quarta-feira, 16 de junho de 2021

VI A PAIXÃO DE CRISTO 9. A PASCOA DA RESSURREIÇÃO DE JESUS REANIMADO, por arturjotaef



Figura 1: Ressurreição de Cristo de Matthias Grunewald.

ALELUIA! Aleluia! Aleluia! “O deus menino”, Sol da Primavera” venceu o inverno e ressurgiu dos Infernos de entre os mortos na Páscoa da ressurreição!

The guards became so terrified that they became as dead and fled to the city and gave an account to the chief priest who, after deliberations in an assembly with the elders, decided to bribe the soldiers to tell a lie and say that the body of Jesus had been stolen by night by the disciples of Jesus. But this narrative is ridiculous on the face of it. To begin with, no mention is made anywhere else in the New Testament of the report of the soldiers to the chief priest, and in any case the soldiers ought to have reported to Pilate in the first instance. Secondly, it is unimaginable that the Sanhedrin in assembly, most of whom were Sadducees, would have believed the information so credible as to act on it. They would not have believed it and, in any case, they would not have taken any action without verifying the truth of this highly suspicious report. If they on enquiry had found the report to be true they would have charged the soldiers before Pilate for having allowed the body to be so stolen. It is impossible to believe that a college of seventy men would have officially decided on suggesting a falsehood and rewarding the person agreeing to tell a lie. Again, it is not possible to imagine that Pilate would have readily accepted the representation of the Jews. Indeed, from what little we know of him from the Gospels he must have remained unmoved. Roman soldiers knew too well the strictness with which discipline was administered and the promises to obtain immunity would have made no impression on them. They knew that the penalty for dereliction of duty was death. In the Acts, we actually find Agrippa I sentencing to death the soldiers who had allowed Peter to escape from prison.

This indeed was a true comparison: Jesus was buried alive and he came out of the tomb alive. Nowhere in the New Testament is Jesus represented as asserting his resurrection in the sense Christianity understands it to be. He prophesied that he would “rise again” and so he did: for he did “rise again” out of the very jaws of death. Before dealing with the question of the resurrection, there is one fact which I must mention: the whole of Christian antiquity was ignorant of this tomb of Jesus until it was rediscovered in Palestine under Constantine in 326 C.E.

It is often alleged that Jesus did not appear to his disciples in a physical body. But Ignatius in his Epistle to the Church at Smyrna wrote: I know and believe that He was in flesh even after the Resurrection, and when he came to those with Peter he said: “Take, handle me and see that I am not a bodiless phantom.” Origen quoted a similar passage from the Gospel of Peter. It has also been quoted and relied upon by Jerome and Eusebius. In the Gospel according to the Hebrews it is recorded: Now James had taken an oath that he would not eat bread.... (And the Lord said: Bring a table and bread; and he took the bread and blessed and broke; and afterwards gave it to James and said to him, my brother, eat thy bread for the son of Man has risen from the sleep.4 James was sceptical and Jesus said: Take hold and handle me and see that I am not an incorporal spirit. -- Jesus in Heaven on Earth [Journey of Jesus to Kashmir, his preaching to the Lost Tribes of Israel and death and burial in Srinagar] by Khwaja Nazir Ahmad > Chapter 11: Burial (of Jesus Christ).

Credo apostólico: Credo in Spiritum Sanctum, sanctam Ecclesian catholicam, sanctorum communionem, remissionem peccatorum, carnis resurrectionem, et vitam aeternam.

Credo de Niceia: Et exspecto resurrectionem mortuorum, Et vitam ventúri sæculi. Amen.

A pequena diferença entre os dois credos pode estar precisamente no facto de a ressurreição da carne na última vinda de Jesus Cristo começar a ser altamente improvável à medida em deixava de acontecer na geração dos discípulos e passava para os tempos longíquo do fim do mundo em todos os corpos seriam pó espalhado nos quatro cantos do universo. Assim a ressurreição das almas no emediato de acordo com o conceito fariseu passava a ser a crença mais sensata.

It is often alleged that Jesus did not appear to his disciples in a physical body. But Ignatius in his Epistle to the Church at Smyrna wrote: I know and believe that He was in flesh even after the Resurrection, and when he came to those with Peter he said: “Take, handle me and see that I am not a bodiless phantom.” Origen quoted a similar passage from the Gospel of Peter. It has also been quoted and relied upon by Jerome and Eusebius. In the Gospel according to the Hebrews it is recorded: Now James had taken an oath that he would not eat bread.... (And the Lord said: Bring a table and bread; and he took the bread and blessed and broke; and afterwards gave it to James and said to him, my brother, eat thy bread for the son of Man has risen from the sleep. 4 James was sceptical and Jesus said: Take hold and handle me and see that I am not an incorporal spirit.

É certo que Lucas, com os fracos conhecimentos médico-legais da época, não teve dúvidas em testemunhar que a natureza de Jesus pós ressurrecto não era a de um espírito porque este actuou nas últimas aparições aos seus discípulo com as necessidade fisiológicas próprias dum ser humano:

Lucas 24 37 E eles, espantados e atemorizados, pensavam que viam algum espírito. 38 E ele lhes disse: Por que estais perturbados, e por que sobem tais pensamentos ao vosso coração? 39 Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; tocai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho. 40 E, dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e os pés. 41 E, não o crendo eles ainda por causa da alegria e estando maravilhados, disse-lhes: Tendes aqui alguma coisa que comer? 42 Então, eles apresentaram-lhe parte de um peixe assado e um favo de mel, 43 o que ele tomou e comeu diante deles.

A ressurreição total em corpo e alma era de facto um escândalo racionalista mas seria, por isso mesmo, a única adequado a um ser com poderes divinos e aquela que a tradição egípcia ansiava desde os maios antigos tempos faraónicos. Mas, desde os primórdios do cristianismo, tal maneira de encarar a ressurreição esbarrou sempre na aceitação de que Jesus, tal como Lucas o refere, não apareceu como fantasma aos seus discípulos, aspecto que veio a ser determinante na vitória da ortodoxia sobre o gnosticismo.

Comparemos Mateus e Marcos:

Marc. 16. 1 E, passado o sábado, Maria Madalena, Salomé e Maria, mãe de Tiago, compraram aromas para irem ungi-lo. 2 E, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro, de manhã cedo, ao nascer do sol, 3 e diziam umas às outras: Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro? 4 E, olhando, viram que já a pedra estava revolvida; e era ela muito grande. 5 E, entrando no sepulcro, viram um jovem assentado à direita, vestido de uma roupa comprida e branca; e ficaram espantadas. 6 Porém ele disse-lhes: Não vos assusteis; buscais a Jesus, o Nazareno, que foi crucificado; já ressuscitou, não está aqui; eis aqui o lugar onde o puseram.[1]

Mat. 28. 1 E, no fim do sábado, quando já despontava o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro.

2 E eis que houvera um grande terremoto, porque um anjo do Senhor, descendo do céu, chegou, removendo a pedra, e sentou-se sobre ela. 3 E o seu aspecto era como um relâmpago, e a sua veste branca como a neve. 4 E os guardas, com medo dele, ficaram muito assombrados e como mortos. 5 Mas o anjo, respondendo, disse às mulheres: Não tenhais medo; pois eu sei que buscai a Jesus, que foi crucificado.[2]

Os versículos de Mateus de 28.2 – 28.5 são uma óbvia interpolação muito posterior porque, além de faltar em S. Marcos que, supostamente, o terá precedido e inspirado, interrompe abruptamente o discurso que até ia decorria normalmente desde a manhã de segunda-feira de Páscoa até que as santas Marias entraram no túmulo vazio! A veracidade naturalista destes versículos é altamente crítica na medida em que coloca em cena um imprevisível terramoto de modo demasiado oportuno, ou seja, um típico milagre que, ainda que possível naquela região do médio oriente, iria facilitar a vida aos autores cristãos da “conspiração para ludibriar a cruz” que estava em curso e sobretudo iria responder no futuro às objecções racionalistas que o senso comum já colocara com antecedência na boca das santas mulheres do versículo 16: 3 de Marcos. Na verdade, Mateus excedeu-se porque, com a ajuda do terramoto já não seria necessária a ajuda dum anjo que em Marcos era apenas um jovem mensageiro essénico.

