dos infernos, ora filhos ora pais mas sempre esposos amantíssimos da deus da Fortuna (< *Kartu-ana) a deusa dos infernos, devoradora voraz de «sacrifícios humanos», particularmente de crianças, razão porque seria também uma deusa do «parto» (< Lat. partu < Phartu-ana > Fortuna) e padroeira dos mesmos cretenses minoicos que transmitiram aos cartagineses o gosto pelos arcaicos e sangrentos sacrifícios de crianças aos cartagineses a Tanit, uma variante ateniana desta divindade!
Figura 1: Perseu degolando as gorgónias assistido por Atena, sua patrona, na presença de Hermes, o juiz dos mortos em prato de prata encontrado em Lameira (< Rameira < Uramaira) Larga.
Dis < Dives < Diwes < Kiki-ash, lit. «o filho de Ki, a deusa do fogo da terra»
< *Phiat > Ptah ( > Neputan > Neptuno = ) Poseidon/Enki.
No entanto, a etimologia de Æminium por *Aleminium, embora pareça foneticamente a mais plausível não parece a mais natural. De facto Coimbra, ainda que próxima do Buçaco deveria as suas referências ao maior dos acidentes orográficos que eram os montes Hemínios, nome atribuído, por determinados autores, à Serra da Estrela. Esta designação é, no entanto, contestada por alguns historiadores, que são de opinião que ela é comum a qualquer elevação de terreno e não àquela em especial, ou seja, poderia ter sido dado também ao menos de próximo em próximo à será do Buçaco. Na verdade e de estranhar que uma das mais importantes serras da Lusitânia não tivesse mantido o nome original. Então, ainda que sem se saber exactamente a montes Hermíneos se reportaria a toponímia primitiva de Coimbra podemos postular que Aeminium deriva de Ad-Herminum e seria *Adheminia e então, para reforço de prova, vamos encontrar a região vitivinícula da Adémia que mais não seria do que uma anexa de Aeminium.
Adémia (Ademeas no Censo de 1527) é um topónimo formado a partir do nome comum que, segundo Vitércio e outros lexicógrafos, significa terra frutífera e rendosa entre o monte e a várzea, susceptível de várias culturas, significação que conduz perfeitamente com a natureza do solo do local. O nome de Adémia surge indicado nos dicionários contemporâneos como “terra fértil para cultivo, entre o monte e a várzea”. Os lugares que, actualmente, se designam por “Adémia de Cima” e “Adémia de Baixo” pertenciam, até finais do século XIX, este à freguesia de São João Baptista de Santa Cruz e, aquele, a freguesia de São Bartolomeu, ambos da cidade de Coimbra.
Em conclusão, as Adémias sempre foram freguesias de Coimbra o que significa que terão ficado com o antigo nome da cidade de Coimbra quando esta se outorgou o nome do bispado de Conimbriga em Condeixa.
A etimologia da Adémia foi rebaixada ao nível rural quando Coimbra se elevou ao nível da antiga cidade luso-romana de Condeixa.
Adémia - ao que parece, é um topónimo de meio rural e significará "uma terra que fica entre monte e várzea", "terreno cultivado", "terra de qualquer cultura".
No entanto a etimologia proposta é muito discutível pela simples razão de que existem vários locais com estas características mas só existe a "Adémia" de Coimbra.
A culpa desta etimologia parece vir daqui:
No Elucidário de Santa Rosa de Viterbo figura êste vocábulo, com remissão a admenas, com o qual o douto frade o identifica, um tanto hesitante. Pela definição que dá do último, isto é, — «alemedas, passeio, rua de quaesquer arvores frondosas e copadas» —, confrontada com a que atribui a ademas, é impossível a identificação, pois estas são definidas por êle próprio nos seguintes termos — «Em muitos documentos que fallão no Campo da Gollegã, e nas ribeiras de Torres, Brescos, e outras no termo de Santiago do Cacem no Século XV, e XVI se chamão Ademas: as terras planas, e de veiga, ou seara, e mesmo quaesquer outras reduzidas a cultura» —.
Ora adema, ou adémia já eu o defini, como sendo usado em Coimbra, por informação de Guilherme de Vasconcelos Abreu, que empregou na Chand-Bibi - : — « O campo...é adémea situada entre montanhas» —. APOSTILAS AOS DICIONÁRIOS PORTÖGOESES. Por A. R. GONÇÁLVEZ VIANA
Como tudo indica, Gonçalvez Viana recolhe de Guilherme de Vasconcelos Abreu uma informação usada apenas em Coimbra e que, por nem sequer fazer referência à freguesia da Adémia será seguramente um termo futriqueiro derivado secundariamente por sinédoque da zona rural de Coimbra que a *Adhemnia era...e a Adémia ainda é.
Lat. Ad herminium (mons) > Adheminium > Aheminium> Aeminium.
> *Adhemnia > Adémia.
No entanto, a ironia da história é madrasta porque é bem possível que a Adémia fosse o que ainda restava do nome antigo do local da cidade de Coimbra de que ainda havia a reminiscência de ser local situado entre montanhas ou seja entre os “montes Hermínios”, que a actual Adémia parece não ter de relevo mas que a antiga região de Aeminium teria. Pois bem, esta realidade seria descrita em latim como ad herminium mons que seria o primitivo nome da região de Coimbra acima do Mondego.
Voltando a Coimbra verificamos que, afinal, nada há de extraordinário na possibilidade de que mãe e filho pudessem ter sido adorados pela mesma cidade e bem poderiam os nomes de ambos terem sido responsáveis por ressonâncias étmicas que acabariam por determinar a estranha forma fonética do arcaico nome de Coimbra. Dito de doutro modo, tanto Aeminium quanto Conimbriga adorariam *Kima, a mesma deusa mãe da caça e da sabedoria, numa variante muito lusitana e local que teria sido *Kima Numanu em Aeminium e *Coni-Kima em Conimbriga.
Pode então espantar que Coimbra não seja apesar de toda esta tradição uma cidade com tradição de cultos marianos como é o caso de quase todas as cidades suspeitas de terem sido santuários da arcaica «Virgem Mãe da vida e da morte» como no caso de N.ª Sr.ª do Remédio, em Lamego e N.ª Sr. Do Sameiro, em Braga. É certo que neste último caso o culto Mariano anda relacionado como culto do «filho morto» que o catolicismo medieval lusitano veio a particularizar em cultos masculinos relacionados do tipo do culto ao «S. Salvador do mundo» ou com a vera Cruz.
Pois bem, em Coimbra podemos encontrar como um grande legado do fundador da nacionalidade a igreja da Santa Cruz e muito poucas manifestações marianas. Claro que o peso da academia de Coimbra como grande comunidade de Doutores no masculino terá sido uma das razões do peso excessivo da tradição patriarcal na cultura tradicional da cidade de Coimbra onde mesmo assim se podem descortinar os aspectos reactualizados da tradição hermética e gnóstica na preponderância que a faculdade de medicina e de direito tem na numa das mais antigas Universidade do mundo! De facto Enki, o filho da Virgem Mãe Tiamat era o deus do saber em geral e em particular da medicina e tal como Hermes e Osíris um juiz dos mortos. Também se entende então uma parte do peso da tradição na importância que a medicina legal tem enquanto fiel da balança dos dois saberes e poderes herméticos fundamentais!
Mesmo assim, a sombra do matriarcado cretense ainda paira como eminência parda disfarçada em cultos como os de Santa Clara, a padroeira franciscana dos doutores, e no culto «futrica» (< phutarica < phurtaica <= *Kurtu) da Rainha Santa quiçá uma herança arcaica de cultos à «rainha do céu» que foi Atena/Inana.
Por outro lado, não deixa de ser interessante que uma das vertentes socialmente mais meritórias da Faculdade de Medicina de Coimbra tenha vindo a ser a sua aposta na promoção saúde pública numa área dos cuidados materno infantis. A apreciação da personalidade duma academia terá forçosamente que ser meramente subjectiva mas atrever-me-ia a arriscar que os dois poucos campos em que o ensino médico em Coimbra não enferma de excesso de teoria são os estágios nas especialidades de obstetrícia e pediatria aspecto que se deverá seguramente um dos poucos aspectos que estarão na linha duma tradição de prestação de serviços culturais às comunidades que tiveram Coimbra como centro de acolhimento. Quer isto dizer que não será por mero acaso que na rua da Sofia, nome de artes e saberes, existe um convento que tem numa das portas uma «Virgem Mãe» encimada pelo seguinte manifestação lapidar de matriarcado:
«SALVAE SANTA PARENS ENIXA PUERPERA REGEM»!
Pelo menos o lat. Parens/entis, corresponde a um adjectivo que foi seguramente um epíteto de Deusa Mãe parteira relacionadas com as arcaicas deusas das cobras cretenses (< Phartu < *Kartu > N.ª Sr.ª do Cárquere). Então a herança dos hospitais pediátricos e obstétricos de Coimbra deriva de antigos cultos matriarcais relacionados com *Kartu, a deusa cretense da vida e da morte, também denominada *Kima.
Imediatamente a sul do Douro ficavam os Turduli Veteres (Silva, 1983, 1986, p. 281). É possível que a capital destes Turduli fosse a Langobriga que o Itinerário de Antonino menciona antes de Cale. Langobriga corresponderá ao Monte de Santa Maria ou Monte Redondo, na freguesia de Fiães do concelho da Feira (Alarcão, 1988: estação n.º 3/29; Mantas, 1996, p. 640-645). A ser assim, Aritium não poderá identificar-se com a capital dos Turduli Veteres.
A verdade, porém, é que a identificação do Monte de Santa Maria com a Langobriga do Itinerário de Antonino não obriga a aceitar esse povoado como capital dos Turduli Veteres (Mantas, 1996, p. 645). Mas onde ficaria, então, a capital? -- Notas de arqueologia, epigrafia e toponímia – I Jorge de Alarcão
Não é preciso muito cálculo para descobrir que o Marnel fica muito mais perto de Coimbra do que de Fiães, se é que era aqui que ficava Lancobriga. Sob o ponto de vista linguístico parece discutível que assim seja. Na verdade, já que apenas Coimbra parece ter mantido o radical -briga, quiçá por deliberada imposição erudita dos doutores da forte universidade de Coimbra a rogo do seu bispado, podemos aceitar que Lancobriga não o tenha mantido também.
Então, Lancobrica teria sido apenas Lanço, a «cidade da Lança» < Ranca <*Ur-an-kia = Ur-Ki-An, literalmente «a guerreira do céu» que era a lua > Urphian > Rawian => Laphianes, lit. «os naturais de Lafão» > Lafões!
Quer dizer que, enquanto os romanos fixavam nos registos oficiais o que ouviam ou entendiam mal dos falares lusitanos o nome da cidade de Lancóbriga teria a variante mais popular de *Lampho ó Lafão.
Claro que, o Itinerário de Antonino, não deixaria grande margem de manobra sobre a localização de Lancobriga, pois:
Lancóbriga, cuja existência se conhece apenas pela referência do Itinerário de Antonino, ficaria a 13 milhas (= 20,8 Km) de Cale, que deverá procurar-se em Gaia ou no Porto. (...)
A esta distância Lancobriga poderia ter sido nome de terras que têm hoje nomes que parecem derivados deste tais como: Lourosa e Louredo. Pelo menos são as candidatas etimologicamente mais próximas dos limites geométricos impostos pelo itinerário de Antonino.
Lanco-brica = Lã-wri-cocha ??? > Lavri-ocha > Louriosa > Lourosa, Ariosa etc ou > > Lavri-othe > Loureto, Loredo, etc.
Porém, antes de optar por estes sítios, que pouco têm a ver com a Fiães de alguns autores, vejamos o que se pode dizer da etimologia deste nome.
Supões-se que derivaria de nome gótico, Ulfilanis, vila dum suposto Ulfila (< Hercules < kurkyla > urfila < «refila») do período visigótico. A GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA avança com a seguinte equação fonética:
Ulfilanis > Ufilanis > Ufianis > Ufiães > Fiães.
No entanto, nenhum destes elos foi documentado por algum escrito gótico antigo, galaico-português ou medieval. Sendo assim, nada obsta a que seja possível uma outra explicação que consiga correlacionar Fajões, Fiães e Lafões, permitindo assim a existência senão de duas Lancobrigas pelo menos vários locais que mantiveram o nome tribal dos habitantes de Lancobriga a explicar os equívocos e as polémicas dos historiadores modernos!
Lafões < Med. Alafões < Arab. *Al-Lafanes < Alakianis < Urash-ianis < *Urki-anes + Ur <= Kur-kaur-Anu => *Urkyranus > Urphyranus > Visig. Ulfilanis > Ulfilhanes > Al-Fijães => Al-Fajões, seguido de queda de suposto artigo al- arabizante, v.g., com «alfange» e Alfonso (> Mediev. Fajozes, erro ortográfico por semelhança com fajõeses ou confusão com freguesia deste nome em Vila-do-Conde >) Fajões, (de que existe escritura medieval de derivação > Fayões, quiçá também por erro de ortografia e que, por isso, não pegou).
Fajões é freguesia do concelho de Oliveira de Azeméis e perto de Fiães.
"O povoamento pré-histórico desta região era documentado por várias antas que o povo destruiu."
Interessante é encontrar nesta freguesia o lugar de Gajins (< kaurinus < *Karkauranu?) a atestar parte do passado étmico deste nome. Fiães teve, quase seguramente, o mesmo percurso étmico de Lafões.
Fiães < Faiães < Al-Fajães, também seguido de queda do suposto artigo al-, por interferência arabizante dos falantes que a reconquistaram.
Claro que não se pretende confundir Fiães com Fajões mas apenas demonstrar que podemos estar perante um semantema comum às terras tribais de Lafões.
Este termo era nos tempos medievais um designativo tão comum que acabou por se tornar num genérico regional que ofuscou e eliminou do mapa o centro que lhe teria dado nome. Lafões já não é nome de terra certa mas, é nome duma vastíssima, prestigiada e antiquíssima região a norte do Dão e que foi nome de um dos maiores, mais antigos, e abastados, concelho do Portugal medieval que hoje se encontra dividido por S. Pedro do Sul, Vouzela, Oliveira dos Frades e pequenas parte de Viseu, Castro D´aire e Sever do Vouga. Um concelho deste tamanho deveria ter sede com suficientes tradições históricas tribais que legitimassem em prestígio tanto poder regional! Ora, seria muita estranho que o centro desta vasta região não tivesse uma identidade e tradições históricas reconhecidas e com razões objectivas para as ter. É certo que dos nomes de concelhos referidos para a região de Lafões nenhum tem ressonâncias étmicas dignas de antiquíssimas e respeitáveis tradições. Porém, não deixa de parecer estranho que S. Pedro do Sul, sendo apenas identificada pelo seu onomástico cristão, não tivesse um apelido com ressonâncias arcaicas de Lama como Lamego, apesar de ser uma das estâncias tremais mais antigas e afamadas da Península. Ora, a verdade é que S. Pedro do Sul corresponde às antigas Caldas de Lafões. Sendo assim ficamos também a saber que o prestígio desta região era de natureza sanitário e sagrado. E então, lá aparecem as lendas a consagrarem os lugares abençoados pelos deuses mesmo quando estas são já apenas rastos pálidos e deturpados de antigos mitos relativos à etimologia fundadora.
