quarta-feira, 16 de junho de 2021

VI A PAIXÃO DE CRISTO - 1 JULGAMENTO OU ACORDO POLÍTICO? Por arturjotaef

Figura 1: Jesús en casa de Anás. (Museo del Prado José de Madrazo)

Diz o magistrado Cohn: alguns pesquisadores sustentam que "de tudo que está escrito nos Evangelhos, só podemos aceitar que Jesus viveu e foi crucificado, sendo o resto meros adornos para maior glória da fé". E acrescenta que "a interpretação dos acontecimentos descritos nos Evangelhos é uma questão aberta, e todo aquele que os ler ou analisar poderá fazer a sua própria interpretação... No que diz respeito às causas do julgamento de Jesus e à sua condenação, como também às circunstâncias, ao fundamento e ao objecto do julgamento, não aceitaremos o que está escrito nos Evangelhos como testemunhos indubitáveis; nossa atitude para com eles será a de um juiz cuidadoso e neutro, com a liberdade absoluta de quem tem diante de si um livro aberto".

Em boa verdade, não há sequer suporte histórico para aceitar que o julgamento de Jesus tenha sido um facto oficial pela simples razão de que nem mesmo um julgamento sumário poderia ter acontecido num tão curto espaço de tempo e muito menos um julgamento com pena capital.

26:59 La condamnation de Jésus Christ: A cette époque, la région était une colonie romaine où le droit romain s'appliquait. Et en matière de peine de mort (la crucifixion de JC), Ponce Pilate n'avait absolument pas le pouvoir d'agir comme il l'aurait fait. Jamais un magistrat romain n'aurait permis qu'on appliqua un supplice romain en exécution d'une condamnation prononcée par une juridiction locale (Jésus aurait du être lapidé). De même la convocation du Sanhédrin et la condamnation de Jésus constituent des énormités historiques qui reflète la méconnaissance des rédacteurs des évangiles. Le Sanhédrin ne pouvait siéger valablement qu'au temple, de jour et en dehors des fêtes et veilles de fêtes religieuses. A l'époque, il était hors de question de monter un procès la nuit, la veille de la Pâques. Les innombrables contradictions historiques du procès montrent que le récit du procès et les évangiles sont imaginaires. La volonté des rédacteurs des Évangiles de faire porter la responsabilité de la mort de JC aux juifs est pathétique. -- Les erreurs, les plagiats et les fausses prédictions de la Bible[1]

Sendo assim, aceitando como altamente improvável que todo o movimento revolucionário do cristianismo primitivo tenha tido por suporte uma pura ficção, teremos que aceitar que o que estes mesmos cristãos entenderam como tendo sido um julgamento injusto foi apenas uma farsa de julgamento consubstanciado numa mera troca de condenados, objectivamente falando, entre Barrabás e Jesus. Obviamente que Barrabás já teria sido julgado e condenado e então, o que aconteceu e os discípulos de Jesus nunca entenderam, foi tão somente um acordo pelo qual se entregou à morte na cruz romana em substituição de Barrabás, o filho do mestre Jesus que os beatos cristãos nunca souberam ver que seria o seu filho primogénito. Obviamente porque a deificação de Jesus já em marcha imparável pressupunha a sua total impureza e, portanto, também a sua absoluta virgindade.

O Julgamento de Jesus pelos sumos-sacerdotes:

Marcos, 14: 53 E levaram Jesus ao sumo sacerdote, e ajuntaram-se todos os principais dos sacerdotes, e os anciãos, e os escribas.

54 E Pedro o seguiu de longe até dentro do pátio do sumo sacerdote e estava assentado com os oficiais aquentando-se ao lume.

55 E os principais dos sacerdotes e todo o concílio buscavam algum testemunho contra Jesus, para o matar, e não o achavam. 56 Porque muitos testificavam falsamente contra ele, mas os testemunhos não eram coerentes. 57 E, levantando-se alguns, testificavam falsamente contra ele, dizendo: 58 Nós ouvimos-lhe dizer: Eu derribarei este templo, construído por mãos de homens, e em três dias edificarei outro, não feito por mãos de homens. 59 E nem assim o testemunho deles era coerente.

Mateus, 26:

 

 

 

58 E Pedro o seguiu de longe até ao pátio do sumo sacerdote e, entrando, assentou-se entre os criados, para ver o fim.

 

59 Ora, os príncipes dos sacerdotes, e os anciãos, e todo o conselho buscavam falso testemunho contra Jesus, para poderem dar-lhe a morte,

 

 

60 e não o achavam, apesar de se apresentarem muitas testemunhas falsas, mas, por fim, chegaram duas 61 e disseram: Este disse: Eu posso derribar o templo de Deus e reedificá-lo em três dias.

Esta introdução ao julgamento de Jesus é única em Marcos e Mateus que contam praticamente o mesmo assim com algumas nuances que serão desmentidas pelos restantes canónicos. Estranha-se que ainda estivesse frio na Palestina no início da Primavera ao ponto de Pedro ter sentido necessidade de se aquecer ao lume com os criados havendo, portanto, a hipótese de o julgamento ter começado no Outono por altura da festa dos Tabernáculos que foi quando de deu o Domingo de ramos como já se referiu.

Mateus, mais opinioso, considerou que Pedro estaria demasiado inquieto com a expectativa do fim do julgamento do deus mestre para se ter dado a tal descanso. No entanto, já no Getsémani tinha sido admoestado de se ter deixado adormecer!

“E levaram Jesus a (casa d)o sumo sacerdote, e ajuntaram-se todos os principais dos sacerdotes, e os anciãos, e os escribas e (reunidos em) conselho buscavam falso pretexto contra Jesus, para poderem dar-lhe a morte, e não o achavam, apesar de se apresentarem muitas testemunhas falsas, mas, por fim, chegaram duas que disseram: Este disse: Eu posso derrubar o templo de Deus e reedificá-lo em três dias.”

Ora, objectivamente neste ponto quem não dá testemunho coerente é Marcos porque este pode ser verdadeiro, uma vez que não é explicitamente falso em Mateus e aparece em João como sendo uma das muitas ironias paradoxais de Jesus.

João 2: 16 Disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes e não façais da casa de meu Pai casa de vendas. 17 E os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua casa me devorará. 18 Responderam, pois, os judeus e disseram-lhe: Que sinal nos mostras para fazeres isso? 19 Jesus respondeu e disse-lhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei. 20 Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos, foi edificado este templo, e tu o levantarás em três dias?

O informador de Marcos já teria esquecido esta provocação metafórica de Jesus que mais não era do que uma variante sibilina do “sinal de Jonas”. Mateus, porém, talvez a conhecesse e preferiu não qualificar este testemunho. Obviamente que o concelho não poderia apoiar aqui o seu pretexto para fazer com que Pilatos condenasse Jesus à pena capital. Por outro lado, sabemos por João que não foi o sumo-sacerdote quem presidiu a este concelho mas Anás, o sogro deste, pelo que começa a ser duvidoso que se tratasse duma reunião do Sinédrio. Por isso Marcos e, em parte por arrastamento, Mateus vão continuar a laborar no erro dum julgamento pelo Sinédrio não porque tal tivesse sido um facto mas porque a regularidade dum julgamento o pressuporia.

Marcos, 14: 60 E, levantando-se o sumo sacerdote no Sinédrio, perguntou a Jesus, dizendo: Nada respondes? Que testificam estes contra ti? 61 Mas ele calou-se e nada respondeu. O sumo sacerdote lhe tornou a perguntar e disse-lhe: És tu o Cristo, Filho do Deus Bendito? 62 E Jesus disse-lhe: Eu o sou, e vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-poderoso e vindo sobre as nuvens do céu. 63 E o sumo sacerdote, rasgando as suas vestes, disse: Para que necessitamos de mais testemunhas? 64 Vós ouvistes a blasfémia; que vos parece? E todos o consideraram culpado de morte.

