Indubitavelmente, em várias ocasiões faz alusão a uma morte próxima, de forma violenta, e dolorosa em grau supremo. Parece que obteve confirmação dela depois da evocação do Tabor, em que Moisés e Elias lhe revelaram seu próximo fim. Mas, o que havia nisso de estranho? Tinha herdado a responsabilidade do movimento zelote, tinha-o conduzido, governado, e, por esse fato, era procurado pelos romanos por rebelião a mão armada (a ordem que deu aos discípulos de vender, se fosse necessário, parte de suas roupas para procurar-se espadas, em Lucas, 22, 37 e 49, é uma prova). (...)
Todavia, Jesus não associaria jamais esse fim à noção de sacrifício liberador da raça humana. E menos ainda dado que era racista totalmente, e se interessava única e exclusivamente pelos filhos de Israel, e nada mais. Ao longo das Escrituras suas próprias palavras são suficientemente explícitas (já as citamos, e não voltaremos a repetir).
E foi no mínimo quinze anos depois de sua execução quando um homem, que jamais o tinha conhecido em vida, um homem chamado Saulo, e mais tarde Paulo, imaginaria a associação simbólica de tal morte como a das vítimas animais sacrificadas cada dia no altar do Templo de Jerusalém. -- JESUS OU O SEGREDO MORTAL DOS TEMPLÁRIOS, Robert Ambelain.
A razão pela qual Jesus se entregou de livre vontade permanecerá sempre um mistério porque terá sido discutida em segredo no núcleo restrito das eminências pardas essénias que apoiavam a candidatura messiânica de Jesus. No entanto, a mística dum auto-sacrifício messiânico expiatório andou sempre no espírito de Jesus e deve ter tido suporte na própria mística do sacerdócio messiânico tal como os essénios acabaram por ter que a entender depois dos fracassos sucessivos na reconquista em Jerusalém do sumo sacerdócio oficial perdido desde a época dos macabeus. Esta mística decorreria do próprio mito fundador do sacerdócio judaico desde os tempos de Moisés cujo poder sobre a lei judaica Jesus sempre sobrepôs ao de David.
Exodus 24:8. 8Então tomou Moisés aquele sangue, e espargiu-o sobre o povo e disse: Eis aqui o sangue do pacto que o Senhor tem feito convosco no tocante a todas estas coisas. 9Então subiram Moisés e Arão, Nadabe e Abiú, e setenta dos anciãos de Israel, 10e viram o Deus de Israel, e debaixo de seus pés havia como que uma calçada de pedra de safira, que parecia com o próprio céu na sua pureza.
Jesus pensava assim fazer simultaneamente uma aliança mística com os seus discípulos que iriam fazer parte da nova casta sacerdotal que o seu auto-sacrifício iria permitir criar e uma aliança com as autoridades judaicas no sentido de a sua morte ocorrer nos termos que lhe iriam permitir triunfar sobre a cruz, projecto destemido e ousado em que Jesus vinha já pensando há muito tempo. Aliás, este projecto seria uma mítica gerada no seio das comunidades essénias de Quram e que S. João Batista anunciou no 4º evangelho quando se referiu a Jesus como sendo o “cordeiro de deus”.
1ª. PREDIÇÃO DA PAIXÃO (8:31 - 9:29)
Marcos – 8: 13
E, deixando-os, tornou a entrar no barco e foi para o outro lado. 14 E eles
se esqueceram de levar pão e no barco não tinham consigo senão um pão. 15 E
ordenou-lhes, dizendo: Olhai, guardai-vos do fermento dos fariseus e do
fermento de Herodes. 16 E arrazoavam entre si, dizendo: É porque não temos
pão. 17 E Jesus, conhecendo isso, disse-lhes: Para que arrazoais, que não
tendes pão? Não considerastes, nem compreendestes ainda? Tendes ainda o vosso
coração endurecido? 18 Tendo olhos, não vedes? E, tendo ouvidos, não ouvis? E
não vos lembrais 19 quando parti os cinco pães entre os cinco mil, quantos
cestos cheios de pedaços levantastes? Disseram-lhe: Doze. 20 E, quando parti
os sete entre os quatro mil, quantos cestos cheios de pedaços levantastes? E
disseram-lhe: Sete. 21 E ele lhes disse: Como não entendeis ainda? |
Mateus - 16: 5 E, passando seus discípulos para a outra banda, tinham-se esquecido de fornecer-se de pão. 6 E Jesus disse-lhes: Adverti e acautelai-vos do fermento dos fariseus e saduceus. 7 E eles arrazoavam entre si, dizendo: É porque não nos fornecemos de pão. 8 E Jesus, percebendo isso, disse: Por que arrazoais entre vós, homens de pequena fé, sobre o não vos terdes fornecido de pão? 9 Não compreendeis ainda, nem vos lembrais dos cinco pães para cinco mil homens e de quantos cestos levantastes? 10 Nem dos sete pães para quatro mil e de quantos cestos levantastes? 11 Como não compreendestes que não vos falei a respeito do pão, mas que vos guardásseis do fermento dos fariseus e saduceus? 12 Então, compreenderam que não dissera que se guardassem do fermento do pão, mas da doutrina dos fariseus. |
Ver: 1ª Multiplicação dos pães |
Marcos – 8: 27 E saiu Jesus e os seus discípulos para as aldeias de Cesaréia de Filipe; e, no caminho, perguntou aos seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens que eu sou? |
Mateus - 16: 13 E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do Homem? |
Lucas – 9: 18 E aconteceu que, estando ele orando em particular, estavam com ele os discípulos; e perguntou-lhes, dizendo: Quem diz a multidão que eu sou? |
* Marcos – 8: 27 E saiu Jesus e os seus discípulos para as aldeias de Cesaréia de Filipe; e, no caminho, Lucas – 9: 18 estando ele a orar em particular (...a)os discípulos (...) perguntou-lhes, dizendo: Quem diz a multidão que eu sou?