O nome de Lafões ou Alafões, como se dizia antigamente, derivaria, segundo David Lopes, de uma palavra árabe que significava «os dois irmãos», designação aplicada a dois cabêços parceiros, os montes Lafão (601 m) e Castelo (538 m) que constituem a terminação setentrional da serra do Caramulo. -- GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA
Claro que esta lenda tem quase tanto de mítico quanto de ingénuo e engenhosamente inventado. Se o nome Alafões designasse gémeos em árabe, David Lopes teria conseguido identificar o respectivo termo árabe, mas é suspeito que uma relação linguística com o árabe implique pouco mais do que o saber de «mestre escola» que retirando o prefixo Al- de Alafões se fica com uma palavra com conotação com infante. No entanto, é mais que sabido que os nomes que os neocolonialistas dão a arcaicos locais colonizados tendem a ressoar como nomes de coisas que lhes são familiares. Porém, o povo humilde autóctone e resistente não iria cometer o disparate de interpretar o definido com a definição nem deixar a suspeita de que tinha deixado de saber que Alafões foi nome de Lafões. A verdade é que a lenda encobre mal o mito arcaico dos dois pilares da Aurora que teriam sido o tótem da tribo dos *Lanfos de Lafões.
*Lanfos < Urankius > *Urkian-ish > Urash-ianis > Alkianes > Alafões (> Avões?) > Lafões.
Neste culto andava envolvida a Serra do Caramulo, a intensa e extensa criatividade megalítica desta região, e o poder curativo das «caldas de Lafões».
Camulus = In English Celtic mythology, Camulus (heaven) was a god of war identified by the Romans with Mars. He gave his name to the town of Camulodunum, now called Colchester.
Caramulo < Kar-ama-Ur > Herma
> Ca®amulus > Camulus.
Notar que na mitologia dos montes gémeos primordiais existia o conceito de Kurmasho. Então, Cara-mulo ó Cara-macho, o que pressupões que a dicotomia lusitana macho / mula seria gramaticalmente muito arcaica.
Estas razões não seriam suficientes para fazerem desta zona uma cidade de interesse estratégico para a rapacidade romana mas, depois de sabermos que é grande a riqueza em estanho desta região, ficamos a saber de onde veio a fama das Espanhas e, com motivos suficientes para colocar Lancobriga, como praça militar romana na rota do estanho ocidental, em Lafões de S. Pedro do Sul.
Porém, é possível que o termo da região de Lafões fosse até à vila da Feira, mais precisamente até Santa Maria de Lamas em «terras de Santa Maria» da Feira. Esta denominação metafórica paleo-cristã permite uma relação do nome de Lancobriga com a Deusa Mãe que o nome de Lamas confirma pois de Artemisa derivou o termo das Lamas terapêuticas e de Hermes (> *Thermes) a própria raiz do termalismo.
É que, deve ter existido outra Lancobriga, no concelho da Meda que teria dado origem a Longroiva (< Langoriva < Langavrica < Lancobriga), também uma estância termal até há poucos anos atrás. Assim, parece que o destino destes nomes andava ligado a estancias termais e aos cultos lunares e telúricos da deusa mãe Artemisa e ao deus fálico Hermes Aquaico (< *Enki-Kako).
Sendo assim, teriam existido na Lusitânia romana pelo menos três estâncias termais conhecidas como Loncobricas na região que é hoje Portugal. A de Lamas da Feira, a de Caldas de Lafões em S. Pedro do sul e Longroiva na Meda (Meidobriga).
"Entre outras cidades que se rebelaram foi Talabriga a que mais vezes o fez. Brutus, voltando ali, os habitantes da cidade pediram-lhe clemência e confiaram-se ao seu arbítrio. Em primeiro lugar mandou que lhe entregassem os desertores romanos, os prisioneiros e todas as armas, além dos reféns; depois ordenou que saíssem da cidade com mulheres e filhos. Logo que acabaram de o fazer, cercou-os de tropas e arengou-os, dizendo-lhes que quantas vezes se rebelassem, tantas vezes mais violentamente a guerra lhes seria feita. Amedrontados e convencidos de que mais cruelmente se vingaria deles, Brutus acalmou-os contentando-se só com estas recriminações. Tomou-lhes os cavalos, mantimentos, dinheiro público e mais apetrechos bélicos, restituindo-lhes depois a cidade, o que eles já não esperavam. Depois de tantos feitos, Brutus voltou a Roma". -- Apiano de Alexandria
Comparado com o episódio de Numância este parece-se mais com uma capitulação incondicional típica de cães de fila que só refilam mas não mordem e que apenas esperam por dono que os ponha na ordem e «eduquem come deve ser»!
A passagem em que Plínio refere Talábriga é a seguinte: «A Durio Lusitania incipit: Turduli veteres, Pæsuri, flumen Vagia, oppidum Talabrica, oppidum et flumen Aeminium, oppida Conimbrica, Collipo, Eburobritium [...]». A estas cidades situadas no litoral entre Vouga e Tejo chamou Pompónio Mela as cidades dos Túrdulos (Turdolorumque oppida ).
Os estudos históricos referentes a localidades perdidas na história devem respeitar tanto os dados arqueológicos quanto, os documentais. (Certo?) Ora, na hermenêutica dos documentos históricos, sobretudo quando escassos, deve prevalecer tanto o bom senso quanto um certo consenso em torno quer das fontes quer da sua interpretação. No que respeita à origem das toponímias portuguesas, mormente as pré-romanas, o consenso anda longe de ser fácil de alcançar. Por isso mesmo, todos os instrumentos de análise e de investigação histórica devem ser tentados e aceites. Um destes instrumentos pode e deve ser o da etimologia que, em certos casos até se pode mesmo pode revelar como que uma espécie de arqueologia linguística. Em relação à descoberta do paradeiro da Talábriga lusitana importa desde logo referir que o nome de se assemelha a um cem número de outra toponímia lusitana registada pelos romanos com o sufixo –briga ou -brica.
Ver: -BRIGA (***)
No caso de Talabriga seria Tala, o mesmo que Tellus hitita e romana, ou *Tara a mesma que Turan dos etruscos, nome da deusa mãe das prostitutas que desde sempre acompanharam todos os exércitos.
O genérico que lhe andaria associado seria não apenas o galicismo -briga mas outros mais arcaicos que, tendo apenas permanecido na tradição oral, não são confirmáveis com segurança. Tal nome, sendo anterior à época dos metais, teria sobretudo a ver com o nome dos arcaicos deuses do fogo *Kako & Kaka de que derivaram a «vaca» e o «fogo» e o nome da Oca (< Osca), uma deusa mãe Ibérica foneticamente correlativa da Ops romana e do étimo dos ofídios da deusa mãe dos cretenses.
Um destes genéricos teria sido *-viso, referente a lugares de atalaia, e *-coso, a canadas e vales; *ci(vi)ta(te) e citânia quando principalmente aglomerados residenciais e castro (< Kiash-taro) quando ambas as coisas. Sendo assim, o nome mais comum de Talabrica pode ter sido outro, muito mais popular, tal como *Talasco ou *Taraviso, na mesma linha de evolução étmica de cidades da Gália pirenaica tais como: Turba, Tolosa, Tarasco, de terras lusas como Trancoso < Taran-cosa, lit. «a casa de Kauran (e dos kauroi), ou seja, do chefe e dos seus guerreiros».
O interessante seria fazer derivar do nome da padroeira desta cidade uma relação com alguma propriedade económica desta.
A verdade é que Talábriga poderia ter sido apenas uma citânia que havia enriquecido a fazer «talas, talins e talabartes» (< Cast. talabarte ? s. m. boldrié; • cinturão, talim.)
Neste caso seria até possível que o nome dos «talabartes» derivaria assim da própria cidade de Talábriga, terra de talabartarias e talabardeiros, confirmando-se a justeza das dúvidas sobre a sua origem castelhana destes termos. Tal necessitaria duma indústria de curtumes o que se adequa com as conhecidas tradições de curtumes para calçado da região de S. João da Madeira!
Porém, o termo «Talabardão» tem conotações relativas a actividades de carpintaria.
«Talabardão» (< tala + bardão < barda?), s. m. sanca (• (Cast. zanca), s. f. (Const.) cimalha convexa que liga as paredes de uma sala ao tecto; • parte do telhado assente sobre a espessura da parede; • parte do corrimão que sai fora do talabardão; • chanca.); • (Náut.) pranchões que ligam os dormentes da tolda com o castelo de popa.
Tal facto leva-nos a pensar em «talas» de madeira (> talão dos sapatos) que implica a acção de «talar» (< Cast. talar???), v. tr. abrir sulcos em) e de «talhar» passando assim a compreender-se a homofonia entre «talha barroca», «talhar um facto» em «talagaxa» (= tecido de linho fino) ou em «talagarça» (= pano grosso e ralo), «talher» (< It. tagliere < Lat. taliare, cortar) e «talha de barro».
In Greek mythology, Daedalion
was a son of Hesperos and brother of
Ceyx. He is described as a cruel and warlike man. His daughter
Chione was so beautiful that both Apollo and Hermes impregnated her. She then
became vain and boasted that she was more beautiful than Artemis. When Artemis
killed her in revenge, Daedalion was so grief stricken that he threw himself
off a cliff at Mt. Parnassos,
and Apollo turned him into a hawk (Ovid XI, 291).
Se Daidalião
aplicava ou não penas de talião não sabemos mas este deus falcão como Hórus,
filho de Hespero ou de Bóreas e
irmão do céu e parente de Atlas pode ter sido a origem ou o reforço etimológico
e mnésico do conceito da retaliação justiceira e de guerra que vigora até aos
tempos modernos.
“Pena de talião”, do
latim lex talionis (lex: lei + talio, de talis: tal e qual, idêntico),
consiste na rigorosa reciprocidade do crime e da pena ou seja, na retaliação.
Talião < (lex)
talionis < talis < taleo <
talea.
=> «talhar».
Talea = Um pedaço comprido ou fino de madeira ou metal,
vara, pau, estaca barra; corte, rego ou leira para o plantio. (por extensão)
rebento, galho, ramo < talo ó Grec. θαλλός, thallos, significa «talo, ramo verde»
Como se foi do ramo verde ao conceito abstracto do que é
«tal e qual»? Porque no acto de talhar e cortar objectos para vender começou a
ser intuitivo o uso de varas talhadas por medida como bitolas (lat. talea). A pena de talião aparece assim
como uma analogia de carniceiros e talhantes e por isso mesmo conotada com
justiça cega e selvagem de “olho por olho e dente por dente” que tem continuado
para além da idade média na pena da charia islâmica no corte da mão do ladrão
em alguns países mais primitivos do mundo actual.
Esta analogia terá sido muito arcaica e acabado como forma
redundante de reforço mnésico do conceito da equidade vingativa e justiceira no
mito de Dedalião, tal como Dédalo no do acto de talhar pedra, metais ou
madeira. No entanto, a relação primitiva com o talo verde manteve-se entre os
gregos nos cultos dos troncos de árvores das Daidala de Hera.
Ver: XOANON (***)
Talha (< de *tinalha ??? < Lat. tinu, tina), vaso de barro com grande bojo; • vaso de barro ou de zinco, para azeite;• pote.
Telha • (< Lat. tegula), s. f. peça, geralmente de barro cozido, que serve para a cobertura de edifícios;
COLISÃO E FUSÃO ÉTMICA
De *Cacus, deus latino do fogo,
ð «caco» = pedaço de barro cortante => «casco» (< Lat.??? *Kiash) > «cascalho»
ð «calhau» < Lat.??? *caliav < Kali-cacu = meteorito lascado???
= lit. «cozido» > Caco + la > *Kacura > tawula > «tábua» => lasca.
Ø tecula > tegula > teglia > «tela»;
Ø tacula > tagula > Ital. tagliare > «talher» => lata
Ø tacula > tagula > tagliar > Lat taliar > «talhar»;
Como «talhar = talar» então, na origem,
*Talla <= «tallar» < tallar < Lat. taliare
*Talla- < Kar-la
Lat. Tellus < Ter-lus < Ker-lus < Kur + lus > «Carlos»
Ker + ish > Ceres, lit. «filha de Enki/Kur»!
Tala <= *Kacura º Kur-la => *Talla > Tala
De facto, «telha» < tecla < Tecala < *tecula > Lat. tegula ??? ou termo autóctone relacionado com «tala» ou taula adaptado à pronuncia romana que teria dado *talula < taulla > Cast. teja > «telha» => «tijolo» < Cast. tejuelo, dim. de tejo, caco de telha, em virtude de ter sido usada primeiramente como tal antes de se terem adaptado os adobes com aspecto de cacos de telhas para os tornar mais leves! Notar que o grego tem nesta esfera conotativa o termo Tektôn.
Tektôn = any worker in wood. Generally, any craftsman or workman, rarely of metal-workers, a true workmana physician, metaph., maker, author. (Cf. Skt. ták[snull]an- 'carpenter', ták[snull]ati, tā[snull][tnull]i 'form by cutting, plane, chisel, chop', Lett. test, tēst 'hew, plane', etc.: cf. technê.)
Teknon = that which is borne or born, a child <= Tiktô = to bring into the world. => teknous < *Teknos < *Teknia
A semiologia de Tektôn deriva possivelmente de *Teknia, relacionado com Tiquê, a deusa grega do parto e da fortuna.
*Teknia < Te-Kina < Tik- | Ana / et | ó Tychê < Tuki-et < Kuki / Caca, a Deusa Mãe das cavernas tectónicas!
Claro que a semântica da «técnica» e da «tecnologia» relacionada com o fabrico de «tectos» e «telhados» está perfeitamente adequada à mitologia da Deusa Mãe das cavernas que teve a variante Tiquê que, por ser a nocturna mãe do sol, era também a Sr. da Fortuna e do parto. A transferência da semântica do «acto de dar à luz» para o acto criativo dos artistas, que começaram por ser os primitivos arquitectos, é intuitiva e acabaria reforçada pela onomatopeia do tic-tic do costume neolítico de picar a pedra!
Ver. CAVERNAS (***)
Aparentado com esta origem teria estado o «talude» (< Cast. talud), s. m. inclinação na superfície lateral de um terreno, muro, fosso ou qualquer outra obra, especificamente enquanto «talude de barro» ou barreira! Ora,
Talud < hit. (???) Tel-| ut ó Tellush, literalmente Tellus, nome da deusa latina da terra e logo dos montes ladeiras e barreiras.
Com tantas possibilidades para a semântica de Talábriga teríamos que concluir que se tratava de um topónimo que fazia jus a um conjunto de actividades artesanais correlativos e interligados relativos a várias «artes e ofícios» que se terão iniciado todos eles primeiro com o fabrico de objectos de corte em pedra lascada depois na arte da cantaria neolítica ó cerâmica ó corte de talas de madeira, marcenaria ó cutelaria ó metalurgia em bronze e depois em ferro ó actividade alabardeira, calçado e vestuário, etc!