 

(Maus Tratos)

Mateus, 26: 62 E, levantando-se o sumo sacerdote, disse-lhe: Não respondes coisa alguma ao que estes depõem contra ti? 63 E Jesus, porém, guardava silêncio. E, insistindo o sumo sacerdote, disse-lhe: Conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus. 64 Disse-lhes Jesus: Tu o disseste; digo-vos, porém, que vereis em breve o Filho do Homem assentado à direita do Todo-poderoso e vindo sobre as nuvens do céu. 65 Então, o sumo sacerdote rasgou as suas vestes, dizendo: Blasfemou; para que precisamos ainda de testemunhas? Eis que bem ouvistes, agora, a sua blasfêmia. 66 Que vos parece? E eles, respondendo, disseram: É réu de morte.

(Maus Tratos)

Lucas, 22: (...) 66 E logo que foi dia, ajuntaram-se os anciãos do povo, e os principais dos sacerdotes, e os escribas, e o conduziram ao seu concílio, 67 e lhe perguntaram:

Se tu és o Cristo, dize-nos. Ele replicou: Se vo-lo disser, não o crereis; 68 e também, se vos perguntar, não me respondereis, nem me soltareis. 69 Desde agora, o Filho do Homem se assentará à direita do poder de Deus. 70 E disseram todos: Logo, és tu o Filho de Deus? E ele lhes disse: Vós dizeis que eu sou. 71 Então, disseram: De que mais testemunho necessitamos? Pois nós mesmos o ouvimos da sua boca.

 

 

(Maus Tratos com Herodes)

 

 

 

 

João, 18: 12 Então, a coorte, e o tribuno, e os servos dos judeus prenderam a Jesus, e o manietaram, 13 e conduziram-no primeiramente a Anás, por ser sogro de Caifás, que era o sumo sacerdote daquele ano. 14 Ora, Caifás era quem tinha aconselhado aos judeus que convinha que um homem morresse pelo povo. 24 Anás mandou-o, manietado, ao sumo sacerdote Caifás.

(1ª Negação de Pedro)

(2ª Negação de Pedro)

19 E o sumo sacerdote interrogou Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina. 20 Jesus lhe respondeu: Eu falei abertamente ao mundo; eu sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde todos os judeus se ajuntam, e nada disse em oculto. 21 Para que me perguntas a mim? Pergunta aos que ouviram o que é que lhes ensinei; eis que eles sabem o que eu lhes tenho dito. (Maus Tratos)

Na verdade não foi como se comprova em S. João, onde nem sequer se encontra um arremedo de Julgamento feito na presença do sumo-sacerdote. Mas os textos de S. João devem ter andado muito baralhados em termos de compilação como algumas investigações já o demonstraram. Neste caso é quase seguro que o versículo 28 está fora do lugar onde deveria estar para a narrativa fazer sentido.

Os sinópticos entram finalmente em sintonia por causa do testemunho de Marcos. Ora, se este era o discípulo amado, entrou na casa de Anás, como testemunha S. João da versão do 4º evangelho, e deu conta de tudo!

Existem algumas teorias que tentam opor a tese extrema dos evangelhos dum Jesus condenado apenas pela má vontade dos Judeus a outra extrema de que os judeus tentaram pedir clemência junto de Pilatos a favor de Jesus e que seria este o significado do estranho facto de “os principais dos sacerdotes incitarem a multidão para que fosse solto antes Jesus Barrabás” que o evangelho dos Hebreus diria ter nome de Jesus! Obviamente que esta tese não faz nenhum sentido na medida em que o sinédrio poderia ter logo soltado Jesus a menos que este já estivesse indiciado pelos romanos por pena capital o que, a sequência de todos os evangelhos não apoia! Até aqui só se pode entender que, não tendo havido um julgamento formal, o sumo-sacerdote apenas tentaria entender a razão pela qual Jesus se entregava em troca de Barrabás, um gesto que subitamente terá deixado os altos dignitários da nação judaica um pouco confusos a respeito do carácter de Jesus! Mas daí a suspeitar-se que o sumo-sacerdote tenha ficado com dúvidas a respeito da qualidade messiânica de Jesus seria dar um passo longo demais! S. João que parece ser o mais bem informado não refere a questão messiânica mas os restantes sinópticos referem-no de formas que podem ser resumidas deste modo:

“E, levantando-se o sumo-sacerdote, disse-lhe: Não respondes coisa alguma ao que estes depõem contra ti? Jesus, porém, guardava silêncio. Insistindo o sumo-sacerdote, disse-lhe: Conjuro-te pelo Deus Vivo que nos digas se tu és o messias prometido por Deus! Se vo-lo disser, não o crereis; e também, se vos perguntar (se achais que eu sou) não me respondereis (nem me soltareis).”

Obviamente que se Jesus quisesse ser solto não se tinha entregado voluntariamente, como os próprios padres da Igreja o crêem!

Nuestro Señor no soportó los tormentos de la Cruz por casualidad, o contra su voluntad, pues Él había escogido este tipo de muerte desde toda la eternidad, como enseña San Agustín por el testimonio del Apóstol: «Jesús de Nazaret, que fue entregado según el determinado designio y previo conocimiento de Dios, vosotros le matasteis clavándole en la cruz por manos de los impíos». Y así Cristo, desde el principio de su prédica, dijo a Nicodemo: «Como Moisés levantó la serpiente en el desierto, así tiene que ser levantado el Hijo del Hombre, para que todo el que crea tenga por Él vida eterna». Muchas veces habló a sus Apóstoles sobre su Cruz, alentándolos a imitarlo a Él: «Si alguno quiere venir en pos de mí, niéguese a sí mismo, tome su cruz y sígame». -- San Roberto Belarmino, Sobre las siete palabras pronunciadas por Cristo en la Cruz

Ou então a história anda mesmo mal contada. De facto, existe uma tese judaica que afirma que Jesus acreditaria que ao verdadeiro messias bastaria subir ao monte das oliveiras e pôr-se de mãos erguidas ao céu para que um exército de anjos viesse junto às portas da cidade ajuda-lo a reconquistar o trono messiânico de Israel! Obviamente que frases como a seguinte parecem indiciar a existência desta crença popular a respeito do poder do Messias!

“Digo-vos, porém, que vereis em breve o Filho do Homem assentado à direita do Todo-poderoso e vindo sobre as nuvens do céu.”

Era Jesus que acreditava na literalidade destas expressões de parusia místicas ou apenas alguns dos seus seguidores que verteram estas esperanças milenaristas nos evangelhos e apocalipses que se lhe seguiram? A resposta possível a estas questões já foi abordada a propósito da Expulsão dos Vendilhões do Templo.

 

Ira para: V A FALHA NA TOMADA DO TEMPLO

3 EXPULSÃO DOS VENDILHÕES (***)

 

Por isto mesmo é que o evangelho de S. João contrasta neste ponto tanto dos restantes sinópticos. Jesus que até então se tinha sempre recusado a admitir que era o messias não seria agora que iria fazê-lo a não ser que fosse essa a condição da sua troca por Barrabás! Mas mesmo assim tê-lo-á feito de forma pouco clara e é duvidoso que se tenha assumido como Messias, o Filho de Deus!

Ora, no momento solene como seria de supor ser o do julgamento de Jesus o credo cristão deveria ser aqui mais claro e inequívoco do que nunca! Porém, de modo algum poderemos dizer que os canónicos gritam em uníssono a mesma fé em Jesus Cristo, filho de Deus!

Marcos, 14: És tu o Messias (Cristo), Filho do Deus Bendito? 62 E Jesus disse-lhe: Eu o sou, e vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-poderoso e vindo sobre as nuvens do céu.

Mateus, 26: Conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Messias (Cristo), o Filho de Deus. 64 Disse-lhes Jesus: Tu o disseste; digo-vos, porém, que vereis em breve o Filho do Homem assentado à direita do Todo-poderoso e vindo sobre as nuvens do céu.

Lucas, 22: Se tu és o Messias (Cristo), dize-nos. Ele replicou: Se vo-lo disser, não o crereis; 68 e também, se vos perguntar (quem é o Messias), não me respondereis, nem me soltareis. 69 Desde agora, o Filho do Homem se assentará à direita do poder de Deus. 70 E disseram todos: Logo, és tu o Filho de Deus? E ele lhes disse: Vós dizeis que eu sou.

João, 18: 19 E o sumo-sacerdote interrogou Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina...

Ao que Jesus respondeu divagando no melhor estilo do 4º evangelho!

