sexta-feira, 6 de setembro de 2013

AS DEUSAS DAS BORBOLETAS, por Artur Felisberto.

A análise do nome da «borboleta» em diferentes culturas permite descobertas interessantes sobre o culto dos deuses da fertilidade em épocas suficientemente arcaicas para poderem ser consideradas a origem tanto da mitologia como da própria linguagem que lhes serviu de suporte mediático. Ora, utilizando como pretexto o excelente artigo "Butterfly Etymology", by Matthew Rabuzzi[1] podemos verificar que mesmo na língua inglesa a etimologia não é matéria pacífica nem perfeitamente esclarecida mesmo contando com o facto evidente de o inglês, pelo sua gramática pouco elaborada e pelo aspecto primitivo dos seus vocábulos dissilábicos, se tratar de uma língua menos desenvolvida do que as línguas clássicas greco-latinas e, por isso, mais próxima das origens proto-indo-europeias.
"Butterfly" < (Middle English) buterflie, < (Old English) buttorfleoge < (Old Dutch words "botervlieg") =>
Butterfly < buter flaihe < buttor fleoge < boter vlieg =>:
The Oxford English Dictionary notes some old Dutch words "botervlieg" and "boterschijte", and conjectures that butterflies' excrement may have been thought to resemble butter, hence giving the name "butter-shit", then "butter-fly".? Webster's Third New International Dictionary says perhaps the word comes from the notion that butterflies, or witches in that form, stole milk and butter (see German "Schmetterling" below).
Muito seguramente que The Oxford English Dictionary, conjectura de forma incompleta. Primeiro porque conjectura a partir de aspectos demasiado circunstanciais para serem relevantes para a magnitude da origem e evolução linguística duma palavra. Depois, porque o facto de ter existido o termo "boterschijte" em old Dutch, não significa imediatamente que ele tenha significado "butter-shit", (se é que alguma vez chegou a ter explicitamente tal sentido, para além da mera conjectura do The Oxford English Dictionary.) O mais plausível é que -shit < -chijte < kikite, literalmente a chispa de fogo, Kiki afilha da deusa mãe Ki, a arcaica «deusa do fogo» => «caca» que em português é um eufemismo de «cócó, fezes ou merda», mas que pode ter estado relacionada com alimentos cozidos ou confeccionados e transformados pelo labor feminino, como seria o caso da manteiga. A conotação negativamente deste conceito deve ter sido posterior à cristianização e derivada de motivações mais morais do que religiosas se bem que o seu suporte objectivo tenha adevido da correlação deste termo com a impureza que sempre andou presente no lado cloacal da actividade sexual, sobretudo no seu final animalesco, já que a urgência instintiva dos preliminares costumam sonegar tais aspectos menos lisonjeiros. Claro que, também o mel é considerado pelo empirismo como «merda de abelha» mas, como o homem primitivo, apesar de naturalmente ignorante, não era parvo, não é convincente que tenha confundido a «manteiga» com merda de borboleta e, sobretudo, que só depois de tão incrível confusão é que tenha dado o nome à borboleta, um dos seres vivos mais exuberantes na sua beleza e expressividade vital!

