quarta-feira, 16 de junho de 2021

II AMORES PARTICULARES E OCULTOS DE JESUS - 3 EVANGELHO SECRETO DE MARCOS por arturjotaef

II AMORES PARTICULARES E OCULTOS DE JESUS

EVANGELHO SECRETO DE MARCOS, por arturjotaef.


Figura 1: Vladimir Borovikovsky: St John the Evangelist. (Até hoje tem-se acreditado na lenda de que S. João Evangelista é o mesmo S. João do Apocalipse e o discípulo amado por acaso aqui representado como se fora Ganimedes de Jesus e não de Zeus. Na verdade tudo aponte que seja o jovem S. João Marcos).

O secretismo de Marcos foi sempre considerado uma das características marcantes do estilo do seu evangelho.

The motif of secrecy in Mark is a rather complex one. (1) It involves silence on the part of exorcised demons (1:25, 34; 3:12) and of men who have been cured (1:43-5; 5:43; 7:36, 8:26), as well as of the disciples themselves, who are to tell no one about Jesus as Messiah (8:30) or about the transfiguration 9:9 or even about his presence in Tyre (7:24) or his journey through Galilee (9:30). (2) It also involves ‘the secret of the kingdom of God’ (4:10-12) and secret or ‘private’ explanations of parables (4:34) and miracles (9:28), as well as revelations of the person of Jesus (9:2) and of things to come (13:3). To a considerable extent the full revelation is given only to the four disciples who were the first to be called (1:16-20, 29; 5:37; 9:2; 13:3; 14:33). Teaching about the passion and resurrection is given only ‘on the road’ apart from the multitudes (8:27; 9:33; 10:32). -- [1]

As razões deste secretismo tiveram tanto a ver com a estratégia messiânica de Jesus, por razões que outros evangelhos sugerem, como também por características pessoais de João Marcos que só uma abordagem psicanalítica poderia entender inteiramente. O facto e que a sua qualidade de jovem rico e sempre virgem, levita, presumível sumo-sacerdote destituído por falta de idade, e discípulo amado de Jesus o terão obrigado a ser assim, tímido, reservado e adepto do secretismo iniciático, sobretudo depois de ter ficado com a cabeça a prémio no episódio da ressurreição de Lázaro.

The Strange Case of the Secret GospelAccording to Mark. How Morton Smith's Discovery of a Lost Letter by Clement of Alexandria Scandalized Biblical Scholarship: Shawn Eyer.

(…) In the spring of 1958 Smith, then a graduate student in Theology at Columbia University, was invited to catalogue the manuscript holdings in the library of the Mar Saba monastery, located twelve miles south of Jerusalem. Smith had been a guest of the same hermitage years earlier, when he was stranded in Palestine by the conflagrations of the second World War.

Ten years after the original publication M. Smith writes:

"In sum "the state of the question" would seem to be about as follows: Attribution of the letter to Clement is commonly accepted and no strong argument against it has appeared, but Clement's attribution of the gospel to "Mark" is universally rejected. As to the gospel fragments, the field is split three ways. The weakest position seems to be that of those who declare them an apocryphal gospel of the common second-century sort; this overlooks their conspicuous differences from that type. The most popular opinion declares them a pastiche composed from the canonical gospels. Since such pastiches are reported, the fact that no early one is extant is a less serious objection to this theory than is its failure to explain the apparent priority of the new resurrection story to John's Lazarus story, and its relation to the Markan-Johannine outline. The third opinion is that the new text comes from an expansion of Mark which imitated Markan style, but used earlier material. This escapes the previous objections, but those who hold it are much divided as to what sort of earlier material was used."

M. Smith "Clement of Alexandria and Secret Mark:The Score at the End of the First Decade", Harvard Theological Review 75 (1982) 449 - 461

Indeed, it has been argued that some of these additions point towards the existence of two early editions of Mark’s work -- one the original version, usually reflected in the Alexandrian text, the other the version used by Matthew and Luke and often reflected in the text of Caesarea. This theory has the advantage of explaining how Matthew and Luke can agree against the Alexandrian text of Mark at points where they are using Mark as a source. The existence of various versions at Alexandria neither supports nor discredits this theory; but it remains only a possibility.-- [2]

 

A carta de Clemente de Alexandria a Teodora.

Tradução a partir da de Morton Smith:

 

Das cartas do mais santo Clemente, o autor do Stromateis, para Teodoro.

Fizeste bem em silenciar os ensinos inqualificáveis dos Carpocracianos, pois estes são as "estrelas cadentes" referidas na profecia, que vagueiam da estrada estreita dos mandamentos para um abismo ilimitado de pecados completamente carnais. Pois, orgulhando-se eles de conhecimento, como eles dizem, "das coisas profundas de Satanás” não sabem que eles estão a lançar-se em "um mundo inferior da escuridão" de falsidade, e, ostentando que eles são livres, eles se tornaram os escravos de desejos servis. Tais homens devem ser postos completamente de parte e de todos os modos.

Pois, até mesmo se eles disserem algo verdadeiro, quem ama a verdade não deve, mesmo assim, concordar com eles. Pois nem todas as coisas verdadeiras são a Verdade, nem a verdade que somente parece verdadeira, de acordo com opiniões humanas, deve ser preferida à verdadeira Verdade, de acordo com a fé.

Agora das coisas que eles têm dito acerca do divinalmente inspirado Evangelho de acordo com Marcos, algumas são completas falsificações, e outras, mesmo se contiverem alguns elementos verdadeiros, ainda assim não devem ser verdadeiramente consideradas. Porque as verdadeiras coisas que estão misturadas com invenções estão falsificadas, de forma que, enquanto vão sendo ditas, até mesmo o sal perde o seu sabor.

Marcos, então, durante a estadia de Pedro em Roma escreveu um relato das acções do Senhor, porém, não as declarando todas, nem tão pouco indicando as secretas, mas seleccionando o que ele pensou mais útil para aumentar a fé dos que estavam para ser instruídos. Porém, quando Pedro morreu mártir, Marcos veio para Alexandria, trazendo tanto as próprias notas quanto as de Pedro, das quais ele transferiu para o seu primeiro livro as coisas mais satisfatórias para tudo o que pudesse trazer progresso ao conhecimento. Assim ele compôs um Evangelho mais espiritual para o uso desses que estavam sendo instruídos. Não obstante, ele não divulgou ainda as coisas que não eram para ser proferidas, nem subscreveu os ensinamentos hierofânticos do Senhor, mas, às histórias já escritas ele somou ainda outras e, além disso, trouxe certas declarações das quais conheceria a interpretação que, como um mestre de mistérios, conduzia os ouvintes até ao santuário mais íntimo da verdade escondida por detrás de sete véus. Assim, em suma, ele preparou estes assuntos, não de forma presunçosa nem descuidada, em minha opinião, e, depois de morto, ele deixou a sua composição à igreja de Alexandria onde é ainda mais cuidadosamente guardada, sendo lida apenas pelos que estão a ser iniciados nos grandes mistérios.


Figura 2: Icon do discípulo amado!

Mas como os demónios sujos estão sempre a inventar a destruição da raça humana, os Carpocratas, instruídos por eles e usando artes enganosas, seduziram um certo presbítero da igreja de Alexandria para que ele obtivesse uma cópia do Evangelho secreto que eles interpretaram de acordo com a sua doutrina blasfema e carnal, e, além disso, o poluíram, misturando com as palavras imaculadas e santas mentiras completamente vergonhosas. Desta mistura foi despejado o ensino dos Carpocracianos.

Então, como eu disse acima, uma pessoa nunca lhes deve dar crédito; nem, quando eles avançaram com as suas falsificações, nem se deverá conceder que o Evangelho secreto é de Marcos, mas antes se deverá negar isto até mesmo em juramento. Pois, "Nem todas as verdadeiras coisas serão ditas a todos os homens". Por isto a Sabedoria de Deus, desde Salomão, aconselha, "Responde ao louco com a linguagem da sua loucura”, ensinando que a luz da verdade deverá ser escondida dos que são mentalmente cegos. Novamente está dito, "Dele que não terá que ser deitado fora" e, "Deixemos o tolo andar na escuridão". Mas nós somos "as crianças de luz”, tendo sido iluminados pela "fonte dos dias" do espírito do Senhor “do alto” e "Onde o Espírito do Deus está", se diz, “há ali liberdade”, porque "Todas as coisas são puras para o puro".

A ti, então, eu não hesitarei em responder às perguntas que tu formulaste, enquanto refutando as falsificações pelas mesmas palavras do Evangelho. Por exemplo, depois de, "Eles estavam na estrada que sobe para Jerusalém," e o que se segue, até " Ele ressuscitará depois que três dias," o Evangelho secreto traz o seguinte material, palavra por palavra:

(Marcos 10: 32 Eles estavam a caminho de Jerusalém, e Jesus ia adiante deles, e os discípulos estavam surpresos enquanto os que o seguiam estavam atemorizados. Novamente ele levou os Doze aparte e lhes contou o que lhe ia acontecer. 33 "Nós estamos subindo para Jerusalém," disse ele "e o Filho de Homem será entregue aos sumo-sacerdotes e professores da lei. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos Gentios 34 que o escarnecerão e cuspirão nele, o açoitarão e o hão-de matar. Três dias depois ele ressuscitará".)

E eles foram para Betânia onde estava uma mulher cujo irmão tinha morrido. E, aproximando-se, ela se prostrou diante de Jesus e lhe disse: "Filho de David, tem clemência de mim". Mas os discípulos afastaram-na.

Irritando-se, Jesus foi com ela para o jardim onde estava o túmulo. E imediatamente um grande som saiu do túmulo, e Jesus, enquanto ia ao seu encontro, rodou a pedra de fora da entrada do túmulo. E entrando imediatamente onde o jovem estava, ele esticou uma mão e o levantou, enquanto lhe segurava a mão. Então, o homem olhou para ele e o amou e ele começou a chama-lo para junto de si, porque ele queria estar com ele. E saindo do túmulo, eles foram para a casa do jovem, porque ele era rico. E depois de seis dias, Jesus o instruiu. E pela tarde, o jovem foi ter com Ele. Ele tinha posto uma faixa de linho fino em volta do seu corpo nu, (que retirou?) e, por aquela noite, ele permaneceu com ele (de homem nu para homem nu). Pois Jesus lhe ensinou o mistério do reino de Deus. Depois que ele saiu de lá, ele voltou à região do Jordão.

Depois destas palavras vem o texto seguinte: “E, aproximaram-se dele Tiago e João “ e toda esta secção. Mas "homem nu para homem nu," e outras coisas sobre que escreveste não se encontraram ali.

35  E aproximaram-se dele Tiago e João, filhos de Zebedeu, dizendo: Mestre, queremos que nos faças o que pedirmos. 36 E ele lhes disse: Que quereis que vos faça? 37 E eles lhe disseram: Concede-nos que, na tua glória, nos assentemos, um à tua direita, e outro à tua esquerda. 38 Mas Jesus lhes disse: Não sabeis o que pedis; podeis vós beber o cálice que eu bebo e ser baptizados com o baptismo com que eu sou baptizado? 39 E eles lhe disseram: Podemos. Jesus, porém, disse-lhes: Em verdade vós bebereis o cálice que eu beber e sereis baptizados com o baptismo com que eu sou baptizado, 40 mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence a mim concedê-lo, mas isso é para aqueles a quem está reservado. 41 E os dez, tendo ouvido isso, começaram a indignar-se contra Tiago e João. 42 Mas Jesus, chamando-os a si, disse-lhes: Sabeis que os que julgam ser príncipes das gentes delas se assenhoreiam, e os seus grandes usam de autoridade sobre elas; 43 mas entre vós não será assim; antes, qualquer que, entre vós, quiser ser grande será vosso serviçal. {ou criado} 44 E qualquer que, dentre vós, quiser ser o primeiro será servo {ou escravo} de todos. 45 Porque o Filho do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos. 46 Depois, foram para Jericó.

E depois das palavras “De seguida, foram para Jericó” o evangelho secreto adianta apenas:

E a irmã do jovem a quem Jesus amou estava lá, como também a mãe dele e Salomé. Mas Jesus não lhes deu as boas-vindas.

Mas, as muitas outras coisas sobre as quais escreveste ambos parecem ser e são falsificações. Assim, é esta a verdadeira explicação e a que mais concorda com a verdadeira filosofia...

[Aqui o texto para abruptamente a meio da página]

 

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Embora tenha havido alguma controvérsia sobre a carta, hoje é geralmente aceito que a carta é uma correspondência autêntica escrita por Clement. Em sua introdução em The Complete Gospels, Stephen Patterson observa: "A caligrafia pode ser datada por volta de 1750. Smith publicou a carta em 1973. A discussão inicial foi marcada por acusações de falsificação e fraude, sem dúvida devido em parte à sua polémica Hoje, no entanto, existe um acordo quase unânime entre os estudiosos  Clementinos de que a carta é autêntica"[3].

Havia, porém, muito mais na secção removida de Marcos, porque, ao contar a história de Lázaro, o relato deixou perfeitamente claro que Jesus e Maria Madalena eram marido e mulher. A história de Lázaro agora aparece apenas no Evangelho de João, mas contém uma sequência estranha que Marta vem da casa de Lázaro para cumprimentar Jesus, enquanto sua irmã, Maria Madalena, permanece dentro até ser convocada por Jesus. Em contraste com isso, o relato original de Marcos relatou que Maria saiu de casa com Marta, mas depois foi castigada pelos discípulos e enviada de volta para dentro de casa para aguardar as instruções de Jesus. Esse era um requisito específico da lei judaica, segundo a qual uma esposa em luto ritual não podia sair da propriedade até ser instruída pelo marido. - Linhagem do Santo Graal.

Claro que, nos tempos permissivos e libertários em que vivemos, não são as fantasias eróticas que podem exalar desta passagem o que mais pode por em causa as hierarquias das igrejas. A pedofilia persegue as Igrejas desde a sua fundação apenas na medida em que esta é apenas mais uma das heranças tão indesejadas quanto irrecusáveis da antiga tradição clássica senão mesmo uma passo incontornável do amadurecimento da humanidade... e do aparecimento da cultura iniciada no xamanismo. Dito de outro modo, teria sido impossível acender ao amor platónico do professor pelo discípulo, por projecção de transferência do amor familiar, sem ter incorrido na tentação dum amor físico entre idades diferentes construído à sombra paternalista da ausência da mulher, num contexto de paralelismo entre a fragilidade da idade e, a do eterno feminino, instituída como essencial!

A referida carte de Clemente de Alexandria poderá ser uma falsificação ainda mais fascinantes do que o ”testamento de Constantino” mas a verdade é que, por se tratar do “Evangelho Secreto de Marcos”, a plausibilidade deste episódio torna-se de tal modo patente que só um falsário que estivesse, de forma explícita, a par da tese da identificação de Marcos com Lazaro poderia ter tido a ousadia de ter inventado todo este episódio tão estranho quanto misterioso.

Porém, uma mentira piedosa indemonstrável é tão fidedigna como qualquer um dos livros canónicos autenticados pela inspiração divina depois de sujeitos à censura prévia do camartelo revisionista da comissão correctora de padres conciliares encarregados pelo imperador Constantino o Grande de apresentarem em Niceia uma versão ortodoxa das escrituras cristãs rectificada de toda a heterodoxia obnóxia e sem laivos de gnosticismo herético. De facto, Constantino que esperava utilizar o cristianismo para unir um império em decadência começava a ficar desanimado com o espectáculo de fragilidade doutrinária do cristianismo, à época dividido pela heresia ariana. A decadência política sustentada por uma vasta burocracia de rapina e defendida por um exército dividido por insucessos militares repetidos contra os godos e os partos, expressa na “tetrarquia” que retalhava o império em vários centros de poder, derivava duma longa recessão económica larvar que decorria da profunda crise económica dos latifúndios. Estes, até então sustentados por um regime de escravatura impiedoso, alimentados pela expansão inicial do império, começavam a dar sinais de improdutividade e a ficar mais onerosa do que a servidão dos libertos em resultado da falta de escravos de guerra e da progressiva intolerância ética e de bom senso económico dos romanos a este tipo de servidão.

Precisamente à medida que abrandavam os sucessos militares nas fronteiras diminuía a fonte de «carne fresca» que alimentava a economia de latifúndio romana com a escravatura enérgica que até então tinha sido fundamentalmente a que resultava de prisioneiros de guerra. Entretanto generalizava-se a pax romana e melhoravam as condições de trabalho dos antigos escravos e se alterava, por natural humanização dos costumes, o estatuto dos escravos nascidos nos latifúndios.

A escravatura resultante do próprio crescimento reprodutivo da classe de escravos tendia a tornar-se envelhecida enquanto os filhos dos escravos aprendiam depressa as manhas da vida que lhe permitiam amaciar o jugo, alcançar a alforria migrando para as cidades e a corromperem os capatazes conseguindo trabalhar com menos afinco e com muito menos produtividade. A oriente a crise dos latifúndios daria origem ao inicio duma espécie de reforma agrária natural que começava pelo arrendamento de terras a servos livres dedicando-se o excedente de mão-de-obra ao artesanato e ao comércio num sistema económico relativamente equilibrado que iria fazer a fortuna, primeiro do império bizantino e depois do império árabe, onde a estes factores se iria juntar uma certa estabilização da natalidade resultante do regime de poligamia por compra de esposa que, longe de aumentar a natalidade por família tendia a diminuir o número de filhos por mulher deixando muitos homens solteiros por falta de capacidade económica. A ocidente, a crise do latifúndio viria também a ser superada pelo recurso aos servos da gleba mas sem o sucesso que este obteve a oriente na medida em que não foi complementado pelo crescimento das classes urbanas sendo uma, mas não única, das razões do feudalismo que se prolongou a acidente até ao surgimento das repúblicas italianas, verdadeiras cidades estados do começo do renascimento e aos descobrimentos ibéricos.

Em conclusão, a aparente unicidade canónica do cristianismo moderno é artificialidade pura resultante de Eusébio de Cesareia, o autor da história eclesiástica a quem Jacob Burckhardt chama ”o primeiro historiador dos tempos antigos totalmente desonesto e injusto”. Porém, esta imagem de marca da intolerância censória da ortodoxia e do catolicismo, servida mais tarde pelo tribunal do santo ofício e pela execrável inquisição, será por todo o sempre até aos tempos actuais o paradigma das polícias secretas de todos os totalitarismos e hegemonias políticas e ideológicas a que apenas o liberalismo, iniciado com Lutero e o protestantismo e depois sobretudo com a revolução gloriosa inglesa que marcou o fim do absolutismo católico de Jaime II e a que independência americana, iria por fim. No oriente islâmico o fanatismo e o fundamentalismo religioso surgirão também no rescaldo da crise económica dos impérios islâmicos posteriores às descobertas marítimas dos povos ibéricos nos sec. XV e XVI.

A verdade é que o episódio da iniciação secreta de Lazaro / João Marcos (que deveria fazer parte do Evangelho original de Marcos porque dum mistério iniciático se tratava e, como tal só poderia fazer parte dum Evangelho secreto como parece ter sido o caso!) é menos explícito do que outras fontes gnósticas já conhecidas como é ocaso do Apocalipse de Tiago/Jaime onde as intimidades de Jesus com seu meio irmão são ainda muito maiores e próprias de um sagrado iniciador nos mistérios mais profundo dos caminhos da vida.

"Uma vez enquanto eu estava meditando, aquele que vocês odiaram e perseguiram abriu o portão, entrou, e veio até mim. Ele me disse:

“Saudações, meu irmão; meu irmão, saudações!”

Ao que eu ergui meus olhos para observá-lo, minha mãe me disse:

“Não se assuste, meu filho, por ele tê-lo chamado "meu irmão"; pois vocês dois foram preenchidos com este mesmo leite. Por causa disto, ele me chama "minha mãe." Ele não é um estranho para nós. Ele é vosso irmão."