Enfim, nem unanimidade na forma nem no conteúdo! Para que houvesse um mínimo de congruência interna em relação à precedência que todos os Evangelhos tiveram de Marcos as interpolações piedosas, a que os textos originais foram submetidos, revelam-se espantosas. Não podemos ter a certeza se Jesus acreditava mesmo que era o Filho do Homem no sentido messiânico que os essénicos lhe davam ou se meramente tentava o melhor que sabia e podia para assumir esse papel com profunda convicção! De qualquer modo são vários os textos que reportam para data incerta a vinda solene do Filho do Homem (Aramaico “Barnasha”) no sentido do messianismo de Jesus[2]!

Mas voltando ao cerne da blasfémia que terá levado à condenação de Jesus por grave crime contra a fé judaica devemos, entretanto, fazer um pequeno périplo pelo conceito messiânico implícito nesta expressão: “vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-poderoso e vindo sobre as nuvens do céu”!

A carga mística desta oração é muito forte porque é de antiquíssima tradição reportando-se à civilização de Ugaríte onde Baal era o filho de Deus El que tinha por maior epíteto precisamente o de cavaleiro das nuvens!

Ugarit / Baal Cycle

Daniel 7

(B) El bestows kingship upon the god Baal, the Cloud-Rider, after Baal defeats the god Yamm in battle.

(B) Yahweh-El, the Ancient of Days, bestows kingship upon the Son of Man who rides the clouds after the beast from the sea (yamma) is destroyed.

(...)

It is well known that Jesus’ favorite title for himself while on earth was “son of man.” The term means two things: (1) human being (Jesus enjoyed being human!), and (2) the deity figure to whom all authority was given. The latter usage is perfectly evident in Matthew 26, as Jesus stood before Caiaphas — someone who knew his Old Testament — waiting to fulfill his destiny on the cross. When asked to give the Sanhedrin a straight answer about who he was, Jesus quoted Daniel 7:

63 But Jesus remained silent. And the high priest said to him, “I adjure you by the living God, tell us if you are the Christ, the Son of God.” 64 Jesus said to him, “You have said so. But I tell you, from now on you will see the Son of Man seated at the right hand of Power and coming on the clouds of heaven.” (ESV)

By quoting this passage, Jesus was making an overt, unmistakable claim to be deity—he in fact was the one who rides on the clouds.  That this is no exaggerated interpretation is evident from Caiaphas’ reaction:

65 Then the high priest tore his robes and said, “He has uttered blasphemy. What further witnesses do we need? You have now heard his blasphemy.” (ESV)

The statement is only blasphemous if one is claiming to be the rider on the clouds. That idea may have been acceptable to Jews at the time, but it was simply intolerable that this man Jesus of Nazareth would claim to be the incarnation of the second power. What most of us might think is an odd answer, or even a deliberate deflection of Caiaphas’ demand, is the exact opposite. Jesus could not have been more blunt. He was the “second deity” of Daniel 7. -- What's Ugaritic Got to Do with Anything? Dr. Michael S. Heiser, Academic Editor, Logos Bible Software.

De qualquer modo é possível que Jesus assumisse tanto este papel como este epíteto de sentido messiânico arcaico e a frase, em si inocente e ambígua, “vereis o “Barnasha” assentado à direita do Todo-poderoso” tivesse provocado algum sururú na comitiva de saduceus que rodeava o sumo-sacerdote Caifás. O resto aconteceu por pura imaginação inventiva dos discípulos mais cristãos que Jesus e que com a precipitação dos estranhos acontecimentos posteriores À ressurreição depressa iniciaram o processo de canonização de Jesus elevando-o duma assentada de Santo “Barnasha” a, filho de Deus! A divinização, no entanto, só deve ter começado entre os helenistas, sobretudo entre os ousados romanos que divinizavam os seus Senhores com a mesma facilidade com que eliminavam da história povos e nações!

Marcos espanta por ser a primeira vez que põe Jesus a assumir-se claramente como messias e filho de Deus! Quase seguramente que este «eu sou» foi uma interpolação, pois, está aqui em total desacordo com o contexto geral do seu evangelho! Quando Mateus copiou Marcos não encontrou este “eu sou” acintoso e imaginou que lá deveria ter estado uma resposta capciosa ao jeito de Jesus como “tu o disseste” coisa que de nada vale em tribunal por ser uma petição de princípios arrogante e pueril já que quem pergunta não afirma, como qualquer aluno de escolaridade primaria sabe.

A sorte dos evangelhos foi o terem começado a ser lidos por analfabetos e quando mais tarde os teólogos tomaram conta deles a Igreja deu conta que os dogmas bizantinos só sobreviriam se o povo continuasse analfabeto e os letrados fossem obrigados a lê-los em latim.

Se uma das razões para a facilidade da penetração do árabe no mundo foi a necessidade de os islamitas lerem o alcorão, a razão da decadência das línguas latinas no ocidente deve-se ao pouco esforço que a igreja fez para que o povo lesse e entendesse o novo testamento em latim.

Os orientais já estavam de há muito habituados à hipocrisia palaciana e às contradições da mitologia pelo que nunca se preocuparam com as contradições dos textos sagrados que, pelos contrários, salvo a guerra dos iconoclastas, os divertia com discussões bizantinas.

Lucas, mais familiarizado com as regras lógicas helenistas, terá comparado os dois sinópticos que o antecederam e ficado confuso. Então imagina uma resposta inverosímil para corrigir a falta de resposta de Jesus desdobrando-a engenhosamente em dois tempos o que só demonstra insegurança e falta de convicção! Na verdade, se Jesus tinha acabado de falar no filho do Homem nunca o sumo-sacerdote faria a má figura, perante os homens mais inteligentes da nação, de inferir que Jesus estava logicamente a afirmar que era filho de Deus! Agora Jesus passaria a ter alguma razão ao retorquir que a conclusão era da responsabilidade dele! Enfim, a verdade é que Jesus também nunca é colocado a dizer categoricamente que não era filho de Deus!

Mas será que um sumo-sacerdote judeu alguma vez cometeria a blasfémia de fazer perguntas destas sem por em causa a sua fé inabalável num monoteísmo absoluto? Um judeu convicto e inteligente jamais aceitaria, mesmo implicitamente, que alguém admitisse, sem estar louco, que era um filho de Deus! A pergunta seria néscia ou serviria para livrar Jesus da morte por insanidade mental! Logo, este versículo começado por Marcos deve ter sido pura invenção de Pedro que estando no pátio a contas com a justiça dos serviçais do sinédrio também nada poderia saber do que se estava a falar no interior da casa de Anás! João Marcos seria à época ainda considerada criança demais para ter acesso a negociatas de alta política de estado! Mais tarde ter-se-á informado do sucedido, tal como terá feito sua irmã, junto de amigos e o resultado terá sido o que ficou registado no 4º evangelho!

Retirando a carga apologética deste pseudo inquérito prévio acabamos por ficar com a impressão que tudo se terá passado numa amena cavaqueira em que, Jesus, pela primeira vez não foi o mestre da dialéctica, mas, o bobo da corte!

O mesmo se passará adiante com Herodes. Dito de outro modo, todos os que até então tinham querido ver-se livres de Jesus terão começado a ter alguma simpatia ou pena por ele ou a sentirem-se um pouco constrangidos, pois, teriam preferido apanha-lo numa situação mais flagrante!

De qualquer modo, pelo carácter sumaríssimo do inquérito oral parece que já existiria um inquérito escrito, elaborado desde vários meses, supostamente desde a festa dos tabernáculos e a pena capital, embora desejada, tinha pouco fundamento legal, mas era afinal a condição desta entrega voluntária de Jesus. Obviamente que só se entende esta situação se, aquilo que os cristãos resolveram misticamente considerar como um acto de traição (bem conhecida de Jesus, o Deus que tudo sabia e previa mas que, suspeitamos, só saberia do que planeava bem!) for tido como uma entrega negociada e planeada!

 

JULGAMENTO LAICO


Numa análise mais profunda do Direito antigo, para verificar se os judeus – embora tendo suas próprias normas, mas achando-se sob o domínio romano – tinham o poder de aplicar a pena de morte, o magistrado Cohn leva-nos a melhor refletir sobre a condenação e crucificação de Jesus. Mostra, por exemplo, os seguintes registros:

·           de um sumo-sacerdote que solicitou autorização do governador romano para convencer o Sinédrio para tratar de um possível caso de pena de morte;

·           que em papiros egípcios se encontra que governadores romanos no Egipto costumavam utilizar os tribunais locais para efectuar investigações preliminares;

·           a tradição encontrada, tanto no Talmude da Babilônia como no Talmude de Jerusalém, segundo a qual, quarenta anos antes da destruição do templo, foi retirada de Israel a autoridade para impor a pena de morte.

