domingo, 29 de setembro de 2013

PÁRIS, JUÍZ DAS DIVAS & DOS MORTOS, por Artur Felisberto.

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Figura 1: Representação helenista em Vaso da Apúlia do Julgamento de Paris.
Homero abre a Ilíada contando a história de um concurso de beleza entre as deusas Afrodite, Hera e Atenas. Não sendo possível aos deuses decidir essa contenda, seguramente por falta de imparcialidade corporativa, foi deixado o odioso desta tarefa a um mortal, Páris, filho de Príamo, rei de Tróia. Páris deu então o prémio do concurso, uma maçã de ouro, a Afrodite, que em troca lhe prometeu a mão da mulher mais bonita do mundo. Foi assim que a lenda justificou o rapto de Helena de Tróia por Páris, o que desencadeou uma das primeiras guerras mundiais da história. No entanto o mito é seguramente anterior à «guerra de Tróia». O preconceito cultural de que as guerras entre homens de honra resultariam sempre de guerras de saias, e estas de partilhas de poder e de heranças, é um mito tipicamente patriarcal que já vamos encontrar na suméria.
Dam-hara = Conflict, Struggle, Combat. <= Dam = Spouse, Wife.
Ha-La = Inheritance, Share.
«Danar» < Lat. Damnare (= condenar) < Dam-(in)-har > Sumer. Damhara
                                                                                  Har < Ha-La.
Mais uma vez se depara com a possibilidade de a intrínseca vertente política da religião ter sido utilizada neste mito como pretexto ideológico para a justificação dum evento histórico dramático semi-lendário que ficou na história com o nome de «Guerra de Tróia». Claro que Páris pode ter existido com este nome mas, o mais provável é que este nome consagrado pela cultura clássica seja apenas a forma genérica e genitiva de Pharis / *Kar-ish, literalmente o «filho do rei».
Ora, qual contos de criança que não tem um príncipe encantado e qual a lenda que se não refira a gente de sangue real? Claro que também se pode ter dado o caso de este “filho de rei” troiano se ter envolvido numa intriga de harém!
Afinal, o mito ideológico da causa remota da guerra de Tróia não faz mais do que dar conta do lugar-comum de que, ao longo da história, as mulheres têm sido sempre eminências pardas na política. No entanto, são estas que comandam o mundo por interpostos “machos dominantes”. Estes campeões do pinga-amor, embeiçados pelo eterno feminino até às agruras das fezes e de outros excreta, nunca chegam a dar conta de que o preço do amor tem que ser pago em sangue suor e lágrimas!
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Figura 2: Páris, o príncipe pastor, tocador de cítara
Além do mais, é de crer que a representação comum do mito de Paris[1] não deve andar longe da realidade mítica profunda que lhe estava subjacente. Nas atitudes com que os pintores clássicos representaram Páris, como é o caso Figura 2 e Figura 3, Paris aparece como um apolíneo tocador de cítara. No caso da Figura 3, Paris e não é um príncipe real mas um pastor só que, de cabras e não de vacas, como foi o destino de boieiro de Apolo.
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Figura 3: “Julgamento de Paris” na presença de Hermes o juiz supremo dos concursos e contendas.[2]
Peris = Persian spirits of great beauty who guide mortals on their way to the Land of the Blessed. They also battle the Daevas.
A prova inesperada, fornecida pela mitologia avéstica, de que Páris era apenas uma das muitas variantes de um mito solar já esquecida à época de Homero, não prova que a mitologia grega seja de origem indo-europeia mas apenas que as mitologias que têm um fundo comum são necessariamente muito arcaicas. Como faz parte dum ciclo astrológico solar é equivalente ao mito de Adónis, de que a história bíblica de «Adão e Eva» é apenas uma variante.
Este espírito avéstico de grande beleza faz pensar em Eros e o facto de ser um deus Psicopompo como Hermes garante a sua relação com Hórus Harmachis. Obviamente que imediatamente nos salta à mente o mito cristão de Lúcifer, o anjo da luz e da beleza que acabou nas profundezas infernais por razões duma lógica mística que impunha a justificação teológica dum facto que sempre tinha sido aceite como sendo assim, ou seja, que o sol enquanto fonte da luz que realça a beleza era necessariamente um astro duma beleza incomparável.
Por outro lado, o sol, que tudo vê do mais alto dos céus era tido “Deus luz, luz da luz” e da suprema Verdade e, por isso, um juiz privilegiado das almas dos mortos! Como se vê, estamos de posso de todos os ingredientes semânticos necessários a criar o contexto místico do “julgamento de Páris”: a Beleza que permite avaliar o belo e o poder judicial inerente ao poder real dum príncipe solar!
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Figura 4: Páris no palanque de juiz de um dos primeiros concursos de beleza das Tridivas, as “misses celestiais».
As relações solares de Páris com Apolo além de discretamente fonéticas são carregadas com a semântica pastoril e órfica dos tocadores de lira e ainda com a discreta relação dos oráculos com muitas obscuras decisões judiciais!