A expressão de Lucas, “estando ele orando em particular”, que não se encontra nos outros sinópticos, seria uma mera informação circunstancial, semanticamente manipulada, de que o Mestre Jesus teria naturalmente um estilo oratório apenas com os seus discípulos, como outros apócrifos referem largamente.
No evangelho de Judas vamos verificar que quem estava a orar eram de facto os discípulos...ou possivelmente estariam todos em meditação depois dos acontecimentos da tomada do templo e por isso todos tensos e particularmente nervosos.
1 Diálogo de Jesus com seus discípulos: Certo dia, ele estava com seus discípulos na Judéia e encontrou-os piedosamente reunidos em torno da mesa. Quando se dirigiu a eles, que estavam reunidos, fazendo uma oração de ação de graças sobre o pão, riu. Os discípulos disseram-lhe: “Mestre, por que ris sobre nossa oração de ação de graças? Fizemos o que é certo”. Mas ele respondeu-lhes: “Não rio por causa de vós. Vós não fizestes isso por vossa própria vontade, mas para louvar vosso Deus. Eles disseram: “Mestre, tu és (o Messias) o filho de nosso Deus”. Jesus, porém, disse-lhes: “Donde vós me conheceis? Em verdade, digo-vos que não há geração humana entre vós que me conhecerá”.--Evangelho de Judas.
Desde que se sabe que os sinópticos são uma cópia criativa de Marcos se deveria reparar que muitas divergências menores entre estes textos sacros se devem tanto a erros de redacção inicial quanto interpolações piedosas posteriores. A expressão de Mateus que identifica Jesus como “o Filho do Homem” corresponde seguramente a um tique próprio da igreja que primeiro divulgou este evangelho e que não passaria de um eufemismo do profetismo judaico com o mero significado corrente de “vivente” e mero contraponto ao conceito teológico de “filho de Deus” com o simples objectivo religioso para encobrir o mistério messiânico numa nebulosa de conceitos teológicos paradoxais.
The objection that Christ could not have used it in Aramaic because the only similar expression was bar-nasha, which then meant only "man" -- bar having by that time lost its meaning of "son" -- is not of much weight. Only little is known of the Aramaic spoken in Palestine in the time of Christ and as Drummond points out special meaning could be given to the word by the emphasis with which it was pronounced, even if bar-nasha had lost its primary meaning in Palestine, which is not at all proved. -- Catholic Encyclopedia
A verdade é que as armadilhas e os tropeços linguísticos sempre permitiram desvios graves na interpretação da verdade. Drummond deve estar enganado porque muitos nomes do inicio da história cristã, tais como, Simão Barjonas, Barrabás, Barnabé, Bartolomeu, Baraquias, etc. demonstram o contrário! Aliás, no caso de Barjonas o evangelista parece ser bem explícito na tradução de bar por filho.
Mateus – 16: 17 Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, Bariona]: El Judaico: hijo de Juan. (In Mt. 16,17: cod. 566; d 30; e 77)
Μακαριος ει σιμων βαρ ιωνα
João 1: 41 Tu és Simão, filho de Jonas
Su ει σιμων ο υιος ιωνα
Na verdade, o Messias, simbolicamente filho de David, ficaria assim de certo modo entre o de filho do Ser Supremo e um filho dum homem comum, filho duma qualquer virgem sem marido. Na verdade, para o judeu comum a pretensão a filho de Deus seria de tal modo idólatra que nem o Messias tinha tal estatuto! Obviamente que a eficácia teológica dum tal conceito era ditada tanto pela sua semântica indeterminado como pelos códigos de comunicação da época que teriam possivelmente como suporte a ideia de que qualquer um predestinado por Deus poderia vir a ser profeta ou o Messias, tal como mais tarde todos se tornaram “filhos de deus” com o cristianismo. Ora a mística de todos serem “filhos de deus” deve ter sido nesses tempos tão poderosa como é hoje a do igualitarismo anarquista!