Assim, o autor Haim Cohn conclui: se, quarenta anos antes da destruição do templo, já se havia tirado os judeus o direito de julgar questões penais de vida ou morte, não poderia ter sido um tribunal judeu que condenou Jesus à pena capital.

João, 19: 28 Depois, levaram Jesus da casa de Caifás para a audiência. E era pela manhã cedo. E não entraram na audiência, para não se contaminarem e poderem comer a Páscoa. 29 Então, Pilatos saiu e disse-lhes: Que acusação trazeis contra este homem? 30 Responderam e disseram-lhe: Se este não fosse malfeitor, não to entregaríamos. 31 Disse-lhes, pois, Pilatos: Levai-o vós e julgai-o segundo a vossa lei. Disseram-lhe, então, os judeus: A nós não nos é lícito matar pessoa alguma. 32 (Para que se cumprisse a palavra que Jesus tinha dito, significando de que morte havia de morrer.)

Indirectamente o comentário pessoal do autor do 4.º evangelho acaba por revelar parte da verdade! Jesus iria ser sujeito à pena capital por sua própria decisão e palavra de honra dada...num prévio acordo com o sinédrio!

Mas a pena que Jesus pretendia só poderia ser aplicada pelos romanos. O jogo de alta intriga política que isto envolveu ficou na história evangélica como um mistério que acabou por ser utilizado conforma as conveniências da política ideológica da Igreja. Antes de Constantino os romanos eram vistos como os maus da fita porque o eram de facto durante as perseguições. Na Palestina os saduceus foram sempre inimigos dos cristãos e quando os romanos passaram a amigos ficaram apenas os judeus como inimigos fundadores do cristianismo! Mas a verdade é que o propósito de Jesus e dos saduceus era quase o mesmo: a salvação da nação judaica. Porém Jesus tinha para isso uma proposta mais radical de raiz ideológica essénia que passava por uma nova concepção do templo e era extensiva a todas as ovelhas tresmalhadas da casa de Israel!

"Em resumo", - esclarece o autor- , "o Sinédrio só estava autorizado a julgar delitos segundo a lei judia, assim como o governador romano só estava autorizado a julgar delitos segundo o Direito Romano".

Por exemplo, profanar o templo não representava delito, de acordo com o Direito Romano, mas o era segundo o Direito Judeu: nesse caso, o governador romano poderia entregar o assunto para o Sinédrio. (...)

O magistrado Haim Cohn, depois de analisar tantos documentos e de confrontar as inúmeras versões sobre o julgamento de Jesus, pondo inclusive por terra a eventual conspiração de Judas, que teria ajudado, por moedas, na busca e prisão do Nazareno (porque Jesus era sumamente conhecido, e os seus percursos em Jerusalém e nos arredores eram de conhecimento geral, não havendo objetivo real e justificativa plausível para a traição, nem razão histórica para isso), mostra-se propenso em aceitar que o relato do Evangelho de João é o mais coerente: segundo esse evangelista, Jesus foi preso por "um tribuno romano no comando de sua corte, toda ou parte dela, em presença da guarda do templo". Entende que o relato merece fé, e já foi aceito pela maioria dos pesquisadores, "porque, de todos os evangelistas, é João o que mais exagera na defesa dos romanos e na crítica aos judeus".

Obviamente que a forma como Jesus foi preso é irrelevante para atribuir culpas específicas a quem quer que seja pela morte de Jesus porque as irregularidades e contradições processuais só provam o quanto de atípico existiu neste processo que hoje seria considerado uma farsa, que há dois mil anos o sinédrio não subscreveria e que, portanto, só pode ter acontecido com a cumplicidade de todos os envolvidos, incluindo Jesus, Judas e José de Arimateia! A cumplicidade de Herodes é mais difícil de entender e obviamente de aceitar pelos crentes como tendo sido solicitada por Jesus. No entanto, este seria a pessoa mais indicada para fazer com que Pilatos mandasse trocar um rebelde preso por Pilatos por esta espécie de pobre diabo, em que subitamente Jesus se transformou!

Por outro lado sé assim se entende o julgamento por Herodes referido apenas por Lucas e que muitos autores consideram por isso como de pouca historicidade.

Some scholars believe that Jesus' trial by Herod Antipas is unhistorical. Robin Lane Fox, for example, argues that the story was invented based on Psalm 2, in which "the kings of the earth" are described as opposing the Lord's "anointed", and also served to show that the authorities failed to find grounds for convicting Jesus. Helen Bond argues that the trial is probably a literary composition designed to parallel the trials of Paul.

Lucas, 23: 6 Então, Pilatos, ouvindo falar da Galiléia, perguntou se aquele homem era galileu. 7 E, sabendo que era da jurisdição de Herodes, remeteu-o a Herodes, que também, naqueles dias, estava em Jerusalém. 8 E Herodes, quando viu a Jesus, alegrou-se muito, porque havia muito que desejava vê-lo, por ter ouvido dele muitas coisas; e esperava que lhe veria fazer algum sinal. 9 E interrogava-o com muitas palavras, mas ele nada lhe respondia. 10 E estavam os principais dos sacerdotes e os escribas acusando-o com grande veemência. 11 E Herodes, com os seus soldados, desprezou-o, e, escarnecendo dele, vestiu-o de uma roupa resplandecente, e tornou a enviá-lo a Pilatos. 12 E, no mesmo dia, Pilatos e Herodes, entre si, se fizeram amigos; pois, dantes, andavam em inimizade um com o outro.

Que Marcos não tenha falado desta cena entende-se porque se calhar foi tão secreta que nem os discípulos o souberam nem entenderiam porque está fora de questão que Herodes tivesse jurisdição em Jerusalém. Mesmo na hipótese de um julgamento no local de residência do réu, ignorada pelo direito comum que quanto muito requeria um local do crime, Jesus teria sido remetido para a Galileia e não para o palácio de Herodes em Jerusalém. Mas o crime de alta traição contra César, de que Jesus era acusado na qualidade de “rei dos judeus” sem o aval do imperador, teria sempre que se ser julgado por um representante de Roma e no local onde o suposto rei reinaria, ou seja, teria que ser julgado por um perfeito romano e em Jerusalém. Assim o encontro de Jesus com Herodes deve ter sido apenas para este se inteirar da situação e da forma como este se aproveitaria politicamente do acordo apresentado pelo sinédrio e pelos advogados de Jesus para com este acordo ajustar algumas contas antigas com Pilatos! Nesta linha de pensamento vai a opinião de Robert Ambelain.

Herodes Antipas se contentó con burlarse de Jesús, cambió sus ropas, probablemente ya hechas jirones después del combate de los Olivos y de su captura, por «un ropaje luciente y lo remitió a Pilato» (Lucas, 23, 11). Y estas ropas, que los historiadores de la Iglesia estiman que eran blancas, eran las que en aquella época revestían los tribunos militares antes del combate, o las que llevaban en Roma los candidatos que pretendían ascender a una elevada función pública. Por lo tanto no había nada de infamante en el pensamiento de Herodes Antipas; devolvía a Pilato un candidato a la realeza judía, restituyéndole las vestiduras que autentificaban su pretensión; reconocía, por lo tanto, el valor de ésta. Pero al mismo tiempo rehusaba condenarlo a muerte o encarcelarlo; por el contrario, daba a Pilato un testimonio que permitía a este último mandar ejecutar a Jesús, en función de esta misma pretensión. Con esta actitud, Herodes Antipas, idumeo de nacimiento, es decir árabe, aplicaba el viejo proverbio de esas regiones: «La mano que no puedes cortar hoy, bésala». Hábil astucia por parte de ese beduino supersticioso, que no quería afrontar la venganza póstuma de aquel mago que era a sus ojos Jesús, ni la otra, más tangible aún, de la población judía fiel a los «hijos de David». -- Robert Ambelain, El hombre que creó a Jesucristo.

