quarta-feira, 16 de junho de 2021

V - A TOMADA FALHADA DO TEMPLO – 4. A TRANSFIGURAÇÃO, por arturjotaef

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Figura 1: Transfiguração de Raffaello Sanzio

Marcos8: 34 E, chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me. 35 Porque qualquer que quiser salvar a sua vida {ou alma} perdê-la -á, mas qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará. 36 Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma? 37 Ou que daria o homem pelo resgate da sua alma? {ou vida} 38

Mateus - 16: 24 Então, disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-me; 25 porque aquele que quiser salvar a sua vida {ou alma} perdê-la -á, e quem perder a sua vida por amor de mim achá-la -á. 26 Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? {ou vida} Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?

Lucas – 9: 23 E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. 24 Porque qualquer que quiser salvar a sua vida {ou alma} perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida a salvará. 25 Porque que aproveita ao homem granjear o mundo todo, perdendo-se ou prejudicando-se a si mesmo?

Jesus sabia que quem o quisesse seguir no seu estranho projecto messiânico teria que renunciar não apenas a “ganhar o mundo todo”, ou seja, ao projecto messiânico comum da conquista do trono de Israel, como a arriscar perder a vida na cruz às mãos dos romanos. Obviamente que não faz sentido ler os textos dos sinópticos confundindo vida com alma porque se Jesus o fazia de acordo com as convenções judaicas do tempo. Já nem o senso comum actual o faz depois de 20 séculos de filosofia aristotélica. A antítese de “ganhar todo o mundo e perder a sua alma” aponta obviamente para que seja do mesmo tipo a ideia de “salvar a vida e perder a alma”! O importante é dar conta de que as insuficiências linguísticas da época implicavam jogos de palavras cuja conotação variava do literal ao metafórico conforme o contexto, o que implicava um apelo constante à inteligência do ouvinte de Jesus com expressões como esta:

“Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça”! Do mesmo modo que se lamentava da falta de entendimento dos próprios discípulos dizendo:

”Tendo olhos, mas não vedes? E, tendo ouvidos, mas não ouvis?” (Marcos, 8: 18). Como mestre e líder político exímio Jesus nunca aconselhava o conformismo do bom senso nem do senso comum quando apelava tanto à fé incondicional no seu projecto messiânico como à inteligência esclarecida dos seus seguidores e discípulos!

 

Ver: PREDIÇÃO DA PAIXÃO (***)

 

Na primeira predição da paixão Jesus anuncia a sua estratégia messiânica como passando pelo triunfo sobre a cruz já que nenhum dos candidatos messiânicos anteriores tinha até então deixado de nela sucumbir.

Aborrecido com a resistência dos adeptos do messianismo comum liderado por Pedro, Jesus aproveitou a oportunidade para desafiar os seus seguidores a acompanhá-lo num projecto político-religioso que teria que ter uma natureza moral fora do comum mas, tão arriscado ainda assim quanto era praticamente impossível o messianismo comum à luz da geopolítica imposta pelo omnipotente e omnipresente imperialismo romano.

A expressão se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia (com alguma ajuda explicativa interpolada ou fora do contexto histórico em que foi proferida) a sua cruz, e siga-me”, parece ser um mero apelo à participação num messianismo místico onde Jesus, enquanto deus de salvação, já o seria de nome. No entanto, esta expressão aparece no contexto da primeira predição da Paixão. Sendo assim, Jesus poderia pretender dizer algo mais desafiador ainda, do género: *se alguém quiser suceder-me na candidatura messiânica da conquista do poder do templo que se vá preparando para morrer na cruz porque tanto antes como a seguir a mim todos são crucificados tanto às mãos dos romanos quanto com a iniciativa e cumplicidade dos judeus*. Jesus sabia mais no seu inconsciente emocional do que na sua capacidade profética sobrenatural que a relação de forças não era a favor da conquista do reino messiânico na terra.

As afirmações proféticas da parusia de Jesus que se seguiram têm sido sempre consideradas escatológicas e reportadas para o Apocalipse dos últimos dias precisamente porque o triunfo do projecto messiânico de Jesus não se concretizou! No entanto, Jesus, como todo o líder político determinado acreditava cegamente que seu projecto triunfaria tal como o tinha predito Zacarias, profeta que seria o seu livro de cabeceira.