Marc. 16: 3e diziam umas às outras: Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro? 4 E, olhando, viram que já a pedra estava revolvida; e era ela muito grande.

Ora, milagre idêntico com terramotos e sepulcros a abrirem-se teriam lendariamente ocorrido três dias antes, no dia da morte de Cristo, de acordo com o relato do mesmo Mateus.

In a lost work referred to by Julius Africanus in the third century, the pagan writer Thallus reportedly claimed that Jesus's death was accompanied by an earthquake and darkness. However, the original text is in fact lost, and we can confirm neither the contents of the text or its date. It is possible that Thallus was merely repeating what was told to him by Christians, or that the passage which Africanus cites is a later interpolation. Outside of the New Testament, no other references to earthquakes or unusual darkness occur in the contemporary literature. This is very surprising, given the effect these sorts of events would presumably have had on the populace.

(…) The testimony (supposed, as the work in question is now lost) of Thallus is also worthless on the historicity question. Julius Africanus, in a surviving fragment, states that Thallus in the period before 221 CE, wrote that the darkness which supposedly covered the earth at the time of the Crucifixion was due to the death of Jesus. He is merely telling what the Christians of the time believed. We have no evidence at all that there ever even was an eclipse at the time when Jesus was supposedly crucified.

Julius Africanus is the father of Christian chronography. Little is known of his life and little remains of his works. -- [3]

Para réplica, o terramoto do dia de Páscoa teria sido muito tardio e é da responsabilidade de mesmo Mateus, o mestre dos mestres eclesiásticos cristãos!

As versões dos restantes sinópticos são bem mais comedidas, sobretudo a de Marcos que, também a este respeito, parece ter sido a versão original e a origem equívoca desta lenda construída a partir dum facto que nunca teria existido fora duma mera metáfora!

Marc. 15: 37 E Jesus, dando um grande brado, expirou. 38 E o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo.

Mat: 27, 50 E Jesus, clamando outra vez com grande voz, entregou o espírito. 51 E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as rochas 52 E abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam foram ressuscitados; 53 E, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na Cidade Santa e apareceram a muitos.

Luc. 44 E era já quase a hora sexta, e houve trevas em toda a terra até à hora nona, 45 escurecendo-se o sol; e rasgou-se ao meio o véu do templo. 46 E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isso, expirou.

Mateus copiou literalmente Marcos interpolando decorações retóricas de tipo naturalista em torno duma expressão da Marcos et velum templi scissum est in duo a sursum usque deorsum” que mais não seria do que uma belíssima figura de estilo, decalcada do gesto histérico, tipicamente judaico, de rasgar as vestes em sinal de dor e de luto, e que teria o significado simbólico de marcar o “ponto de ruptura” entre o novo e o velho testamento expressa aqui simbolicamente pela típica ira de Jeová!


Figura 2: As três mulheres da manhã de Páscoa da ressurreição. (Michael Wolgemut).

v38: The tearing of the Temple curtain recalls the sky ripping open and the spirit of God descending on Jesus in Mark 1. Frank Zindler (2003, p70) has argued that this dates the Gospel of Mark after 75, when the veil of the Temple was on display in Rome, and treats this pasage in Mark as an aetiological myth.

Se assim fosse, Marcos descrevendo o seu evangelho já depois da queda de Jerusalém estaria, de forma velada, a descrever a responsabilidade dos judeus pela morte de Jesus e a consequente queda de Jerusalém. Esta tese deveria ser corrente entre os primeiros cristãos porque, nos comentários à descrição de Josefo sobre a responsabilidade dos judeus pela morte de Tiago, o justo, os exegetas cristãos contrapõem com a morte de Jesus. De resto, a metáfora da ruptura do véu do templo pode ter sido uma mera forma de marcar a ruptura que os discípulos sentiram com o judaísmo oficial e acabaria por resultar formalmente na passagem do velho para o novo testamento ocorrida in tempore mortis Domini.

However, there is no need to see the passage in this manner. David Ulansey (1991) points out that Josephus described the curtain in the Temple as having a picture of the heavens on it. With this in mind, he argues: "In other words, the outer veil of the Jerusalem temple was actually one huge image of the starry sky! Thus, upon encountering Mark's statement that "the veil of the temple was torn in two from top to bottom," any of his readers who had ever seen the temple or heard it described would instantly have seen in their mind's eye an image of the heavens being torn, and would immediately have been reminded of Mark's earlier description of the heavens being torn at the baptism. This can hardly be coincidence: the symbolic parallel is so striking that Mark must have consciously intended it." Josephus makes it clear that the Temple was a microcosm of creation, in which the outer parts represented the sea and the land, but the interior, where even the priests were highly restricted from, was heaven where God resided. The veil of the Temple, which screened the Holy of Holies, was thus a barrier between heaven and earth. (Barker 1988).

Aos exageros de Mateus, de fazerem tremer os céus e a terra, Lucas preferiu a suavidade dum eclipse solar de 3 horas! A verdade é que tal seria astronomicamente impossível em tempo de páscoa precisamente porque a fase lunar em que esta festividade móvel teria ritualmente que acontecer seria na primeira lua cheia da primavera o que torna impossível a ocorrência dum eclipse solar nesta época do ano, em qualquer tempo e lugar.

According to McDowell, Evidence that Demands a Verdict, "Thallus, a Samaritan-born historian mentioned Christ in 52 C.E. However his works are no longer extant, so we have only citations of it by others...Julius Africanus, a Christian writing about 221, says, talking about the darkness that fell when Christ was crucified, 'Thallus, in the third book of his histories, explains away this darkness as an eclipse of the sun -- unreasonably, as it seems to me.' (It is unreasonable because the crucifixion was at Passover, which is based on the lunar calendar and requires a full moon. When there's a full moon, the moon is at the opposite side of the earth from where it has to be for an eclipse.)". -- John P. Meier, A Marginal Jew - Rethinking the Historical Jesus, Vol. 1.

No entanto, o evangelho de João, que tinha testemunhas oculares, nada refere sobre estes efeitos operáticos naturalísticos próprios dum deus ex maquina.[4] Pois bem, a imaginação fantasiosa que em Mateus decorou as cenas da morte de Jesus terá sido a mesma que, de forma desastrada, interpolou a cena do anjo vingador na cena da ressureição de Jesus do mesmo autor.

A notícia oficial da ressurreição acabará por dar origem a especulações bizantinas várias e em todas se fica com a suspeita de que Pilatos estava comprado a favor de Jesus.

Jesus, «filho de David», teria se beneficiado nesse caso de um tratamento de favor; assim teriam precipitado discretamente sua morte, a fim de lhe evitar a agonia na «fossa infame».

Uma passagem do Evangelho dos Doze Apóstolos, manuscrito copta do século V, mas cujo texto inicial parece ser anterior ao Evangelho de Lucas, segundo Orígenes (o qual, conforme diz este, o converteria em um dos mais antigos evangelhos conhecidos), fala-nos dessa «fossa infame», mas sob a denominação de poço: «Conduziram Pilatos e o centurião ao poço de água da horta, poço muito profundo... Olharam para baixo, no poço. Os judeus gritaram: "Oh, Pilatos! Não é esse o corpo de Jesus, que morreu?" Mas os discípulos disseram: "Senhor, os sudários que você tem são os de Jesus! Esse corpo é o do ladrão que crucificaram com ele..."» (Evangelho dos Doze Apóstolos: 15º fragmento.) -- ROBERT AMBELAIN, Jesus Ou O Segredo Mortal Dos Templários.

Figura 3: Visão gótica interiramente irrealista do sepulcro vazio. Hubert van Eyck.