"Então ele me disse estas palavras:

“Eu tenho muitos outros irmãos perdidos. Mas eu irei encontrar todos eles e eles virão adiante. Ainda eu sou o desconhecido; e eles não têm conhecimento ou consciência de mim, pois eles me conhecem apenas nesta carne. Mas era adequado que outros possam me conhecer através de você.

Você é aquele para o qual eu digo: Ouça e compreenda – pois a multidão, quando eles ouvirem, será obtusa. Mas você, (por outro lado) será capaz de entender tão bem quanto eu sou capaz de explicar a você.

'O seu pai não é o meu pai. Mas o meu pai se tornou um pai para você.

{"Esta virgem sobre quem você ouve falar - é assim [...] virgem [...] a saber, a virgem. [...], como [...] para mim [...] saber [ ...] não como [...] quem eu [...]. }

Seu Pai, que você nota ser rico, concederá que você herde tudo isto que você vê! Tão vantajosas serão estas palavras que eu proclamo a você que você simplesmente deve abrir seus ouvidos para ouvir e entender e então andar de acordo com isto! É por causa de você que eles passam, activado por Aquele que é radiante.

Outros irão cobiçar esta herança gloriosa e, se eles quiserem, causarão uma perturbação para tomar posse. (...)

‘Eu sou o Portão de Entrada para aqueles que você instruiu sobre estes caminhos.

Por causa de você, a eles será dito tudo e eles virão repousar.

Por causa de você, eles reinarão e se tornarão reis.

Por causa de você, eles terão piedade de quem quer que eles tenham piedade.

Pois assim como você foi o primeiro a se vestir, você também é o primeiro que irá se despir (da carne), e voltarás a ser como eras antes de te despires[4]!

E ele me beijou na boca e me abraçou dizendo:

-- Meu querido! Aqui te vou a revelar o que nem os céus sabiam nem os arcontes.

Aqui te vou revelar quilo que não conheceste, ou seja, aquele que se (projectou) noutro fora de mim. Não estou vivo? Visto ser um pai (não tenho) poder sobre todas as coisas?

É aqui que te vou a revelar todas as coisas, meu querido! Conhece e compreende tudo para que saias tal como eu!

É aqui que eu te revelarei o que está oculto. Pois, agora estende a mão e agora abraça-me! Imediatamente estendi as mãos e não o encontrei como eu o havia imaginado!

Então eu o conheci e senti medo! E (logo) me alegrei com um enorme prazer! -- SEGUNDO APOCALIPSIS DE TIAGO, tradução do original de Jürgen Denker.

Assim, não é de estranhar a forma desastrada e inquisitória como as autoridades oficiais reagiram à descoberta deste manuscrito, mesmo depois de dois séculos de reincidência contumazes no fanatismo dogmático, na arrogância da infalibilidade papal, e na prepotência doutrinaria dum conservadorismo religioso contrário à própria mensagem essencial do cristianismo de amor à verdade, humildade espiritual, caridade e perdão. Tais atitudes intelectuais só reforçam as probabilidades de estarmos perante uma de entre outras provas de que os textos fundadores do cristianismo foram, enquanto isso foi técnica e epistemologicamente possível, sendo reformulados de modo a consegui manipular a história do cristianismo de acordo com os dogmas fundamentais das Igrejas emergentes. Para alguns pensadores de sublime ironia tais espectáculos retóricos degradantes só reforçam a beleza e magnitude da força da mensagem cristã essencial que, apesar de ter andado a ser desacreditada pelas hierarquias do poder clerical, tem conseguido resistir mantendo-se ainda hoje como um exemplo de radicalidade ética difícil de contornar, porque o que é nela perene não é letra mas o espírito da “lei da procura da verdade da vida”!

Verdadeiramente, os inquisidores modernos mais não fazem do que manterem-se autênticos na sua fé cega no valor material dos mesmos princípios denegatórios das verdades incómodas, por sinal os mesmos referidos no texto do bispo Clemente de Alexandria.

Seguramente que esta filosofia de prudência institucional já existia antes de os cristãos justificarem o secretismo dos mistérios gregos de que pouco ou nada sabemos, a não ser precisamente pelo que resultou das indiscrições dos primeiros apologistas cristão.

O que verdadeiramente deixou estes saudosistas dos tempos censório da inquisição furiosos foi o serem confrontados com a exumação de cadáveres, que se supunham enterrados na cave das velharias medievais, da política da hierarquia religiosa que foi, pelo menos desde os primeiros sismas gnósticos, quase sempre maquiavélica e intelectualmente hipócrita em nome duma interpretação excessivamente liberal do princípio sensato de que nem toda a verdade seria para revelar a todos; para evitar o pecado de escandalizar as criancinhas, segundo o próprio Cristo (Mat 18, 6-12; Mar 10, 14-16); e os cristãos mais fracos de espíritos, segundo S. Paulo, a propósito do consumo por cristãos de carnes imoladas aos ídolos (1 Cor, 8, 13). Enfim, a sensatez como pretexto para a insanidade mental das atitudes fanáticas censórias que revelam a intemperança cultural dos que usam o poder da razão apenas para aceder às mordomias decorrentes do exercício da autoridade doutrinária.

Por outro lado, os paradoxos da ressurreição iniciática teriam que acarretar algumas consequências quanto mais não fosse provocando equívocos semânticos e confusões a nível das crenças do senso-comum. Segundo o evangelho de Filipe, quem for ressuscitado pode alcançar morrer em paz e, libertar-se finalmente do Limbo onde pairam as “almas penadas”, ou, segundo a mitologia oriental, do ciclo eterno e infernal das reencarnações.

Os que dizem que o Senhor morreu primeiro e (então) se levantou estão enganados, pois ele primeiro se levantou e (depois) morreu. Se alguém não alcança primeiro a ressurreição ele não morrerá. Assim como Deus vive, ele iria (..)  – Evangelho de Filipe.

No entanto, a metafísica da ideologia gnóstica de Filipe deveria ser minoritária e contrária ao senso-comum, razão pela qual ela fazia parte de ritos secretos de iniciação. Dito de outro modo, a estranha metafísica de Filipe indicia que as crenças do senso comum seriam precisamente aquelas que levariam a pensar que, como só se pode morrer uma vez, alguém que já foi ressuscitado não pode voltar a morrer tornando-se então num semideus ou num fantasmagórico morto vivo! Como Lázaro tinha sido ressuscitado há bem pouco tempo então os discípulos inferiam, pelo bom senso das palavras de Jesus, habitualmente sibilinas, que este não morreria.

"Por isso vos disse noutro tempo: «Onde eu estiver, lá estarão também os meus dose discípulos», mas Maria Madalena e João o Virgem sobressairão sobre todos os meus discípulos e sobre todos os homens que receberem os mistérios do Inefável. E eles estarão a minha direita e à minha esquerda. E eu sou eles e eles serão eu! E eles serão como vós em todas as coisas excepto que vossos tronos sobressairão sobre os deles e o meu trono sobressairá sobre os vossos.” Pistis Sophia, p193, cap. 96.

Evangelho De Bartolomeu: Terminada a oração, disse: — Sentemo-nos no chão e vem tu, Pedro, que és o chefe. Senta-te à minha direita e apoia com tua esquerda meu braço. Tu, André faz o mesmo do lado esquerdo. Tu, João, que és virgem, segura o meu peito. E tu, Bartolomeu, põe-te de joelhos atrás de mim e apoia as minhas costas para que, ao começar a falar, meus ossos não se desarticulem.

Notar que o Livro copta de Pitis Sofia, não tem nada do estilo helenista, metafísico e filosófico de Valentino (G.R.S. Mead) e, pelo contrário, tem todo o estilo dum texto tipicamente copta e alexandrino, uma mistura de cabala judia e hermetismo egípcio com todas as típicas especulações teológicas essénias. Por outro lado, para quem costuma encontrar nos textos coptas uma sistemática confusão dos nomes bíblicos encontra-se neste texto um tal clareza na identificação dos nomes dos discípulos regulares de Jesus que podemos inferir claramente neste texto que João, o Virgem, sempre colocado perto de Maria Madalena é perfeitamente distinto do outro João, tratado ao mesmo nível dos restantes dose apóstolos. Quer dizer que, se o Gnosticismo não tivesse sido eliminado pela “caça às bruxas” de Ireneu e seguintes, nunca se teria dado a confusão de identidade entre João o virgem, e João Boanerges.

O texto copta do Evangelho de Bartolomeu está cheio de anacronismos mas neles trespassa a ingenuidade bastante para que seja impossível não aceitar neles algum fundo de verdade conservada por uma ténue ligação a uma tradição original e genuína. O seu estranho conteúdo reporta-nos para um evangelho de mistérios iniciáticos recomposto ao gosto iconográfico bizantino a que foram adicionados pastiches anacrónicos como a referência à chefia de Pedro que há época não existia ainda.

 

Ver: RESSURREIÇÃO MÍSTICA

& (***)O PRIMADO DE PEDRO (***)

 

No entanto, o fundo verídico da cena reporta-nos para um realismo trágico dum Jesus ressurrecto ainda combalido pelos rigores da paixão e da cruz. Por outro lado, o contraponto com a Pistis Sofia e o Evangelho de Bartolomeu permite-nos confirmar que este João Virgem era o “discípulo amado” que a tradição errónea e precipitadamente confundiu com João Zebedeu por não ter conseguido entender a verdade estranha de João Marcos poder ter a autoria de dois evangelhos canónicos tendo sido também co-autor do 4º evangelho.

A verdade é que o texto do “Evangelho secreto de Marcos” vem na continuação de outros indícios que apontavam já no mesmo sentido dum fenómeno da pederastia iniciática que segundo Bernad Sergent no seu livro «Homossexualité e iniciation chez lés peuples indo-européens» foi comum a todas as sociedades iniciáticas antigas e arcaicas.

Os ritos iniciáticos para os neófitos que queriam entrar no Reino de Deus correspondiam a uma forma de castração mística menos cruenta do que nos ritos de Cibel mas possivelmente mais eficaz por via da transferência psicanalítica e duma forma de homossexualidade platónica que fazia dos essénicos seres angelicais vestidos de linho branco condenados a ter que adoptar órfãos ou crianças abandonadas por terem renunciado ao casamento! E é então que a homossexualidade atravessa os bastidores da cena da última ceia travestida de crime nefando suficientemente assustador para os cristãos ao ponto de nem verem o óbvio: que o celibato católico deve ser encarado como uma forma de homossexualidade platónica herdada dos cultos de Cibel e do xamanismo arcaico! Mas a verdade é que o voto de castidade católico previsto nos evangelhos é uma manifestação explícita da sua relação com os sacerdotes eunucos dos cultos iniciáticos de Cibel.

Marcos 1010 E em casa tornaram os discípulos a interrogá-lo acerca disso mesmo. 11 E ele lhes disse: Qualquer que deixar a sua mulher e casar com outra adultera contra ela. 12 E, se a mulher deixar a seu marido e casar com outro, adultera. (Obviamente que, como nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido, Marcos foi um dos não pode receber o mistério dos eunucos que se castram a si mesmos” porque ainda não tinha sido iniciado e por isso Jesus terá evitado dizer isto de forma que Marcos ouvisse! Pelo contrário, Marcos ficou encantado por o reino de Deus ser recebido como uma criança que se toma nos braços porque ele era ainda uma criança, ou quase porque era um adolescente ainda não iniciado!

13 E traziam-lhe crianças para que lhes tocasse, mas os discípulos repreendiam aos que lhas traziam. 14 Jesus, porém, vendo isso, indignou-se e disse-lhes: Deixai vir a mim os pequeninos e não os impeçais, porque dos tais é o Reino de Deus. 15 Em verdade vos digo que qualquer que não receber o Reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele. 16 E, tomando-as nos seus braços e impondo-lhes as mãos, as abençoou.

17 E, pondo-se a caminho, correu para ele um homem, o qual se ajoelhou diante dele e lhe perguntou: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?

Mateus, 19: 9 Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de prostituição, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério.

10 Disseram-lhe seus discípulos: Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar. 11 Ele, porém, lhes disse: Nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido. 12 Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos por causa do Reino dos céus. Quem pode receber isso, que o receba.

 

 

13 Trouxeram-lhe, então, algumas crianças, para que lhes impusesse as mãos e orasse; mas os discípulos os repreendiam. 14 Jesus, porém, disse: Deixai vir a mim os pequeninos e não os estorveis de, porque deles é o Reino dos céus.

 

 

15 E, tendo-lhes imposto as mãos,

 

partiu dali. 16 E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei, para conseguir a vida eterna?

Esta opinião de Jesus a respeito das causas para a existência de homens solteiros é apenas referido por Mateus. No entanto, sendo Mateus uma cópia quase fiel de Maços estranha-se que esta intrusão “gnóstica” no mais clerical dos evangelhos seja uma interpolação. Na verdade, sempre que se fazem referências comparadas com o Evangelho dos Hebreus a esta versão do evangelho de Mateus é para referir o que aquela versão hebraica refere e nunca para dizer o que ela omite sendo assim impossível confirmar se estaria ou não na versão original hebraica a referência ao celibato e aos eunucos. Existe no entanto uma referência cátara quase textual aos versículos de Mt. 19, 10-12.

[Evangelho cátaro do pseudo-João] E perguntei ao Senhor: Como acontece que todos recebem o baptismo de João, mas que nem todos recebem o teu baptismo? E o Senhor me respondeu: Porque suas obras são más e porque nem todas vêm à luz. Os discípulos de João se casam, mas os meus não se casam, e são como emissários do céu. E eu disse: se é pecado casar, é conveniente que um homem se case. E o Senhor respondeu: Somente aqueles que foram dados para entendê-lo podem entender essa palavra. Porque existem eunucos que saíram do ventre de suas mães. E há eunucos a quem os homens fizeram isso. E há eunucos que se castraram por causa do Reino do Senhor.

Assim, é quase seguro que estes versículos em Mateus não são originais e devem ser uma interpolação tardia de origem, obviamente que posterior a Ireneu porque este caçador de heresias gnósticas a teria farejado facilmente. Quando é que elas terão entrado neste canónico não se sabe mas possivelmente na mesma altura em que o 4º evangelho começou a ser aceite sem reservas como canónico onde este perícopa estaria inicialmente inserida, porque ouvida de viva voz por Maria Madalena depois de deixar de seguir a João Batista de quem eventualmente se divorciou, sendo por isso agora aqui referida dum modo tal que se suspeita que Jesus ainda faria parte dos eunucos sagrados por ainda não ser já casado com esta mesma Maria Madalena, o que veio depois a acontecer de seguida nas Bodas de Cana.

A piedade cristã, posterior ao puritanismo estóico do baixo-império, pretende ver neta passagem uma fundamentação canónica para a consagração da virgindade e da castidade como virtude moral de referência e para a instituição do celibato católico como caso um particular desta. Em rigor, porém, Jesus apenas tentava explicar aos seus discípulos a razão de ser da tradição arcaica xamânica pela qual existiam homens santos, como os essénicos, que não só se abstinham de relações com mulheres como chegavam mesmo a agir literalmente como eunucos ou quase mulheres, vestindo de branco e carregando à cabeças bilhas de agua das fontes (Mar 14, 13).

Não terá sido por mero acaso que toda esta secreta revelação a respeito dos castrados sagrados, carregada de homossexualidade platónica, antecede a sagrada paixão à primeira vista entre Jesus e o “jovem rico” João Marcos que viria a ser, depois de rebaixado num rito de passagem iniciático individual ao papel dum Lázaro despojado da vida e de todos os bens terrenos antes de ser misticamente ressuscitado como “discípulo amado”!

 

Ver: LAZARO (***)

 

CAPITULO 1 DO 1º LIVRO DE DANIEL

Figura 3: Sarcófago paleo-cristão com cena central de Daniel nu, na cova dos leões. ([5])

A cena de Daniel na cova dos leões como analogia metafórica de que a salvação era alcançada através da fé em Deus era um motivo popular na arte paleo-cristã, particularmente em Sarcófagos onde Daniel aparecia como um belo jovem nú entre dois leões, reconhecidos símbolos do poder soberano de Cibele, a deusa dos castrados “por amor ao reino dos céus”.

1  No ano terceiro do reinado de Joaquim, rei de Judá, veio Nabucodonosor, rei de Babilónia, a Jerusalém, e a sitiou.

2  E o Senhor entregou nas suas mãos a Joaquim, rei de Judá, e uma parte dos utensílios da casa de Deus, e ele os levou para a terra de Sinar, para a casa do seu deus, e pós os utensílios na casa do tesouro do seu deus.

3  E disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus eunucos, que trouxesse alguns dos filhos de Israel, e da linhagem real e dos príncipes,

4  Jovens em quem não houvesse defeito algum, de boa aparência, e instruídos em toda a sabedoria, e doutos em ciência, e entendidos no conhecimento, e que tivessem habilidade para assistirem no palácio do rei, e que lhes ensinassem as letras e a língua dos caldeus.

5  E o rei lhes determinou a porção diária, das iguarias do rei, e do vinho que ele bebia, e que assim fossem mantidos por três anos, para que no fim destes pudessem estar diante do rei.


Figura 4Os príncipes eunucos amigos de Daniel. (Pintura de Simeon Solomon).

6  E entre eles se achavam, dos filhos de Judá, Daniel, Hananias, Misael e Azarias;

7  E o chefe dos eunucos lhes pós outros nomes, a saber: a Daniel pós o de Beltes-saz-ar, e a Hananias o de Sadraque, e a Misael o de Mesaque, e a Azarias o de Abednego.

O termo do persa antigo para eunuco parece ter sido šābis-tān[6], literalmente a cobra sábia, (aparentado no sufixo –tan com o nome de Dan-i-el) mas com o significado funcional de “superintendente da câmara real”, ou seja, camareiro como o termo eunuco grego transliterou o termo acádico.

Pers. Šābis-tān < špstn < sapis-tan < Sag-is + tan[7] <= Sumer lú. sag.

É certo que o sumeriograma SAG se traduz por sagrado mas tanto os sábios quantos os magos e outros oficiais e cortesão xamânicos tinham funções sagradas enquanto «sacerdotes» de Istar...ou de outro templo. E então entendemos que obviamente os termos latinos sacer e sacerdos têm que derivar desta semântica suméria e não da obscura etimologia mítica indo-europeia Sacerdos, Latin word sacerdos comes from Proto-Indo-European *dʰeh-???

 

Ver: KAR, «ET VERBUM CARO FACTUM EST!» (***)

 

Então Daniel / Beltes-saz-ar seria uma espécie de anagrama de sag-is-tan / lú. sag, ou seja o senhor (< bel-tes) eunuco (saz-ar < lusag).

O autor do primeiro livro de Daniel retratou este grande profeta como um herói e é fácil entender a sua delicadeza ao não se referir explicitamente à castração dos jovens judeus exilados. Mas a ênfase com que refere sete vezes o chefe dos eunucos (LU-GAL—SAG) Aspenaz e dos jovens prisioneiros sob seu comando esclarecem a situação, tão comum para os prisioneiros de guerra da época. E assim podemos entender por que Daniel e seus companheiros não têm esposas ou filhos e como Daniel conseguiu continuar como um homem de confiança dos reis sob três impérios, e tantas outras características do livro como os dons xamânicos de Daniel, que a castração potencia, e a fixação freudiana de Daniel por chifres fálicos que crescem.

19 Então tive desejo de conhecer a verdade a respeito do quarto animal, que era diferente de todos os outros, muito terrível, cujos dentes eram de ferro e as suas unhas de bronze; que devorava, fazia em pedaços e pisava aos pés o que sobrava;

20 E também a respeito dos dez chifres que tinha na cabeça, e do outro chifre que subiu, e diante do qual caíram três, isto é, daquele que tinha olhos, e uma boca que falava grandes coisas, e cujo parecer era mais robusto do que o dos seus companheiros. -- Daniel 7:19,20 (...)