Ver: APILIA (***)
Assim sendo a passagem de "boterschijte" para a conotação "butter-shit" é posterior, superficial e contingente, e decorrerá de um mero trocadilho mal intencionado obviamente implícito na própria relação dos conceitos em causa, com a sexualidade.[2] Já a respeito de German "Schmetterling", se afirma no mesmo artigo em referência, o seguinte:
From "Schmetten", an Upper Saxon dialect loan-word first used 16 & 17th C, from Czech "smetana", both meaning "cream", referring to butterflies' proclivity to hover around milkpails, butterchurns, etc. Folk belief had it that the b'flies were really witches out to steal the cream.
Sakhmet < Kaki me Atan < *Ka-kime+ash-An.
O termo Schmetten recorta o nome da deusa egípcia Sakhmet (<Ka kime ash) e Atena (< ash An).
Sakhmet - A lioness-goddess, worshiped in Memphis as the wife of Ptah; created by Ra from the fire of his eyes as a creature of vengeance to punish mankind for his sins; later, became a peaceful protectress of the righteous, later, became a peaceful protectress of the righteous, closely linked with the benevolent Bast.
Poderá ser mera coincidência mas seria de duvidar. Senão vejamos: «Manteiga» (b. Lat. manteca ?), s. f. substância gorda alimentícia que se extrai da nata do leite; «Creme» (Fr. crème), s. m. a nata do leite; «nata» (b. Lat. nata < Feníc. matta ?, esteira de junco, cobertura), s. f. camada gordurosa do leite; (...) e a verdade é que nem mesmo as etimologias modernas são consensuais e fidedignas. No que respeita a «Manteiga» < Lat. manteca ?, quase que literalmente pequena é manta que cobre o leite < me an kika? «Creme» < Fr. crème < Kar me < Ur kime? «Nata» < b. Lat. nata < Feníc. matta < meat < Me ash.
A razão semântica pela qual se terá passado do Feníc. matta > ao Lat.  nata deve ter sido por ressonância com o termo «nadar» do Lat. natare, porque a nata sobre nada no leite. Ora, todos estes conceitos e termos são relativos às artes culinária arcaicas e estariam relacionadas com deusas do fogo, particularmente quando estes continham os radicais *kime- (de que veio a derivar a química) e ash (termo acádico que significava lenha , rebento e filho). Por alguma razão Sakhmet viria a ser conotada com Bast < Wast / Wat < Kiast (>« giesta») > Kat > «gato» mas também Bast > Vesta > wuasht > «bosta» que, segundo o dicionário da Texto Editora derivaria de < bostal? < lat. bostare? curral de bois ou vacas. A verdade é que tudo aponta para que tenha sido ao contrário pois pelo sufixos em -al e -are do português «bostal» e do lat. bostare só podem ser derivados e não derivantes. O próprio termo bos/bovis < bowis < kaukis < Kakis deriva dum étimo anterior e comum com «bosta» que era o nome da deusa do fogo Waka / Wika derivada de Caca e Kiki. O gato, nesta série seria a transformação do leão da deusa mãe Sakhmet no pequeno felino protector dos lares tal como Vesta era a protectora das lareiras de que a «giesta e a carqueja» (< Kar kiash, fogo de Kar, o sol) eram acendalha, e a «bosta»  excremento de bois ou vacas que, depois de secos ao sol, servem ainda hoje como combustível em certas zonas semi desérticas do globo.
Bast (> Vesta > «bosta») (Bastet) - A cat-goddess, worshiped in the Delta city of Bubastis. A protectress of cats and those who cared for cats. As a result, an important deity in the home (since cats were prized pets) and also important in the iconography (since the serpents which attack the sun god were usually represented in papyri as being killed by cats). She was viewed as the beneficient side of the lioness-goddess Sekhmet.
Assim sendo a relação do nome da borboleta com o «creme e a manteiga» não seria assim tão despropositada visto ser relativa a cultos do fogo onde as fezes de vaca eram combustível e os nomes Caco e Caca desses deuses arcaicos andaram relacionados com termos referido a fezes e excrementos tal como caca em português e cacos em grego mas, mais no termo "smetana" do que no termo "butter-shit" de que derivaria "butter-fly". Se o inglês Shit, (tal como o alemão sheischa), pode ser derivado de < schijte < Ishish? < Kiki tal só pode ser devido às relações que os deuses do fogo tiveram com a bosta combustível ou, quanto muito, com o lado impuro das porquices sexuais. No entanto, como a conotação, ainda que metafórica ou mítica, entre excremento de borboleta e a manteiga não é empiricamente intuitiva, nem universal nem comum, tudo isto é suspeito de ser mera conjectura à posteriore de gramáticos recentes.
A questão que se coloca de seguida será a que implica uma correlação, aliás muito mais óbvia, entre a «borboleta» e a sexualidade. Ora, não será preciso apelar para a ópera «Madame Butterfly» para reparar que as «borboletas» ainda hoje conotadas, pelo menos, com o lado efeminada e multicolor da homossexualidade masculina. Mas, o mesmo artigo fornece-nos uma tradição muito mais expressiva quanto inesperada quando nos informa que:
Sendo "tieh" o nome em mandarim da borboleta e como "the word for 70 (years) is "tieh", the butterfly thus becomes a punning symbol of longevity."
É obvio que estamos em presença de mais um dos múltiplos exemplos de associações míticas meramente contingentes mas, era assim que a cultura se enriquecia de símbolos!
"It also represents young men in love (whereas in Japan it is young maidenhood or marital hapiness)". E eis que assim se explica uma das razões do sortilégio do tema operático homónimo onde «madame butterfly» era um travesti da ópera japonesa, ou seja um jovem masculino enamorado mas, no feminino!