O problema com os argumentos de Robert Ambelain é o de ser praticamente impossível confirmar as fontes de que se serve. De facto, “o Evangelho dos Doze (em grego: Ευαγγελιον με τους Δώδεκα ), também chamado de Evangelho dos Apóstolos, é um evangelho perdido mencionado pelos Padres da Igreja e um dos apócrifos do Novo Testamento”. Na verdade Robert Ambelain deveria estar a referir-se ao apócrifo copta denominado Evangelho de Gamaliel ou os Lamentos da Virgem e o Martírio de Pilatos, outras novelas bizantinas completamente delirantes e sem qualquer tipo de crédito de origem síria nunca anterior ao século V. O fragmento 15 fala em um poço muito profundo o que dificilmente poderia ser considerado uma fossa comum mas, damos de barato que seria uma referência legítima a uma informação que o redactor deste texto já não reconhecia como tal.

Fragmento 15. [...] E (Pilatos) chamou o segundo (soldado) e disse: “Eu sei que você é o mais sincero do que todos. Diga-me (quantos apóstolos) levaram o corpo de Jesus do tumulo?” E ele respondeu: “Onze deles vieram com seus discípulos, e o tomaram furtivamente, e se separaram apenas deste (ou seja, Judas?)”. E ele convocou o terceiro e disse-lhe: “Estimo o teu testemunho mais do que os restantes. Quem levou o corpo de Jesus do tumulo?” E ele respondeu: “José e Nicodemos e seus familiares (sic)”. E ele convocou o quarto e disse-lhe: “Você é o mais importante de todos, mas eu vos deixei ir a todos. Diga-me agora (o que aconteceu) quando eles vos tiraram o corpo de Jesus do tumulo?” E ele respondeu: “Ó meu senhor, estávamos a dormir. Esquecemos de nós mesmos e não fomos capazes de saber quem o levou. Então nos levantamos e procuramos, mas não o encontramos. [... e disso vos] informamos ...” Pilatos disse então aos judeus e ao centurião: “Estas pessoas estão mentindo de várias maneiras pois suas palavras são contraditórias”. E ele deu ordens para proteger os soldados até que ele mesmo fosse ao túmulo. Naquele momento, ele se levantou sobre a cabeças dos judeus do Sinédrio e dos sumos sacerdotes. Eles encontraram o sudário colocado no chão sem qualquer corpo nele. E Pilatos disse: “Ó homens que odeiam suas próprias almas, se tivessem tomado o corpo, também teriam levado o sudário”. E eles lhe disseram: "Você não vê que este não é dele, mas que pertencem a outro?" Pilatos lembrou-se então das palavras de Jesus: "É imperativo que grandes milagres ocorram no meu túmulo". Pilatos apressou-se a entrar no túmulo. Ele pegou o sudário de Jesus, que pressionou contra o peito e sobre o qual chorou. Ele o beijou de alegria, como se Jesus estivesse envolvido nele. Então ele olhou para o centurião que estava parado na porta do tumulo e notou que ele só tinha um olho porque ele havia perdido o outro em uma guerra e que ele escondia com a mão o tempo todo para não ver a luz. Então Pilatos [...] “A chama da sua ira veio sobre você.” E eles concordaram com esta condenação, dizendo: "Que Seu sangue e Sua morte estejam sobre nós para sempre!" E Pilatos disse ao centurião: "Ó meu irmão, não troque em vão a verdadeira vida que você recebeu pela mentira e a quietude (sic) dos judeus." Foi o que ele disse na presença dos judeus”.

[...] Pilatos e o centurião foram para junto do poço de água do jardim, que era muito profundo. E eu Gamaliel segui-os por entre a multidão. Eles olharam para o poço e os judeus gritaram:“Ó Pilatos [...] Não é este o corpo de Jesus que morreu?” E (José e Nicodemos) disseram:“Ó nosso Senhor, o sudário que você guarda é o de Jesus. Quanto a este corpo, ele pertence ao ladrão que foi crucificado com Jesus ...” José e Nicodemos colocaram o sudário ... E Pilatos se lembrou do que Jesus havia dito: “Os mortos ressuscitarão no meu túmulo.”

E então ele chamou as pessoas (que estavam) à cabeça dos judeus e disse-lhes: "Você acreditam que este é o nazareno?" E eles responderam: "Nós cremos." E ele disse: “Então é justo colocar o seu corpo em sua tumba, como é feito com todos os mortos...” - O Evangelho de Gamaliel Ou o Lamento da Virgem e o Martírio de Pilatos.

 

O JOVEM DO ANUNCIO DA RESSURREIÇÃO

Porém, nada se teria dito sobre este efeito anedótico se não se suspeitasse que, apesar de tudo, algo de verídico terá acontecido, pelo menos na véspera do domingo de Páscoa! Para tanto necessitamos de comparar os restantes evangelista a respeito dos acontecimentos desse dia!

Marcos 16 1 E, passado o sábado, Maria Madalena, Salomé e Maria, mãe de Tiago, compraram aromas para irem ungi-lo. 2 E, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro, de manhã cedo, ao nascer do sol, 3 e diziam umas às outras: Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro? 4 E, olhando, viram que já a pedra estava revolvida; e era ela muito grande. 5 E, entrando no sepulcro, viram um jovem assentado à direita, vestido de uma roupa comprida e branca; e ficaram espantadas. 6 Porém ele disse-lhes: Não vos assusteis; buscais a Jesus, o Nazareno, que foi crucificado; já ressuscitou, não está aqui; eis aqui o lugar onde o puseram. 7 Mas ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis, como ele vos disse. 8 E, saindo elas apressadamente, fugiram do sepulcro, porque estavam possuídas de temor e assombro; e nada diziam a ninguém, porque temiam.

9 E Jesus, tendo ressuscitado na manhã do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios. 10 E, partindo ela, anunciou-o àqueles que tinham estado com ele, os quais estavam tristes e chorando. 11 E, ouvindo eles que Jesus vivia e que tinha sido visto por ela, não o creram.

Luc. 44 E aconteceu que, estando elas perplexas a esse respeito, eis que pararam junto delas dois varões com vestes resplandecentes. 5 E, estando elas muito atemorizadas e abaixando o rosto para o chão, eles lhe disseram: Por que buscais o vivente entre os mortos? 6 Não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos como vos falou, estando ainda na Galiléia,

Joan. 11 11 E Maria estava chorando fora, junto ao sepulcro. Estando ela, pois, chorando, abaixou-se para o sepulcro 12 e viu dois anjos vestidos de branco, assentados onde jazera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. 13 E disseram-lhe eles: Mulher, por que choras? Ela lhes disse: Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.

14 E, tendo dito isso, voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus. 15 Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela, cuidando que era o hortelão, disse-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei. 16 Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni (que quer dizer Mestre)! 17 Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.

 

Figura 4: Viram um jovem assentado à direita.

As divergências de João evangelista com os sinópticos em relação a esta cena não nos espantam visto, este, por meio de Maria Madalena, saber demais.

Maria, Maria – Reconhece-me, mas não me toques. Seca as lágrimas que te flúem na face e vê bemcomo eu sou o teu mestre. Só não me toques, pois ainda não vi o rosto de meu pai. O teu Deus não te foi roubado como seus pequenos pensamentos te levam a crer. Teu Deus não morreu, mas dominou a morte! Eu não sou o jardineiro! Eu dei a vida e recebi a vida eterna. Mas agora te apareço porque vi lágrimas nos teus olhos. Lança a tua tristeza para bem longe de mim e guarda-a para os órfãos errantes. Comece a se alegrar agora e diga aos onze: vós o encontrarreis reunidindo com vosco nas margens doa Jordão. O traidor convenceu-os a voltarem a ser pescadores e a lançarem as redes que prendem as pessoas! Diga-lhe: 'Levantem-se! Vamos lá! Vosso irmão vos chama! Se eles desprezam a minha irmandade, diz-lhes: 'O seu mestre chama'. Se eles não concordarem com isso, diga a eles: 'É o vosso Senhor'. Usa toda a tua habilidade para trazer as ovelhas para o pastor. Se você perceber que eles perderam a razão pela tristeza, chama Simão Pedro à parte e diz-lhe: 'Lembra-se do que te falei em particular no Monte das Oliveiras: “tenho algo a dizer, mas ninguém a quem dizer”. -- Evangelho de Mani[5]


Figura 5: Noli me tangere, de Ticiano.