6 E dirigiu-se ao carneiro que tinha os dois chifres, ao qual eu tinha visto em pé diante do rio, e correu contra ele no ímpeto da sua força.

7 E vi-o chegar perto do carneiro, enfurecido contra ele, e ferindo-o quebrou-lhe os dois chifres, pois não havia força no carneiro para lhe resistir, e o bode o lançou por terra, e o pisou aos pés; não houve quem pudesse livrar o carneiro da sua mão.

8 E o bode se engrandeceu sobremaneira; mas, estando na sua maior força, aquele grande chifre foi quebrado; e no seu lugar subiram outros quatro também insignes, para os quatro ventos do céu.

9 E de um deles saiu um chifre muito pequenoo qual cresceu muito para o sul, e para o oriente, e para a terra formosa. -- Daniel 8:6-9

 

Isaías 56

1 Assim diz o SENHOR: Guardai o juízo, e fazei justiça, porque a minha salvação está prestes a vir, e a minha justiça, para se manifestar.

2 Bem-aventurado o homem que fizer isto, e o filho do homem que lançar mão disto; que se guarda de profanar o sábado, e guarda a sua mão de fazer algum mal.

3 E não fale o filho do estrangeiro, que se houver unido ao Senhor, dizendo: Certamente o Senhor me separará do seu povo; nem tampouco diga o eunuco: Eis que sou uma árvore seca.

4 Porque assim diz o Senhor a respeito dos eunucos, que guardam os meus sábados, e escolhem aquilo em que eu me agrado, e abraçam a minha aliança:

5 Também lhes darei na minha casa e dentro dos meus muros um lugar e um nome, melhor do que o de filhos e filhas; um nome eterno darei a cada um deles, que nunca se apagará.

6 E aos filhos dos estrangeiros, que se unirem ao Senhor, para o servirem, e para amarem o nome do Senhor, e para serem seus servos, todos os que guardarem o sábado, não o profanando, e os que abraçarem a minha aliança,

7 Também os levarei ao meu santo monte, e os alegrarei na minha casa de oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar; porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos.

8 Assim diz o Senhor DEUS, que congrega os dispersos de Israel: Ainda ajuntarei outros aos que já se lhe ajuntaram.

Conclusiones para reflexionar. El tratamiento de eunucos en Isaías 56 es un buen ejemplo de la teología gay de los años 1970-1990, cuando los varones gay reclamaron su “lugar en la mesa”, es decir el fin de la discriminación y su plena aceptación como participantes en la sociedad tradicional. En contraste, al tratar de los tres tipos de eunucos en Mateo 19:12, Jesús provee un buen ejemplo de la teología queer de los años 1990- 2010, que ha procurado trastornar la mesa y subvertir los valores y las prácticas tradicionales (en este caso la superioridad y normatividad de las casas patriarcales con sus famosos “valores de la familia [nuclear]”). Así, para la nueva comunidad de sus discípulos Jesús pone como modelo, no la casa patriarcal, sino a los eunucos que no se casaron sino que viajaron en parejas del mismo sexo, proclamando el nuevo orden justo venidero de Dios (su “reino”). Paradójicamente, en esta misma época (1990-2010), ha surgido con mucho éxito político el movimiento que apoya el matrimonio gay/para todos/as, denunciando las injusticias de la discriminación tradicional y exhortando las minorías sexuales de rechazar la promiscuidad y entrar en relaciones comprometidas, estables, permanentes y legales. Queda para ver si los nuevos matrimonios entre las minorías sexuales van a ser buen ejemplos del amor y la amistad que Jesús exaltó como su paradigma preferido (Juan 15:12-15) y si los cristianos gay, al apoyar el derecho de matrimonio para todos/as, van a olvidar y abandonar la preferencia de Jesús y del soltero Pablo (1 Cor 7:7-8) para el paradigma de los eunucos misioneros[8]

 

A ANTIGA DEFINIÇÃO ROMANA E TALMÚDICA DE EUNUCOS NATURAIS

(tradução livre do original[9])

Apresentado em uma conferência sobre Eunucos na Antiguidade e Além realizada na Universidade de Cardiff em 27 de julho de 1999.


Eunucos naturais no direito romano: "Nem doentes, nem defeituosos".

Quando o jurista romano Ulpiano declara na Lex Julia et Papia, Livro 1 (Digest 50.16.128), que "Eunuco é uma designação geral: o termo inclui aqueles que são eunucos por natureza, além do esmagado e do martelado, assim como também qualquer outro tipo de eunuco", ele coloca os eunucos naturais em primeiro lugar. Os eunucos mutilados são colocados em uma classificação secundária após um item de conjunção em latim exaustivo, que traduzi como "além disso". Infelizmente, o direito romano não fornece uma declaração o que exactamente une os vários tipos de eunucos sob uma classificação geral. Mas fornece mais material para entender a distinção entre vários tipos de eunucos. A lei (D 28.2.6) diz que alguém que não pode procriar facilmente tem, no entanto, o direito de instituir um herdeiro póstumo, mas não fornece exemplos concretos de tal homem. No mesmo contexto, afirma que o "eunuco" também tem esse direito, enquanto "homens castrados" expressamente não.

Em outros lugares (D 23.3.39.1), Ulpiano discute se o dinheiro, dado no lugar de um dote quando os escravos entram em uma parceria parecida com o casamento, deve ser contado como um dote real depois que os parceiros se tornam livres.

Nesse contexto, Ulpiano menciona um caso especial: "Quando uma mulher se casa com um eunuco", diz ele, "acho que deve ser feita uma distinção sobre se ele foi ou não castrado, de modo que, se ele foi castrado, você pode diga que nenhum dote pode existir; mas existe um dote e uma reivindicação pelo dote contra aquele que não foi castrado, porque existe um casamento".

A distinção que Ulpiano está fazendo aqui é entre o eunuco não castrado, que é elegível para o casamento, e um eunuco castrado, que não é.

Observe, primeiro, que para Ulpiano o termo eunuco pode implicar um homem castrado ou não-castrado e, segundo, as qualidades dos dois tipos de eunucos são significativamente diferentes.

O que é um eunuco não castrado? Ele pode ser um homem que está sem testículos por algum processo que não seja a castração[10], como o esmagamento ou batimento acima mencionado, ou por atrofia causada por doença ou alguém que simplesmente nasceu sem testículos. Tecnicamente, esse eunuco não seria castrado (???).


Walter Stevenson especulou que "o esmagamento e a prensagem eram procedimentos de alguma forma não associados à castração mais drástica". Talvez seja o processo de corte que desqualifica o homem castrado para o casamento. De fato, em outra parte do Digest, Ulpiano mais uma vez destaca a castração como negativa. Ulpiano observa (D 48.8.4.2) que o imperador Adriano criou eunucos, especificados como com castração, sujeitos à mesma penalidade que o assassinato.

No entanto, vemos que Paulus preencheu a omissão de Ulpiano de outros tipos de mutilação quando lembrou (D 48.8.5) que aqueles que produzem thlibias (isto é, que esmagam os testículos de outros) estão na mesma posição que aqueles que fazem castrações. Isso sugere que esmagar e bater são como castração perante a lei.

Está em questão a destruição da integridade corporal de um homem? Por essa lógica, o eunuco mutilado seria incapaz de se casar porque sua integridade corporal e, com isso, sua dignidade foram comprometidas, enquanto um eunuco natural nasce incapacitado e sua integridade não foi ferida por si ou por outra pessoa. Por mais plausível que essa última hipótese possa parecer no contexto romano, outra distinção está aqui realmente em acção, como veremos.

Havia uma espécie de "lei do limão" para os escravos no império romano - assim como nos tempos modernos os revendedores de carros usados podem ser proibidos de ocultar grandes falhas nos carros, os traficantes de escravos romanos eram proibidos de ocultar falhas graves nos escravos que eles ofereciam para venda. O objectivo das decisões do Título 21 do Livro 21 do Digest era determinar que tipos de falhas dariam origem à rescisão de um contrato de compra se o vendedor não as tivesse denunciado antes da venda.

Pequenas falhas, como feridas cicatrizadas há muito tempo ou fala gaguejante, eram chamadas de defeitos e não exigiam divulgação. Falhas relevantes, como cegueira ou tuberculose, eram chamadas de doenças. O jurista Sabinus definiu doença neste contexto como "uma condição física não natural, pela qual a utilidade do corpo é prejudicada para os propósitos para os quais a natureza nos confere saúde corporal"[11].

Ulpiano declara que "se houver algum defeito ou doença que prejudique a utilidade e a capacidade de manutenção do escravo, isso é motivo de rescisão; devemos, no entanto, ter em mente que uma falha muito pequena não levará à sua manutenção com defeito ou Assim, uma febre leve, ou uma velha febre recorrente que agora pode ser ignorada ou uma ferida trivial, não terão qualquer responsabilidade se não forem declaradas; essas coisas podem ser tratadas como sob aviso prévio".

Ulpiano finalmente estipula que "geralmente, a regra que parecemos observar é que a expressão “defeito e doença” se aplica apenas ao corpo...Em suma, se o defeito for apenas da mente, não haverá rescisão, a menos que o fornecedor tenha declarado que esse defeito não existe quando, de fato, existe... ou se o defeito for totalmente físico ou uma combinação do físico e do não físico, há margem para rescisão".

Paulus diz (D 21.1.5): "Assim como há uma distinção entre os defeitos, que os gregos descrevem como malignidade, e aqueles que eles categorizam como infortúnios, doenças ou fraquezas, também há uma distinção entre esses defeitos [menores] e essa forma de doença pela qual o uso (usabilidade) de um escravo é reduzido".

Então, vemos que o princípio é que um escravo é doente para os propósitos da lei, se ele possui uma falha corporal que diminui o seu uso (usabilidade), o que para um escravo significa sua capacidade de desempenhar certas funções que podem ser valiosas para o seu dono.

Agora chegamos ao ponto que nos interessa hoje. A lei conclui que os eunucos (???) não tinham uma falha corporal incapacitante.

Ulpiano diz (D 21.1.6.2): "Para mim, parece melhor que um eunuco não esteja doente ou defeituoso, mas saudável, assim como um homem que tem um testículo, que também é capaz de procriar".

Portanto, Ulpiano está dizendo que a utilidade ou capacidade de um eunuco não é destruída por ele ser um eunuco: ele é capaz de procriar. Como pode ser isso, pedimos hoje? Os eunucos, como todos sabemos, são incapazes de procriar por sua emasculação!

Paulus (D 21.1.7) esclarece: "Se, por outro lado, alguém é um eunuco de tal maneira que lhe falta uma parte necessária do seu corpo, mesmo internamente, então ele está doente".

Portanto, a capacidade reprodutiva da forma não qualificada de eunuco não é destruída porque ele não perdeu nenhuma parte necessária de seu corpo. Se fosse impossível para um eunuco produzir um filho por causa de uma característica corporal, mesmo que ocorresse naturalmente como um defeito de nascimento anatómico, isso claramente constituiria uma doença nesta secção. Mas Ulpiano diz que um eunuco não está doente, mas saudável. Aparentemente, a situação de eunuco seria um problema mental, sem defeitos anatómicos incapacitantes e, portanto, sem consequências legais relevantes. (...).

Para recapitular, a distinção entre Ulpiano e Paulus está entre um eunuco cuja capacidade de procriar é destruída porque faltam partes necessárias de seu corpo, e um eunuco anatomicamente inteiro para quem a procriação pode ser psicologicamente difícil, mas é biologicamente desimpedida.

Voltando às outras declarações de Ulpiano sobre os vários tipos de eunucos, lembramos eunucos por natureza, eunucos esmagados e esmagados e eunucos castrados. Fora dessas categorias, os esmagados, martelados e castrados carecem de partes necessárias do corpo e são fisicamente incapazes de procriar. Só existe uma categoria para os eunucos anatomicamente inteiros: eles são os "eunucos naturais".

Em D 50.16.128, os eunucos naturais são mencionados primeiro antes dos eunucos criados pelo homem, e em D 21.1.6.2 eunucos inteiros são mencionados antes dos eunucos anatomicamente privados. Sob a lei romana, não apenas é muito importante se um eunuco é mutilado ou anatomicamente inteiro, mas o eunuco natural e inteiro é o verdadeiro eunuco.

Examinando as disposições legais romanas sobre eunucos, vemos que os eunucos podiam fazer testamentos (Código de Justiniano 6.22.5, 12.5.4.2-3) e eram obrigados a desempenhar deveres de tutela (Código de Justiniano 5.62.1). Eunucos inteiros que eram homens livres, diferentemente dos eunucos mutilados, eram elegíveis ao casamento e à adopção de filhos (D 23.3.39.1, 28.2.6). De fato, eunucos anatomicamente inteiros tinham todos os direitos e deveres dos homens comuns.

Mas é claro que os eunucos não eram apenas homens comuns. Embora eles não tivessem defeitos corporais legalmente relevantes, eles eram, no entanto, caracterizados na mente popular por uma certa incapacidade física. A visão popular dos eunucos como defeituosos explica sua aparência na lei sobre defeitos nos escravos, e também é transmitida pela redacção de outras leis romanas, se não pelos seus efeitos.

O Primeiro Comentário de Gaius, Seção 103, incluía eunucos entre aqueles que "não podem procriar", mesmo dizendo que poderiam adoptar e arrogar herdeiros. Em sua reedição das leis, Justiniano manteve a disposição de Gaius em relação à palavras sobre "eunucos", mas acrescentou uma cláusula de que "homens castrados" deveriam ser excluídos desses direitos.

No Primeiro Comentário, Seção 196, Gaius afirmou que um eunuco não alcançou a puberdade como um homem. Por outro lado, ao prever (D 1.7.40.1) que um eunuco pode obter um herdeiro exclusivo por arrogação, Modestinus afirmou categoricamente: "ele não tem um defeito corporal como impedimento" [nec ei corporale vitium impedimento est].

Então, o que definiu o eunuco natural, se ele estava anatomicamente intacto?

Para isso, devemos considerar noções antigas de como a reprodução ocorria. Os médicos antigos não tinham conhecimento de espermatozóides e óvulos. Pensava-se que a causa da concepção era um calor dinâmico encontrado nos machos, que pode transformar fluidos não-regenerativos já existentes em um estado formado e generativo, tal como as claras de ovo gel em ovos escalfados. Quando implantada no útero, essa semente seria nutrida e se tornaria um bebé. De acordo com uma longa tradição datada pelo menos de Aristóteles, os fluidos das mulheres não eram generativos porque, pensava-se, seus corpos eram muito frios e húmidos para dar forma ao sémen (Generation of Animals 1.20, 4.1). Era por isso que as mulheres não podiam produzir filhos sem homens. Para produzir um filho, o sémen primeiro teve que ser “escalfado”, por assim dizer, pelo calor do orgasmo do macho.

Se um eunuco do século II pudesse ser simplesmente um homossexual impotente com as mulheres, no século IX, o significado de eunuco havia mudado e se estreitado. O imperador bizantino Leão VI não precisou mais distinguir entre tipos de eunucos. Por exemplo, sem notar que ele estava mudando antes, Lão proibiu absolutamente os eunucos de se casarem (apenas homens castrados foram proibidos pelos antigos, e não os eunucos em geral) (Constituição 98). Por outro lado, apesar de os eunucos terem permissão para adoptar em todas as leis anteriores, Lão apresentou sua lei permitindo que os eunucos adoptassem como uma mudança (Constituições 26, 27). E foi uma mudança, porque por "eunucos" ele quis dizer apenas homens mutiladosEle achava que os antigos estavam errados ao proibir a adopção por homens que sofreram "actos letais". Segundo Leão, os antigos "declararam uma razão para essa exclusão que a lei não deveria reconhecer pessoas que a Natureza não considera qualificadas para geração como adequadas para essa função". Mas Leão corrigiu a visão anacrónica dos antigos: pois não era a Natureza, mas os seres humanos que os haviam ferido, e "Não pensamos que a lei deva ser tão cruel com eles quanto aqueles que lhes infligiram esse ultraje". ... de modo que "se desejarem adoptar alguém, terão poder para fazê-lo". O imperador fez essas disposições sobre os eunucos sem nunca mencionar a distinção entre tipos de eunucos, que era crucial e indispensável para os legisladores romanos anteriores. Isso apesar do evangelho de Mateus também mencionar eunucos que nasceram assim do ventre de sua mãe (mencione-os primeiro, devo acrescentar) em distinção aos eunucos feitos pelo homem e voluntários (Mateus 19:12).

Kathryn Ringrose (...) e outros mencionaram a mudança no significado de eunuco entre o terceiro e o décimo segundo séculos. Agora sabemos em que consiste a mudança. Antes, os eunucos eram principalmente homens anatomicamente inteiros, enquanto mais tarde apenas homens anatomicamente privados eram eunucos.

Sob o cristianismo, essa falta de desejo sexual em relação às mulheres que antes destacavam os eunucos naturais não podia mais ser a base para distinguir tipos de homens. Um homem que não tinha desejo sexual por mulheres tinha opções: ele poderia se tornar um padre celibatário, ou ele poderia permanecer celibatário no casamento, se quisesse. De fato, muitas vezes era admirado que os casais evitassem a indulgência sexual, embora se esperasse que a noiva tivesse sido informada de antemão da falta de interesse do marido por ela. Muitas vezes pensei que o casamento cristão ideal seria entre um homem gay e uma lésbica: eles realmente teriam sexo apenas para procriação. [Desde que escrevi isso, publiquei um ensaio que aponta a transformação no significado de "eunuco" mais precisamente para o século IV, como resultado de conflitos sobre a doutrina da igreja, na qual se dizia que os eunucos desempenhavam um papel e o estabelecimento de uma parte do conflito como a igreja imperial oficial.]

Os eunucos naturais que cediam aos seus próprios desejos sexuais foram rotulados como sodomitas. De fato, a Nova Constituição de Justiniano 141, ao exortar os homens do império a abandonar as práticas homossexuais de homem com homem, observa que alguns homens continuarão mais obstinadamente em seus hábitos ímpios, e adverte que toda a força da lei será trazida contra eles.

No Código Visigótico Cristão ocidental do final do século VII, a categoria eunuco (natural) desaparece, e parceiros activos e passivos em actos homossexuais "masculinos" eram sujeitos à castração (Lex Iudicorum 3.5.5-6). Assim, no cristianismo oriental e ocidental, os eunucos naturais se tornaram celibatários totais e, se cediam à suas concupiscências, eles se mantinham "no armário" ou arriscavam ser mortos ou a tornarem se eunucos criados pelo homem.

Eunucos naturais no Talmude: nunca se encaixam, mas são possivelmente curáveis

Como a lei romana, o Talmud também distinguiu com claras consequências legais entre eunucos naturais e artificiais. Em Yebamoth, capítulo 8 (folha 79b), o rabino Joshua fez uma pergunta sobre uma contradição que havia encontrado na lei.

De acordo com a Bíblia (Deuteronômio 25: 5-10), quando um homem morre sem filhos, é responsabilidade de seu irmão casar com a viúva e gerar um filho em nome de seu irmão. Qualquer homem que se recusa a dar um filho a seu irmão falecido fica desonrado e deve se submeter a uma cerimónia pública humilhante chamada "chalitsah", na qual a viúva tira um dos sapatos e cospe na cara. A partir de então, a família do irmão relutante é conhecida como "a casa daquele que soltou o sapato" [beit chalu 'hanna'al].

O problema legal que intrigava o rabino Joshua era o seguinte: "Ouvi dizer que um eunuco se submete ao chalitsah e que o chalitsah é arranjado para sua esposa, e também que um eunuco não se submete ao chalitsah e que nenhum chalitsah é arranjado para sua esposa, e eu sou incapaz de explicar isso. "O texto continua com duas explicações conflituantes dos Tannaim.