O étimo –tala/talla parece ter sido autóctone ainda que correlacionado com o culto mediterrânico de Tala presente nas ilhas do mar egeu e por isso de remota origem minóica.
Deve ter estado presente nos termos mais primitivos deste povo relacionados com todas as artes e ofícios que tinham por actividade principal o acto de «talar/talhar». Deste modo «talabarte» é mesmo de origem local e, se foi importado já na idade média aos castelhano, estes já o haviam copiado dos lusitanos que estavam do lado de lá. Obviamente que no princípio estas actividades eram levadas a efeito em atellieres pluripotenciais de tal modo que para fabricar uma bela e robusta arca medieval era necessário o concurso de artífices de madeira, couro, pano e latão!
Claro que isto não significa que se trate de um termo nado e criado exclusivamente por estas bandas. Na verdade, existem indícios de ter sido partilhado pelo gregos ainda que em ligeira variância semântica.
Grec. talaipôreô = to go through hard labour, to suffer hardship or distress < talaos > tlaô = to hold out, endure, be patient, submit.
O nome de Atlas teria derivado então tanto desta conota de ter de suportar o peso do mundo como do facto de ombrear com a terra de quem era filho!
Ver: TALOS (***) & PIETA (***) ATLAS (***)
Figura 2: Se de Talos a «falos» não vai senão um pequeno salto de semântica, Atlas seria um mito de estivador de tempos megalíticos ou então, quem corre por amor também se cansa, sobretudo se tiver o mundo às costas, ou pelo menos um fardo parecido com um menhir?
Claro que, de acordo com os respectivos contextos, as actuais traduções de línguas antigas nem sempre respeitam a melhor conotação dos termos originais porventura porque não mudam só as «formas do fazer» como também os «modos de o dizer»! No entanto a tradução que melhor respeitaria a conotação semântica, pelo menos no respeito pela hipótese agora levantada seria tlaô = «maleável e moldável» como o barro de Tellus/a, a Terra Mãe!
Talanton,balance, esp. of the scales in which Zeus weighed the fortunes of men; of the scales of justice. I. a balance, Theogn., Ar.:--in pl. a pair of scales, Il., etc. II. anything weighed, 1. a definite weight, a talent, in Hom. of gold; but the weight of the Homeric talent is unknown. 2. In later times the talanton was both a weight and a sum of money represented by that weight of silver:--the Attic talent weighed about 57.75 lbs. avoird., and its value in our money was about 200 l. There was, of course, no such coin as a talent. For purposes of coinage, a talent of silver was coined into 6000 drachmae.
Traditional PIE *tel-/*tol-/*tL- 'to lift, to raise': Sanskrit tula: = 'balance, scale', tulayati 'to lift, to raise'; (?) Greek tule: 'any callous, lump', (?) tulos 'a knob or knot'; Latin tolo: (< *tulo:) 'to lift up, to raise, to elevate; to take up, to take away, to remove, to bear or carry away'; Old Irish tulach 'hill', all pointing to earlier *tul-, but: Tocharian A tal- 'to lift to raise', pointing to earlier *tel-, and Greek talanton 'balance, scale', pointing to earlier *tLH-.
[Greek] telicardios or thelycardios, a precious stone, called also muchula, otherwise unknown. [Greek] telirrhizos or thelyrrhizos, a precious stone, otherwise unknown. [Greek] Stêlê, Dor. stala, Aeol. stalla (q.v.), hê, block of stone used as a prop or buttress to a wall.
«Estela» < Stêlê < stala < stalla < *Ish-Talla, lit. «filho, ou pedaço de Tala».
Quer dizer que a semântica profunda de todos estes termos esta relacionada com o «nascer do sol» ou seja com os arcaicos cultos da Deusa Mãe da «dupla montanha da aurora»!
Madaen. Tura = Montanha
Sumer Kur = monte.
Tauro, montahas da Anatólia.
Kur > Tura > Tul > Tule + An > Tulon e Tulan.
> Taur > Taru > Talo.
Talo era então o nome dum monte sagrado da aurora relativo ao mito da criação. A relação destes monte com as cidades deriva do seu valor primeiro do seu valor sagrado enquanto locais do culto dos mortos e, sobretudo, por se saber intuitivamente, desde os primórdios da cultura humana, que as montanhas tinham um papel particular como captores da humidade celeste e como fontes de fertilidade pluvial; depois pelo seu óbvio papel estratégico e defensivo.
Ver: TALO (***) & ALVOR (***)
A semântica do sobe e desce da fortuna da balança pode ter derivado da alternância do nascer e por do sol ou apenas do facto de a balança ter estado desde muito cedo sob a protecção mítica da deusa mãe primordial, Témis, a deusa da justiça dos dois pesos e das duas medidas de Juno Moneta e da «dupla montanha da aurora»!
No entanto, como vários termos o indiciam, Talo era uma Mater Dolorosa que acompanhava os homens desde as dores de parto da aurora, passando pelo árdua luta pela sobrevivência numa Terra selvagem e agreste, até às agonias da morte lenta e medo de ser devorado como o sol-posto pela deusa mãe (Ker) da morte negra. A semântica sofrida do verbo grego tlaô pode ter tido esta origem assim como pode ter derivado do esforço intolerável que os escravos teriam que fazer para suportarem o peso dos fardos.
De facto, a etimologia do étimo –tala/talla deve remontar aos tempos mais recuados em que tudo começou com as artes da «pedra lascada» quer para construção de moradas para os mortos que de abrigo para os vido e sobretudo para a produção de instrumentos líticos de corte. Estas actividades depressa se relacionaram com as artes do fogo relacionados com os cultos telúricos da deusa mãe dos subterrâneos vulcânicos dando origem à cerâmica e em breve, com a utilização acidental de materiais líticos metálicos, à descoberta dos metais da de que se faz a «lata e do latão».
A época dourada dos metais deve ter começado então junto de locais com actividade vulcânica tudo apontando para que tenha sido nas ilhas do mar Egeu onde em Thera, se prestariam cultos importantes à deusa mãe Talo/Kali e a seu filho talos ou Saturno que viria dar nome ao respectivo vulcão de Santorini.
Taleigada • s. f. o que uma taleiga ou taleigo pode conter.
Tanto é assim que talatat era o termo que os antigos egípcios davam a uma taleigada de pedras que um só homem poderia transportar. Ora, o termo português taleigada parece ter tido a mesma origem a partir dum antepassado que seria um plural ou genitivo de *Tala-kiki > Tala-thathe, lit. «dado por Talo/Kali» ou, pelo menos gerado nas entranhas (at-at < Hades) telúricas da Terra Mãe, Telus.
«Talanqueira» (< Cast. talanquera), s. f. (Miranda) tablado, mesa ou qualquer construção improvisada, em que se espera o séquito dos noivos e onde o padrinho tem de dar dinheiro às pessoas que lho pedem, para que o séquito possa passar; • varanda, sacada.
Esta tradição ainda existia em meados do sec. XX nas aldeias do concelho de vila Nova de Foz Côa. Ora, o arcaísmo desta tradição parece tratar-se dum «rasto mnésico» de uma realidade que na origem seria muito mais vasta e importante.
Do essencial deste rasto se pode inferir que as «talanqueiras» mais não eram do que o que restava duma arcaica semântica relativa a bancas de feira.
Figura 3: Tabanca de comércio marítimo montada por fenícios nas praias do Egipto.
Talanquera < Tala-Enki-phera, lit. as «talas» e outros «tarecos» (< Ár. tarik, coisa inútil de < Gr. Tarsós, conjunto de pequenas peças) trazidas (= -wer < -pher) nos «taleigos», sem pagar «tarifa» (< Ár. ta'rif, notificação?), nas barcas («tartada» em indiano) de Enki, obviamente que por acção directa de guerreiros navegantes ao serviço missionário do deus dos mares da talassocracia ( = Gr. thálassa, mar + krateía, poder) cretense?
Ver: TALASSA (***)
Cast. laja, port. lage, laja. C´est essentiellement un mot portugais et galicien. Il semble provenir du lat. tard. lagena (x2, 1060), lui-même inconnu hors de ce domaine linguistique, peut-être d´origine celtique. En ce qui est de la toponymie espagnole il a en toute Galice beaucoup d´exemples du type Laxe. cast. Lancha. Selon le DRAE c´est “piedra naturalmente lisa, plana y de poco grueso”, “pierre naturellement plate et peu grosse”. On a songé à une origine prélatine, mais il est probable qu´il soit l´aboutissement du lat. *plancla, lui-même provenant de *planca, *palanca, emprunt du grec φαλαγγα (DCELC s.v.,DÉLL s.v. palagga, F. Biville 1995: 94, 428, 472).
Ora bem,
Talos < Atlas < *at-la > -Talla > -Tala > «tala» <=> Talo.
> Tala-ush > Talaus > Talos/Atlas.
*Tala-kiki > Tala-ish > Tala-ash > Grec. Talassa. > *Ta-lasca.
Egipt. Talat-at < *Ta-la-at < *Ta-lasca.
«Lasca» < Gót. Laska < (*Ta)-lasca > *La-at <=
*La-Kika > Germ. Latta > «lata».
«lage» < laxe < laish < Lagiha > «lágea» >«laja».
*La-An-ish > Lainsha > Cast. lancha (laje) > «Lancha».
Será que ficaram rastos míticos destes étimos na península pré-romana?
Duillae, ancient Hispanic goddesses.
Tuera (eo) Deo ó Turiacus < Thury-Oco - Divindade dos Grovios (povo de Entre-o Douro-e-Minho). O nome em *Turi-+ Oco assemelha-se a inscrição irlandesa (Tor í rí no tighearna). Seria assim um deus poderoso, relativo ao poder, pois tor significa rei ou senhor. Por outro lado, !
Tullonio < Tullauniu, «filho de Tulla»: Génio protector do lugar e da família.
Cossua Ne-Dole-dius.
Rio «Douro» < Thuri < *Turi- + acus < *Kur(i)kako > Kauriko < Groiw > «Grovios».
Ø Tuir > Tuera > Rio Tuela > Thuila > Duilla.
Ø .......................> Teula ó *Taule > Dole.
Ø *Tuli + Anu => Tullonio.
Ø Tiur > Teur > Tevr > Trew (+ Aruna) => Trebaruna.
A verdade é que o local onde a tradição da pedra lascada mais facilmente teria surgido seria em regiões xistosas, que é uma pedra que lasca facilmente, como é o caso do nordeste transmontano onde de facto se veio a evidenciar a existência duma das mais arcaicas tradições de cultura paleolítica efectiva, rica e expressiva e de tal modo continuada e viva que veio ater expressão e utilização prática corrente até meados do sec XX.
«Lasca» (< Gót. laska; pedaço, retalho), s. f. fragmento de madeira, pedra ou metal.
«Lata» (< Germ. latta), s. f. folha de ferro delgada, laminada e estanhada, também chamada folha-de-flandres;
Mas, revela-se na etimologia da «lata e da lasca» um outro fenómeno linguístico muito mais interessante, para a eventual descoberta da localização de Talabriga, patente no fenómeno de aférese que permitiu ir de *Ta-lasca (> Gót. Laska) a «lasca».
Cala-ici, deus(a) dos galegos. < Kal-Aico => *Talasca.
Esta aférese não pode ser explicada com uma mera petição de princípios! Mesmo as figuras de retórica têm que ter uma explicação com o mínimo de congruência! Ora, em meu modesto entendimento *Ta-lasca perdeu o ta- inicial porque foi facilmente confundido com uma partícula gramatical dispensável, como sói acontecer com os artigos. A verdade é que ta- é um artigo definido em grego e soa como tal em muitas línguas do médio oriente orientais e não há nada que nos indicie que não tenha sido o mesmo nas línguas autóctones da Ibéria. A expressão «tá lá» por «está lá» só terá sortido efeito e ter passado ao linguarejar comum porque ta soa como ta-, ou seja, como uma mera partícula gramatical de ligação.
Tal fenómeno linguístico explicaria então a possível aférese que faz esquecer a relação fonética de Talabriga com Aveiro.
Ora, pasmemos com a surpresa mais estranha que é saber que:
Atlatls = are spear throwing sticks that have been used for thousands of years in many parts of the world, and are still probably used to throw harpoons on occasion.
Atlatls < Atla-talas, lit “as talas de Atlas” conceito que quase parece uma redundância, ou seja, as “talas do deus dos taleiros”, nome perfeitamente adequado para este instrumento paleolítico que sobreviveu nas costas transatlânticas seguramente depois de para ali ter sido levado por navegantes da Europa ocidental em acontecimentos recorrentes, quiçá não tão esporádicos nem irregulares quanto isso, durante toda a pré-história!
Toledo (Latin: Toletum; In Arabic: طليطلة Ṭulayṭela) is a city and municipality located in central Spain, 70 km south of Madrid. It is the capital of the province of Toledo and of the autonomous community of Castile-La Mancha.
«Toledo» < Latin: Toletu < Andaluz. Taula-Tule > Tulautela > Arab. Ṭulayṭela ó Tetila ó Tellus ó Tala ó Tutela.
Ver: BRETÕES (***)
Então, nada obsta a que tenha havido mais do que uma cidade com o nome de Talábriga. Ainda hoje existem múltiplas toponímias homónimas! Só Miróbrigas teriam existido pelo menos duas: uma em Alcácer do Sal e outra em Castela. Segóbrigas também houve mais do que uma. Pelo menos para Langobriga do Douro Litoral pode ser postulado uma homónoma do Alto Douro como antepassada de Longroiva.
Ora, existem indícios de que Talábriga seria a forma particular, no contexto fonético de termos com o sufixo –brig, duma toponímia mais generalizada e mais arcaica que teria tido a forma *Talabar.
Ora bem, é nesta altura que a historiografia toponímica referida na «Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira» vem em nosso socorro pois que porque Tavares < ant. Taavares se pode postular < *talavares.
De acordo com as fontes referidas Taavares seria o plural em linguagem autóctone duma ligúrica *Talavar e não um plural latino que seria virtualmente *Talavales e daria uma localidade virtual *Tavais. Ora bem, o termo *Talavar, ligúrico ou não, pode originar facilmente um topónimo locativo lusitano tal como foi o caso da vicus Talabara ou Talabra, que se supõe ter existido no concelho do Fundão, e foi o caso da «villa Talabario» documentado na idade média. Como um plural relativo a uma localidade denominada *Talabar- faria pouco sentido é fácil de concluir que Taavares era derivada de um genitivo muito arcaico e de fonética acádica, seguramente *Talavarish.
Varia seriam as localidades portuguesas que teriam partilhado a raiz deste topónimo tais como: Tábua, Tavarede (< ant. Tavaredi < Tavaredvi, no sec. XI) no concelho de Figueira da Foz; Taveiro (< Med. “villa Talabario”) junto de Coimbra, concelho e rio de Tavares (< ant. Taavares no sec. XIV), Tavira (= Lat. Balsa); rio (e topónimo) Távora (< ant. Távara < *Taavara). Então, ficamos a saber que o segredo fundamental destas etimologias reside na apócope do «l» inicial e assim: *Taavra < Ta(l)avar < *Talabar.