The strong influence of the prophesy Zechariah on Jesus is shown by his mode of entrance into Jerusalem riding on an ass's colt. Such deliberate fulfillment of Zechariah (ix. 9) suggests that Jesus also had the rest of Zechariah's prophesies in mind. -- Jesus and the Jewish Resistance, abridged from Revolution in Judea: Jesus and the Jewish Resistance, by Hyam Maccoby

O constante apelo de Jesus para o Pai como justificação de seu projecto do de “reino de Deus” pode ser tanto uma mera metáfora teológica na linha do seu modelo messiânico da vontade bíblica, como a verdade implícita de que, embora estivesse disposto a aceitar as responsabilidades da sua relação bastarda com a linha hereditária, sempre fugaz e incerta, dos descendentes de David ou Aron, reconhecia e reclamava o seu direito de proximidade filial ao poder de sangue de Herodes o Grande. Por todas estas razões profundas Jesus sofria a ambivalência de manter a fé messiânica na libertação impossível da dominação romana do povo judeu contra a certeza de que tal só seria possível não só com a unidade das ovelhas dispersas na diáspora como na reunião de todas as tribos de povo de Israel perdidas desde há muito para além dos samaritanos e por isso diluídas num “reino de Deus” sublimado que tenderia a ser tão ortodoxo e judaico quando católico e apostólico. Como sempre acontece o gérmen das virtudes e defeitos do cristianismo futuro estavam já latentes no messianismo nazareno de Jesus na forma dum “reino de Deus” que nunca seria inteiramente deste mundo! Por isso mesmo também nunca seria localizado no templo recentemente engrandecido por seu pai, o rei Herodes. A sua consciência de bastardo deste grande rei seria uma ferida narcísica de tal modo dolorosa e profunda que só seria suportável com a denegação total da pesada herança herodiana que tinha custado a ruína dos judeus e particularmente a escravidão dos rurais da Galileia propondo a destruição da grandeza escandalosa do templo do Grande Herodes para reconstruir em três dia um novo templo à medida do seu “reino de Deus”!

Obviamente que toda esta retórica poderá parecer confusa mas a intuição das causas políticas do mal-estar social exprime-se sempre de forma difusa de acordo com os meios políticos de cada época que na de Jesus ainda era exclusivamente religiosa.

Que nos diz a história sobre o movimento zelota?

759. Cirênio, senador romano, homem de grandes méritos e que depois de haver passado por todos os degraus da honra fora elevado à dignidade de cônsul, foi, como dissemos, designado por Augusto para governar a Síria, com ordem de fazer o inventário do que havia em seu território.

(…) Algum tempo depois, um certo Judas, gaulanita, da cidade de Gamala, ajudado por um fariseu de nome Sadoque, incitou o povo a se rebelar, dizendo ser o inventário um claro indício de que os queriam reduzir à escravidão e, para exortá-los a manter a sua liberdade, assegurou-lhes que, se o resultado de sua empresa fosse feliz, eles desfrutariam gloriosamente tanto o descanso quanto os seus bens, mas não deviam esperar que Deus lhes fosse favorável se eles não fizessem, nos que lhes concernia, tudo o que fosse possível. O povo ficou tão impressionado com essas palavras que imediatamente se preparou para a rebelião. É inacreditável a perturbação que esses dois homens suscitaram por todos os lados. Assassínios e latrocínios eram praticados. Saqueava-se e roubava-se, tanto a amigos quanto a inimigos, indiferentemente, sob o pretexto de se estar defendendo a liberdade pública.

(…) Judas, de quem acabamos de falar, foi o fundador da quarta seita. Está em tudo de acordo com a dos fariseus, exceto que aqueles que fazem profissão para adotá-la afirmam que há um só Deus, ao qual se deve reconhecer por Senhor e Rei. Eles têm um amor tão ardente pela liberdade que não há tormentos que não sofram ou que não deixem sofrer as pessoas mais caras antes de atribuir a quem quer que seja o nome de senhor e mestre. A esse respeito não me delongarei mais, porque é coisa conhecida de tantas pessoas que, em vez de temer que não se preste fé ao que digo, tenho somente o receio de não poder expressar até que ponto vai a sua incrível paciência e o seu desprezo pela dor. Mas essa invencível firmeza aumentou ainda pela maneira ultrajosa como Géssio Floro, governador da Judéia, tratou a nossa nação e a levou por fim a se revoltar contra os romanos. -- Livro Décimo Oitavo da HISTÓRIA dos HEBREUS de Flávio Josefo traduzida por Vicente Pedroso.