I do not know whether I was a man dreaming
I was a butterfly, or whether
I am now a butterfly dreaming
I was a man.--Chuang Tse.

A.    Butter- < buter- < buttor- < boter- < Watter < Kather < Hathor => «hetera».
B.    -fly < -flie < -fleoge < -vlieg < Wurec < wolki => *-bol de Apolo Hekatebolo e *Wulki- de Vulcano.

A Borboleta em outras linguas:
Psyche < | Phasi < Phiash | ? < *Kaki Ash.
< Kaki kika
Ancient Greek
Babochka < "Babaushka" < Kaki ashka < *Kaki Ash
< Kaki kika.
Russian
Hu-Tieh < (Ha)hu-Thiek < *Kaki Ash
< Kaki kika.
Mandarin
Dushichka < Kushishka < *Kaki Ash
< Kaki kika.
Russian (Dial.)
Papilio/onis < Pawilyon < Pha Phiry An < Kaphuran
< Ki kur An
Latin
Papillon < Papilio/Onis < < Kaphuran
< Ki kur An
French
Feileacan < Phaer Kan < Kur Ki An.
< Ki Kur An.
Irish
Petaloudia < Phitar Hauthia < Kikaur Kaukia
< Ki kur Kika
Modern Greek
Mariposa < | Mari < Marti < Ar Ki me | Posa < Phasi < Phiash < cit. Artimpasa < Kur Ki Kika.
< Ki Kur Kika.
Spanish
Farfalla < Phar Phalla < (Ki) Kur-kalla
< Ki Kur-kur.
Italian
Fifalde < Phi Phar Thara < Ki-Kur-kala
< Ki Kur-kur.
Old English
Fifaltra < Phi Phar Tara < Ki Kur-kala (> Tagfalter.)
< Ki Kur-kur.
Old German
Fifoldara < Phi Phor Thara < Ki Kur-kala
< Ki Kur-kur.
Anglo-Saxon
Fifrildi < Phi Phyr Thil < Kikurkir < Ki Kur-Kala
< Ki Kur-kur.
Old Norse,
Schmetterling < | Smet (an) < Sme Atan < Kime At | + | < Tharlinke < Karlu Enki < Kar Kur Enki |
< Kime Kaki Kur-Kur  Enki.
German
Sommerfugl < Summerfly < Kom (An?) Her Phugal.
< Kime Kur-Kur Enki.
Norwegian
Zomerfeygele <"Summerbird"
< Kime Kur-Kur EnKi.
Yiddish
Lepke < rephki
< kur kaki
Hungarian
Pillango < Phir Uranko /
< Kur-Kur Enki
Hungarian
Borboleta < Valboreta < Warwureta.
< Kur-kur Kika
Portuguese