Do mesmo modo, e seguramente por influência subliminar da idolatria helenística, o filho do homem acabou no cristianismo por ter um estatuto equivalente ao de filho de Deus, tal como aparece apenas numa óbvia interpolação em Mateus!
Marcos – 8: E eles responderam: João Baptista; e outros, Elias; mas outros, um dos profetas. 29 E ele lhes disse: Mas vós quem dizeis que eu sou? E, respondendo Pedro, lhe disse: Tu és o Cristo. |
Mateus - 16: 14 E eles disseram: Uns, João Batista; outros, Elias, e outros, Jeremias ou um dos profetas. 15 Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? 16 E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. |
Lucas – 9: 19 E, respondendo eles, disseram: João Batista; outros, Elias, e outros, que um dos antigos profetas ressuscitou. 20 E disse-lhes: E vós quem dizeis que eu sou? E, respondendo Pedro, disse: O Cristo de Deus. |
Lucas – 9: O Ungido (Cristo) de Deus = Messias.
Tomé: – 13. Disse Jesus a seus discípulos: Comparai-me e dizei-me com quem me pareço eu. Respondeu Simão Pedro: Tu és semelhante a um anjo justo. Disse Mateus: Tu és semelhante a um homem sábio e compreensivo. Respondeu Tomé: Mestre, minha boca é incapaz de dizer a quem tu és semelhante. Replicou-lhe Jesus: Eu não sou teu Mestre, porque tu bebeste da Fonte borbulhante que te ofereci e nela te inebriaste. Então levou Jesus Tomé à parte e afastou-se com ele; e falou com ele três palavras. E, quando Tomé voltou a ter com seus companheiros, estes lhe perguntaram: Que foi que Jesus te disse? Tomé lhes respondeu: Se eu vos dissesse uma só das palavras que ele me disse, vós havíeis de apedrejar-me - e das pedras romperia fogo para vos incendiar.
E de seguida levanta-se a questão do primado de Pedro que, como se verá, coloca pela primeira vez em confronto a estratégia messiânica espiritual e muito pessoal de Jesus com o messianismo temporal de Pedro que irá revelar pela primeira vez a sua enorme ambição e liderança. Podemos assim dizer que Pedro não desistiu inteiramente do seu projecto temporal que acabou por ultrapassar a pacífica e sensata intenção inicial de Jesus e evoluiu lenta e sinuosamente, à força de rebeliões e martírios, para a conquista do papado como único poder temporal que era possível a um plebeu na cultura heróica e pré-feudal do ocidente bárbaro!
Mateus - 16: 17 E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai, que está nos céus. 18 Pois também eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. 19 E eu te darei as chaves do Reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.
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Marcos – 8: 30 E admoestou-os, para que a ninguém dissessem aquilo dele. 31 E começou a ensinar-lhes que importava que o Filho do Homem padecesse muito, e que fosse rejeitado pelos anciãos, e pelos príncipes dos sacerdotes, e pelos escribas, e que fosse morto, mas que, depois de três dias, ressuscitaria. |
Mateus - 20 Então, mandou aos seus discípulos que a ninguém dissessem que ele era o Cristo. 21 Desde então, começou Jesus a mostrar aos seus discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muito dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia. |
Lucas – 9: 21 E, admoestando-os, mandou que a ninguém referissem isso, 22 dizendo: É necessário que o Filho do Homem padeça muitas coisas, e seja rejeitado dos anciãos e dos escribas, e seja morto, e ressuscite ao terceiro dia. |
Ver: O PRIMADO DE PEDRO
Se Jesus ordenou solenemente aos seus discípulos que a ninguém dissessem que ele era o Cristo o filho do Deus vivo só podemos concluir que, todos os cristãos que têm feito o contrário desde o concílio de Niceia, andam a contrariar a vontade expressa de Jesus e a blasfemar contra Deus! Não tendo siso assim entende-se que se tratava do um secretismo circunstancial e temporário típico de sociedades secretas clandestinas e de movimentos políticos conspirativos.
E tudo porque a via-sacra dolorosa escolhida por Jesus era a mesma via pacífica de inevitável auto imolação que viria vinte séculos mais tarde a ser escolhida por Gandi e não correspondia de modo algum ao plano zelota dum assalto triunfal ao poder do templo e acabava por aparecer quase tão frouxo como o desencantado messianismo de pé descalço de João! A repetição decepcionante dum messianismo reportado para o reino dos céus, em contraste com a acção directa que os zelotas preconizavam com vista à conquista do poder temporal só poderia desagradar os primeiros discípulos de Jesus, tanto mais que estes acabavam de perder João, o Baptista, um candidato messiânico inábil que se tinha deixado apanhar demasiado facilmente pela raposa política que era Heródes. Pois bem, este descontentamento foi interpretado por Simão (Varajão), o líder informal do grupo, onde muitos eram manifestamente zelotas.