Ver: LUCIFER (***)
       & DAMUZ (***)

Páris < Pharis < *Kar| > Ker > Pher| -ish > Peris.
                      Iscur < Kurish > Herush > Eros.
Ø    Haurush > Horus.
But Leto, still running from Hera, had to entrust her newborn children to Themis, who brought them up on ambrosia and nectar, with the result that Apollo attained manhood in only a few hours, and escaped from Themis, declaring his destiny was to become a bowman, a player of the lyre, and a supplier of truthful oracles to mankind.


[1] É sabido que a arte do galanteio cortês ressurgiu na idade média a partir da rica civilização provençal ainda próxima das reminiscências cultura clássica peri-mediterrânica, e, embora tivesse chegado a toda a parte é natural que tenha encontrado particular eco na efeminada corte francesa de Felipe o Belo e nos “chateaus” do Loir de Fernando I. No entanto, a tradição parisiense de fazer juiz à sua fama de capital da moda subjacente à emulação da beleza feminina pode ter ganho particular fôlego depois do clímax explosivo de cultura palaciana e cortês de Versalles. Assim por altura do sec. XVII, quiçá a partir da importância que o culto do “rei sol” deu à mitologia clássica, a cultura Francesa teria que acabar por tropeçar no fascínio irresistível do equívoco fonético do mito de «Páris» com o nome saudoso da cidade de Paris que os Luises de França haviam trocado por Versalhes. Porém, apesar da inegável beleza barroca do palácio de Luís XIV a verdade é que Paris não deixara de ser amada pelos galantes de França. Coincidência ou apropriação cultural por interiorização inconsciente e generalizada o certo é que a cultura francesa deve ter atribuído simbolicamente a Paris o destino juiz da beleza feminina que havia cabido a Páris. Ora bem, se apenas a partir do sec. IV é que a capital de França deixou de ser a região onde foi construída supostamente de raiz pelos romanos a cidade Lutécia (< urtekia < kartekia, lit. «castro militar dos celtas») nunca deixou de ser terra da tribo dos Parisii, nome que justifica o italiano Parigi. En conclusão, o equívoco semântico com o mito de Páris não será assim tão aleatório como um comum bom senso faria pensar pois ambos os nomes terão por antepassado étmico comum o nome de Kar, o deus solar adorado particularmente pelos celtas que antes de se tornarem cristão foram primeiro arianos. Ora tanto os Parisii como Paris teriam estes nomes com o significado de príncipes, filhos do «rei sol»! Claro que se Luiz XIV tivesse tido uma qualquer reminiscência desta etimologia não teria abandonado o Louvre ou então...fê-lo para deixar a sombra concorrente da alma de todos os «reis sois» dos celtas mortos em Paris para passar a ser o único rei sol dos tempos modernos.
[2] Museu do Louvre. Restauro cibernético do autor.

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