Talvez Taveiro possa ter correspondido a uma aldeia de oleiros; mas é o único caso que se nos afigura provável. O nome Taveiro deriva de Talabarium, que tem a sua raiz no antropónimo Talabus, de origem pré-romana mas frequente na época romana. É possível que o centro artesanal de louça, a ter existido, fosse propriedade de um Talabus, pois Talabarium pode ter tido o sentido de “o que pertence a Talabus”. -- A História, depressa contada, do povoamento da região de Coimbra desde tempos proto-históricos aos fins do século XII, António J. M. Silva.
O caso de Tábua parece ser um pouco mais complicado e um caso típico de interferências etimológicas.
Claro que as fontes de erudição nem sempre nos podem dar razão mas...a maioria das vezes as contradições residem em teimosos preconceitos culturais e em tiques de «mestre-escola», que, pela própria experiência histórica são os principais responsáveis pelos equívocos na tradição!
Tábua: Com este nome existem pov. e lug. ou simples sítios por toda a metade norte do Pais, mais ou menos vizinhos de cursos de água de não avultada caudal. 0 étimo está inegavelmente no lat. tabula-, e «tábua», mas segundo certa evolução semantológica – designando aquele termo, ao tempo da sua aplicação toponímica, uma ponte de tábuas.
Logo de início nos parece que existe um preconceito de latinismo no facto de se referir que “o étimo (de Tábua) está inegavelmente no lat. tabula-, e «tábua»...
No entanto, parece que Tábua, apesar de entre ribeiras e rios, não é atravessada por nenhum curso de água importante e fica ainda longe do Mondego.
Ora, se nos tempos acelerados de hoje o Mondego ainda vai longe de Tábua nos tempos de antanho ficavam ambas a muito mais tempo de distância entre si. Mesmo assim, a hipótese não deixa de ser aceitável como já aliás foi referida a propósito da etimologia em -brig de Cambrige e da relação do termo inglês para ponte com estes conceitos patentes na retórica das antigas «pontes-de-barcas», seguramente porque, sendo de madeira, eram também como que variantes das «pontes-de-pau»!
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Figura 4: Concelho de Tábua.
O rio Mondego, principal protagonista da paisagem, a ribeira de S. Paio, que limite o concelho a oeste, a do Remouço, a de Tábua, a de S. Simão, a de S. Fagundo, a ribeira das Cabeçadas, em Pinheiro de Coja, o rio Ceira e o de Cavalos, todos desaguam no Mondego ou seus afluentes. Da rede hidrográfica, há ainda a considerar o rio Alva, que faz fronteira a sul do concelho. O mesmo significado tiveram bastante numerosos derivados do dito termo,
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que passaram naturalmente à toponímia nas ditas circunstancias, tanto naturais como de evolução semantica: Tabosa (ant., Tavoosa < lat. *tabulosa), Tabuaço & Tabuaça & Tabuças (ant., Tavolazo < lat. < *tabulateu-), Tabaçô (forma diminutiva, ant. Tavolazola), Tabuado (ant.. Taoolado < lat. tavolatu-), Tabuadela & Tabuadelo (formas diminutivas, ant. Tavolatella, -o). A família do lat. tabula- tem, pois, abundante e variada representação na toponímia nortenha.
Porém, a importância da apropriação de madeira, tanto para combustível de lenha como para matéria prima, inestimável para os mais variados fins relacionados com a habitação, seria outrora muito mais lancinante e estrategicamente vital pelo que faz sentido pressupor que podemos estar apenas perante topónimos relativos ao resultado da actividade de madeireiros, outrora de facto mais afamada do que hoje porque fazia parte do imaginário de muitas histórias populares e contos de fadas!
Sendo assim, estes topónimos seriam pouco mais do que aquilo que parecem pois que Tabuaço, de acordo com a vis da língua lusa, parece ser literalmente um «conjunto de tábuas»!
Em alguns casos, que não é possível declarar, a aplicação toponímica remontará aos próprias étimos, isto é, a grandes antiguidades; noutros, porém, os topónimos terão resultado de evoluções fonéticas dos mesmos (portanto, não operadas – de inicio, pelo menos – toponimicamente), isto é, da aplicação de termos da língua falada. ou vivos. presumíveis nas formas tavolazo, tavolado, etc., pois que a maior parte destes topónimos se encontram documentadas para épocas em que a evolução fonológica não se tinha ainda acentuado mais, ou seja, até as formas actuais, já que conservam o -I- intervocálico. etc. Há até no Norte do País um caso em que esta consoante persiste: Tabulado ou Tabolado (S. Martinho de Alvite, Barcelos): mas deve ver-se neste topónimo, sem a menor dúvida, o romance, de origem não portuguesa popular. «tavolado» (documentado em textos arcaicos nossos), um dos jogos favoritos da nobreza medieval.
Claro que os «tabulados» antigo bem que poderiam ter sido uma espécie de «casinos medievais», tal como poderiam também ter sido locais do exercício de actividades fiscais e sedes de tabelião! Em qualquer caso estamos a aproximar-nos da raiz semântica dos equívocos desta questão. Os registos antigos foram feitos por estes mesmos «tabeliães» que, em muitos casos, não falavam porque apenas arremedavam uma espécie da latim macarrónicos pelo que, com a mais descarada ignorância, alatinavam topónimos que desconheciam!
No caso de Taveira, Taveiro, notam-se formas ant. em Tala-, pelo que o étimo não deve ser o mesmo daqueles topónimos, tendo talvez origem ligúrica. Fm 969, uma dona de cognome «Pala». D. Enderquina, doa ao mosteiro de Lorvão várias «villas» no território de Viseu, «id sunt Talaba» etc. (Dip. et Ch., n.” H4). Esta «villa Talaba» não é facilmente identificável, e até pela localização, nada deve ter com a actual freg. de Tábua, sede do conc. deste nome. Não deve ser pois colocado tal topónimo entre os da família da tabula-.. -- GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA.
A verdade é que a contradição deste texto com o ponto de vista acima postulado está patente na última parte deste texto. Se a «villa Talaba» “não é facilmente identificável” também não foi localizada e então, não faz grande sentido referir que esta, “pela localização, nada deve ter com a actual freg. de Tábua”!
Pois bem, até prova em contrário seria em Tábua a antiga Talaba pelo que podemos perfeitamente postular duas vias etimológicas passando por este mesmo rasto deixado por Talaba.
Uma via popular:
*Talabara / Talabala > Talabaa > Talaba > Taaba > Tabia > Tábua.
ou, por uma via mais erudita, Tabala > Tabela < latinismo Tabula > Tábua.
Claro que, numa proto linguagem, nem sequer é necessário pensar que teria sido esta a etimologia latina de Tabula.
Talaba <= *Kakaura > Tacu-la > tacula > tabula.
Dito de outro modo, o ligúrico talab- pode ter sido apenas o que resta dum termo que seria na Lusitânia o equivalente da mesma raiz semântica da tabula latina e que persistiu em semantemas laterais tais como «tala de madeira», «talo de couve» e «talão» do sapatos, que noutros tempos seriam quase tacos de madeira.
Baraeco < Bar-Aico: Dios protector de los poblados y de las ciudades amuralladas. < Wer-Aka.
Em conclusão, poderemos reparar que para correlativos de Talabriga poderíamos ter:
Talabriga < Tala-Bar-Aica > Talabrica > Talabria > Talabra > *Talabar > ant. Talaba.
ð *Tala-bar-ha > Talabala > Talabaa > Talaba > Taaba > Tabia > Tábua.
ð *Tala-bar-Kiko > *Talabarius > Talavairo > *Taaveiro > Taveiro;
ð *Tala-bar-aica > *Taavarhia > ant. Távar(i)a > Távaura > Távora.
ð *Tala-bar-aica > Talabrica > *Talavirya > Talavira > Taavira > Tavira.
ð *Tala-bar-aica > Talabrica > *Talavirya > Talavira > Talavera (de la Reina).
ð *Tala-bar-aica > *Talabar-ish
ð *Talabar-ish > ant. Taavares > Tavares;
ð *Talabar-ish >*Talavarish-Ki > Taavaret-wi > ant. Tavaredi > Tavarede;
Como se pode concluir também, se todas estas toponímias são semelhantes e partilham o étimo virtual *Talabar a verdade é que, desta lista, as únicas localidades que inequivocamente derivam de Talabrica/Talabriga são Tavira e Talavera (de la Reina). Taveiro, que poderia pretender candidatar-se ao lugar da Talábriga de Ptolomeu, tem o óbice de, segundo as leis da fonética lusa, implicar uma cidade que teria que ter sido *Talabricus.
Figura 5: O problema da localização de Talábriga tem sido discutido desde o século XVI. Primeiro pensou-se que ficaria em Cacia ou Aveiro. Depois generalizou-se a convicção de que ficaria no freguesia da Branca, Albergaria-a-Velha. Actualmente, parece demonstrado que Talábriga se situou no Marnel, concelho de Águeda. Pelo meio, diversos investigadores foram propondo outras localizações para a cidade, algumas completamente absurdas (???): Talavera de La Reina, Tavira, Sôza, Monte da Senhora do Socorro, Viseu, Ul e Vale de Cambra. Por outro lado, têm vindo a acumular-se evidências da existência de outra localidade com o nome de Talábriga na região do Lima. A verdade porém é que, de todas, a do rio Lima é a única Talábrica documentada por várias referências epigráficas em lápides na zona mineira espanhola de Rio Tinto, Huelva!
Porém, importa referir que, de todas estas localizações proposta na pagina da Internet "Talábriga: Notas Historiográficas" nenhuma é imparcialmente convincente nem de exclusão taxativa. Como se disse já, nada obsta a que tenham existido várias Talabrigas na península Ibérica. A própria análise do mapa permite-nos uma analogia com os gráficos de distribuição de frequências estatísticas de tal modo que se poder apostar na forte possibilidade de os pontos em torno da Foz do Vouga significarem uma indeterminação teórica insolúvel em torno de a um único ponto! Quer tudo isto dizer que, antes de haver razão para qualquer tipo de palpites, o melhor seria pegar em pás e picaretas e ir para o vale do Vouga fazer arqueologia de campo. Pelos vistos estamos perante uma zona que tem fortes possibilidades de ser rica em tesouros históricos enterrados nas areias do tempo e nas lamas da ria!
Ponde de lado a possibilidade de conseguir saber qual de todas foi a responsável pelo episódio referido por Apiano de Alexandria na sua Romanorum Historiarum de resistência à dominação romana em 138 ª C., "quando o consul Décio Júnio Bruto empreendeu a primeira grande campanha militar pelo actual território português" resta-nos a tentativa de conseguir localizar melhor as cidades de Talabrica referida por outros autores clássicos antigos.
Plínio refere Talábriga do seguinte modo:
«A Durio Lusitania incipit: Turduli veteres, Pæsuri, flumen Vagia, oppidum Talabrica, oppidum et flumen Aeminium, oppida Conimbrica, Collipo, Eburobritium [...]»,
Oppĭdum , i (gen. plur oppidūm, Sulp. ap. Cic. Fam. 4, 5, 4; old abl plur. oppedeis, Lex. Servil.), n. [ob + pedum; Gr. pedon; Sanscr. pada-m, on or over the plain] . I. A town (…) B. Transf., the inhabitants of a town: (…) II. A fortified wood or forest, among the Britons (…) III. The barriers of the circus (...) -- Charlton T. Lewis, Charles Short, A Latin Dictionary.
Insistir na analogia com o sânscrito para a oppidum, com plural em oppida, já teimosa intenção de querer a utrance incluir o latim entre as línguas indo-europeias. A verdade é que este termo, que deveria ter sido importantíssimo como genérico administrativo, não deixou equivalente nas línguas latinas.
As últimas conotações referidas deixam antever que este termo teria tido origem em incipientes sistemas de defesa militar em paliçadas de madeira circular, ainda frequentes entre os bretões, o que deixa a suspeita de ter correspondido a uma singularidade romana, mais gíria de caserna que termo de tradição popular. De facto, op-pidum = ob + pedum, «lit. em direcção ou contra Pĕdum» o que numa segunda leitura significaria uma metáfora para a paliçada de madeira que permitiria à arcaica caserna, que foi Roma primitiva, defender-se de Pĕdum, a cidade vizinha seguramente sua arqui-inimiga.
Pĕdum , i, n., a town of remote antiquity in Latium, near Rome, prob. the mod. Gallicano, (…)-- Charlton T. Lewis, Charles Short, A Latin Dictionary.
Tendo em conta que o lat. Pedum não significaria primitivamente mais do que a terra (= Gr. Pedon), uma variante de Kiantu, lit. «o campo santo» onde se enterravam os mortos e que era adjacente ou simplesmente a «quinta» dos templos, a que o culto das cobras «piton» da deusa mãe terra estava implicitamente associado.
Esta gíria de caserna teria pegado na medida em que oppidum poderia facilmente soar como ophidum, a cobra «pescadinha de rabo na boca» como eram os auróboros e os discos solares com que as paliçadas circulares se assemelhavam grosseiramente.
De qualquer modo, a oppidum Talabrica de Plínio ficava seguramente junto e depois Vouga numa lógica de ordenação topográfica de norte para sul.
Então, é claro que Tavira, Talavera, e a Limicus Talabric(a) estão fora do contexto geográfico das Talabrica(s) de Entre-Douro-e-Vouga. Porém, em relação às candidaturas da vasta zona de Entre-Douro-e-Vouga há que evitar argumentações de quem já decidiu conceder ao concelho de Águeda este trunfo histórico tão importante no jogo de interesses do turismo autárquico.
Alguns autores (Ribeiro Pereira, Lucena e Vale) pretenderam ver em Viseu as cidades de Vacca ou Talabriga. Quer uma hipótese quer outra não passam disso mesmo, meras conjecturas sem qualquer fundamento real.
No primeiro caso haverá certamente confusão com o nome do rio Vouga, em latim Vacua. No segundo, Talabriga não há dúvida que se trata de pura imaginação. Esta cidade aparece localizada no Itinerário de Antonino entre Aeminium e Calem, respectivamente Coimbra e Gaia e, sendo assim, terá que procurar-se algures na estrada que unia aqueles dois pontos e não no interior do território.
Decididamente ninguém, pelo menos nenhuma das duas grandes capitais distritais de Aveiro e Viseu, quer a má fama de Talábriga por labéu!
É completamente absurdo pensar que a estrada Emínio-Talábriga-Cale poderá ter passado em Viseu. Portanto Talábriga em hipótese alguma poderá ter-se localizado em Viseu. No entanto, Saa (1959, p. 252-282) e Lucena e Vale (1972) defenderam esta hipótese.