A brincadeira que Jesus estava a fazer com essa mulher havia ido longe demais. A mulher ainda não conseguia ver através do disfarce e Jesus estava "rindo baixinho", mas não conseguia mais se conter. Ele deixa escapar: "M-A-R-Y!" Apenas uma palavra! Mas foi o suficiente. Esta palavra, "Mary!" fez o que toda a troca de palavras não conseguiu fazer. Isso permitiu que Mary reconhecesse seu mestre. Todo mundo tem sua maneira única e peculiar de chamar a pessoa mais próxima e querida. Não foi o mero enunciado da palavra "Maria", mas sua entonação deliberada que a fez responder: "Mestre! Mestre"! Louca de felicidade, ela se lança para agarrar seu Mestre, para prestar reverência. Jesus diz: Não me toques! (Noli me tangere, John 20:17) - The origin of crucifixion, By Ahmad Deedat[6].

É fácil d verificar que, o que há de comum nos quatro evangelistas sobre esta cena é o facto de alguém vestido de branco falou com as santas mulheres a respeito do sepulcro vazio antes de Maria Madalena se ter encontrado com Jesus. O encontro de Madalena com o seu mestre (raboni ó rabino) Jesus e duma tal intensidade melodramática e dum tal intimismo que só mesmo Madalena o poderia descrever razão que reforça a tese de o 4º evangelho ser de facto uma inspiração directa de Maria Madalena. Porém, as incongruências de maior gravidadedestes versículos comparados são as seguintes:

a)      Marcos e Lucas falam em seres humanos e Mateus e João em anjos.

b)      Lucas e João falam em duas entidades enquanto Marcos e Lucas falam apenas numa!

c)     Marcos, refere um jovem!

Parecendo contradições factuais graves a verdade é que tratando-se de factos que foram inegavelmente traumáticos (tanto sobre o ponto de vista pessoal para os interveniente quanto do ponto de vista social a ponto de terem sido o fundamento da religião cristã que marcou toda a cultura ocidental durante mais de 20 séculos!) é fácil de prever que tais factos contados de boca em boca foram sujeitas aos naturais processos de degradação informativa que costumam ocorrer nestas situações. Ora, mesmo os próprios intervenientes acabam por ser as piores testemunhas quando comparadas com o conjunto testemunhal. E uma das provas major da veracidade dos evangelhos resulta precisamente destas inconsistências que só poderia ocorrer se tivessem resultado de visões diversas por perpectivas e prismas diferentes dos mesmos factos e não de formas diversas de contar a mesma história inventada por uma única fonte! O desempate final acaba por nos ser dado pelo evangelho de Pedro:

X - Prodigios que en el sepulcro ocurrieron 1.Empero, en la noche tras la cual se abría el domingo, mientras los soldados en facción montaban dos a dos la guardia, una gran voz se hizo oír en las alturas. 2. Y vieron los cielos abiertos, y que dos hombres resplandecientes de luz se aproximaban al sepulcro. 3. Y la enorme piedra que se había colocado a su puerta se movió por sí misma, poniéndose a un lado, y el sepulcro se abrió. Y los dos hombres penetraron en él. 4. Y, no bien hubieron visto esto, los soldados despertaron al centurión y a los ancianos, porque ellos también hacían la guardia. 5. Y, apenas los soldados refirieron lo que habían presenciado, de nuevo vieron salir de la tumba a tres hombres, y a dos de ellos sostener a uno, y a una cruz seguirlos. – Evangelio de Pedro.

Os “dois homens resplandecentes de luz” seriam dois jovens essénicos, que neste caso ficaram anjos por terem sido os mensageiros (grec. ággelos, mensageiro) da boa nova de que Jesus tinha ressuscitado de entre os mortos, essénicos vestidos, como habitualmente, do mais puro e alvo linho e acompanhados por lanternas, possivelmente por causa do lusco-fusco matinal.

Mas podemos estar apenas perante a retórica dos dois anjos clássicos da morte e do sono: Tánatos e Hipnos como no caso da maravilha representação da morte e resurreição do deus menino Sarpedon, os dos juízes dos mortos.


Figura 6: As exéquias de Sarpédon. Cratera de Eufrônio, vaso de c. 515 a.C. Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque.

Vai tu agora, ó Febo amado, e limpa o negro sanguede de Sarpédon;

tira-o do meio dos dardos e depois leva-o para bem longe.

Dá-lhe banho nas correntes do rio eunge-o com ambrósia;

veste-o com roupas imortais. Entrega-o a dois pressurosos portadores para o levarem, Sono e Morte, dois irmãos, eles que rapidamente o porão na terra fértil da ampla Lícia,

onde seus irmãos e parentes lhe prestarão honras fúnebres,

com sepultura e estela: pois essa é a honra devida aos mortos.

(HOMERO. IlíadaXVI. 667-675)

O relato do evangelho de S. Pedro pode ter sido o primeiro esboço de evangelho de Marcos relatado por este mesmo que passou a noite no sepulcro com o seu amado mestre. O ter-se a pedra tumular movido por si mesma poder ter sido um mero erro de percepção, ou o resultado de um truque de engenharia movido por quem estaria dentro. No grupo dos três homens que saíram iria Jesus ainda cambaleante e, por isso mesmo, sustentado pelos dois outros como o atestou o evangelho perdido de Pedro.

y a una cruz seguirlos.6. Y la cabeza de los sostenedores llegaba hasta el cielo, mas la cabeza de aquel que conducían pasaba más allá de todos los cielos. 7. Y oyeron una voz, que preguntaba en las alturas: ¿Has predicado a los que están dormidos? 8. Y se escuchó venir de la cruz esta respuesta: Sí. 9. Los circunstantes, pues, se preguntaban unos a otros si no sería necesario marchar de allí, y relatar a Pilatos aquellas cosas. 10. Y, en tanto que deliberaban todavía, otra vez aparecieron los cielos abiertos, y un hombre que de ellos descendió y que entró en el sepulcro. – Evangelio de Pedro.

Ignorando, obviamente, que Jesus já tinha sido retirado em coma do túmulo, quem gritou do alto do túmulo seria o chefe do grupo deste essénicos que queria saber se os que estavam a dormir já tinham sido acordados. Referir-se-ia então a Jesus e possivelmente ao jovem essénico que o acompanhava e, àquela hora, estaria naturalmente a dormir também?

Se pensarmos que tinham entrado duas pessoas e que saíram pelo menos quatro pessoas (se é que foi apenas uma a acarretar a cruz) somos obrigados a concluir que, além de Jesus, pelo menos mais uma pessoa já estava no sepulcro com ele! Por outro lado, voltamos a encontrar a mesma convicção que já tínhamos encontrado durante a ressureição de Lázaro, de que a ressureição só se pode operar perante pessoas em estado de morte aparente, ou seja, adormecidos, na linguagem comum do tempo de Jesus!

 


Figura 7: The Morning of the Resurrection Sir Edward Coley Burne-Jones.

Obviamente que, em parte, estamos perante uma descrição fantasmagórica que tanto pode ter resultado da comoção delirante dos espantados soldados como da imaginação apologética de S. Pedro. A verdade é que no contexto do enterro de Jesus uma cruz a andar dum lado para o outro no lusco-fusco da noite mediterrânica deve ter sido qualquer coisa de tétrico e, no entanto, ter sido algo muito simples. Os essénicos terão aproveitado para levar a cruz de Cristo que estaria ali por perto porque na aridez da Judeia a madeira seria um objecto precioso e, a da cruz de Jesus seria ainda de muita utilidade na rígida economia das comunidades essénicas. Ora bem, se pensarmos que as cruzes não se põem a andar por si mesmas e, como a crença no miraculoso cristão não implica a crença em fantasmas, somos obrigados a concluir que esta foi carregada por alguém que, por ter ambas as mão ocupadas a segurar a pesada cruz de Jesus, não se faria acompanhar de lanterna e por tanto não seria visível na escuridão, razão pela qual teria deixado nos espantados soldados a impressão de se ter movido por si mesma, aspecto fantasmagórico que terá contribuído ainda mais para o desnorte dos soldados, sobretudo quando esta se pôs a falar, obviamente que na pessoa que a carregava! A altura descomunal das cabeças ou resulta de mera fantasia literária ou de um erro descritivo do autor resultante do facto de se tratar de sombras projectadas na parede tumular pela luz das lanternas.