De certo modo começamos a pensar que a proposta de Jesus se entregar em troca de Barrabás teve a mediação proactiva do sinédrio que veria no acordo vantagens políticas para a nação Judaica! Ora, segundo o testemunho do 4º evangelho, o mais avisado a respeito da alta política judaica, pelas relações de família que os autores deste evangelho tinham, desde a ressurreição de Lázaro que o acordo teria começado a ser planeado entre Jesus e Caifás.

João 11: " 48 Se o deixamos assim, todos crerão nele, e virão os romanos e tirar-nos-ão o nosso lugar e a nação. 49 E Caifás, um deles que era sumo-sacerdote naquele ano, lhes disse: Vós nada sabeis, 50 nem considerais que nos convém que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação. 51 Ora ele não disse isto de si mesmo, mas, sendo o sumo-sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus devia morrer pela nação. 52 E não somente pela nação, mas também para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos. 53 Desde aquele dia, pois, consultavam-se para o matarem."

Os acontecimentos na presença de Pilatos devem ter sido públicos e terem envolvido uma espécie de julgamento sumário de mistura com um julgamento popular embora seja difícil de saber se a multidão de adeptos de Barrabás foi ou não uma realidade ou uma ficção dos evangelhos em resultado de erros de redacção! Na verdade não se entende muito bem um grupo de saduceus, sacerdotes e aristocratas, a apelar ao povo para que um arruaceiro, como seria o filho do mestre Jesus, fosse solto! A menos que Barrabás, ainda que filho do mestre Jesus, fosse mais conservador do que o pai, como acontece muitas vezes quando as relações familiares se extremam, e tivesse sido apanhado pelos romanos apenas como moeda de troca contra Jesus. De qualquer modo, o vespeiro judaico estava cheio de radicais de direita e de esquerda e nunca saberemos se Barrabás era um sicário ou alguém como Paulo, um espião do templo! No entanto tudo aponta para que Barrabás fosse um jovem aristocrata filho de Jesus de tendências radicais conservadoras e terá sido por isso que nunca fez parte do círculo próximo de Jesus e ficou ignorado pela história evangélica. Barrabás estaria do lado oposto da barricada onde Jesus se movimentava. Por outro lado, o facto de Barrabás não se ter convertido às razões do pai pode ter resultado de saber que só tinha sido preso por culpa dos desvarios do pai!

Marcos, 14: 1 E, logo ao amanhecer, os principais dos sacerdotes, e os anciãos, e os escribas, e todo o Sinédrio tiveram conselho; e, amarrando Jesus, o levaram e entregaram a Pilatos.

(ver João 19: 28-33)

2 E Pilatos lhe perguntou: Tu és o Rei dos judeus? E ele, respondendo, disse-lhe: Tu o dizes. 3 E os principais dos sacerdotes o acusavam de muitas coisas, porém ele nada respondia. 4 E Pilatos o interrogou outra vez, dizendo: Nada respondes? Vê quantas coisas testificam contra ti. 5 Mas Jesus nada mais respondeu, de maneira que Pilatos se maravilhava.

Mateus 27: 1 E, chegando a manhã, todos os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo formavam juntamente conselho contra Jesus, para o matarem. 2 E, manietando-o, o levaram e o entregaram ao governador Pôncio Pilatos. (Relato da morte de Judas) (ver João 19: 28-33)

11 E foi Jesus apresentado ao governador, e o governador o interrogou, dizendo: És tu o Rei dos judeus? E disse-lhe Jesus: Tu o dizes. 12 E, sendo acusado pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu. 13 Disse-lhe, então, Pilatos: Não ouves quanto testificam contra ti? 14 E nem uma palavra lhe respondeu, de sorte que o governador estava muito maravilhado.

Lucas, 23: 1 E, levantando-se toda a multidão deles, o levaram a Pilatos.

(ver João 19: 28-33)

 

2 E começaram a acusá-lo, dizendo: Havemos achado este pervertendo a nossa nação, proibindo dar o tributo a César e dizendo que ele mesmo é Cristo, o rei. 3 E Pilatos perguntou-lhe, dizendo: Tu és o Rei dos judeus? E ele, respondendo, disse-lhe: Tu o dizes. 4 E disse Pilatos aos principais dos sacerdotes e à multidão: Não acho culpa alguma neste homem.

 

 

5 Mas eles insistiam cada vez mais, dizendo: Alvoroça o povo ensinando por toda a Judéia, começando desde a Galiléia até aqui.

João, 19: 33 Tornou, pois, a entrar Pilatos na audiência, e chamou a Jesus, e disse-lhe: Tu és o rei dos judeus? 34 Respondeu-lhe Jesus: Tu dizes isso de ti mesmo ou disseram-to outros de mim? 35 Pilatos respondeu: Porventura, sou eu judeu? A tua nação e os principais dos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste? 36 Respondeu Jesus: O meu Reino não é deste mundo; se o meu Reino fosse deste mundo, lutariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas, agora, o meu Reino não é daqui. 37 Disse-lhe, pois, Pilatos: Logo tu és rei? Jesus respondeu: Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz. 38 Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade? E, dizendo isso, voltou até os judeus e disse-lhes: Não acho nele crime algum.

Mateus, seguindo literalmente Marcos, expõe uma óbvia interpolação em “contra Jesus para o matarem” que apenas não a vista por quem não quer vê-la! É duvidoso que os escrupulosos Judeus quisessem esta morte pública com pretextos jurídicos tão duvidosos. A necessidade política começa assim a adensar-se. Quem queria o rei dos judeus na cruz era seguramente Pilatos e talvez Herodes, mas o sinédrio, por uma questão de honra talvez não!

Considere-se que a crucificação foi uma punição que Roma reservou quase exclusivamente para o crime de sedição. A placa que os romanos colocaram encima da cabeça de Jesus enquanto se contorceu de dor — "Rei dos judeus" — era chamado de titulus e, apesar da percepção comum, não deveria ser sarcástico. Todo criminoso que era pendurado numa cruz recebia uma placa declarando o crime específico pelo qual ele estava sendo executado. O crime de Jesus, aos olhos de Roma, estava no esforço deste para um formar um governo real efectivo (o que, por isso, seria traição), o mesmo crime pelo qual quase todos os outros aspirantes messiânicos da época foram mortos.[3]

De outro modo não se compreenderia que o sinédrio tivesse de ser convencido por Caifás a aceitar a morte de Jesus como uma questão de salvação nacional. A baixeza de do revanchismo dos primeiros cristãos que responderiam às perseguições dos saduceus aos zelotas e seus apoiantes nasorenos com uma antipatia extensiva a todos os judeus não tem suporte na realidade da época nem mesmo com o pretexto das lutas fratricidas que as guerras envolveram.

 

Ir para: BARRABÁS (***) & FLAGELAÇÃO (***)

 

De acordo com os evangelhos canónicos, o resumo realista do Julgamento de Jesus deveria ser este:

Marcos, 14: 53 E levaram Jesus ao sumo-sacerdote, e ajuntaram-se todos os principais dos sacerdotes, e os anciãos, e os escribas.

João, 18: 15 E Simão Pedro e outro discípulo seguiam a Jesus. E este discípulo era conhecido do sumo-sacerdote e entrou com Jesus na sala do sumo-sacerdote. 16 E Pedro estava da parte de fora, à porta. Saiu, então, o outro discípulo que era conhecido do sumo-sacerdote e falou à porteira, levando Pedro para dentro. (...)

O contexto do 4º evangelho permite inferir que este “outro discípulo” é sempre o “discípulo amado”, bem-educado e melhor relacionado, que não pode, de modo algum, ser o pescador zaragateiro que era João, o filho de Zebedeu. A tradição que apoia esta tesa é das poucas que os católicos não se importam de ver posta em dúvida ainda que, oficialmente aceitem a tese tradicional, pois, tradicionalistas como são obrigados a ser por convicção, mal parceria! O à vontade com que este discípulo se mexeu nos corredores do poder sacerdotal supremo dos judeus, só prova que este, no mínimo, era o rico e influente e, na melhor hipótese, até parente de Anás. Ora, existe um apócrifo bizantino, que embora cheio de disparates e anacronismos, como soem ser as obras pias pré medievais, contem uma referência que pode ter algum fundamento histórico fundamentada numa certa tradição recuperada pela tendenciosa e incipiente investigação histórica da época.