O rabino Akibah disse: "Vou explicar: um eunuco feito pelo homem se submete ao chalitsah e o chalitsah também é arranjado para sua esposa, porque houve um tempo em que ele esteve em boa forma. Um eunuco por natureza não se submete ao chalitsah nem o chalitsah são arranjados para sua esposa, pois nunca houve um tempo em que ele estivesse em forma".

O ponto de vista oposto foi dado pelo rabino Eliezer, que disse: "Não, mas um eunuco por natureza se submete ao chalitsah e o chalitsah também é arranjado para sua esposa, porque ele pode ser curado. Um eunuco feito pelo homem nem se submete ao chalitsah. nem o chalitsah é arranjado para sua esposa, pois ele não pode ser curado."

O texto continua: "O rabino Joshua ben Bathyra testemunhou a respeito de Ben Megosath, que era um eunuco criado pelo homem que morava em Jerusalém, que sua esposa foi autorizada a se casar pelo levirato, confirmando assim a opinião do rabino Akibah. O eunuco não se submeterá à chalitzah nem contrairá o casamento por levirato... "

No Talmude, como no direito romano, a distinção entre eunucos naturais e eunucos feitos pelo homem era substantiva, embora não seja fácil determinar se o eunuco natural ou o eunuco feito pelo homem estavam em uma posição melhor. Ambos os tipos de eunucos pareciam estar isentos da exigência de realizar o casamento por levirato ou submeter-se ao chalitsah; portanto, não havia vantagem aqui para o eunuco natural. De qualquer modo, o eunuco criado pelo homem parecia ter maiores privilégios do que o eunuco natural, uma vez que o eunuco criado pelo homem tinha um filho gerado em seu nome por seu irmão, se ele morresse sem filhos. É provável que o eunuco natural não tenha se casado em primeiro lugar, pois ele nunca tinha estado em boa forma. (...)

[Em uma revisão posterior, dado que o "eunuco" não qualificado é considerado isento de casamento levirato, enquanto o eunuco artificial não é isento, parece-me ainda mais fortemente que o "eunuco" não qualificado é o eunuco por natureza.] Mas o mais interessante é que o rabino Eliezer acreditava que o eunuco natural poderia ser curado. Aqui, eu apenas observaria controvérsias passadas nos Estados Unidos sobre supostas curas para a homossexualidade.

Existe uma ambiguidade potencial no uso da frase em inglês "por natureza" neste contexto. "Por natureza" pode significar duas coisas diferentes: "por constituição ou essência" ou "por causa das acções da natureza ou do destino aleatório". No Talmude, o termo contrastado com o eunuco artificial [saris adam] é literalmente "eunuco do sol" [saris chammah], com a implicação de que o "eunuco solar" tem sido assim desde que o primeiro sol brilhou sobre ele. Essa é a interpretação dada pela edição Soncino de Yebamoth.

Para os rabinos Amoraim que compuseram as secções gemara, ou comentários, de Yebamoth, a identificação de um "eunuco solar" apresentava um problema. É interessante que, em suas reflexões sobre os possíveis meios de identificar um "eunuco solar", nenhum dos rabinos sugeriu procurar defeitos nos órgãos reprodutivos. Em vez disso, procuraram a ausência de pelos pubicos aos vinte anos (expressamente um dos sinais de puberdade na lei romana), ausência de espuma na urina, sémen aguado, urina que não fermenta, ausência de vapor do corpo após uma banho de Inverno e, finalmente, uma voz tão anormal que não se pode distinguir se é a de um homem ou de uma mulher. Muitas dessas características, se não todas, parecem reflectir uma frieza aristotélica no corpo do eunuco.

Essa hipótese interessante é complicada pelo que os rabinos disseram ser a causa do eunucismo natural, a saber, que durante a gravidez a mãe do eunuco natural bebia cerveja forte e pão assado ao meio-dia. Em outras palavras, foi um excesso de calor durante a gestação que causou o eunucismo. Talvez isso também explique o termo "eunuco solar". Talvez o eunuco seja como uma lâmpada queimada, que depois nunca esquenta mais. De qualquer forma, se o "eunuco solar" fosse um eunuco (castrado) no sentido moderno do termo, talvez por causa de um defeito anatómico de nascimento, não seria necessário recorrer a testes tão obscuros para identificá-lo.

 

Um terceiro género.

Discussões sobre eunucos naturais não são encontradas apenas na lei romana e judaica, mas também na literatura grega e latina.

Aristóteles alertou que alguns meninos que se envolviam em relações sexuais receptivas passariam a gostar e poderiam tornar-se impubescentes desde o nascimento e não procriativos devido a uma imperfeição dos órgãos reprodutivos (History of Animals 7.1.5-6).

Plínio, o Velho, designou eunucos e hermafroditas ao "terceiro gênero chamado meio-macho", dizendo que essa categoria também incluía homens cujos testículos foram destruídos, por ferimentos ou por causas naturais (História Natural 11.49). Assim, Plínio distinguiu entre eunucos e homens cujos testículos foram destruídos, mesmo ao categorizá-los juntos, juntamente com os hermafroditas, como meio-machos do terceiro gênero.

Na Physiognomy 2.3, Adamantios disse que: "As características dos eunucos naturais são piores que as dos outros homens. Portanto, a maioria deles são selvagens, malfeitores e enganadores, cada um mais do que o anterior. Porém, nos eunucos cortados, algumas características mudam ao mesmo tempo que o corte, mas a maior parte de sua natureza congénita permanece ".

Observe que Adamantios descreveu eunucos naturais em termos distintamente psicológicos, tendo certas características de personalidade. Essas características não eram observáveis em sua maioria em eunucos cortados, que mantinham a maior parte de sua natureza congénita, ou seja, como machos. Traduzo esta passagem de maneira diferente da que Kathryn Ringrose fez em seu ensaio. Ela não fez uma distinção aqui entre eunucos naturais e cortados, mas fui liderado por Ernst Maass em seu ensaio de 1925 "Eunouchos und Verwandtes", que viu a "mesma distinção" em Adamantios como na declaração de Ulpiano sobre eunucos naturais e artificiais.

Observe também a atitude cruelmente desdenhosa de Adamantios em relação aos eunucos naturais. Não é uma reminiscência de atitudes negativas em relação aos homossexuais passivos, como observado com frequência nos estudos modernos sobre homossexualidade no mundo clássico?[12]

Na mesma linha, veja a declaração dada pelo personagem de Luciano Diocles em The Eunuch, de que um eunuco está "em pior situação do que um padre castrado de Cybele [bakêlos], pois este último pelo menos conheceu a masculinidade uma vez, mas o eunuco “que tenha sido cortado "desde o início e era um tipo ambíguo de criatura como um corvo, que não pode ser considerado nem por pomba nem por corvo" (Eunuco 8). Da mesma forma, a explicação de Diocles de que "um eunuco não é masculino nem feminino, mas algo composto, híbrido e monstruoso, estranho à natureza humana" (Eunuco 6).

No diálogo de Luciano, um eunuco autoproclamado está competindo contra Diocles, que é homem, em um concurso público por uma cadeira dotada de filosofia, e o homem argumentou que nenhum eunuco deveria manter tal posição de dignidade e honra. O eunuco argumenta em contestação que mesmo as mulheres podem ser filósofas, assim um eunuco certamente pode ser (Eunuco 7). No entanto, a disputa continua.

No final do diálogo, quando um espectador afirma saber que esse eunuco não é realmente eunuco, mas simplesmente assumiu essa identidade falsa para escapar de uma acusação anterior de adultério, Luciano explora a tensão existente em seu tempo entre as definições de eunucos mutilados e anatomicamente inteiros.


Luciano indica várias vezes que a impotência, especificamente com as mulheres, é uma característica definidora de “certos” eunucos[13]. É verdade que metade dos espectadores queria levantar a capa do suposto eunuco e inspeccioná-lo, "como fazem com os escravos comprados com prata" (Eunuco 12). Isso corresponde ao eunuco artificial. Mas outros tiveram a ideia "ainda mais ridícula" de buscar algumas mulheres em um bordel e colocá-lo em um quarto com eles e ordená-los a fazer sexo com elas. O juiz mais velho e mais confiável deve aguardar para observar se ele foi capaz de executar. Isso corresponde ao eunuco anatomicamente inteiro, que é impotente porque não sente o calor da paixão pelas mulheres. Os testes nunca são realizados, mas o eunuco de renome, que agora quer ser considerado um homem para garantir a posição académica, começa a fazer sexo com o maior número de mulheres possível para provar que não é um eunuco. E o narrador da história reza ao final que seu próprio filho terá as habilidades genitais necessárias para ser um filósofo (Eunuco 13).


Aproximadamente contemporâneo de Adamântio, Luciano, os legisladores romanos e Rabinos Akibah e Eliezer, o teólogo cristão Clemente de Alexandria forneceu uma perspectiva complementar sobre o eunuco nascido, citando os cristãos da Basiléia com respeito ao verso do evangelho sobre eunucos (Stromata 3.1. 1):

Alguns homens de nascimento têm uma natureza de se afastar das mulheres, e aqueles que estão sujeitos a essa constituição natural fazem bem em não se casar. Dizem que esses são os eunucos de nascimento.

Os basilidianos incluíam aqueles que são infelizmente castrados como eunucos por compulsão, em oposição aos eunucos de nascimento.

Em outro contexto (Pedagogo 3.4.26), o próprio Clemente advertiu os chefes de família cristãos a não confiarem suas esposas a eunucos, porque "mesmo estes são pandaros[14]: eles negligenciarão seus deveres e servirão ao prazer sem suspeitar, por causa da crença comum de que não são capazes de apreciar o amor. Mas o verdadeiro eunuco não é aquele que não é capaz, mas aquele que não deseja fazer amor." Observe que, como cristão que desprezava todo tipo de efeminação masculina, Clemente nem sequer considerava o sexo homossexual aqui. Quando Clement disse que os verdadeiros eunucos não desejavam fazer amor, ele obviamente tinha em mente fazer sexo com mulheres.

No final do século IV, Gregório de Nazianzo aconselha os eunucos naturais a não se orgulharem de sua abstinência, porque uma virtude natural não é digna de louvor como aquela conquistada por um esforço de vontade (Oração 37.16-17). Afinal, que elogios se deve ao fogo por queimar, à neve por estar frio ou à chuva por cair? "Como sua abstenção não é louvável", diz Gregory, "peço outra coisa aos eunucos. Não pratique prostituição em assuntos divinos. Tendo se unido a Cristo, não desonre a Cristo". Ele está abordando a prática antiga, persistente e generalizada de prostituição sagrada e dramatização sexual por homossexuais que remonta pelo menos aos cultos de Ishtar da Arcaica Babilónia.

 

Conclusão:

Em resumo, há uma distinção importante e, nos tempos modernos, lamentavelmente negligenciada nos primeiros séculos de nossa era entre eunucos naturais e artificiais, que é crucial para a compreensão das leis em diversos contextos culturais. Tentei mostrar, usando a lei romana, que quando o termo eunuco era usado isoladamente, normalmente significava eunucos naturais, enquanto os eunucos castrados eram um subgrupo divergente.

Muito mais evidências poderiam ser apresentadas para negar a falsa suposição de que o status eunuco implicava castração e demonstrar que a falta de desejo sexual com as mulheres, bem como uma certa efeminação de corpo e disposição, e até um desejo por sexo homossexual, eram estereotipadas. características dos eunucos. Por outro lado, não existem evidências, de fato nenhuma pode existir, para dizer que a maioria dos eunucos foi mutilada.

Em referências muito precoces à castração, como a Ilíada ou Deuteronômio 23: 1, a palavra eunuco não é usada e, onde os eunucos são mencionados, o corte não está presente, como no Código de Hamurabi (§§ 187, 192-193) , as Leis da Média Assíria (§ 20), o Kama Sutra (2.9, 6.1), as Leis de Manu (9.201-203) e em toda a Bíblia (45 versículos do Velho Testamento, 2 capítulos do Novo Testamento).

Em um dos primeiros usos gregos da palavra eunuco, Hipócrates descreve um povo do norte que sofre de uma alta incidência de impotência não relacionada com deformação genital como sendo "o (povo) mais eunucóide de todas as nações" (Airs, Waters, Places 22).

Embora Xenofonte compare eunucos a animais castrados, ele ainda não vai além de dizer que os eunucos são privados do desejo respectivo [steriskomenoi tautns tns epithumias] (Cyropaedia 7.58-65).

Na primeira aplicação clara da palavra eunuco para se referir a homens castrados, por Heródoto, esse autor sempre usa outra palavra mais concreta para especificar machos castrados, ou seja, ektomias (Histórias 3.48-49, 3.92), sem depender da designação geral eunouchos sozinho para transmitir seu significado (Histórias 6.32, 8.105). Essa palavra ektomias sobrevive até mais tarde que Dio Cassius para designar os castrati em grego em oposição a meros eunucos (Roman History 67.2.3).

Vários testemunhos da surpreendente capacidade procriadora dos eunucos existem ao longo da história pré-moderna em todo o Mediterrâneo, na Mesopotâmia e na Índia. E mesmo na China, onde meu acesso limitado ao material de origem não encontrou pais eunucos, alguns eunucos achavam que sua condição poderia ser curada pela ingestão de certas substâncias sangrentas.

Certamente, algum tipo de interrupção do poder procriativo é uma das características definidoras dos eunucos. O que estou dizendo é que a interrupção do poder procriativo, característico dos eunucos, é equivalente ao que é característico dos homens exclusivamente "homossexuais". Ou seja, sua impotência com as mulheres é suficiente para definir o grupo, mas não é uma impotência absoluta. Eles não têm desejo de sexo procriador, mas às vezes são capazes de fazê-lo em circunstâncias excepcionais.

Percebo que estou fazendo uma afirmação muito controversa e que tenho uma batalha árdua em promovê-la. Espero que pelo menos tenha conseguido desafiar uma suposição inquestionável e confortável, ou seja, que, após a longa e duradoura supressão da não conformidade psicológica de género pela Igreja Cristã medieval, podemos confiar nos dicionários para nos dizerem o que era um eunuco na antiguidade de mundo mediterrâneo. É apenas por causa do movimento vociferante de libertação gay deste século que se tornou possível que os gays fossem construídos como um grupo natural e, assim, fossem identificados com outro grupo análogo construído pela última vez como natural há mais de mil anos[15].

 

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Sobre este longo e exaustivo artigo só podemos referir que evidentemente a natureza humana dos tempos antigos seria a mesma de hoje mas muito diversas eram os costumes e os conhecimentos a respeito da realidade aqui tratada que em parte passou um pouco ao lado dos preconceitos sexuais da época antiga. Seja como for, muito se tem escrito sobre a homossexualidade nas culturas antigas e muito se tem passado ao lado dos eunucos, estes sim, muito mais comuns do que hoje, como se estes nada tivessem a ver com a sexualidade. Ora esta realidade era mais frequente do que hoje porque a castração, como penalidade e ofensa corporal, por acidente, injúria e retaliação, era muito mais comum do que hoje. Quer isto dizer que o eunocismo antigo, de que sobreviveram até aos tempos modernos os castrati na ópera italiana terá sido a realidade primeira mais  importante ficando-se sem saber se os termos gregos ektomias eram o termo técnico próprio para castrati ou mero sinónimo para eunouchos traumáticos não naturais. O consenso erudito comum corrente diz-nos que os verdadeiros, ou pelo menos mais comuns, eunucos eram os castrados.

Eunuco (do latim eunuchus, por sua vez do grego εὐνοῦχος, composto de εὐνή «cama» e ἔχω no sentido de «vigiar», ou seja, «vigilante da cama») é um homem que teve a sua genitália removida parcial ou totalmente, por motivação bélica, punição criminal ou imposição religiosa. Se convertido em eunuco já de adulto, o indivíduo perde a capacidade de reprodução e tem uma substancial perda hormonal em seu organismo. Porém se convertido antes da puberdade, além de ter impossibilitada a reprodução, o indivíduo torna-se incapaz de desenvolver os mínimos traços masculinos, como estrutura muscular e engrossamento de voz, devido a total falta de testosterona em seu organismo.

(...)

Ao longo da história, diversas civilizações utilizaram a castração humana como arma de guerra. Na Ásia, foi praticada desde o Império Assírio, na antiguidade, até o Império Coreano, na idade moderna. Jovens príncipes de reinos conquistados eram tomados ainda crianças como prisioneiros de guerra e convertidos em eunucos. (...)

A prática também foi empregada como punição criminal. Na Grécia Antiga a conversão era imposta a quem reincidia em adultério ou em crime de estupro. Seitas religiosas também impuseram a prática como forma de alcançar a "espiritualidade".

Portanto, os gregos em principio só conheceram inicialmente os eunucos castrados, chamados tecnicamente «cortados» e por isso ektomias (ressecção) por terem sido por vários motivos ectomizados, ou seja cortados por fora, visivelmente castrados. Com o simplismo dos «cortados» manteve-se na linguagem popular da medicina popular espanhola e mirandesa o conceito dos «quebrados» por hérnias inguinais volumosas e incapacitantes.

Έξω (fora) + tομή (cortado) => εκτομίας.

Estranha-se, no entanto que o termo nunca tenha sido, nem em termos médicos, *orchectomiz(ados) < oρχεις + tομή...embora se possa colocar a suspeita de que a ressonância teria estado implícita.

Já o termo «eunuco» (εὐνοῦχος) teria sido uma importação persa trazida na bagagem dos troféus no regresso das tropas de Alexandre o Grande.

A opinião geral é que o título lú.sag / ša rēši designa um eunuco de palácio. (*) No entanto, para uma opinião que rejeita a visão de ša rēši como eunuco, veja Dalley 2001. Para uma sugestão alternativa para as origens do título, veja Dalley 2002. Pirngruber (2011) também duvida se o ša rēši era um eunuco, pelo menos no primeiro milénio aC. Ele aponta para o fato de que os únicos textos que podem apoiar essa possibilidade são do período Assírio Médio e alguns presságios da era Babilónica Antiga. O significado do termo ša rēši, de acordo com Pirngruber, poderia ter mudado ao longo do tempo, de modo que, mesmo se em certos períodos ša rēši de fato designou um eunuco, não era necessariamente assim em outros tempos. Pirngruber sugere que a pesquisa sobre os números de ša rēši foi tendenciosa: os estudiosos modernos foram influenciados pelas perspectivas depreciativas expressas pelos historiadores gregos (como Ctesias) em relação às culturas orientais que conheceram. A visão de Pirngruber pode ser resumida pela seguinte citação: “Os argumentos de que ša rēši sempre significou eunuco também se baseiam, como se vê, em algumas fontes que são difíceis de interpretar e são metodologicamente questionáveis; geralmente é tomada uma posição apenas com referências a trabalhos anteriores"[16].

Por alguma razão entendo que a interpretação de textos antigos devem ser feita mais pelo contexto racional do que pela autoridade científica de quem os traduz. Sendo recebidos em mau estado de conservação e em sistema de escrita complexos e não inteiramente entendidos e na medida em se referem a línguas onde os sentido conotativo era importante mas difícil de captar, por serem mal conhecidas e escassos e fragmentados os textos que nos poderiam fornecer o contexto semântico, os verdadeiro sentido de um termo depende mais da forma como reconstruir-mos o contexto histórico dos textos do que dizem os dicionários eruditos.

 

O DECESSO DE INANA AOS INFERNOS DO KUR,

O pai Enki responde a Ninshubur:

"O que aconteceu então a minha filha? Estou inquieto.

O que aconteceu então a Inana? Estou inquieto.

O que aconteceu então à rainha de todas as terras? Estou inquieto.

O que aconteceu então à hieródula do Céu? Estou inquieto".