Marcos – 8: 32 E dizia abertamente estas palavras. E Pedro o tomou à parte e começou a repreendê-lo. |
Mateus - 16: 22 E Pedro, tomando-o de parte, começou a repreendê-lo, dizendo: Senhor, tem compaixão de ti; de modo nenhum te acontecerá isso. |
Se Marcos, que foi secretário e intérprete de Pedro não registou os pormenores da conversa privada que o intrépido e violento Pedro teve com Jesus, como pôde Mateus reduzir a tão pouco os argumentos de Pedro? Obviamente que o teor desta conversa deve ter sido tão azedo como a resposta de Jesus e o registo de Mateus só pode ser uma interpolação piedosa dos defensores da primazia papista de Pedro. Do mesmo modo é uma interpolação caritativa a que tenta justificar que Pedro só foi chamado Satanás por ser advogado duma causa contrária e ser um estorvo ao projecto messiânico dum Jesus, já bem determinado de vencer a cruz ressuscitando ao 3º dia conforme as escrituras!
Marcos – 8: 33 Mas ele, virando-se e olhando para os seus discípulos, repreendeu a Pedro, dizendo: Retira-te de diante de mim, Satanás; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas as que são dos homens. |
Mateus - 16: 23 Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens. |
Obviamente que a resposta violenta e zangada de Jesus não abona nada em favor de Pedro e é então que os versículos a mais de Mateus revelam a severidade da situação. Ecos deste acesso debate pouco amistoso ecoam duma forma ainda mais violenta no evangelho de Barnabé, tão válido quanto outro documento histórico, ainda que afeiçoado à religião árabe.
Jesus respondeu: "E vos quem achais que eu sou"? E Pedro respondeu: "Tu és o Cristo, filho de Deus". Então Jesus irritou-se, e com raiva o reprovou, dizendo: "Vai-te embora e afasta-te de mim, porque tu és o diabo que me procura perder! E ele ameaçou os onze, dizendo: "Ai de vós se algum acreditar nisto, porque eu ganhei de Deus uma grande maldição contra esses que acreditam nisto". E estava com intenção de expulsar Pedro; Mas os onze suplicaram a Jesus por ele, que assim acabou por não o expulsar, mas novamente o reprovou dizendo: “Previne-te para que nunca mais me dirijas tais palavras, porque Deus te reprovará! " Ao que Peter lamentou e disse: "Senhor, eu falei sem pensar; peça a Deus que ele me perdoe. – Evangelho de Barnabé.[1]
O que Jesus diria a seguir segundo o testemunho de Barnabé era demasiado importante para que não tivesse sido ouvido por todos e Marcos só não o registou (pelo que nenhum canónico o seguiu) por causa duma quase segura amnésia histérica deste Pedro, que então só se lembrava do que lhe convinha ao que lhe parecia ser o seu pequeno quinhão do messianismo de Jesus!
De qualquer modo, se alguém quisesse seguir o plano de Jesus de conquistar o “reino de Deus” que fosse preparando a sua cruz porque não lhes poderia prometer mais nada em Jerusalém onde os saduceus eram soberanos com o apoio incondicional do todo-poderoso poder do império romano.
Marcos – 8: 34 E, chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me. 35 Porque qualquer que quiser salvar a sua perdê-la-á, mas qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará. 36 Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma? 37 Ou que daria o homem pelo resgate da sua alma? 38 Porquanto qualquer que, entre esta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai, com os santos anjos. |
Mateus - 16: 24 Então, disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-me; 25 porque aquele que quiser salvar a sua vida perdê-la -á, e quem perder a sua vida por amor de mim achá-la -á. 26 Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma? 27 Porque o Filho do Homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e, então, dará a cada um segundo as suas obras. 28 Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui estão, que não provarão a morte até que vejam vir o Filho do Homem no seu Reino. |
Lucas – 9: 23 E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. 24 Porque qualquer que quiser salvar a sua vida perdê-la -á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida a salvará. 25 Porque que aproveita ao homem granjear o mundo todo, perdendo-se ou prejudicando-se a si mesmo? 26 Porque qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do Homem, quando vier na sua glória e na do Pai e dos santos anjos. 27 E em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que não provarão a morte até que vejam o Reino de Deus. |
2ª PREDIÇÃO DA PAIXÃO (9:30 - 10:32)
É espantoso como a cena descrita pelos sinópticos realça o realismo sintético Marcos e as divagações clericais de Mateus que, se não resultam de interpolações tardias, exaltam a sua a alma de levita.