Uma afirmação só se torna absurda depois de o demonstrar! Os absurdos de per si não existem a menos que se aceite como absurdo lógico o que é mero disparate ou falta de senso comum! Na verdade, para demonstra que seria completamente absurdo que uma virtual estrada Emínio-Talábriga-Cale pudesse ter passado por Viseu seria necessário primeiro por em causa a rotundidades da terra que permite a sua a «circum-navegabilidade» e a confirmação «urbi et orbi» do princípio universal que «todas as estradas (romanas) vão (ainda e sobretudo outrora) ter a Roma à única Urbs que o era»! Depois seria necessário fazer a experiência da completa impossibilidade em chegar ao Douro por Viseu, uma vez que à beira deste basta ter barco e deixar-se ir na corrente para chegar à sua foz! Ora, a afirmação da primeira oração tem muito pouco a ver com a segunda que poderia ser encarada do modo seguinte: Viseu, se bem que não fique fora do contexto geográfico da Talábriga de Entre Douro e Vouga, nem duma ligação por estrada romana de Æmínio a Bracara (ainda que de forma menos rectilínea por Æmínio-Talábriga-Cale) tem identificação própria e reconhecida da época romana. De facto todos os autores concordam que Viseu foi uma cidade «entroncamento» de vias romanas.
É certo que a via principal que ia de Olossipo a (Porto) Cale seguia quase a actual linha de caminho de ferro Lisboa – Porto já que passava em Sacallabis (Santarém) e Coninbria (Coimbra) mas não passava em Callipo (Leiria). Porém, não seria muito credível que não existisse uma via de Cale a Norbona passando quase em linha recta por Veseo (Viseu) como se sugere no mapa anexo. Do mesmo modo, já então existiria a «estrada da Beira» de Coninbriga a Lameca passando também por Veseo.
A viação romana com origem em Viseu tem sido tratada por muitos geógrafos, historiadores e arqueólogos Das portas da cidade saíam seis vias que derivavam, mais ou menos próximo da cidade em outras tantas. A primeira conclusão a retirar do estudo das vias é a comprovação da importância de Viseu na época romana, pois a contagem das milhas iniciava-se em Viseu. Assim o provam os vários marcos miliários que apareceram na região e que se guardam na "Colecção Arqueológica Dr. José Coelho" e no Museu da Assembleia Distrital de Viseu.
A este facto ficou a dever o seu progresso imparável que só se viria a manifestar com os tempos futuros razão pela qual, não sendo ainda uma cidade importante antes da chegada dos romanos também não tinha tido ainda tempo de se revelar importante quando os roteiros romanos clássicos foram elaborados.
Jorge de Alarcão, mais recentemente considerou que Viseu poderia chamar-se Interanniesia, nome derivado do povo cuja capital era Viseu, os Interannienses.
Imaginação por hipótese então a capital dos Interannienses deveria ser, mais correctamente Interannia uma vez que nem hoje o nome da cidade dos viseenses é Viseencia!
Figura 6: Vias romanas do centro de Portugal (adaptado de Hübner).
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Figura 7: Traçado actual das principais vias norte-sul (férrea e estrada nacional n.º 1) de Portugal.
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Todavia, «talvez o nome romano de Viseu tenha sido outro; isso não invalida, porém, a hipótese de Viseu ter sido a capital dos Interannienses». Reconhece que a «origem etimológica do nome actual é um problema ainda não resolvido.» (p. 19). A origem etimológica do nome Viseu deverá procurar-se no radical *Vesen- ou *Besen- presente no nome de uma divindade com culto identificado em Canas de Senhorim. Sendo assim, na época romana o nome não deveria andar longe do nome actual podendo ser o mesmo que aparece no Cronicon Silense, Castrum Vesensis ou Castellum Vesensis.
Decididamente é difícil de entender porque é que Jorge de Alarcão não reparou que o sufixo -ensis é um mero genitivo gentílico. Que nome de deus seria este encontrado em canas de Senhorim? Já que se referiu o radical porque não se deu o nome?
*Vesen- / *Besen < Wesh(-An) < *Viashu < Wasico
< *Kakiku, “filho do rio Vaccu” > (Banda) Vaseco
Só faltou quem pusesse a hipótese de Viseu derivar do étimo visi- do nome dos Visigodos, coisa em que não insisto por se saber que Veseo aparece já no reino dos suevos com diocese nomeada no concílio de Lugo.
Segundo a lenda da cidade, em pleno processo de Reconquista, um membro de um grupo de guerreiros chegado à cidade pelo lado oriental, onde se intersectam os rios Pavia e Dão, perguntou: «Que viso (vejo) eu?». Desta pergunta, nasceria o nome da cidade.
No entanto, entre os anos 712 e 1057, intervalo da ocupação árabe, Viseu era conhecida por Castro Vesense — Vesi significada "visigodo".
Entre lendas e erros Viseu parece ter dificuldade em encontrar a raiz do seu nome. O difícil e encaixar em Viseu o nome romano Verurium.
A localização dos Tapori na área de Castelo Branco parece-nos suficientemente credível. Talvez a cidade de Verurium, citada por Ptolemeu, tenha sido a sua capital. -- Novas perspectivas sobre os Lusitanos (e outros mundos), JORGE DE ALARCÃO
No entanto não faltam deuses lusitanos a dar nome toponímico a Viseu e quase seguramente pelo papel de local de atalaia que uma localidade específica da antiga cidade romana Interannienses teria tido desde sempre.
Vaseco – Divindade local venerada por tribos Celtas da Confederação Lusitana.
Visu-Ceus – Divindade local venerada na Lusitânia.
Visu-Ceus, literalmente “vista do céu” seria o nome de Visu-Zeus, ou deus Visu, Vis-nu ou V(i)asheco.
A primitiva ocupação humana do sítio de Viseu remonta a um castro pré-histórico em posição dominante sobre uma colina na confluência do rio Paiva com o rio Dão (subafluentes do rio Mondego). Por isso, a fortificação da cidade, localizada na freguesia de Santa Maria de Viseu é muito antiga, nunca se tendo constituído num castelo propriamente dito. Em parte isto aconteceu porque seria um castro para o qual as populações locais nunca terão encontrado melhor alternativa e que, por isso, nunca abandonaram mesmo quando no ano 137a.C. foi conquistada pelo cônsul Decius Junius Brutus, enviado de Roma para pacificar a Lusitânia depois da morte de Viriato. Assim sendo, a lenda de que Viriato teria nascido e vivido nesta cidade não faz sentido porque, de outro modo, Decius Junius Brutus tê-la-ia destruído. Pelo contrário, encontrando-a fortemente habitada e fortificada limitou-se a construir na proximidade a Cava de Viriato, acampamento militar permanente que “apresenta uma forma octogonal, delimitado por fortes taludes, com 2000m de perímetro e uma área de 38hec e que, nas faces de nascente, norte e poente, apresenta um fosso. No entanto, como a população local nunca abandonou o castro, como terá acontecido também em Lamego, o acampamento militar romano da Cava de Viriato nunca se transformou em cidade vindo a ser abandonado quando o povoado ganhou expressão, à época da romanização da península, por ser um entroncamento de estradas romanas, conforme o testemunham os diversos marcos miliários encontrados na região dos Interannienses ou Interamnienses, ou seja, os serranos beirões dos montes He®mínios!
Viseu sempre esteve onde está e por isso não há que a procurar noutro lado porque pelas terras das beira a falta de boas águas é tal que são poucas as alternativas aos bons locais de habitação que por lá havia e que ainda por lá andam, por mais que virem as modas estranjas.
Possivelmente o deus localmente adorado em Viseu não teria a forma fonética de Vas(e)co de que derivaria o nome do pintor local Grão Vasco, mas de Visu-Ceus.
Visu-Ceu(s) > Vis(u)Céu > Visceu > «Viseu».
N.ª SR.ª DO VISO
No entanto, o nome dos Visigodos significou «Godos ocidentais» o que permite a suspeita de que o «por do sol» teria a ver tanto com o étimo de Viseu com visi- de Viso no sentido do «fogo que se acendia no altos dos outeiros de vigia» ao cair da noite tanto em honra dos deuses do fogo como em sinal de atalaia e «fortaleza» militar de que resultaram todas a N.ª Sr.ª do Viso, frequentes no distrito de Viseu, e quase sempre situadas em locais elevado e de «bela vista».
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Figura 8: A capela, dedicada a N.ª Sr.ª do Viso, é secular e encontra-se situada no monte do Viso, onde se oferece uma vista panorâmica sobre a região. Devido à sua elevada altitude, é possível vislumbrar uma grande área, onde se inclui o Douro e a capela de S. Salvador do Mundo (S. João da Pesqueira), para NW. Para Este vê-se o Castelo de Numão, o miradouro de S. Martinho de Seixas, a localidade alvinitente da Lousa (Moncorvo) e, em toda a volta, a paisagem vitivinícola ai existente. --- "Rota dos Miradouros de Foz Côa".
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Alguns historiadores têm citado o «Monte do Viso» como provável povoado ou atalaia da pré-história. Nas batidas já efectuadas não conseguimos detectar vestígios que tal nos atestem!"
Não sei que tipo de vestígios se pretenderia encontrar num local sagrado como este que não fossem só e apenas de culto a uma variante de Vesta (< Wi-ash/ish > Wisto >) Viso, a Virgem Mãe do fogo sagrado dos picos vulcânicos e dos lares. Ora, se estes não foram encontrados e porque tais vestígios se encontram soterrados debaixo de carradas de entulho que a fúria do novo-riquismo autárquico espalhou por todas as aldeias de Portugal para agradar ao gosto bonitinho dos emigrantes afrancesados da 2º e 3ª geração que passaram a fazer turismo rural em tempo de romarias, adequadamente adaptadas ao efeito, no tempo conveniente e em espaços tradicionais conveniente urbanizados.
Mas tais vestígios estavam lá pois retenho na lembrança juvenil o espanto que senti quando já moço feito fui à festa da N.ª Sr.ª do Viso quando encarei as cantarias de acesso à ermida escavadas com estranhas talhas que me lembravam os algares do lagar de azeite da mina avó materna e que hoje reconheço como sendo aquilo que ficou impresso no granito do que teria sido um complexo conjunto de construções rupestres, aproveitando eventuais irregularidades naturais da rocha, para ablução rituais e decantação de sangue sacrificial em tudo semelhantes ao que se pode ver também logo por cima do poço gruta da ermida de S. Salvador do mundo, em S. João da Pesqueira.
Akidalia - restlessness; of the barbs; fountain Goddess of Boeotia, bathed with the Charites in it.
Sabendo-se que Akesa e Akidalia são epítetos de Afrodite teremos:
Figura 9: A relação estratégica de atalaia entre o castelo de Numão e a capela da Sr.ª do Viso de Costoias do Douro e a capela de Samarinho de Seixas do Douro, de onde esta vista panorâmica esquemática foi tirada, é obvia para quem localmente experimenta este facto natural.
Akesa = Prevenida = Engl. Averter < Ampherter (lit. «a que tem «o poder da felicidade e da boa sorte» de Nepher?) => Awesa > «aviso» lit. «a Sr.ª do Viso que está de «atalaia» (< Ár. attali'a = espia <= Akitalia?) do cimo dos montes!
O núcleo étmico deste termo tipicamente lusitano poderíamos encontrá-lo em outro títulos de Afrodite.
Epítetos de Afrodite: Akesa = Prevenida; Aega = luminoso, graciosa; Aego-phagos = comedora de (queijo) de cabra. Aga-pe = a que é um ágape. Amorosa; Aga-saya = A ululante; deusa de guerra semita absorvida por Ishtar, e depois por Afrodite; Aga-theiros = a de cabeleira clara; Aga-ve = nascida no alto; Ag(a)-estratos = a que conduz (vai adiante com a luz = ilumina) o anfitrião < a que ilumina do alto a estrada.
A análise semântica destes diversos títulos afrodisíacos permite-nos descortinar a seguinte cadeia semântica:
“(Nacida no) Alto” < “a que ilumina do alto (a estrada)” < “ululante” > < luminosa” < luz=> branca=> graciosa > amorosa”.
Mesmo o título Aego-phagos = goat eater, permite a ilação semântica de que a “cabra branca”, enquanto esposa do “cabrão preto” que era o deus Ishkur, seria neste contexto o mesmo que Istar, a branca estrela da manhã e por antonomásia, a “branca (estrela)”! O contexto semântico deste “amor agradável” seria seguramente o resultado de conotações à posteriori derivadas das funções inerentes a estas “deusas do amor”! Dito de outro modo, o núcleo dura desta semiologia relativa a arcaicos nomes da deusa mãe Afrodite teria estado relacionado com as antiquíssimas funções desta deusa dos partos solares da Aurora, companheira da “Branca de Neve” da alva serra da “Estrela da Manhã”!
Se é certo e óbvio, mesmo no plano banal da racionalidade empírica, que a “luz do olhar” envolve a mesma contradição que obriga a não confundir as fontes de águas espelhadas com os receptores de informação reflexiva, a verdade é que no pensamento primitivo a luz e a visão se teriam confundido no mesmo amplexo de caótica indefinição primordial ao ponto de o clarão apelar para o olhar esclarecido do mesmo modo que a visão difusa se deixa atrair pela luz, como as traças na escuridão!
Servem estas metáforas poéticas para compreender a razão pela qual as alturas das atalaias onde era mais vasta a visão eram também os pontos onde se teriam adorado “deusas mãe do fogo” tão aconchegante quanto intenso era o conforto dos ardores sexuais razão pela qual o conhecimento em sentido bíblico não dispensava a brancura luminosa do fogo do amor! A Sr.ª do Viso foi Vesta, como o pico de Samartinho de Seixas foi Sexa, ainda hoje deusa mãe dos hindus senhora do fogo dos seixos e do ardor sexual, a mais pura deusa dos avisos feitos de “sinais de fumo”, nos cumes dos outeiros mais panorâmicos mas foi também a componente guerreira das brancas deusas da Aurora, as deusas dos imperiosos partos solares e dos ardores matinais! A possibilidade de se ter tratado de um lugar de atalaia só não é meramente conjectural porque todos os “lugares altos” além de sagrados por mais pertos do céu e do conhecimento que a vastidão de horizontes permitia intuir, eram também pontos de vigilância bélica de emergência. No entanto, os “lugares altos” proibidos pelos profetas judeus como locais de culto também parece que não eram locais de culto templar dos celtas patriarcais e, portanto dificilmente iríamos encontrar outros vestígios arqueológicos que não fossem os que se relacionavam com estas funções já meramente marciais, mas que foram outrora locais de culto matriarcal.
De qualquer modo o que importa reter é que o monte de N.ª Sr.ª do Viso era um “lugar alto” de culto muito arcaico à Virgem mãe, tanto que os povos locais sempre teriam feito do local a sua acrópole e da santa a sua padroeira só assim se justificando o episódio da obra “O Antigo Concelho de Freixo de Numão” da autoria do falecido Dr. Pinto Ferreira:
«...Como elemento mais largamente informativo sobre a devoção a Nossa Senhora do Viso, regista-se a seguinte notícia: Na segunda-feira de Páscoa de 1834, foi a imagem da Virgem removida, com grande pompa, para a Igreja Matriz. Os de Numão vieram sair ao caminho, para tirarem a imagem. Houve então grande desordem, vencendo os de Custóias, tendo os agressores de retirar-se, com bastantes feridos...»
Em guerras de identidade mais tarde ou mais cedo vencem sempre os mais interessados nela.