Teoricamente terá sido mais ou menos como Flávio Josefo disse mas a causa próxima e profunda do sucesso desta seita e da rebelião que levaria à guerra civil deve residir não tanto na “maneira ultrajosa como Géssio Floro, governador da Judeia, tratou” a nação judaica mas na grave crise económica que o despesismo de Herodes o Grande provocou. Quanto muito a governação de Floro terá sido o rastilho que deitou fogo à semi desértica Judeia exaurida por Herodes o Grande a tal ponto que todos os que governaram depois dele e quiseram manter o nível de enriquecimento acabaram por levar a nação judia à falência económica não resistindo a tentação de por fim deitarem mão ao tesouro do templo que era de certo modo a garantia financeira do estado social judeu…em grande parte alimentado pela diáspora. Quando os sicários destruíram o templo não seria tanto para cumprir a profecia de Jesus mas sobretudo para destruírem o inventário e os registos de penhoras como se ambas a atitudes incendiárias fossem uma espécie de perdão total da dívida dos judeus. Possivelmente pretenderiam também acabar com os registos de direitos hereditários numa atitude revolucionária sem precedentes de primeiro movimento anarquista! E bom rigor o “reino de Deus” do messianismo de Jesus era uma forma metafórica de estado anarquista iniciado pela seita de sicários de Judas o Galileu, possivelmente da família de Jesus.

Nationalistic/apocalyptic view. In the more traditional nationalistic view of salvation, Jesus is believed to return as the Messiah who restores the Davidic kingdom which would last forever and which would rule the world. In Acts 1:6-11 Jesus is expected to return just as he went up, that is, in his original body which rose from the grave to ascend to heaven. After his return he will restore the kingdom to Israel presumably by a combination of his own actions and of God. Some traditions from Q and Mark fit with this picture. Thus in Q Jesus promises his followers that they will sit on thrones judging the twelve tribes of Israel, presumably in the restored kingdom of Israel under Jesus (Matt 19:28=Luke 22:28-30) while in Mark 10:30 he promises worldly rewards. -- The Mysterious Disappearance of Jesus and the Origin of Christianity By: Dr. Ahmad Shafaat

Assim, nos seus delírios místicos, feitos de provações e pão contaminado com cravagem do centeio, Jesus já se imaginava na glória de pai que tanto poderia ser apenas o do povo de Israel, como o seu mentor e sumo-sacerdote sodoquista, acompanhado dos santos mensageiros essénicos oficiando com pompa e circunstância a ortodoxia nazarena no templo de Jerusalém.

Marcos8: 38 Porquanto qualquer que, entre esta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai, com os santos anjos.

Mateus - 16:

27 Porque o Filho do Homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e, então, dará a cada um segundo as suas obras.

Lucas – 9: 26 Porque qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do Homem, quando vier na sua glória e na do Pai e dos santos anjos..

 

CRISTO O VISIONÁRIO

Na verdade, Jesus acreditava que algo de glorioso poderia acontecer a curto prazo pois claramente o prometeu a alguns eleitos sem recursos metafóricos ao sobrenatural pois teve o senso comum suficiente para perceber que alguns não chegariam a tempo porque iriam morrer, tanto pelos custos secundários do seu arriscado projecto, como pela elevada mortalidade da época!

Marcos8: 8: 1 Dizia-lhes também: Em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que não provarão a morte sem que vejam chegado o Reino de Deus com poder.

Mateus - 16: 28 Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui estão, que não provarão a morte até que vejam vir o Filho do Homem no seu Reino.

Lucas – 9: 27 E em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que não provarão a morte até que vejam o Reino de Deus.

Obviamente que uma das razões pela qual tem havido crentes nos mitos cristãos reside neste analfabetismo neurótico que tem impedido de ler e entender o que anda escrito nos evangelhos! Primeiro que o texto dos três sinópticos não é rigorosamente coincidente; segundo que qualquer interpretação que tenha o mínimo de suporte na letra do texto faria pressupor que o reino de Deus ou começou ainda em vida de muitos dos ouvintes de Jesus ou afinal não aconteceu com nenhum a menos que aceitemos metaforicamente que o “reino dos céus” começou com a ressurreição de Jesus Cristo. Se nos reportarmos ao conceito da parusia da época, de milenarismo em milenarismo acabou por deixar morrer todos os ouvintes deste texto a olhar para o céu sem que tenham visto chegar o filho do homem no reino Deus com o seu divino poder e majestade!