O mais fantástico desta descrição de S. Pedro reside no facto de descrições aparentemente tão ingénuas quão inverosímeis acabarem por revelar situações tão plausíveis e triviais e sem interesse apologético quanto difíceis de compreender num contexto de mero romance religioso. Na verdade, por via de regra, nas alegorias morais todos os pormenores costumam ser significantes.

1. Visto lo cual, el centurión y sus compañeros de guardia se apresuraron a ir a visitar a Pilatos por la noche, abandonando el sepulcro que vigilaran. Y contaron todo lo que habían presenciado, vivamente inquietos y diciendo: Verdaderamente era Hijo de Dios.2. Mas Pilatos, respondiendo, dijo: Yo estoy puro de la sangre del Hijo de Dios, y sois vosotros los que lo habéis decidido así. 3. Entonces todos le rogaron, sumisos, que ordenase al centurión y a los soldados no decir nada de lo que habían visto. 4. Porque (arguyeron), siendo culpable del mayor pecado ante Dios, nos importa no caer en manos del pueblo judío, y no ser lapidados. 5. Y Pilatos ordenó al centurión y a los soldados que nada dijesen. -- Evangelio de Pedro.

Obviamente que não cumpriram a sua palavra porque alguém terá dado com a língua nos dente ou os evangelistas nunca teriam sabido desta versão dos acontecimentos da ressureição contada pelo lado dos soldados. Evidentemente que a versão, dos essénicos, nunca foi contada porque então, nunca teria havido o equívoco que teria gerado o mito da ressureição!

XIII - Las mujeres encuentran el sepulcro abierto y un ángel les anuncia la resurrección de Jesús 1.Y, habiendo llegado al sepulcro, lo encontraron abierto. Y aproximándose, y bajándose a mirar, vieron, sentado en medio del sepulcro, un mancebo hermoso y vestido con una ropa muy brillante, que les dijo: 2. ¿Por qué habéis venido? ¿A quién buscáis? ¿Al crucificado? Resucitó, y se fue. Y, si no lo creéis, mirad, y ved que no está ya en el lugar en que se lo puso. Porque se ha levantado de entre los muertos, y se ha ido a la mansión de donde se lo había enviado. 3. Entonces las mujeres, espantadas, huyeron -- Evangelio de Pedro.

Mais uma vez o evangelho de S. Pedro explica a origem do anjo da ressureição que mais não seria do que uma forma retórica de referir aquele formoso jovem que deu a Madalena a notícia da ressureição! E é assim, que o mancebo da prisão de Jesus, do evangelho de S. Marcos, volta a aparecer na ressureição de Jesus:

«E entrando no túmulo viram um jovem sentado à direita coberto com uma túnica branca!».

Marc. 6 Porém ele disse-lhes: Não vos assusteis; buscais a Jesus, o Nazoreno, que foi crucificado; já ressuscitou, não está aqui; eis aqui o lugar onde o puseram. 7 Mas ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis, como ele vos disse. [7]

Mat. 5 Mas o anjo, respondendo, disse às mulheres: Não tenhais medo; pois eu sei que buscai a Jesus, que foi crucificado. 6 Ele não está aqui, porque já ressuscitou, como tinha dito. Vinde e vede o lugar onde o Senhor jazia. 7 Ide, pois, imediatamente, e dizei aos seus discípulosque já ressuscitou dos mortos. E eis que ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis. Eis que eu vo-lo tenho dito.[8]

Se este jovem fosse Marcos (e, logo, também Lázaro) a sua irmã Maria Madalena deveria tê-lo reconhecido, se este não estivesse eventualmente disfarçado com um qualquer artifício (braqueando a cara com farinha, por exemplo!) ou meramente transfigurado pelos últimos acontecimentos da suposta morte de Jesus e difícil recuperação no túmulo de José de Arimateia! Mas, Maria Madalena também não reconheceu o seu amado Jesus antes de este se ter dado a conhecer, possivelmente porque o esperaria ver morto e nunca um fantasma disfarçado de hortelão. Também não terá reconhecido o irmão que não esperava encontrar ali ou, se este lhe chegou a parecer o seu irmão, ficou de tal modo espantada que evitou confirma-lo.

De facto, o evangelista não deixa de realçar que mais do que espanto elas foram invadidas pelo temor que as pôs apavoradas e em fuga dali (e apressadamente, segundo Mateus!), pelo menos foi isto o que pareceu a Marcos. Ora, a verdade é que estamos no campo da pura opinião pessoal pois a verdade é que não foi esta a apreciação final que Mateus fez das informações que terá tido de testemunhos boca a boca que lhe chegaram aos ouvidos e ao entendimento! Em parte é esta afinal a explicação natural da diferença de relatos entre Mateus e Marcos que, no resto, são até mais ou menos coincidentes no essencial, fora as óbvias interpolações posteriores visando a apologética missionária da ressurreição.

Marc. 8 E, saindo elas apressadamente, fugiram do sepulcro, porque estavam possuídas de temor e assombro; e nada diziam a ninguém, porque temiam.[9]

Mat. 8 E, saindo elas pressurosamente do sepulcro, com temor e grande alegria, correram a anunciá-lo aos seus discípulos.[10]

 

A este respeito, estranha-se que os exegetas nunca tenha reparado na flagrante contradição entre Marcos e Mateus ao ponto de se poder afirmar com segurança absoluta que dentre ambos pelo menos um se engana ou mente de tão incompatíveis e contraditórias que são estes dois testemunhos!

Ora, é precisamente aqui que se levanta a estranha controvérsia dos 12 últimos versículos de S. Marcos.

The oldest manuscript of the Gospel of Mark is currently in the Vatican library. It does not contain the last 12 verses of Mark. But to end the gospel with verse 8 leaves the women afraid and fails to record the resurrection, Christ's final instructions and the ascension. Irenaeus and Hypolytus in their writings of approximately 150 AD both quote from these twelve verses. The verses were not added then at a later date, but rather were somehow deleted from the oldest manuscript in the library. Yet, the version that exists today, includes the Resurrection, which was added in the 2nd century, making the last twelve verses of Mark fraudulent. However, research by Ivan Panin (outlined in a booklet called The Last Twelve Verses of Mark), utilizing analysis of numeric design, has done a lot to reaffirm its authenticity. There are nearly a hundred ecclesiastical writers older than the oldest of our Greek codices; while between A.D. 300 and A.D. 600 there are about two hundred more, and they all refer to these twelve verses. Papias (about A.D. 100) refers to v. 18 (as stated by Eusebius, Hist. Ecc. iii. 39). Justin Martyr (A.D. 151) quotes v. 20 (Apol. I. c. 45).Irenaeus (A.D. 180) quotes and remarks on v. 19 (Adv. Hoer. lib. iii. c. x.). Hippolytus (A.D. 190-227) quotes vv. 17-19 (Lagarde's ed., 1858, p. 74).

Em boa verdade, a controvérsia dos 12 últimos versículos de S. Marcos tem duas alternativas. Considera-los como uma interpolação para os por de acordo com os sinópticos que seria suposto serem cópias alteradas de Marcos e então, ficamos com a impressão de que este evangelista acabou o seu trabalho de forma a abrupta e, de tal modo gravemente inconclusiva que, em face do eterno silêncio das santas mulheres nada diziam a ninguém, porque temiam, que o cristianismo nunca teria acontecido ou teria nascido cocho e sem o mistério da ressurreição, o que teria impedido o virtuosismo apologético de S. Paulo. Ou aceitamos que os estudos textuais feitos revelam a autenticidade destes últimos e indispensáveis versículos de Marcos e então temos de admitir que eles foram propositadamente incómodo em algum lugar ou momento das Igreja nascente, particularmente da luta dos cristãos ortodoxos contra os gnósticos ofitas.