The idea of pyramid construction in Mesoamerica was not, as some people have suggested, influenced by those of Egypt, rather they were developed independently during the first millennium B.C. and served various functions. For the majority of the people of ancient Mesoamerica the landscape around them was sacred, mountains, lakes, rivers and caves all had a supernatural aspect to them. Although some pyramids served a funerary function many did not but rather they were recreations of the sacred landscape in the heart of the city. Evidence for this is found for example amongst the Maya where the same word, witz, is used to denote both mountain and pyramid. Furthermore, notions of the celestial and subterranean realms are implied in the number of levels a pyramid might contain. This paper considers the ways in which the pyramid acts as a symbol of the Mesoamerican cosmos.
As banalidades discutíveis de certos académicos começam a irritar sobretudo os que facilmente se indignam com os pecados contra o «espírito santo»! Na época das pirâmides tudo era sagrado para todos em todo o lado, como é óbvio, o que significa que assim era tanto Suméria ao Egipto como das Canárias à Mesoamérica! Por outro lado, o desenvolvimento independente das pirâmides da Mesoamérica ficou a dever-se ao isolamento natural deste continente que só passou a fazer parte expressa do contexto histórico com as descobertas europeias. No entanto, não significa isso que o processo que desencadeou o fenómeno das civilizações piramidais nas Américas não tenha tido uma origem europeia porque a crença na «geração espontânea» das civilizações é tão inaceitável como a teoria correlativa na biologia! Claro que se poderia postular que o mesmo processo cultural Europeu se poderia ter repetido nas Américas, tal como se havia processado antes na Europa. No entanto, nem o processo da construção de pirâmides está demonstrado como sendo uma fatalidade evolutiva nem parecem existir nas Américas provas arqueológicas de uma evolução do simples para o complexo, do primitivo e embrionário para o resultado maduro e acabado, como é o caso dos zigurates mesopotâmicos e das pirâmides do Egipto.
A única informação criativa deste texto será afinal a que nos diz que pirâmide e montanha tinham o nome maia de Witz
Viseu < Veseo < *Vaisehu < Vasecus < *Wiashu < Ki-at > Wiatz > Maia Witz > *Phiat > *pot.
Porém, a verdade é que, basta olhar para um mapa da época romana para ver que, na Aquitânia Gálica existiu uma Ves(unna), uma Ves(ontii) e uma (Vi)viscus (ou mesmo uma Vasio, perto de Messsilia, e que é quase Veseo), o que, quanto mais não seja, permite aceitar que Viseu deriva dum topónimo dos celta da Lusitânia, bem anterior aos Visigodos. Na verdade, este étimo aparece presente na língua Basca.
Bizkaia (biskái-a): Viz-caya. Antigua Caristia y Autrigonia preromanas. Su nombre significa cima y era una palabra muy común antiguamente, sinónimo de la actual palabra vasca bizkar (bískar; cima, loma).
Assim, se o étimo Vis- não for autóctone, cantábrica e pirenaica, foi pelo menos também celta pois o vicus latino parece ter uma origem semelhante ou, pelo menos partilhar da língua comum à Europa arcaica (cantábrica e peri-mediterrânica).
Un vicus est le nom latin donné à une petite agglomération, notamment en Gaule, à l'époque gallo-romaine. Il avait souvent pour origine un village gaulois d'avant la conquête.
A explicação para estes desfasamentos nas distâncias dos autores clássicos pode ser muito mais simples, descontos à parte para erros naturais de medição.
Ter havido mais do que uma Talábriga nesta zona de entre Douro e Tejo. Nesta caso, o mais plausível seria que a Talábriga do Vouga tenha mesmo sido, de entre as várias candidaturas mais perto da actual cidade de Aveiro, aquela que o parece e ainda hoje soa como tal: Albergaria(-a-Velha) e que seria conhecida conforme o dialecto de quem a denominava, ora como Talabriga, ora *Talavarix ora *Albriga > Alverca, lit. «terra alagadiça» como Alavara > *Albirque => Albergue => Albergaria, por afeiçoamento fonético posterior, isto se pudéssemos provar que o nome não deriva da «Albergaria de Pobres e Passageiros de Rainha D. Tereza», ali fundada lá pelos anos de 1120. Ora, quem fez duma condessa rainha também pode ter esquecido ou ignorado que a localidade da Albergaria já teria o nome sugestivo e arabizante de Albirca ou *Albirque, de que derivaria noutros lados o nome de Alverca!
Outra seria uma variante de Talabriga na forma de Tala-vaca, (o vicus de Tala) que pode ter sedo tanto a actual aldeia da Touro de vila nova de Paiva como Taruca.
Tarawica > Tarauica < Taruca
Talábriga | < Tal < *Tar | Koka < Kaka | < Kur-Kako / Ishkur => *Tala-Wica > *Tarawaca > Tarauca >Tarouca > Tharouca > Arouca.
Mas existem outras possibilidades étmicas, em relação a Talábriga, nunca antes referidas.
Como reforço de prova temos que, para o nome de Talabriga a transformação linguística permite postular que pelo menos Trancoso corresponde ao nome de uma vila portuguesa moderna que parece aparentada com este nome. Trancoso < T(a)r-an-Kaku (> Turan + Osco?) < Kuran-asho > Ishkuran, variante do nome do deus telúrico sumério Ishkur. Na verdade, Kur-Kako > Ishkur! Assim, Escarigo da bacia do Águeda (< Ihskur-ico, altar, estátua ou imagem de Ishkur) seria outra terra onde Ishkur sumério, o deus dos trovões e dos guerreiros, era adorado!
Quanto a Tarouca podemos afirmar a respeito duma opção por esta localidade o seguinte:
1. A antiguidade e importância pré-histórica de Tarouca remontam ao paleolítico. Tarouca foi um dos mais importantes centros históricos do Portugal medievo desde épocas recuadas da proto-portugalidade visigótica, sem que se conheça a sua etimologia.
2. Tarouca foi também chamada de «Castro de Rei», mesmo depois de as suas muralhas terem sido destruídas na segunda reconquista, para que não voltasse a servir aos mouros. Esta tenacidade do nome pode não ter tido origem penas numa homenagem ao primeiro rei leonês que a conquistou aos mouros. Na verdade, Talábriga pode ter derivado de < Kal-a-briga, literalmente «forte real»!
3. Tarouca fica situada entre Lamego e Viseu numa linha por onde passava uma estrada romana que ia de Braga a Mérida, capital da Lusitânia Romana, e que veio a ser caminho de Santiago. Este caminho atravessaria o Douro numa ponte de barcas entre Barrô, logo depois da freguesia de Penajoia, e Barquieros seguindo em direcção a Mesonfrio em direcção a Amarante (< Tamagani), ainda hoje um dos melhores itinerários para aceder das beiras ao Minho. Ora, o montis Meison Frido (também Mansio Frigida, Meigonfrio) referido em alguns documentos medievais pode ser também a vila de Mesonfrio, a norte do Douro e nas fraldas frias da serra do Marão;
4. Ao lado de Tarouca fica o rio Távora que tem relações étmicas com este nome como se pode ver na equação fonética de Tavira.
5. Existe uma aldeia denominada Touro (< Taula > Tala-) perto de Vila Nova de Paiva.
6. Celorico pode ter sido Celóbrica de Ptolomeu (< Kelóbriga | < Kero > Taro| briga) um quase homónima de Tarouca.
Situa-se em Lamas de Moledo, freguesia de Mões, concelho de Castro Daire, um enorme penedo onde foi gravada uma inscrição em língua lusitana e língua latina. O texto da inscrição apresenta-nos duas divindades, Crouga e Iovea, a quem são consagrados por dois povos, os Veaminicori e Petravioi, anc.om lamaticom e radom porc.om, respectivamente. Crouga é protectora da etnia dos Magareaicoi e Iovea dos Caielobricoi. Texto da inscrição do penedo escrito: RVFINVS ET TIRO SCRIP SERVNT VEAMINICORI DOENTI ANC. OM LAMATIC.OM CROVGEAIMAGA REAICOI·PETRANIOI R ADOM· PORC.OM IOVEA CAIELOBRICOI
O facto de a GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA não o achar credível só desabona em desonra do responsável pelo artigo sobre este mui nobre e antiquíssimo concelho da Beira. Indo por Viseu encontrava a Lancobriga de Lafões e por Lamego a Longobriga (Longroiva) de marialva e a Talabriga virtual de Tarouca.
Sendo Veseo uma cidade nova de «entroncamento», como existem evidência no local da época a que nos reportamos, existia uma via romana de Eminium a Veseo seria sendo então também possível ir de Olissipo a Bracara passando pela suposta Talabriga do Vouga e a Lancobriga de Fiães, em indo pelo pantanal de Lavara mas, indo por Veseo, passaria por duas Lancobrigas no mesmo trajecto: em Caldas de Lafões e em Fiães. Seria tal possível?
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Figura 10: Estradas romanas da Lusitânia cristã.
A antiguidade era uma época de atrasos civilizacionais e de insuficiências culturais por definição pelo que dentro destes atrasos naturais caberiam os que se referiam à insuficiência de diferenciação linguística concorrente para uma ambiguidade de toponímias homónimas.
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Ora, a proliferação dos mesmos nomes em cidades da Lusitânia deve ter sido suficientemente confusa para confundir os já confusos, por falta de métodos de registo cartográfico detalhado, e mal informados geógrafos do helenismo. De facto poder-se-ia ir de Emérita, a capital da Lusitânia, a Braga, capital da Galécia, passando por duas vias romana diferentes e encontrando em ambas uma Lancobriga mas apenas uma Talabriga.
Em conclusão se Tarouca não foi a Talábriga que deve ter havido na região do Vouga, pode ter sido uma sua homónima. Quer isto dizer que a etimologia é um mar sem fundo de indeterminações de que nada de jeito pode ser retirado? Porém, nem tanto assim, pois nomes propostos existem que não têm quase nenhuma ressonância étmica com Talábriga como é o caso de Cacia, Branca, Marnel, etc.
No fundo, um estudo de aproximação étmica serva apenas para isso mesmos: permitir uma aproximação selectiva, tanto prospectiva quanto avaliadora, do estudo das virtualidades colocadas pela verdadeira investigação histórica objectiva que é a arqueologia de campo. Quer apenas dizer que muitos nomes da foz do Vouga sofreram ressonâncias étmicas de Talábriga porque dela dependeram e com ela andaram ligadas administrativa, cultural e economicamente durante tempo suficiente para com ela partilharem alguns rastos étmicos. Saber qual das várias Talábrigas justificou a referência de Apiano de Alexandria a uma Talábriga lusitana que resistiu a Brutus, eis algo que não me parece de fácil solução com os dados documentais disponíveis. a maior ou menor frequência de cidades nas diversas zonas da Ibéria nada prova sobre a verdadeira localização duma cidade que pode ter tido várias homónimas. A mais tenaz delas todas pode ter sido até a menos importante em termos de civilização e mesmo duma zona onde as cidades eram raras pois, por isso mesmo, seria a cara aos seus habitantes que seriam também mais rudes e destemidos a defende-la. A meu ver qualquer uma das quatro localidades candidatas poderia ter tido tal ousadia pois a coragem dos lusitanos desses tempos era ainda muito mais inigualável do que nos dias de hoje pois tinha a vantagem de ser então muito mais mítica do que hoje o é realmente.
AROUCA
Para Arouca temos uma etimologia precisa dado que foi fundada por Augusto com o nome de Araduela. Mas será que não tem havido engano nos autores que propõem Arouca como sendo a cidade romana de Araduela quando esta pode ter sido S. Pedro do Sul, esta sim, uma cidade rebaptizada por força do cristianismo?
Sendo assim as divergências sobre a identidade moderna da Talábriga de entre Douro e Vouga deveria decorrer entre estas duas localidades portuguesas modernas que aliás se situam quase à mesma latitude, e ambas entre o Douro e o Vouga. Duas destas viriam a ser Arouca e Tarouca, ambas de ricas em tradição religiosa e que vieram por isso a ser sede de mosteiros medievais importantes, relativamente próximas e quase à mesma latitude. O facto de ambas serem então de relativa e idêntica importância e servidas por vias romanas que ligariam Conimbriga a Bracara permitiria explicar que diferentes autores clássicos, tomando como referências trajectos de Conimbriga a Bracara, passando ora por Tarouca ora por Arouca, permitiriam algumas divergências de cálculo. Claro que as distâncias de Tarouca a Coimbra nada tem a ver com as 40 milha de Antonino mas poderiam ter algo a ver com as distâncias propostas por este autor para a distância de Talábriga a Lancóbriga.
Ora bem, é agora que o trunfo principal, sugerido acima pela referência da GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA sobre a necessidade de Talábriga de dever situar "afastada das terras baixas do litoral, que o traçado das vias romanas evitava", deve ser posto em cima da mesa. Na verdade, é quase uma constante dos povos colonizadores terem tendência para se darem bem nos climas idênticos aos da mãe pátria. A Inglaterra deu-se bem nos climas marítimos da América do norte e a Espanha sentiu-se em casa no clima quase mediterrâneo do México. Então, as zonas do norte da Lusitânia mais apetecidas por Roma teriam sido as zonas navegáveis do Vale do Douro e seus afluentes e todo a Beira das bacias do vale do Côa e do Águeda. Então, o facto de Tarouca ficar mais perto do interior da Lusitânia do que da orla marítima só vem reforçar as hipóteses de esta localidade ter sido Talábriga. Na verdade, a costa marítima portuguesa entre Douro e Vouga seria tão húmida e fria quanto é hoje mas, ainda mais pantanosa do que é actualmente a ria de Aveiro, logo seria um lugar inóspito para o colonizador romano. O Marnel, tão apetecido pelos autarcas da orla marítima para localização de Talábriga, significa literalmente marinha de sal ou pantanal!
Do mesmo modo que houve engano nas distâncias de Talábriga a Lancóbriga em Antonino pode ter havido um engano das mesmas proporções de Lancóbriga a Eminium.
LAVARA & AVARUS & ALAVARIUM
A ter que escolher por terras da foz do Vouga para sede de Talábriga então teríamos Aveiro como a melhor opção, a menos que fosse uma certeza inquestionável do tipo «HIC TALABRIGA EST» que esta foi lugar da romana Lavara, também de que este nome não poderia ser uma mera corruptela de Talábriga. Pelo menos Aveiro tem a seu favor o ter resistido à erosão da história e ter a razão da analogia étmica com Talábriga.
Em finais do século XVI, Mendes de Vasconcelos (1593) defendeu uma teoria que, embora absurda, viria a fazer carreira durante três séculos. Segundo essa teoria, Conímbriga ficava em Coimbra (em vez de Condeixa-a-Velha), Emínio ficava em Águeda e Talábriga ficava em Aveiro. No que diz respeito a Talábriga, esta teoria quase concorda com a anterior, pois, Cacia fica muito próximo de Aveiro. A hipótese da localização de Talábriga "junto a Aveiro" transformou-se, assim, em teoria oficial sendo defendida ou pelo menos aceite por autores como Brito (1597), Estaço (1625), Faria e Sousa (1678), Carvalho da Costa (1708), Baptista de Castro (1745), Soares Barbosa (1827), Pinho Leal (1873), Borges de Figueiredo (1885ab), Arede (1922) e Marchetti (1922). Em 1927, já esta teoria tinha sido desmontada e posta de parte, ainda a monumental Enciclopedia Universal Ilustrada Europeo-Americana a apresentou como correcta. E, muito mais recentemente, a The New Encilopaedia Britannica (1974) fez o mesmo.