Ele tirou surro da uma unha e moldou o kurgarru.

Ele tirou surro de outra unha pintada de vermelho

e moldou o kalaturru

Ao kurgarru deu o "alimento da vida",

Ao kalaturru deu a "água da vida",

Então o pai Enki falou para o gala-tura e o kur-jara:

"Um de vocês polvilhe a folha da árvore da vida sobre ela

E o outro a água da vida eterna.

Vão e dirijam vossos passos para o Sub-mundo.

Voem pelas portas como as moscas.

Deslizem pelos trincos das portas como fantasmas.

"Ereshkigal, a Rainha dos Infernos, estará lá gemendo

Com os gritos de uma mulher em trabalho de parto.

E nenhum linho lhe cobre o santo corpo.

Seus peitos não estão cheios como um navio de carga (cagan).

Suas unhas são duras e curvas como patas de ganso,

Seus cabelos, entrançados como braças de alho-porro.

"Quando ela gritar "Ai, ai, meu coração", vocês chorem também:

"Ai, ai, minha querida, muito dói o seu coração"!

Quando ela gemer "Ai, ai meu fígado", vocês devem gemer assim:

"Ai, ai minha querida, muito dói o seu fígado"!

Então a rainha ficará satisfeita e perguntará:

"Quem sois vós? Falando do meu coração ao vosso coração,

Do meu fígado ao vosso fígado

Se vós sois deuses, deixem-me falar convoco;

Se vós sois mortais, que um destino vos seja agora decretado.

"Então façam-na jurar isso mesmo pelo céu e pela Terra”.

Eles – os deuses dos infernos –

Oferecer-vos-ão a água do rio mas não a aceitem,

Oferecer-vos-ão o grão do campo mas não o aceitem,

Digam antes a Ereshkigal:

"Dá-nos o corpo pendurado no gancho da parede".

Então logo um de vós que derrame sobre Inana o "alimento da vida",

O outro a "água da vida",

Então Inana erguer-se-á".

 

Kalaturru e Kurgarru, nem homens nem mulheres, estas criaturas equivocas de nenhum dos mundos dos vivos e dos mortos, foram criadas por Enki, o Sábios, para poderem descer aos infernos sem ficarem presos à lei do não retorno e serem os guardiões da árvore da Vida eterna no jardim do paraíso. Descendo ao submundo dos infernos de Eresquigal, eles borrifaram o Alimento da Vida e a Água da Vida no cadáver de Inana e assim ressuscitaram a Rainha do Céu e a resgataram de entre os mortos escoltando-a de volta à terra dos vivos. Kalaturru e Kurgarru são xamãs sagrados que distribuem os alimentos sacramentais da Vida eterna e entregam à ressurreição e renascimento os perdidos.

Na medida em que galatos em grego significa leite e que pelas evidentes conotações fonéticas pode ter derivado do nome deste deus sumério Kalaturru ou Galaturru aceitamos que o leite materno fosse intuitivamente a água da vida eterna para o pensamento mágico infantil do homem primitivo.

I shall focus on a kind of singer called a “lamenter”[17] (Akkadian kalû, Sumerian gala[18]) as an instructive example of scholar-singers. These singers were mostly restricted to a special kind of lamentation-text that was composed and chanted for the ritual purpose of appeasing the anger of the gods in the demolition and restoration of temples. (…)

The activities of kalû-priests belonged to the wider spectrum of the Mesopotamian intellectual life that can learn about in a significant number of cuneiform texts unearthed in palace libraries, private houses and temples, dated between the Neo-Assyrian period and the Seleucid period.

For those students seeking higher intellectual specialisations, they could choose at least three kinds of profession, namely the āšipūtu, “profession of the exorcist,” the kalûtu “profession of the lamentation singer,” and the bārûtu, “profession of the diviner.”

In Hunger and Cavigneaux’s studies of Babylonian colophons, we can find expressions like “novice lamentation apprentice” (šamalli kale agašgû), “lamentation apprentice” (šamalli kalê), and “young lamentation priest”(galaturru kalû). -- [19]

Sendo assim, o termo galaturru kalû seria em acádico um jovem sacerdote cantor das lamentações de Istar.

O kurgarrû era um "oficial reconhecido" e não um papel temporário. O mesmo ocorria com o saĝ-ur-saĝ, termo sumério equivalente ao acádico assinnu. Os kurgarrû e os assinnu aparecem frequentemente juntos em listas e em rituais.

A Epopeia de Erra contém uma linha referente ao assinnu e ao kurgarrû no templo de Anum e Ishtar, o Eanna:

ša ana šupluh nišī Ištar zikrusunu uterru ana ain [nišūti]

"A tradução deste verso sumério é ambígua", adverte Henshaw: “aqueles a quem, para provocarem reverência religiosa nas pessoas, Istar transforma a sua virilidade em feminilidade!”

One text pairs the assinnu with the sinnišānu: "The form of this word can be explained as the word for woman, sinništu, with the feminine ending" replaced by the masculine ending -ānu, perhaps to be understood "man-woman". Elsewhere, a curse promises to "(turn) his maleness like (that of) a sinnišānu".

Dito de outro modo o assinnu seria um mulo ou *raparigo, um fêmeo, ou seja, uma bicha machona! No entanto, mesmo assim “tem pai que é cego e mãe que nem quer ver nem saber”, sobretudo se for inconveniente para as crenças religiosas tradicionais.

Mor, sobre a sexualidade pouco clara dos assinantes da Profecia e da Sociedade no antigo Israel. Robert R. Wilson cita as linhas da Epopéia de Erra acima e observa que "Isso tem sido interpretado de várias maneiras para significar que o assinnu era um eunuco, travesti, prostituta de culto ou pederast. No entanto, nenhuma dessas interpretações pode ser inequívoca". ser apoiado por referência a outros textos [portanto] alguns estudiosos sustentam que o assinnu era simplesmente um ator que assumiu um papel feminino em dramas cultos ". Assinnus aparece em três das cartas de Mari mencionando o assinnu, e em uma delas, o assinnu Šelebum entra em transe no templo de Annunitum antes de dar um aviso de profeta destinado ao rei. Wilson sugere que, durante o transe, Šelebum era possuído pela deusa e, portanto, teria falado e agido de maneira feminina; e que isso poderia ter sido uma parte regular do trabalho do assinnu.[20]

Um assinnu que entrasse em transe e assumsse o papel de mulher por profissão ou um travesti que veste roupa feminina para além do Carnaval é apenas um destemido machão, voi lá!

Na descida de Inana dos sumérios aos infernos, o kurgarrû e o kalatura são enviados para resgatar a deusa, mas na descida de Istar dos babilónio, é Asushana-mir, o assinnu.

Os kurgarrû, como outros "oficiais de culto", carregavam armas. Henshaw cita linhas de "Inanna e Ebiḫ", nas quais o deus An diz: "aos kurgara eu dei o espírito da “espada (ou punhal)” e a ba-da-ra ["vara-pau","aguilhão", "faca"] e para os gala dei o tambor e o li-li-is (???) e ao pi-li-pi-li, mudei o sexo". (O interessante que é Anu o pai do céu e não Inanna, quem faz a mudança - "uma mudança de roupa, uma mudança de papel ou uma mudança literal de sexo"[21].

É a visão parcimoniosa de Henshaw que o pili-pili carregava o fuso quando desempenhava um papel feminino, e uma arma quando desempenhava um papel masculino. OTOH, o ETCSL dá uma tradução diferente: "Eu transformei os artistas de culto pilipili". ETA: Segundo Jarle Ebeling, em pi-li-pi-li saǧ šu bal mu-ni- ak, o verbo saǧ šu bal pode significar "virar algo de cabeça para baixo". Betty De Shong Meador descreve esta transformação como "ritual de virar a cabeça"[22]. Também no arsenal dos kurgarrû: o naglabu "navalha", quppû "faca", ṣurtu "faca de pederneira" e o belu / tillu também usado pelo assinnu - todos os quais ulluṣ kabtat ᵈIštar "deliciam o coração de Ishtar".

Um ershemma[23] lamentando Dumuz afirma: "Os kurgarra de sua cidade não brandiram a espada". "Em outros lugares", diz Henshaw, "descobrimos que essas não são apenas armas cerimoniais porque estão cobertas de sangue".

Ele não competirá mais com os jovens da cidade.


Ele não elevará a sua espada mais alto do que os sacerdotes kurgarra.

Óptimo é o sofrimento daqueles que se lembram de Damuz".

Alguns autores sugerem que este é o resultado da auto mutilação; Henshaw acredita que faz parte de um "jogo de guerra". Por exemplo, em um ritual, os kurgarrû e outros "jogam à guerra (lit. “campo de batalha”), isto é, encenam uma batalha em forma litúrgica e dramática. Não nos podemos esquecer que as danças modernas gregas só para homens são uma tradição que remonta às danças dos coribantes no nascimento de Zeus de que derivaram as danças clássicas pírricas, as paeãs e as gmimnopédias.

El Pírrico o Danza pírrica (en griego πυρρίχιος) es la danza de guerra griega más antigua. Los bailarines bailaban portando la armadura de guerra, un escudo, una lanza y casco. Tenía connotaciones de ceremonias, fesitividades, y funerales.

Πυρρίχιος < Phurrichios < Kur-ruki-ki < Kur-kur-ru-ki

Mas, os kurgarrû também carregam "instrumentos simbólicos da mulher": o pilaqqu "fuso, roca ou fivela", chicote e pente.



Figura 5: Baixo relevo com guerreiros dançando a «pírrica». Roma, Museus do Vaticano, Pio-Clementino.

Uma profecia astrológica diz: “Se Adad no meio da constelação da Ursa Maior (der um grito) e chover cardamomo (ou eles se tornaram?) Homens, então os kurgarrûs se sentarão em casa e os kurgarrûs darão à luz um homem”. Com dichotes épicos, Richard Henshaw descreve isso como "difícil", mas ressalta que se refere ao "papel feminino" dos kurgarrû...que mesmo que tentando tudo para se parecerem com mulheres nunca ganharão o mítico prémio Rockefeller para o primeiro homem que emprenhar sem ser pelos ouvidos.

Kur-Gar-ru < Kur-Gar-lu < Kur-Kur-lu > Hércules.

Sabemos que o mitema *Kur-Kur nos reposta para a dupla montanha dos seios da Aurora de que as colunas de Hércules eram o limite do Jardim das Hespérides onde a serpente ladina guardava as portas do paraíso ocidental. Que este herói do machismo grego passou pela humilhação do travestismo na corte de Onfale e que ele mesmo foi educado entre raparigas, vestido de menino como os príncipes europeus de segunda geração para que não viessem a comprometer o direito de primogenitura do mais velho, como foi o caso do irmão de Luís XXIV, já o suspeitávamos. Mas, virá a ser pelo lado deste direito de primogenitura no acesso ao poder que iremos descobrir o mítico maná do pão da vida eterna.

Sabemos que o génio Kurgarrû trouxe o alimento sacramental da vida eterna a Inana mas pela etimologia do nome não temos indícios de qual seria este alimento. Seria o pão de «garroba» ou a sopa de lentilhas que Esaú comeu como se foram sementes da alfarroba ou de gravanço e de xíxaros?

Gênesis 25:28-32 -- Isaac preferia Esaú, porque gostava de caça; Rebeca, porém, se afeiçoou mais a Jacó.

Um dia em que Jacó preparava um guisado, voltando Esaú fatigado do campo, disse-lhe: "Deixa-me comer um pouco dessa coisa vermelha, porque estou muito cansado." {É por isso que lhe puseram o nome a Esaú, Edom.} Jacó respondeu-lhe: "Vende-me primeiro o teu direito de primogenitura."

"Morro de fome, que me importa o meu direito de primogenitura?"

As lentilhas são o mesmo que as «garrobas» na arcaica linguagem espanhola e mirandesa.

«Garroba» (ó Arab. ḵarrū-ba?) < Garru-ka.

«Alfarroba» < al karrub < hebr. charuv < Akkadic. kharubu.

O uso da planta alfarrobeira remonta a cultura da Mesopotâmia. As vagens de alfarroba foram usadas para fazer sucos, doces, e foram muito apreciadas devido a seus muitos usos. A alfarrobeira é mencionado com frequência nos textos que datam de milhares de anos, destacando o seu crescimento e cultivo no Oriente Médio e Norte da África. A alfarrobeira é mencionado com reverência em "A Epopéia de Gilgamesh", uma das primeiras obras de literatura de existência.

O sumeriograma GAR significa "transformar" ou "originar".

Assim sendo, os espírito Kur-Gar-ru era literalmente o Kur-Gar-ru-ka, literalmente “aquele que transportava (kur) a «garroba» ou lentilha que, por sua vez seria o alimento da transformação de Jacó, o amado de sua mãe com artes culinárias de mulher, que se transformou nnum macho patriarcal primogénito pelo preço dum prato de lentilhas, a alimento da vida eterna que matou a fome de Isaú. Mas obviamente que não podemos garantir que o alimento da árvore da vida tenha sido apenas o da alfarrobeira nem as «garrobas» do prato de lentilhas porque poderia ser qualquer outro alimento com fonética próxima como os xíxaros, variante selvagem do grão de bico, o "gravanço" < Esp. Garbanzo < Gar-Wa-enko ou qualquer outro alimento vegetal que fizesse as delícias do «rancho» das milícias da Deusa Mãe.

Se na versão suméria do poema da descida de Inana aos Infernos, Enki deu «o pão da vida» eterna ao eunuco kurgar-ru e «a água da vida» eterna (que poderia também ser a cerveja ou a agua árdente como se pode inferir da versão acádica da descida de Istar aos infernos) ao galatur-ru, na versão acádica Ea usa um assinnu (explicitamente um prostituto masculino) de nome Asu-shuna-mir (que provocantemente significava “aquele (homem) que é resplandecente quando se aproxima”...como se fora uma bela mulher)! Isto só pode querer dizer uma coisa, que Enki / Ea, deus das águas doces e profundas e do Kur, senhor da sabedoria e da profecia, das leis dos «mês» seriam também deus dos xamãs que como sabemos eram seres ambíguos como a sua medicina.

Segundo a Mitologia Suméria, Ea/Enki, o prudentíssimo, temeroso de que Eresquigal mantivesse Inanna para sempre em Kur-Nu-Gia (Inferno), tratou de criar Asushunamir e fazê-lo mensageiro intercessor de Istar diante de Ereshkigal.

Ele era extremamente belo, possuído as duas naturezas, a feminina e a masculina. De modo que podia usar uma delas quando fosse necessário. Então surgiu diante de Eresquigal como um homem elegante, belo e forte, e a rainha do Inferno se viu imediatamente apaixonada. Sem pensar duas vezes ela então ordenou que preparassem um grande e sumptuoso banquete em honra dele, para que pudessem cear juntos. Na verdade a rainha do Inferno pretendia seduzir o mensageiro de Ea/Enki e prendê-lo consigo para sempre.

Em meio a grande banquete, Eresquigal dançou com Asushunamir e se deliciou com seus galanteios e as histórias que contava. Tamanha era a sua entrega que verteu vinho demais e acabou embriagada, enquanto Asushunamir cuidou de manter-se sóbrio. Foi então que ela perguntou se ele não desejava beber da Água da Vida que ela mantinha guardada em sua adega. Ele recordou-se das instruções de Ea/Enki sobre a Água da Vida e de como poderia salvar Inanna com ela, e aceitou. Ao ser servido por Namtar, Asushunamir guardou consigo a Água da Vida e assim que Eresquigal caiu exausta em um sono profundo, ele saiu para procurar Istar e lavar seu corpo com a Água da Vida.

Ele encontrou a deusa do amor, em um estado deplorável de decomposição física, apenas expandiu algumas gotas de água em sua face e ela recobrou a vida e a beleza. Ao terminar de livrar Istar da morte e da podridão, a tomou nos braço e fugiu rapidamente atravessando os portões de Kur-Nu-Gia. O bater da asa do mensageiro de Ea/Enki, acabou por acordar Eresquigal e ela pôde ver que ele a enganara para salvar Istar e que fugia com ela. Cheia de ódio e ressentimento, ela o amaldiçoou antes de atravessar o último portão, impondo-lhe o castigo de ser estranho em sua própria casa (a morada dos Anunnaki), e de ser errante como um vagabundovivendo além e aquém de tudo, nos cruzamentos dos caminhos, nas soleiras das portas, e comendo aquilo que era impuro, bebendo a água das valas. Mas Istar, o abençoou com a sabedoria, o dom de curar e de realizar profecias.

Este poema acádico tem a vantagem sobre o sumério de ser muito mais explicito do que o Sumério sobre a natureza dos assinnu e sobretudo da sua evidente função xamânica.

Kur-Nu-Gia < Kur-Anu-Ki-ka => Ankurtite > Anphirtite.

“Muchos autores opinan que los gala eran homosexuales, travestidos o eunucos, y esta idea podría verse reforzada por la ortografía de la palabra gala, escrita U˘S.KU, puesto que u˘s puede leerse también GI˘S «pene» y KU puede ser también leído DUR «ano»[24]Además, gala es homófono de gaI-la «vulva».” (p. 139).[25]

«Cu» < Ku ≡ Ass ó «asno» < Lat. asinus,

                                             > *ausnos > osnos > Grec. ὄνος (ónos).

formalmente incompatível (?) com o grego antigo ὄνος (ónos). Assim como outras palavras do IE para "burro",  asinus remonta a uma fonte de substrato desconhecido na Ásia Menor a comparar com o hieroglífico luvita tar-kasna, o sumério (ANŠEanšu e antigo arménio ēš. O termo acádico imēru para burro escrevia-se com o cuneiforme sumério ANŠE e, não inteiramente por acaso teria alternativamente a grafia DÙR que também significava Ku possivelmente pelos mesmíssimos motivos que fizeram com que o burro inglês acabasse com significar buttock. Ora, se U˘S.KU era um gala com conotações de sodomita e, por isso um assinnu e quase seguro que foi do nome acádico do kurgarrû, assinnu, que derivou o nome latino do burro...porque seria a ideia eufemista que o senso comum mais lhano faria da opção de vida destes xamãs herdeiros do destino do assinu Asushana-mir a quem Eresquigal, a rainha dos infernos, lançou o feitiço de “ser estranhos em sua própria casaerrante como um vagabundo e viver além e aquém de tudo.

Os esgotos da cidade serão a tua bebida.

O limiar será a tua habitação,

Os entediados e os viciosos te baterão na cara!

Em contra partida Istar deu aos descendentes espirituais de Asushana-mir o dom da sabedoria, da curar e da profecia a cruz de glória que todos os xamãs arrastam penosamente a vida inteira até aos dias de hoje em que os seus dons transformistas foram degradados pela sociedade de consumo em prostitutos masculinos e pelo charlatanismo da engenharia social em modelos intocáveis da identidade de género.

Ku-gar-ru < kur-gar-ru > kur-giru são substantivos que significam actor e intérprete de jogos, peças teatrais, danças e música. Prostituto, cantor e dançarino. Termo padrão, neobabilónico e assírio de empréstimo sumério.

The kugarru, assinu, kulu.u and others were members of the temple which were often mentioned in connection with the cult of Istar performing plays, dances and music as a part of the ritual during festivals.

There is no evidence that they were eunuchs or homosexuals.

However, in the Descent of Istar the reference to the kugarru as neither male nor female may indicate that they were transvestites performing in female costume.

“Los assinn¯u [= sar-ur-sag , en sumerio] tomaban parte en los cultos de I˘star, con vestidos y peinados especiales y con adornos femeninos. Estos individuos aparecen relacionados con el profetismo y la diosa Annun¯itum (una de las advocaciones de I˘star) en tres textos procedentes de Mari.” (Rubio, 1999, p. 138). [26]

Assim em  acádico o assinnu, já era explicitamente um eunuco homossexual e foi em sumério sar-ur-sag = jovem (ur) instrutor (sar) sagrado (sag) seguramente já com muita ambiguidade por fazer parte da tradição xamânica  que a cultura suméria teria necessariamente que manter.