Mateus, 17: 19 Então, os discípulos, aproximando-se de Jesus em particular, disseram: Porque não pudemos nós expulsá-lo? 20 E Jesus lhes disse: Por causa da vossa pequena fé; porque em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá--e há de passar; e nada vos será impossível. 21 Mas esta casta de demônios não se expulsa senão pela oração e pelo jejum.
De facto, neste episódio Mateus revela-se muito mais sintético do que Marcos costuma ser, senão mesmo minimalista. Mateus era um tabelião pragmático que só voava como levita que era, quando podia perder-se em beatíficas divagações e Lucas era um gentio que escrevia testemunhos em segunda ou terceira mão. O mais estranho é verificar que sendo Lucas um médico de formação hipocrática, que poderia nesta cena ter feito um brilharete de sapiência, tenha descrito esta cena, de verdadeiro exercício público da arte médica, de forma tão parca e descuidada. Decididamente, Lucas não seria um médico muito inspirado nem brilhante!
Lucas, 9: Mestre, peço-te que olhes para meu filho, porque é o único que eu tenho. 39 Eis que um espírito o toma, e de repente clama, e o despedaça até espumar; e só o larga depois de o ter quebrantado. (...) Traz-me cá o teu filho. 42 E, quando vinha chegando, o demônio o derribou e convulsionou; porém Jesus repreendeu o espírito imundo, e curou o menino, e o entregou a seu pai. 43 E todos pasmavam da majestade de Deus.
Ver: JESUS, O MÁGO
/ A CURA DA CRIANÇA EPILÉPTICA (***)
Marcos, 9: 30 E, tendo partido dali, caminharam pela Galiléia, e não queria que alguém o soubesse, 31 porque ensinava os seus discípulos e lhes dizia: O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens e matá-lo-ão; e, morto, ele ressuscitará ao terceiro dia. 32 Mas eles não entendiam esta palavra e receavam interrogá-lo. |
Mateus, 17: 22 Ora, achando-se eles na Galiléia, disse-lhes Jesus:
O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, 23 e matá-lo-ão, e, ao terceiro dia, ressuscitará. E eles se entristeceram muito. |
Lucas, 9: 44 Ponde vós estas palavras em vossos ouvidos, porque
o Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens. 45 Mas eles não entendiam essa palavra, que lhes era encoberta, para que a não compreendessem; e temiam interrogá-lo acerca dessa palavra. |
Marcos, 9: 30 E, tendo partido dali, caminharam pela Galiléia, e não queria que alguém o soubesse, 31 porque ensinava os seus discípulos e lhes dizia:
Lucas, 9: 44 Ponde vós estas palavras em vossos ouvidos, porque
Marcos, 9: 31 O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens e matá-lo-ão; e, morto, ele ressuscitará ao terceiro dia. 32 E eles não entendiam esta palavra mas receavam interrogá-lo.
Não iria demorar muito que as divergências de resposta iriam provocar um incidente de disputa de liderança pelo que o projecto messiânico temporal, ainda que a correr menos bem (e há indícios de que estava a correr mal) estaria em marcha!
Marcos, 9: 33 E chegou a Cafarnaum e, entrando em casa, perguntou-lhes: Que estáveis vós discutindo pelo caminho? 34 Mas eles calaram-se, porque, pelo caminho, tinham disputado entre si qual era o maior. 35 E ele, assentando-se, chamou os doze e disse-lhes: Se alguém quiser ser o primeiro, será o derradeiro de todos e o servo de todos. 36 E, lançando mão de uma criança, pô-la no meio deles e, tomando-a nos seus braços, disse-lhes: 37 Qualquer que receber uma destas crianças em meu nome a mim me recebe; e qualquer que a mim me receber recebe não a mim, mas ao que me enviou. |
Lucas, 9:
46 E suscitou-se entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior. 47 Mas Jesus, vendo o pensamento do coração deles,
tomou uma criança, pô-la junto a si 48 e disse-lhes: Qualquer um que receber esta criança em meu nome recebe-me a mim; e qualquer que me recebe a mim recebe o que me enviou; porque aquele que entre vós todos for o menor, esse mesmo é grande. |
EVANGELHO SEGUNDO JUDAS
Mas ficou também registado na memória de Judas precisamente no EVANGELHO SEGUNDO JUDAS que começa precisamente assim:
As palavras secretas da revelação que Jesus fez, durante uma semana, (até) três dias antes de celebrar a festa da Páscoa, a Judas Iscariotes.
A temporalidade desta descrição enquadra-se perfeitamente no contexto temporal em que terá decorrido o banquete da unção de Betânia, ou seja, na segunda feira depois do domingo a que hoje erradamente de diz ser o de ramos porque este terá sido uma semana antes.
Quando Jesus apareceu na terra, realizou muitos milagres e sinais para salvar a humanidade. Desde então, enquanto alguns seguiram o caminho da rectidão e outros pecaram, chamou os doze discípulos. Começou a falar com eles sobre os mistérios além do mundo e do que aconteceria no fim. Muitas vezes apareceu a seus discípulos, não como ele mesmo, mas na forma de uma criança.