A argumentação que se segue não convence ninguém sobretudo por só apresentar testemunhas a favor e nada dizer a razão pela qual "em 1927, já esta teoria tinha sido desmontada e posta de parte."
Como se pode ver todos os autores citados concordam que Talábriga poderia ter sido em Aveiro ou por ali perto mas mesmo assim Luís Seabra Lopes não só decide que tal teoria era absurda como que estando desmontada e posta de parte desde 1927 ainda que sem que se saiba como nem por quem!
A verdade é que os apontamentos da Geografia de Ptolomeu referem uma por perto destas localizações. Deixando de lado a pouca precisão actual das coordenadas deste eminentíssimo geógrafo da antiguidade, por razões que adiante se tentarão explicar, a verdade é que não deixa de ser tentador pensar que esta localidade seria já a que veio a estar onde teria estado Aveiro do sec. X.
Na altura, a costa litoral não seriam tão baixa quanto é hoje nem sequer existia ainda a ria de Aveiro dos tempos actuais. Se, no sec. X, a ria quase ainda não existia então, bem provável seria que o «mar aberto» chegasse perto da antiga Talabriga.
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Figura 11: Aveiro no sec. X.
Assim, teremos mesmo que continuar a procurar Talábriga porque, de facto, também não deve te sido em Aveiro mas tal, não porque esta cidade tenha sido Lavara mas porque me parece que deve ter tido uma etimologia mais próxima do nome Avarus, referido em Ptolomeu.
Aliás, o intenso assoreamento desta região da Lusitânia pode ter sido um dos responsáveis pelo afundamento e declínio misterioso da tão mal afamada Talábriga! Dentro desta perspectiva relativa à história geológica da ria de Aveiro fica pouco provável a etimologia simplória de que...
“a actual povoação ter-se-ia fundado no tempo de Marco Auréilo, sob o nome de Aviarium, vocábulo que significaria lugar com muitas lagoas, onde se criam aves palmípedes - bem adequado, de facto, a essa região baixa e pantanosa.”
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Então seria mesmo Ptolomeu quem desta vez estaria com mais razão, até porque, por analogia com Taveiro, o nome de Aveiro tem todas as probabilidades de ser indígena. Nesta caso, se Aveiro tivesse alguma coisa a ver com aves, como parece sugerir no seu brasão a memória atávica do seu «subconsciente colectivo», o que pode é ter acontecido um fenómeno frequente de ressonância étmica por analogia, ou seja um cruzamento de linhas de interferência etimológica entre Avarus e Aviarium, reforçado pelo facto de se estar perante uma realidade geográfica de «região baixa e pantanosa», onde são frequentes as «garças» < Lat. ardea???
«Garça» < garcha < *Kar-isha, lit. «ave de transporte solar» como a Fénix
<=> Istar <=> *Kartu.
Ora, o facto de a etimologia de Aveiro nos reportar para uma semântica de «terra pantanosa» e de «garças» faz-nos vir à memória o nome da mítica Aztlan dos Azetecas com a sua idêntica semântica. Será que os emigrantes cretenses que aportaram nas Américas depois da explosão do vulcão de Santorini aportaram primeiro em Aveiro tal como os irlandeses e escoceses e bretões andaram primeiro pelas terras da Galiza antes de irem terminar a sua saga no arquipélago das ilha britânicas?
Ver: BRETÕES (***) & AZTLAN (***)
De qualquer modo, esta relação de Talabriga com o mito da Atlântida tem no mínimo o mérito de nos por na pista de aquela ter sido o nome genérico duma cidade com porto de «abrigo» natural e um «farol».
Como porto natural basta olhar para o mapa da zona tal como esta seria ainda no sec. X e dar conta de que ele ali existia.
Talabriga < Tala-briga = Tal-abriga, lit. «o mar que está abrigada por terra, a deusa mãe Talo/Kali». O promontório de Avarus seria então apenas a entrada deste porto natural onde se situaria o «forte» de atalaia e/ou o «farol» de vigia de Talabriga.
Farol • (< de * faron < Lat. Pharu < Gr. Pháros, Faro, ilha do delta do Nilo), s. m. construção junto do mar, geralmente em forma de torre, em cuja parte superior há um foco luminoso para indicar aos navegantes a entrada do porto ou a existência de recifes na costa, etc.;
Numa breve pesquisa aos sufixos em –ol da língua portuguesa chegamos à conclusão de que são muitos os que se relacionam com a conotação de fluidos combustíveis tais com óleos ou essências aromáticas, quase sempre oleosas, ou álcoois. Tal facto permite-nos aceitar como certa a pista que nos coloca na mira da ideia de que, de facto, a azeite foi outrora usado sobretudo como combustível tendo tido na época arcaica o mesmo papel que tem hoje o petróleo: serve para quase tudo mesmo para produzir alimentos ma é essencialmente um combustível.
A relação do «farol» com a ilha de Faro em Alexandria é óbvia só que não seria um nome específico desta ilha porque existe uma ilha do mesmo nome na capital, do esmo nome, Algarve. Quer dizer que existe a possibilidade de Pháros se tratar duma mera variante do nome de Talos, afeiçoado à mesma fonética do delta do Nilo que permitiu construí o nome dos «faraós» a partir de origem idêntica.
«Farol» < far-oleo < Lat. Phar(u) + oliu, lit. «o sol a óleo de azeite»? Ou,
< Lat. Phar(u) + haulium < Kar-haliu > «Caralho»! Ou,
«Escaravelho» < ish + *Kar-pher > Kar-pheliu > «caravela».
*Kar-pher > Kali-pher < Tal(a)-Wer-ica > Talabriga.
Kur > *Karistos > Phar(os) > Phalos > Espanh. Palos => Apolo solar.
*Kar-pher, literalmente Lúcifer, o que transporta os carros do sol, o deus Ishkur que nasce nos cumes das montanhas solares vindo dos infernos nocturnos do Kur. Então a questão que se coloca aqui é só a de conseguir confirmar que o deus Pharos do delta do Nilo foi o Talos dos cretenses, o deus que veio a aparecer na mitologia clássica como um robot de bronze que foi divinizado depois de morto.
Ver: TALOS (***)
Existem indícios de que a origem de toda esta semântica de «transporte solar» tenha sido apreendida intuitivamente no que há de mais tocante na realidade humana, a figura da «mãe com o menino» ao colo a eterna Virgem Mãe do Sol.
O padrão de referência de todos os faróis terá sido o vulcão enquanto facho natural de luz nocturna e, no caso particular dos cretenses que colonizaram Talabriga terá sido na forma de Talos, o arcaico nome do deus que presidia ao vulcão de Santorini na ilha de Thera.
Talos < Talaush < *Ash-taur > Ishtar
Santorini < Sataurinu < *Ash-Taur-Anu > Ashtar-an > Aztlan.
O núcleo étmico de todos estes nomes seria então o acádico *Ash-taur que teve Istar, a mais conhecida representante, e o sumério Ishkur, já se si evoluções de Kaku-Kur, lit. «a montanha de fogo» ou seja o deus Vulcano.
A partir do culto da variante cretense que deu origem ao nome de Talos em pirâmides gigantescas à beira mar, em tudo semelhantes às dos Maias e Azetecas, teria surgido a ideia para a construção à sua imagem e semelhança megalómana do colosso de Rodes, homenagem a um deus vulcânico como o farol da ilha de Pháros em Alexandria, ambos exemplares paradigmáticos do clímax helenístico deste culto solar que se vinha revelando duma extremo pragmatismo para povos de marinheiros.
A equação anterior aponta para a possibilidade de uma aférese do ta inicial de Talabriga, tal como foi exposta antes para «lasca».
E seria tanto assim que o ta- que «soava como artigo definido» grego passou a ser traduzido pelo seu equivalente árabe, al, tão típico da toponímia árabe em Portugal, de tal modo que passou para o baixo latim medieval já forma de Allavarium.
Os mais antigos documentos medievais que se conhecem referem Aveiro com o nome de Alavario.
A primeira referência histórica a esta terra do litoral surge no documento de doação testamentária de uma condessa, de seu nome Mumadona Dias, ao mosteiro de Guimarães datado do longínquo dia 26 de Janeiro do ano 959. Nesse documento consta a referência a uma "Suis terras in Allavarium et Salinas", sendo esta talvez a mais antiga forma que se conhece do topónimo Aveiro.
A tentação para chegar a Talabriga seria então propor:
Talabrica < *Kal-Awrica > Hal-Awriha > Alavaria, a suposta (a)Lavara dos romanos > Med. Allavariu(m) > (Al)-Avairo que, por queda do al- de ressonância arabizante, daria Aveiro.
No entanto, uma derivação por *Kal-Awrica parece-se em demasia com uma equação etimológica feita de encomenda porque, aos arrecuos e repleta de postulados difíceis de confirmar, e sobretudo pouco plausíveis!
Que a Talabriga dos Romanos tivesse um nome popular etimologicamente mais regressivo do que o deixado pelos romanos não faz muito sentido. Se duma tradição cultural qualquer se tratasse e mais ou menos secreta ou de pouca relevância cultural para os interesses da pax romana ainda se aceitaria tal coisa numa espécie de tradução para a fonética do latim de nomes de deuses indígenas, por exemplo. Mas o nome duma oppidum romano era coisa de demasiada responsabilidade administrativa para ser deixada envolta em mistérios passíveis de intrigas políticas e de equívocos ideológicos causadores de alteração da ordem pública! Se assim tivera sido seria de estranhar que os romanos se não tivessem dado conta disso quando nomearam por Lavara a cidade da Foz do Vouga. É certo que o português medieval soía colocar o sufixo de aproximação «a» em muitas palavras começadas por consoantes mais duras, como que para as amaciar foneticamente. No entanto tal só parece ter acontecido com termos relativos a coisa de uso comum!
Mas parece que a intriga que pretende afastar Aveiro da corrida à candidatura de legítima herdeira das rebeldia da Talábriga não parece incomodar os aveirenses conformados, quem sabe se com subtil displicência pela pouca falta que lhes faria a fama de pacóvia rebeldia dos talabricenses, se com discreta convicção pela sua origem noutras etimologias.
É certo que até mesmo a «Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira» parece não apoiar esta hipótese pelas mesmas razões climáticas antes expostas.
Tem-se querido muito identificar Aveiro com o oppidum luso-romano de Talabriga. Se de positivo alguma coisa se pode afirmar é, justamente, que Aveiro não se sobrepôs à antiga Talabriga, cidade da via militar Eminium - Cale localizada junto do rio Vouga, recenseada no itinerário de Antonino Pio e, necessariamente, afastada das terras baixas do litoral, que o traçado das vias romanas evitava. -- GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA.
Ora bem, o assoreamento da foz do Vouga parece ter acontecido já depois da época romana o que significa que Aveiro, quando foi Talábriga, seria uma vulgar cidade à entrada de um estuário e, por isso, servida de bom porto, lavada e de bons ares.
Porém, uma coisa é duvidar que esta Talábriga fosse a importante cidade que se revoltou contra Brutus e outra seria não admitir que os romanos tenham edificado uma Talábria homónima daquela, precisamente na zona em que a via militar Æminium - Cale atravessaria o Vouga e por isso, meramente castrense.
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Nos tempos proto-históricos existiu, junto do rio Vouga, uma cidade importante denominada de Talábriga, por onde depois passou a estrada militar de Aeminium - Cale. Não se conseguiu ainda determinar com segurança a localização dessa cidade, sendo contudo verosímil que não tenha existido no lugar de Aveiro, Cacia ou Esgueira como se tem pretendido, mas mais a nascente, desde que se infere que o rio Vouga desaguava na época da dominação romana, num braço marinho que avançava bastante para o interior. (in notas de Marques Gomes, Rocha e Cunha e Amorim Girão
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E quem foi que decidiu que Talábriga seria importante, pelo menos no sentido de grande e civilizada cidade? Se calhar até nem o era como noutro ponto se defende, já que doutro modo se teria revelado mais pacífica e civilizada na aceitação da incontornável superioridade militar dos romanos. Seja como for, o que é facto é que todos os autores concordam em que a via Eminium – Cale seguia quase a actual auto-estrada Lisboa - Porto, como se pode confirmar pela figura n.º 6, o que significa que passava perto de Aveiro.
Ver antes –TALA/TALLA E A SEMÂNTICA DE TALABRIGA (***)
Então teríamos:
Talabar-iko > *Talabarius > *Talavarium > *Taaveiro > Taveiro;
Avari-iko > (*Ta)-*Lavarius > Allavarium > Alavairo > Aaveiro > Aveiro.
Esta é a minha opinião conclusiva mas não é esta a opinião consensual que faz passar a etimologia do nome de Aveiro pela latina Lavara, no feminino. Ora, em princípio Aveiro, tal como Taveiro, só poderia ter derivado de um masculino, virtualmente *Lavarius mas no mínimo *Lavarus. Do mesmo modo, nem o medievo Allavarium, já no neutro mas, sugestivamente, na forma arabizante dum nome latino próximo de *Lavarius, nos garantem a legitimidade da latina Lavara como fonte do nome de Aveiro. Lavara seria uma cidade dedicada aos deuses dos lares e à deusa da Aurora e com ela andará ligada o nome genérico da «lavoura» tão típica da provinciana agricultura lusitana, sobretudos nestas paragens quando o solo não é pantanoso nem alagadiço mas arável e fertilizado pelo moliço do mar!
Então, a equação etimológica de Aveiro foneticamente mais correcta terá sido:
Talábriga < Talabariga < Talabar-iko > *Talabarius > (*Ta)-Avarius
Ø Lat. Avarus > Baixo latim, *Avarium (plural de Avarus)
Ø > Visigot. Avario > Arab. *Alavario lit. «a (cidade de) Avario»
Ø > ant. Allavarium (quiçã por confusão com Allavara de Ovar) > Aavairo > Aveiro!
Porém, se Aveiro foi Avarus onde teria ficado a romana Lavara? Obviamente logo ali em frente em Ovar!
Chamou-se Var ou O Var, de onde derivaram os gentílicos varino e vareio, aplicado às gentes e coisos de Ovar, bem como aos seus descendentes em Lisboa, numerosa colónia de peixeiras, que mantêm quase intactas não obstante as cruzamentos e o meio, a pureza dos trajes e hábitos regionais. Pondo de parte fantasias populares e eruditas quanto h origem do nome de Ovar. É licito lembrar que, segundo Leite de Vasconcelos, o nome da terra viesse do genitivo Odvari, do nome próprio medievo Oduaris, ou então do nome do rio Ovar, mencionado em documentos de 1026, l08l e t083.
Mas quem teria sido este Oduaris que teria dado origem a esta importante cidade piscatória? Claro que não o sabemos nem tal tem assim tanta importância porque muitas aldeias e vilas dos tempos visigóticos adquiriram toponímia por relação com o nome do seus proprietários sem que estes tivessem deixado na história outra coisa além do nome das terras que exploraram. O problema é que para ir de Oduaris a Oval seriam necessários saltos étmicos muito altos e andar aos arrecuos no plano retórico!