Sar-ur-sag > ur-sag > sumeriograma LU.SAG = homem con-sagrado.

                      > Sarurag > Saregu > *saresh ó ša reši > Aramaic. saris[27]

No entanto não deixa de ser estranho que eunuco seja um termo grego de construção endógena possivelmente a tradução literal do termo acádico para eunuco (sumeriograma LU.SAG = homem con-sagrado) ša reši[28] que literalmente significa “o da cabeceira” da cama ou da câmara (> «camareiro») e que os judeus herdaram do aramaico como saris[29]Sendo este termo entendido pelos gregos como sendo de bárbara pronúncia foi transliterado para o grego como εὐνοῦχος < εὐνή (= cama) + ἔχω (= vigiar), ou seja, «vigilante da cama», o seja, o que atende (à porta do quarto).

A maior parte dos autores consultados a este respeito refere uma grande falta de documentação sobre os castrados antigos, desde logo pela sua raridade etiológica e depois pelo tabu sobre eles levantado pelo decoro comum quando de origem natural. Parece um facto que os eunucos castrados foram usados pelas cortes imperiais caldeias como meio de protecção real, intuitiva mas inútil com o tempo, contra a intriga da aristocracia cortesã e por isso aos eunucos era dado um novo nome e promovida a sua desvinculação familiar como meio de prevenção do nepotismo. No entanto, estes tinham o mesmo estigma psicológico que ainda hoje é atribuído como esteriótipo aos homossexuais exclusivos efeminados: extremamente leais ao poder que os protege e oportunistas sexuais perversos contra quem os pode por em risco.

Aceita-se que a legislação civil do baixo império romano tenha sentido com Ulpiano a necessidade de uma clarificação legal nos termos deste artigo relativamente ao negócio de escravos eunucos. Aceita-se que os eunucos naturais não castrados fossem de aparecimento frequente no mercado de escravos do baixo império e de relativa procura para os mesmo fins dos castrados traumáticos mas duvida-se que estes fossem genericamente o que hoje se chamaria de homossexuais gays, ou seja, os adultos homossexuais exclusivos porque estamos a referir-nos apenas a eunucos escravos que pertenciam a uma classe social onde os preconceitos contra a homossexualidade seriam tão pesados que não teriam grande oportunidade de aparecerem na fase adulta. O mais provável é que os adultos homossexuais das classes livres estivessem sujeitos às leis, regras e costumes que conhecemos para a sodomia e a pederastia do mundo antigo particularmente clássico onde a desonra para a sodomia entre adultos e a homossexualidade exclusiva seria de tal modo pesada, tal como depois para a modernidade cristã eram as penas mortais para o «crime nefando», que foi crime grave até finais do século 19, que dificilmente alguém em seu perfeito juízo se atreveria a sair do armário. Aceita-se no entanto que as anomalias sexuais e endócrinas congénitas fossem tratadas como formas de eunucidade natural e conseguissem confundir-se com algumas formas de homossexualidade efeminada que, sabemos de outros contextos, tinham caminhos alternativos de escape nos cultos orgiásticos de Cibele onde, mesmo aí, o homossexual efeminado, para ser uma sacerdote gala, se sentia compelido assumir a autenticidade de um castrado tal como entre os cristãos bizantino eram quase todos os patriarcas (na tradição dos arquigalas dos cultos de Cibele no Vaticano do império romano) e como sabemos que foi Orígenes.

Capítulo 8. “Eunucos por causa do Reino dos Céus”: castração e virilidade cristã" (245-282). O Eunuco serviu como um poderoso símbolo da conversão do império ao cristianismo. Escritores cristãos denunciaram a castração como característica de todos os machos imorais e efeminados da cultura pagão. Ao mesmo tempo, quando Jesus diz, com sua autoridade, que os cristãos deveriam se tornar eunucos por causa do reino dos céus. [Mat 19:12] exigia uma reabilitação radical do símbolo do eunuco. Os escritores latinos representavam o novo ideal cristão de masculinidade no monge, como um tipo de eunuco viril. Como resultado, o eunuco não apenas serviu como um símbolo dos perigos da masculinidade romano tradicional, mas também de sua transformação cristã (245). A Castração nas tradições Escrituras, Dt 23: 1, etc. (255-260). Os desafios para os escritores do período patrístico eram dois: permanecerem na verdade do que eles acreditavam ser o ensino de Jesus, isto é, que homens cristãos deveriam ser eunucos e o seu próprio desejo de manterem uma identidade masculina. O desafio era construir um eunuco viril (272-73). Monges como eunucos viris (273-282). "O monge prova o sucesso da ideologia cristã masculinidade, abraçando seu paradoxo de virilidade na falta de virilidade, mesmo que fosse o abraço de um eunuco"(282) [30].

A homossexualidade é geralmente considerada um paradoxo darwiniano ou um quebra-cabeça evolutivo, pois se existisse um "gene gay", a teoria da evolução prediz a sua remoção do pool genético de uma espécie (Berman 2003; Camperio-Ciani, Corna e Claudio 2004). Dizem bem, se existisse um "gene gay"! Quando o encontrarem a questão deixa de ser paradoxo para ser um mistério tão insondável como o da Santíssima Trindade!

Afinal, não é óbvio que o sucesso da reprodução dos homossexuais é muito menor do que o sucesso reprodutivo dos heterossexuais? Sim, é!

A questão, em suma, é como um gene gay pode se espalhar através de uma população, se seus portadores não se reproduzirem? Não pode, porque obviamente hão pode haver gene homossexual!

Com o tempo, o neodarwinismo construiu vários modelos para explicar esse aparente paradoxo. Podem construir os modelos que quiserem mas primeiro encontrem o gene gay!

A maioria das soluções propostas para esse quebra-cabeça se baseia na aptidão inclusiva ou na seleção de parentes. Alguns autores, como E. O. Wilson, argumentaram que o comportamento homossexual promove diretamente o sucesso reprodutivo de parentes: alguns homens podem "escolher" proteger seus parentes próximos, porque esses parentes compartilham um número significativo de genes com eles. A aptidão inclusiva permitiria, assim, que o gene gay proliferasse através de linhas colaterais de descendência, mesmo que seus portadores não se reproduzissem. Nesse modelo, os homossexuais seriam "ajudantes no ninho"[31].

Esta teoria não envolve qualquer paradoxo porque se limitaria não a propor um gene gay específico dos gays mas um gene comum a todos os humanos como gene altruísta e que só se desenvolveria em alguns e em determinadas condições de selecção natural por pressão ambiental.

A descoberta sobre a fecundidade aumentada das fêmeas nas linhas maternas de homossexuais não foi confirmado, e os autores indicam que, se for verdade, representaria apenas uma percentagem limitada da variação genética no sexo masculino Teoricamente, porém, a explicação do trade-off da homossexualidade masculina ainda seria atraente, desde que pensemos na homossexualidade como uma evolução paradoxal. Mas será mesmo?Não acreditamos que seja porque é uma tese irracional.

Qual paradoxo? Quase todos os relatos evolutivos da homossexualidade (humana) assumem que os homossexuais não se reproduzem, ou pelo menos o fazem consideravelmente menos que os heterossexuais. Apesar de suas próprias exortações frequentes que não se deve considerar os padrões comportamentais dos homossexuais actuais sejam o único tipo possível de sexualidade entre pessoas do mesmo sexo, poucos teóricos evolutivos, se houver algum, revisaram história da homossexualidade. Em vez disso, eles assumiram que os dados sobre a reprodução dos homossexuais contemporâneos norte-americanos e europeus são representativos de toda a história evolutiva da homossexualidade (Bell e Weinberg 1978; Hamer e Copeland 1994; Miller 2000). Pode ser verdade que homossexuais contemporâneos têm apenas um quinto (até um décimo) do número de filhos como heterossexuais contemporâneos, mas não há razão convincente para pensar que sempre foi assim. Uma das descobertas mais surpreendentes da história histórica recente e pesquisa antropológica sobre homossexualidade é que a maioria dos homens que práticas sexuais entre pessoas do mesmo sexo eram simultaneamente casadas. Assim eles tinham relações sexuais com homens (principalmente meninos ou adolescentes) e com mulheres (Berman 2003; Dewar 2003; Friedman e Downey 1994; Murray 2000). (...)

Conclusão: A biologia animal sugere que o comportamento sexual entre homens do mesmo sexo tem uma longa história evolutiva. Achados recentes na história e antropologia sugerem que esse comportamento era comum em muitas culturas humanas em todo o mundo. Muitos dos homens que se envolveram em práticas sexuais do mesmo sexo eram casados e tinham crianças. Somente no começo do século XVIII é que esses homens chegam sentem-se obrigados a se comprometer com a sexualidade do mesmo sexo ou a heterossexualidade — uma escolha que é então considerada determinante de sua identidade. Seja como for, essas tendências recentes não diminuíram a ocorrência de ocasionais comportamentos sexuais entre pessoas do mesmo sexo, como é evidente em pesquisas em sexologia desde Kinsey. Portanto, pode-se dizer que a homossexualidade não é um paradoxo darwiniano de todo - é "apenas" uma construção social com uma longa história evolutiva. E, no entanto, permanece a pergunta: por que alguns homens preferem fazer sexo com outros homens, mesmo que tenham acesso a mulheres? A hipótese da formação de alianças afirma que a sexualidade do mesmo sexo é apenas uma maneira de estabelecer ou cimentar alianças homem-homem. Tais alianças podem permitir que os homens se reposicionem na hierarquia do grupo, aumentando assim sua aptidão reprodutiva. Ao contrário de muitas outras explicações evolutivas, a hipótese de formação de alianças implica que a sexualidade do mesmo sexo não precisa ser uma característica fixa. Alguns tipos de sexualidade do mesmo sexo pode representar estratégias adaptativas projectadas para lidar com hierarquia social complicada, estratégias somente são desencadeadas em determinadas circunstâncias. Argumentamos que algumas condições sócio-históricas por volta de 1700 podem ter acelerou a transição de um contacto sexual do mesmo sexo principalmente ocasional a um tipo completo e exclusivo, que agora chamamos de "homossexualidade". Como tal, a hipótese de formação de aliança sobre a homossexualidade masculina é um bom exemplo do construtivismo social evolucionário de D. S. Wilson (2005), ou seja, um construtivismo social firmemente fundamentada na teoria da evolução. No entanto, a alegação de que a sexualidade do mesmo sexo não precisa ser uma característica fixa deve não se confunda com a plasticidade irrestrita defendida por alguns construtivistas sociais. De fato, a hipótese de formação de aliança indica os limites de tal flexibilidade, definindo as condições que geralmente conduzem ao desenvolvimento da sexualidade do mesmo sexo. O construtivismo social evolutivo evita os excessos de psicologia evolutiva e do construtivismo social-- The Evolution of a Social Construction the case of male homosexuality, Pieter R. Adriaens* and Andreas De Block*†

 

PEDERASTIA INICIÁTICA NO MUNDO ANTIGO.

Durante los veinte años que duró el mandato del emperador Adriano (117 a 138 dC) se produjo en Roma y sus provincias un nuevo interés por la cultura griega, la cual había perseguido en sus diferentes estadíos el ideal de la belleza humana. Dicho interés era fomentado por el propio emperador quien, conocido como un mandatario itinerante y debido a su cultura personal, en tan poco tiempo se desplazó hacia numerosos puntos alejados de su Imperio, dedicando especial atención a la edificación de obras arquitectónicas y la restauración patrimonial de su adorada Atenas. (…) En uno de aquellos viajes, conoció el emperador a un joven bitino de nombre Antinoo, el cual le pareció ser la encarnación de la belleza misma. En el marco de lo que en la Antigüedad clásica se conocía como Pederastía (la relación entre un hombre maduro y un joven adolescente, en la que el mayor era maestro y guía y el menor discípulo y compañero, y en la que había también un involucramiento amoroso y sexual), el joven y Adriano permanecieron juntos durante los siguientes años, hasta la misteriosa muerte de aquel. (…) Tal parece que Adriano pretendió asimilar a Antinoo al Panteón Olímpico. Ese hecho dio lugar a diferentes reacciones. En Grecia, debido al origen del joven, se recibió el nuevo mito con agrado, pues se veía en él un resurgir de la cultura helénica. Lo mismo pasó en Egipto, pues la obvia vinculación con Osiris hacía que aquella región tan distinta se sintiera partícipe y protagonista. Adriano envió imágenes a los confines del Imperio, desde Britannia hasta Asia Menor. Sin embargo fue en Roma, centro del poder y la religión, en donde Antinoo generó desagrado y malestar. El hecho de que se considerara dios a un simple plebeyo de las provincias, cuando solo el emperador y su esposa eran quienes recibían tal honor, hizo que se sintiera el forzado mito como una injusticia. Por otra parte, los intrigantes que esperaban ansiosos las consecuencias del hiperbólico accionar de un emperador que no podía separar lo público de lo privado y que lloraba a su amante delante de sus súbditos, no entendían que, auténtico o no, el mito servía a Adriano para unificar un Imperio demasiado grande y heterogéneo. Esa fue, sin embargo, una de las acusaciones que se hizo a posteriori, al propio emperador: utilizar al joven muerto como una excusa para acrecentar su poder. Por Mercedes Giuffré. Octubre de 2001.

O termo pederastia (do grego antigo παιδεραστία, de paidika = ἐρώμενος e ἐραστής "amante"), era vista, dependendo das situações, ora como uma questão de fascínio estético, ora inserida na educação dos adolescentes do sexo masculino, rapazes de boas famílias e de boa posição social, por parte dos pedagogos. Geralmente estes pedagogos - varões maduros - tinham o papel de mestres, ensinando-lhes algum ofício, e era muitas vezes motivo de orgulho para uma família que seu filho homem pudesse conseguir um mestre de prestígio, e desta forma ascender socialmente.


Obviamente que em sociedades sem os preconceitos sexuais vitorianos modernos a própria forma do relacionamento variaria entre a mera simpatia, o estritamente erótico e a sexualidade consumada, como contrapartida mais ou menos tácita da mesma.

No Banquete de Platão verificamos que, mesmo quando a sexualidade entre mestre e aluno aparecia como quase inevitável ela poderia nem sequer acontecer mais para desgosto do aluno do que do mestre! Em bom rigor, na relação sexualmente falhada entre Sócrates e Alcibíades ficamos sem saber se foi o descaramento atiradiço de Alcibíades que inverteu os papeis tradicionais ἐραστής / ἐρώμενος irritando ou inibindo o mestre ou se foi este que aproveitou os excessos de ardor do aluno para lhe dar uma lição sabedoria de vida, de moderação e respeito pelos bons costumes e pelos direitos dos idosos em particular. Em qualquer dos caso estamos já perante uma pederastia atípica e decadente em que a contrapartida sexual aparece como objectivo demasiado explícito e primário já nem sequer apenas para o mestre quanto sobretudo para o aluno!

Depois disso convidei-o a fazer ginástica comigo e entreguei-me aos exercícios, como se houvesse então de conseguir algo. Exercitou-se ele comigo e comigo lutou muitas vezes sem que ninguém nos presenciasse; e que devo dizer? Nada me adiantava. Como por nenhum desses caminhos eu obtivesse resultados, decidi que devia atacar-me ao homem à força e não o largar, uma vez que eu estava com a obra em mãos, para logo saber de que é que se tratava. Convido-o então a jantar comigo, exactamente como um amante armando cilada ao bem-amado. E também nem nisso ele me atendeu logo, mas na verdade com o tempo deixou-se convencer. Porém quando veio da primeira vez, depois do jantar queria partir. Eu então, envergonhado, larguei-o; mas repeti a cilada, e depois que ele estava a jantar eu pus-me a conversar com ele pela noite dentro, ininterruptamente, e quando ele quis partir, observando-lhe que era tarde, obriguei-o a ficar. Ele descansava então no leito ao lado do meu, no mesmo em que jantara, e ninguém mais no compartimento ia dormir senão nós. Bem, até esse ponto do meu discurso ficaria bem fazê-lo a quem quer que seja; mas o que se segue a partir daqui, vós não mo teríeis ouvido dizer se em primeiro lugar, como diz o ditado, a verdade não estivesse antes de mais no vinho, sem as crianças ou com elas; depois, porque obscurecer um acto excepcionalmente brilhante de Sócrates, quando se saiu a elogiá-lo, me parece injusto. E ainda mais, porque o estado do que foi mordido pela víbora é também o meu. (...)

Como com efeito, senhores, como a lâmpada se apagara e os servos estavam fora, decidi que não devia fazer nenhum floreado com ele, mas francamente dizer-lhe o que eu pensava; e assim o interpelei, depois de o sacudir:

- Sócrates! Estás a dormir?

- Absolutamente - respondeu-me.

- Sabes então qual é a minha decisão?

- Qual é exactamente? - Retornou-me.

- Tu pareces-me ser - disse-lhe eu - um amante digno de mim, o único, e mostras-te hesitante em declarar-te a mim. Eu porém é assim que me sinto: eu acho-me inteiramente estúpido por não te aquiescer não só nisso como também em algum caso em que precisasses ou de minha fortuna ou dos meus amigos. A mim, com efeito, nada me é mais digno de respeito do que o eu tornar-me o melhor possível, e para isso creio que nenhum auxiliar me é mais importante do que tu. Assim é que eu, a um homem como tu muito mais me envergonharia recusar os meus favores diante da gente ajuizada do que se os concedesse diante da multidão irreflectida.

E este homem, depois de me ouvir, com a perfeita ironia que é bem sua e do seu hábito, retorqui-me: - Caro Alcibíades, é bem provável que realmente não sejas um vulgar, se chega a ser verdade a que dizes a meu respeito, e se há em mim algum poder pelo qual tu te poderias tornar melhor; sim, uma irresistível beleza verias em mim, e totalmente diferente da formosura que há em ti. Se então, ao contemplá-la, tentas compartilhá-la comigo e trocar beleza por beleza, não é em pouco que pensas levar-me vantagem, mas ao contrário, em lugar da aparência é a realidade do que é belo que tentas adquirir, e realmente é “ouro por cobre” que pensas trocar. No entanto, ditoso amigo, examina melhor; não te passe despercebido que nada sou. Em verdade, a visão do pensamento começa a enxergar com agudeza quando a dos olhos tende a perder a sua força; tu porém estás ainda longe disso. E eu, depois de ouvi-lo:

- Ora ai está, quanto ao que é de minha parte nada do que está dito é diferente do que penso; tu porém decide de acordo com o que julgares ser o melhor para ti e para mim.

- Bem, tomou ele, nisso sim, tens razão; daqui por diante, com efeito, decidiremos fazer, a respeito disso como do mais, o que a ambos nos parecer melhor.

Eu, então, depois do que vi e disse, e que como deixei escapar alguma flechas, imaginei-o ferido; e assim que eu me ergui sem ter-lhe permitido dizer-me nada mais, despi-me e vesti esta minha túnica – apesar de ser inverno - estendi-me por sob a manta deste homem, e abraçado com estas duas mãos a este ser verdadeiramente divino e admirável fiquei deitado a noite toda. E não me vais dizer, ó Sócrates, que também nisto estou a exagerar. Ora, não obstante tais esforços meus, quanto mais neste homem cresceu o desprezo pela minha juventude, ludibriando-a, insultando-a justamente naquilo que eu pensava ser alguma coisa, senhores juízes; sois com efeito juízes da sobranceria de Sócrates - pois ficai sabendo, pelos deuses e pelas deusas, quando me levantei com Sócrates, foi após um sono em nada mais extraordinário do que se eu tivesse dormido com o meu pai ou meu irmão mais velho! -- Banquete de Platão.