A formação do German Schmetterling pressupõe uma relação de igualdade entre Enki = Anki = Kian, que, aliás, é evidente por ser uma mera transmutação! Porém o mais interessante destes termos reside no facto de que, sendo quase que o somatório linguístico de todos os outros, revelam uma relação elaborada entre deuses astrais que transparecem como sendo Artemisa/Atena (< Kime Atan) e Apolo (< Karlu Enki = Apkalu > Apolo). Os termos euro-asiáticos para borboleta são quase que o mesmo e relativos a *Kaki Ash (> Ishkaki => por substituição de kaki por Kar daria Ishtar) à deusa do fogo de todos os fogoso que confirma a unidade e simplismo das arcaicas culturas do figo de que os citas foram os representante mais expressivos. O termo latino derivado de Kafura manifesta a prevalência da tradição minóica do culto das cobras fêmeas no lácio. De forma interessante de entre todas as línguas latinas referidas apenas persiste na francesa. De facto o termo italiano farfalla, que não deriva do latim como o francês, é estranhamente aparentado com congéneres germânicos o que deixa a suspeita de ser de origem lombarda.
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Por outro lado o termo «mariposa» (que em português é um estrangeirismo por colonização cultural castelhana), permitiu ao autor divagações etimológicas que é difícil de acompanhar! Segundo estas, mariposa seria um termo recente de influência católica porque derivado de "la Santa Maria posa" = "the Virgin Mary alights/rests"? (Recalling Psyche as butterfly?) e tudo isto por comparação com o conceitos relativos à cochinilha, outro insecto vistoso com o nome popular de joaninha e que em inglês será "Our Lady's bird":
Swedish "Marias Nyckelpiga" = "Mary's maidservant's key".
Nyckelpiga, Coccinellidae, äv. Gullpiga, Gull- (Guld-)höna, Åkerhöna. Cocinella sectempunctata - sjuprickig nyckelpiga, även kallad (Jungfru) Marie Nyckelpiga.
Todos sabemos hoje que Upsala na Suécia era o centro do politeísmo nórdico pelo que não será de estranhar que ali se tenham cultivado e desenvolvido conceitos míticos comuns a outras culturas arcaicas. Ora, não resisto à tentação de derivar Nyckelpiga < Nyke + erphika < Enki Kar Kika, a filha amada do Espirito Santo. E é assim que agora se percebe porque é que a deusa alada Nikê anda sempre associada como deusa do Aquário, Potnia ou Atana Potinija, a aguadeira do casal de deuses oceânicos Poseidon e Anfitrite seguramente sucedâneos dos antigos deuses supremos da talassocrassia cretense. Mais correctamente Poseidon seria uma corruptela duma antiga invocação relativa ao deus Enki pois, Poseidon < Phiat Enki, literalmente Enki, o Senhor Aguardente da Terra Mãe! Ora bem, Nyckelpiga pode ser também uma variante do nome de Ki como Afrodite pois, Nyke + erphika < Ki An kar kika => Gea, Afrodite. De resto, Gullpiga (< Kurla kika), Gull- (Guld-)höna < Kurdihona < karkikana < *Ankarkika (=> Afrodite) e, enfim *Ankarkika => A(n)kerku + (Ki = Ana) > Angerona! > Agenoria > Ageronia > Åkerhöna
Angerona = The Roman goddess of the winter solstice. The Goddess who knows Rome's secret name.
German "Marienkafer" = "Mary's chafer/beetle"
German "Himmelskuchlichen"
French "Bete a bon Dieu"
Spanish "Vaquilla de Dios"
Russian "Bozhia korovka" = "God's little cow"
Hindu "Indragopa"
Voltando à borboleta não nos podemos esquecer que as representações iconográficas de Inana e de Ishtar se manifestam mas parecidas com insectos de quatro asas como as borboletas do que com aves. Por outro lado a variante menos pomposa das «traças» foram associadas ao lado nocturno das irmãs infernais destas deusas pelo que ainda hoje o povo as trata por bruxas. De resto muitas são as culturas antigas que julgavam que as traças eram a alma dos mortos!

INNANA - A DEUSA DO KHULUPPU. (***)


[1] a partir do artigo para a Inter-Net "Butterfly Etymology by Matthew Rabuzzi Cupertino, CA. U.S.A, Cultural Entomology Digest".
[2] Depois do filma de Jane Fonda e Marlon Brando no «O último tango em Paris» fica mais clara a possibilidade duma relação cloacal que não seja meramente fútil entre a manteiga e a sexualidade.

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