A study of the authenticity and interpretation of the last twelve verses of St Mark's Gospel. These verses are omitted from at least one important manuscript tradition and queried in most modern translations (though not from the NEB). Professor Farmer traces the history of the text tradition for omission back to Egypt, and argues that one important factor contributing to their omission was the dangerous teaching they seemed to contain: they appear to encourage Christians to handle deadly snakes and drink poisons to prove their faith, a practice which has been revived today by some Christian sects who accept the scriptural authority of these verses. The teaching of these verses has, however, never become established in orthodox Christianity and indeed most Christians are unaware of their doctrinal significance. Professor Farmer reviews all the textual and patristic evidence and examines the most plausible solutions that have been canvassed. This is another substantial contribution to a series that has set the highest standards of scholarship in biblical and New Testament studies. -- The Last Twelve Verses of Mark, William R. Farmer.

De qualquer modo fosse por ter sido truncado propositadamente fosse por ter passado a fazer parte do Evangelho seccreto de Marcos que só seria acecível aos neófitod durante os célebres mistérios da “câmara nupcial”, lugar onde a derradeira transformação ocorre para que haja a identificação plena entre o discípulo e o mestre. “O que beber da minha boca chegará a ser como eu. Eu também chegarei a ser como ele e as coisas ocultas ser-lhe-ão reveladas.” (lg108) A identificação entre Jesus e o eleito ocorre por meio de um beijo íntimo, através do qual as águas da vida fluem da boca de Jesus para a boca do discípulo. O gesto iniciático do beijo alude claramente à simbólica da câmara nupcial: “Há muitos que estão junto à porta, mas os solitários são os que entrarão na câmara nupcial”.[11]

7 Mas ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis, como ele vos disse. 8 E, saindo elas apressadamente, fugiram do sepulcro, porque estavam possuídas de temor e assombro; e nada diziam a ninguém, porque temiam.

9 E Jesus, tendo ressuscitado na manhã do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios. 10 E, partindo ela, anunciou-o àqueles que tinham estado com ele, os quais estavam tristes e chorando. 11 E, ouvindo eles que Jesus vivia e que tinha sido visto por ela, não o creram.

12 E, depois, manifestou-se em outra forma a dois deles que iam de caminho para o campo. 13 E, indo estes, anunciaram-no aos outros, mas nem ainda estes creram.

14 Finalmente apareceu aos onze, estando eles assentados juntamente, e lançou-lhes em rosto a sua incredulidade e dureza de coração, por não haverem crido nos que o tinham visto já ressuscitado. 15 E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. 16 Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. 17 E estes sinais seguirão aos que crerem: em meu nome, expulsarão demônios; falarão novas línguas; 18 pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e imporão as mãos sobre os enfermos e os curarão. 19 Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu e assentou-se à direita de Deus. 20 E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra com os sinais que se seguiram. Amém!

Na verdade, admitir que Cristo ressuscitado apareceu primeiro a uma mulher, e logo a Madalena deve ter sido um rude golpe para o patriarcado ortodoxo nascente nalgum tempo ou nalgum lugar do médio Oriente e daí a óbvia interpolação deselegante da qual tinha expulsado sete demônios”. Também as criticas explícitas da tríplice incredulidade dos discípulos de quem os primeiros bispos da cristantade se supunham herdeiros da sua legitimidade apostólica, ainda que em si fosse menos constrangedora porque também Madalena não creu no jovem mensageiroe necessitou da aparição pessoal de Jesus para crer, seriam incómodas para a consolidação do poder eclesiástico emergente. A tese duma censura explicitamente dirigida aos ofitas talvez faça algum sentido na medida em que é sabido que estes eram a maioria dos primeiros cristãos.

The so- called Ophites were, at one time, an exceedingly widespread school and community of early Christians who took for their symbol the serpent, the emblem of wisdom. (…) The Ophites, we learn, did not designate themselves as such, but called themselves "knowers" or "gnostics" and considered themselves the only real Christians. On the face of it, we have no reason to doubt this statement or refute it. (…)The Ophites, like the Essenes and Jewish gnostics, are said to have existed before the coming of Christ, and to have continued as a distinct group through the second century. As certain Essenes and pre- Christian Nazoreans may have embraced the teaching of Christ, there is evidence to suggest that this school also adopted and apparently taught the esoteric doctrine of Jesus and perhaps Paul. The Lost Christianity of the Original Sects 30 A. D. - 120 A. D.

The Ophites taught that Jesus was crucified at the instigation of Ildabaoth and his malignant powers. While Jesus hung on the cross, the Christos and Sophia departed from the body of Jesus, and he cried out, "My God, why hast thou forsaken me?" At his resurrection, Jesus was endowed with a body consisting of aether, the subtle plenum of energy from which matter is formed. The physical matter composing the body of Jesus thus returned to the elements.

De acordo com o realismo da vida a verdade estará com Marcos porque as santas mulheres não disseram nada a ninguém do sucedido porque temiam o inevitável! Maria Madalena terá imediatamente suspeitado que seu irmão, que já tinha a cabeça a prémio por ter participado na altercação pública da “ressureição de Lázaro”, estaria envolvido num novo escândalo, agora bem mais grave por se tratar do roubo do corpo dum condenado pelas autoridades romanas. Na verdade, tanto assim seria que o evangelho de Pedro confirma que os discípulos continuavam aflitos!

XIV - Los discípulos continúan afligidos 1. Y era el último día de los Ázimos, y muchos salían de la ciudad, y regresaban a sus hogares, por haber terminado la fiesta. 2. Nosotros, los doce discípulos del Señor, llorábamos y nos afligíamos. Y cada cual, apesadumbrado por lo que sucediera, se retiró a su casa. 3. Cuanto a mí, Simón Pedro, y a Andrés, mi hermano, tomamos nuestras redes y nos fuimos al mar. Y estaba con nosotros Levi, hijo de Alfeo, cuando el Señor...-- -- Evangelio de Pedro.

Como ficou evidente em Marcos o que fez modificar a atitude de Maria Madalena foi a própria aparição de Jesus,aspectos que esta vai inspirar nos relatos sobre este mesmo assunto do evangelho de S. João. Ora, é precisamente agora que temos que reconhecer que a tese de que Marcos seria este mancebo, irmão de Maria Madalena (e possivelmente também o “discípulo amado”!) implica algumas dificuldades práticas circunstanciais, bem como levanta algumas questões pertinentes sobre a forma como os sinópticos se copiaram entre si!

Como a ordem dos relatos da manhã da ressurreição não correspondem ao dos sinópticos que deles fizeram um testemunho mais precoce podemos reordenar a descrição destes de molde a ficarem mais de acordo com os sinópticos.

João 20, 1 E, no primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra tirada do sepulcro. 2 Correu, pois, e foi a Simão Pedro e ao outro discípulo a quem Jesus amava e disse-lhes: Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram. 3 Então, Pedro saiu com o outro discípulo e foram ao sepulcro. 4 E os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais apressadamente do que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro. 5 E, abaixando-se, viu no chão os lençóis; todavia, não entrou. 6 Chegou, pois, Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro, e viu no chão os lençóis 7 e que o lenço que tinha estado sobre a sua cabeça não estava com os lençóis, mas enrolado, num lugar à parte. 8 Então, entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e viu, e creu. 9 Porque ainda não sabiam a Escritura, que diz que era necessário que ressuscitasse dos mortos. 10 Tornaram, pois, os discípulos para casa.

11 E Maria estava chorando fora, junto ao sepulcro. Estando ela, pois, chorando, abaixou-se para o sepulcro 12 e viu dois anjos vestidos de branco, assentados onde jazera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. 13 E disseram-lhe eles: Mulher, por que choras? Ela lhes disse: Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.

14 E, tendo dito isso, voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus. 15 Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela, cuidando que era o hortelão, disse-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei. 16 Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni (que quer dizer Mestre)! 17 Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus. 18 Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos que vira o Senhor e que ele lhe dissera isso.

João 20, 1 E, no primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra tirada do sepulcro. 11 E Maria estava chorando fora, junto ao sepulcro. Estando ela, pois, chorando, abaixou-se para o sepulcro 12 e viu dois anjos vestidos de branco, assentados onde jazera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. 13 E disseram-lhe eles: Mulher, por que choras? Ela lhes disse: Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram. 14 E, tendo dito isso, voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus. 15 Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela, cuidando que era o hortelão, disse-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei. 16 Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni (que quer dizer Mestre)! 17 Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.