No banquete de Platão Alcibíades comporta-se como um jovem moderno “mordido pela cobra”, rico e mimado, lançado no jogo do engate descarado de fruta madura.

A estoicidade de Sócrates poderá ter sido real mas foi aqui retratada por Platão como um exemplo de exagerada grandeza moral mas num contexto de que, outro qualquer mortal que não Sócrates, se não se tivera antecipado a Alcibíades pelo menos dificilmente lhe teria resistido tanto tempo!

Por esta altura, Atenas estava a passos largos de distância do mundo antigo oriental e já a caminho da modernidade ocidental futura. Na verdade este relato é quase “um conto da cidade dos Anjos”.

Este episódio de pederastia académica atípica é pouco representativo da pederastia iniciática que continuaria a acontecer em todo o oriente antigo até aos tempos actuais mas já perto do que começava a acontecer a ocidente com o estoicismo e acabou por acontecer quando o cristianismo conseguiu esconder a pederastia nos mosteiros e conventos, não tanto para evitar escandalizar as crianças eventualmente em risco de violência pederástica mas sobretudo para evitar o escândalo público entre adultos carenciados de “brincadeiras infantis”.

Entretanto deram-se os recentes escândalos em alguns seminários e casas paroquiais e foi o suficiente para a pederastia saltar para a primeira página dos jornais e passar de pecado nefando a crime hediondo! O lixo sexual que até ai andava escondido debaixo dos tapetes das nunciaturas apostólicas passou a ser remexido por todos lado e para espanto geral descobriu-se que a pedofilia pedagógica já não existia e, pelo contrário e para vergonha geral, a pedofilia ocorre maioritariamente no meio familiar e não nas igrejas e instituições.

E no entanto a única educação sexual que a Igreja Católica aceitava até ao aparecimento da na Doutrina Social da Igreja de João Paulo II era no seio familiar.

Os pais têm o direito e a obrigação de verificar o modo como se realiza a educação sexual nas instituições educacionais que estão a seu serviço, de modo a garantir que a abordagem deste tema se faça de modo adequado e de conformidade com as suas convicções morais. -- A Família na Doutrina Social da Igreja.

Donde se conclui facilmente que a pedofilia, tal como o incesto, antes de se tornar uma indecência terá sido a forma corrente de aprendizagem prática por vezes traumática da sexualidade e, por isso, um pecado original da espécie humana e corrente entre alguns primatas mais viciosos.

Assim, também se pode inferir que a pederastia / pedofilia pedagógica era a versão civilizada da pederastia / pedofilia iniciática antiga que já era, por sua vez uma evolução dos ritos arcaicos de passagem!

Nos “rituais de passagem” a sexualidade iniciática nem sequer entraria como contrapartida tácita duma relação mestre aluno nem mesmo como mero acidente inevitável de percurso por via duma espécie de relação de transferência de tipo psicanalítico passada ao acto. Os ritos de passagens seriam, como toda a ritualidade antiga, um mecanismo sagrado que tinha por função precisamente a de evitar que a inevitabilidade da transferência provocasse estragos afectivos nos neófitos e mal-estar social.

Sendo assim, na época antiga os mistérios já pouco mais eram do que uma espécie de exorcismo caricato, pálida imagem dos segredos místicos arcaicos com os quais se consumava a iniciação dos adolescentes violentando a sua inocência com um corte simbólico de carga sexual condenando-os assim de maneira violenta ao rigor da vida adultícia particularmente arriscada na caça e na guerra! Suspeite-se também que em épocas já menos arcaicos alguns “rituais de passagem” fossem carregadamente sexuais precisamente como forma rudimentar de educação sexual que permitia aos adolescentes acabados de sair das saias protectoras do matriarcado iniciarem-se nas responsabilidades da vida reprodutiva como condição de sustentabilidade do poder baseado na domus da família patriarcal!

Nos mistérios dionisíacos da época clássica já tudo seria meramente simbólico e dito possivelmente duma forma (que poderá ter sido bem muito mais vernácula em tempos idos!):

* Em nome dos deuses da fertilidade se imola a inocência mordendo-a com a cobra sagrada *!

*Comei e bebei do corpo místico de Baco que será doravante a vossa salvação *! Ou então, alguma fórmula de sabedoria ao gosto do senso-comum, do género:

* faz-te à vida meu filho pensando na eterna porque nesta...meio mundo sobrevive a comer o outro meio *!

Obviamente que, na época clássica, o arcaico direito de rapto referido por Bernard Sergent, no seus livro Homosexualité et initiation chez les peuples indo-européens, já tinha desaparecido há muito assim como o sacrifício de crianças que apenas os fenícios e (quiçá, os judeus da Samaria) praticavam.

A pederastia iniciática começava quando acabava o mundo infantil por volta dos 10 ou 12 anos e acabava nos ritos de passagem em que o mancebo punha a vida à prova de maturidade em rituais simbólicos de morte e ressurreição solar.

Mercedes Giuffré. Octubre de 2001: El fin de la pederastía: El mencionado episodio de la caza del león habría acontecido poco tiempo antes de la conflictiva muerte, en Egipto. Durante su transcurso, Antinoo habría demostrado a los presentes que se había convertido en un hombre, adelantándose y acometiendo valerosa y virilmente a la fiera y dejando a Adriano el estacazo final. Este hecho marcaría la superación del joven y el fin de la pederastia, que habría precipitado luego los conocidos acontecimientos. "Cediendo, como siempre, le prometí [a Antínoo] el papel principal en la caza del león. No podía seguir tratándolo como a un niño, y estaba orgulloso de su fuerza juvenil". (Yourcenar, Marguerite. pág 154.)

A este propósito, e não apenas de passagem, importa aqui referir a duplicidade hipócrita que a literatura beata, iniciada pelos padres da Igreja, vieram introduzir no contexto da moralidade ascética ocidental iniciada pelo estoicismo militarista romano em contra corrente com as mais antigas tradições orientais.

Éste Antinoo, aunque saben que es un hombre, y un hombre en modo alguno honorable sino libertino a más no poder, recibe honores por miedo hacia quien dio semejante orden. Pues cuando Adriano estuvo en la tierra de los egipcios murió Antinoo, el esclavo de su placer, y entonces ordenó que se le rindiera culto, ya que aún después de su muerte estaba enamorado del joven"; San Atanasio Contra los paganos, Madrid, Ciudad Nueva, 1992, pág. 53.

De qualquer modo, a pederastia pedagógica era bem mais generalizada e institucionalizada do que se desejaria acreditar nos meios católicos sobretudo depois de posições como as de Santo Atanásio a respeito do pupilo do imperador Adriano. Quer Santo Atanásio quisesse ou ignorasse a pederastia era uma instituição educativa oriental antiquíssima e mais respeitada a oriente do que a ocidente.

Obviamente que nesta postura puritana há tanto de beatice acética, herdada do estoicismo latino e do puritanismo farisaico, quanto de apologética hipócrita baseada no superioridade moral do cristianismo como principal argumento contra indignidade dos deuses romanos e a decadência da cultura imperial dominante.

Todas as fontes hoje disponíveis nos revelam que os essénicos e Jesus também praticavam os cultos de mistérios orientais com as necessárias adaptações à tradição judaica mais popular, ainda presente na Samaria, mas rejeitada pela classe sacerdotal, imposta pelos persas, e pelos pragmáticos fariseus e “outros doutores da lei” que sendo defensores duma lei mosaica recentemente inventada como rígida pelos padrões acéticos do maniqueísmo para bom grado de quem ganha a vida nas condenações e com os impostos penais a aplicar aos que sucumbem debaixo dos pesados fardos lei.


Figura 2: Santo Atanásio de Alexandria (295-373).

Santo Atanásio de Alexandria (295-373), (...) foi um dos defensores do ascetismo cristão, tendo inaugurado o género literário da hagiografia, com a Vida de Santo Antão do Deserto, escrita primeiramente em grego e logo traduzida para latim, tendo-se difundido com grande rapidez pelo Ocidente do Império Romano. Este género baseava-se nas Vitæ de autores romanos pagãos (v. g., as Vidas dos Doze Césares, de Suetónio); porém, o que Atanásio procura fazer é tornar as Vitæ um modelo a ser seguido por todo o rebanho cristão, e é nesse sentido que é visto como criador do género;

o que relata não tem que ser necessariamente verdadeiro, antes deve infundir no crente cristão a vontade de cultivar esse mesmo modelo de vida.

A propósito da pederastia a posição dos fariseus era a de Flávio Josefo.

141. Levítico 18, 29 e 21. Moisés condenou como crime horrível o incesto cometido com a própria mãe, ou madrasta, ou tia, tanto do lado paterno como do materno, ou irmã, ou nora. Proibiu coabitar com a própria mulher enquanto ela estivesse nas suas purgações. Condenou como crime abominável o coito com animais ou com rapazes e ordenou para todos esses pecados a pena de morte. -- CAPÍTULO 9, DEUS ORDENA ARÃO SUMO SACERDOTE. HISTÓRIA dos HEBREUS de Flávio Josefo, traduzida por Vicente Pedroso.

Mas se a moral de Jesus era radicalmente anti farisaica sê-lo-ia também a respeito da pederastia? Como adiante se verá, neste ponto Jesus não só seria um defensor escrupuloso ao pé da letra da lei mosaica como iria para além dela condenando severamente não apenas fazer mal como simplesmente escandalizar as crianças. Mas, se em princípio seria contra todas as formas de prostituição incluindo o uso de rapazes como forma de obtenção de puro prazer sexual não seria como Sócrates nem contra o amor platónico por adolescentes nem contra a sua iniciação sexual de forma ritualizada. Mas como nem os santos estão livres do pecado para os quais Jesus trouxe a salvação do perdão de todos os que não fossem contra o Espírito Santo suspeitamos desde já que a pedofilia iniciática ficou sempre como espinho na garganta do clero católico até emergir modernamente no escândalo dos crimes de pedofilia, aprendida nos seminários e propagada e difundida nas paróquias e cercanias de abadias e mosteiros obviamente a par da pura e dura homossexualidade mal disfarçada e encoberta pelo celibato clerical.

Seja como for, o cristianismo do sec. IV fez tudo o que pode para enterrar nas cinzas, a que Tito e seus seguidores votaram Jerusalém e a Palestina, o verdadeiro cristianismo de Jesus ao ponto de condenarem uma das seitas mais próximas de da família de Jesus, a dos Ebionitas, por seguirem um Evangelho Segundo S. Mateus numa versão hebraica que espantava muitos padres de Igreja por parecer, em muitos aspectos mais original do que a que oficial.

Mas Santo Atanásio não fez mais do que todos os que antes e depois dele fazem para viverem em privado e em segredo como querem impondo leis e restrições como muito bem ou mal entendem para que o mundo à sua volta seja feito à imagem e semelhança dos seus medos e conveniências com a aparência de mandamentos de Deus mas nem sequer, ou muito menos, para bem e libertação da humanidade!

Na verdade a pederastia sobreviveu e floresceu nos mosteiros e seminários cristãos até aos nossos dias. Apenas a maioridade dos “direitos do homem” permitiram às sociedades modernas comprarem o direito ao “orgulho alegre” da liberdade entre adultos com a cedência do direito das crianças e dos jovens a serem sexualmente iniciados por pedagogos escolhidos por si, já que passou a supor-se que a modernidade os tornou retardados e incapazes de escolhas adequadas nesta matéria. Hoje, a ignorância em moda, o que resta do puritanismo possidónio e a hidra de sete cabeças chamada hipocrisia levaram os alegres panascas a não quererem confundir-se com os envergonhados pederastas de esquina de rua com os quais nem no sétimo patamar do Inferno de Dante, que é o dos impuros de todos os tipos, se querem ver misturados.

A pedofilia pedagógica já não existe no século XXI porque é um crime penal grave desde o final do século XX! Como sempre, a ilegalidade e a repressão estão a transformar a pederastia e a pedofilia moderna num negócio sórdido de horrores e perversões!

Vilipendiado pelo opróbrio e votado ao ostracismo qualquer “molestador de crianças” é hoje mal intencionado e perseguido em conjunto com os pedófilos violentos, criminosos ou psicopatas.

Ter medo de que alguém possa comer criancinhas ao pequeno-almoço é uma piada de mau gosto tão corrente como acusar os políticos indesejáveis de quererem resolver o problema de envelhecimento populacional dando injecções a velhinhos atrás da orelha!

A condenação geral da moderna pedofilia, traumaticamente posta a nu pela moderna moralidade comum do mundo pós-moderno ocidental que após milénios de obscurantismo descobriu subitamente a sexualidade infantil traumática da psicanálise constitui, na sua virulência persecutória, uma espécie de tributo pago ao que resta da moralidade anti-sexual antiga pelo liberalismo vigente que alcançou o triunfo do direito à reserva da vida privada, para livre usufruto dum prazer sexual, virtualmente aberto a qualquer tipo de promiscuidade sem limites entre adultos livremente consentidos, com a reserva da exclusão dos crianças bem como, no limite, de todos os adultos em situação física ou material de não poderem exercer livremente o seu direito de livre consentimento sexual. Dito de outro modo a pedofilia moderna é, pelo menos na lógica dos defensores da liberdade sexual absoluta, a aceitação de que as crianças não podem aceder ao livre mercados sexual com adultos antes de atingirem a capacidade negocial duma escolha livre e consciente, ou seja, antes de atingirem a maturidade do desenvolvimento e a maturidade da sua identidade sexual.

Mas, afinal, como já se entendeu ainda é cedo para saber se estamos em presença duma vitória moral da humanidade, semelhante há que acabou com os sacrifícios humanos, particularmente de criancinhas, ou se constitui o preço corrente duma sociedade em transição para a liberdade sexual que por um lado ainda teme que os adultos contaminem a suposta inocência das crianças ou se é o que resta má-consciência judaico-cristã ocidental duma arcaica concepção da homossexualidade como forma intrínseca de libertinagem que pode macular a virgindade angelical que se considera natural das crianças mas que é sobretudo o que resta da memória cultural do pecado original!

Saudosos da sua própria inocência perdida os pais sentem pelos filhos a ansiedade antecipado de os verem crescer para a sexualidade enquanto começo duma vida livre e fora de casa! Depois, é a realidade dura e crua de todos os tempos de criar os filhos para a vida; virgens que outros irão desflorar, filhos criados com muito amor e carinho mas que outros poderão ou não amar para que ciclo da vida continue! Mas o ciclo da vida em sociedade civilizada nunca é exclusiva e necessariamente reprodutiva e muito menos nos tempos modernos.

O direito ao prazer sexual separado da reprodutividade social parece ser uma conquista da modernidade mas, para uma grande maioria ainda há muito de libertinagem no uso deste legítimo direito que tanto custou às gerações passadas!

Porém, a utopia do direito ao prazer, que muitos pensam ser um mero direito à loucura quando abusivo, é para outros, quando bem usado, a única forma de evitar a neurose e ainda o único contraposto aos sete pecados mortais do catolicismo!

Há que assumir de uma vez por todas que os paradoxos teológicos que tantas heresias e guerras santas provocaram ou são meros pretextos para jogos de poder ou meros artifícios para fugir à responsabilidade da verdade.

Os antigos preparavam os neofítos para a adultícia com rituais de passagem que o cristianismo sacramentou com o crisma. As sociedades modernas limitam-se a revisões do código penal e a promessas relativas a uma futura educação sexual obrigatória nas escolas e geram arremedos de ritos de passagem em praxes académicas.

No entanto, mais decisivo do que tudo isto é o facto de a pedofilia iniciática dos antigos se enxertar em rituais de passagem pascal, herdeiros de arcaicos, tão misteriosos quão místicos, ritos de transição da puberdade para vida adulta. Ora, como a puberdade do mundo rural antigo era mais precoce, por necessidade social resultante duma menor longevidade geral ou porque havia menos saber social a aprender, a verdade é que o que pode escandalizar os menos atentos é o facto de estas iniciações em épocas antigas se terem dado em idades que actualmente fazem ainda parte da nossa retardada puerícia social!

 

PEDERASTIA INICIÁTICA DE JESUS

Se o amor de Jesus pelo “jovem rico” e pelo discípulo amado” iria um pouco além do amor familiar e roçaria as raias do amor pedófilo também não seria nada que o classicismo ignorasse nem que a tradição católica dos seminários tivesse ultrapassado completamente. Claro que Jesus, como era de esperar na sua superior liberalidade e excelência moral, já era no seu tempo contra a pedofilia no que respeitasse ao abuso sexual de crianças indefesas a na sua essência mais profunda por esta ser, mais do que uma violência sobre um ser humano, constitucionalmente sem condições de conhecimento que lhe permitam assumir com inteiro livre-arbítrio os seus próprios pecados, um escândalo moral!

Luc. 17 1  E disse aos discípulos: É impossível que não venham escândalos, mas ai daquele por quem vierem! 2 Melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma pedra de moinho, e fosse lançado ao mar, do que fazer tropeçar um destes pequenos.

Não existem muitos outros pontos em que Jesus manifeste, de forma tão clara a essência do seu pensamento moral baseado no “jogo limpo da vida”.

Este, por um lado, implica a autenticidade esclarecida, que é o mesmo que dizer a sensatez acima do senso-comum, alcançada por um amor tanto à verdade quanto ao divino Espírito Santo da sabedoria revelada, por outro, na congruência de atitudes, sem hipocrisias nem ardis e, por fim, acompanhada pela grande fortaleza moral da compreensão humanista que mais não é do que a magnanimidade do perdão aos que padecem de pobreza moral e a compaixão pelos que sofrem de miséria humana de todos os tipos e feitios.

No entanto, o escândalo de que Jesus falou era mais estrutural e funcional do que apenas moral na medida em resultava do aspecto óbvio e lógico de as criancinhas serem ingénuas por condição etária e inocentes por necessidade de crescimento moral! Pois bem, é esta a mesma lógica moral que hoje fundamenta a inaceitabilidade da pedofilia! O versículo referido de Lucas parece começar pelo escândalo em geral e acabar pelo mau exemplo que incorre sobre os “pequenos” e parvos, ou seja, os pequenos de corpo e de espírito (inocentes por idade) e os parvos de espírito por constituição mental ou em resultado da miséria moral. É duvidoso que Jesus incluísse aqui o escândalo social que ultrapassa a lógica paulina do mau exemplo para com um irmão na fé mal esclarecidos e acaba no medo hipócrita da perda de prestígio social, por mera cobardia moral característico do puritanismo vitoriano e burguês!

De qualquer modo, os rituais de iniciação antigos marcavam precisamente o acesso à vida adulta e serviam de prova, socialmente decisiva, para definir os que permaneciam socialmente parvos e inimputáveis, por razões que iam além da inocência da idade dos adultos restantes!

Se Jesus não foi um essénio ou uma espécie de gnóstico judaico, até ao ponto de poder ter consumado a iniciação ritual de Lazaro, usando a iniciação sexual como rito iniciático de passagem, é impossível demonstra-lo porque, por definição, os mistérios iniciáticos eram secretos e não deixavam testemunhas.

Porém, em tese, também não há nada, a não o ser mero preconceito puritano e beato do catolicismo pós Constantino, que impeça de postular tal possibilidade. Pelo contraio, segundo Bernard Sergent[1], seria uma prática tão corrente nas culturas antigas (e mesmo arcaicas) que o anómalo seria que não tivesse acontecido, tanto mais que todas as correntes gnóstica do cristianismo primitivo o praticava. Ora, é precisamente o facto de os cristãos gnósticos, hoje bem conhecidos dos historiadores, terem sido sobretudo preponderantes na região Síria, Palestina e no Egipto e partilharem múltiplos Evangelhos iniciáticos de inspiração directa a partir dos próprios Apóstolos que as suspeitas de os mistérios cristãos medievais serem uma reminiscência deformada dos mistérios iniciáticos das primeiras comunidades cristãs.[2]

Numa época em que a pedofilia ganha foros de escândalo universal é difícil imaginar, no fundador do cristianismo, uma prática que hoje seria escandalosa! Mas também o mesmo acontecia em relação aos sacrifícios humanos dos fenícios (e da época arcaica dos gregos) em relação à época romana!