Claro que mais nenhum evangelista relata esta ideia de que Jesus apareceu aos seus discípulos depois da ressurreição na forma duma criança pelo que deve haver aqui equivoco com o relato seguinte de Marcos:
5 Olhando, notaram que a pedra já estava removida; pois era muito grande.
6 Entrando no túmulo, viram um moço sentado ao lado direito, vestido de um alvo manto, e ficaram atemorizadas. (Marcos 16:5-6).
Como iremos ver mais adiante este moço era o próprio Marcos e não Jesus razão pela qual se infere que o relato de Judas só pode ser equívoco com esta referência de Marcos: Digo-lhes a verdade: Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, nunca entrará nele. (Marcos 10:15) ou Marcos andou a pregar partidas aos discípulos como é referido no relato seguinte do mesmo Marcos:
12 Depois disto manifestou-se sob outra forma a dois deles que iam a caminho para o campo. (Marcos 16:12).
Também é estranha esta passagem de João:
4 Mas ao romper do dia, estava Jesus na praia; todavia os discípulos não sabiam que era ele.
5 Perguntou-lhes Jesus: «Moços», apanhastes algum peixe? Responderam-lhe: Não.
6 Disse-lhes ele: Lançai a rede à direita da barca, e achareis. Lançaram-na, pois, e já não podiam puxá-la por causa do grande número de peixes.
7 O discípulo a quem Jesus amava, disse a Pedro: É o Senhor. Simão Pedro, quando ouviu que era o Senhor, tomou a sua veste (porque se havia despido), e lançou-se ao mar; (João 21: 4-7).
O tratamento por «moços» que Jesus usa com os discípulos só teria passado despercebido a estes se de facto ele lhe aparecesse como moço também. Como desta vez o discípulo amado estava com os outros discípulos não poderia ser Marcos logo, Jesus estaria em convalescença da paixão, tão fraco e desnutrido que pareceria ser um moço.
Obviamente que podemos estar perante uma tradição mítica mais arcaica herdada dos caldeus relativa a Dagon como a dos etruscos entre os quais os «intérpretes da vontade dos deuses eram os arúspices e os princípios da chamada aruspicina — a arte de adivinhar a partir da análise minuciosa do fígado dos animais oferecidos aos deuses, e da leitura dos raios e trovões — vinham de uma revelação do deus Tages. Ele teria surgido de um sulco no campo traçado por um lavrador etrusco, com a cara de um menino e a prudência de um ancião».
Obviamente que o secretismo da segunda predição da paixão só é compreensível num ambiente persecutório que apenas os antecedentes da cena esclarecem. Ora, o que neste capítulo antecede esta cena foi um caso difícil de exorcismo mal sucedido aos discípulos e que Jesus, com a sua mestria de terapeuta alexandrino bem diagnosticou mas seguramente, não curou definitivamente porque apenas consegui sossegar a família com a fé, o único remédio que resta aos dos pobres desesperados, e a multidão com o espanto milagreiro da época!
As diferenças descritivas deste episódio compreendem-se melhor dando conta de que hoje já se sabe que Marcos terá começado a escrever o seu texto cerca de um vintena de anos depois da morte de Jesus, ou seja, com uma memória ainda relativamente fresca dos factos de que, em alguns caso se revela uma testemunha ocular, como terá sido este o caso. É mesmo provável que os restantes sinópticos tenham tido acesso aos primeiros esboços do evangelho de Marcos, de que foram encontrados fragmentos nos manuscritos do mar morto. Marcos foi apanhado por Jesus em plena adolescência, numa época da vida em que tudo fica indelevelmente marcado para sempre. Sendo assim, tudo o que os restantes sinópticos acrescentam a esta cena são meros comentários clericais de edificação religiosa tresandando a interpolações clericais. Marcos descreve num realismo quase jornalístico e num estilo de acordo com as concepções ingénuas do senso comum da época a consulta em público dum filho epiléptico que os discípulos do mestre tentaram em vão curar.