Mas será que Jesus se referia a uma parusia apocalíptica semelhante ao juízo final ou limitava-se a referir metafórica e grandiloquentemente algo mais terra a terra como seria ao triunfo do seu projecto messiânico de criação do “reino de deus” consubstanciado na Igreja nazarena / cristã de Jerusalém em torno dum novo culto religioso de tipo essénio?

E bem possível que nem Jesus Cristo, como nem Moisés, nem mais recentemente Maomé ou Marx tenham algum dia tido a verdadeira noção das revoluções doutrinárias que provocavam. De resto, outros profetas e mestres inovadores tentaram bem mais e conseguiram bem menos o que diz o quanto estes movimentos nascentes dependeram quase sobretudo do grau de enamoramento dos convertidos. Os grandes incêndios dependem mais do facto de os incendiários conhecerem os sinais dos tempos do apocalipse e saberem o quanto a lenha está seca e a floresta ressequida e as sociedades prontas para ser consumidas pelo fogo da fé e da paixão!

A vinda do filho do homem sobre as nuvens do céu para inaugurar o “reino de Deus” de Jesus, tinha tanto de inevitavelmente sagrado quanto de piromaníaco e circense como a tragicomédia da primeira Guerra da Judeia o veio demonstrar. Mas, tinha mais ainda de utopia político-religiosa e não pouco de malabarismo onírico e mágico e foi de facto encenado em ambiente essénio num momento particular dos evangelhos numa cerimónia cheia de pompa e circunstância que ficou conhecida como a TRANSFIGURAÇÃO de Jesus no monte Tabor.

 

TRANSFIGURAÇÃO

Marcos, 9: 2 E, seis dias depois, Jesus tomou consigo a Pedro, a Tiago e a João, e os levou sós, em particular, a um alto monte, e transfigurou-se diante deles. 3 E as suas vestes tornaram-se resplandecentes, em extremo brancas como a neve, tais como nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia branquear 4 E apareceram-lhes Elias e Moisés e falavam com Jesus.

Mateus, 17: 1 Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, seu irmão, e os conduziu em particular a um alto monte. 2 E transfigurou-se diante deles; e o seu rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes se tornaram brancas como a luz.3 E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele.

Lucas, 9: 28 E aconteceu que, quase oito dias depois dessas palavras, tomou consigo a Pedro, a João e a Tiago e subiu ao monte a orar. 29 E, estando ele orando, transfigurou-se a aparência do seu rosto, e as suas vestes ficaram brancas e mui resplandecentes. 30 E eis que estavam falando com ele dois varões, que eram Moisés e Elias, 31 os quais apareceram com glória e falavam da sua morte, a qual havia de cumprir-se em Jerusalém.

Apenas Lucas deu conta de que se tratava duma reunião de alto nível de líderes políticos essénios na qual Jesus terá recebido o vestuário de alvo linho, típico dos santos desta seita, com que seria preparado para a ressurreição!

Mesmo assim, ficamos sem saber se seria uma forma de teatro operático ou se Lucas acredita que se trataria mesmo duma presença mística do espectro destes profetas. De qualquer modo, esta cena que os gnósticos aceitariam como uma espécie de cessão espírita tem sido um argumento para os que acreditam que Jesus era adepto da metempsicose.

Lucas, 9: 32 E Pedro e os que estavam com ele estavam carregados de sono; e, quando despertaram, viram a sua glória e aqueles dois varões que estavam com ele.

Marcos, 9: 5 E Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Mestre, bom é que nós estejamos aqui e façamos três cabanas, uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias. 6 Pois não sabiam o que diziam, porque estavam assombrados.

7 E desceu uma nuvem que os cobriu com a sua sombra, e saiu da nuvem uma voz, que dizia: Este é o meu Filho amado; a ele ouvi. 8 E, tendo olhado ao redor, ninguém mais viram, senão Jesus com eles.