Porém, naquela época os mistérios eram a forma mais virtuosa de aceder à maturidade moral, que aliás acontecia mais cedo e de forma mais responsável do que hoje.

Os moralista “argumenta ad terrorem” relativos ao passado devem ser encarados com serenidade intelectual e com rigor comparativo! Cada época tem alcançado os seus padrões de excelência moral e ninguém hoje tem culpa de a tradição beata ter imputado aos tempos de Cristo uma moralidade que ainda não existia e que possivelmente Jesus não poderia ter tido porque era humano, vivia como humano, foi tentado e pecou seguramente porque de outro modo não teria sido o São Salvador do Mundo. Se os canónicos não registam nenhum pecado mortal de Jesus a leitura atenta de todos os textos conhecidos revelam suficientes pecadilhos veniais para no somatório total acabar por admitir que Jesus era sobretudo humano e muito humano e, por vezes, com iras súbitas contra figueiras indefesas e muita falta de maneiras para com a sua família...e muito pouca paciência para a família dos outros! Como Grande Xamã que era, Jesus Cristo teria preferido ter nascido apenas filho de Deus! Mas, se aceitarmos que os crimes dos nossos códigos penais, politicamente correctos, seriam o correspondente dos pecados mortais dos fariseus do tempo de Jesus talvez seja hoje possível condenar o homem Jesus pelo pecado mortal da pedofilia iniciática! Mas isso seria seguramente farisaico e não teria em conta o facto de a pedofilia iniciática ser à época um mistério sagrado de profundo misticismo e religiosidade!

 

Ver: GNOSTICISMO HERÉTICO CRISTÃO (***)

 

Se Platão não tivesse inventado o amor celestial a partir do mito da dupla maternidade de Afrodite Pandemos / Afrodite Urânia os cristãos teriam inventado nos Ágapes o “amor platónico” mesmo sem a ajuda do Espírito Santo, o amor que procedo do amor entre o pai e o filho! É que, este amor sublimado e etéreo, tão catarino quanto provençal, tão poético quanto figura de retórica sem sentido (pelo menos no sentido comum do termo que na época clássica correspondia ao divino Amor, o “deus menino” filho duma deusa que os poetas tardios reputaram de prostituta!) permitiu na baixa idade média a invenção do “amor cortês” e, contemporaneamente, a banalização do uso de amores proibidos consanguíneos, outrora incestuosos e agora tão etéreos quão familiares e assexuados!

The death of John the Baptizer and the appearance of the young man. Were their presences at the beginning and end of the gospel not enough to tie them together as matching characters, the fact that the death of one is mirrored by the reader's first encounter with the other should suffice. The character of the young man (neaniskov) emerges, especially in light of Morton Smith's discovery of the suppressed portions of what is often called "Secret Mark", as the ideal narrative counterbalance to John. Jesus' raising him from the dead has suggested similarities to the raising of Lazarus in John. However, his narrative function, and the love shared by Jesus and the young man make him an even more attractive match for the "disciple whom Jesus loved." Both are beloved of Jesus, and both serve in the narrative as "ideal" followers. - [3]

Mas, permitiu também a perversão religiosa dos delírios místicos onanistas, como os de textos em estilo de crítica de cinema americano, que necessitam de estabelecer transcendentes e insondáveis relações significantes entre a “morte de S. João Baptista” na abertura do guião e o aparecimento em cena do jovem angélico (pelo menos noutros evangelhos!) no clímax apoteótico da cena da gloriosa ressurreição, o que, metendo pelo meio o jovem do evangelho secreto de Marcos deixando pelo caminho o “jovem rico”, bem como o jovem do lençol é não ver senão fumaça no meio de tão profusa informação esclarecida!

Claro que entre Lazaro e o evangelho secreto de Mateus existe mais do que similaridades porque serão a mesma personagem ou, de outro modo, os evangelhos seriam meras e desconexas historietas inventadas em torno de motes transmitidos de boca em boca. É bem possível que este jovem seja o “discípulo amado” do evangelho de S. João. Porém, a certeza só será alcançável depois descartar a possibilidade de este ter sido só ou também, ou apenas, Maria Madalena tanto mais que, a ter existido na cabeça de Jesus um “ideal de discípulo”, este até poderia ter sido ela, na medida em que na igreja ortodoxa ainda tem o título de “apostulus apostulorum, se ela não fosse claramente referida como sendo a Maria Madalena do anuncio da ressurreição!

 

Ver: DISCÍPULO AMADO (***)

EVANGELHO DE JOÃO SEGUNDO MADALENA (***)

 

Claro que toda esta retórica a meio caminho entre a apologética judaico-cristã e a psicanálise tem por finalidade a fuga com o rabo à seringa...e à humana sexualidade de Jesus! E tudo porque Jesus, o herdeiro dionisíaco de todo o amor sensível da antiguidade se transformou no etéreo amor cristão tão abstracto e intangível que o misticismo de Santa Teresa de Ávila chegou a roçar a heresia!

Quem seria capaz de adicionar (algo) à sua altura? Ele (Deus) lhe dará que vestir. Seus discípulos dizem-lhe: Quando te manifestará parás nós e quando poderemos ver-te? Jesus disse-lhes: Quando vocês tirem a roupa e não sentirem vergonha. Oxyrh. Pap. 655 (loja 36-37 e 39)

Alegoricamente falando Jesus poderia estar a pensar na vergonha de Adão quando se viu nu diante de Deus por ter pecado. Mas Jesus poderia estar a ser mais humano e a referir apenas aos seus amados discípulos que só manifestaria a plenitude dos seu amor quando estes deixassem te ter vergonha de o amarem na nudez da carne! Só um tonto poderá pensar que os judeus estivessem imunes às tentações da carne e ao pecado dos gregos!

Jesus pregou por todo o lado o Amor! Cristo transformou-se num deus do Amor sobretudo no Evangelho segundo S. João o mais gnóstico dos sobreviventes no cânon cristão, escrito por pelo discípulo amado particularmente!

Por que razão o Amor pessoal de Jesus por pessoas particulares há-de ser nos evangelho pouco mais do que um mero formalismo poético num discursos retórico em torno de meras simpatias suspeitas do pecado da parcialidade?

O ciúme foi semanticamente gerado pelo desamor entre mal amados, ou amantes em desigualdade amorosa ainda que platónica, e os que vivem ou viveram em conventos e seminários que o digam, tal como outros em idênticas situações o entendem! Então, se Jesus se arriscou a escandalizar os discípulos semeando entre eles inimizades alimentadas pelo ciúme, porque razão não teria Ele amado de forma humana e normal, pelo menos de forma cortês e cavalheiresca, o “discípulo amado”?

Por que razão é que a teologia cristã arrisca perder a humanidade de Jesus num universo paranormal de esquizofrenia neurótica só para salvar a angelitude de divino Amor de Cristo, ignorando que assim se coloca Jesus a meio caminho da homossexualidade neurótica?

Obviamente por causa da teimosia dos homens cegos pela fé que põem em rico a sobrevivência do que existe de melhor numa doutrina, só para não abrirem mão de utopias retóricas que deixaram de ser meras loucuras divinas para serem já tão-somente disparates amontoados sobre belas palavras de sentido distorcido. Tudo por um falso amor a um Deus vivo apenas nas ideias delirantes dos crentes. Porque, afinal, o cristianismo fundamentalista, paradoxalmente ajudado pelo catarismo gnóstico, de tanto ter idealizado a realidade de Jesus, para a tornar divina, fez com que a história de Jesus, tomada na literalidade de textos apologéticos tão velhos como a civilização ocidental, já não passe de um mito irreal, completamente desfasado dos paradigmas científicos pós-modernos!

É certo que no catolicismo a teimosia monoteísta judaica sobreviveu até hoje à custa de muita concessão e compromisso com o pensamento politeísta greco-romano mas à custa da construção dum tradicionalismo dogmático feito de anjos e demónios, santos e beatos, tão complexo quanto confuso e, no culminar, intelectualmente indefensável!

No entanto, se a igreja católica é um belo exemplo de pragmatismo camaliónico como regra da sobrevivência política feita à custa de inteligentes e oportunos ajiornamentos e de disfarces retóricos, a verdade é que o Concílio de Trento veio tarde e a más horas. Não constituiu um salto em frente na modernidade teórica porque foi uma contra-reforma, ou seja uma mera reacção moral, alguma reforma ritual e muito reacionarismo formal com um reforço do dogmatismo e do absolutismo papal precisamente na proporção inversa do declínio notório do poder temporal do catolicismo e do papado!

Já o Vaticano II, para conseguir ainda salvar o papado, deveria ter ocorrido logo que Luís XIV perdeu a cabeça! Há 500 anos talvez fosse possível continuar crente sem perder a razão mas nos tempos que correm só é possível continuar a acreditar na Verdade teimando ter razão!

A mitologia antiga aceitava a possibilidade pos-mortem da divinização efectiva dos semideuses e da divinização virtual e retórica dos faraós e imperadores absolutos mas o paradoxo dum deus simultaneamente humano como Jesus Cristo acaba por se revelar um escandaloso absurdo para as restantes religiões monoteístas que apenas aceitam que Jesus Cristo possa ter o estatuto de profeta ou de grande iluminado!

De facto, o racionalismo moderno aceitará ver em Jesus, o Cristo, um grande homem, um génio moral como Sócrates, um avatar religioso tanto ou mais sublime do que Buda ou um mestre ideológico mais poderoso do que Mao Tsetung, mas não pode tolerar o insulto ao bom senso e à razão pura, implícito na mítica angelização de Jesus Cristo histórico feita pelos teólogos de serviço aos Santo Ofício e muito menos na Sua divinização mística e infantil levada a cabo pelos fundamentalistas cristão e católicos beatos.

Continuar a teimar numa autoridade absoluta em matéria de fé e moral e, sobretudo, julgar ter o monopólio da verdadeira religiosidade julgando ter a história do cristianismo como propriedade exclusiva dos cristãos é meio caminho andado para que estes acabem embriagados com a mística da queda do muro de Berlim entoando o canto de cisne antes de entrarem na curva apertada da queda do sacro império católico apostólico e romano!

A maior e única fé é que Deus é a Verdade e o divino Espírito Santo vencerá porque não há sabedoria sem razão nem boa-fé que se aguente a correr à frente do bom senso inscrito no coração do direito natural!

De facto, o grande pecado contra o Espírito Santo de quase todos os católicos e duma grande parte dos cristãos é teimar no dogmatismo da possibilidade do acesso à verdade absoluta num universo de relatividade quase infinita não aceitando que Deus seja capaz de descer à terra sempre que lhe apraz para encarnar entre os homens como Jesus Cristo e morrer como qualquer mortal mesmo na memória dos homens sem arriscar nada com isso muito menos o estatuto da imortalidade divina constantemente ganha e perdida na relação entre o Ser e o Devir! Se o cristianismo quiser sobreviver na história tem que mudar de metodologia começando em primeiro lugar por revogar o absolutismo real da infalibilidade papal no pensamento teológico e aceitar a democraticidade do livre pensamento como expressão prática do “livre arbítrio” aplicado à actividade intelectual!



[1] A Historical Introduction to the New Testament by Robert M. Grant, Chapter 8: The Gospel Of Mark.

[2] A Historical Introduction to the New Testament by Robert M. Grant, Chapter 8: The Gospel Of Mark.

[3] http://www.earlychristianwritings.com/secretmark.html

[4] Despir-se da carne, Evangelho de Tomé – 37. Os discípulos dele disseram, "Quando você aparecerá para nós, e quando nós o veremos?" Jesus disse, "Quando vocês se despirem sem ficar envergonhados, e vocês tirarem suas roupas e as puserem debaixo de seus pés como criancinhas e então pisarem, aí vocês verão o filho do vivente e vocês não terão medo."

[5] Pio Cristiano / Vatican Museums – Early Christian Sarcophagus Collection Pio_Cristiano_31535-7

[6] That this term means “eunuch” is confirmed by the Greek version of the trilingual ŠKZ inscription (cf. Mid. Pers.,1. 34; sʾsʾn ZY šʾpstn ZY sʾsʾnykn=Gk.,1.67, sasan eunouchou sasangan).

Thus, Māhān’s seal (Hermitage, gemma no. 46) identifies him as personal eunuch (P-tn šʾpstn).

In the inscription of the eunuch Abnūn, he calls himself PWN špstn ʾdnyk.

https://iranicaonline.org/articles/eunuchs#ii

[7] Notar a ressonância de sapistan com «sacristão» por possível assimilação papel xamanico que estes teriam nos cultos mitráicos copiados pelos cristãos.

[8] ¿Los “eunucos” escondidos en la Biblia incluían homosexuales? La “eunucofobia”, el feminismo, la nueva masculinidad, y el matrimonio gay, Jesus Carmona.

[9] https://people.well.com/user/aquarius/cardiff.htm

[10] thlasias, ae, m., = θλασίας (the crushed), one made a eunuch by bruising; called also thlibias, = θλιβίας (the pressed), Dig. 50, 16, 128; 48, 8, 5.

[11] Obviamente que a definição de doença como “condição física não natural” está incorrecta, mesmo para os conceitos hipocráticos da época, porque pressupões que todas as doenças são artificiais, o que é e seria incorrecto, sobretudo quando se diz na mesma frase “propósitos para os quais a natureza nos confere saúde corporal“. Em regra geral talvez na medida em que a mortalidade infantil da época dos doentes e defeituosos seria altíssima e as doenças naturais com sequelas incapacitantes seriam à época também uma raridade pelo que nos parece que a ideia essencial do autor não seria a de referir handicapes e incapacidade uma vez que as sequelas incapacitantes de doenças congénitas ou adquiridas seriam à época tão raras quanto desconhecidas.

[12] Notar a forma incorrecta como é aplicada a referência a uma “reminiscência” em ralação a Adamantios relativa à homofobia moderna que, quando muito, seria ao contrário: os modernos com preconceitos eivados de desconhecimento sobre a moderna sexologia é que revelam reminiscências dos preconceitos arcaicos.

[13] Notar que finalmente Luciano aponta o nervo da questão ao referir «certos» eunucos e não os eunucos em geral nem, mesmo os naturais, porque na verdade a realidade diferenciada dos eunucos, enquanto pessoas física e psicologicamente alteradas nunca foi claramente diagnosticada pelos antigos, como seria de esperar dadas as insuficiências científicas da época e que nesta questão são determinantes.

[14] Do latim Pandarus (encontrado na mitologia grega), do grego antigo Πάνδαρος (Pándaros) = alcoviteiro, proxeneta.

[15] The Ancient Roman and Talmudic Definition of Natural Eunuchs Presented at a conference on Eunuchs in Antiquity and Beyond held at Cardiff University on July 27, 1999.

[16] However, for an opinion rejecting the view of ša rēši as a eunuch, see Dalley 2001. For an alternative suggestion for the origins of the title, see Dalley 2002. Pirngruber (2011) also doubts whether the ša rēši was a eunuch, at least in the first millennium b.c.e. He points to the fact that the only texts that might support this possibility are from the Middle Assyrian period and a few omens from the Old Babylonian era. The meaning of the term ša rēši, according to Pirngruber, could have changed over time, so that even if at certain periods ša rēši indeed designated a eunuch, it was not necessarily so in other times. Pirngruber suggests that research into the ša rēši figures has been biased: modern scholars were influenced by the derogatory perspectives expressed by Greek historians (such as Ctesias) regarding the eastern cultures they met. Pirngruber’s view can be summarized by the following quotation: “Auch die Argumentationen dafur, dass ša rēši immer Eunuch bedeutet, basieren, wie gesehen, auf wenigen, schwierig zu interpretierenden Quellen und sind methodisch fragwurdig; zumeist wird nur mit Verweisen auf fruhere Werke eine Position eingenommen” (Pirngruber 2011).

[17] I use kalû-priest to describe lamenters in the first millennium and gala-priest to describe them in the Old Babylonian/Ur III period.

[18] Such as incomer (uri-gallu), incantator (mashmashu), lamenter (kalû), chanter (nâru), and lamenter-in-chief” (kalamaḫḫu).

[19] Sing for Covenantal Stability: The Worldwide Signi cance of the Service of Levitical Singers in the Book of Chronicles, KO, MING, HIM.

[20] ETA: More on the assinnu's unclear sexuality from Prophecy and Society in Ancient Israel. Robert R. Wilson cites the lines from the Epic of Erra above and notes that "This has been variously been interpreted to mean that the assinnu was a eunuch, transvestite, male cult-prostitute, or pederast. However, none of these interpretations can un ambigously be supported by reference to other texts [therefore] some scholars hold that the assinnu was simply an actor who took a female role in cultic dramas." Assinnus appear in three of the Mari letters mention the assinnu, and in one of them, the assinnu Šelebum goes into a trance in Annunitum's temple before giving a prophet warning meant for the king. Wilson suggests that, during the trance, Šelebum was possessed by the goddess, and therefore would have spoken and acted in a feminine way; and that this might have been a regular part of the assinnu's job. -- https://ikhet-sekhmet.livejournal.com/92766.html

[21] Obviamente que não podemos garantir que a tradução não esteja influenciada pelas moderna teorias de género, se bem que a infantilidade redutora destas se adapta bem ao pensamento mágico infantil arcaico.

[22] E qualquer um poderia então concluir que «por de pernas para o ar» é o mesmo que «virar do avesso» ou seja transformar por completo um homem numa mulher...que é o que acontece aos homossexuais exclusivos e acontecia aos xamãs de tempos arcaicos de que derivam todos os sacerdotes e oficiais de culto desde os tempos sumérios. Por analogia posterior como o termo eunuco dos haréns assírios estes seriam os eunucos naturais raramente castrados ou deformados a não ser na opinião de alguns racionalistas. Eunucos propriamente ditos seriam os «cortados», ou seja, os poucos que levavam essa transformação ao extremo fosse por auto-mutilação, como por exemplo nos cultos orgiásticos de Cibele, fosse por outras causas violentas já referidas.

[23] An ershemma, a song that was accompanied by a drum called the shem, contains litanies and prayers for “soothing the heart” of a god. The ershemma was sung by the kalu during the performance of a ritual.

[24] Sumer Ku = Dur = Ânus. Por isso mesmo se entende a expresão lusar: cu duro!

[25] “TRASCENDENCIA Y SEXUALIDAD, UN ENCUENTRO CON LA RELIGIÓN SUMERIA”, Victor Castillo Morquecho.

[26] “TRASCENDENCIA Y SEXUALIDAD, UN ENCUENTRO CON LA RELIGIÓN SUMERIA”, Victor Castillo Morquecho.

[27] Notar que o termo brasileiro «sarado» para homossexual deve derivar do hebreu saris.

[28] No Diccionario Assírio de Chicago ša reši é traduzido por intendente, soldado, oficial...o que provavelmente é uma tradução mais aproximada que real. -- Time and History in the Ancient Near East, Winona Lake, Indiana Eisenbrauns 2013.

[29] In spite of the unclear wording of certain parts of the oaths, it is apparent that among the primary occupations of the eunuchs was supervising the harem women. -- Time and History in the Ancient Near East, Winona LakeIndiana Eisenbrauns 2013

[30] ¿Los “eunucos” escondidos en la Biblia incluían homosexuales? La “eunucofobia”, el feminismo, la nueva masculinidad, y el matrimonio gay, Jesus Carmona.

[31] The Evolution of a Social Construction the case of male homosexuality, Pieter R. Adriaens* and Andreas De Block*†

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