E eles chamaram Judas Iscariotes, e falaram com ele, porque ele era o filho do irmão de Caiafás, o sacerdote. Ele não era um discípulo à face de Jesus; mas toda a multidão dos judeus o apoiou astuciosamente, porque ele poderia seguir Jesus, não porque ele fosse ser obediente aos milagres feitos por Ele, nem que ele O confessasse, mas porque ele poderia trai-lo para eles, desejando encontrar nele alguma palavra mentirosa, dando-lhe presentes para tal conduta valente, honesta para a quantia de meio shekel, de ouro cada dia. E ele fez isto durante dois anos com Jesus, como diz um dos discípulos chamado o João. -- Narrativa de José de Arimateia

Desde logo, sendo José de Arimateia supostamente um idoso e conter o seu suposto evangelho uma referência ao mais recente dos evangelhos canónicos, a probabilidade da Narrativa de José de Arimateia ter sido escrita do próprio, seria mínima. Isto não invalida que esta tradição pudesse existir algures nas fontes disponíveis na época, fossem elas orais ou escritas. Tratando-se duma época da política da Judeia em que se multiplicavam as facções políticas e várias correntes de legitimidade sacerdotal e outras tantas linhas de hereditariedade real em bem possível que cada uma das facções tivesse nas outras os seus infiltrados e Jesus saberia bem isso! No entanto, o relato ingénuo da Narrativa de José de Arimateia pode estar a dizer a verdade ao contrário ou ter-se dado o caso que se deus com Pilatos. Jesus, o divino sedutor e pescador de almas, acabou por converter Judas à sua causa tendo feito dele o seu intermediário com aqueles a quem viria a entregar-se nos seus termos e de acordo com o seu próprio calendário dum messianismo apocalíptico!

Na verdade, a questão da historicidade de Jesus não pode ser colocada em termos de tudo ou nada. Obviamente que apenas os que pretendem defender a verdade dogmática dos canónicos colocariam a questão nesses termos, a saber, que não se pode usar os apócrifos como fonte de verdade para contrariar os canónicos e depois usa-los também como arma de arremesso contra a crendice cristã ou como argumento da facilidade com que os cristão desde o início a sua história fabricaram evangelhos e inventaram lendas e mitos a respeito de Jesus. Na ausência de fontes históricas fidedignas e autênticas a descoberta da verdade sobre Jesus eivada de correcções piedosos de todos os tempos e de remendos e mutilações ao sabor das conveniências das correntes heréticas dos primeiros tempos a descoberta da verdade histórica a respeito de Jesus só pode ser alcançada por um criticismo criterioso tal que permita restaurar o mosaico perdido da face de Jesus recolocando cada caco no local devido.

Assim, é obvio que suspeitar que Judas Iscariotes fosse sobrinho do sumo-sacerdote que julgou Jesus seria algo de escandaloso na época bizantina e faria dele o traidor natural que a tradição já aceitava! Mas seria esta tradição unânime até ao concilio de Niceia do ano 325?

Parece que no recém-descoberto evangelho de Judas Iscariotes, Jesus tinha também uma amizade particular por este suposto discípulo traidoro que reforça a tese de que a entrega deJesus foi uma estratégia bem montada planeada por Jesus que envolveu altas cumplicidades. O Problema dos apócrifos bizantinos era precisamente o de serem pouco cuidadosos no confronto de outros textos conhecidos. Afinal acabamos de ver que o “discípulo amado” dos canónicos também era conhecido do sumo-sacerdotee isso nunca foi considerado escandaloso.

João, 11: Vós nada sabeis, 50 nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo povo, e que não se pereça a nação toda. 51 Ora, isso não disse ele por si mesmo; mas, sendo o sumo-sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus havia de morrer pela nação, 52 e não somente pela nação, mas também para congregar num só corpo os filhos de Deus que estão dispersos.

Como se repara parece que a capacidade de profetizar não era um dom exclusivo do Messias mas uma qualidade que a mentalidade judaica, a que o evangelista aderia, do sumo-sacerdote, aliás na mesma linha de pensamento mágico dos augures romanos. Porém, o essencial é reparar que a questão de Jesus era lucidamente analisada pelos mais altos responsáveis judeus como um grave problema de segurança nacional. Jesus, desde que a morte de João o colocou na linha de sucessão do messianismo essénico, estaria ao corrente dos riscos de morte que tinha vitimado outros candidatos a messias que o antecederam e já se vinha preparando para o pior desde a sua primeira predição da paixão.

Actos, 5 34 Mas, levantando-se no conselho um certo fariseu chamado Gamaliel, doutor da lei, venerado por todo o povo, mandou que, por um pouco, levassem para fora os apóstolos; 35 e disse-lhes: Varões israelitas, acautelai-vos a respeito do que haveis de fazer a estes homens. 36 Porque, antes destes dias, levantou-se Teudas, dizendo ser alguém; a este se ajuntou o número de uns quatrocentos homens; o qual foi morto, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos e reduzidos a nada. 37 Depois deste, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do alistamento, e levou muito povo após si; mas também este pereceu, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos. 38 E agora digo-vos: Dai de mão a estes homens, e deixai-os, porque, se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará, 39 mas, se é de Deus, não podereis desfazê-la, para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus.

Os sucessivos fracassos ao longo da história de Israel para restaurar a monarquia e a liberdade nacional foram tantos que os poucos sucessos acabaram por ser considerados obras divinas, mesmo quando eram perpetrados por indivíduos que se vieram a revelar tão tirânicos e desumanos quanto a Historia dos macabeus o demonstra! Parece que o que contava na política desesperada dos judeus da época era mais o nacionalismo fanático e o fundamentalismo religioso e não tanto o melhor perfil moral e humano, mas a mesma crítica se poderia fazer na história do papado medieval e afinal, de maus momentos deste tipo estão cheios quase todos os capítulos da história humana!

Algum tempo depois, um certo Judas, gaulanita, da cidade de Gamala, ajudado por um fariseu de nome Sadoque, incitou o povo a se rebelar, dizendo ser o inventário um claro indício de que os queriam reduzir à escravidão e, para exortá-los a manter a sua liberdade, (…).

Judas foi o autor de uma nova seita (zelota) , inteiramente diferente das três outras, das quais a primeira era a dos fariseus, a segunda, a dos saduceus e a terceira, a dos essênios, que é a mais perfeita de todas. (…)

Judas, de quem acabamos de falar, foi o fundador da quarta seita. Está em tudo de acordo com a dos fariseus, exceto que aqueles que fazem profissão para adotá-la afirmam que há um só Deus, ao qual se deve reconhecer por Senhor e Rei. Eles têm um amor tão ardente pela liberdade que não há tormentos que não sofram ou que não deixem sofrer as pessoas mais caras antes de atribuir a quem quer que seja o nome de senhor e mestre. -- Flávio Josefo, HISTÓRIA dos HEBREUS de Abraão à queda de Jerusalém. Traduzido por Vicente Pedroso.

A questão dos impostos era eminentemente de economia política ea a questão da independência nacional era uma óbvia percepção de que implicavam a dupla tributação da devida aos soberanos estrangeiros e da devida ao templo. Assim, o anarquismo subjacente à corrente dos zelotas, que mais não eram do que nazorenos da Galileia, além de ser a bandeira da luta pela liberdade com que, desde todos os tempos, os homens manifestam o seu instinto de territorialidade era, neste contexto específico um mero pretexto para mais uma tentativa independentista. Por outro lado, a expressão teórica que este movimento escolheu, de um apego tal à liberdade que só a vontade divina poderia regulamentar, correspondia a uma doutrina que Jesus iria por diversas vezes manifestar sempre que o assunto da sua missão messiânica se viria a por na forma retórica da sua “tríplice predição paixão”.

 

A CESAR O QUE É DE CESAR.

E é então que a questão dos impostos, tal como é colocada nos canónicos levanta serias dúvidas a respeito da sua autenticidade.