 

 

 

9 E, descendo eles do monte, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que tinham visto, até que o Filho do Homem ressuscitasse dos mortos. 10 E eles retiveram o caso entre si, perguntando uns aos outros que seria aquilo, ressuscitar dos mortos. 11 E interrogaram-no, dizendo: Por que dizem os escribas que é necessário que Elias venha primeiro? 12 E, respondendo ele, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro e todas as coisas restaurará; e, como está escrito do Filho do Homem, que ele deva padecer muito e ser aviltado. 13 Digo-vos, porém, que Elias já veio, e fizeram-lhe tudo o que quiseram, como dele está escrito.

Mateus, 17: 4 E Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, façamos aqui três tabernáculos, um para ti, um para Moisés e um para Elias.

5 E, estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem luminosa os cobriu. E da nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; escutai-o.

6 E os discípulos, ouvindo isso, caíram sobre seu rosto e tiveram grande medo. 7 E, aproximando-se Jesus, tocou-lhes e disse: Levantai-vos e não tenhais medo. 8 E, erguendo eles os olhos, ninguém viram, senão a Jesus. 9 E, descendo eles do monte, Jesus lhes ordenou, dizendo: A ninguém conteis a visão até que o Filho do Homem seja ressuscitado dos mortos.

10 E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Por que dizem, então, os escribas que é mister que Elias venha primeiro? 11 E Jesus, respondendo, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro e restaurará todas as coisas. 12 Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do Homem. 13 Então, entenderam os discípulos que lhes falara de João Batista.

Lucas, 9: 33 E aconteceu que, quando aqueles se apartaram dele, disse Pedro a Jesus: Mestre, bom é que nós estejamos aqui e façamos três tendas, uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias, não sabendo o que dizia. 34 E, dizendo ele isso, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e, entrando eles na nuvem, temeram. 35 E saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado; a ele ouvi.

 

 

 

 

 

 

36 E, tendo soado aquela voz, Jesus foi achado só; e eles calaram-se e, por aqueles dias, não contaram a ninguém nada do que tinham visto.

Para além dum espectáculo litúrgico de grande magia operática na qual é repetida a mistificação ex maquina (que já havia sido encenada na cena do baptismo e viria a repetir-se na entrada triunfal e Jerusalém) da identificação de Jesus como filho amado de Deus (ou de quem era o seus mestre e sumo sacerdote essénio, coisa que nunca se saberá ao certo) assistimos a um trocadilho que é uma contradição nos termos e que irá fazer as delícias do discurso gnóstico. Há pergunta do messianismo corrente de saber se Elias teria que vir primeiro e restauraria depois todas as coisas Jesus responde:

“Mas digo-vos que Elias já veio”! Pois não tinha acabado mesmo de vir na companhia de Moisés? Possivelmente os evangelistas não entenderam o tempo verbal já que, como não sabiam o que diziam muito menos terão ouvido bem o que entenderam. Jesus apenas teria dito algo parecido com isto: as escrituras diziam que Elias viria primeiro mas em verdade Elias acabou de chegar e já tinha vindo na forma de João Baptista!

De qualquer dos modos, Jesus era e foi aqui um mestre da apoteótica e grande magia política!

Os resultados não foram de facto surpreendentes, pelo que se veio a verificar na cena da expulsão dos vendilhões do templo, onde o monte das oliveiras, sobre o qual iria aparecer o “filho do homem” em toda a sua glória apenas terá parido um rato que viria a ser Barrabás, a personagem estranha que viria a ser o motivo pelo qual Jesus se iria entregar antes de ter chegado o seu tempo mais oportuno!

A Guerra da Judeia virá a ser o culminar trágico deste delírio messiânico colectivo na forma dum grande incêndio ateado pelos zelotas ao templo de Jerusalém que animados do zelo messiânico que Jesus tinha pregado num terreno social ressequido pela política despesista e ruinosa dos herodianos e por alguns anos de más colheitas e de fome, descritas nos Actos, explodiu numa guerra civil que iria apagar da face da “terra prometida” e da geografia política todo a grandeza terrena dos judeus.

Actos 11: 28 E, levantando-se um deles, por nome Ágabo, dava a entender, pelo Espírito, que haveria uma grande fome em todo o mundo, e isso aconteceu no tempo de Cláudio César. 29 E os discípulos determinaram mandar, cada um conforme o que pudesse, socorro aos irmãos que habitavam na Judéia. 30 O que eles com efeito fizeram, enviando-o aos anciãos por mão de Barnabé e de Saulo.

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