3ª. PREDIÇÃO DA PAIXÃO (10:32-52)
Marcus, 10: 32 E iam no caminho, subindo para Jerusalém; e Jesus ia adiante deles. E eles maravilhavam-se e seguiam-no atemorizados. E, tornando a tomar consigo os doze, começou a dizer-lhes as coisas que lhe deviam sobrevir, 33 dizendo: Eis que nós subimos a Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas, e o condenarão à morte, e o entregarão aos gentios, 34 e o escarnecerão, e açoitarão, e cuspirão nele, e o matarão; mas, ao terceiro dia, ressuscitará. 35 E aproximaram-se dele Tiago e João, filhos de Zebedeu, dizendo: Mestre, queremos que nos faças o que pedirmos. 36 E ele lhes disse: Que quereis que vos faça? 37 E eles lhe disseram: Concede-nos que, na tua glória, nos assentemos, um à tua direita, e outro à tua esquerda. 38 Mas Jesus lhes disse: Não sabeis o que pedis; podeis vós beber o cálice que eu bebo e ser baptizados com o baptismo com que eu sou baptizado? 39 E eles lhe disseram: Podemos. Jesus, porém, disse-lhes: Em verdade vós bebereis o cálice que eu beber e sereis batizados com o batismo com que eu sou batizado, 40 mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence a mim concedê-lo, mas isso é para aqueles a quem está reservado. |
Mateus, 20 : 17 E, subindo Jesus a Jerusalém, chamou à parte os seus doze discípulos e, no caminho, disse-lhes:
18 Eis que vamos para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas, e condená-lo-ão à morte. 19 E o entregarão aos gentios para que dele escarneçam, e o açoitem, e crucifiquem, e ao terceiro dia ressuscitará. 20 Então, se aproximou dele a mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, adorando-o e fazendo-lhe um pedido. 21 E ele diz-lhe: Que queres? Ela respondeu: Dize que estes meus dois filhos se assentem um à tua direita e outro à tua esquerda, no teu Reino. 22 Jesus, porém, respondendo, disse: Não sabeis o que pedis; podeis vós beber o cálice que eu hei de beber e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado? Dizem-lhe eles: Podemos. 23 E diz-lhes ele: Na verdade bebereis o meu cálice, mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence dá-lo, mas é para aqueles para quem meu Pai o tem preparado. |
Él dio a conocer [ya] la causa de la escisión de las almas, cual ha de sobrevenir a los edificios, como hemos podido comprobarlo en un lugar del evangelio que está divulgado entre los judíos, en lengua hebrea, donde se dice: Yo he de escogerme los que me complazcan; [y éstos son] los que me da mi padre en el cielo. (Theoph. [siríaca] IV 12) |
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Marcus, 41 E os dez, tendo ouvido isso, começaram a indignar-se contra Tiago e João. 42 Mas Jesus, chamando-os a si, disse-lhes: Sabeis que os que julgam ser príncipes das suas gentes se assenhoreiam delas, e os seus grandes usam de autoridade sobre elas; 43 mas entre vós não será assim; antes, qualquer que, entre vós, quiser ser grande será vosso criado 44 E qualquer que, dentre vós, quiser ser o primeiro será escravo de todos. 45 Porque também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos. |
Mateus, 24 E, quando os dez ouviram isso, indignaram-se contra os dois irmãos. 25 Então, Jesus, chamando-os para junto de si, disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados e que os grandes exercem autoridade sobre eles. 26 Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser, entre vós, fazer-se grande, que seja vosso criado 27 e qualquer que, entre vós, quiser ser o primeiro, que seja vosso ou escravo 28 bem como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e para dar a sua vida em resgate de muitos. |
Lucas: 18: 31 E, tomando consigo os doze, disse-lhes: Eis que subimos a Jerusalém, e se cumprirá no Filho do Homem tudo o que pelos profetas foi escrito. 32 Pois há de ser entregue aos gentios e escarnecido, injuriado e cuspido; 33 e, havendo-o açoitado, o matarão; e, ao terceiro dia, ressuscitará. 34 E eles nada disso entendiam, e esta palavra lhes era encoberta, não percebendo o que se lhes dizia.
Textualmente podemos concluir que as manipulações dos evangelhos começaram muito cedo ao gosto e ao sabor da memória e da imaginação dos diversos líderes das primeiras comunidades cristãs que, como todos os “movimentos nascentes” estiveram eivados de divergências (heresias) e dissidências logo desde o Pentecostes em que metaforicamente encontramos os discípulos cada um a falar para seu lado!
Atos 2: Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. 2 De repente veio do céu um ruído, como que de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. 3 E lhes apareceram umas línguas como que de fogo, que se distribuíam, e sobre cada um deles pousou uma. 4 E todos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem.
Uma das vantagens da fé é não ter que pensar muito sobre acontecimentos reportados em directo, e menos ainda sobre eventos passados há vinte séculos sem Plínio, nem Tácito, nem Seutóneo, etc. por perto.
Vinum laetificat cor homnis! Se os discípulos estariam ainda sobre o efeito dos excessos naturais do ágape da véspera e / ou foram surpreendidos por mais uma das encenações mágicas, neste caso possivelmente festivas, dos essénicos que frequentavam a casa da mãe de João Marcos, a verdade é que a última frase é sugestiva duma segunda leitura mais naturalista: * E estando todos de cabeça quente e de língua solta por estarem cheios de espírito etílico começaram a desentender-se com bizantinices, conforme a imaginação criativa de cada um (reclamando cada um a sua parte do legado espiritual de Jesus!)