Indo ao seu encontro, eles tentaram-no de uma forma exigente, dizendo:. "Mestre Jesus, sabemos que vieste da parte de Deus, pois o que fazes é testemunho para além do que todos os profetas nos dizem. Portanto, é lícito pagar aos reis as coisas que beneficiam o seu governo? Devemos pagar-lhes ou não? "Mas Jesus, percebendo o seu propósito e tornando-se indignado, disse-lhes: "Por que é que me chamais de mestre da boa para fora, quando não fazeis nada ao que eu digo? Bem profetizou Isaías * sobre vos, dizendo:" Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. [4] E em vão me adoram, ensinando como suas doutrinas os preceitos dos homens ... "(* Isa 29:13 (NRS): O Senhor disse:". Porque essas pessoas se aproximam com suas bocas e me honra com os lábios, enquanto seu coração está longe de mim, e sua adoração é um mandamento humano aprendidas de cor, ... ") --- Papiro Egerton 2 Frente. [5]

No entanto Jesus, ou alguém que o reviu depois, teve a lucidez colocar a questão dos impostos no contexto dum cristianismo civilizado a favor do império romano.

 

Ver: TRIPLA PREDIÇÃO DA PAIXÃO (***)

 

Porém, depois destes dois fracassos de pendor zelota apareceu João Batista, o essénico que fracassou também apesar ter substituído a acção directa dos zelotas pelo falso pacifismo dum aceticismo fanático moralmente intransigente.

Marcos, 6: 17 Porquanto o mesmo Herodes mandara prender a João e encerrá-lo manietado no cárcere, por causa de Herodias, mulher de Filipe, seu irmão, porquanto tinha casado com ela. 18 Pois João dizia a Herodes: Não te é lícito possuir a mulher de teu irmão. 19 E Herodias o espiava e queria matá-lo, mas não podia; 20 porque Herodes temia a João, sabendo que era varão justo e santo; e guardava-o com segurança e fazia muitas coisas, atendendo-o, e de boa vontade o ouvia.

In fact, it was not too strange to marry the wife of one's brother. There was, to the best of our knowledge, only one group that objected to this custom: the sect at Qumran. This again suggests that John's ideas were close to those of that group. -- Messianic claimants by Jona Lendering

Na verdade, era mesmo um mandamento da Tora, senão mesmo de boa regra judia ainda no tempo de Jesus, casar com a viúva do irmão!

Marcos 12: 19 Mestre, Moisés nos escreveu que, se morresse o irmão de alguém, e deixasse mulher, e não deixasse filhos, seu irmão tomasse a mulher dele e suscitasse descendência a seu irmão. 20 Ora, havia sete irmãos, e o primeiro tomou mulher e morreu sem deixar descendência; 21 e o segundo também a tomou, e morreu, e nem este deixou descendência; e o terceiro, da mesma maneira. 22 E tomaram-na os sete, sem, contudo, terem deixado descendência. Finalmente, depois de todos, morreu também a mulher. 23 Na ressurreição, pois, quando ressuscitarem, de qual destes será a mulher? Porque os sete a tiveram por mulher.

Ora, nada na tradição evangélica demonstra que a Jesus repugnasse muito tal regra. Dum modo geral, a moralidade de Jesus no que respeita à liberdade de costumes era bem mais pragmática e menos catarina do que a que veio a ser adoptada pelo catolicismo romano por influência do puritanismo estóico. No entanto, em aspectos relacionados com a firmeza nos propósitos messiânicos, Jesus aproximava-se muito do zelo combativo dos zelotas.

E, logo ao amanhecer, os principais dos sacerdotes, e os anciãos, e os escribas, e todo o Sinédrio tiveram conselho; e, amarrando Jesus, o levaram e entregaram a Pilatos.

E era pela manhã cedo. E não entraram na audiência, para não se contaminarem e poderem comer a Páscoa. 29 Então, Pilatos saiu e disse-lhes: Que acusação trazeis contra este homem? 30 Responderam e disseram-lhe: Se este não fosse malfeitor, não to entregaríamos.

E começaram a acusá-lo, dizendo: Havemos achado este pervertendo a nossa nação, proibindo dar o tributo a César e dizendo que ele mesmo é Cristo, o rei. Vê quantas coisas testificam contra ti. Mas Jesus nada mais respondeu, de maneira que Pilatos se admirava. E disse Pilatos aos principais dos sacerdotes e à multidão: Não acho culpa alguma neste homem.

O que terá acontecido seria algo muito mais capcioso! Pilatos que tinha os trunfos todos na mão estaria a subir a parada e a tentar dar uma lição de autoridade ao sinédrio. Pilatos pretenderia fazer subentender aos judeus que só aceitava o acordo porque tinha poder para o fazer porque afinal não tinha nada que se meter nas questões doutrinárias do sinédrio! E por isso mesmo respondeu o que vem nos mais antigos papiros que foram encontrados com o texto do 4º evangelho:

Pilato replicó: «Tomadle vosotros y juzgadle según vuestra Ley.» Los judíos replicaron: «Nosotros no podemos dar muerte a nadie». Así se cumpliría lo que había dicho Jesús cuando indicó de qué muerte iba a morir. Entonces Pilato entró de nuevo al pretorio y llamó a Jesús y le dijo: «¿Eres tú el Rey de los judíos?» -- papiro P52 de 125 a 160.

Então, reposta a autoridades de Roma sobre os judeus dirigiu-se a Jesus em tom triunfante:

-- (Com que então) es tu o rei do judeus (que entrou em Jerusalém montado num burro acompanhado de dum cortejo de garotelhos cantando hossanas ao rei de David)?

Jesus ainda tentou um usar um pouco da sua altivez judia replicando, quiçá para espicaçar ainda mais Pilatos a fim de apresar o desfecho dos acontecimentos:

Tu dizes isso de ti mesmo ou disseram-to outros de mim? Pilatos respondeu:

(Que ideia!) Porventura, sou eu judeu? A tua nação e os principais dos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste (então de mal)?

Jesus sentiu-se entalado e só poderia responder com o paradoxo da sua verdade!

Respondeu Jesus: O meu Reino não é deste mundo; se o meu Reino fosse deste mundo, lutariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas, agora, o meu Reino não é daqui.

Entonces Pilato le dijo: «¿Luego tú eres Rey?» Respondió Jesús: «Sí, como dices, soy Rey. Yo para esto he nacido y para esto he venido al mundo: para dar testimonio de la verdad. Todo el que es de la verdad, escucha mi voz». Le dice Pilato: «¿Qué es la verdad?» Y, dicho esto, volvió a salir donde los judíos y les dijo: «Yo no encuentro ningún delito en él». -- papiro P52 de 125 a 160.

Pilatos que bem sabia o que estava em jogo ainda ironizou com uma resposta que poderia no original bem mais mordaz: *qual verdade, qual carapuça? Desde quando há verdade entre políticos?

É possível que, por instantes, Pilatos tivesse sentido que alguém lhe estava a tentar enfiar o barrete e por isso resolveu voltar a fazer a vida cara aos judeus, não tanto para reforçar a sua autoridade, mas, para os obrigar a abrirem o jogo! Pilatos tinha o filho do chefe nas grades e o chefe acabava de lhe ser entregue, de mão beijada, pelos judeus, ser-lhe-ia possível ficar com os dois numa jogada de dois em um?

Acabando de dizer isso, voltou até os judeus e disse-lhes: Não acho nele crime algum!

Foi então que o jogo se abriu quando lembraram a Pilatos que lhe costumava soltar um prisioneiro pela pascoa e que gostariam de ver Barrabás solto. Pilatos então começou a ver onde estava a jogada dos judeus e a sentir que o filhote do candidato a rei lhe iria fugir das mãos ainda antes de as lavar!

 

Ver: BARRABÁS (***)

 

A partir daqui o discurso de S. João ou é falso ou interpolado sendo pena não terem sido encontrados mais papiros a completarem este trecho da Paixão de Jesus. Porém, sendo público o que aconteceu estranha-se que só S. João tenha achado digno de registo o gesto, que ficou célebre como uma das maiores provas de cinismo que ainda hoje é a desresponsabilização hipócrita de “lavar as mãos como Pilatos”. A este respeito o registo de Lucas é o que se aproxima mais do naturalismo do que seria a realismo político daquele dia.

Então, Pilatos julgou que devia fazer o que eles pediam. E soltou-lhes o que fora lançado na prisão por uma sedição e homicídio(que era o que pediam). mas entregou Jesus à vontade deles. Com apenas este “mas” Lucas, a pesar de gentio, revela-se, como muitas vezes antes, bem menos anti-judeu que os restantes evangelhos!