18 Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos que vira o Senhor e que ele lhe dissera isso.

2 Correu, pois, e foi a Simão Pedro e ao outro discípulo a quem Jesus amava e disse-lhes: Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram. 3 Então, Pedro saiu com o outro discípulo e foram ao sepulcro. 4 E os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais apressadamente do que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro. 5 E, abaixando-se, viu no chão os lençóis; todavia, não entrou. 6 Chegou, pois, Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro, e viu no chão os lençóis 7 e que o lenço que tinha estado sobre a sua cabeça não estava com os lençóis, mas enrolado, num lugar à parte. 8 Então, entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e viu, e creu. 9 Porque ainda não sabiam a Escritura, que diz que era necessário que ressuscitasse dos mortos. 10 Tornaram, pois, os discípulos para casa.

João, por ter sido o último a relatar estas cenas pode tê-las baralhado um pouco na memória e então a cena poderia ser recomposta mais ou menos assim:

João 20 1 E, no primeiro dia da semana, Maria Madalena (Maria Salomé e Maria, mãe de Tiago) compraram aromas para irem ungi-lo e foram ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viram a pedra tirada do sepulcro.

Marcos 16: 5 E, (Maria Salomé e Maria, mãe de Tiago) entrando no sepulcro, viram um jovem assentado à direita, vestido de uma roupa comprida e branca; e ficaram espantadas. 6 Porém ele disse-lhes: Não vos assusteis; buscais a Jesus, o Nazareno, que foi crucificado; já ressuscitou, não está aqui; eis aqui o lugar onde o puseram. 7 Mas ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis, como ele vos disse. 8 E, saindo elas apressadamente, fugiram do sepulcro, porque estavam possuídas de temor e assombro; e nada diziam a ninguém, porque temiam.

João 2 Correram, pois, e foram a Simão Pedro e ao outro discípulo a quem Jesus amava e disse-lhes: Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram.

A respeito da versão de João, é forçoso notar aqui que Maria Madalena pode ter-se equivocado e pensado que o “discípulo amado”, que ultimamente andava sempre com Pedro, teria saído com ele. Na verdade, o “discípulo amado” ter-se-á encontrado com Pedro quando este se dirigiu ao sepulcro onde tinha estado depositado o corpo de Jesus.

O “discípulo amado” nunca terá saído de perto do túmulo e quando Maria Madalena chegou viu os lençóis para se certificar que tudo estava como Jesus pretendia. E é então que em vez de um anjo aparecem dois anjos que Lucas, mais pragmático e menos tentado a acreditar em ilusões racionalizou como sendo (Luc. 44) dois varões com vestes resplandecentes, que seriam os que iriam aparecer a Maria Madalena, porque entretanto se teriam sentado juntos à sua espera. O aspecto do “discípulo amado” seria de tal modo o de alguém transformado num anjo, segundo as técnicas de disfarce essénio, que nem a irmã o reconheceu!

Maria Madalena não teria seguido as outras mulheres porque teria ficado para trás desalentada por, na sua alma de apaixonada se ter sentido subitamente só e abandonada, razão porque na sua memória iria descrever esta cena como tendo chegado sozinha ao local do sepulcro.


Figura 8: Noli me tangere, de Corregio.

11 E Maria estava chorando fora, junto ao sepulcro e ao descer em direcção ao o sepulcro 12 viu dois anjos vestidos de branco, assentados onde jazera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. 13 E disseram-lhe eles: Mulher, por que choras? Ela lhes disse: Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.

Neste entretanto o “discípulo amado” resolveu deixar Jesus a sós e foi para casa ao encontro de Pedro. Claro que se estranha que não tenha relatado o seu encontro com a irmã nem praticamente mais nada a partir do versículo 8º do seu evangelho mas há tantas razões para omitir factos incómodos que no caso de Lázaro poderemos dizer mesmo que seriam múltiplos e variados!

Lázaro / Marcos, que já tinha a cabeça a prémio pela sua própria ressurreição, decidiu não se comprometer mais neste assunto possivelmente porque o próprio Jesus a tal o aconselhou e obrigou! De facto, o “jovem assentado à direita, vestido de uma roupa comprida e branca” seria o Jovem rico, ou seja o próprio Marcos / Lázaro e discípulo amado que nunca mais largou Jesus depois da ressureição de Betânia e nos últimos dias da Paixão!

Entretanto, Marcos / Lázaro afastou-se a mando de Jesus para se ir juntar aos discípulos o que fez tão discretamente que Madalena, ficou ainda mais um pouco dando voltas pelo jardim, nunca se apercebendo do facto.

14 E, (algum tempo depois), voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus. 15 Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela, cuidando que era o hortelão, disse-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei. 16 Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni (que quer dizer Mestre)! 17 Disse-lhe Jesus: Não me toques, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para junto de meus irmãos e diz-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus. 18 Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos que vira o Senhor e que ele lhe dissera isso.

A versão de Mateus é seguramente a mais mal entendida deste relato de Maria Madalena, e por isso de pouco crédico para a comprensão sinótica deste evento:

E, indo elas, eis que Jesus lhes sai ao encontro, dizendo: Eu vos saúdo. E elas, chegando, abraçaram os seus pés e o adoraram. 10 Então, Jesus disse-lhes: Não temais; ide dizer a meus irmãos que vão a Galiléia e lá me verão.

João 20 Então, Pedro saiu com o outro discípulo e foi ao sepulcro. 4 E os dois corriam juntos, mas o outro discípulo (terá corrido) mais apressadamente do que Pedro porque chegou primeiro ao sepulcro. 5 E, abaixando-se, viu no chão os lençóis; todavia, não entrou.

Como Maria Madalena viu agora Pedro e o outro discípulo chegarem juntos muitos anos mais tarde a sua memória tentou reorganizar os eventos deduzindo que teriam saído também juntos de casa e que o jovem teria corrido mais do que Pedro. Na verdade, ela própria se terá esquecido que nesse dia não terá acompanhado as outras mulheres quando estas desceram a nunciar o túmulo vazio!

6 Chegou, pois, Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro, e viu no chão os lençóis 7 e que o lenço que tinha estado sobre a sua cabeça não estava com os lençóis, mas enrolado, num lugar à parte.

8 Então, entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro e viu, e creu. 9 Porque ainda não sabiam a Escritura, que diz que era necessário que ressuscitasse dos mortos.

Este versículo é uma óbvia interpolação porque sendo o outro discípulo o amado seria também o primeiro a crer mesmo sem ver como todos os amantes naturalmente fazem por desejo e recusa em aceitar a perda do ente querido. Então podemos inferir que o discípulo amado foi ter com Jesus e sentou-se ao seu lado à espera de Maria Madalena. Mas esta seria uma forma rebuscada de contar esta cena quando esta fica mais fácil de entender se pensarmos que foi Madalena que deturpou na sua memória a sequência mais plausível dos factos.

Assim, o anúncio da ressurreição ficou inteiramente à responsabilidade de Maria Madalena fazendo os ortodoxos desta, aquela a que chamavam Apostola Apostolorum.

10 Tornaram, pois, os discípulos para casa, reforçado assim a convicção em Maria Madalena de que teriam saído e andado sempre juntos.

Com esta nova reordenação dos versículos de S. João podemos já então compreender que as santas mulheres surpreenderam o jovem na altura em que Jesus acabara de acordar tomando-os a ambos por dois anjos não tendo, de facto reconhecido nenhum deles. O jovem do túmulo vazio teve de o abandonar à pressa deixando os lençóis no chão. Entretanto, Madalena ficou para trás a falar com Jesus o que deu tempo para que o “jovem anjo”, robusto como soíam ser os daqueles tempos de adversidade, chegasse junto dos discípulos e esperar pelo anúncio da ressurreição feito pela boca de sua irmã Maria Madalena.

Marcos era um jovem recém iniciado por Jesus nos mistérios do esoterismo e é o único que atesta no seu evangelho a constante preocupação pelo lado secreto de certas a atitudes do seu querido mestre, pelo que, por muito que lhe tenha custado manter o segredo de que o seu amado Jesus estava vivo, acabou por esperar que fosse sua irmã a revelado dando-lhe elegantemente a precedência apostólica.