Na verdade estas querelas já vinham detrás! Em todas as predições da Paixão havia sempre alguns discípulos que aproveitavam o momento para retirarem dividendos políticos do que supunham ser a estratégia messiânica de Jesus. Embora esta tenha sido sempre confusa para os discípulos estes, em momento algum deixarem de a entender como qualquer judeu medianamente a entenderia: uma conquista do poder sacerdotal do templo, no mínimo!
Por isso deverá ser assim que vamos entender o Evangelho de Judas:
Quando seus discípulos ouviram isso, ficaram zangados e começaram a ficar furiosos, ameaçando-o em seus corações. Ao ver sua falta de compreensão, Jesus falou-lhes: “Por que essa notícia vos irrita? Vosso Deus, que está convosco, (é que) (35) provocou a vossa ira em vossas almas. Deixai cada um dentre vós, que é forte o suficiente, para produzir o homem perfeito dentre os homens e conduzi-lo ante minha face”. Todos disseram: “Nós temos a força”.
Mas seu ânimo era muito fraco para enfrentá-lo, com excepção de Judas Iscariotes. Ele foi capaz de colocar-se à sua frente, mas não conseguiu olhar em seus olhos e baixou sua cabeça. Judas falou a Jesus: “Eu sei quem tu és e donde vieste. Tu vens do reino eterno de Barbelo e sou indigno de pronunciar o nome daquele que te enviou”. Sabendo que Judas reproduzira algo sublime, Jesus falou-lhe:
“Afasta-te dos outros e eu te revelarei os mistérios desse reino. Tu tens a possibilidade de chegar a esse reino, mas passarás grande sofrimento (36). De contrário, algum outro terá que cumprir tua tarefa, para que os doze possam voltar a ser um com seu Deus”.
Judas, porém, disse-lhe: “Quando tu me revelarás essas coisas? Quando irromperá o grande dia da luz sobre essa geração”? Mas, quando ele disse isso, Jesus desapareceu. -- Evangelho de Judas.
Tentando entrar na onda do registo de linguagem gnóstica dos interlocutores podemos aceitar que, depois da cena da Transfiguração, Judas considerava Jesus como um enviado celeste mas não podemos ter a certeza que Jesus estaria no mesmo registo. A única coisa que sabemos é que Jesus tinha uma missão muito especial e arriscada para Judas que se por um lado o colocaria contra os outros discípulos por outro os iria salvar da dispersão. De qualquer modo Jesus foi avisando que se Judas recusasse a missão outrem teria que a cumprir porque estava determinado a dar aos discípulos desanimados um motivo de orgulho e regozijo com a sua morte e ressurreição como Cristo o que iria ser o núcleo salvífico da futura igreja.
No fundo tratava-se de uma rendição táctica que só Judas começava a entender.
Judas disse: “Mestre, agora que ouviste a todos, ouve-me também a mim, pois eu tive uma visão grandiosa”. Ao ouvir isso, Jesus riu e disse-lhe: “Tu, décimo terceiro espírito, por que tentas sempre de novo? Mas fala, que aguentarei contigo”.
Judas disse-lhe: “Na visão vi-me a mim mesmo sendo apedrejado pelos doze discípulos (que) me perseguiam seriamente.
(…).
Judas disse: “Mestre, pode ser que minha semente seja controlada pelos governantes?” Jesus respondeu-lhe, dizendo: “Vê, eu (faltam 2 linhas, que se devem referir à predição da Paixão), mas tu te afligirás muito, quando vires o reino e todas as suas gerações”. Quando ele ouviu isso, Judas disse-lhe: “Para que é bom que eu receba isso? Que tu me escolheste dessa geração”? Jesus, porém, respondeu, dizendo: “Tu serás o décimo terceiro e serás amaldiçoado pelas gerações vindouras e virás para dominar sobre elas. Nos últimos dias, amaldiçoarão a tua elevação (47) para a geração dos santos”.
(...)
Depois disso, Jesus riu. Judas disse: “Mestre, por que ris”?
Jesus respondeu, dizendo: “Não rio por causa de vós, mas dos erros das estrelas, pois essas seis estrelas vagam com esses cinco adversários e todos perecerão juntos com as suas criaturas”. -- Evangelho de Judas.
[1] Jesus answered: "And you; what say you that I am?" Peter answered: "You are Christ, son of God." Then was Jesus angry, and with anger rebuked him, saying: "Begone and depart from me, because you are the devil and seek to cause me offences And he threatened the eleven, saying: "Woe to you if you believe this, for I have won from God a great curse against those who believe this." And he was fain to cast away Peter; whereupon the eleven besought Jesus for him, who cast him not away, but again rebuked him saying: "Beware that never again you say such words, because God would reprobate you!" Peter wept and said: "Lord, I have spoken foolishly; beseech God that he pardon me."
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