Aceitando a prioridade de Marcos e a pouca plausibilidade de que os judeus alguma vez tivessem decido tão baixo ao ponto de terem desejado a morte infamante de um concidadão na cruz às mãos dos romanos podemos aceitar que os sinópticos foram manipulados por piedosos cristãos revisionistas e helenizados dispostos a venderem a sua origem judaica a troco do testamento fraudulento de Constantino. Por outro lado é completamente inverosímil que Jesus tivesse tomado o partido de Jesus tanto mais que acabou por mandá-lo matar com a acusação de ser “rei dos Judeus”! De qualquer modo, é difícil saber entre tanta piedosa mentora cristã onde esta a verdade completa. É certo que nem todos mentem da mesma maneira e uns textos são mais ousados do que outros. Mas é confrangedor ver uns textos a culparem Herodes de maus tratos, como Lucas, apenas João culpa Pilatos de flagelação e Pedro ateve-se a deitar as culpas da decisão da morte sobre Herodes. Para muitos estudiosos isto é razão bastante para negar a historicidade de Jesus. Na verdade, um mito inventado duma vez só seria bem mais coerente como acontece com os mitos clássicos que têm poucas variantes contraditórias apesar de terem sido construídos ao longo de muitos mais séculos. As variantes na forma como os discípulos contaram o mistério da Paixão são prova de que ela existiu e foi envolta em mistério desde início! O facto de ter acontecido o milagre da ressurreição é prova disso mesmo! Todos os discípulos sabiam que tinha acontecido. Mas. nenhum sabia como e por isso acabaram por acreditar que era milagroso!

I 1. Mas ninguno de los judíos se lavó las manos, ni Herodes, ni ninguno de los jueces de Jesús. 2. Y, como no querían lavárselas, Pilatos se levantó del tribunal. 3. Y entonces el rey Herodes ordenó a los judíos que aprehendieran al Señor, diciéndoles: Haced todo lo que os he mandado que hagáis.

II 1. Empero José, el amigo de Pilatos y del Señor, permaneció allí. Y, sabiendo que se le iba a crucificar, fue a Pilatos, y le pidió el cuerpo del Señor, para sepultarlo. 2. Y Pilatos envió a pedir a Herodes el cuerpo del Señor. 3. Mas Herodes dijo: Hermano Pilatos, aun cuando nadie lo pidiese, nosotros lo sepultaríamos, sin esperar a que despuntase el día del sábado, porque escrito está en la ley que no se ocultará el sol sobre un hombre puesto en suplicio mortal. 4. Y lo entregó al pueblo, la víspera de los Ázimos, su fiesta.  -- EL EVANGELIO DE SAN PEDRO (Fragmento griego de Akhmin)

Sendo assim, muito estranho foi este julgamento de Jesus que mais parece um acordo ente Jesus, seu irmão Herodes e Pilatos tendo a mediação de José de Arimateia e de Judas.

 

Ir para: ECCE HOMO (***) & BARRABAS (***)

 

OS RELATOS EVANGÉLICOS E A REALIDADE HISTÓRICA

Com base do Direito Judeu, o autor entende que nos registros dos Evangelhos há muita coisa irreal e impossível, especialmente em relação ao Sinédrio:

- este não podia se reunir para casos de direito penal, na casa do sumo sacerdote, mas só no recinto oficial;

- não estava autorizado a se reunir à noite;

- casos possíveis de pena de morte não eram julgados em dias festivos, nem em vésperas de festa;

- nenhum acusado pode ser condenado à morte pela sua confissão;

- só se condena um homem em julgamento, se pelo menos duas testemunhas o tenham visto cometer o ato de que é acusado;

- só será condenado o homem, se duas testemunhas disserem que o preveniram para não praticar o ato;

- o blasfemo não é considerado culpado desde que não pronuncie expressamente o nome de Deus, na presença de testemunhas".

Se o julgamento assim se deu, "foi ilegal desde o início até o fim", e "Jesus foi vítima de um assassinato judicial".

Depois de provar que os relatos evangélicos não servem como relatos válidos para a história como ciência, o magistrado Haim Cohn explica que "as perseguições aos judeus, judiciais e extraconjugais, todas elas se produzem no fundo da fonte consciente ou inconsciente, como castigo pela "culpa deles" na crucificação de Jesus. Isso porque, o interesse dos Evangelhos era eminentemente religioso e missionário, e sua tendência era apologética com respeito ao Império Romano. Essa descrição intencional e equivocada obteve difusão mundial, convertendo-se em dogma e conquistando a metade do orbe. Foi apagada e esquecida a verdadeira realidade histórica".

Ora, a verdadeira realidade histórica foi a de que não houve um julgamento, mas, uma mera troca de prisioneiros, mediada por Judas, José de Arimateia e Herodes. O líder espiritual e político da insurreição ocorrida durante a expulsão do templo entregou-se em troca da libertação de Barrabás, líder do braço armado da mesma insurreição, levada a cabo por zelotas e sicários. Barrabás seria filho de Jesus, ou pessoa muito importante no movimento político deste messianismo, sadoqueista e nazareno, de que emergiu o cristianismo

Os evangelistas nunca souberem a verdadeira realidade histórica da “Paixão de Jesus”, o rei aclamado dos Judeusque nunca o chegou a ser (em grande parte porque Jesus nunca o desejou ser porque sabia que nunca o seria, sobretudo, nos termos religiosos que ele pretendia)nem os apóstolos desejariam saber a verdade porque nesse dia o mundo da sua fé seria destruído pelo fogo do divino Espírito Santo da Verdade!

E a Verdade deitaria por terra a essência mística do cristianismo:que a“Paixão de Jesus”, teria que passar a ser a “Paixão de Jesus Cristo”, o seja, literalmente o “Messias Salvador” que resgatou da morte eterna os cristãos, nos termos e condições da Igreja deste novo deus de morte e ressurreição pascal, o contraponto judaico ao babilónico Tamuz, ao fenício Adónis, ao helenista Dionísio / Baco, ao egípcio Osíris / Horus, ao frígio Atis e etc. Possivelmente Jesus nunca pretenderia tanto, pois, ter-se-ia contentado por resgatar as ovelhas perdidas de Israel. Será que Jesus terá desejado isso?

Se o não tivesse desejado não o teria feito! Porém é duvidoso que estivesse à espera de, com este gesto de esperança no poder da fé como temperador de carácter, Jesus pretendesse ser  divinizado! Mas, aconteceu e mais uma vez os discípulos ultrapassaram todas as expectativas dos seus melhores mestres, desvirtuando por completo a mensagem. Por isso mesmo é que a história continua com novos mestres e novos discípulos!

 



[2] Notável no entanto a semelhança do termo Barnasha com os nomes de Barrabás e de Barnabé!

[3] Consider this: Crucifixion was a punishment that Rome reserved almost exclusively for the crime of sedition. The plaque the Romans placed above Jesus’s head as he writhed in pain — “King of the Jews” — was called a titulus and, despite common perception, was not meant to be sarcastic. Every criminal who hung on a cross received a plaque declaring the specific crime for which he was being executed. Jesus’s crime, in the eyes of Rome, was striving for kingly rule (i.e., treason), the same crime for which nearly every other messianic aspirant of the time was killed. -- ZEALOT, The Life and Times of Jesus of Nazareth by Reza Aslan.

[4] Mateus 15:8.

[5] Coming to him, they tested him in an exacting way, saying: "Teacher Jesus, we know that you have come from God, for what you do testifies beyond all the prophets. Therefore tell us, is it lawful to pay to kings the things which benefit their rule? Shall we pay them or not?" But Jesus, perceiving their purpose and becoming indignant said to them: "Why do you call me teacher with your mouth, not doing what I say? Well did Isaiah* prophesy concerning you, saying: 'This people honor me with their lips, but their heart is far from me. And in vain they worship me, teaching as their doctrines the precepts of men...'" (* Jes 29:13 (NRS): The Lord said: "Because these people draw near with their mouths and honor me with their lips, while their hearts are far from me, and their worship of me is a human commandment learned by rote, ...") --- Papyrus Egerton 2 Recto.

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