Ovar, como povoado, resultou da fusão de várias vilas próximas, de que eram mais importantes a Vila Ovar e a Vila Cabanones (Cabanões) e esta mais moderna, parece, do que aquela. O primeiro diploma sobre esta terra de Ovar é do Livro Prelo da sé de Coimbra e foi publicado com o n. 25 nos Port. Mon. Hist. (Dipl. et Ch.). No segundo decénio do séc. X vivia no convento de Crestuma o bispo resignatário de Coimbra, D. Comado que ali foi visitado por Ordonho II de Leão e nobres da sua corte, que por carta de l2-VI-922 (IIe idus iunii. Era DCCCCaLXa) fizeram doação ao convento de Crestuma de vários bens, entre os quais «in porto de obal ecclesio uocabulo sancto donato et sancto iohanne cum suas dcxtros integros et cum suas iunciones».
Também não é estranho que em 922 Obal fosse ainda um porto e portanto muito junto à costa, pelo que se disse antes sobre a involução do assoreamento da ria de Aveiro. Esta forma fonética seria então uma fonética regressiva relativamente ao nome Ovar!
Pois Bem, se Aveiro pode ter sido arabizada, Ovar ainda o teria sido mais como se suspeita pelas armas do concelho!
Lavara >Arab. Allavara > Ajavara > Mossár. Ayvara > Aubar > Ouar > Ovar!
> Med. Obal.
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O nome de Ovar aparece documentado pela primeira vez em 1026, ligado a um dos seus ribeiros - Riu Ouar. Foi crescendo a partir de Cabanões, a nascente da actual cidade, povoação que foi Paróquia, Concelho e Julgado medievos, transferidos no século XVI para a actual zona urbana.
Seria por aqui a famosa Talábriga?
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No entanto: Válega < Vaareca < *Kalarica > *Talarica.
Se Aveiro, por manifestamente derivar do nome do promontório que Ptolomeu denominou por Avarus, tal como tanto a étmica quanto a tradição indicam, que outra cidade do eixo Coimbra / Porto poderia ter sido Talabria sem ter perdido a relação étmica com esta cidade?
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Figura 12: Relação geográfica de Ovar com a ria de Aveiro!
Em Válega, os monumentos, a toponímia, as tradições orais indicam vestígios da dominação romana (via romana Aveiro-Porto) e da permanência dos Árabes. O topónimo "Valego" aparece no ano de 1002 e poderá ter origem em circunstâncias topográficas: a expressão Vale de Água traduziria as incursões das águas da Ria, que terão chegado a separar a povoação das aldeias mais próximas, transformando-a numa ilha ou península.
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Ali existiram duas vilas importantes, a vila "Peraria" e a vila "Dagaredi": a primeira era muito extensa e abrangia uma boa parte da área da actual freguesia de S. Vicente de Pereira; quanto a "Dagaredi" há referência à existência de salinas, daí que seja muito provável que esta vila tivesse uma área bastante extensa, correspondendo ao território do concelho de Estarreja. Da junção das duas vilas poderá também ter surgido o termo Válega – Terra Unida.
É que, nem se perde de pé para a mão o rasto geográfico a uma cidade importante nem as cidades mudam de nome como de camisa. Em princípio, só mudam de nome as cidades que os colonizadores fundaram e depois abandonaram ou, pior ainda, rebaptizaram, em litígio político e cultural com os colonizados. Lourenço Marques passou a Maputo porque já era a cidade «mãe» dos portugueses entre os indígenas. O nome original duma cidade, mesmo quando conquistada ou destruída, permanece no coração dos que a amam e só desaparece se vier a ser inteiramente esquecida! Ora, apagar uma cidade do mapa não é tão fácil como eliminar uma pessoa deste mundo.
Um crime de genocídio como é este teria deixado rastos sangrentos na história escrita ou na memória lendária dos povos. O clamor da lendária Tróia ouviu-se na Ilíada. Até Cartago que "delenda fuit" e lavrada com sal, não para lhe conservar as ruínas mas para lhe tornar o solo inóspito voltou a ser reconstruída no mesmo lugar e com o mesmo nome porque o rumor desta excessiva vingança não deixava os deuses romanos descansados.
Em relação a Talabria não existem nem relatos escritos nem lendas duma destruição trágica como teria sido por exemplo a de Conimbriga, que mesmo assim, veio a ser reconstruída e habitada durante uma longa agonia de mais cerca de duzentos anos de lenta decadência em favor de Æminium. Claro que Talábriga teria tido a pouca sorte de ter ficado numa zona de instabilidade geológica por assoreamento da foz do Vouga e, ainda por cima, numa zona das zonas de fronteira permanentemente instável e violenta entre o domínio árabe na península e a sanha de reconquista dos cristãos. Mas com Lavara, logo ao lado, deve ter acontecido o mesmo que a tantas outras que sabemos que ou se aguentaram no mesmo lugar e nome ou foram abandonadas em definitivo em proveito de paragens mais abrigadas. Entretanto, Avaro de mero lugarejo de pescadores foi-se desenvolvendo à custa da prosperidade que as “terras novas” da ria miraculosamente lhe propiciavam desde perto do sec. X!
Porém, quando assim aconteceu ou ficaram registos do facto ou é possível encontrar as ruínas do cadáver abandonado ou exumado pelos arqueólogos, em locais de grande probabilidade cientificamente calculada, como no caso célebre de Tróia, ou, no caso nacional, de Miróbriga. É que, quando uma cidade é reconstruída sobre as suas próprias cinzas, dificilmente poderá voltar a ser revisitada no que foi no seu passado. Em qualquer caso costuma conservar memória de tal reconstrução, seja no nome que conserva mesmo disfarçado, seja nos fantasmas lendários, seja nos restos de entulho mal arrumado. A história é quase inteiramente um muro de lamentações e tragédias porque, os grandes achados arqueológicos referem-se a cadáveres de monumentos ou cidades que o tempo e as vicissitudes da natureza enterraram e foram inteiramente ou quase, esquecidos.
Dito de outro modo, se Talabriga não era nem em Lavara, que viria a ser Ovar, nem em Avaro, que veio a dar nome a Aveiro, mas andaria por ali perto tendo acabado por ficar a sua vis evolutiva por se incorporar na evolução de uma desta cidades, seguramente mais de Aveiro que de Ovar. No entanto, a grande dificuldade semântica para localizar com rigor a Talabriga lusitana reside no facto cada vez mais comprovado pela análise linguística de que este termo era um genérico com muitas variantes e que tinha por denominador comum o facto de corresponder a uma toponímia de origem cretense relacionada com o culto de Talo/Telus, a Deusa Terra Mãe e de Talos, o «filho da mãe», heterónimo aplicado a Enki / Ishkur na ilha de Creta, ou pelo menos da ilha de Thera;
· deus telúrico das tempestades, tremores de terra e dos vulcões;
· faroleiro do céu;
· senhor da pedra e do fogo dos oleiros e ferreiros;
· patrono dos sábios e dos engenheiros;
· mestre das «artes e ofícios»;
· condescendente com os bons ladrões e os aldrabões bem intencionados;
· regulador do comercio e da navegação, etc.
Sendo assim os talabartes eram autênticos «bazares» lusitanos com talabartes e talanqueiras e as cidades de nome Talábriga interpostos de artesanato e comercio preferencialmente junto a vias principais como ainda hoje acontece particularmente em locais de romaria e de paragem obrigatória.
Talábriga do Vouga enquanto cruzamento da via Olissipo – Cale com a via que vinha de Vacca/Viseu deve ter sido um destes locais de entroncamento que prosperavam facilmente por via do artesanato e do comércio. Porém, tudo indica na etimologia do nome que este deveria ser essencialmente marítimo pelo que a localização desta cidade pode vir a revelar-se na antiga foz do Vouga e encontrar-se assoreada pela ria! No entanto é também possível que desta Talábriga portuária tivessem derivado, à época da colonização romana, as cidades portuárias Avara e Lavara.
Mas pode também ter-se dado o caso Talábriga ter sido um nome próprio só no âmbito da burocracia romana ou seja, o nome verdadeiro da localidade tal como o povo a conhecia poderia ser outro e agora só nos resta descobrir-lhe as ossadas na forma de pedras tijolos e “cacos significativos” para alguém que os saiba por a falar!
Talábriga poderia ser procurada e localizada numa região de curtumes como em S. João da Madeira, neste caso com a possibilidade adicional de estarmos a relacionar Talábriga com a produção de «talas de madeira», quem sabe se numa aldeia como é hoje Travanca < *Talav®anka > (Ta)-Albranca > Branca, quiçá o nome original desta cidade que teria decrescido ao longo da história na proporção inversa de Aveiro que prosperava em seu detrimento! Ou então numa região de produção de barro e «telha», o que não deve ser difícil de encontrar naquelas paragens barrentas. Perto de Paradela temo Talhadas, relativa a «talhas de barro», mas mais provável etimologicamente poderá ter sido a aldeia perto de Branca, Telhadela (< Telladera, por ressonância adaptativa à fonética galaico portuguesa dum equivalente de Talavera (de la Reina). Poderia ter acabado por se tornar sobretudo numa terra de pousadas e de mudas de cavalos.
O nome da vila de Albergaria(-a-velha) pode ser o resultado duma equívoca confusão entre a antiga Talábriga que ficaria ali por perto e estalagem/albergue em particular que permitia o acesso seguro a esta! Quer dizer que Albergaria, por estar perto da antiga Talábriga, ao crescer, com a protecção que as Misericórdias lhe deram, pode ter absorvido o espaço dessa outrora imponente cidade mas que, as incertezas das guerras de fronteira da reconquista, tornaram decadente e deixaram no esquecimento.
Talábriga < Alabrigat > Alberga®ato que por afeiçoamento homófono > Albergaria!
Então Talábriga até poderia ser então procurada em toda a região de Entre o Douro e Vouga. Na verdade, esta região parece ter herdado, com maior ou menor especializações, as tradições de artesanato e empreendimento fabril da vis semântica de Talábriga.
Assim, Talavera de La Rena, a Talábriga castelhana, nem de propósito vem confirmar este carácter fabril das Talábrigas lusitanas porque nela se veio as desenvolver uma das mais afamadas e procuradas cerâmicas da Europa ao ponto de Talavera significar para coleccionadores e antiquários uma peça de rara qualidade originária desta cidade espanhola!
Na Geografia de Ptolomeu, Talabriga e Emínio ficaram marcadas em pontos muito mais para o interior e para sul do que as suas localizações reais. Este facto conjugado com a semelhança entre Talabriga e Talavera deverá explicar o surgimento da hipótese de que Talabriga era em Talavera de La Reina, Espanha. Barreiros (1561) demonstrou que esta hipótese não tinha fundamento. No entanto, no século seguinte Mendez Silva (1645) ainda a defendeu, em termos que nada abonam em favor da sua credibilidade: «Fundòla el Rey Brigo año del mundo criado 2066, antes de nascimiento 1895, imponiendo Talabriga, a poca corrucion Talavera».
Pois bem, ignoro como é que Barreiros poderá ter demonstrado em 1561 que a hipótese de Talavera não tinha fundamento, e já agora de que? De ter sido a Talavera de Apiano? Neste caso talvez seja assim já que as maiores probabilidades vão para a Talabriga do Lima. Mas, como já se viu, devem ter havido Talábrigas as dezenas, senão às centenas, na Lusitânia até porque são fortes as probabilidades linguísticas de este termo ser um genérico comum com o significado de “entreposto de fabrico e comércio de produtos de artesanato” que eram o que havia de mais precioso para a época! Quer isto dizer que existe mais credibilidade num autor gongórico do que num setecentistas só porque este último resolveu enfeitar os seus palpites com um pouco de retórica lendária ao jeito dum mito fundador?
Porém, para um verdadeiro amante da história, os mitos, enquanto “pedaços de crenças perdidas”, são culturalmente tão significativos, como os “cacos” de baixelas partidas são sugestivas manifestações de antigas prosperidade renováveis! Para alguém que não faça da arqueologia um mero instrumento laudatório de regionalismos inconsistentes ou um panegíricos ao municipalismo reinante a localização de Talábriga pode mesmo ser tão secundária para entender o começo da história na Lusitânia como a localização de Tróia o é cada vez mais no contexto da história da Anatólia perante a misteriosa amnésia dos gregos em face do grande império Hitita!
A localização de Talábriga é secundária apenas se a história da região for secundária, mas, então, como justificar tanta despesa? Só para coleccionar cacos? Luís Seabra Lopes, SOBERANIA DO POVO, 30 de Junho de 2000.
Claro que o episódio de Talábriga nem sequer me parece que chegue a ser edificante. Está por demonstrar a mais valia cultural que tal episódio possa trazer a uma cidade moderna e civilizada mas enfim, gostos não se discutem! Porém, quem se refere à arqueologia como um instrumento que só tem justificação para gastar dinheiro público se for para engrandecer a história duma região nega desde logo o princípio universal da objectividade cientifica, nunca mais posta em causa desde o tristemente célebre episódio de Galileu Galilei, enquanto disciplina sujeita apenas às lei do método cientifico e por isso isenta de outros objectivos que não sejam os do seu próprio objecto de investigação que deve ser independente dos interesses dos poderes políticos bem como dos critérios de oportunidade ideológica reinante.
Como a história começou com Caco/Caca e há-de “acabar em cacos” como todas as coisas, natural será que os arqueólogos se interessem por cacos! No entanto confundir arqueologia com história já é grave mas mais ainda será o preconceito que parece inferir-se de que toda a história “tem que ter uma moral”, ou seja uma utilidade para panegíricos políticos ou fins ideológicos obscuros o que ou fere o “método científico” ou tem implícita a ideia de que a história será uma ciência menor, menos sujeita ao “princípio da objectividade” e mais sensível aos caprichos tanto das pequenas como das monumentais vaidades humanas institucionais e de regime.
Porém, “Coleccionar cacos” pode ser, infelizmente tudo o que resta a quem não tem meios nem possibilidades objectivas para mais. Mas não nos podemos esquecer que o registo das memórias indecifradas de hoje podem ser o pretexto para grandes descobertas no futuro e foi com os “cacos” laboriosos e inúteis dos registos astronómico de Ticho Brahe que Kepler descobriu as leis dos movimentos planetários que iriam permitir a Copérnico colocar o sol no seu devido lugar no “sistema solar”!
Brahe's accurate observations of the planet Mars enabled Kepler to determine the fundamental laws of planetary motion between 1609 and 1619.
From: Bomhard@aol.com <Bomhard@aol.com>
L´expression de la notion “pierre” en latin tardif de Hispania. cast. berrueco: les données de la toponymie, (E. Nieto Ballester, UAM, España)
Aega = bright, pleasing. Aego-phagos = goat eater. Aga-pe = love feast. Aga-saya = shrieker; Semitic war Goddess absorbed by Ishtar, then Aphrodite. Aga-theiros = bright haired. Aga-ve = high born. Ag(a)-estratos = leading the host
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