O fato de Jesus, após sua suposta ressurreição, estar tão raramente com seus discípulos, e por tão pouco tempo, é uma prova de que seu corpo humano natural, fraco e com feridas, exigia um descanso mais longo após algum esforço. Sua ausência mostra, assim, que ele estava consciente da real posição. Se ele tivesse ressuscitado dentre os mortos, deveria ter se mostrado também para seus inimigos e assim os convencido de sua origem divina. Mas ele não fez isso. De fato, ele não desejava enfrentar outra provação e provação, e por isso desapareceu tão repentinamente quanto costumava aparecer. Pode-se sugerir que, se ele precisasse de descanso corporal, deveria ter ficado com seus discípulos, que o teriam assistido com amor e carinho. Mas Jesus não podia correr o risco de outra traição: ele já havia tido uma antecipação e seus discípulos, mesmo depois de suas aparições estarem se perguntando e duvidando. Surge então a questão: onde ele morou durante os longos intervalos entre as aparições no deserto ou nas montanhas?

O resto foi o restante da vida oculta de Jesus que Marcos acabou por não acompanhar porque tendo a cabeça a prémio fugiu para Chipre ou para a Sirenaica para casa de seu primo Bartolomeu.

Actos 1 6 Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel? 7 E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder. 8 Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra. 9 E, quando dizia isto, vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando -o a seus olhos. 10 E, estando com os olhos fitos no céu, enquanto ele subia, eis que junto deles se puseram dois varões vestidos de branco, 11 os quais lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir.

Ainda que alguns não tenhsm perdido a esperança em que Jesus restauraria o trono de Israel estem sem ter excluído por completo tal hipótese, como o fazem todos os político hábeis acabou por remeter esse assunto para as calendas gregas.

Depois da despedida cerimoniosa da Ascensão Jesus passou a uma longa vida de clandestinidade superprotegida pela rede difusa dos poderes essénicos com reaparições frequentes junto dos seus discípulos descritas nos quatro evangelhos e nos Actos dos Apóstolos pois a aparição de Jesus a Paulo no caminho de Damasco só pode ter sido mais um dos truques mágicos do genial Jesus. De acordo com o testemunho de Santo Ireneu Jesus viveu na Ásia Menor até uma avançada idade o que prova que a sua ressurreição foi uma mera reanimação ben sucedida e em todo o caso miraculosa para o seu tempo.

Ao completar seu trigésimo ano, ele sofreu, ainda sendo jovem, e de maneira alguma atingira a idade avançada. Agora, que o primeiro estágio do início da vida abrange trinta anos, e que isso se estende até o quadragésimo ano, todos admitirão; mas a partir do quadragésimo e quinquagésimo ano, um homem começa a declinar para a velhice, que nosso Senhor possuía enquanto ainda cumpria o ofício de professor, assim como o Evangelho e todos os anciãos testemunham; aqueles que estavam familiarizados na Ásia com João, o discípulo do Senhor [afirmando] que João lhes transmitiu essa informação. E ele permaneceu entre eles até o tempo de Trajano. Além disso, alguns deles viram não apenas João, mas também outros apóstolos, e ouviram o mesmo relato da validade da declaração. - A tradição transmitida por Ireaneus.

Não se sabe como Irineu assimilou essa informação em sua crença na ressurreição. Os editores dos Padres Ante-Nicenos chamavam de "afirmação extraordinária", mas só podiam sugerir que Irineu havia, de alguma forma, cometido um erro grave. Deveria ficar claro que, se a declaração envolvesse apenas o fato de Jesus ter sido um professor por um, dois ou três anos até o dia em que foi crucificado, isso não é algo que Irineu teria se incomodado em relatar, pois os cristãos já sabiam disso. A menção da Ásia no relatório acima provavelmente se refere à Ásia Menor, ou Anatólia. --- Sobrevivência à crucificação: tradições de Jesus dentro do Islã, Budismo, Hinduísmo e Paganismo, James W. Deardorff, dezembro de 1993; revisado em março de 1998.



[1] 1 And when the sabbath was past, Mary Mag'dalene, and Mary the mother of James, and Salo'me, bought spices, so that they might go and anoint him. 16.2 And very early on the first day of the week they went to the tomb when the sun had risen. 16.3 And they were saying to one another, "Who will roll away the stone for us from the door of the tomb?" 16.4 And looking up, they saw that the stone was rolled back; -- it was very large. 16.5 And entering the tomb, they saw a young man sitting on the right side, dressed in a white robe; and they were amazed.

[2] 1 Now after the sabbath, toward the dawn of the first day of the week, Mary Mag'dalene and the other Mary went to see the sepulchre

28.2 And behold, there was a great earthquake; for an angel of the Lord descended from heaven and came and rolled back the stone, and sat upon it. 28.3 His appearance was like lightning, and his raiment white as snow. 28.4 And for fear of him the guards trembled and became like dead men.

[3] https://www.newadvent.org/cathen/08565a.htm

[4] A expressão do título reporta-nos ao antigo teatro grego e significa um recurso cénico onde um actor, representando um dos (muitos) deuses gregos era introduzido em cena através de dispositivos mecânicos que, literalmente, o faziam "baixar" no palco. Sua chegada tinha como intuito apaziguar as divergências e resolver, por interferência divina, as pendências entre os "míseros mortais. -- Wagner Gutterres, SENAC/RJ, waggut@web4u.com.br

[5] Mary, Mary - know me but do not touch me. Stop the tears from flowing and know that I am your master. Only do not touch me, for I haven't seen my Father's face yet. Your God wasn't stolen from you, as your small thoughts lead you to believe. Your God did not die, but mastered death! I am not the gardener! I have given life and received life eternal. But I now appear to you because I have seen the tears in your eyes. Throw your sadness away from me to wandering orphans. Start rejoicing now and tell the eleven. You will find them gathered on Jordan's bank. The traitor persuaded them to once again become fishermen as once they were and to lay down their nets that caught people to life! Say to them, 'Rise up! Let's go! Your brother calls for you!' If they scorn brotherhood with me, tell them, 'Your master calls.' If they disagree with that, tell them, 'It is your Lord.' Use all your skill to bring the sheep in to the shepherd. If you see that they have lost their wits for grief, draw Simon Peter away and say to him, 'Remember what I spoke to you about privately on the Mount of Olives: I have something to say but no one to say it to.' Gospel of Mani. These fragments are from The Book of Mysteries, TheCoptic Psalm Book, and The Gospel of Mani (a commentary on the gospel of Jesus.

[6] The prank that Jesus was playing upon this woman had gone too far. The woman had not been able to see through the disguise yet and Jesus was "laughing under his breath", but could restrain himself no longer. He blurts out: "M-A-R-Y!" Only the one word! But it was enough. This one word, "Mary!" did what all the exchange of words failed to do. It enabled Mary to recognise her Master. Everyone has his or her unique and peculiar way of calling one's nearest and dearest. It was not the mere utterance of the word "Mary", but its deliberate intonation which made her respond: "Master! Master"! Mad with happiness, she lunges forward to grab her Master, to pay reverence. Jesus says, Touch me not!

[7] 16.6 And he said to them, "Do not be amazed; you seek Jesus of Nazareth, who was crucified. He has risen, he is not here; see the place where they laid him.

16.7 But go, tell his disciples and Peter that he is going before you to Galilee; there you will see him, as he told you."

[8] 28.5 But the angel said to the women, "Do not be afraid; for I know that you seek Jesus who was crucified. 28.6 He is not here; for he has risen, as he said. Come, see the place where he lay.

28.7 Then go quickly and tell his disciples that he has risen from the dead, and behold, he is going before you to Galilee; there you will see him. Lo, I have told you."

[9] 16.8 And they went out and fled from the tomb; for trembling and astonishment had come upon them; and they said nothing to any one, for they were afraid.

[10] 28.8 So they departed quickly from the tomb with fear and great joy, and ran to tell his disciples.

[11] UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS A câmara nupcial como chave hermenêutica do Evangelho de Tomé Ricardo Gomes.

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